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A CULTURA E O NOVO SOLO HISTÓRICO:
REFLEXÕES SOBRE NOSSO TEMPO
BENEDETTI, Ieda M. M. 1
BÁRCARO, Fernanda (Co-autora)2
Resumo: O texto procurou uma reflexão filosófica e sociológica da história
compreendendo a transitoriedade e a transformação, consumo, imediatismo, ansiedade e
adição são elementos extremamente presentes na dinâmica da sociedade atual. A cultura
é entendida como um elemento de recriação do sujeito e indivíduo a partir do que já
existe e a partir de suas atividades como ser social tomando o extremo cuidado para não
reduzirmos o indivíduo a um elemento fragmentado e sim é produto da totalidade. A
intensão foi contribuir com um momento da história humana, propondo as reflexões
sobre as necessidades de resgate do sujeito.
Palavras-chave: cultura – sujeito – indivíduo – sociedade – totalidade.
Abstract: The text sought a reflection with philosophical and sociological base
understanding the transitoriness and the transformation, consumption, imediatismo,
anxiety, addition is elements extremely presents in the dynamics of the current society.
The culture is understood as an element to create the subject and individual starting
from what exists already and starting from their activities how to be social taking the
end taken care for us not to reduce the individual to a fragmented element and yes it is
product of the totality. The immediate action was to contribute with a moment of the
human history, proposing the reflections about the needs of rescue of the subject.
Key-word: culture – subject – individual – society – totality.
Brasil, julho de 2006. Cada vez mais a cultura é dinâmica, cada vez menos é
aquilo que está cristalizado. Cabe a mim, sujeito do meu tempo em transformação,
propor uma reflexão sobre cultura nesse artigo, ou falar de mim através da cultura ou
ainda falar de cultura a partir do meu lugar e do meu olhar e assim, revelar a cultura do
meu tempo ao me revelar a partir desse olhar, pois, cada sujeito é uma expressão da
cultura e traz em si, enquanto a constrói, parte da história. Diante disso pretende-se aqui
ampliar o debate e defender a idéia de que a significação do sujeito é uma relação de
poder que necessita ser constantemente debatida, refletida e apontada a partir da
construção da cultura humana.
Bourdieu em Questões de Sociologia (1983, p. 18) afirma que a reflexão
sociológica é uma prática científica que perturba e desencanta o pesquisador no
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confronto com a realidade frustrante. “[...] a dificuldade particular que existe em fazer
sociologia freqüentemente se deve ao fato de que as pessoas têm medo daquilo que vão
encontrar”. Mais ainda, o sociólogo integra o campo das lutas científicas e os objetos
escolhidos, aquilo que consegue ver ou não, que domina ou não, decorre também de sua
posição, ocupada no espaço social e no campo científico.
A reflexão sociológica é uma prática científica que perturba e desencanta o
pesquisador no confronto com a realidade, inúmeras vezes, frustrante principalmente no
momento em que a humanidade produz informções em uma velocidade incalculável.
“[...] a dificuldade particular que existe em fazer sociologia freqüentemente se deve ao
fato de que as pessoas têm medo daquilo que vão encontrar” (BOURDIE, 1983, p. 18).
Transitoriedade, transformação, consumo, imediatismo, ansiedade, adição são
elementos extremamente presentes na dinâmica da sociedade atual e movimentam esta
presente reflexão. A cultura é recriada pelo sujeito e indivíduo a partir do que já existe e
a partir de suas atividades como ser social tomando o extremo cuidado para não
reduzirmos o individuo a um elemnto fragmentado. Embasando essas afirmações existe
uma concepção de cultura e de sujeito. Cabe então explicitar essa concepção. A
fundamentação em grandes autores que discorrem sobre o tema como BOURDIEU
(2001), CERTEAU (1995), COSTA (2000), DI GIORGI (2004), CÂNDIDO (1989), e
contribuem para a formação da estrutura conceitual, a fim de desenvolver a temática
“cultura e contemporaneidade”.
Cada sujeito traz em si a singularidade, que não é fragmentada, e,
concomitantemente, também apresenta os problemas comuns da atualidade. O sujeito
contemporâneo traz novos tipos de subjetivação. Nesse campo, é necessário não se
perder de vista que toda essência e subjetivação humana acontecem em relação ao
contexto sócio-cultural em cada época. Cada pessoa é em maior ou em menor grau o
modelo da sociedade, ou melhor, da classe a que pertence, já que nela se reflete a
totalidade das relações sociais, reflete as múltiplas facetas da problemática social que
por sua vez é gerada pelo inimigo.
