João Luís Silva Carvalho 1. INTRODUÇÃO Desde o despontar da Humanidade que a reprodução e a sua falência são importante desassossego, como demonstrado por pinturas e esculturas de cavernas pré-históricas que associam a procriação à prosperidade, ou pelo mandamento de Deus a Adão e Eva no Génesis: «Sede fecundos, multiplicai-vos e povoem a terra»1. Ao longo da História, e em todas as civilizações, o símbolo da fertilidade foi sempre a mulher, pelo que os escolhos em conceber recaíam penosamente sobre ela, implicando repercussões sociológicas e atitudes médicas concordantes com o estatuto menor que quase sistematicamente lhe era outorgado. Entre as civilizações mais antigas, apenas a Egípcia foi excepção, pois nela a mulher ocupava um lugar de destaque, era merecedora de respeito e o seu estatuto legal equivalia ao do homem. A infertilidade constituía um problema preocupante mas, também diferentemente do verificado em outras sociedades, não era encarada como castigo divino. Embora reconhecendo a existência de causas masculinas, a Medicina do tempo dos Faraós dava tal relevância à infecundidade da mulher, que era legítimo o recurso «terapêutico» às «concubinas», perpetuadas como símbolo de fertilidade pelas estatuetas de ofertas votivas1. Porém, a grei do tempo dos Faraós era única para a época, e o cuidado com a procriação estava estritamente ligado a respeito pela feminilidade, resultante do elevado estatuto da mulher na sociedade Egípcia. Em contraste, em outras civilizações, como a Hebraica ou a Helénica, em que era impensável a existência de causas masculinas, a mulher, quase sem direitos nem liberdade, era infértil por castigo dos Deuses. Só com as profundas transformações introduzidas pela escola Hipocrática se iniciou a ruptura com este paradigma, sendo incorporada a base racional tão cara aos filósofos gregos. Mas a racionalização, alicerçada em axiomas filosóficos, determinava a mulher como um mero receptáculo para fertilização, um ser inferior, quase infra-humano, semelhante aos escravos e apenas ligeiramente superior aos animais. O panorama modificou-se muito pouco na Roma Bizantina e, apesar das iniciativas de Soranas, um dos mais famosos ginecologistas da época, a terapêutica da infertilidade era, para muitas mulheres patrícias, a do flagelo no ventre com chicotes de pele de cabra no templo de Juno ou nas «Festas de Março»1. Só com o advento da supremacia militar e científica das nações Árabes se iniciou, na escola médica de Bagdad, o reconhecimento de que a infertilidade poderia ser também masculina e estar relacionada com anomalias dos «espermas»1. Na Idade Média, tempos de evidente progresso artístico e intelectual mas sem equivalente evolução na área médica, o pensamento «clínico» continuou dominado pelos conhecimentos herdados da civilização Helénica, nos seus conceitos, métodos e no que respeita ao estatuto social da mulher. Na época medieval, a procriação era uma necessidade absoluta e 3 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 28 Infertilidade 4 fica1. A endocrinologia da reprodução dava também os primeiros passos. É difícil, e inapropriado neste contexto, descrever com exaustão os tremendíssimos progressos ocorridos nos sécs. XX e início do XXI. Apenas sintetizaremos que se verificaram em quatro direcções: 1. A do diagnóstico, a beneficiar de modernas técnicas de imagem ultrassonográficas e endoscópicas, de rigorosos doseamentos hormonais por radioimunoensaio, da identificação de anomalias genéticas que se iniciaram pelo cariótipo e hoje se estendem, por intermédio da biologia molecular, aos genes, aos seus locus e às deleções/fragmentações do ADN. 2. A dos tratamentos cirúrgicos conservadores e minimamente invasivos, com especialíssimo relevo para os espectaculares desenvolvimentos da cirurgia endoscópica. 3. A da endocrinologia, que nos habilitou com fármacos que permitem manipular completamente o eixo endócrino da mulher, em particular suprimir, induzir e estimular a ovulação. 4. A da reprodução medicamente assistida, com a extraordinária possibilidade de realizar a fecundação in vitro e a microinjecção intracitoplasmática de esperamatozoides (ICSI), os protocolos para preparação do esperma, os meios de cultura para maturação e desenvolvimento de ovócitos e embriões, os avanços na criopreservação, a habilitação para diferentes procedimentos que envolvem gâmetas e embriões associados às mais evoluídas tecnologias de análise genética por hibridação in situ por fluorescência (FISH), sondas de ADN e reacção em cadeia por polimerase (PCR). Esta capacidade que, para já, é apenas de conhecer e identificar ao nível dos genes, é o início de uma nova área, cujo impacto sanitário e social determinará uma nova era. A sua aplicação ao nível do diagnóstico da transmissão de alto risco, do screening genético, da identificação da histocompatibilidade dos antigénios de leucócitos humanos (HLA) ou da predisposição Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 decorria dos benefícios da união matrimonial. Também nestes tempos a ausência de fecundidade estava impregnada de castigo divino e diversos pecados, principalmente a transgressão às leis do casamento, desencadeavam infertilidade, eventualmente ultrapassável pelo jejum e pela oração, ou invocando os santos, como Santa Ana, padroeira dos casais inférteis. Foi necessário esperar até à Renascença para que os conceitos sobre procriação conhecessem desenvolvimento com relevo. Os fantásticos progressos artísticos, científico e das ciências médicas ocuparam o primeiro plano e Vesale, Leonardo da Vinci, Bartholomeu d’Eustachio, entre outros, «descobriram» a anatomia por observação e dissecção cuidadosas do corpo humano, que escrupulosamente reproduziram em gravuras. Desvendaram os mistérios anatómicos do corpo feminino e Bartholomeu d’Eustachio recomendava (1602): «após a relação sexual, os maridos devem colocar os dedos no interior da vagina da mulher para facilitar a concepção»1. Poder-se-á dizer que é o verdadeiro pai da ideia de inseminação artificial! Os factos e a evidência viriam a questionar a Medicina de fundamento transcendental e no séc. XVIII, à metodologia da observação foi adicionada a estruturação do conhecimento e a sua utilização em moldes de raciocínio científico. Van Leeuwenhock descobriu o espermatozóide, Naboth identificou a obstrução tubar, John Hunter relatou a primeira inseminação com êxito e Smellin descreveu o processo de fertilização. A mulher começa a ser objecto de um maior interesse e de uma alvorada de atenção que ajuda a compreender muitas situações de infertilidade, o que no entanto apouca o seu estatuto social e a torna automaticamente culpada dos impedimentos de procriação. O séc. XIX e o início do séc. XX ficaram marcados por enormes progressos na Medicina e espectaculares avanços na área da Reprodução Humana. Enquanto Sims, em 1868, explicava a importância do exame microscópico do esperma e realizava inseminações «artificiais», Hunter descrevia o teste póscoital e Rubin a insuflação tubar quimográ- 2. DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, FECUNDABILIDADE, INCIDÊNCIA A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a infertilidade como a incapacidade de um casal conseguir gravidez após um ano de relações sexuais sem contracepção. Claro que Infertilidade em algumas situações da prática clínica a identificação de uma situação de infertilidade é imediata e óbvia sem necessidade de respeitar esse decurso de tempo, como por exemplo em face de histórias de oligoamenorreia/anovulação crónica ou de azoospermia já conhecida. Desde o ano 2000 que a mesma organização assumiu a infertilidade como doença e recomendou aos diferentes países europeus, através do Regional Office for Europe, que determinem a sua prevalência e respectivas causas, bem como estabeleçam adequadas capacidades de resposta médica e social. Também o Parlamento Europeu, em 2005, emanou resolução com sentido idêntico. Para além das implicações individuais (depressão, ansiedade, hostilidade e perturbações da lucidez)2, a falência da reprodução é um importante problema de saúde pública, porque se reveste de significativas repercussões sociais, económicas e demográficas. Recorde-se a este propósito o panorama europeu, em que o número de crianças por mulher é insuficiente para assegurar a curto prazo a substituição das gerações. Em Portugal, em 2008, o crescimento natural foi praticamente nulo, com uma taxa de crescimento efectivo de apenas 0,09% e verificada à custa do crescimento migratório3. No mesmo ano, o indicador sintético de fecundidade (1,37) permaneceu inferior ao nível de substituição de gerações3. Para este cenário contribuem significativamente numerosos casos de infertilidade, de que se verifica uma progressão crescente, e que coloca esta doença como um dos principais problemas de saúde das sociedades modernas. Os frutos do seu tratamento têm impacto demográfico, pois pode por exemplo referir-se que, correntemente, cerca de 3 a 4% das crianças que nascem no continente europeu resultam de terapêuticas por procriação medicamente assistida (PMA)4-6. No exercício clínico é muito importante ter uma noção correcta da fecundabilidade, isto é, da probabilidade de concepção mensal que, em casais normais, se situa nos 20-25% até aos 33-35 anos de idade da mulher, sendo 5 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 para doenças de expressão tardia, é hoje prática corrente e constitui a antecâmara de um potencial inimaginável que, mais tarde ou mais cedo, ultrapassará a área do diagnóstico individual para ganhar expressão na completa erradicação de patologias muito graves e na capacidade de terapia genética. Hoje, no dealbar do séc. XXI, não é difícil de prever que em áreas como a da cirurgia minimamente invasiva, continuarão a ocorrer desenvolvimentos resultantes da telemedicina, da robotização ou das aplicações da informática, mas que os grandes avanços terão inevitavelmente lugar no campo das ciências e das tecnologias relacionadas com a reprodução assistida e com a genética molecular. Porque de facto estamos apenas a aprender de novo a anatomia, a fisiologia e a fisiopatologia. A evolução tecnológica forneceu-nos, por intermédio da biologia molecular, os instrumentos necessários para estudarmos de novo as ciências fundamentais, só que ao nível dos genes, na sua disposição e inter-relação nos cromossomas, nos mecanismos e factores que estabelecem a sua expressão ou silenciamento e que determinam a existência de doença. Um maior conhecimento do enredo que regula o fenómeno implantatório e a possibilidade de com ele interferir, bem como a capacidade de congelar adequadamente ovócitos humanos conservando-lhes as virtualidades de desenvolvimento pós-fertilização, para não falar do enorme potencial que se poderá abrir com a criopreservação e transplantação de tecido ovárico ou com o controlo da diferenciação das células estaminais, são outras vertentes, em que são esperáveis enormes saltos qualitativos num futuro não muito longínquo. 6 que no entanto se revelam inaplicáveis pelos elevados custos logísticos e financeiros, a que acrescem desvantagens metodológicas importantes15,19. Em conjunto, estes escolhos podem afectar a validade dos resultados. Por outro lado, os métodos de natureza retrospectiva, alicerçados em autopercepção e posterior relato de dificuldade em engravidar, são referidos como de baixa sensibilidade (58%) e associados a potenciais vieses de recrutamento, de memória, por reaplicação de questionários e pela influência de tendências populacionais e de comportamento15,20. Contudo, alguns autores referem que estes problemas podem ser parcialmente ou totalmente ultrapassados com medidas implementadoras de qualidade17,19. Estima-se que, no mundo Ocidental, a infertilidade afecte cerca de 15% dos casais21. Os resultados de diversos estudos, predominantemente dirigidos para a determinação da prevalência da infertilidade ao longo da vida e baseados em avaliações retrospectivas por autopercepção, citam, para a Europa, valores que variam entre os 6,622 e os 26,4%23 (Quadro 1). Nos Estados Unidos da América (EUA), um estudo recente refere uma prevalência de infertilidade corrente de 7,4%24. No entanto, é frequentemente referido que, na Europa, cerca de 14% dos casais têm alguma forma de dificuldade em conceber14 e nos EUA cerca de 10% (1995) com um aumento de 20% em sete anos (de 1982 a 1995)18. Em Portugal, um estudo de 2009 concluiu que a prevalência da infertilidade ao longo da vida se situa entre os 9 e os 10% e em idade reprodutora é de 8%, não se verificando diferenças regionais da prevalência25. Assim, estima-se que, no país, entre 266.088 a 292.996 mulheres (casais) tenham infertilidade ao longo da vida e que 116.630 a 121.059 se encontrem em idade reprodutora. Somente 43 a 48% das mulheres com infertilidade ao longo da vida e 57 a 61% das actualmente em idade reprodutora recorrem a consulta médica, com procura equivalente de serviços públicos e privados, calculando-se uma necessidade imediata de 21.343 ciclos de PMA25. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 referido um tempo médio de espera de 5-6 meses até ocorrer gravidez7,10,11. Avalia-se que mais de 10% dos casais demorem um tempo superior a um ano a conceber12. Assim, se em muitos casos não é necessário esperar um ano para definir o casal como infértil ou subfértil, em outros, sobretudo de mulheres jovens, é necessário conceder um prazo razoavelmente alargado antes de iniciar uma avaliação diagnóstica ou terapêutica intempestiva, porque muitas situações serão apenas de subfertilidade não identificada e resolver-se-ão espontaneamente. Clarificar o conceito de fecundabilidade é importante, porque retirará ansiedade a muitos casais com uma noção errada da rentabilidade do processo de reprodução e aliviará expectativas pouco realistas de sucesso imediato, seja por fecundação espontânea ou por recurso a tratamentos que apenas alcançarão taxas de êxito «mensais» entre os 20 e os 30%. A infertilidade encontra-se em ascensão nos países industrializados2,13, e em algumas regiões a sua importância é tal que pode ter influência no desenvolvimento económico da população13. A informação pública tem sido incrementada e suscitada uma maior atenção para o aumento da prevalência10-12,14. No entanto, a exacta incidência da infertilidade é extremamente difícil ou mesmo impossível de conhecer, quer pelas diferentes definições e critérios de avaliação utilizados (ex.: infertilidade corrente ou infertilidade ao longo da vida), quer pelas grandes variações regionais e diferentes metodologias dos múltiplos estudos (estudos demográficos, inquéritos de base populacional em pequenas comunidades, estudos clínicos)15-17. Assim, a investigação sobre prevalência é influenciada pela metodologia de avaliação, pelo critério utilizado para elaborar o diagnóstico12, pelas diferentes definições e terminologias utilizadas por diversos autores (clínicos, epidemiologistas, especialistas de demografia)16,18. De acordo com alguns, os métodos mais exactos para determinação da prevalência serão os de natureza prospectiva, Autores/ano Ano de realização do estudo e local Desenho do estudo Amostra do estudo Outcome Resultados Bhattacharya, et al.26 Grampian, Escócia 2007 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 50,2% 4.466 mulheres 31-50 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 17,5% 95% intervalo de confiança (IC) (16,318,6%) Terävä, et al.27 Finlândia 1992-2004 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 75,8% 4.729 mulheres 25-64 anos Prevalência de subfertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 16% Rostad, et al.22 North Trondelagcounty, Noruega 1985-1995 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 86% 9.983 mulheres nulíparas e multíparas 50-64 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 6,6% p < 0,01 Olsen, et al.28 Europa (Dinamarca, Alemanha Ocidental e Alemanha de Leste, Norte e Sul de Itália, Polónia e Espanha) 1991-1993 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Variação da taxa de resposta entre 57% na Alemanha e 88% na Polónia 6.630 mulheres 25-44 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida Auto-reportado Total: 11,3% Dinamarca: 16,8% Alemanha Ocidental: 23,8% Alemanha de Leste: 5% Norte de Itália: 24,8% Sul de Itália: 8,8% Polónia: 8,8% Espanha: 12% Buckett, et al.29 Shrewsbury, Reino Estudo Unido retrospectivo de 1995 base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 72,9% 728 mulheres 45-55 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 17,3% 95% IC (14,6-20%) Sundby, et al.11 South-Trøndelag, Noruega 1992-1993 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 78,5% 4.034 mulheres 40-42 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 10,3% Schmidt, et al.14 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 78% 2.865 mulheres 15-44 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 15,7% Gunnell, et al.23 Somerset, Reino Unido 1993 Estudo retrospectivo de base populacional com amostra randomizada Taxa de resposta = 75,7% 2.377 mulheres 36-50 anos Prevalência de infertilidade ao longo da vida (12 meses) Auto-reportado 26,4% 95% IC (24,6-28,2%) Stephen, et al.24 EUA 2002 Estudo transversal 15.303 mulheres casadas 15-44 anos Prevalência de infertilidade corrente Auto-reportado 7,4% Boivin, et al.30 Países mais desenvolvidos e países menos desenvolvidos 1988-2005 Revisão 28 estudos Prevalência mediana de infertilidade corrente (12 meses) Países mais desenvolvidos: 9% Países menos desenvolvidos: 5-15% Estudo nacional retrospectivo com amostra aleatória estratificada 2.632 indivíduos (1.909 mulheres; 723 homens) Prevalência de infertilidade ao longo da vida e em idade reprodutora 9,8%; 8,2% County of Copenhagen, Dinamarca 1989 Silva Carvalho, Portugal et al.25 2009 Infertilidade 7 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 1. Prevalência de infertilidade (Europa e EUA) 3.1. AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAMES A importância dos vários factores de infertilidade varia consoante as populações estudadas, não podendo ser determinada com exactidão. Collins31 realizou uma análise de 21 estudos e relata que, em cerca de 15.000 casais inférteis, as perturbações de ovulação ocorriam em 27%, o factor masculino em 25%, o tubar em 22%, a endometriose em 5% e outros factores em 4%. A infertilidade inexplicada justificava 17% das situações. Por seu turno, em 2006, a Human Fertilisation and Embryology Authority (HFEA) cita a seguinte proporção: vários factores masculinos 32,5%; todos os factores femininos 32,5% (doença tubar 15,3%; anomalias ovulatórias 8,4%; factores múltiplos 5,5%; endometriose 2,9%; uterino 0,4%); factores femininos e masculinos múltiplos 10,8%; inexplicada 23,1%; outros 1,1%. Nunca foi demonstrado que hipotéticas situações, como de anticorpos antiespermatozóide, insuficiência luteínica, infecção genital subclínica, subtis anomalias endócrinas de hipotiroidismo ou hiperprolactinemia em mulheres com ciclos ovulatórios, fossem causa de infertilidade e não existem estudos prospectivos randomizados que demonstrem que o tratamento destas entidades nosológicas proporcione um aumento da fecundidade. Muitas das doentes com anomalias subtis serão hipoférteis, pelo que apenas demorarão um pouco mais de tempo a conceber. Contudo, uma vez identificada a existência de perturbação da fertilidade, a avaliação diagnóstica deve ser completada tão rapidamente quanto possível. Convém salientar que, para além de a infertilidade ser frequentemente multifactorial, a metodologia de avaliação diagnóstica de âmbito clínico não conseguirá detectar a(s) causa(s) em 10 a 20% das situações, que inevitavelmente serão classificadas de infertilidade inexplicada. A estratégia de avaliação/orientação inicial do casal infértil tem como trave mestra a procura da identificação e correcção das causas. Mesmo sabendo-se que muitas vezes este desiderato não será alcançado, deve resistir-se à tentação fácil de tudo ultrapassar para conseguir um ilegítimo «êxito» de curto prazo, em particular por recurso às técnicas de PMA. Num contexto em que o apoio emocional é vector importante, o fornecimento de informação rigorosa sobre a fisiologia da reprodução, sobre a doença que impede de procriar e suas causas, são tão relevantes quanto a definição dos momentos e perfis em que as investigações e tratamentos devem terminar ou, pelo contrário, têm de ser acelerados. Uma idade feminina superior a 35 anos, uma história de oligo/amenorreia, antecedentes de endometriose, história suspeita de doença uterina ou tubária, conhecimento de subfertilidade do parceiro, alterações no exame físico em particular indiciadoras de endometriose ou infecção, são apenas alguns exemplos de situações que deverão motivar uma avaliação rápida e completa ou mesmo o início imediato de terapêutica. A avaliação inicial assenta em cinco «pilares» fundamentais: 1. História clínica e exame físico (com colheita para citologia cervical). 2. Análises gerais de pré-concepção, incluindo serologias das doenças infecciosas e doseamentos hormonais, ao 2.o/3.o dia do ciclo. 3. Histerossalpingografia. 4. Ultrassonografia pélvica transvaginal. 5. Espermograma. Na primeira consulta, o casal será informado acerca da fecundabilidade normal e de como fica alterada com o progredir da idade da mulher ou com uma duração de infertilidade superior a três anos. Deve também ser fornecida informação sobre a finalidade dos 8 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 3. