REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 12 A CULTURA E O NOVO SOLO HISTÓRICO: REFLEXÕES SOBRE NOSSO TEMPO BENEDETTI, Ieda M. M. 1 BÁRCARO, Fernanda (Co-autora)2 Resumo: O texto procurou uma reflexão filosófica e sociológica da história compreendendo a transitoriedade e a transformação, consumo, imediatismo, ansiedade e adição são elementos extremamente presentes na dinâmica da sociedade atual. A cultura é entendida como um elemento de recriação do sujeito e indivíduo a partir do que já existe e a partir de suas atividades como ser social tomando o extremo cuidado para não reduzirmos o indivíduo a um elemento fragmentado e sim é produto da totalidade. A intensão foi contribuir com um momento da história humana, propondo as reflexões sobre as necessidades de resgate do sujeito. Palavras-chave: cultura – sujeito – indivíduo – sociedade – totalidade. Abstract: The text sought a reflection with philosophical and sociological base understanding the transitoriness and the transformation, consumption, imediatismo, anxiety, addition is elements extremely presents in the dynamics of the current society. The culture is understood as an element to create the subject and individual starting from what exists already and starting from their activities how to be social taking the end taken care for us not to reduce the individual to a fragmented element and yes it is product of the totality. The immediate action was to contribute with a moment of the human history, proposing the reflections about the needs of rescue of the subject. Key-word: culture – subject – individual – society – totality. Brasil, julho de 2006. Cada vez mais a cultura é dinâmica, cada vez menos é aquilo que está cristalizado. Cabe a mim, sujeito do meu tempo em transformação, propor uma reflexão sobre cultura nesse artigo, ou falar de mim através da cultura ou ainda falar de cultura a partir do meu lugar e do meu olhar e assim, revelar a cultura do meu tempo ao me revelar a partir desse olhar, pois, cada sujeito é uma expressão da cultura e traz em si, enquanto a constrói, parte da história. Diante disso pretende-se aqui ampliar o debate e defender a idéia de que a significação do sujeito é uma relação de poder que necessita ser constantemente debatida, refletida e apontada a partir da construção da cultura humana. Bourdieu em Questões de Sociologia (1983, p. 18) afirma que a reflexão sociológica é uma prática científica que perturba e desencanta o pesquisador no SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 13 confronto com a realidade frustrante. “[...] a dificuldade particular que existe em fazer sociologia freqüentemente se deve ao fato de que as pessoas têm medo daquilo que vão encontrar”. Mais ainda, o sociólogo integra o campo das lutas científicas e os objetos escolhidos, aquilo que consegue ver ou não, que domina ou não, decorre também de sua posição, ocupada no espaço social e no campo científico. A reflexão sociológica é uma prática científica que perturba e desencanta o pesquisador no confronto com a realidade, inúmeras vezes, frustrante principalmente no momento em que a humanidade produz informções em uma velocidade incalculável. “[...] a dificuldade particular que existe em fazer sociologia freqüentemente se deve ao fato de que as pessoas têm medo daquilo que vão encontrar” (BOURDIE, 1983, p. 18). Transitoriedade, transformação, consumo, imediatismo, ansiedade, adição são elementos extremamente presentes na dinâmica da sociedade atual e movimentam esta presente reflexão. A cultura é recriada pelo sujeito e indivíduo a partir do que já existe e a partir de suas atividades como ser social tomando o extremo cuidado para não reduzirmos o individuo a um elemnto fragmentado. Embasando essas afirmações existe uma concepção de cultura e de sujeito. Cabe então explicitar essa concepção. A fundamentação em grandes autores que discorrem sobre o tema como BOURDIEU (2001), CERTEAU (1995), COSTA (2000), DI GIORGI (2004), CÂNDIDO (1989), e contribuem para a formação da estrutura conceitual, a fim de desenvolver a temática “cultura e contemporaneidade”. Cada sujeito traz em si a singularidade, que não é fragmentada, e, concomitantemente, também apresenta os problemas comuns da atualidade. O sujeito contemporâneo traz novos tipos de subjetivação. Nesse campo, é necessário não se perder de vista que toda essência e subjetivação humana acontecem em relação ao contexto sócio-cultural em cada época. Cada pessoa é em maior ou em