Fernandes (2008, p. 276) clarifica nossa compreensão falando sobre
indissociabilidade. “ A indisssociabilidade é uma palavra-chave por que une os sistemas
de objetos e os sistemas de ações de modo contraditório e solidário expressos pelas
conflitualidades geradas pelas diferentes intencionalidades”.
Podemos afirmar que o ponto de partida do solo histórico é a materialização da
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essência humana que contempla a natureza, os objetos sociais ou os objetos produzidos
pelas relações sociais que tornam-se a totalidade da subjetivação dos indivíduos dos
sujeitos.
Assim como Santos (1996) define o espaço como uma totalidade. Vygotsky
(1984), há que se olhar o geral, a totalidade das relações das quais o sujeito participa
direta ou indiretamente, porquanto estamos imersos em uma determinada forma de
organização da vida que se objetiva nas práticas sociais, nos modos de ser, de agir, nos
valores, enfim, nos signos que caracterizam a cultura capitalista ocidental. Essa é
transformada e constituinte do sujeito e da subjetividade. Sujeito e cultura são
elementos de um mesmo processo.
[...] Temos de substituir a visão mecanicista de ver a cultura, sujeito
e subjetividade como fenômenos diferentes que se relacionam, para
passar a vê-los como fenômenos que, sem serem idênticos, se
integram como momentos qualitativos da ecologia humana em uma
relação de recursividade. (GONZALEZ REY, 2003 p.205)
Terry Eagleton (2003) que em seu trabalho A idéia de Cultura, afirma que, para
desenvolver a idéia de cultura é necessário, inicialmente investigar sua etimologia e
fundamentos e particularmente sua relação com a natureza que, se é sim, em certa
medida, de oposição, é também de alguma forma de complementaridade. Se a cultura
transfigura a natureza, esse é um projeto ao qual a natureza estabelece rigorosamente
limites. A própria palavra cultura contém uma tensão entre fazer e ser feito racionalidade e espontaneidade que censura o intelecto. Aqui claramente distancia-se do
iluminismo, que conceitua a apreensão da realidade a partir da razão, tanto quanto
desafia o reducionismo cultural, presente ainda em grande parte do pensamento
contemporâneo.
A cultura vem sendo tratada como uma espécie de pedagogia ética que nos
torna (não seria tornaria pois entendo que a sociedade não é ética) aptos para a
cidadania política através da libertação do “eu ideal ou coletivo” engendrado em cada
um, um eu que encontra a sua suprema representação no domínio universal do estado.
Finda por afirmar que a cultura enquanto valor universal e a cultura enquanto forma de
vida específica não são, necessariamente, antagônicas.
O cultural é o que podemos alterar, mas a matéria a ser alterada tem sua própria
existência autônoma. A idéia de cultura significa então uma dupla recusa: do
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determinismo orgânico por um lado e da autonomia do espírito pelo outro.
Ainda de acordo com Eagleton (2003), as especificidades e peculiaridades
culturais são elementos essenciais da sociedade em que vivemos e do modo que se
apresenta, ao contrário do que apregoou a concepção predominante do iluminismo, que
vislumbrava uma homogeneização cultural, a partir do esclarecimento da humanidade
com base na racionalidade.
O Iluminismo Kantiano é encantador ao pensar uma sociedade que se
“ilumina” e evolui gradativamente e que resolve suas questões a partir da razão e do
conhecimento. Esse mesmo “Iluminismo” oferece a base teórica, que fundamenta o
modelo de escola presente no projeto liberal, e que, tem em sua premissa básica, a cisão
com questões ligadas a afetividade, pois está excluída de seu fundamento. Separados,
razão e emoção, embasam o conceito de sujeito presente na ideologia liberalista e sua
sociedade de consumo presentes no atual contexto histórico, que seduz com o engodo da
solução pela racionalidade e pelo consumo.
Não vivemos apenas da cultura, mas também nela. Os sentimentos, a
convivência, a memória, a relação familiar, o lugar, a comunidade, a plenitude
emocional, o prazer intelectual e a sensação de que tudo tem sentido, são mais próximos
do que a declaração de direitos do homem ou os tratados comerciais e outras questões
mais universais.
