64 defendia a ideia de que o Brasil deveria se tornar o principal aliado do imperialismo yankee, sob o argumento de assumirmos a liderança na América Latina4. Para familiares e amigos íntimos, Lobato revelava, em detalhes a expectativa de enriquecer na América do Norte. Assim, para o cunhado Heitor de Morais e a irmã Teca, ou para os amigos Candido Fontoura, Godofredo Rangel, Lino Moreira, Artur Neiva, suas primeiras cartas insistiam em atividades e negócios inovadores (e sempre milionários), que lhe permitiriam abandonar o serviço público. A primeira tentativa de tornar-se milionário na “América” foi esboçada ainda no Brasil e estava apoiada no lançamento do seu romance, “meio à Wells, com visão de futuro”, que tocava na polêmica questão racial norte-americana e que ele acreditava que se tornaria um best-seller, primeiro da editora que pretendia fundar. Três meses depois de desembarcar no porto de Nova York informou o seguinte ao amigo Rangel: “Meu romance não encontrou editor. Falhou a Tupy Company. Acham-no ofensivo à dignidade americana [...]. Os originais estão com o Issac Goldeberg, para ver se há arranjo. Adeus Tupy Company!...” (LOBATO, 1969, t. 2, p. 304, carta de 5 de setembro de 1927). Apesar do revés, Lobato descobriu outra oportunidade de negócio, o processo siderúrgico desenvolvido pelo engenheiro William H. Smith. Em carta de 17 de agosto a Godofredo Rangel (LOBATO, 1969, t. 2, p. 302) afirmava manter correspondência com um engenheiro da Ford, que desenvolveu um revolucionário processo siderúrgico perfeitamente adequado às condições brasileiras. Acreditamos que o interesse de Lobato pelo ferro e petróleo tem origem na sua admiração pela figura de Henry Ford. Em traduções e artigos, Lobato ajudou a divulgar o fordismo no Brasil e é provável que tenha sido esse trabalho a porta de entrada para chegar aos representantes da Ford nos Estados Unidos. A ausência de documentos não permite o estudo aprofundado dessa relação, no entanto, é plausível supor que a condição de divulgador do fordismo e o cargo de adido comercial – cuja função é justamente estreitar as relações econômicas entre Brasil e Estados Unidos – proporcionaram condições favoráveis para a aproximação entre Lobato e Smith. Nas cartas que abordam a questão do ferro, escritas por Lobato em 1927, percebese a ausência de um plano de negócios e ações concretas para viabilizar a instalação do método experimental no Brasil. O escritor limitava-se a defender a importância do processo Smith e revelar que comunicou o caso ao governo brasileiro, sem entrar em maiores detalhes. Tampouco fica claro se Lobato atuaria como um mediador entre o governo do Brasil e o engenheiro da Ford ou se pretendia criar uma empresa e conduzir as negociações 4 Cartas de Monteiro Lobado a Artur Neiva (TIN, 2007, p. 468-470, carta de 9 de setembro de 1927), Oliveira Viana (TIN, 2007, p. 438-440, carta de 10 de novembro de 1927), Lino Moreira (LOBATO, 1970, p. 107-108, carta de 18 de setembro de 1927) e Alarico Silveira (TIN, 2007, p. 109-113, cartas de 19 de setembro e 9 de novembro de 1927).