menor grau o modelo da sociedade, ou melhor, da classe a que pertence, já que nela se reflete a totalidade das relações sociais, reflete as múltiplas facetas da problemática social que por sua vez é gerada pelo inimigo. Fernandes (2008, p. 276) clarifica nossa compreensão falando sobre indissociabilidade. “ A indisssociabilidade é uma palavra-chave por que une os sistemas de objetos e os sistemas de ações de modo contraditório e solidário expressos pelas conflitualidades geradas pelas diferentes intencionalidades”. Podemos afirmar que o ponto de partida do solo histórico é a materialização da SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 14 essência humana que contempla a natureza, os objetos sociais ou os objetos produzidos pelas relações sociais que tornam-se a totalidade da subjetivação dos indivíduos dos sujeitos. Assim como Santos (1996) define o espaço como uma totalidade. Vygotsky (1984), há que se olhar o geral, a totalidade das relações das quais o sujeito participa direta ou indiretamente, porquanto estamos imersos em uma determinada forma de organização da vida que se objetiva nas práticas sociais, nos modos de ser, de agir, nos valores, enfim, nos signos que caracterizam a cultura capitalista ocidental. Essa é transformada e constituinte do sujeito e da subjetividade. Sujeito e cultura são elementos de um mesmo processo. [...] Temos de substituir a visão mecanicista de ver a cultura, sujeito e subjetividade como fenômenos diferentes que se relacionam, para passar a vê-los como fenômenos que, sem serem idênticos, se integram como momentos qualitativos da ecologia humana em uma relação de recursividade. (GONZALEZ REY, 2003 p.205) Terry Eagleton (2003) que em seu trabalho A idéia de Cultura, afirma que, para desenvolver a idéia de cultura é necessário, inicialmente investigar sua etimologia e fundamentos e particularmente sua relação com a natureza que, se é sim, em certa medida, de oposição, é também de alguma forma de complementaridade. Se a cultura transfigura a natureza, esse é um projeto ao qual a natureza estabelece rigorosamente limites. A própria palavra cultura contém uma tensão entre fazer e ser feito racionalidade e espontaneidade que censura o intelecto. Aqui claramente distancia-se do iluminismo, que conceitua a apreensão da realidade a partir da razão, tanto quanto desafia o reducionismo cultural, presente ainda em grande parte do pensamento contemporâneo. A cultura vem sendo tratada como uma espécie de pedagogia ética que nos torna (não seria tornaria pois entendo que a sociedade não é ética) aptos para a cidadania política através da libertação do “eu ideal ou coletivo” engendrado em cada um, um eu que encontra a sua suprema representação no domínio universal do estado. Finda por afirmar que a cultura enquanto valor universal e a cultura enquanto forma de vida específica não são, necessariamente, antagônicas. O cultural é o que podemos alterar, mas a matéria a ser alterada tem sua própria existência autônoma. A idéia de cultura significa então uma dupla recusa: do SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 15 determinismo orgânico por um lado e da autonomia do espírito pelo outro. Ainda de acordo com Eagleton (2003), as especificidades e peculiaridades culturais são elementos essenciais da sociedade em que vivemos e do modo que se apresenta, ao contrário do que apregoou a concepção predominante do iluminismo, que vislumbrava uma homogeneização cultural, a partir do esclarecimento da humanidade com base na racionalidade. O Iluminismo Kantiano é encantador ao pensar uma sociedade que se “ilumina” e evolui gradativamente e que resolve suas questões a partir da razão e do conhecimento. Esse mesmo “Iluminismo” oferece a base teórica, que fundamenta o modelo de escola presente no projeto liberal, e que, tem em sua premissa básica, a cisão com questões ligadas a afetividade, pois está excluída de seu fundamento. Separados, razão e emoção, embasam o conceito de sujeito presente na ideologia liberalista e sua sociedade de consumo presentes no atual contexto histórico, que seduz com o engodo da solução pela racionalidade e pelo consumo. Não vivemos apenas da cultura, mas também nela. Os sentimentos, a convivência, a memória, a relação familiar, o lugar, a comunidade, a plenitude emocional, o prazer intelectual e a sensação de que tudo tem sentido, são mais próximos do que a declaração de direitos do homem ou os tratados comerciais e outras questões mais universais. A