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA9 3.1.1. HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO A colheita da história do elemento masculino deve incluir entre outros: antecedentes de patologias e infecções; traumatismos, riscos profissionais, exposição a tóxicos/radiações/calor; estilo de vida e medicações habituais; cirurgias anteriores; história familiar de dificuldade reprodutiva, atraso mental e defeitos congénitos. A história feminina deve ser colhida cuidadosamente, pois esta é, talvez, a área da ginecologia em que o interrogatório clínico tem um papel mais importante. Para além dos aspectos habituais, deve ter-se particular atenção Infertilidade aos seguintes pontos: idade da mulher; duração da infertilidade; exames e tratamentos anteriores; regularidade/irregularidade dos ciclos menstruais; complicação de eventual gravidez anterior; tempo e método de contracepção prévia (dispositivo intra-uterino [DIU]); antecedentes de infecção ou cirurgia abdominopélvica; dismenorreia significativa, adquirida ou com posterior aumento de intensidade; dispareunia; hipermenorreia; disfunção sexual; exame citológico cervical anormal ou prévio tratamento de patologia do colo uterino; medicações habituais, drogas, tabaco e exposição a tóxicos/radiações. Nos antecedentes familiares é importante não esquecer as doenças genéticas, as malformações e, de forma muito importante, a idade da menopausa dos elementos femininos da família. É também importante não esquecer sintomas e sinais sugestivos de doenças endócrinas como galactorreia, alterações do peso, pele, pilosidade, etc. O exame físico deve dispensar particular atenção a estes aspectos e à massa corporal, ao tamanho e morfologia da tiróide, às secreções mamárias, à posição do útero, à dor abdominal ao exame pélvico, em particular se despertada por dificuldades de mobilização uterina, exploração do fundo de saco posterior e dos ligamentos úterosagrados, ou por palpação anexial. Também a exploração da cavidade vaginal, dos fundos de saco e do colo do útero, assumem relevo. É importante salientar que o exame ginecológico continua a ser um dos principais meios de avaliação da infertilidade e, muitas vezes, fornece a chave para o diagnóstico. Para além de eventuais patologias ou leucorreias cervicais observáveis ao espéculo, a detecção de uma retroversão uterina fixa, de um útero difícil de mobilizar ou doloroso à mobilização, de nodulações dos ligamentos útero-sagrados, de nodulação do septo rectovaginal, de empastamento dos fundos de saco posterior ou laterais, são bons exemplos de prováveis causas de 9 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 diferentes exames de diagnóstico, o prognóstico e os diversos tipos de tratamento. As possíveis causas necessitam de ser referidas, não esquecendo que, mesmo após a utilização de todos os meios clínicos de diagnóstico, em 10 a 20% das situações pode ser impossível identificar o principal factor. Muitas vezes, é necessário ensinar que a fecundabilidade pode ser aumentada pela orientação das relações sexuais para a fase pré-ovulatória do ciclo genital, porque, após a captação pela trompa, o ovócito se desintegra em menos de um dia, enquanto que os espermatozóides mantêm capacidade de fertilização até 72 horas, pelo que é aconselhável que se encontrem presentes na parte superior do aparelho genital feminino no momento da chegada do ovócito. Wilcox demonstrou que a probabilidade de gravidez era muito superior se as relações sexuais ocorressem no dia da ovulação, ou um a dois dias antes, do que quando se concretizavam em dias posteriores32. Assim, é de aconselhar como timing óptimo para actividade sexual, ou para realização de inseminação, o dia anterior ao da ovulação, sem esquecer que o pico de hormona luteinizante (LH) (eventual identificação urinária) ocorre nesse dia. Com este objectivo, o gráfico de temperatura basal não tem qualquer interesse e deve ser desaconselhado33. 3.1.2. ANÁLISES Na mulher jovem, saudável, assintomática e com ciclos regulares, é suficiente a solicitação de exames analíticos que contemplem o hemograma com grupo sanguíneo e factor Rh e as análises básicas incluindo as serologias habituais no estudo de pré-concepção. A avaliação por rotina da função tiroideia por hormona tireo-estimulante (TSH), T3 e T4 livre, bem como da prolactina (PRL), em mulheres com ciclos ovulatórios regulares, é de utilidade duvidosa. Os resultados são habitualmente normais e, mesmo na presença de algum grau de anomalia, desde que a mulher tenha ciclos ovulatórios regulares, é provável que as alterações detectadas não tenham qualquer relação com a infertilidade. Nestas mulheres, os tratamentos efectuados com extracto tiroideu e bromocriptina não mostraram aumentar a probabilidade de concepção quando comparado com as que não efectuaram qualquer terapêutica9. Por outro lado, mulheres com anovulação e hipotiroidismo, ou hiperprolactinemia, beneficiam com tratamento de substituição da função tiroideia ou com agonistas da dopamina, estando demonstrado um reassumir da ovulação e da fecundidade. 10 O estudo analítico endocrinológico justifica-se nas mulheres com mais de 35 anos de idade ou nas que evidenciem sintomas (oligomenorreia/amenorreia) ou sinais clínicos (obesidade, hirsutismo, etc.) de disfunção endócrina. Deve contemplar: TSH, T3 e T4 livre; hormona folículo-estimulante (FSH), LH, PRL; estradiol; androstenodiona e testosterona livre; 170HP, DHEASO4 e eventualmente cortisol e insulina. Estes doseamentos devem ser efectuados no 2.o ou 3.o dia do ciclo para que os valores de FSH e de estradiol possam ser valorizados como marcadores indirectos da reserva ovárica. Um valor de FSH superior a 15 mU/ml sugere reserva ovárica diminuída e indicia mau prognóstico. Um valor de estradiol superior a 70 pg/ml ao 2.o ou 3.o dia torna de difícil interpretação o valor de FSH e o de E2 pode ser encarado como marcador independente, apontando também reserva ovárica diminuída e portanto mau prognóstico9. O rastreio das doenças infecciosas, para além do incluído nas serologias dos exames analíticos básicos de pré-concepção, só deve ser solicitado de forma selectiva. Qualquer anomalia encontrada na história clínica, no exame físico ou nos exames mais preliminares, como na avaliação da ovulação ou no espermograma, deve ser corrigida antes da realização de exames auxiliares adicionais, caros e invasivos. Estes, justificar-se-ão apenas perante suspeição específica. Por exemplo, se na história clínica se salienta oligomenorreia e o resultado do espermograma é normal, deverá ser instituída sem delongas terapêutica de indução da ovulação com citrato de clomifeno, antes da realização de outros exames auxiliares, porque em 50% dos casos ocorrerá gravidez nos três primeiros ciclos ovulatórios. Porém, se a história clínica levanta suspeita de infecção pélvica anterior ou de patologia tubar, a histerossalpingografia tem indicação imediata, bem como nas situações em que não exista qualquer facto relevante na história e os exames previamente realizados se afigurem normais. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 infertilidade por endometriose ou por sequelas de doença inflamatória pélvica, que dificilmente serão identificadas por exames auxiliares de diagnóstico. A realização de ultrassonografia transvaginal, em simultâneo com o exame ginecológico, pode confirmar ou fornecer elementos adicionais de detecção de patologias uterinas como fibromiomas, avaliação da espessura endometrial e sua relação com o momento do ciclo em que o exame é efectuado, detecção de tumores pélvicos, avaliação das dimensões e morfologia ováricas, património folicular, eventual aspecto micropoliquístico, presença de quistos «simples» ou de endometriose. Deve certificar-se a existência de rastreio citológico cervical recente com resultado normal. A histerossalpingografia permanece como um exame fundamental na avaliação do casal infértil. Deve ser requerida nas situações de suspeição de patologia uterina, tuboperitoneal, ou se a avaliação preliminar não forneceu informação imediata com relevo. Não deverá ser realizada nos contextos de doença inflamatória pélvica aguda recente ou de patologia infecciosa suspeitada pelo exame ginecológico. É boa prática a prescrição de antibioterapia profiláctica para realização do exame histerossalpingográfico, que se torna obrigatória se este revelar a existência de hidrossalpinge. Independentemente dos aspectos de diagnóstico, este teste auxiliar pode ter efeito terapêutico por remoção de secreções que ocluam o lume tubar ou pela promoção da rotura de pequenas aderências das fímbrias. A histerossalpingografia permite avaliar a anatomia e a morfologia da cavidade uterina, as suas eventuais anomalias, a existência de patologia intracavitária, e objectivar o desenho, trajecto e permeabilidade das trompas. Em caso de doença, possibilita ainda avaliar a magnitude do processo patológico e fornece informação sobre a existência de hidrossalpinge, de sequelas de tuberculose ou de salpingite ístmica nodosa. Há que ter em conta a frequente ocorrência de falsos positivos (cerca de 50%)9, uni ou bilaterais, e que o exame não fornece informação quanto à existência de aderências peritubares ou sobre «pequenos» processos patológicos que perturbam a motilidade e função das trompas que, como na endometriose, apenas podem ser diagnosticados por laparoscopia. A mesma prudência de juízo se aplica também em relação a pequenas e subtis anomalias da cavidade uterina apenas diagnosticáveis por histeroscopia34,35. Se a histerossalpingografia identificar uma patologia importante da trompa, como o hidrossalpinge, tendo em conta as baixas taxas de sucesso da cirurgia reconstrutiva, está Infertilidade indicada a realização de FIV, o que, no caso da patologia em referência, exige salpingectomia laparoscópica prévia, nomeadamente se o hidrossalpinge for visível em ultrassonografia, já que a presença desta lesão tubar faz diminuir as taxas de sucesso da fecundação in vitro em cerca de 40% (Figs. 1 a 7). Figura 1. Útero bicórneo (eventualmente septado) Figura 2. Sinequias corporais e cervicais 11 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 3.1.3. HISTEROSSALPINGOGRAFIA Figura 6. Útero septado (eventualmente bicórneo) com obstrução tubar direita e hidrosalpinge esquerdo Figura 4. Útero unicórneo Figura 7. Hidrosalpinge esquerdo (Histerosalpingografias por cortesia de Campos Costa) 3.1.4. ULTRASSONOGRAFIA Figura 5. Duplicidade uterina ou septo completo 12 Por se tratar de um exame não-invasivo e fácil de realizar, a ultrassonografia, em particular transvaginal, assume lugar de 1.a linha na avaliação do casal infértil. A ultrassonografia transabdominal exige bexiga preenchida, mas tem a vantagem de fornecer uma imagem orientada, útil na definição da relação entre as estruturas pélvicas. No entanto, a observação de áreas mais específicas exige a realização da ultrassonografia transvaginal, que permite uma avaliação mais Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 3. Cavidade uterina normal; trompas normais e permeáveis Malformações uterinas As anomalias mullerianas podem ocorrer em 1 a 5% das mulheres, mas apenas 20% são inférteis38,39. A ultrassonografia, interpretada em conjunto com a histerossalpingografia, eventualmente coadjuvadas pela ressonância magnética (RM), é útil na clarificação destas patologias. A histerossalpingografia tem mais acuidade na definição da forma e dos contornos da cavidade uterina. Contudo, quando utilizada isoladamente pode originar dificuldades de distinção entre útero septado e bicórneo. Se combinada com a ultrassonografia transvaginal, a acuidade diagnóstica é aumentada, situando-se nos 90%. A ultrassonografia, bem como a RM, contribuem para uma melhor definição dos contornos externos do útero e para clarificação da espessura e extensão dos septos (Fig. 8). Por seu turno, o útero bicórneo apresenta uma configuração caracteristicamente côncava e lobulada do contorno externo, associada a um aumento de distância intercornual. No entanto, este tipo de malformações apenas poderá ser esclarecido com exactidão pela realização conjunta de histeroscopia e laparoscopia. Infertilidade Figura 8. Ultrassonografia – útero septado (cortesia de Campo R, Leuven Institute for Fertility and Embryology [LIFE]). Fibromiomas São o tumor benigno mais frequente do aparelho genital feminino e podem estar associados a infertilidade ou abortamento precoce. Apesar de os fibromiomas apresentarem uma considerável variabilidade de imagem ultrassonográfica, a ecografia transvaginal é muito útil na avaliação dos médios/pequenos miomas intramurais, submucosos ou cervicais40 (Figs. 9 e 10). Já não é tão interessante no estudo dos fibromiomas pediculados ou de intensa ecogenicidade, mas é essencial na definição do grau de envolvimento miometrial e da relação com a cavidade uterina. Figura 9. Ultrassonografia – fibromioma submucoso (cortesia de Campo R, LIFE). 13 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 fiável e não-invasiva dos órgãos pélvicos. O exame ganhou um estatuto de procedimento de rotina, quer no estudo da avaliação de base quer na monitorização da terapêutica. Associado ao Doppler a cores acrescenta informação sobre a perfusão útero-ovárica36,37 e pode ter valor prognóstico da implantação embrionária em ciclos fertilização in vitro (FIV). De uma forma genérica, pode dizer-se que a ultrassonografia transvaginal fornece informações úteis sobre a anatomia, morfologia, dimensões e posição uterinas. Permite a avaliação dos ovários em termos da sua localização, dimensões, volume e número de folículos antrais, e é precioso meio auxiliar de controlo dos tratamentos. É assim indispensável, possibilitando ainda o diagnóstico de anomalias congénitas, pólipos, fibromiomas, hidrossalpinges, quistos ováricos, endometriomas e ovários micropoliquísticos. Endometriose Em ultrassonografia, a endometriose tem uma aparência diversificada. Do largo espectro de apresentações da doença, apenas os endometriomas ováricos podem ser identificados com acuidade. Eventuais septações, loculações, espessura variável da parede do quisto, são aspectos ultrassonográficos ocasionais, predominando uma massa hipoecóica, homogénea, com ecos internos de baixa densidade, que parecem reflectir a degradação de produtos sanguíneos (Fig. 11). No entanto, estes achados não são específicos e, em algumas ocasiões, é difícil de distinguir o endometrioma do abcesso tubo-ovárico, do teratoma, do quisto hemorrágico ou do cistadenoma mucinoso. Mais importante é a dificuldade/ impossibilidade da identificação dos implantes de endometriose da pelve, que não são visíveis por ultrassonografia transvaginal. É por esta razão que a ultrassonografia desempenha um papel limitado na endometriose, revelando uma sensibilidade de apenas 11% quando comparada com a laparoscopia41. Recentemente, alguns grupos têm desenvolvido técnicas de abordagem transrectal para avaliação dos nódulos de endometriose do septo rectovaginal. 14 Figura 11. Ultrassonografia: endometrioma ovárico. Ovários micropoliquísticos São normalmente ovários aumentados de volume por virtude de aumento da quantidade de estroma. Os critérios de diagnóstico ultrassonográficos são variáveis, embora sempre mais fundamentados no número e distribuição de folículos antrais visíveis. O aspecto mais característico é o da visualização de inúmeros folículos em fase pré-antral/antral, dispostos à periferia ou no interior de um estroma denso e volumoso42 (Fig. 12). Os critérios habituais exigem a visualização de 10 a 20 «quistos»43. Este aspecto «poliquístico» é frequente em mulheres «normais» (20%), sendo no entanto mais frequente nas inférteis (33%)44,45. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 10. Ultrassonografia: fibromiomas Embora muitas situações sejam assintomáticas, o ovário micropoliquístico é a causa mais frequente da infertilidade anovulatória. Pode ser considerado integrante de uma síndrome quando à típica imagem ecográfica se associa hiperandrogenismo, anovulação crónica e relação LH/FSH elevada, isto é, superior a 2 para 1. Independentemente da sua participação na síndrome, a identificação de ovários micropoliquísticos na avaliação ultrassonográfica de base é relevante, não só para correcção da anovulação/disovulação, mas como elemento de alerta para risco de resposta excessiva à estimulação ovárica46. A associação do Doppler a cores e a verificação de uma velocidade de fluxo aumentada no estroma pode significar que, na presença de uma mesma dose de gonadotrofinas, maior quantidade de fármaco atingirá as célulasalvo justificando o aumento da resposta ovárica e o risco de hiperestimulação. Também a medida da velocidade de fluxo máximo no estroma na fase folicular, pode ser útil como parâmetro preditivo da resposta ovárica nos tratamentos de fecundação in vitro47. Endométrio O aumento da espessura do endométrio pode ser motivado pela presença de um pólipo ou de um fibromioma submucoso, cuja imagem melhorará com a instilação de soro fisiológico na cavidade uterina (Fig. 13). Por Infertilidade Figura 13. Histerossonografia – fibromioma submucoso ou pólipo intracavitário (cortesia de Campo R, LIFE). Figura 14. Mini-histeroscopia – sinequias uterinas (cortesia de Campo R, LIFE). 15 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 12. Ultrassonografia: ovário micropoliquístico. outro lado, um endométrio de fina espessura com ausência de distensão da cavidade após introdução de soro fisiológico, pode alertar para a existência de sinequias. Qualquer destas patologias deve ser objecto de clarificação por histeroscopia (Figs. 14 a 17). A ultrassonografia a duas dimensões permite a observação transversal e longitudinal dos órgãos pélvicos. A visão frontal introduzida pela 3.a dimensão possibilita uma inspecção mais detalhada da morfologia uterina e uma melhor observação da cavidade, sendo útil na distinção do útero bicórneo com o septado, dos fibromiomas e dos pólipos, e para determinação do seu grau de interferência com o endométrio. Figura 15. Mini-histeroscopia – sinequias uterinas Figura 16. Mini-histeroscopia – fibromioma submucoso Figura 17. Histeroscopia – pólipo intracavitário (cortesia de Fradique A, Hospital dos Lusíadas). 3.1.5. ESPERMOGRAMA Ver 3.4. Avaliação Masculina, página 24 16 Quando a extensão da doença tubar não pode ser completamente avaliada por histerossalpingografia ou o diagnóstico é duvidoso, deverá ser considerada a realização de laparoscopia diagnóstica, de preferência na primeira fase do ciclo. Embora seja gold standard para avaliação da doença tubária, a laparoscopia diagnóstica não tem uma indicação de 1.a linha na avaliação do casal infértil, por se tratar de um exame com elevados custos, invasivo, que requer anestesia geral e ambiente operatório. Assim, apenas deverá ser considerada quando for necessário completar o estudo da anatomia e permeabilidade das trompas, esclarecer malformações uterinas ou perante a suspeita de aderências pélvicas ou endometriose. Os endometriomas ováricos são, em 1.a linha, diagnosticados por ultrassonografia transvaginal, pelo que, se a ultrassonografia identificar ovários normais em conjunto com imagens histerossalpingográficas sem patologia, é pouco provável que existam aderências pélvicas que perturbem a função da trompa, em particular num contexto de normalidade do título de anticorpos anticlamídia. Em mulheres sem história de salpingite, sem sintomas de dismenorreia, com exame ginecológico normal e título de anticorpos anticlamídia também normal, a probabilidade de encontrar aderências peritubares na laparoscopia com importância suficiente para serem causa de infertilidade, é inferior a 5%9. Nestes casos, em idades femininas inferiores a 35 anos e espermograma com mais de cinco milhões de espermatozóides móveis, pode iniciar-se a abordagem com um ou dois ciclos de estimulação ovárica ou de inseminação uterina, antes de propor a realização de laparoscopia diagnóstica. Se vier a estar indicada, a concomitante prova de azul-de-metileno permitirá verificar a permeabilidade das trompas, bem como tratar de imediato algumas patologias (aderências pélvicas, endometriose, drilling de ovários micropoliquísticos) (Figs. 18 a 21). É Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 3.1.6. LAPAROSCOPIA Figura 21. Laparoscopia – drilling dos ovários. 3.1.7. HISTEROSCOPIA Figura 18. Laparoscopia – prova de azul-de-metileno (cortesia de Faustino F, Hospital da Luz) Figura 19. Laparoscopia – aderências pélvicas (cortesia de Fradique A, Hospital dos Lusíadas). Sendo o método gold standard de diagnóstico e terapêutica da patologia intra-uterina, não é de 1.a linha na avaliação inicial do casal infértil. No entanto, é imprescindível para clarificação das patologias que envolvam a cavidade uterina detectadas pelos métodos de imagem indirecta a preto e branco. É também muito importante no estudo das situações de infertilidade inexplicada e nas de abortamento de repetição ou de insucesso em FIV, em que pequenas e subtis anomalias intra-uterinas escapam ao diagnóstico por outros meios (Figs. 14 a 17 e 33 a 35). 3.1.8. OUTROS EXAMES Figura 20. Laparoscopia – endometriose (cortesia de Faustino F, Hospital da Luz). Infertilidade Na avaliação inicial do casal infértil, são por vezes adicionados aos exames de 1.a linha outros, que teoricamente contribuiriam para identificar possíveis factores causais: — Doseamento sérico da TSH, hormonas tiroideias e PRL em mulheres ovulatórias. — Biopsia do endométrio em fase luteínica. — Medição de anticorpos anti-espermatozóide, quer no homem quer na mulher. — Bacteriologia do muco cervical e do sémen. 