A cultura também pode ser próxima por pura complacência. De fato essa
proximidade pode converter-se em algo patológico e obsessivo, a menos que seja
inserida num contexto político ilustrado, um contexto que possa moderar essa adesão
com compromissos evidentemente mais abstratos, mas também, de algum modo, mais
generosos. A cultura assumiu uma nova dimensão política, porém desproporcionada. É
o caso de identificarmos a sua importância, assim como redimensioná-la e pô-la em seu
lugar sob pena de nos tornarmos escravos da cultura, dos padrões sociais e do “desejo
do outro”, perdendo aspectos fundamentais que nos individualizam e que nos tornam
humanos e “sui generes”.
Para Leontiev (1992) e Vygotsky (1984), é na cultura que se dá a formação do
sujeito, da subjetividade e do próprio homem. A ação humana está orientada para um
objeto, de tal modo que a atividade tem sempre um caráter objetal. O ensino é uma
forma social de organização e apropriação da cultura material e espiritual.
Leontiev (1984) entende que a apropriação é o processo que tem por resultado
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a reprodução, pelo indivíduo, das capacidades e procedimentos de conduta humanos
historicamente formados. Fica claro que essa perspectiva teórica está fundamentada
sobre a base material. É nas relações objetivas e concretas que o sujeito se constitui e
estrutura-se como um todo racional, cognitivo.A própria subjetividade adquire
significações a partir da cultura e suas representações.
A cultura desempenha, assim, um papel relevante por permitir ao ser humano a
interiorização dos modos historicamente determinados e culturalmente organizados, de
operar com informações.
A apropriação das formas da cultura pelo indivíduo é o caminho já elaborado
de desenvolvimento de sua consciência. Aceita esta proposição, a tarefa fundamental da
ciência será a de determinar como o conteúdo do desenvolvimento da humanidade se
transforma em suas diferentes formas e como a apropriação dessas formas pelo
indivíduo se transforma no conteúdo do desenvolvimento de sua consciência.
O conceito de sujeito e cultura se entrelaçam na dimensão histórica. A
atividade, tanto externa como interna, tem uma estrutura psicológica, cujos
componentes são: necessidades, motivos, finalidades, condições de realização da
finalidade. Leontiev (1992) dedicou-se a investigação do desenvolvimento do psiquismo
humano, dos processos psicológicos superiores, do processo de internalização, da
estrutura, da atividade global e seu desdobramento em outras atividades, das emoções,
dos processos de comunicação. Nos fundamentos de sua teoria do desenvolvimento
psíquico ressalta o papel das ações externas no surgimento e formação das ações
internas mentais através do ensino.
A aprendizagem é uma forma essencial de desenvolvimento psíquico e o
caminho lógico para analisar capacidades humanas e conduzir ao desenvolvimento
através da atividade, levando em conta o papel dos fatores externos do
desenvolvimento, com destaque especial à incorporação da cultura vista em sua
formação histórica.
Certeau (1995), historiador, discorre sobre a modernidade da Europa no século
XVI. Preocupou-se em não apontar o domínio da verdade e do direito legítimo, mas
aprender com o passado e buscar respostas para entender como os grupos sociais. Sua
forma de ler a história cultural e social era constituída no entrecruzamento das
disciplinas e métodos, associando à história e antropologia, os conceitos e
procedimentos da filosofia, da lingüística e da psicanálise.
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O conceito de cultura contido em seu trabalho: Comportamentos, instituições,
ideologias e mitos que compõem quadros de referência e cujo conjunto, coerente ou
não, caracteriza uma sociedade como diferente das outras.
Para Certeau (1995), toda cultura requer uma atividade, um modo de
apropriação, uma adoção e transformação pessoal, um intercâmbio instaurado em um
grupo da sociedade. Ele apresenta um conceito de cultura falando de outro lugar, de
outras fontes, do homem no cotidiano ordinário sem deter-se a conceituação. A cultura é
uma proliferação de invenção em espaços circunscritos. Não podemos nos referir a
“uma cultura” ou “a cultura” e sim, a “culturas”. Em essência: A cultura é no plural!
Os centros de produção e de fusão da cultura são cada vez mais plurais. Existe
uma série de outros centros produtores de cultura que não a escola que outrora já fora
dominante. A universidade e pesquisadores devem atentar-se a movimentos de
minorias: As culturas devem se relacionar com as demais. Diversas minorias hoje são
fortemente produtoras de cultura com muitos valores.
