A EPISTEMOLOGIA DO/NO CAMPO DAS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS: UM DIÁLOGO COM O CAMPO DAS POLÍTICAS
DOCENTES
Romilda Teodora Ens1 - PUCPR
Grupo de Trabalho - Cultura, Currículo e Saberes
Financiamento: CAPES
Resumo
Discutir “A epistemologia do/no campo das representações sociais, em diálogo com o campo
das políticas docentes”, é o desafio que lanço, por compreender que as pesquisas em
representações sociais buscam estabelecer um aprofundamento dos estudos em políticas. São
nos espaços da criação dos textos políticos e dos próprios textos que emergem elementos da
subjetividade das políticas que os textos políticos incorporam ao serem construídos,
divulgados e colocados em prática. Inicio buscando trazer o conceito de epistemologia
apoiada em Saviani (2013), podemos dizer que a epistemologia das representações sociais
está buscando discutir o caráter cientifico das representações sociais. Portanto, este estudo,
busca apontar os limites, possibilidades de conhecimento científico que podem ser produzidos
a partir de pesquisas que envolvam estudos das representações sociais contidas em textos
políticos e em análises de aspectos da formação de professores que buscam representações
sociais de determinados grupos. Como as representações sociais apresentam diversas funções,
dentre elas estão: explicar a realidade, definir a identidade e especificidade dos grupos,
orientar comportamentos práticos e a criar justificativas para posturas e comportamentos
(ABRIC, 2001), permitindo que grupos e/ou pessoas construam suas próprias interpretações
da realidade. Aspecto esse, que nos é explicado pelo criador da teoria das representações
sociais, em 1961, ao dizer que as RDs são “um corpo organizado de conhecimento e uma das
atividades psíquicas graças aos quais os homens tornam a realidade física e social inteligível,
se inserem em um grupo ou relação quotidiana de trocas e liberam os poderes de sua
imaginação” (MOSCOVICI, 2012, p. 28). Constata-se, portanto que o movimento dialético
produzido pela RS ao se interpretar o mundo por meio da linguagem, nos deparamos com a
objetivação e a ancoragem, processos que como esclarece Moscovici (2003) num primeiro
momento o conceito é identificado pela memória, dando-lhe nomes, tornando-o familiar, real,
para num segundo momento transformá-lo numa imagem que protagoniza uma nova ação,
traduzindo as crenças e valores intrínsicos aos seres humanos. Nesse processo de
comunicação o homem diz Moscovici (2012, p. 29) “[...] diferencia, traduz, interpreta,
combina, da mesma forma que os grupos inventam, diferenciam e interpretam os objetos
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Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUCSP. Professora Titular da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR). Pesquisadora Associada da Fundação Carlos Chagas, participando do CIERS-Ed
(Centro Internacional em Representações Sociais e Subjetividade – Educação). E-mail: [email protected].
INSS 2176-1396
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sociais ou as representações de outros grupos”. Pois, como afirma Lahlou (2003, p. 41) “[...]
É na língua que procuramos os objetos do mundo, uma vez que a língua é uma memória
social que, por meio de sua rede semântica, sedimenta as visões do mundo produzidas pela
cultura”. Complementando, o autor explica “as ligações entre as palavras representam as
conexões entre ideias” (p.41). Do que podemos afirmar não existir discurso ou texto neutro.
Por isso, ao tomarmos a teoria das representações sociais como um conhecimento científico
que contribui para com a análise das políticas docentes, é possível desvelar opiniões dos
diferentes grupos sobre práticas e comportamentos, bem como aferir, ainda que de modo
preliminar, os possíveis impactos que diferentes políticas trazem a determinados espaços e
tempos. Para tanto, temos claro que por trás da organização, produção e colocação em pratica
de uma política aparecem interesses específicos e camuflados que, segundo Boneti (2007, p.
14), os são “[...] expressos pelos grupos econômicos, grandes corporações do setor produtivo
ou por diferentes grupos sociais [...] pelas próprias problemáticas sociais”, determinadas por
força da das questões econômicas, envolvendo os contextos: global, nacional e local,
denominado “localismo globalizado”, por Souza Santos (2010, p. 438) o qual se traduz pela
integração, da competição/negociação e da inclusão/exclusão. Tomando como estudo o
campo da educação, Ball (2001, p. 100) aborda questões relacionadas ao que denomina um
“surgimento de um novo paradigma de governo educacional”. Questiona “até que ponto
estamos a assistir ao desaparecimento gradual da concepção de políticas específicas do Estado
Nação nos campos econômicos, social e educativo”. Explica serem as políticas nacionais um
processo de ‘bricolagem’, ou seja, “um constante processo de empréstimo e cópia de
fragmentos e partes de ideias de outros contextos, de uso e melhoria das abordagens locais já
tentadas e testadas” (BALL, 2001, p. 102). Situações que explicitam tais afirmações são
apontadas por Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 430) como as reformas educacionais têm
sido influenciadas por organismos multilaterais como “Banco Mundial (BM), Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) [...] entre outros”. Estes por meio de
seus documentos “não apenas prescreviam as orientações a serem adotadas [...] produziam o
discurso ‘justificador’ das reformas”. Nos anos de 1990 predominaram os argumentos em prol
do discurso da “qualidade, competitividade, produtividade, eficiência, e eficácia”, e “ao final
da década percebe-se uma guinada do viés explicitamente economicista para uma face mais
humanitária na política educacional”, a qual pode ser percebida “pela crescente ênfase nos
conceitos de justiça, equidade, coesão social, inclusão [...]”, segundo as autoras (p.430).
Aspectos estes que podem nos ajudar no estudo das RS, pois estas são a forma como a
sociedade interpreta e comunica determinados fenômenos, criando a realidade, ou seja, um
senso comum sobre esta mesma realidade (MOSCOVICI, 2003), pois elas operam no nível do
senso comum e auxiliam na leitura do mundo de certo grupo, com uma função prática, que é
de fornecer explicações e soluções para a vida cotidiana, que funcionará para (re)organizar
condutas e comportamentos (JODELET, 2007). Desta forma, pode-se partir do princípio de
que muito dos conhecimentos que são utilizados estão bastante próximos do que um grupo
imagina que aquilo deva ser.
Palavras-chave: Representações Sociais. Políticas Docentes. Educação. Epistemologia.
REFERÊNCIAS
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