17 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 aconselhável realizar também histeroscopia diagnóstica no mesmo tempo operatório, de preferência em fase folicular, antes que um crescimento endometrial máximo introduza factores de dificuldade de visualização. Hormona tireo-estimulante, hormonas tiroideias e PRL em mulheres ovulatórias Ver páginas 10 e 49 Biopsia do endométrio (insuficiência luteínica) Embora a insuficiência luteínica seja, desde há muitos anos, apontada como causa de infertilidade, esta entidade nunca foi claramente definida nem a sua responsabilidade inequivocamente demonstrada. O diagnóstico de insuficiência luteínica é habitualmente estabelecido pela constatação de níveis séricos de progesterona inferiores a 10 ng/ ml, 6/7 dias antes da menstruação, ou pela identificação de um atraso na maturação do endométrio obtido por biopsia. O diagnóstico histológico exige a constatação de um atraso de três ou mais dias na transformação secretora do endométrio (critérios de Noyes) em relação ao esperado para o momento da fase luteínica em que a biopsia foi realizada (fase média ou terminal da 2.a metade do ciclo). O resultado deve observar-se em mais de dois ciclos. O valor deste procedimento é muito discutível, por exemplo porque é muito difícil, ou mesmo impossível, distinguir entre atraso de maturação endometrial por produção diminuída de progesterona ou por insuficiente recepção/resposta endometrial aos estímulos da hormona. Peters, et al.48 demonstraram, que os atrasos da maturação endometrial avaliados por histologia ocorriam com a mesma frequência em mulheres férteis e inférteis. Os erros de diagnóstico podem também ocorrer por virtude de diferentes critérios 18 de avaliação histológica, bem como por variabilidade intra e interobservador de interpretação dos critérios de Noyes33. Em conclusão, o diagnóstico de insuficiência luteínica, quando utilizados isoladamente parâmetros histológicos subjectivos de avaliação da maturação do endométrio obtido por biopsia, é impreciso, efectuado com a mesma frequência em mulheres férteis e inférteis, pelo que a identificação de diversos graus de maturação endometrial deve ser encarada como variante biológica, não podendo ser utilizada como critério de diagnóstico único de insuficiência luteínica ou de maturação endometrial insuficiente. A mesma conclusão é aplicável aos doseamentos isolados de progesterona quando utilizados como parâmetro único de diagnóstico de insuficiência luteínica. Anticorpos de aglutinação e de imobilização dos espermatozóides Foram identificados no soro de mulheres férteis e inférteis, não estando demonstrado que sejam causa de infertilidade9. Uma das razões para a inexistência de relação dos anticorpos séricos com a infertilidade é o facto de eles serem predominantemente IGG e IGM, enquanto os anticorpos produzidos no tracto genital inferior são predominantemente IGA. Lobo9 cita quatro estudos prospectivos em que não foi encontrada qualquer relação entre a presença de anticorpos antiespermatozóide em qualquer dos membros do casal e a probabilidade de concepção. As taxas de gravidez foram similares nos casais com presença destes anticorpos e nos que a não revelaram. A terapêutica com corticosteróides não acarretou qualquer benefício. Assim, não se justifica a realização de qualquer exame para detecção de anticorpos antiespermatozóide como parte do conjunto de avaliação do casal infértil, e poder-se-á concluir, que a presença destes anticorpos não afecta a fecundidade. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A contribuição destes exames para identificação de factores causais, bem como o interesse da correcção das anomalias por eles detectadas, são questionáveis, não estando demonstrado aumento da fertilidade com o seu presumível diagnóstico ou tratamento. Assim, a necessidade da sua inclusão e a relação custo/benefício na avaliação inicial do casal infértil são duvidosas. Nos nossos dias, a tendência geral caracteriza-se pelo protelar da primeira gravidez para idades tardias na vida da mulher, por razões várias, designadamente de natureza socioeconómica e profissional, seguindo-se uma exigência de concretização imediata de fecundidade. Nem um nem outro aspecto se ajustam muito às características do processo de reprodução humana! Ele é de baixa rentabilidade e requer tempo para se realizar. A fecundidade média mensal em cônjuges «normais» ronda os 20%49-51 e estudos realizados em situações de abandono do DIU por desejo de gravidez mostram um tempo médio de espera de 5/6 meses até ocorrer concepção. Um modelo de análise matemática aplicado a casais de fecundidade «normal», calcula que em três meses apenas metade conseguirá o objectivo e somente ao fim de um ano 90% terão alcançado os seus intentos49,52. Por outro lado, ocorre um indiscutível declínio da fecundidade da mulher com o avançar da idade, nomeadamente a partir dos 30 anos53,55-58,62. A análise de registos anuais dos EUA mostra que a proporção de casais presumivelmente férteis que não conseguem gravidez aumenta progressivamente com a idade feminina e de forma mais significativa a partir dos 30 anos (Quadro 2)55. Também um estudo realizado em 2.193 situações cuja infertilidade era unicamente devida a azoospermia e que foram tratadas por inseminação com esperma de dador, revela uma diminuição da percentagem de gestações à medida que se eleva a idade da mulher, nomeadamente para além dos 30 anos58. A magnitude do problema é tal que alguns autores pensam que o importante aumento do número de casais inférteis não é devido a crescente incidência de causas e riscos, mas apenas a uma progressiva tendência de adiamento da primeira gravidez para a 4.a década da vida54. Já se referiu que o processo de reprodução humana é em si mesmo um processo de baixa rentabilidade (20-25% por ciclo)51, avaliando-se que 10 a 35% dos casais demore mais de um ano a conceber52,59. Ora, o avançar da idade agrava a morosidade, condicionando uma diminuição de fecundidade e da probabilidade de concepção/mês54,60, o que significa que demorará mais tempo a uma mulher de idade superior a 30 anos a fecundar e conseguir uma gravidez com evolução normal e recém-nascido vivo e saudável que a uma mais jovem. Acresce que o decorrer do tempo é, também por si só, factor de diminuição da fecundidade, referindo-se que aos cinco anos sem ocorrência de gravidez, a fecundidade média é de cerca de 0,4%61. Por outro lado, estas mulheres dispõem também de menos tempo útil para realizarem a Quadro 2. Proporção de casais inférteis em função da idade da mulher (média de três registos dos EUA) Idade feminina (anos) Inférteis (%) 20-24 7,0 25-29 8,9 30-34 14,6 35-39 21,9 40-44 28,7 Adaptado de Menken, et al. Infertilidade 55 19 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 3.2. IDADE FEMININA 20 De facto, o problema poderá localizar-se em três vertentes difíceis de dissociar e de provável existência conjunta ou mesmo complementar: prejuízo da fecundação, da implantação, aumento da perda de embriões. Sendo estes factores indissociáveis, a importância individual é variável no juízo de diversos investigadores. No entender predominante, a «idade ovárica» é de primordial importância, sendo por vezes mais informativa que a cronológica. O avançar do tempo condiciona uma diminuição da quantidade e qualidade ovocitárias. Este «envelhecimento» pode ser indiciado pelo doseamento de FSH ao 2.o/3.o dia do ciclo, entendido como marcador do estado funcional e portanto da idade do ovário, com valor prognóstico na fecundidade espontânea, nas características de estimulação e no sucesso das técnicas assistidas74-77. 3.3. OVULAÇÃO A identificação de ocorrência ovulatória regular é um aspecto primordial na avaliação das situações de infertilidade. Há no entanto que distinguir dois aspectos: a detecção da ovulação, isto é, a classificação de um ciclo como ovulatório/anovulatório e a determinação da ovulação, ou seja, o reconhecimento do dia em que ocorreu o fenómeno ovulatório33. A mais importante informação sobre a existência de ciclos ovulatórios é fornecida pela história clínica, com a referência a ciclos menstruais regulares. Contudo, a prova indiscutível de ovulação apenas pode ser obtida pela ocorrência de gravidez ou pela recolha de um ovócito da trompa ou do fundo de saco de Douglas. Assim, os meios habitualmente disponíveis para detecção da ovulação apenas fornecem forte evidência ou presunção da ocorrência do fenómeno e, tal como os de determinação ovulatória e os de avaliação da fase luteínica, a informação que proporcionam é normalmente de natureza indirecta e retrospectiva. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 sua capacidade reprodutiva, o que muitas vezes origina uma significativa impaciência e uma tendência para exigir que uma vez «ligado» o sistema reprodutivo ele funcione de imediato, pedindo-se-lhe uma eficácia e rentabilidade que de facto não possui. Assim, o atrasar da concepção para idades mais tardias na vida da mulher aumenta significativamente a probabilidade da ocorrência de dificuldades reprodutivas. Por dois motivos: porque a incidência da infertilidade aumenta com a idade e porque o tempo disponível para ocorrência de concepção é menor. À diminuição da probabilidade de concepção há que adicionar o aumento de risco de acidentes da gravidez com o evoluir da idade, com consequências que serão mais graves nos casais de fecundidade moderada ou hipoférteis. Nestes casos, adiar a gravidez dos 30 para os 35 anos significa aumentar o número de inférteis ao fim de três anos de 29 para 250 por cada 1.000 mulheres54. Porém, outros autores referem que é a partir dos 35 anos que se verifica um maior declínio da fecundidade atingindo-se níveis mínimos aos 4562-64. À diminuição da capacidade de reprodução natural com o decorrer do tempo corresponde também um aumento de insucesso dos tratamentos da infertilidade, incluindo a inseminação artificial por dador56,62,65 e a fecundação in vitro61,66-72 (Fig. 22). O progressivo declínio da fecundidade em função da idade comporta diversos factores e só em parte pode ser atribuído à conhecida diminuição da resposta folicular aos estímulos gonadotróficos. Neste campo, não está completamente esclarecida a importância relativa dos diferentes componentes do aparelho reprodutor. Se a evidência clínica parece mostrar que as primeiras deficiências ocorrem no «sector ovárico», quer no desenvolvimento folicular quer no potencial fecundante dos ovócitos, estudos animais sugerem que profundas alterações ao nível da morfologia e fisiologia endometriais também contribuem para o declínio da capacidade reprodutora73. 50 40 30 20 10 0 Figura 22. Procriação medicamente assistida – percentagens de gravidez, nados vivos e partos de feto único vivo em função da idade da mulher (adaptado de ART Report 2006 – CDC). As técnicas de detecção e determinação da ovulação podem ser classificadas segundo Moghissi78 em: — Pesquisa directa de gonadotrofinas ou hormonas esteróides no soro, urina ou saliva. — Avaliação das alterações periféricas que precedem, coincidem ou sucedem ao fenómeno ovulatório. Julga-se pertinente acrescentar: avaliação indirecta por técnicas de imagem, das alterações morfológicas ocorridas no ovário antes, durante ou depois da ovulação. 3.3.1. DOSEAMENTOS SÉRICOS DO ESTRADIOL São difíceis de utilizar para detecção da ovulação e inaplicáveis para previsão da ocorrência temporal do fenómeno. Esta impossibilidade resulta das características da curva da hormona, da variação da relação entre o pico de E2 e a onda de LH, da variabilidade interindividual e interciclo da concentração/ tempo necessários para desencadear o surto da gonadotrofina e das oscilações de tempo entre este e a rotura do folículo. No entanto, Infertilidade um doseamento isolado superior a 150 pg/ ml indica que, com forte probabilidade, o ciclo foi ou vai ser ovulatório33,79-82. 3.3.2. DOSEAMENTOS DA PROGESTERONA Não são aplicáveis nem à previsão nem à determinação do fenómeno ovulatório. Para a sua detecção (classificação do ciclo como ovulatório/anovulatório), o conhecimento dos níveis da hormona é relevante, mas não existem definições consensuais sobre o limiar de distinção (2, 3 ou 5 ng/ml) nem sobre o momento da fase luteínica em que o doseamento deve ser efectuado. Será sempre de ter em conta a possibilidade da ocorrência de falsos negativos por virtude das características da curva da hormona, do seu padrão de secreção pulsátil e da dificuldade de agendamento prospectivo de qualquer evento que se relacione com o fenómeno ovulatório por virtude da sua instabilidade temporal78,83-87. O nível utilizado para distinguir ovulação de anovulação não deve confundir-se com o de avaliação da «qualidade da fase luteínica». 21 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 60 3.3.3. ONDA DA HORMONA LUTEINIZANTE É o fenómeno hormonal que mais directamente se relaciona com a ovulação. Embora historicamente tenham sido adoptados diferentes critérios de valorização do início e do 22 pico da onda, nos nossos dias existe consenso de que a ovulação ocorre 34 a 39 horas após o início plasmático do surto da gonadotrofina e de que este «momento» deve ser adoptado como epicentro e referência para os acontecimentos do ciclo79. O doseamento sérico de LH é o método mais fiável de determinação e previsão da rotura folicular80,96-103. Contudo, a exigência de colheitas sanguíneas frequentes tornam o método inaplicável na prática clínica habitual. No entanto, possui as vantagens de permitir referenciar os acontecimentos do ciclo a um evento objectivo, tem carácter de previsão ovulatória e possibilidade de utilização prospectiva, relaciona-se melhor com os resultados de exames auxiliares (histologia endometrial e ultrassonografia) que o «dia da ovulação» determinado de forma indirecta e retrospectiva com outros métodos89,104-109. Estas vantagens levaram ao desenvolvimento das técnicas de doseamento urinário, com saliência para as semiquantitativas de utilização domiciliária e leitura colorimétrica, referidas com capacidade de prever a ovulação em cerca de 90% das situações, embora alguns autores levantem reservas citando a ocorrência de falsos positivos e negativos bem como dificuldades na sua utilização83,107,110-112. 3.3.4. CARACTERÍSTICAS DO PADRÃO MENSTRUAL HABITUAL Permitem por vezes presumir a ocorrência de ovulação no ciclo em curso, pois uma história de ciclos regulares equivale a detecção actual da ovulação em quase 100% dos casos33,113-115. Já a determinação da ovulação, por intermédio do cálculo efectuado com base na cronologia menstrual, tem de ser encarada de forma diferente. As frequentes variações inter e intra-individual da duração dos interlúnios e de cada uma das fases do ciclo em mulheres «regulares», não permitem a determinação da ovulação com base na previsão do início do período menstrual seguinte. Mesmo a Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Também neste aspecto não existe consenso quanto ao valor dos doseamentos de progesterona. Alguns autores adoptam como procedimento a realização de um único doseamento em fase luteínica média e como critério de esteroidogénese normal um valor de progesterona superior a 9-10 ng/ml86,88,89, enquanto outros preferem a realização de três doseamentos no mesmo período e valorizam o resultado do somatório ou a sua média90. Outros duvidam do método e salientam a variabilidade de concentrações imposta pelo padrão de secreção pulsátil da hormona e pelas características da respectiva curva, bem como a dificuldade de localização prospectiva do momento «fase luteínica média». Diversos autores divergem quanto ao timing em que devem ser efectuados os doseamentos de progesterona e indicam a avaliação na «1.a metade» da fase luteínica92,93, pela maior correlação entre maturação endometrial atrasada e níveis baixos de progesterona e também pela maior importância para a fecundidade das dinâmicas hormonal e endometrial neste período94,95. Contudo, mesmo com doseamentos diários e a utilização de valores integrados91 existe dificuldade em correlacionar resultados de maturação endometrial atrasada com níveis baixos da hormona. Por fim, alguns investigadores descrevem diferentes tipos de anomalias dos perfis de progesterona, revelando a «insuficiência luteínica» como um grupo heterogéneo que não possibilita o diagnóstico sistemático por nenhum dos critérios e procedimentos descritos. Os doseamentos salivares que, para além de importantes vantagens de simplicidade e economia, permitem a realização de colheitas frequentes, não se encontram ainda validados. 3.3.5. GRÁFICO DE TEMPERATURA BASAL É um método simples, inócuo, económico, mas incómodo. É um importante auxiliar na interpretação de acontecimentos que ocorram durante o ciclo genital, bem como para programação e valorização de actos diagnósticos e terapêuticos. Embora por avaliação indirecta, e prestando apenas informação retrospectiva, possui uma sensibilidade (≈ 80%) que possibilita utilizá-lo como meio de detecção da ovulação114,120,121. Contudo, o clínico deve estar prevenido para a possibilidade da ocorrência de falsos negativos (até 20%)33,120,121. A sua especificidade é elevada e a percentagem de registos ininterpretáveis pequena (cerca de 5%)33,114,122. No aspecto de determinação da ovulação, a validade do método é mais questionável e alguns autores referem que a correspondência do mínimo térmico com o dia da ovulação, ou com o da onda de LH, é imprecisa. Este aspecto, que por si só cria dificuldades à utilização do método como meio de determinação da ovulação, é agravado pela variação interobservador na análise dos gráficos, pela ausência de um critério uniforme de interpretação e por problemas de reprodutibilidade de registo das temperaturas33,123,124. A possibilidade de utilização do método como meio de avaliar a «qualidade» da fase luteínica Infertilidade não deve ser considerada, dada a inexistência de um padrão de gráfico objectivo, sensível e específico. O diagnóstico de «fase luteínica curta» carece de adequada correlação com os resultados da histologia endometrial, podendo apenas servir como sinal de alerta em situações de pronunciada alteração da duração da 2.a fase do ciclo125-129. 3.3.6. BIOPSIA DO ENDOMÉTRIO Como método de estudo da ovulação assenta no facto de, ao longo do ciclo e por acção das hormonas esteróides, a mucosa uterina ter um padrão previsível de modificação histológica130-132. À transformação secretora do endométrio só em situações de excepcional raridade não corresponderá a existência de ovulação, pelo que pode ser utilizada como meio válido de detecção da rotura folicular. Por outro lado, na prática clínica de infertilidade, o estudo morfológico da transformação secretora do endométrio em fase luteínica (critérios de Noyes), é frequentemente utilizado como forma de avaliação biológica da produção de progesterona e da qualidade funcional do corpo amarelo. De acordo com este procedimento, alguns autores acreditam que existe uma boa correlação do processo de maturação endometrial com a função luteínica e com a cronologia pós-ovulatória estabelecida a partir de marcadores habituais89,91. Para esses, a fase secretora possui uma duração sensivelmente constante de 14 dias e realizam a biopsia perto do final do ciclo, para permitir o tempo necessário a uma completa expressão da acção progesterónica. Assim, da correspondência entre níveis de progesterona, dias pós-ovulação e grau de maturação endometrial, resulta uma noção de normalidade cuja não verificação acarreta o diagnóstico de insuficiência luteínica (atraso de maturação endometrial igual ou superior a três dias pelos critérios histológicos de Noyes)133,134,135. Esta forma de avaliar a função do corpo amarelo e de diagnosticar a sua insuficiência é contestada por outros, em diversas vertentes 23 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 determinação retrospectiva, assente no conhecimento da data real do 1.o dia do cataménio, carece de acuidade, pois em ciclos de mulheres «normais» foi demonstrada variação de duração das fases luteínicas116-119. As mulheres com oligomenorreia (interlúnios superiores a 35 dias) ou com amenorreia, devem ser tratadas com indutores da ovulação, independentemente de poderem ter esporadicamente ciclos ovulatórios. Assim, para essas mulheres, outras avaliações diagnósticas são desnecessárias, uma vez que terá sempre que ser efectuada terapêutica de indução/estimulação da ovulação. 24 3.4. AVALIAÇÃO MASCULINA O espermograma é um exame essencial na avaliação do casal infértil. Poderá ser aconselhada abstinência sexual dois dias antes da colheita de esperma, uma vez que ejaculações frequentes podem diminuir o volume seminal e, ocasionalmente, a contagem de espermatozóides. A colheita deve incluir a totalidade da amostra, já que a fracção inicial é a que contém uma maior densidade de gâmetas e ser, preferencialmente, realizada no local onde decorrerá a análise. Poderá efectuar-se no exterior, desde que o esperma seja conservado à temperatura do corpo e o transporte não exceda 30 minutos. Os parâmetros habitualmente analisados e respectivos «valores normais» figuram no quadro 3. A mobilidade deve ser determinada logo que possível após a liquefacção, que ocorre 20 a 30 minutos após o acontecimento ejaculatório. A morfologia é um parâmetro importante, mas é de avaliação e valorização extremamente subjectivas. Aliás, todos os valores do espermograma têm alguma subjectividade, que se intensifica na avaliação da morfologia, existindo também significativos graus de variabilidade interobservador, intra-observador, no mesmo indivíduo em diferentes exames e ainda fruto dos diferentes critérios utilizados para avaliação. Diversos autores identificaram anomalias do espermograma em 25 a 75% de homens cujas mulheres tinham engravidado recentemente. Estes estudos confirmam a existência de uma grande variabilidade do normal nos parâmetros do espermograma. Há que ter presente, que as características do sémen têm variação biológica e que, perante identificação de anomalia, é prudente repetir posteriormente o exame. É necessário também recordar, que os valores do espermograma reflectem a produção de espermatozóides ocorrida há três meses, pelo que é importante indagar da ocorrência de doença nessa fase. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 e com diferentes argumentos entre os quais se salientam: dificuldade de interpretação e valorização dos resultados pela pouca exactidão dos marcadores ovulatórios habituais e pela inconstância da sua relação com o processo de maturação endometrial; maior variabilidade biológica da diferenciação da mucosa na «2.a metade» da fase luteínica; imprecisão dos doseamentos de progesterona para avaliação da função luteínica e dos critérios de datação morfológica para reflectirem os fenómenos endometriais da 2.a fase do ciclo, bem como inadequada correlação entre os resultados dos dois métodos95,106,109,124. Mas os aspectos com maior relevância são: o da incapacidade de por intermédio da biopsia do endométrio se distinguir entre perturbação da maturação motivada por deficiente produção de progesterona ou por defeito de resposta da mucosa; a eventual importância de os métodos de avaliação das funções luteínica e endometrial deverem ser preferencialmente dirigidos para a «1.a metade» da fase secretora. De facto, para além da indicação de que ambos os tipos de «insuficiência luteínica» serão mais frequentes nesta época da 2.a fase do ciclo, é também nestes dias que maior importância terá para a fecundidade a existência de qualquer perturbação da função do corpo amarelo e/ou do endométrio. Acresce que apesar da aparente normalidade esteroidogénica, a maturação endometrial nem sempre é regular e uniforme, em velocidade constante e com ritmo que permita fazer corresponder transformações histológicas a períodos de 24 horas. Assim, embora a biopsia seja um método de execução fácil e com escassas complicações, há necessidade de desenvolver outros meios que permitam avaliar separadamente as funções do corpo amarelo e do endométrio. No que respeita à mucosa uterina é imperiosa a implementação de novos parâmetros e métodos, preferencialmente dirigidos à fase pré-implantatória, que de forma ideal deverão superar o carácter retrospectivo da informação histológica e permitir uma avaliação em tempo real33. Parâmetro Valor normal Volume = 2 ml Cor Branco grisalho Cheiro Sui generis Viscosidade Normal Liquefacção Completa aos 60 minutos pH ≥ 7,2 o Concentração (n. de espermatozóides/ml) ≥ 20 x 106 N.o total de espermatozóides ≥ 40 x 106 no ejaculado Mobilidade Progressão rápida ≥ 25% Progressão rápida + progressão lenta ≥ 50% Morfologia normal ≥ 15% Vitalidade ≥ 50% Teste de hipoosmolaridade ≥ 60% Adaptado de WHO, 1999. Perante um factor masculino grave, é recomendável indicar consulta com um andrologista, requisitando entretanto os exames iniciais de avaliação, a saber: cariótipo, estudo biomolecular do cromossoma Y para identificação de microdeleções, em particular AZFc. O cariótipo e o estudo das microdeleções são essenciais para identificação e aconselhamento das situações com risco de transmissão de anomalias genéticas e/ou agravamento progressivo das anomalias do sémen que poderá finalizar em azoospermia. Nos casos de azoospermia, e independentemente de o diagnóstico definitivo só ser estabelecido por biopsia testicular, acrescem: FSH, LH e testosterona, ecografia testicular e vesicoprostática, como exames indicativos de distinção entre azoospermia secretora ou obstrutiva. Em caso de azoospermia obstrutiva, a sequenciação do gene CFTR deve ser solicitada a ambos os membros do casal, para determinação do risco de fibrose quística no nascituro. Infertilidade As principais anomalias do espermograma e respectivas causas constam do quadro 4. 3.5. INFECÇÕES ESPECÍFICAS É referido em diversos textos que as infecções ocultas, assintomáticas, infraclínicas, do tracto genital superior da mulher ou do homem, podem ser causa de infertilidade. Os agentes microbianos mais frequentemente implicados são do género micoplasma, incluindo o ureaplasma urealyticum e a clamídia tracomatis. Porém, diversos estudos demonstraram que o tratamento com antibióticos, nomeadamente tetraciclina e doxiciclina, que eliminam estes microrganismos, não aumentam as taxas de gravidez. Assim, não existe evidência de que, na ausência de alterações tubares, as infecções assintomáticas dos tractos genitais, do homem e da mulher, sejam causa de infertilidade, ou de que o seu tratamento acarrete benefício de fecundidade. 25 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 3. Análise do sémen. Parâmetros habitualmente analisados e valores de referência Resultado Causas Azoospermia Síndrome de Klinefelter ou outra doença genética Somente células de Sertoli Ausência de túbulos seminíferos ou células de Leydig Hipogonadismo hipogonadotrófico Obstrução de ductos Varicocelo Factores exógenos Oligozoospermia Doença genética Endocrinopatias, incluindo defeitos dos receptores androgénicos Varicocelo e outros defeitos anatómicos Paragem de maturação Hipoespermatogénese Factores exógenos Ausência de ejaculado Obstrução de ductos Ejaculação retrógrada Falha de ejaculação Hipogonadismo Volume baixo Obstrução do canal ejaculatório Ausência de vesículas seminais e vas deferens Ejaculação retrógrada parcial Infecção Volume alto Factores desconhecidos Astenozoospermia Factores imunológicos Infecção Varicocelo Defeitos na estrutura do espermatozóide Anomalias metabólicas ou anatómicas do espermatozóide Liquefacção do sémen diminuída Viscosidade anormal Etiologia desconhecida Morfologia anormal Varicocelo Stress Infecção Factores exógenos Factores desconhecidos Células «estranhas» Infecção ou inflamação Ejaculação de espermatozóides imaturos Adaptado de Lobo9. 26 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 4. Causas de anomalias do espermograma 4. PROGNÓSTICO Todos os casais inférteis devem ser informados do seu prognóstico, ou seja, da probabilidade de alcançar gravidez com o tratamento indicado e em função do diagnóstico estabelecido. A maior proba- bilidade de ocorrência de gravidez é nas situações em que a anovulação foi o único diagnóstico. Em qualquer circunstância, não se pode nunca esquecer a importantíssima influência da idade da mulher no estabelecimento do prognóstico. Hull, et al.52 verificaram, em casais com infertilidade inexplicada, que foram seguidos durante dois anos sem tratamento, que as probabilidades eram muito superiores nas mulheres com menos de 35 anos de idade (75 vs 50%). Quadro 5. Meios auxiliares de diagnóstico e recomendações Factor Meio de diagnóstico o o Recomendação Idade feminina FSH ao 2. /3. dia do ciclo Indicado em mulheres com idade superior a 35 anos e nas más respondedoras Factor ovárico/ovulatório História menstrual Indispensável Gráfico de temperatura eventual basal; progesterona sérica eventual LH urinário; Ultrassonografia eventual transvaginal seriada eventual Biopsia do endométrio eventual Factor masculino Análise do sémen Indispensável Factor endócrino Hormonas tiroideias e PRL Indicado quando houver suspeitas Factor cervical Teste pós-coital Questionável e desnecessário na avaliação habitual Factor uterino Histerossalpingografia Indispensável Ultrassonografia TV Indispensável Histeroscopia eventual Histerossalpingografia Indispensável Histerossonografia eventual Laparoscopia com cromotubação eventual Ultrassonografia TV Indispensável Laparoscopia indicado quando com fortes suspeitas Factor tubar Endometriose Adaptado de Kovanci172. Infertilidade 27 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Os principais meios auxiliares para avaliação diagnóstica inicial do casal infértil e algumas recomendações figuram no quadro 5. 5. ABORDAGEM ÀS CAUSAS E TRATAMENTO9 5.1. ANOVULAÇÃO Os medicamentos habitualmente utilizados para induzir a ovulação são: o citrato de 28 clomifeno, as gonadotrofinas urinárias (não disponíveis em Portugal), as gonadotrofinas urinárias purificadas, as gonadotrofinas recombinantes, a hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH) (não disponível). Recentemente, têm também sido utilizados o letrozol e a metformina. Há ainda que considerar utilizações mais específicas e menos frequentes, como agonistas da dopamina (isoladamente ou como coadjuvantes) nas situações de hiperprolactinemia ou corticóides no hiperandrogenismo e na hiperplasia supra-renal. 5.1.1. CITRATO DE CLOMIFENO O citrato de clomifeno é um medicamento de 1.a linha para tratamento da anovulação/disovulação com manifestação clínica de oligomenorreia ou de amenorreia hipoestrogénica. Este fármaco sintético, com fraca acção estrogénica, actua por competição com os estrogénios endógenos para os respectivos receptores hipotalâmicos, bloqueando o feedback negativo dos esteróides. O resultado é um aumento da produção de GnRH, que por sua vez estimula FSH e LH, originando desenvolvimento folicular com aumento progressivo da produção de estradiol, reassumir do padrão oscilatório e das acções habituais das gonadotrofinas e esteróides, maturação ovocitária, equivalentes ao verificado num ciclo espontâneo. A ocorrência de ovulação poderá ser objectivada por doseamento de progesterona superior a 3 ng/ml, a efectuar 15 dias após ingestão do último comprimido (meio da fase luteínica). Frequentemente os valores são superiores a 15 ng/ml em virtude de luteinização multifolicular. Recorde-se que 10 ng/ml é o valor encarado como normal para a fase luteínica de um ciclo ovulatório espontâneo. O medicamento deve ser iniciado ao 2.o ou 3.o dia do período menstrual, espontâneo ou induzido por privação progesterónica, Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Também o tempo de duração da infertilidade é factor importante, verificando-se que, para o mesmo tipo de quadro clínico, a probabilidade de concepção é significativamente superior nos casais com duração de infertilidade inferior a três anos (75 vs 30%)136 e ainda maior nos com duração inferior a dois. Para encurtar o tempo até ocorrência de gravidez nestas situações, vários tratamentos têm sido propostos, como a estimulação ovárica controlada, a inseminação intra-uterina (IIU), a fecundação in vitro e a transferência de gâmetas para as trompas. Nestes quadros de infertilidade de causa desconhecida, os resultados da fecundação in vitro situam-se nos 30% de gravidez por transferência embrionária. No entanto, e a despeito de a FIV poder identificar ausência de fertilização e revelar o motivo de uma infertilidade dita até então como inexplicada, esta terapêutica não deve ser indicada em primeira linha. A estimulação ovárica controlada, com citrato de clomifeno ou FSH, associada ou não à IIU, proporciona uma significativa probabilidade de gravidez (FSH + IIU > 40% nos primeiros três ciclos)137. Porque a fecundabilidade e as taxas cumulativas de gravidez ficam significativamente aumentadas, este tipo de terapêutica deve ser ensaiado pelo menos dois a três ciclos antes de propor fecundação in vitro ou ICSI. Contudo, em casais em que o diagnóstico indica com clareza a fecundação in vitro, com ou sem microinjecção, como nas idades mais avançadas, na obstrução tubar ou perante significativas alterações do espermograma, são de esperar percentagens globais de gravidez e de parto por transferência de 30/35 e 25% respectivamente8. Infertilidade Algumas publicações sugerem para mulheres com níveis elevados de sulfato de dihidroepiandrosterona, a associação de pequenas doses de dexametasona para potenciar o efeito indutor do citrato de clomifeno. 5.1.2. METFORMINA E OUTROS AGENTES SENSIBILIZADORES DA INSULINA A metformina pode ser considerada como um agente adjuvante da terapêutica de indução da ovulação. Em mulheres com síndrome do ovário micropoliquístico é, hoje em dia, incluído no tratamento de 1.a linha. A metformina é uma biguanina utilizada no tratamento da diabetes. A sua principal acção é a de reduzir a produção de glicose pelo fígado e, consequentemente, originar uma descida proporcional da hiperinsulinemia. Tem também um efeito directo no ovário, podendo induzir a ovulação em algumas mulheres com ovário micropoliquístico ou com quadros anovulatórios aparentados. Portanto, o seu mecanismo de acção conjuga a redução da resistência à insulina com a estimulação directa do ovário. A dose de referência é de 1.000 a 1.500 mg por dia, de preferência com comprimidos de acção prolongada, ingeridos em toma única ao jantar. Deverá iniciar-se com 500 mg, seguindo-se aumentos progressivos ao longo de várias semanas, para diminuir os efeitos de náusea e vómito que ocorrem em cerca de 20% das mulheres. Alguns estudos referem que com a utilização isolada de metformina, se verificarão taxas de ovulação de cerca de 40%. Outros citam que, como coadjuvante, em doentes resistentes ao clomifeno até 150 mg, permite obter cerca de 25% de êxitos de indução. 5.1.3. ROSIGLITAZONA E PIOGLITAZONA As thiadolazimedionas são drogas utilizadas no tratamento da diabetes. Em doentes insulinoresistentes com ovários micropoliquísticos podem induzir a ovulação por es- 29 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 por cinco dias, em doses de 50 a 100 mg/ dia. Com elevação da dose até 150 mg, mais de 90% das mulheres com oligomenorreia e cerca de 60% das com amenorreia secundária e estado estrogénico normal, desencadearão ovulação. No entanto, apenas metade engravidará9. Aumentos subsequentes da dose não só não acarretarão maiores números de ciclos ovulatórios e de taxas de gravidez como introduzirão risco de gestação múltipla. Perante insucessos com este regime, será de considerar medicação adjuvante com metformina ou, em alternativa, a terapêutica com letrozol. O tempo necessário para ocorrência de gravidez, em mulheres com ovulação induzida pelo citrato de clomifeno, é equivalente ao da população fértil normal138. Quer dizer que a fecundabilidade (probabilidade mensal de gravidez) será de 20 a 25%. Contudo, alguns autores pensam que as taxas de gravidez são inferiores ao esperado em função da percentagem de ciclos ovulatórios obtidos, porque, pela acção do citrato de clomifeno, estarão prejudicados outros factores, como a produção de muco cervical ou o desenvolvimento endometrial. Não deverá ser esquecido que, com este tipo de indução ovulatória, a incidência de gravidez múltipla está aumentada em cerca de 5%, predominando as gestações duplas. Porém, se o medicamento for prescrito em mulheres com ciclos ovulatórios normais, como por exemplo na infertilidade inexplicada, esta percentagem aumentará em quase 20%. Durante a terapêutica, é importante vigiar o aumento do volume dos ovários, pois a formação de quistos é o maior efeito colateral do citrato de clomifeno. Estes quistos têm desaparecimento espontâneo, mas impedem terapêuticas adicionais ou alternativas antes da sua resolução. Outros efeitos colaterais pouco frequentes (menos de 10%) incluem «fogachos», perturbações da visão, distensão abdominal e dor, urticária e ligeira perda de cabelo. 5.1.4. LETROZOL Os inibidores da aromatase são eficazes na indução da ovulação e podem ser considerados uma opção de 1.a linha. O mecanismo de acção é de inibição da produção de E2 durante os cinco dias da sua administração, o que origina rotura no feedback negativo sobre o hipotálamo, com consequente aumento da relação LH/FSH. Existe já significativa experiência com este agente farmacológico e a resposta é muito idêntica à obtida com o citrato de clomifeno. O letrozol é administrado durante cinco dias, com início ao 3.o dia do ciclo, na dose de 2,5 ou 5 mg/dia. Como tem uma curta duração de acção, são ultrapassados os problemas presentes na terapêutica com citrato de clomifeno, de espessamento do muco cervical ou de inibição do desenvolvimento do endométrio. As taxas de gravidez são pelo menos idênticas às obtidas com o antiestrogénio, mas com menor proporção de gestações múltiplas. Inicialmente mais vocacionado para doentes com resistência ao clomifeno, a sua associação com as gonadotrofinas foi avaliada de forma positiva em estudos recentes, quer no quadro de estimulação da ovulação para fecundação espontânea, quer no das técnicas de reprodução medicamente assistida. 5.1.5. MASSA CORPORAL E ESTILO DE VIDA A diminuição da massa corporal pode ser um factor decisivo nas mulheres anovulatórias, 30 em particular nas que revelem resistência ao citrato de clomifeno. É muito importante verificar que anomalias dos glúcidos e dos lipídeos estejam corrigidas antes de iniciar a indução da ovulação. É também crucial aconselhar mudanças no estilo de vida, que habitualmente contemplam dieta racional e exercício físico, que por si só poderão melhorar os parâmetros metabólicos e a resposta aos agentes indutores, mesmo na ausência de verdadeira perda de peso. 5.1.6. GONADOTROFINAS A terapêutica com gonadotrofinas está principalmente indicada nas situações hipoestrogénicas, definidas por níveis de E2 inferiores a 30 pg/ml ou por ausência de hemorragia de privação após administração de progesterona. Os estados hipoestrogénicos não responderão às terapêuticas orais com clomifeno ou letrozol, porque elas dependem da inibição do feedback negativo sobre o hipotálamo. Nestas mulheres, habitualmente amenorreicas, o problema não é o da existência de um persistente feedback negativo do E2 sobre a produção de gonadotrofinas, mas o de um estado hipogonádico que exige estimulação do ovário pelas hormonas gonadotróficas. A utilização de gonadotrofinas poderá também estar indicada nas situações de falência clomifeno/letrozol e quando se coloca a expectativa de poderem acarretar uma melhor produção de muco ou implementação do desenvolvimento endometrial. Estão disponíveis no mercado preparados de gonadotrofinas obtidos a partir de extractos urinários purificados de mulheres pós-menopáusicas e outros produzidos por tecnologia recombinante aplicada a células ováricas do hamster. A sua composição é essencialmente de FSH, e se uns contêm ainda alguma percentagem de LH, a outros poderá ser complementada a acção com LH recombinante. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 timulação da produção de insulina, a que se associa um efeito directo sobre o ovário. Têm sido utilizadas em associação com o citrato de clomifeno mas, para além de não existir experiência suficiente, esta terapêutica deve ser aplicada por muito curto espaço de tempo e em circunstâncias especiais, pois pode originar alteração das enzimas hepáticas e tendência para aumento de peso. 5.1.7. HORMONA LIBERTADORA DAS GONADOTROFINAS E DRILLING DOS OVÁRIOS Uma alternativa à administração de gonadotrofinas é o tratamento com GnRH. Este decapeptídeo hipotalâmico, estimulador da hipófise, quando administrado de forma continuada satura os receptores hipofisários e provoca um efeito de down regulation inibidor da libertação de gonadotrofinas. Por esse motivo não pode ser administrado de forma contínua, obrigando a infusão endovenosa ou subcutânea pulsátil, a intervalos de 1/2 horas, não podendo, por ser um peptídeo, ser administrado por via oral. Com a administração endovenosa pulsátil controlada por regulação cronométrica, obInfertilidade têm-se taxas ovulatórias e de gravidez de 80 e de 20% por ciclo respectivamente. A taxa cumulativa de gravidez em cinco ciclos situa-se entre os 70 e os 80%9. Uma vantagem terapêutica da GnRH é a da raridade do quadro de hiperestimulação, o que permite a associação com doses baixas de gonadotrofinas em mulheres com síndrome do ovário micropoliquístico (PCOS) e resistência prévia. Em virtude da medicação com GnRH ser cara e desconfortável, por obrigar ao uso de catéter endovenoso e mecanismo regulador do tempo que lhe está associado, nas mulheres com ovários micropoliquísticos com resistência ao citrato de clomifeno e/ou às gonadotrofinas, é de colocar como alternativa a destruição laparoscópica parcial dos ovários por electrocoagulação ou LASER. A ressecção cuneiforme dos ovários por laparotomia foi um método consagrado durante muitos anos, mas está hoje abandonada, fruto dos inconvenientes da laparotomia e do risco da formação de aderências pós-operatórias. Assim, a ressecção cuneiforme do ovário foi substituída pela destruição focal por electrocoagulação ou LASER, preferencialmente realizadas por laparoscopia (Fig. 21). Com estas técnicas, conseguem-se elevadas percentagens de ovulação e gravidez (de 50 a 92% e de 37 a 69% respectivamente)139, com a vantagem de um único tratamento originar múltiplos ciclos ovulatórios e dispensar a monitorização ecográfica. No entanto, o efeito terapêutico poderá ser temporário e algumas mulheres desenvolverão novamente anovulação no prazo de três anos. Mesmo nas que não reassumam ciclos ovulatórios depois do drilling laparoscópico, a terapêutica é vantajosa, pois a melhoria do perfil endócrino (diminuição de LH e androgénios, elevação da sex hormone binding globulin [SHBG]) concede fortes probabilidades de resposta favorável ao clomifeno e às gonadotrofinas. Uma recente revisão Cochrane relata uma taxa de gravidez glo- 31 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A resposta à terapêutica com gonadotrofinas tem variação interindividual e intra-individual de ciclo para ciclo, pelo que, mesmo com a utilização de dose idêntica, é necessária monitorização ultrassonográfica seriada. Em algumas situações, poderá ser útil a associação de doseamentos séricos de estradiol. A monitorização ultrassonográfica deve ser frequente, porque a diferença entre a dose mínima necessária para promover a ovulação e a que levará à hiperestimulação é por vezes muito pequena. Com a terapêutica com gonadotrofinas é de esperar mais de 90% de ocorrência de ciclos ovulatórios, sendo citadas taxas de gravidez globais de 20 a 60% por ciclo de estimulação, isto é, idênticas às obtidas com citrato de clomifeno. Claro que as taxas de gravidez obtidas com a estimulação com gonadotrofinas são influenciadas pela idade e pela causa da anovulação. As melhores percentagens de gravidez são obtidas nas mulheres jovens hipoestrogénicas, com níveis baixos ou normais de gonadotrofinas. As piores, verificam-se nas mulheres mais velhas e nas com anovulação e níveis estrogénicos normais ou ovários micropoliquísticos resistentes ao citrato de clomifeno. A taxa de gravidez múltipla situa-se nos 15%. 