cultura também pode ser próxima por pura complacência. De fato essa proximidade pode converter-se em algo patológico e obsessivo, a menos que seja inserida num contexto político ilustrado, um contexto que possa moderar essa adesão com compromissos evidentemente mais abstratos, mas também, de algum modo, mais generosos. A cultura assumiu uma nova dimensão política, porém desproporcionada. É o caso de identificarmos a sua importância, assim como redimensioná-la e pô-la em seu lugar sob pena de nos tornarmos escravos da cultura, dos padrões sociais e do “desejo do outro”, perdendo aspectos fundamentais que nos individualizam e que nos tornam humanos e “sui generes”. Para Leontiev (1992) e Vygotsky (1984), é na cultura que se dá a formação do sujeito, da subjetividade e do próprio homem. A ação humana está orientada para um objeto, de tal modo que a atividade tem sempre um caráter objetal. O ensino é uma forma social de organização e apropriação da cultura material e espiritual. Leontiev (1984) entende que a apropriação é o processo que tem por resultado SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 16 a reprodução, pelo indivíduo, das capacidades e procedimentos de conduta humanos historicamente formados. Fica claro que essa perspectiva teórica está fundamentada sobre a base material. É nas relações objetivas e concretas que o sujeito se constitui e estrutura-se como um todo racional, cognitivo.A própria subjetividade adquire significações a partir da cultura e suas representações. A cultura desempenha, assim, um papel relevante por permitir ao ser humano a interiorização dos modos historicamente determinados e culturalmente organizados, de operar com informações. A apropriação das formas da cultura pelo indivíduo é o caminho já elaborado de desenvolvimento de sua consciência. Aceita esta proposição, a tarefa fundamental da ciência será a de determinar como o conteúdo do desenvolvimento da humanidade se transforma em suas diferentes formas e como a apropriação dessas formas pelo indivíduo se transforma no conteúdo do desenvolvimento de sua consciência. O conceito de sujeito e cultura se entrelaçam na dimensão histórica. A atividade, tanto externa como interna, tem uma estrutura psicológica, cujos componentes são: necessidades, motivos, finalidades, condições de realização da finalidade. Leontiev (1992) dedicou-se a investigação do desenvolvimento do psiquismo humano, dos processos psicológicos superiores, do processo de internalização, da estrutura, da atividade global e seu desdobramento em outras atividades, das emoções, dos processos de comunicação. Nos fundamentos de sua teoria do desenvolvimento psíquico ressalta o papel das ações externas no surgimento e formação das ações internas mentais através do ensino. A aprendizagem é uma forma essencial de desenvolvimento psíquico e o caminho lógico para analisar capacidades humanas e conduzir ao desenvolvimento através da atividade, levando em conta o papel dos fatores externos do desenvolvimento, com destaque especial à incorporação da cultura vista em sua formação histórica. Certeau (1995), historiador, discorre sobre a modernidade da Europa no século XVI. Preocupou-se em não apontar o domínio da verdade e do direito legítimo, mas aprender com o passado e buscar respostas para entender como os grupos sociais. Sua forma de ler a história cultural e social era constituída no entrecruzamento das disciplinas e métodos, associando à história e antropologia, os conceitos e procedimentos da filosofia, da lingüística e da psicanálise. SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 17 O conceito de cultura contido em seu trabalho: Comportamentos, instituições, ideologias e mitos que compõem quadros de referência e cujo conjunto, coerente ou não, caracteriza uma sociedade como diferente das outras. Para Certeau (1995), toda cultura requer uma atividade, um modo de apropriação, uma adoção e transformação pessoal, um intercâmbio instaurado em um grupo da sociedade. Ele apresenta um conceito de cultura falando de outro lugar, de outras fontes, do homem no cotidiano ordinário sem deter-se a conceituação. A cultura é uma proliferação de invenção em espaços circunscritos. Não podemos nos referir a “uma cultura” ou “a cultura” e sim, a “culturas”. Em essência: A cultura é no plural! Os centros de produção e de fusão da cultura são cada vez mais plurais. Existe uma série de outros centros produtores de cultura que não a escola que outrora já fora dominante. A