Assim a nova utopia seria a possibilidade de criação e recriação pelo sujeito, de
modo ativo, da pluralidade cultural. Essa questão já aparece de algum modo, e Gramsci
(1992) que percebe a pluralidade de manifestações em diferentes grupos na sociedade já
existente em seu tempo. O que o preocupa é até onde os sujeitos serão, em certa medida,
capazes de produzir cultura ativamente. Esta produção, feita por eles, é intencional, e
definirá o tipo de sociedade em que vivemos.
Dentro da vertente marxista a formulação mais elaborada é de Antônio
Gramsci que defende que organização da cultura é o sistema das instituições da
sociedade civil cuja função dominante é a de concretizar o papel da mesma na
reprodução ou na transformação da sociedade inteiramente. Isto é possível através da
organização do povo, principalmente do sistema educacional. Esse sistema, o
educacional, deixa de ser uma simples instância direta de legitimação do poder
dominante para se tornar um campo de luta entre as várias concepções políticoideológicas.
A referência essencial da cultura continua sendo a luta de classes, ainda que
compreendida, de diversas mediações.
Gramsci escreveu, na década de 1920 do Século XX, a obra Os intelectuais e a
organização da Cultura no cárcere. Usa uma terminologia própria para não ser
censurado. Texto sujeito a muitas interpretações, pois as vezes não é possível definir se
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as escolhas por ele feitas se prestam a melhor definição que encontrou ou a busca em
burlar a censura . Existem interpretações muito divergentes sobre o que Gramsci diz.
Ele, um dirigente partidário analisa, no cárcere, como os sindicalistas, o partido
e o proletariado, fracassaram mesmo tendo a melhor concepção de mundo (base
material) e os objetivos igualitários.
Gramsci sai do vocabulário Marxista, devido principalmente a ação da censura,
mas mantém as idéias e em última instancia a determinação da base material e da luta de
classes. Ele renova a terminologia, mas continua dentro da determinação da base
econômica.
Valoriza muito o que acontece nos EUA. Era um anticapitalista, mas declara
que seja importante entender as questões ligadas a hegemonia Estadunidense. Entende
que é necessário se apropriar, de modo profundo, dos conceitos envolvidos na
construção dessa sociedade. Deixando claro que a influência Estadunidense na cultura
global vai além das reflexões exercídas nas ciencias atuais, é uma relação imbricada na
essencia do comportamento do sujeito diante das necessidades que lhe são impostas sem
que seja notada de inicio mas que seja profunda na transformação da sociedade, na
condução dos acontecimentos.
Digno denota a atenção que Gramsci dava aos Estadunidenses, já em seu
tempo, por perceber que lá existia uma expressão radical do captalismo, superando a
pseudo-superioridade européia. Quer decodificar os conceitos Fordistas e o modo de
produção americano para compreender por que lá se constrói a sociedade burguesa mais
elaborada. Entende, mesmo na contramão do que apontava a sociedade européia da
época, que nos EUA estavam em um o ponto mais avançado da civilização burguesa. É
se apropriando em profundidade dessas questões que seria possível compreender uma
nova hegemonia e só assim poder edificar uma hegemonia antagônica.
O conceito central de Gramsci é a hegemonia. Ele a percebe e a relata a partir
de uma classe (burguesa) sobre a outra (proletariado), e a superação da questão da
exploração de uma classe sobre a outra pela construção de uma outra base hegemônica.
Para a construção de uma nova hegemonia, é necessário trabalhar em cada uma
das questões que estão presentes na cultura, entender como foram construídas, como os
conceitos se formam e qual o papel desses na sociedade.
Gramsci (1991) está preocupado em compreender a multiplicidade das
manifestações culturais que começam a aparecer no tempo dele e que hoje se mostra de
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modo mais claro e amplo. Também quer compreender como se formam e transitam uma
série de conceitos construídos ao largo da hegemonia burguesa ou proletária, onde os
intelectuais tradicionais trabalham e a sociedade burguesa se apropria. Esse
conhecimento profundo da estrutura de dominação é a matéria prima para construção de
uma hegemonia contrária a vigente na época.