5.2. FACTOR MASCULINO Todos os ginecologistas têm obrigação de saber interpretar um espermograma, bem como de estabelecer o prognóstico em situações de espermograma anormal. Embora os ginecologistas habitualmente não estabeleçam o diagnóstico específico ou o tratamento dirigido ao homem infértil, que deverão ser sistematicamente estabelecidos por um andrologista, o especialista de ginecologia deve ter conhecimentos suficientes que o habilitem a fornecer correcta indicação dos tratamentos de IIU, fecundação in vitro e ICSI (eventualmente com aspiração ou extracção de espermatozóides do testículo ou do epididimo). A IIU está indicada no tratamento da oligospermia ligeira/moderada e no de algumas anomalias do volume ou da viscosidade seminal. Pode ser efectuada em ciclo espontâneo ou com indução ovulatória pelo citrato de clomifeno. Porém, a preferência vai para a utilização desta técnica em ciclos de estimulação ovárica controlada com gonadotrofinas, sendo de esperar bons resultados se no espermograma inicialmente realizado a motilidade for superior a 30 e a 70% depois do swim-up. A expectativa é a de percentagens de 10 a 15% de gravidez por ciclo. A IIU, com concentrado de espermatozóides depois de separados do sémen por dupla centrifugação e após swim-up, atra- 32 vés de gradientes de densidade, deve ser encarada como a forma preferencial de tratamento das anomalias ligeiras ou moderadas do espermograma, independentemente da sua aplicação aos casos de infertilidade inexplicada e às situações de patologia cervical (ex.: estenose ou colo curto pós-conização). O timing da inseminação é o do dia anterior ou o da ovulação detectada/prevista por monitorização ecográfica ou por identificação urinária da onda de LH. Após um muito curto período de repouso, a mulher pode reassumir uma vida completamente normal, devendo ser alertada para a possibilidade de dores ligeiras resultantes das contracções uterinas provocadas pelo líquido seminal e pela libertação de prostaglandinas. Independentemente da posterior abordagem às técnicas de PMA, gostaríamos desde já de referir a microinjecção intracitoplasmática de espermatozóide como método de tratamento de eleição para as situações de factor masculino grave. Com a ICSI, serão de esperar taxas de fecundação de 60 a 80% mesmo quando realizada com espermatozóides completamente imóveis140,141. Verificam-se taxas similares com espermatozóides recolhidos do epididimo ou do testículo. No geral, com a ICSI obtêm-se percentagens de gravidez entre os 30 e os 35%, e de 25% de parto por ciclo de transferência, quer dizer, idênticas às obtidas com a fecundação in vitro no tratamento da infertilidade por outros factores. Pode resumir-se dizendo, ainda que com critérios um pouco arbitrários, que a microinjecção do espermatozóide está indicada, para além das situações em que se tenha verificado ausência de fecundação em FIV, quando a concentração de espermatozóides no ejaculado é inferior a 2 milhões por ml, na aastenozoospermia grave (< de 10% móveis) e na teratospermia com morfologia normal inferior a 5%. Porém, e independentemente de outras considerações, é de manter sempre preCapítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 bal da ordem dos 50%, com muito baixa percentagem de gravidez múltipla. Apesar de tudo, a indução da ovulação nas mulheres com ovários micropoliquísticos deve assentar em 1.a linha no tratamento médico. A electrocoagulação dos ovários deverá estar reservada para as doentes com dificuldade ou risco de resposta às gonadotrofinas (eventualmente com associação de terapêutica adjuvante), isto é, perante a incapacidade de selecção de folículo dominante ou risco de hiperestimulação. também essencial, pois possibilita a identificação de distorções anatómicas, encurtamento ou impermeabilidade cervical. A clássica avaliação diagnóstica por teste pós-coital, introduzida por J. Merrionsim em 1986, é um dos procedimentos mais controversos e duvidosos de avaliação da infertilidade. Não existe consenso em relação a diversos aspectos: momento exacto do ciclo para a sua realização; tempo de realização após o coito; cut off do resultado normal/anormal; tratamento a efectuar em face de resultados anormais. Perante a falta de concretização do momento óptimo para realização do teste pós-coital constatada em estudos multicêntricos165, na ausência de definição do grau de ampliação microscópico necessário para avaliar um resultado como normal e pelas baixas sensibilidade e especificidade (variações de 10 a 97%) o teste pós-coital não deve ser integrado no conjunto de meios de avaliação do casal infértil. Sem alterações anatómicas e morfológicas observáveis ou história de terapêutica anterior, a importância do factor cervical como factor de infertilidade é duvidosa, ideia reforçada pela inexistência de benefício após tratamento de pressupostos factores cervicais identificados por teste pós-coital145. 5.3. FACTOR CERVICAL171 5.4. FACTOR UTERINO As malformações, os traumatismos, os procedimentos terapêuticos sobre o colo do útero, como a electrocoagulação, a crioterapia ou a conização, podem causar «lesões» que afectam a produção de muco ou causar estenose cervical. Assim, o canal cervical pode ficar impedido de adequadamente cumprir as suas funções de reservatório protector dos espermatozóides, de transporte para o tracto genital superior e de capacitação. A história clínica é importante porque, por seu intermédio, podem ser detectados antecedentes de terapêuticas sobre o colo do útero, traumatismos, ou acção de drogas como o dietilestilbestrol. O exame físico é Infertilidade 5.4.1. SINEQUIAS As sinequias podem ser motivo de infertilidade, alterações do período menstrual (hipomenorreia/amenorreia) e abortamento de repetição. É portanto essencial tentar identificar estes aspectos clínicos no momento de colheita da história, bem como dirigir o interrogatório a antecedentes de curetagem ou de tuberculose pulmonar. Porém, algumas mulheres não terão antecedentes ou sintomas sugestivos da patologia e apresentarão apenas quadro de infertilidade. 33 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 sente que as percentagens de gravidez obtidas com ICSI são, como com as outras técnicas, inversamente proporcionais à idade da mulher. Também nas situações de azoospermia a microinjecção se veio a revelar um importante meio terapêutico, por permitir a fecundação de ovócitos com espermatozóides recolhidos a partir do testículo ou do epididimo141. A probabilidade de obter espermatozóides a partir do testículo é de quase 100% nas situações de azoospermia obstrutiva (níveis de FSH normais) e de cerca de 50% nas de FSH elevado (provável azoospermia secretora)142. Alguns autores referem um aumento ligeiro, mas significativo, da probabilidade de defeitos cromossómicos nas crianças que nascem de ICSI. Van Steirtegherm demonstrou, em 8.319 nados-vivos, um aumento da percentagem de aneuploidias dos cromossomas sexuais (0,6 vs 0,2%) e de anomalias estruturais autossómicas (0,4 vs 0,07%), assim como de aberrações relacionadas com a infertilidade paterna. Não havendo certezas nesta matéria, um estudo dinamarquês143 sugere um aumento da percentagem de anomalias urogenitais, eventualmente relacionável com a subfertilidade masculina. Figura 23. Histerossalpingografia – sinequias uterinas 5.4.2. TUBERCULOSE E ENDOMETRITES Se a histerossalpingografia revelar imagens sugestivas de sequelas de tuberculose, a patologia deverá ser procurada por cultura do produto de biopsia endometrial. As imagens histerossalpingográficas de tuberculose, uterina ou tubar, são típicas. Independentemente de a tuberculose activa necessitar de terapêutica com tuberculostáticos, as mulheres devem ser consideradas estéreis, já que não é expectável a ocorrência de gravidez após tratamento médico. A reconstrução cirúrgica tubar está votada à falta de êxito e, mesmo no contexto da fecundação in vitro, as probabilidades de gravidez são muito baixas pela irrecuperável destruição endometrial, embora haja fundamento de esperança se as lesões estiverem limitadas às trompas e ausentes da cavidade uterina. Outros tipos de endometrite podem ser causa de infertilidade. Cursam de forma assintomática ou com sintomas muito frustres e inespecíficos, apenas são diagnosticáveis por histeroscopia (aspectos endometriais em «morango» ou de hipervascularização) (Fig. 35) e poderão ser tratados com doxiciclina 200 mg/dia durante 14 dias e três meses de «substituição hormonal» com estrogénio e progestativo. 5.4.3. FIBROMIOMAS Figura 24. A: histeroscopia, sinequias uterinas. 34 É muito difícil avaliar a responsabilidade dos fibromiomas na infertilidade, pois muitas mulheres com fibromiomas não têm qualquer dificuldade em engravidar (Figs. 9 e 10). No entanto, será sempre de meditar, sobretudo na ausência de outro factor, que os fibromiomas podem ser causa de infertilidade sempre que tenham potencial de interferir com o transporte dos espermatozóides ou com o processo de implantação. Vercellini, em revisão de todos os estudos publicados de 1982 a 1996, sobre o efeito da miomectomia na infertilidade, concluiu Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A confirmação do diagnóstico é histerossalpingográfica (Fig. 23). Se a única anomalia detectada para justificar a infertilidade for a presença de sinequias de origem nãotuberculosa, a probabilidade de gravidez após sinequiotomia histeroscópica é de 75%146 (Fig. 24 A). 5.5. FACTOR TUBAR As trompas de Falópio são essenciais para os transportes do ovócito, do espermatozóide e do embrião. Qualquer lesão tubar é susceptível de impedir o «casamento» do ovócito com o espermatozóide. As sequelas de doença inflamatória pélvica, as aderências das cirurgias pélvica ou tubar, a endometriose, a peritonite consequente à apendicite, os antecedentes de abortamento séptico, são factores de risco para a existência de «doença»/disfunção tubar. Mas se estas situações, que implicam a existência de dados com relevo na história clínica e porventura sintomas, sinais e alterações no exame pélvico, colocam as mulheres num elevado risco de infertilidade, também a infecção infraclínica, silenciosa, sem sintomas, sinais ou alterações ao exame, própria da clamídia, contribui de forma importante para o factor tubar da infertilidade pelas profundas alterações anatómicas, morfológicas e funcionais, provocadas nas trompas. Alguns autores demonstraram que cerca de 86% das mulheres com factor tubar de infertilidade têm títulos de anticorpos IGG anticlamídia tracomatis significativamente mais elevados do que as mulheres férteis148. Assim, os testes para anticorpos anticlamídia foram propostos por alguns como eventuais denunciadores da existência de factor tubar de infertilidade. Contudo, a sua sensibilidade é apenas de 50% e fornecem informação muito limitada, pelo que a utilização na rotina diária carece de valor. A cirurgia pélvica é um importante factor de risco para a existência de aderências149,150. Cerca de 23% das mulheres submetidas a cirurgia pélvica desenvolvem aderências susceptíveis de interferir com a fertilidade, percentagem que se elevará Infertilidade para cerca de 60% se a cirurgia incidir sobre as trompas. Os pólipos, os detritos e os rolhões de muco podem ter importância etiopatogénica por causarem obstrução tubar transitória. A salpingite ístmica nodosa é caracterizada pela formação de divertículos laterais na região ístmica da trompa e está associada a endometriose, infecções pélvicas e tuberculose. Ocorrem alterações irreversíveis da mucosa, que muitas vezes atingem a muscular, levando a oclusão do lúmen. Uma colheita cuidadosa da história clínica pode revelar antecedentes de doença de transmissão sexual ou doença inflamatória pélvica, bem como de outras doenças com potencial para originar factor tubar de infertilidade. Nem a sensibilidade nem a especificidade da história são muito elevadas na detecção do factor tubar da infertilidade, mas o interrogatório clínico pode fazer sobressair importantes factores de suspeição. A histerossalpingografia é o método mais importante para avaliação da anatomia, morfologia e permeabilidade das trompas. Em alternativa, poderá ser efectuada laparoscopia com prova de azul-de-metileno que, não permitindo avaliar o endossalpinge, tem a vantagem de ser mais fiável na avaliação da permeabilidade. Este exame acrescenta informação sobre a existência de aderências ou de outros factores que, independentemente da permeabilidade, possam perturbar a função das trompas, bem como permite uma observação completa da cavidade pélvica. Uma metanálise, registou que as sensibilidade e especificidade da histerossalpingografia para avaliação da permeabilidade tubar, quando confrontada com a laparoscopia com prova de azul-de-metileno, são de 65 e 83% respectivamente151. Este estudo conclui que a histerossalpingografia é um bom meio de avaliação da obstrução mas não da permeabilidade, dando origem a numerosos falsos positivos (diagnósticos de obstrução). O exame radiográfico também não fornece 35 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 que a taxa de gravidez depois de efectuada miomectomia em mulheres sem outra causa de infertilidade era de 61%147. 5.6. ENDOMETRIOSE9 Na literatura é citada uma incidência de endometriose em 20 a 40% das mulheres infér- 36 teis9. A presença de tecido endometrial no exterior da cavidade uterina é mais frequentemente encontrada na superfície peritoneal, em particular no fundo de saco posterior, nos ovários e trompas, nos ligamentos útero-sagrados, parede pélvica, bexiga e superfície externa do útero. A American Fertility Society/American Society for Reproductive Medicine (AFS/ASRM) desenvolveu, com base em observação laparoscópica/laparotómica da localização e dimensão das lesões, uma classificação de estadiamento, reproduzida no capítulo dedicado à endometriose no Volume I. Na endometriose grave existe uma evidente relação entre a doença e a infertilidade, pela interferência da distorção anatómica com a libertação e captação do ovócito e com o transporte do espermatozóide. Porém, a mesma relação já não é tão clara para os estádios 1 e 2 (endometriose mínima ou ligeira), sugerindo-se a perturbação funcional como factor importante, já que as distorções anatómicas não são de relevo. As alterações funcionais apontadas como causa de infertilidade nas situações de endometriose mínima, ligeira ou moderada, incluem a composição do líquido peritoneal, os prejuízos da fecundação e da função tubar. Também os danos à qualidade ovocitária e à implantação têm sido referidos como factores de redução da fertilidade nas situações de endometriose ligeira ou moderada153,154. Alguns autores salientam a diminuição da receptividade endometrial155. Alguns estudos sugerem a importância das concentrações de macrófagos activados pelo líquido peritoneal, e dos seus produtos de secreção, incluindo interleucina 1 (IL1), factor de necrose tumoral e proteases, que estão aumentados na endometriose e poderiam condicionar uma diminuição da fertilidade. Esta alteração na composição do líquido peritoneal é também apontada como factor embriotóxico, o que parece ser contrariado pelos resultados da doação de ovócitos em mulheres com endometriose, Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 informação sobre a existência de aderências peritubares, mas possui as vantagens de não ter morbilidade cirúrgica, dispensar a anestesia geral e proporcionar uma maior probabilidade de gravidez espontânea após a sua realização. Em mulheres com alergia a produtos iodados, a histerossonografia poderá substituir a histerossalpingografia. A histerossonografia com soro fisiológico ou glicosado, oferece a vantagem da eventual detecção ecográfica de outras patologias uterinas ou anexiais, incluindo fibromiomas intramurais, subserosos e tumefacções anexiais. Contudo, a anatomia da trompa não pode ser visualizada. As cirurgias reconstrutivas da trompa, como a fimbrioplastia, a lise de aderências, a salpingoplastia e a salpingoneostomia, foram durante muito tempo a única opção para as mulheres com factor tubar de infertilidade. Todavia, as baixas percentagens de gravidez após cirurgia, o elevado risco de gravidez ectópica e o advento da fecundação in vitro, fizeram da reconstrução cirúrgica das trompas uma opção de 2.a linha, apenas indicada a mulheres com integridade da mucosa que recusam a fecundação in vitro. Embora existam diferenças na probabilidade de sucesso cirúrgico conforme o tipo e localização das lesões distais ou proximais, a fecundação in vitro é a terapêutica preferencial para os casais com factor tubar de infertilidade. É de reter que, se o diagnóstico é de hidrossalpinge, é necessário proceder à salpingectomia antes do tratamento FIV. Uma metanálise recente mostrou que a salpingectomia laparoscópica aumenta muito significativamente a probabilidade de gravidez FIV, em comparação com o verificado em mulheres que realizaram FIV sem tratamento cirúrgico prévio152. Infertilidade Alguns marcadores analíticos, como o CA125, o CA 15-3 e o CA 19-9, têm sido utilizados na avaliação das doentes. Nenhum deles possui sensibilidade e especificidade adequadas. Uma metanálise demonstrou que o doseamento do CA125 é de baixa sensibilidade para detecção da doença (50%) com elevada taxa de falsos positivos (28%)160. A ultrassonografia tem um papel limitado no diagnóstico e na avaliação desta patologia. Alguns autores citam uma sensibilidade de 64 a 89% e uma especificidade de 89 a 100%161. Sendo importante na identificação dos endometriomas ováricos (Fig. 11), não tem praticamente capacidade de detecção das lesões peritoneais e das aderências, estando recentemente a ser utilizada, com êxito, em substituição da RM, na avaliação por via transrectal dos nódulos do septo rectovaginal. A RM também tem sido utilizada no estudo e caracterização da doença. As melhores sensibilidade e especificidade verificam-se na detecção de endometriomas162, com limitações na avaliação da endometriose infiltrante profunda e do septo rectovaginal, sendo por vezes necessária a associação com a rectoscopia. O método gold standard para diagnóstico é a laparoscopia. Não só os endometriomas ováricos, recheados de sangue envelhecido, são facilmente identificados, como este é o único meio que permite visualizar e caracterizar os múltiplos aspectos dos implantes peritoneais, negros, azulados, lesões brancas não pigmentadas, lesões vermelhas, vesiculares, saculações, defeitos peritoneais, e os diversos tipos de aderências, em que predominam as que amarram o ovário e a trompa à face posterior do ligamento largo, ou imobilizam as regiões anexiais no fundo de saco de Douglas (Fig. 24 B). Os implantes de endometriose são mais frequentemente encontrados nos ligamentos útero-sagrados, no fundo de saco posterior, nas paredes pélvicas e nas fossetas ováricas. 37 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 em que se verificam taxas de gravidez similares às de grupos-controlo. Contudo, o facto é que a endometriose ligeira ou moderada é mais frequente em doentes com infertilidade do que em mulheres férteis156, e a probabilidade de gravidez é mais baixa nas mulheres com endometriose mínima ou ligeira do que nas com infertilidade inexplicada157. Por outro lado, pode observar-se em diversos estudos que os resultados dos tratamentos da endometriose mínima ou ligeira são conflituais. A dismenorreia, a dispareunia e a dor pélvica crónica, são sintomas frequentemente encontrados nas doentes com endometriose. A dismenorreia é o sintoma mais frequente e a dispareunia é habitualmente profunda, provocada pelo impacto sobre o fundo de saco posterior ou sobre o septo rectovaginal, podendo manifestar-se como dor que fica após as relações sexuais. Nas situações de dor pélvica crónica, 15 a 32% das mulheres revelam endometriose158,159. Com raridade, podem existir sintomas relacionados com a localização da patologia extrapélvica, intestinal, do tracto urinário, dos pulmões e do sistema nervoso central. É uma doença com incidência familiar e o risco de lesões está relacionado com o número de ciclos menstruais ao longo da vida. Assim, as mulheres com interlúneos longos ou maior número de gestações têm uma menor probabilidade de desenvolver endometriose do que as mulheres com ciclos curtos ou nulíparas. Um exame ginecológico normal não exclui a presença da doença. No entanto, podem ser encontrados sinais físicos extremamente evocadores, tais como nodulações dos ligamentos útero-sagrados, dor à exploração e falta de elasticidade do fundo de saco posterior, dor à tentativa de mobilização uterina e mobilidade reduzida com útero frequentemente em retroversão, massas anexiais, nódulos à palpação da parede vaginal e fundo de saco posteriores. 5.6.1. ENDOMETRIOSE MÍNIMA/LIGEIRA Mesmo nas situações de endometriose mínima ou ligeira, existe uma reacção inflamatória do tipo imunitário que afecta a fertilidade. Diversos autores demonstraram a existência de uma diminuição da fecundidade neste estádio e percentagens de gravidez inferiores às das mulheres férteis. Inoue163, à semelhança de outros, relatou que a electrocoagulação dos focos de endometriose mínima ou ligeira, no momento do diagnóstico laparoscópico, melhora as taxas de concepção. Também um estudo canadiano164 cita que, nas mulheres com endometriose mínima ou ligeira a fecundidade é menor, e que se as lesões forem tratadas por ressecção ou ablação no momento do diagnóstico, a taxa de fertilidade duplicará. Assim, se no momento do diagnóstico laparoscópico for identificada endometriose mínima ou ligeira, é aconselhável a destruição das lesões de endometriose seguida de estimulação ovárica controlada com IIU, de forma idêntica ao realizado para a infertilidade inexplicada. Por fim, alguns autores relatam que, mesmo sem realização de inseminação, a probabilidade de alcançar gravidez apenas com estimulação ovárica, por exemplo com citrato 38 de clomifeno, é 2,9 vezes superior à das mulheres que, na mesma situação, não receberam qualquer tratamento144. 5.6.2. ENDOMETRIOSE MODERADA Se no momento da realização da laparoscopia diagnóstica for verificada a existência de aderências pélvicas, ou endometriomas ováricos de diâmetro superior a 1 cm, o tratamento médico não conseguirá obter uma suficiente regressão das lesões de que decorra um aumento da fecundidade. Por isso, a intervenção diagnóstica deve ser sistematicamente aproveitada para realização do tratamento cirúrgico. As terapêuticas com danazol, agonistas GnRH, progesterona ou contraceptivos orais, não demonstraram aumento das taxas de fertilidade9. 5.6.3. ENDOMETRIOSE GRAVE Deve efectuar-se terapêutica cirúrgica conservadora, com energia eléctrica ou LASER, de ressecção das lesões, lise de aderências e tratamento dos endometriomas ováricos com mais de 3 cm. O tratamento com análogos ou danazol, no pré ou pós-operatório, Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 24. B: Diversos aspectos laparoscópicos da endometriose. (cortesia de Faustino F, Hospital da Luz). 5.7. INFERTILIDADE INEXPLICADA O diagnóstico de infertilidade inexplicada resulta de uma avaliação clínica normal com exames auxiliares negativos, i.e., deverá ser colocado quando a mulher tem ciclos ovulatórios normais, exames pélvico, analítico, ecográfico e histerossalpingográfico também normais e no espermograma existam pelo menos 20 milhões de espermatozóides móveis9. O tratamento primordial deve assentar na estimulação ovárica controlada associada à IIU. Alguns autores referem que a inseminação deve ser realizada no dia anterior ao da ovulação espontânea, na manhã do dia seguinte ao da detecção urinária de LH, ou 34 a 36 Infertilidade horas após a administração intramuscular da gonadotrofina coriónica humana (HCG). Uma metanálise realizada por Zeyneloglu, et al.166 demonstrou que, na infertilidade inexplicada, as taxas de gravidez são melhores com IIU do que com estimulação ovárica controlada e coito programado. A estimulação ovárica poderá ser efectuada com gonadotrofinas ou citrato de clomifeno, embora as percentagens sejam superiores quando utilizadas as gonadotrofinas (8 a 10% vs 15 a 20%)167. Na experiência deste autor, cerca de 30% das doentes com infertilidade inexplicada alcançaram gravidez ao fim de quatro ciclos de estimulação com gonadotrofinas e IIU, com 20% de gravidez múltipla. Assim, o primeiro tratamento da infertilidade inexplicada nas mulheres jovens (menos de 35 anos) deverá ser de 3/4 IIU em ciclos estimulados com gonadotrofinas. Caso não ocorra gravidez, a doente deve ser orientada para fecundação in vitro. Pode constatar-se, em diversos estudos, referências à diminuição da probabilidade de êxito à medida que progride a idade da mulher, nomeadamente a partir dos 40 anos. Em alguns, a percentagem de gravidez por ciclo, com a estimulação ovárica controlada e IIU, na infertilidade inexplicada de mulheres com mais de 40 anos, é de cerca de 5% comparada com 10 a 15% em idades inferiores. Também na fecundação in vitro por infertilidade inexplicada, as probabilidades de êxito por ciclo com transferência embrionária declinam significativamente em mulheres de idade superior a 40 anos ou mesmo a partir dos 35. As percentagens de nados-vivos por transferência são somente de cerca de 10%. Se utilizados ovócitos doados por mulheres jovens, a mesma percentagem subirá para pelo menos 50%. 5.8. REPRODUÇÃO MEDICAMENTE ASSISTIDA 5.8.1. INSEMINAÇÃO INTRA-UTERINA168,171,173,174 Os espermatozóides são depositados aos milhões no aparelho genital feminino, num pro- 39 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 não parece adicionar qualquer benefício. As percentagens de concepção após tratamento cirúrgico, têm sido citadas como de 50 a 60% nas situações de endometriose moderada e de 30 a 40% nas situações de endometriose grave9. Estas percentagens são significativamente superiores às verificadas em doentes que não efectuaram qualquer tratamento ou que apenas realizaram tratamento médico. Nos casos de êxito, metade das gestações ocorrerá nos primeiros seis meses, com as restantes a surgirem no decurso de ano e meio após o procedimento cirúrgico9. Sempre que possível, a cirurgia laparoscópica deverá prevalecer sobre a laparotómica. No âmbito cirúrgico, não existe vantagem significativa do LASER CO2 ou da electrocirurgia, quer no aspecto sintomático quer no que respeita às taxas de gravidez pós-cirurgia. Se o tempo operatório poderá estar reduzido com a utilização do LASER, esta técnica tem a desvantagem de ser muito mais cara e de exigir formação e processo de aprendizagem/treino específico. Na ausência de dor ou de outros sintomas com relevo, sem a presença de endometriomas com mais de 3/4 cm, uma opção de 1.a linha por fecundação in vitro é adequada, embora os resultados FIV possam ser melhores após a realização de tratamento cirúrgico. 40 — Filtrar os espermatozóides, isto é, efectuar uma selecção com base na morfologia e na motilidade. — Armazenar os espermatozóides normais para uma libertação contínua e prolongada para o tracto genital superior, fornecendo os elementos energéticos necessários à «caminhada» dos espermatozóides. — Participar na capacitação. Assim, o canal cervical pode ser visto como uma válvula biológica que, em diferentes épocas do ciclo, promove ou impede o avanço dos gâmetas para a cavidade uterina e tracto genital superior, e que também selecciona o transporte, eliminando a grande maioria por critérios de motilidade e morfologia. Esta selecção faz-se em grande parte pelo alinhamento das macromoléculas do muco cervical, constituindo canais por onde ascenderão com alguma facilidade os espermatozóides normais e com progressão linear, mas onde os outros terão dificuldade em progredir e ficarão retidos. Num contexto de fertilidade normal, 99,9% dos espermatozóides depositados na vagina morrem nesse ambiente hostil antes de alcançarem a protecção do santuário cervical. Posteriormente, muitos serão ainda eliminados e apenas um escasso número de ± 12 alcançará o local da fecundação para se confrontar com o ovócito168,171. O mecanismo de selecção não é completamente claro, mas é provavelmente resultado da conjugação de propriedades intrínsecas do espermatozóide e da sua interacção com o muco. A análise simultânea da motilidade e morfologia mostra que os morfologicamente anormais são menos móveis e têm menor probabilidade de poder migrar com velocidade idêntica à dos gâmetas normais168. A migração em meios de cultura também os selecciona com base na morfologia, obtendo-se populações morfologicamente mais ricas (74% normais). Isto significa, que a selecção em meio de cultura com base na motilidade e morfologia é eficaz, mas que a proporção dos morfologicamente normais após Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 cesso que é de grande perda biológica, uma vez que dos milhões depositados na cavidade vaginal apenas uma escassa dúzia chegará junto do ovócito e apenas um conseguirá nele penetrar determinando a fecundação. De facto, 100 a 200 milhões de espermatozóides são emitidos em cada ejaculação, com uma concentração entre 30 a 50 milhões por ml, mas são tão difíceis os obstáculos que têm de enfrentar, que a maior parte não os consegue ultrapassar e morre. Assim, tal como para os gâmetas femininos, também o processo de reprodução é, para os gâmetas masculinos, um processo de grande desperdício. A vagina é o local da inseminação, mas é um domínio hostil do qual os espermatozóides têm de escapar para conseguir sobreviver. O pH vaginal entre 3,5 a 4, é um pH ácido, impróprio à sobrevivência dos gâmetas masculinos. O pH óptimo para subsistirem é muito mais alcalino (7 a 8,5)169,170. Em pH abaixo de 6, a motilidade dos espermatozóides fica francamente inibida (o fluido seminal é alcalino com pH médio de cerca de 7,5). A meio do ciclo, o muco cervical tem um pH de cerca de 8, idêntico ao do líquido seminal. Após colocação na vagina, muito poucos espermatozóides sobrevivem mais de 30 minutos, pelo que é necessário que alguns penetrem rapidamente para o interior do muco cervical para assegurar uma população que sobreviva e conserve a motilidade (é já uma população muito diminuída)171. Uma vez depositado o sémen, com milhões de espermatozóides na vagina e colo do útero, são esperadas da parte do canal cervical uma série de funções: — Actuar como uma verdadeira válvula biológica, promovendo a ascensão dos espermatozóides no período periovulatório e impedindo-a em outros momentos do ciclo. — Proteger os espermatozóides do ambiente hostil da vagina. — Promover as condições necessárias para transporte (ascensão) dos espermatozóides. Infertilidade se nas trompas alterados, imóveis e sem viabilidade, incapazes de fecundar o ovócito179. Por outro lado, os gâmetas masculinos que ficaram resguardados e protegidos no reservatório cervical, e que alcançaram as trompas mais tarde, depois de decorrido o tempo suficiente para capacitação, possuem maior poder fecundante. Porque a vagina é um ambiente hostil, que destrói os espermatozóides, estes têm de provir de um outro reservatório, que obviamente é o canal cervical, particularmente as criptas das glândulas e as fendas interglandulares. O muco forma canais, por alinhamento das suas macromoléculas, criando trajectos de baixa resistência que guiam os espermatozóides para as criptas das glândulas cervicais180-183. Os alojados nas criptas, ou aderentes à mucosa do canal cervical, onde ficam viáveis por vários dias (até sete)184 são capazes de abandonar esse reservatório e de migrar para as trompas de Falópio. Os que ficam retidos no muco cervical representam a população que é excluída, que é armadilhada e retida (em função da morfologia e do tipo de motilidade) no tracto genital inferior. No entanto, mesmo os retidos no muco conservam capacidade funcional por vários dias. Assim, o canal cervical e o muco são importantes, não só para transporte, mas também para filtrar e regular a fisiologia dos espermatozóides, nomeadamente a capacitação. O ovócito humano maduro é recoberto por uma série de camadas protectoras que têm de ser penetradas para que aconteça a fecundação. O espermatozóide possui diversas enzimas, elaboradas para conseguir a penetração do ovócito, como a hialorunidase, a enzima penetradora da corona e a acrosina. Estas enzimas encontram-se numa região capsular do gâmeta masculino, o acrossoma. A reacção do acrossoma, é um processo que envolve a fusão localizada em pontos da dupla membrana, com fusão e lise, vesiculação e libertação dos conteúdos. Para que o fenómeno ocorra é necessário que tenha havido capacitação, isto é, uma modificação da membrana da cabeça, que o possibilite. 41 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 migração no muco cervical é muito maior (91%), revelando que o muco é um meio de migração mais selectivo do que o meio de cultura. Em resumo, os espermatozóides morfologicamente normais migram mais rápido e de forma linear, enquanto os morfologicamente anormais encontram maior resistência da parte do muco, pelo que esta diferença, mais do que o vigor intrínseco do espermatozóide, é responsável pela exclusão dos gâmetas anormais. Os gâmetas masculinos alcançam o tracto genital superior por intermédio de dois tipos de transporte: um sistema de transporte rápido e outro lento a partir de um reservatório168. Alguns espermatozóides chegam ao tracto genital superior de uma forma extremamente rápida, referindo alguns autores que alcançam as trompas cinco minutos após inseminação175. Neste transporte rápido, os fenómenos passivos176 têm mais importância que a migração activa, porque a velocidade do espermatozóide in vivo não pode ser tão superior à revelada in vitro que justifique um percurso tão longo em tempo tão curto. O mecanismo que melhor explica o transporte passivo é as contracções coordenadas da vagina, do útero e das trompas de Falópio, funcionando como um mecanismo de aspiração global. Estas contracções estão perfeitamente documentadas na altura do orgasmo. As prostaglandinas do sémen e outras substâncias, como a endotelina, que têm grande poder de contracção do músculo liso, podem também ter influência nas contracções177. O objectivo biológico desta forma de transporte permanece obscuro, mas existem indicações de que os primeiros espermatozóides a alcançarem a parte alta do tracto genital podem não ser funcionantes, porque é necessário que haja capacitação, i.e., que seja modificada a membrana da cabeça do espermatozóide para que possa ocorrer a reacção do acrossoma, o que é um processo que requer tempo, horas e não minutos178, como acontece no transporte rápido. Os espermatozóides transportados de forma rápida apresentam- 42 tilidade inexplicada. O Registo Europeu da European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE) indica uma percentagem de gravidez de 12% por tentativa8. Inseminação intra-uterina – material e procedimentos (Fig. 25) Material Frasco estéril para colheita do esperma Estufa de CO2 a 37 oC Lâminas e lamelas Microscópio Câmara de Neubauer Centrífuga Tubos de centrífuga Sperm Preparation Medium (SPM) Supra Sperm System (SSS) Catéter de inseminação Câmara de fluxo laminar classe II vertical Procedimentos 1. Escrever no contentor de esperma o nome do indivíduo e entregar o mesmo para ser efectuada a colheita. 2. Assim que o indivíduo tiver terminado a colheita colocar o contentor na estufa a 37 oC durante 30 min. 3. Colocar um volume de gradientes de 80 e 55% num tubo de centrífuga, tendo em conta o volume de esperma e características de motilidade e concentração e adicionar o volume total de esperma. 4. Centrifugar a 1.800 rpm, 20 min. 5. Retirar o sobrenadante, passar o pellet para um novo tubo de centrífuga, adicionar 2 ml de SPM e homogeneizar. 6. Centrifugar a 1.100 rpm, 10 min. 7. Desprezar o sobrenadante, adicionar 2 ml de SPM, homogeneizar e centrifugar a 1.100 rpm, 10 min. 8. Desprezar o sobrenadante e adicionar um volume de SPM até um máximo de 0,5 ml tendo em conta o pellet obtido. 9. Encher o catéter de inseminação com uma seringa de 1 ml. 10. Colocação intra-uterina do preparado. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A reacção tem de ocorrer na vizinhança do ovócito e, até esse momento, foi inibida por factores presentes no líquido seminal168. A capacitação pode ser alcançada in vitro em cinco a sete horas, mas in vivo tem lugar quando o espermatozóide se encontra no canal cervical e no muco, que parecem estar envolvidos no processo. A lógica em que assenta a IIU, é a da convicção, de que colocar espermatozóides para lá do obstáculo que é o canal cervical, aumentando a sua concentração no tracto genital superior, proporciona maior probabilidade de fecundação, porque foram ultrapassadas as principais barreiras. Quando realizado com esperma fresco, o procedimento ignora muitos dos conhecimentos da fisiologia cervical, da interacção do esperma com o muco, incluindo o conceito de reservatório cervical, do papel do muco na selecção dos espermatozóides, a capacitação e o metabolismo dos gâmetas. É por isso que a inseminação com esperma não preparado parece não proporcionar taxas de gravidez superiores às de ocorrência espontânea em casais inférteis (12%)185. Assim, a técnica de IIU exige etapas de preparação do esperma, de lavagem, de ascensão dos espermatozóides através de gradientes de densidade que proporcionam a selecção, de migração em meios de cultura, capacitação em laboratório, etc., prévias à colocação intra-uterina de uma concentração superior ao conseguido pelo coito normal. Dito de outra forma, o objectivo é o de colocar um concentrado de espermatozóides da melhor qualidade possível no tracto genital superior, mas de espermatozóides previamente preparados, porque o esperma foi «lavado» e os gâmetas foram seleccionados e capacitados pela migração em meios de cultura. Colocados próximo do local da fecundação, deverão estar proporcionadas maiores probabilidades de gravidez. Daqui decorre o interesse do tratamento na oligo, terato e astenzoospermias ligeiras ou moderadas, em factores cervicais, nas anomalias do tracto genital inferior ou na infer- Gradiente 55% Colheita de esperma por masturbação Gradiente 80% Catéter de inseminação Inseminação Centrifugação da amostra Homogeneização da amostra Figura 25. Resumo esquemático − inseminação intra-uterina. (cortesia de Alice Pinto). 5.8.2. FECUNDAÇÃO IN VITRO186 Após a travessia do canal cervical, os espermatozóides ascendem na cavidade uterina para se encontrarem com o óvulo na porção ampolar da trompa. Para poder ser fecundado, o ovócito captado pela trompa tem de ser maduro (metafase II). Ao nascimento, os ovários possuem dois milhões de ovócitos em estado primordial, rodeados por apenas uma camada de células da granulosa. Não são fecundáveis porque se encontram em prófase da meiose 1. Perdendo-se permanentemente por apoptose, na adolescência são já apenas cerca de 400.000, mas com a maturação do eixo hipotálamohipófise-gónadas poderão ser libertados em estado fecundável. Assim, a descarga de LH que determina a rotura folicular e a ovulação, também activa a meiose do ovócito, de prófase da meiose 1, em que estava parado desde a vida embrionária, até à metáfase da meiose 2, estádio em que já é fecundável e que se Infertilidade identifica pela observação de expansão de células da coroa e pela extrusão do primeiro globo polar. Um ovócito maduro é um ovócito rodeado por várias camadas de células da granulosa, pela sua zona pelúcida e pela observação do primeiro globo polar (Fig. 26). Figura 26. Ovócito (metafase II). 43 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Sémen Após a singamia, iniciam-se os fenómenos de divisão mitótica, em que cada célula dá origem a outra igual, podendo observar-se o embrião de duas células (1.o dia), quatro (2.o dia), oito (3.o dia) (Figs. 28 a 30), etc., até um número incontável de células (4.o dia) designado por mórula (Fig. 31). Prossegue multiplicação contínua, mas segue-se um processo de organização/diferenciação celular que dá origem ao blastocisto, que é uma entidade mais organizada, com um pólo de massa embrionária implantatória (trofoectoderme polar) e uma cavidade com líquido (5.o e 6.o dias) (Fig. 32). Figura 27. Pronúcleos. Figura 29. Embrião de quatro células. Figura 28. Embrião de duas células. Figura 30. Embrião de oito células. 44 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Os espermatozóides ligam-se à zona pelúcida (binding), iniciam a reacção do acrossoma e penetram na zona pelúcida (zona penetration) para se ligarem à membrana plasmática (membrana fusion) do ovócito. De seguida, um dos gâmetas masculinos funde-se com o ovócito, penetra no citoplasma, e o óvulo está fertilizado, podendo observar-se uma célula com dois pronúcleos e dois globos polares (Fig. 27). Os dois pronúcleos, masculino e feminino, apõem-se, destroem as membranas pronucleares que os envolvem e emparelham os cromossomas de forma alinhada − singamia. Figura 32. Blastocisto. O processo de proliferação celular e a diferenciação em blastocisto, que é a estrutura com capacidade implantatória, demora cerca de sete dias, e ocorre na trompa nos primeiros quatro e na cavidade uterina nos últimos três. A fecundação in vitro iniciou uma verdadeira revolução no tratamento da infertilidade com nascimento, em 1978, de Louise Brown. Os tempos essenciais do tratamento constam, de estimulação médica dos ovários (gonadotrofinas com efeito FSH) que proporciona um desenvolvimento folicular múltiplo, indução da maturação ovocitária (gonadotrofina com efeito LH), aspiração e recolha dos ovócitos por ultrassonografia transvaginal, processamento in vitro dos gâmetas e fecundação, cultura de desenvolvimento embrionário e transferência para a cavidade uterina. Dada a sua disseminação, estima-se que nasceram já mais de três milhões de crianças em todo o mundo fruto da fecundação in vitro, que se realiza um número superior a 500.000 ciclos por ano na Europa, o que significa contribuir com 1 a 6% para o total de crianças que nascem por ano neste continente4-6. Posteriormente, os desenvolvimentos do tratamento base vieram permitir a realização da ICSI de espermatozóide e o diagnóstico genético pré-implantatório. O objectivo de qualquer tratamento FIV deve ser o de realizar a terapêutica com sucesso, mas de uma forma simples e cómoda. Os tratamentos de reprodução medicamente assistida são frequentemente caros e complexos. Uma boa prática clínica, deve investir em esforços que reduzam os obstáculos colocados aos doentes, tentar simplificar os tratamentos e diminuir o stress emocional e psicológico a que os casais estão sujeitos. Por isso, são muito importantes todos os protocolos ou procedimentos cujo objectivo seja de simplificação, de alívio da pressão sobre os doentes e de diminuição dos custos. Os tratamentos de fecundação in vitro têm vindo a melhorar as suas taxas de gravidez, que em muitas clínicas se situam entre os 40 e os 50% por transferência embrionária. Os resultados europeus assinalam uma média de 30% de gravidez por transferência, que em Portugal é de 35,4% e de 26,8% de parto8. A fecundação in vitro tornou-se de tal forma um tratamento de rotina que, por vezes, embora de forma inadequada, existe algum facilitismo na proposta para a sua realização. Embora as indicações clássicas sejam o factor tubar e o factor masculino, a sua aplicação tem vindo progressivamente a ser estendida a outras causas da infertilidade. O desejo de conseguir um filho no mais curto Infertilidade 45 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 31. Mórula. As profundas alterações originadas pela idade no processo da reprodução levam algumas clínicas a propor sistematicamente a doação de ovócitos depois dos 40 anos. Claro que os critérios são variáveis de centro para centro, mas à medida que a probabilidade de gravidez por transferência embrionária cai para menos de 10%, muitos não deixam de considerar que deve ser comparada com os 50 a 60% obtidos nos ciclos com doação de ovócitos. Existe também um efeito da idade paterna na probabilidade de êxito dos ciclos FIV, embora não comparável ao da influência da idade feminina. Ele é discreto e inicia-se um pouco mais tarde, por volta dos 50 anos. Avaliação uterina No contexto da proposta de fecundação in vitro, deve ser realizada uma técnica de imagem que permita a avaliação da cavidade uterina. Os defeitos endometriais, os miomas, as anomalias congénitas como o septo ou o útero bicórneo, as sinequias, as endometrites, devem ser identificadas antes da realização de um tratamento FIV. A histerossalpingografia continua a ser importante, embora possa ser complementada pela histerossonografia com soro fisiológico. A histeroscopia de consultório (mini-histeroscopia) é também uma opção, tornando-se um exame indispensável perante suspeita levantada por outra técnica de imagem ou após o insucesso de dois ciclos FIV (Figs. 33 a 35). Quadro 6. Indicações da fecundação in vitro Factor tubar Endometriose Infertilidade inexplicada Oligo/asteno/teratospermia moderadas Insucesso com outras técnicas (IIU) Idade avançada 46 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 período de tempo, associado à divulgação pela comunicação social da existência de novas técnicas e medicamentos, bem como um mais fácil acesso a serviços de infertilidade, constituem factores de grande importância no crescente aumento de recurso a cuidados médicos nesta área188. O leque de eventuais indicações consta do quadro 6. A idade feminina é o factor com maior influência no sucesso da fecundação in vitro e, tal como com a fecundação espontânea, as probabilidades de gravidez declinam acentuadamente a partir dos 35 anos. Dados dos registos da SART salientam um declínio acentuado e progressivo das percentagens de gravidez a partir dos 35 anos de idade da mulher e uma quase inexistência de probabilidade de “êxito” a partir dos 40189 (Fig. 22). Também outros estudos mostram, no contexto FIV, uma percentagem de partos por punção de 36,9% em mulheres com idade inferior a 35 anos, que diminui para 20,5% entre os 38 e os 40, e que é de apenas 10,7% aos 41/42 anos9. A importância deste aspecto deve ser salientada, porque em mais de 50% dos casais que recorrem à fecundação in vitro a mulher tem idade igual ou superior a 35 anos e em quase 90% mais de 308,190. Acresce que o progredir da idade da mulher está também associado a aumento da percentagem de abortamento e do risco, pequeno mas significativo, de ocorrência de anomalias cromossómicas no recém-nascido. Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 33. Mini-histeroscopia – sufusões hemorrágicas dispersas, septo e miomas (cortesia de Campo R, LIFE). Figura 34. Mini-histeroscopia – polipose endometrial e mioma (cortesia de Campo R, LIFE). Figura 35. Mini-histeroscopia – endometrite, defeitos endometriais e hipervascularização (cortesia de Campo R, LIFE). Infertilidade 47 Figura 36. Ressectoscopia de mioma. Os miomas subserosos não prejudicam a probabilidade de gravidez e habitualmente não são tratados, a não ser que despertem sintomas ou possuam grandes dimensões. A maior controvérsia reside sobre o que fazer perante miomas intramurais. A proximidade em relação à cavidade endometrial, o tamanho, o número, a existência ou não de desvio da linha endometrial, são parâmetros a ter em conta e que podem influenciar a decisão de realizar miomectomia, já que os miomas intramurais são susceptíveis de diminuir a probabilidade de gravidez72. O hidrossalpinge é outra entidade patológica a requerer intervenção cirúrgica antes da realização de um ciclo FIV. As mulheres com hidrossalpinge têm menor probabilidade de conseguir gravidez por FIV do que as que não apresentam esta patologia. Embora não seja completamente conhecida a razão pela qual as probabilidades de gravidez di- 48 minuem nas mulheres com hidrossalpinge, alguns autores falam de um efeito mecânico da afluência de líquido tubar para a cavidade uterina, enquanto outros salientam o efeito tóxico sobre o desenvolvimento embrionário. Um estudo multicêntrico randomizado mostrou que, de forma indiscutível, ocorria um aumento das taxas de gravidez FIV nas doentes operadas previamente de salpingectomia ou de oclusão tubar proximal por motivo de hidrossalpinge192,193. Avaliação ovárica e exames analíticos Os exames analíticos a solicitar antes da realização de um ciclo de fecundação in vitro constam do quadro 7. Há que reconhecer que este conjunto de exames analíticos é porventura exagerado, como por exemplo no que se refere a alguns doseamentos hormonais, cuja avaliação dificilmente acarretará benefício para o ciclo FIV. Claro que o doseamento da PRL, das hormonas tireóideas e esteróides, é imprescindível para avaliação em outros contextos de infertilidade, como por exemplo por anovulação ou quadros endócrinos. Mas na ausência de quadros clínicos com sintomas ou sinais físicos específicos, a avaliação hormonal, bem como outros parâmetros analíticos, podem ser limitados. Uma reserva ovárica diminuída traduz-se pela dificuldade/incapacidade do ovário em responder à estimulação e de fornecer ovócitos maduros que possam originar embriões viáveis e gravidez. Assim, é importante a avaliação prévia da função ovárica, como tentativa de identificação das eventuais más respondedoras. Essa identificação permite avaliar o prognóstico, alterar protocolos de tratamento ou indicar alternativas como a doação de ovócitos. No entanto, desaconselhar o tratamento com base nos testes de avaliação da função ovárica não é uma atitude recomendável e pode originar erros importantes, porque os métodos disponíveis não permitem uma avaliação fidedigna, são muitas vezes falíveis e nenhum possui uma acuidade suficiente para indicar a forma exacCapítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Cirurgia prévia a fecundação in vitro Por vezes, o exame ultrassonográfico revela a existência de miomas uterinos, cuja necessidade de intervenção cirúrgica é estabelecida pelo número, localização e tamanho dos tumores. Os miomas submucosos dificultam a implantação e, em relação a estes, existe consenso sobre o benefício da ressecção histeroscópica antes do ciclo FIV191 (Fig. 36). Mulher Homem Hemograma com plaquetas Hemograma com PLT Grupo sanguíneo e factor RH Grupo sanguíneo e factor RH Glicemia, ureia, creatinina, ácido úrico VDRL, Atg e Atc Hbs, HCV TGO, TGP, fosfatase alcalina, γ-GT, Bilirrubinas e DHL HIV I e II Serologias: rubéola, toxoplasmose, VDRL Atc CMV, Atg e Atc Hbs, Atc HCV, HIV I e II Doseamentos hormonais: TSH, T3 e T4 livre FSH, LH, PRL e estradiol (2.o/3.o dia pm) Δ4-androstenodiona, testosterona livre, DHEASO4, 17OHP Urina tipo II ta como o ovário irá responder à estimulação. De facto, a única maneira rigorosa de verificar a resposta ovárica é pelo juízo sobre o desenvolvimento folicular durante a estimulação. Assim, embora as tentativas de avaliação da reserva ovárica sejam uma prática frequente, o seu valor é discutível. Habitualmente utilizam-se o doseamento de FSH ao 3.o dia do ciclo, o teste do clomifeno, a contagem ultrassonográfica de folículos antrais em fase folicular precoce, doseamento da hormona antimulleriana e o teste da inibina B187. Alguns autores aconselham o doseamento de FSH ao 3.o dia do ciclo como método de identificação das doentes com reserva ovárica diminuída, indicando valores superiores a 15 mu/ml como denotando fraca reserva e previsão de má resposta à estimulação. O teste de clomifeno consiste na medição do nível de FSH ao 3.o dia, seguido de uma nova avaliação ao 10.o, tendo sido administrados 100 mg do medicamento do 5.o ao 9.o. O teste é valorizado pela diferença de valores de FSH (mu/ml) entre os dois doseamentos. A contagem ultrassonográfica de folículos antrais em fase folicular precoce tem também idêntica finalidade, considerando-se que um Infertilidade número inferior a cinco por ovário permite prever má resposta e uma contagem de 5 a 10 é premonitória de boa estimulação. Os níveis de FSH ao 3.o dia do ciclo e a contagem ultrassonográfica dos folículos antrais, têm idêntico valor para predição da resposta ovárica e ocorrência de gravidez. De forma genérica, um teste prévio normal não tem muito significado, mas um resultado anormal tem valor de previsão de insucesso194. De qualquer forma, estes testes têm de ser valorizados em função do contexto clínico global em que outros parâmetros, como a idade ou a massa corporal, têm também valor preditivo importante. E é no contexto de todos os parâmetros clínicos que a avaliação da reserva ovárica deve ser valorizada e estabelecido o aconselhamento das doentes candidatas a FIV. Uma mulher com mais idade e reserva ovárica diminuída terá menor probabilidade de gravidez e poderá escolher como alternativa a doação de ovócitos. Uma outra, jovem, com testes de avaliação da reserva ovárica anormais, poderá beneficiar da mudança para um protocolo de estimulação diferente do inicialmente previsto. 49 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 7. Exames analíticos pré-FIV Protocolos de estimulação Ciclo natural No início do ciclo menstrual, a GnRH estimula a hipófise anterior a libertar uma mistura de FSH e LH que origina o recrutamento e crescimento de um determinado número de folículos primordiais. O FSH actua nos seus receptores das células da granulosa e aumenta a actividade aromatásica que transforma os androgénios, produzidos pela teca sob a acção de LH, em estrogénios. À medida que os folículos crescem, incrementa-se a acção de FSH e LH nesses fo- lículos, aumenta a produção de androgénios e a sua transformação em estrogénios (androstenodiona em estrona e testosterona em estradiol). O estradiol é produzido em concentrações progressivamente mais elevadas e o aumento dos seus níveis sanguíneos tem efeito de retrocontrolo negativo sobre FSH, cujas concentrações diminuirão, originando o processo de selecção do folículo dominante. Um folículo continuará a desenvolver-se e a produzir quantidades crescentes de estradiol, enquanto os restantes evoluirão para a atrésia/apoptose. No essencial, o folículo que adquiriu maiores dimensões e sensibilidade ao FSH continuará a aumentar a produção de estradiol, enquanto os folículos de menores dimensões e menos sensíveis evoluirão para a atrésia como consequência dos decrescentes níveis de FSH provocados pelo retrocontrolo negativo. O folículo seleccionado como dominante continuará a desenvolver-se até aos estados pré e ovulatório, sendo possível a utilização do ovócito nele contido para realização da fecundação in vitro. Foi por intermédio da colheita laparoscópica de um ovócito em ciclo natural que resultou o nascimento de Louise Brown em 1978195. Como no ciclo natural se obtém um único ovócito e existem grandes dificuldades em identificar o “momento” ovulatório, bem como de calendarização da colheita para momento adequado, desenvolvimentos posteriores vieram habilitar-nos com agentes farmacológicos capazes de induzir crescimento folicular múltiplo, com a possibilidade de obter vários ovócitos por ciclo, e controlar o tempo de maturação e extracção dos ovó- Quadro 8. Anomalias do espermograma Oligospermia: < 20 milhões espermatozóides/ml Astenozoospermia: < 25 % com progressão rápida Teratospermia: formas normais < 15 % Azoospermia: ausência de espermatozóides no ejaculado 50 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Avaliação masculina A avaliação prévia ao ciclo de fecundação in vitro requer o estudo da vertente masculina. A análise do espermograma, nos seus diferentes parâmetros, em particular de número, morfologia e motilidade dos espermatozóides, identificará muitas situações com anomalias (Quadro 8), algumas das quais só poderão ser ultrapassadas por recurso à ICSI, embora possam existir factores masculinos subtis com valores normais no seminograma. Em algumas situações de azoospermia, podem obter-se espermatozóides por meios cirúrgicos, aspiração do epididimo e aspiração ou biopsia testicular, realizados em ambulatório. O material obtido fica disponível a fresco ou será objecto de criopreservação para utilização em ciclos posteriores. As probabilidades de gravidez na oligospermia grave são equivalentes às verificadas para outros diagnósticos de infertilidade, em particular na ausência de associação com factores femininos. Gonadotrofinas A maioria dos programas FIV baseia-se na estimulação ovárica com gonadotrofinas exógenas. As mais frequentemente utilizadas são as recombinantes e as purificadas extraídas da urina de mulheres pós-menopáusicas. Os resultados da FIV com protocolos de estimulação com gonadotrofinas situam-se entre os 20 e os 50%, o que é muito superior ao verificado em ciclo natural ou quando a estimulação é efectuada com citrato de clomifeno. A administração é intramuscular ou subcutânea, existindo diversos preparados farmacológicos, com proporções variáveis de FSH e LH (u-FSH 1:1, hp-FSH 75:1, r-FSH 75:0, r-FSH e r-LH 150:75). O FSH e o LH são proteínas glicosiladas com uma cadeia α e outra β, sendo que a subunidade α de LH, é também comum à HCG. Nenhuma das subunidades tem actividade biológica individual. Inicialmente eram necessários quatro a cinco litros de urina para fabricar uma ampola de 75 unidades de FSH. Posteriormente, foi desenvolvido um anticorpo monoclonal específico que permitiu aumentar a pureza das preparações FSH, ora designadas de FSH-HP (altamente purificado) de administração subcutânea. Em tempo ulterior, e por técnicas de engenharia genética, foi conseguida a síntese de FSH, LH e HCG denominadas de recombinantes, porque o primeiro passo foi o de reconstruir a sequência do ADN necessário à sua produção. Infertilidade Foram realizados diversos estudos de comparação de ciclos FIV com administração dos diferentes preparados, não se podendo afirmar que exista uma inequívoca superioridade de algum deles sobre os outros, quer no que respeita à dose necessária para estimulação, quer quanto à qualidade dos ovócitos e embriões obtidos ou às taxas de gravidez. Análogos da hormona libertadora das gonadrofinas Quando as gonadotrofinas são isoladamente utilizadas para estimulação ovárica em ciclos FIV, 20 a 30% dos ciclos têm de ser cancelados por virtude da ocorrência de ondas prematuras de LH. Recorde-se que, em ciclo espontâneo, a onda de LH é desencadeada por um feedback positivo do estradiol produzido pelo folículo dominante, a partir de níveis sanguíneos de 150-200 pg/ml. Nos ciclos estimulados contribuem para os níveis sanguíneos de estradiol vários folículos de menores dimensões que, em conjunto, isto é pelo somatório das suas produções, fazem com que mais rapidamente se atinjam os níveis desencadeantes do feedback positivo sobre LH, o qual, por seu turno, inicia a luteinização precoce da granulosa, antes de completado o desenvolvimento e maturação foliculares, e fenómenos de degenerescência ovocitária. Para impedir o prematuro aparecimento da onda de LH, foram introduzidos, nos anos 80, os agonistas de GnRH aplicados à fecundação in vitro. A GnRH é um decapeptídeo segregado de forma pulsátil pelo hipotálamo, para estimular a libertação do LH e FSH hipofisários. Quando produzido com pulso de maior frequência ou amplitude, ou de forma contínua, ocorrerá inicialmente uma estimulação rápida e intensa da hipófise, com elevação dos níveis de FSH e LH mas, ao fim de alguns dias, verificar-se-á um fenómeno de saturação dos receptores hipofisários (down regulation) que impedirá a acção de GnRH e levará à ausência de resposta por parte da 51 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 citos. Diversos estudos que compararam as probabilidades de gravidez FIV em ciclo natural com ciclos estimulados, demonstraram que as taxas são menores em ciclo natural (0 a 6%) do que com estimulação com citrato de clomifeno (6 a 10%) e significativamente superiores quando utilizadas gonadotrofinas (20 a 50%). Podem ser ainda melhoradas quando à estimulação com gonadotrofinas se associa a supressão da onda endógena de LH (30 a 60%)187. GNRH AG fise e o impedimento da ocorrência de ondas prematuras de LH. Numerosos estudos permitiram concluir pela vantagem de utilização dos análogos agonistas de GnRH nos ciclos FIV estimulados com gonadotrofinas, com diminuição das taxas de cancelamento para apenas cerca de 2% e obtenção de maiores percentagens de gravidez. Mas o objectivo pode não ser o de obter um efeito de estimulação folicular adicional ao das gonadotrofinas, mas somente o de evitar a onda prematura de LH e, neste caso, a administração do agonista deverá iniciar-se no final da fase luteínica do ciclo anterior. Nessa fase, o efeito estimulador não terá qualquer consequência, porque será administrado numa época em que o recrutamento folicular é impossível e em que apenas existe regressão espontânea do corpo amarelo. Neste enquadramento, a estimulação com gonadotrofinas apenas se iniciará quando o efeito de dessensibilização hipofisária estiver completo, isto é, cerca de 10/12 dias após o início da administração do análogo e na presença de um valor de estradiol inferior a 50 pg/ml (protocolo longo) (Fig. 38). GNRH - AG HCG FSH FSH HCG 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Figura 37. FIV/ICSI protocolo curto. 52 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 hipófise. Esta é, também, a forma de acção dos seus análogos agonistas. De forma diferente, os análogos antagonistas actuam por inibição competitiva, sem efeito estimulador inicial, originando uma supressão imediata da libertação das gonadotrofinas. É possível, por meios sintéticos, substituir aminoácidos nas cadeias do decapeptídeo GnRH e, conforme o tipo e posição dos substituídos, obter análogos com acção agonista ou antagonista, resistentes à degradação por endopeptidases, dotando-os de uma acção biológica mais activa e duradoura. Assim, os análogos de GnRH possuem uma maior afinidade e um maior tempo de ocupação dos receptores. Quando análogos agonistas são administrados no início de um ciclo FIV, em simultâneo com as gonadotrofinas (protocolo curto) (Fig. 37) a acção inicial é estimuladora e adicional, o que levará ao desenvolvimento de mais folículos e à obtenção de um maior número de ovócitos na punção mas, ao fim de alguns dias, ocorrerá a saturação hipofisária, a inibição do eixo hipotálamo-hipó- GNRH AG HCG FSH FSH HCG 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 - 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Ciclo anterior E2 < 50 pg / ml 3 Fols > 17 mm Figura 38. FIV/ICSI protocolo longo. De forma diferente, os antagonistas suprimem a hipófise por um mecanismo de inibição competitiva e ocupação dos receptores da GnRH endógena196. A sua aplicação clínica é baseada na capacidade de bloquearem a secreção das gonadotrofinas de forma rápida, reversível, e prevenirem a ocorrência prematura da onda de LH. Os antagonistas têm um efeito imediato e os níveis de FSH e LH diminuem rapidamente. A função hipofisária normaliza logo que é retirada a administração do antagonista. As características de uma supressão de LH e FSH dependente da dose, directa e rápida, com imediata restauração da função hipofisária após a suspensão do medicamento, vieram proporcionar a simplificação dos protocolos de estimulação ovárica para FIV (Fig. 39). GNRH-ANTAG GNRHANTAG HCG FSH FSH HCG 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Figura 39. FIV/ICSI protocolo com antagonista. Infertilidade 53 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 GNRH - AG Colheita de ovócitos Nos primórdios da FIV, a colheita dos ovócitos exigia cirurgia laparoscópica. Posteriormente, foram implementadas técnicas guia- das por ecografia transabdominal utilizando a bexiga como janela ultra-sónica. Hoje, a colheita ovocitária é efectuada por ultrassonografia transvaginal com agulhas de punção introduzidas (16/17 gauge) em guias inseridos na sonda. Para obtenção do conteúdo folicular, apenas é necessária uma seringa acoplada ao tubo de aspiração da agulha, obtendo-se habitualmente ovócitos em 50 a 80% dos folículos aspirados187. A recolha é rápida e preferencialmente efectuada sob analgesia/sedação. A sala onde é efectuado o procedimento deve estar devidamente equipada e em localização anexa ao laboratório de biologia, para que o transporte dos gâmetas femininos se efectue de forma rápida e sem precalços. Os conteúdos foliculares obtidos, no seio dos quais se encontram os ovócitos, são processados num microscópio estereoscópico em placas de Petri previamente aquecidas a 37o. Os ovócitos são isolados e lavados em meio apropriado, que retira o excesso de sangue, permitindo uma melhor observação dos gâmetas femininos e das células da granulosa que os envolvem. A avaliação da maturação ovocitária é efectuada por observação da expansão das células do complexo cumulus-corona. Um ovócito pré-ovulatório, ou maduro, é o que apresenta expansão e luteinização do cumulus, com disposição radial da corona, assemelhando-se à imagem do sol (Fig. 41). Figura 40. Ultrassonografia: endométrio «trilaminar». 54 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Da investigação publicada, pode concluir-se por taxas de gravidez semelhantes nos protocolos de estimulação que utilizam análogos agonistas ou antagonistas, embora nos ciclos com antagonistas possa ocorrer um menor número de folículos desenvolvidos mas também, eventualmente, uma melhor qualidade ovocitária. No entanto, o mais importante é que o número de embriões transferidos, a qualidade embrionária, as taxas de implantação e as percentagens de gravidez clínica são idênticas. Nos ciclos de fecundação in vitro, a maturação folicular final, o início da luteinização das células da granulosa e o reactivar da meiose ovocitária, são obtidos pela HCG («parente» de LH) administrada quando se objectivam três ou mais folículos com diâmetro superior a 17 mm, devendo a punção folicular ser agendada para 34 a 36 horas após a administração intramuscular do fármaco. Também o estado de desenvolvimento do endométrio deve ser acompanhado, considerando-se como idealmente preparado o que apresentar um aspecto ecográfico «trilaminar» e espessura entre 8 a 12 mm (Fig. 40). A recuperação “pós-operatória” é também rápida e a doente pode regressar ao domicílio uma a duas horas após a punção. Punção folicular – material e procedimentos de laboratório Material: Agulha de punção Seringas de 20 ml estéreis para aspiração dos folículos com PBS Seringa de 5 ml estéril com SPM para lavar ovócitos Agulhas de gauge estéreis para todas as seringas PBS para lavar a agulha de punção e para aspiração de folículos Placas de Petri (grandes e pequenas) estéreis Pipetas Pasteur estéreis para pesquisa dos ovócitos Tetina Lupa com base aquecida a 37 oC Câmara de fluxo laminar Todos os meios são pré-equilibrados durante 24 h na estufa de CO2 a 37 oC. Procedimentos: Dia –1: Colocar uma etiqueta na estufa com o nome da paciente, número de processo e técnica de PMA a ser realizada. Infertilidade 55 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 41. Ovócito maduro (disposição radial da corona – «imagem de sol»). — Identificar a placa de quatro poços com o nome da paciente e: v Se se tratar de uma FIV, colocar nos poços 1, 2 e 3 um volume de 0,7 ml de IVF e no poço 4 um volume de 0,7 ml de ISM1. v Se se tratar de uma ICSI, colocar nos poços 1 e 2 um volume de 0,7 ml de IVF e nos poços 3 e 4 um volume de 0,7 ml de ISM1. — Para cada punção colocar dois tubos na estufa com cerca de 9 ml de PBS, um tubo também cheio com SPM e dois tubos com gradientes a 80 e 55% num volume de 4 ml cada. Dia 0: — Ligar a câmara de fluxo laminar 30 minutos antes da punção e limpá-la muito bem com H20 bidestilada estéril e uma gaze. — Lavar agulha de punção com aproximadamente 2 ml de PBS. — Encher três seringas (o n.o depende do n.o de folículos) com 1 ml de PBS deixando-as com a agulha para evitar contaminações. Colocá-las na estufa a 37 oC. — A agulha de punção e as seringas são entregues ao responsável pela aspiração folicular no início da punção. — Colocar as placas de Petri (2-3 grandes e uma pequena) na placa aquecida (37 oC). — As seringas com líquido folicular são mantidas a 37 oC enquanto se pesquisam os ovócitos. — Colocar SPM na placa de Petri pequena. — Colocar o líquido folicular numa placa de Petri grande (tampa e fundo) e pesquisar os ovócitos à lupa, com baixa intensidade luminosa, o mais rapidamente possível. — Lavar agulha