universidade e pesquisadores devem atentar-se a movimentos de minorias: As culturas devem se relacionar com as demais. Diversas minorias hoje são fortemente produtoras de cultura com muitos valores. Assim a nova utopia seria a possibilidade de criação e recriação pelo sujeito, de modo ativo, da pluralidade cultural. Essa questão já aparece de algum modo, e Gramsci (1992) que percebe a pluralidade de manifestações em diferentes grupos na sociedade já existente em seu tempo. O que o preocupa é até onde os sujeitos serão, em certa medida, capazes de produzir cultura ativamente. Esta produção, feita por eles, é intencional, e definirá o tipo de sociedade em que vivemos. Dentro da vertente marxista a formulação mais elaborada é de Antônio Gramsci que defende que organização da cultura é o sistema das instituições da sociedade civil cuja função dominante é a de concretizar o papel da mesma na reprodução ou na transformação da sociedade inteiramente. Isto é possível através da organização do povo, principalmente do sistema educacional. Esse sistema, o educacional, deixa de ser uma simples instância direta de legitimação do poder dominante para se tornar um campo de luta entre as várias concepções políticoideológicas. A referência essencial da cultura continua sendo a luta de classes, ainda que compreendida, de diversas mediações. Gramsci escreveu, na década de 1920 do Século XX, a obra Os intelectuais e a organização da Cultura no cárcere. Usa uma terminologia própria para não ser censurado. Texto sujeito a muitas interpretações, pois as vezes não é possível definir se SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 18 as escolhas por ele feitas se prestam a melhor definição que encontrou ou a busca em burlar a censura . Existem interpretações muito divergentes sobre o que Gramsci diz. Ele, um dirigente partidário analisa, no cárcere, como os sindicalistas, o partido e o proletariado, fracassaram mesmo tendo a melhor concepção de mundo (base material) e os objetivos igualitários. Gramsci sai do vocabulário Marxista, devido principalmente a ação da censura, mas mantém as idéias e em última instancia a determinação da base material e da luta de classes. Ele renova a terminologia, mas continua dentro da determinação da base econômica. Valoriza muito o que acontece nos EUA. Era um anticapitalista, mas declara que seja importante entender as questões ligadas a hegemonia Estadunidense. Entende que é necessário se apropriar, de modo profundo, dos conceitos envolvidos na construção dessa sociedade. Deixando claro que a influência Estadunidense na cultura global vai além das reflexões exercídas nas ciencias atuais, é uma relação imbricada na essencia do comportamento do sujeito diante das necessidades que lhe são impostas sem que seja notada de inicio mas que seja profunda na transformação da sociedade, na condução dos acontecimentos. Digno denota a atenção que Gramsci dava aos Estadunidenses, já em seu tempo, por perceber que lá existia uma expressão radical do captalismo, superando a pseudo-superioridade européia. Quer decodificar os conceitos Fordistas e o modo de produção americano para compreender por que lá se constrói a sociedade burguesa mais elaborada. Entende, mesmo na contramão do que apontava a sociedade européia da época, que nos EUA estavam em um o ponto mais avançado da civilização burguesa. É se apropriando em profundidade dessas questões que seria possível compreender uma nova hegemonia e só assim poder edificar uma hegemonia antagônica. O conceito central de Gramsci é a hegemonia. Ele a percebe e a relata a partir de uma classe (burguesa) sobre a outra (proletariado), e a superação da questão da exploração de uma classe sobre a outra pela construção de uma outra base hegemônica. Para a construção de uma nova hegemonia, é necessário trabalhar em cada uma das questões que estão presentes na cultura, entender como foram construídas, como os conceitos se formam e qual o papel desses na sociedade. Gramsci (1991) está preocupado em compreender a multiplicidade das manifestações culturais que começam a aparecer no tempo dele e que hoje se mostra de SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 19 modo mais claro e amplo. Também quer compreender como se formam e transitam uma série de conceitos construídos ao largo da hegemonia burguesa ou proletária, onde os intelectuais tradicionais trabalham e a sociedade burguesa se apropria. Esse conhecimento profundo da estrutura de dominação é a matéria prima para construção de uma hegemonia contrária a vigente na época. O pressuposto então é que, as coisas devem ser compreendidas a partir do interior delas. Não basta, por exemplo, dizer que: “a religião é o ópio do povo”. Há que se entender a complexidade da organização da cultura e a partir de sua formação interna construir uma hegemonia. Por exemplo, quais estruturas engendradas na religiosidade que se prestam a dominação ideológica. Há nque se dominar não apenas a base material como também as idéias a partir da lógica do interior delas. A grande questão para Gramsci (1991) é construir uma hegemonia, no interior da lógica de cada uma das manifestações culturais existentes. Inclusive dentro da igreja. Há que se compreender o que é esse movimento da religião e se apropriar disso para a construção de uma hegemonia proletária ou socialista. O mesmo pode ocorrer pensado na cultura camponesa, e assim sucessivamente. Existe uma ampliação dos movimentos culturais: Religião, campesinato, feminismo, burguesia etc. Essas manifestações culturais devem ser compreendidas para que sejam hegemonizadas dentro de uma ideologia marxista. Dentro do cárcere, consegue vislumbrar em sua forma embrionária o fenômeno da diversidade atual, tão claro na cultura, visível nos movimentos gays, negros, punks, para citar apenas alguns. Ponto focal: não se trata de impor valores e sim de compreendê-los internamente. Para Gramsci, a estrutura e a superestrutura formam um “bloco histórico”, isto é, um conjunto complexo e contraditório, onde a superestrutura é o reflexo do mesmo e das relações sociais de produção. Porém é preciso observar que a relação entre superestrutura e infra-estrutura não se dá abstratamente, ela acontece de maneira concreta, histórica. Essa ligação teria de ser feita organicamente. A partir de 1968, a pluralidade cultural, que já antevia Gramsci, se torna muito mais ampla, inclusive por que o sonho iluminista da crescente homogeneização cultural do mundo dominado pela razão se tornou um pesadelo totalitário - Nazifacismo, MacCartirmo americano, regimes do leste europeu, ditadura sul americanas, fundamentalistas religiosos - Alguns se alvoraram no papel da razão e da dominação do mundo por UMA razão (uma razão imperialista e dominante). SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 20 Assim a nova utopia passa a ser a busca da pluralidade cultural. A quantidade que o sujeito pode produzir e reproduzir ativamente a cultura. Ganha importância a capacidade de apropriação cultural de modo ativo e não absorvida passivamente por ele. Apenas a pluralidade cultural não assegura a apropriação ativa e a criação e recriação da cultura. Bourdieu foca o combate ao Neoliberalismo, colocando como alternativa a ele a responsabilidade social dos intelectuais e do estado; a cultura dominada pelo mercado estaria criando uma sociedade mais perversa. Chama a atenção para a necessidade de um papel mais atuante dos intelectuais para a vida pública e, do estado, na tentativa de garantir os interesses de todos. Aponta para a necessidade de identificação com o espaço e tempo de onde fala, pois mostra um sentido para a realidade que estamos enfrentando e que nos faz refletir. Um certo universalismo é apenas um nacionalismo que invoca o universal. A cultura, sob a marca da pós-modernidade, deve ser analisada a partir da lógica do capitalismo tardio, na qual a própria cultura se tornou um produto. Essa lógica pode ser examinada considerando uma variedade de expressões contemporâneas como as manifestações das artes visuais, do cinema, do vídeo, da arquitetura, das articulações do tempo e de uma nova concepção do espaço; buscando mostrar um modelo do funcionamento ideológico dessas expressões tomadas num conjunto. Os requerimentos contemporâneos, decorrentes das mudanças no modelo de produção trazem uma indução de necessidades e de transformação cultural. Procurou-se nesta reflexão contribuir com um momento da história humana, propondo as reflexões sobre as necessidades de resgate do sujeito. Acreditamos ser importate o acompanhamento destes processos das diferentes formas de se mapear e compreender as conflitualidades humanas dentro da totalidade. Aponta-se a mudança de um caminho a ser debatido num segundo momento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, S. Adolescentes, crime e violência. In: ABRAMO, H.W. FREITAS, M.V. de, SPOSITO, M.P. (Orgs.) Juventude em Debate. 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