O pressuposto então é que, as coisas devem ser compreendidas a partir do
interior delas. Não basta, por exemplo, dizer que: “a religião é o ópio do povo”. Há que
se entender a complexidade da organização da cultura e a partir de sua formação interna
construir uma hegemonia. Por exemplo, quais estruturas engendradas na religiosidade
que se prestam a dominação ideológica. Há nque se dominar não apenas a base material
como também as idéias a partir da lógica do interior delas.
A grande questão para Gramsci (1991) é construir uma hegemonia, no interior
da lógica de cada uma das manifestações culturais existentes. Inclusive dentro da igreja.
Há que se compreender o que é esse movimento da religião e se apropriar disso para a
construção de uma hegemonia proletária ou socialista. O mesmo pode ocorrer pensado
na cultura camponesa, e assim sucessivamente.
Existe uma ampliação dos movimentos culturais: Religião, campesinato,
feminismo, burguesia etc. Essas manifestações culturais devem ser compreendidas para
que sejam hegemonizadas dentro de uma ideologia marxista. Dentro do cárcere,
consegue vislumbrar em sua forma embrionária o fenômeno da diversidade atual, tão
claro na cultura, visível nos movimentos gays, negros, punks, para citar apenas alguns.
Ponto focal: não se trata de impor valores e sim de compreendê-los
internamente. Para Gramsci, a estrutura e a superestrutura formam um “bloco histórico”,
isto é, um conjunto complexo e contraditório, onde a superestrutura é o reflexo do
mesmo e das relações sociais de produção. Porém é preciso observar que a relação entre
superestrutura e infra-estrutura não se dá abstratamente, ela acontece de maneira
concreta, histórica. Essa ligação teria de ser feita organicamente.
A partir de 1968, a pluralidade cultural, que já antevia Gramsci, se torna muito
mais ampla, inclusive por que o sonho iluminista da crescente homogeneização cultural
do mundo dominado pela razão se tornou um pesadelo totalitário - Nazifacismo,
MacCartirmo americano, regimes do leste europeu, ditadura sul americanas,
fundamentalistas religiosos - Alguns se alvoraram no papel da razão e da dominação do
mundo por UMA razão (uma razão imperialista e dominante).
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Assim a nova utopia passa a ser a busca da pluralidade cultural. A quantidade
que o sujeito pode produzir e reproduzir ativamente a cultura. Ganha importância a
capacidade de apropriação cultural de modo ativo e não absorvida passivamente por ele.
Apenas a pluralidade cultural não assegura a apropriação ativa e a criação e recriação da
cultura.
Bourdieu foca o combate ao Neoliberalismo, colocando como alternativa a ele
a responsabilidade social dos intelectuais e do estado; a cultura dominada pelo mercado
estaria criando uma sociedade mais perversa. Chama a atenção para a necessidade de
um papel mais atuante dos intelectuais para a vida pública e, do estado, na tentativa de
garantir os interesses de todos. Aponta para a necessidade de identificação com o espaço
e tempo de onde fala, pois mostra um sentido para a realidade que estamos enfrentando
e que nos faz refletir. Um certo universalismo é apenas um nacionalismo que invoca o
universal.
A cultura, sob a marca da pós-modernidade, deve ser analisada a partir da
lógica do capitalismo tardio, na qual a própria cultura se tornou um produto. Essa lógica
pode ser examinada considerando uma variedade de expressões contemporâneas como
as manifestações das artes visuais, do cinema, do vídeo, da arquitetura, das articulações
do tempo e de uma nova concepção do espaço; buscando mostrar um modelo do
funcionamento ideológico dessas expressões tomadas num conjunto. Os requerimentos
contemporâneos, decorrentes das mudanças no modelo de produção trazem uma
indução de necessidades e de transformação cultural.
Procurou-se nesta reflexão contribuir com um momento da história humana,
propondo as reflexões sobre as necessidades de resgate do sujeito. Acreditamos ser
importate o acompanhamento destes processos das diferentes formas de se mapear e
compreender as conflitualidades humanas dentro da totalidade. Aponta-se a mudança de
um caminho a ser debatido num segundo momento.
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1
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Mestre
em Educação pela FCT – UNESP/ Presidente Prudente e psicóloga. Docente da Faculdade de
Presidente Prudente (UNIESP).
2
Mestre em Geografia pela UNESP/ Rio Claro e Docente da Faculdade de Presidente Prudente
(UNIESP).
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