de punção e seringas numa placa já pesquisada para ver se não ficou nenhum ovócito esquecido no líquido folicular residual. — Os ovócitos são bem lavados em SPM e se necessário é-lhes retirado o sangue das células da granulosa com a ajuda de duas agulhas de insulina. Posteriormente são colocados em placa de quatro poços no 1.o poço que contém IVF e guardados na estufa a 37 oC e 5% de CO2. Material: Frasco estéril para colheita do esperma Estufa de CO2 a 37 oC Lâminas e lamelas Microscópio Câmara de Neubauer Centrífuga Tubos de centrífuga SPM SSS Catéter de transferência Agulhas de gauge estéreis para todas as seringas Pipetas Pasteur estéreis para as lavagens do esperma Tetina Micropipeta e pontas de micropipeta Câmara de fluxo laminar Todos os meios são pré-equilibrados durante 24 h na estufa de CO2 a 37 oC. Procedimentos: Dia −1: — Preparar quatro tubos contendo: v Tubo 1: 10 ml de SPM. v Tubos 2 e 3: 4 ml de gradiente de 80 e 55% em cada. v Tubo 4: 10 ml de PBS. — Preparar uma placa de quatro poços de meio de cultura. Os poços 1, 2 e 3 devem ser preenchidos com 0,7 ml de IVF e o poço 4 com 0,7 ml de ISM1. — Colocar tudo o que foi preparado na estufa. Dia 0: A primeira fase de uma FIV é a punção, pelo que devem ser seguidos os passos descritos no respectivo protocolo de punção. — Colocar os ovócitos depois de pesquisados e isolados no poço número 1 da placa de quatro poços, na estufa, a 37 oC, três a quatro horas. — Centrifugar, por centrifugação fraccionada, o líquido espermático com SSS 80 e 56 55%, colocando por fim o esperma. São necessários cuidados para que os diferentes líquidos não se misturem. Este passo é praticado a 1.800 rpm durante 20 minutos. — O sobrenadante é retirado, acrescentando-se ao tubo SPM, levando-o a centrifugar durante 10 minutos a 1.100 rpm. Esta alínea é repetida mais uma vez. — Ao pellet resultante da última lavagem adicionar muito lentamente SPM, pondo-o inclinado a incubar na estufa a 37 o C – swim-up. — Com a câmara de Neubauer, contar os espermatozóides, ajustar o volume do líquido espermático de forma a ter mais ou menos 100.000 spz/ml por ovócito. — Retirar os ovócitos da estufa, já em IVF, e colocá-los em contacto directo com os spz no poço número 2. — Após 16 a 18 horas, desnudar os ovócitos, com pipetas de desnudação e observar a presença, e número, de pronúcleos, separando-se os zigotos que tenham dois pronúcleos e dois glóbulos polares dos restantes. — Após 48 horas, mudam-se os embriões para ISM2 se se optar por transferência dos embriões ao 4.o/5.o dia de desenvolvimento. Relativamente ao ponto 4, se o volume de pellet resultante é bom, adiciona-se 1 ml de SPM, caso contrário, o tempo de incubação é mais alargado e com menos volume. Transferência embrionária O desenvolvimento embrionário foi já descrito em outro ponto deste capítulo. A transferência é a última etapa dos tratamentos de fecundação in vitro e tem uma importância decisiva na probabilidade de êxito, podendo realizar-se com idênticas percentagens de gravidez entre o 2.o e o 5.o dia do desenvolvimento embrionário. Não está definido qual o melhor tipo de catéter a utilizar, nem o local ideal da cavidade uterina para colocação dos embriões. Estão Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Fecundação in vitro – material e procedimentos de laboratório Blastocisto livre Na cavidade uterina, o embrião continua o processo mitótico de proliferação celular e inicia a sua diferenciação. Neste crescimento e diferenciação intervêm, para além de outras substâncias, factores de crescimento e citocinas. Desenvolve-se um local apropriado («trofoectoderme polar») que, pela produção de proteínas específicas, irá proporcionar a adesão embrionária ao epitélio luminal200. Até este momento o embrião atravessou dois processos metabólicos distintos. Numa primeira fase, enquanto realiza o trajecto tubar, o seu metabolismo depende quase exclusivamente de factores intrínsecos, é praInfertilidade ticamente autónomo e transforma piruvato em glicose como forma de obter o principal substrato energético. O meio ambiente tem pouca influência no processo de metabolismo e diferenciação embrionária e funciona mais como facilitador do que como interveniente201. Esta é a razão pela qual é possível obter e manter embriões in vitro durante 48/72 horas com diversos meios de cultura relativamente simples e até observar o crescimento do trofoblasto humano em embriões «cultivados» em plástico202. Com a diferenciação celular e a preparação para a implantação ocorre no metabolismo embrionário uma transição para um processo que passa a envolver factores extrínsecos. É exigido ao blastocisto pré-implantatório uma adaptação metabólica ao ambiente uterino, com o qual desenvolve diversos tipos de interacções, influências e dependências, de forma complexa e insuficientemente conhecida. É pela complexidade e insuficiente conhecimento sobre estes factores extrínsecos que é difícil desenvolver meios de cultura apropriados e continuar a manter por mais tempo os embriões in vitro201. Estes aspectos realçam a importância do componente «secreção endometrial», que tem de ser apropriado e temporalmente adaptado às necessidades embrionárias para que o fenómeno implantatório possa progredir com êxito. Hatching Rotura da zona pelúcida, provavelmente provocada por tripsina produzida pela trofoectoderme, seguida de protusão da massa embrionária (dia 7). Produção de HCG, conjuntamente com diversas substâncias entre as quais factores de crescimento (factor de crescimento transformador A (TGF-A), EPF, PAF, insulina-like II, etc.) que sinalizam a competência embrionária para iniciar a implantação200. Assim, ocorre uma sucessão de sinais enviados do blastocisto alguns dos quais com possível acção local preparatória da implantação. 57 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 disponíveis diferentes tipos de catéteres, alguns especialmente concebidos para as transferências difíceis. O que parece claro em diversos estudos, e a nossa experiência também o confirma, é que quando a transferência é realizada sob controlo ecográfico transabdominal, as taxas de implantação e de gravidez são significativamente superiores ao verificado com um procedimento cego197,198. Após a transferência embrionária, todo o êxito do tratamento depende de um processo, ainda quase integralmente desconhecido e inacessível à interferência médica, a implantação, que é um fenómeno de grande complexidade e que do ponto de vista conceptual não pode ser limitado ao curto e imprevisível período em que o embrião se «agarra» ao útero. Implica o correcto desenvolvimento do embrião pré-implantatório, a preparação de um endométrio receptivo, a aposição e adesão na superfície epitelial, o reconhecimento materno da presença do embrião, a decidualização do endométrio e a manutenção do corpo amarelo199. No entanto, se considerarmos de modo particular os acontecimentos que ocorrem após a chegada do embrião à cavidade uterina e antes da invasão do estroma, podemos admitir sumariamente três etapas que, embora de separação artificial, são úteis do ponto de vista da compreensão global do fenómeno. Aposição/adesão Às acções progesterónicas de indução de secreção, activação do metabolismo endometrial, preparação do leito implantatório por transformações deciduais e vasculares, junta-se agora a de «limpeza» do lúmen glandular pela indução dos pinópodes (protusões celulares ultra-estruturais) que absorvem moléculas e fluidos «secando» e «limpando» a região uterina próxima do embrião200. Nessa área diminuem também as microvilosidades das células endometriais202. Entre os dias 6 a 8203 (dia 7), o blastocisto adere à zona epitelial seleccionada, atravessa a membrana basal e invade o estroma, porque os pinópodes extraem todo o fluido, o que, conjuntamente com microvilosidades curtas e escassas, permite o contacto directo entre blastocisto e epitélio possibilitando a adesão. A integridade do epitélio é em grande parte mantida por pontes intercelulares ultra-estruturais. Para se implantar o embrião tem de abrir brecha na barreira constituída por um epitélio cuja integridade é provavelmente controlada por acções hormonais. Por análise morfométrica constata-se que entre os dias 13 a 23 diminui a área de pontes intercelulares e diminui também a complexidade geométrica da organização intercelular204. Assim, o endométrio, que normalmente constitui uma barreira para o embrião, põe em causa a sua própria integridade e tornase receptivo, por virtude de um processo conduzido pelas hormonas esteróides204. Nesta etapa intervêm também numerosos produtos de secreção epitelial cujo papel específico individual não é completamente conhecido, estando no entanto demonstrada a sua dependência da acção progesterónica. 58 Esta sucessão de fenómenos demonstra, o que do ponto de vista clínico também deve ser salientado, a importância da duração de exposição à progesterona como factor fundamental na preparação do endométrio para a implantação. A deficiência da sua produção ou de adequada recepção da acção hormonal atingirá a maturação endometrial/nutrição embrionária, receptividade uterina/fase inicial da implantação, mas também a preparação vascular e endometrial/invasão trofoblástica, todas dependentes de adequadas preparações morfológica e fisiológica que possibilitem a implantação. Nos ciclos de doação de embriões verificase que existe um tempo de receptividade endometrial limitado ao que habitualmente se designa por «janela de transferência ou de receptividade». Neste tipo de ciclos, a obtenção de gravidez com embriões de 2/3 dias está restringida às transferências realizadas entre os dias 15 a 20 de um ciclo de 28, alcançando-se maior número de êxitos com as efectuadas entre os dias 17 a 19203,205-207. A transferência de embriões em dias situados fora dos limites da «janela de receptividade» está sistematicamente votada ao insucesso203,205-207. Também Bourgain, et al.208 e Davies, et al.209 referem que a ocorrência de gravidez com embriões doados depende do estado de maturação do endométrio. As elevadas percentagens conseguidas em mulheres com maturação adequada contrastam com os escassos êxitos obtidos nas com endométrio de desenvolvimento assíncrono ou com datagem atrasada mais de dois dias. Assim, pelos conhecimentos adquiridos nos ciclos de doação de embriões, sabe-se que o sincronismo entre desenvolvimento embrionário e maturação do endométrio é crucial para que possa ocorrer gravidez. A «afinação» deste sincronismo e provavelmente mediada por factores de crescimento que para o efeito utilizam receptores específicos e mensagens em cascata210. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Ao desenvolvimento de capacidade de adesão pelo citotrofoblasto, correspondem no endométrio intensas actividades metabólicas e de secreção estimuladas pela progesterona. Em simultâneo é induzido edema do estroma e a área vascular triplica por intermédio da espiralação arterial. Infertilidade embrião que chegou à cavidade uterina há 2/3 dias), o epitélio do lume das glândulas (local onde o embrião estabelece o primeiro contacto; secreção máxima ao dia 20 que é o de início da implantação), o estroma (cuja preparação é essencial para a implantação) e a interacção dos dois tipos celulares com células do sistema imunológico (revelada pela presença de receptores para as citocinas). Para além de dependerem das acções hormonais nomeadamente da relação E2/P, estes componentes são condicionados por interacções mútuas sabendo-se, por exemplo, que o estroma é indispensável para regular o crescimento, diferenciação e funções do epitélio215,216. A existência de sincronismo na diferenciação dos compartimentos endometriais208 e entre estes e o desenvolvimento do embrião (FIV) é importante factor para que a transferência tenha sucesso. Nos ciclos espontâneos existem certamente limites de tempo para além dos quais não é possível a este complexo e ainda não totalmente conhecido sincronismo funcionar. Ao contrário do verificado noutras espécies animais, o blastocisto humano não pode esperar por uma diferenciação endometrial minimamente apropriada217 e a implantação depende da existência, na altura própria, de uma maturação correspondente a um dos dias da janela implantatória. É possível que em diversas circunstâncias clínicas de infertilidade ou pelo menos de subfertilidade, atribuídas à influência de factores como a idade ou classificadas como inexplicadas, a assincronia entre desenvolvimento embrionário e maturação endometrial possa ter um contributo determinante. Mas no contexto FIV, estes conhecimentos salientam a importância da transferência de embriões com um desenvolvimento adequado e cronologicamente acertado, bem como da aceleração (comparativamente com ciclo espontâneo) da maturação endometrial pela administração de progesterona (oral, intravaginal ou intramuscular). 59 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Mas a implantação não é um fenómeno que dependa apenas da aquisição de capacidades por parte da mucosa uterina e do seu cumprimento em tempo útil. De facto, parece estar definido por estudos clínicos em ciclos espontâneos211,212, de FIV213 e com doação203, bem como por estudos morfológicos e de marcadores funcionais como as integrinas214, que a «janela implantatória» está limitada entre os dias 20 a 24 de um ciclo de 28 mas, dentro deste período, o tempo de implantação parece depender da idade do embrião não interferindo o grau de maturação endometrial para o desempenho do fenómeno. A conclusão deriva de um importante estudo de Bergh e Navot203. Estes investigadores transferiram embriões com idade semelhante (42-46 horas) para endométrios em diferentes estádios de maturação, embora com datagens em «fase» para o dia da respectiva transferência. Do lado embrionário, o primeiro sinal detectável de implantação (HCG) ocorreu sempre com um desenvolvimento de cerca de sete dias, cinco após transferência, e verificou-se independentemente do grau de maturação endometrial. Assim, desde que adquiridas condições que se sabe permanecerem por um período de tempo limitado, existe indicação de que a idade embrionária determina o momento implantatório e não se confirma a possibilidade de espera por condições óptimas, nem a capacidade de, como descrito para outros mamíferos, o endométrio induzir aceleração do desenvolvimento embrionário. Estes conhecimentos permitem concluir que em ciclos espontâneos deve existir sincronismo entre o desenvolvimento embrionário, transporte tubar e o processo de diferenciação do endométrio, cujo objectivo é o de proporcionar o máximo de receptividade, permitir e participar na implantação. Segundo Navot, et al.206 e Metzger215, esta depende da acção concertada de quatro componentes endometriais: o secretor (que proporciona o ambiente nutritivo ao Material UTM Catéter de transferência Lupa com base aquecida a 37 oC Câmara de fluxo laminar Seringa de 5 ml Procedimentos 1. Colocar no dia da manhã de transferência uma placa de quatro poços com o primeiro poço de 0,5 ml de UTM e o 2.o poço com 0,4 ml de ISM1 e um tubo nunc com 0,7 ml de ISM1 para lavar o catéter. 2. Os embriões seleccionados a transferir são lavados em ISM1 para retirar o óleo e colocados em UTM 15 minutos antes da transferência propriamente dita. 3. Acoplar a seringa com ISM1 (que está a equilibrar no tubo nunc) ao catéter para o lavar. 4. Puxar o êmbolo da seringa 0,02 ml. 5. Carregar o catéter de transferência como desenhado, aspirando um pouco de meio, depois ar, embriões, ar e tapar com meio meio ar meio+embriões ar meio 6. Depois da transferência verificar se todos os embriões foram transferidos, lavando o catéter na placa de meio de cultura e confirmar à lupa. Apoio da fase luteínica O apoio da fase luteínica é muito importante para o sucesso do ciclo FIV, em particular quando utilizados os análogos agonistas, porventura implicados em defeitos de fase luteínica. A administração de progesterona é a forma mais utilizada para apoio luteínico quer por via oral, quer vaginal ou intramuscular. Uma metanálise sugere que a via oral é a menos efectiva218. As formas mais frequentemente utilizadas são constituídas por progesterona micronizada para colocação intravagi- 60 nal. A HCG, embora efectiva, não deve ser utilizada por motivo de probabilidades de hiperestimulação inaceitáveis. A administração de progesterona deve iniciar-se no dia da punção e prolongar-se até às 11/12 semanas de gravidez. Complicações da fecundação in vitro Síndrome de hiperestimulação ovárica É frequente encontrarem-se ovários bastante aumentados de volume durante a estimulação ovárica com gonadotrofinas. A síndrome de hiperestimulação consiste numa resposta exagerada às gonadotrofinas e à administração da HCG, só muito raramente ocorrendo com outros agentes farmacológicos, tem uma incidência com significado clínico de 0,5%, é geralmente autolimitada e de regressão espontânea, embora possa persistir por períodos mais longos nos ciclos em que ocorreu concepção. A sua etiopatogenia não é bem conhecida, mas está relacionada com os volumosos quistos que se desenvolvem nos ovários, com elevados níveis de estradiol e produção de substâncias vasoactivas como o factor de crescimento do endotélio vascular (VEGF) (aumento da vascularização e da permeabilidade vascular). Pensa-se, que o VEGF é um dos mais importantes elementos envolvidos na fisiopatologia da síndrome, embora muitos outros, incluindo a angiotensina 2, o factor de crescimento da insulina (IGF1), o epidermal growth factor (EGF), o factor de crescimento transformador (TGF), o BFGF, o PDGF e as interleucinas possam também estar envolvidos. O ponto-chave da síndrome da hiperestimulação ovárica é o aumento da permeabilidade vascular, resultando em desvio maciço de líquidos do espaço intravascular para o terceiro espaço podendo assumir aspectos graves, que põem em risco a vida da mulher, com ascite, derrame pleural, desequilíbrio hidroelectrolítico e tromboembolismo. São elementos de risco para o seu desenvolvimento: idade jovem, baixo peso, síndrome do ovário micropoliquístico, altas doses de Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Transferência de embriões – material e procedimentos de laboratório Infertilidade Algumas recomendações: ingestão de líquidos superior a um litro por dia (bebidas com electrólitos); actividade repousada (não realizar exercício físico); medição diária do peso; aumento de peso ou diminuição de micção devem ser comunicados ao médico. Se os sintomas são mais graves, ou aumentam, é necessária hospitalização com instituição de medidas de suporte, administração de analgésicos, fluidoterapia endovenosa para aumento do volume plasmático e correcção de desequilíbrios hidroelectrolíticos (ponderando o significativo aumento da permeabilidade vascular), monitorização das funções renal e pulmonar. Os líquidos (preferivelmente soro fisiológico) devem ser administrados no volume necessário para assegurar a manutenção do débito urinário e corrigir a hipovolémia, i.e., a hipotensão e a oligúria que são a prioridade da terapêutica, tendo sempre presente que a administração de fluidos pode contribuir para o aumento de líquidos no espaço extravascular. Pode ser necessária paracentese transabdominal ou por via vaginal em doentes com ascite dolorosa, comprometimento da função pulmonar ou oligúria/anúria. O tromboembolismo é uma complicação grave da síndrome de hiperestimulação ovárica. Deve ser instituída a sua prevenção e por vezes é necessário suporte endovenoso, apoio respiratório e terapêutica com heparina. A rotura de quistos ováricos com hemorragia, a torção, ou a gravidez ectópica podem exigir intervenção cirúrgica de urgência. O aspecto mais importante da síndrome de hiperestimulação ovárica é o da sua prevenção. Exige-se experiência de manuseamento das gonadotrofinas, não prescrevendo em excesso, diminuindo/cancelando a medicação nas situações de risco ou suspendendo/ atrasando a administração de HCG até que os níveis de estradiol se encontrem em planalto ou tenham diminuído significativamente219. De facto, é melhor suspender um ciclo e reiniciá-lo com doses mais baixas do que ter uma síndrome de hiperestimulação grave. 61 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 gonadotrofinas, níveis de estradiol a elevarem-se rapidamente, episódios prévios da síndrome de hiperestimulação. O risco é ainda aumentado pela repetida administração de HCG que, por isso, deve ser evitada. A ocorrência de gravidez aumenta a probabilidade, a duração, e a gravidade da situação. O quadro clínico pode assumir diferentes intensidades, leve, moderado e grave. Realcese, que é desencadeado pela HCG e que sem a acção desta hormona será sempre muito frustre. Se a HCG administrada por via intramuscular continua a estimular o ovário por cerca de nove dias, a proveniente da gravidez manterá esse estímulo continuadamente, agravando a síndrome que, na ausência de gestação, teria regredido em 7 a 10 dias. Por esta razão, nas situações de risco não deverá ser administrada HCG e, no contexto da fecundação in vitro, é preferível proceder à criopreservação embrionária cancelando a transferência. As formas leves são bastante frequentes e incluem desconforto e distensão abdominal transitórios, ligeira náusea, vómitos e diarreia. A forma moderada inclui a persistência ou agravamento destes sintomas e ascite, demonstrada por ultrassonografia. A síndrome adquire um carácter grave com o aparecimento de dor intensa, aumento de peso, ascite sob tensão, instabilidade hemodinâmica, dificuldades respiratórias, oligúria, ou alterações do hemograma e do balanço hidroelectrolítico. Existe o risco de tromboembolismo como resultado da hemoconcentração, da diminuição do fluxo sanguíneo periférico e da inactividade provocada pela distensão abdominal e pela dor. Excepcionalmente a vida fica ameaçada, em situações extremamente graves com insuficiência renal, insuficiência respiratória, rotura e hemorragia ováricas e tromboembolismo. As doentes com formas leves podem ser tratadas em ambulatório, com analgésicos orais, medição diária do peso, avaliação seriada de parâmetros laboratoriais como hematócrito, balanço hidroelectrolítico e creatinina, estando interdita a actividade sexual. indutores ou estimuladores da ovulação. