Tomei hoje a decisão de renunciar ao cargo de Director de Programas de Televisão dando um novo rumo à minha vida profissional. As minhas primeiras palavras são para os meus colegas da RTP. Para todos os que me ajudaram e apoiaram durante 5 anos. À minha equipa da Direcção de Programas devo um agradecimento especial pela colaboração e pelo entusiasmo. Só com esse espírito foi possível cumprir o nosso caminho. Só com esse espírito foi possível realizar esta extraordinária aventura de fazer renascer a RTP e de a reconciliar com os portugueses. Neste momento, em que chegou a hora de partir, faço-o com um sentimento de missão cumprida. A RTP, e o seu principal canal, são hoje uma realidade muito diferente daquela que encontrei em 2002. Um trabalho excepcional que teve nos administradores Luís Marques e Ponce Leão os elementos-chave criou condições para inverter uma queda que parecia imparável por parte da Televisão Pública. A empresa conheceu uma transformação profunda – a dívida foi renegociada, os custos operacionais caíram em mais de 200 milhões de euros, fez-se a fusão da rádio e da televisão, criou-se um novo centro de produção, mudámos de instalações … e poderia citar muito mais casos. A programação da RTP também mudou. E muito. Temos hoje mais produção documental, mais e melhor ficção, um posicionamento claro no entretenimento, programas de sátira e humor, programas de contacto directo com os públicos, grandes eventos, sem esquecer, o papel fundamental que a informação – nos telejornais mas muito nos formatos de entrevista, reportagem ou comentário – tem tido. Sem o excelente trabalho do Luís Marinho e do José Alberto Carvalho, como antes do José Rodrigues dos Santos e da Judite de Sousa e sem uma redacção qualificada isto não seria possível. A RTP tem também hoje uma nova geração de comunicadores. Parece que eles sempre aqui estiveram … mas não é verdade. Do José Carlos Malato à Silvia Alberto, da Tânia Ribas de Oliveira ao Jorge Gabriel, da Catarina Furtado ao Daniel Oliveira … todos eles contribuíram para a nova RTP. Juntaram-se aos nossos históricos, como o Júlio Isidro, a Margarida Mercês de Mello ou Eládio Clímaco e – todos - soubemos criar uma equipa Também se alterou a percepção dos espectadores em relação à RTP. A forma como nos olham é diferente e esse facto é muito reconfortante numa empresa com 50 anos de história, marcada por feitos notáveis que se confundem com a vida recente de Portugal mas igualmente por outros em que a RTP foi utilizada sem pudor pelos vários poderes ou interesses. A RTP1 tem hoje uma quota de 25.2 do mercado. Tinha em Setembro de 2002, quando aqui chegámos, 20.8. No horário nobre a RTP1 tem hoje 24.5 de share. Tinha 19.4 há cinco anos. A RTP1 tem hoje uma oferta de programação mais diversificada, diminuiu o peso do futebol, cresceu a oferta de informação e de ficção. É hoje mais equilibrada, alargou o espectro do seu público e entre os canais generalistas é líder nas classes A/B e nos grandes centros urbanos, sem rejeitar as suas raízes. Disse muitas vezes que para o Serviço Público de Televisão a audiência não era o elemento de avaliação mais relevante mas nunca iludi ninguém: entendo que a RTP deve ser um player forte, cumprindo as obrigações que constam do Contrato de Concessão, mas sem fugir ou rejeitar os espectadores. No momento de partir queria sublinhar que a nossa produção e emissão para 2008 e 2009 está definida. A grelha do primeiro semestre do ano integralmente fechada. A grelha do segundo semestre definida nos seus contornos gerais. Posso dizer que sei hoje que série documental estaria a estrear em Março de 2009… Como é evidente, quem chegar vai fazer o seu caminho. Desejo sorte e garantirei toda a colaboração ao meu sucessor. As empresas são as pessoas mas, talvez pela sua idade e pelo seu histórico a RTP tem uma capacidade de regeneração que merece ser levada em conta. Deixo também uma nota ao novo Presidente do CA, o Dr. Guilherme Costa que se revelou, nos contactos que mantivemos, uma pessoa admirável e com objectivos claros. Isso é bom para a empresa e para todos os que aqui trabalham. Agradeço o facto de me ter transmitido a sua confiança e a compreensão que mostrou perante a minha decisão. Entendo que não me devo alongar sobre o futuro. Digo apenas que parto para um novo projecto, onde o quadro é tão ou mais difícil do que aquele que existia em 2002 na RTP. Como sempre, acredito que vou superar os obstáculos e que vou conseguir o meu objectivo. Foi assim em todos os meios nos quais dirigi equipas -- na Rádio Comercial, na TSF, na Rádio Energia, na Antena 1, na SIC, na SIC- Notícias, na TV-Cabo e finalmente na RTP. Até hoje nunca falhei um projecto e trabalho sempre para manter esse crédito. Evocando Pessoa, o meu poeta de eleição “tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Termino como comecei: Só foi possível vencer esta etapa com o apoio dos meus colegas da RTP a quem desejo sorte. Competência e qualidade humana já demonstraram que têm.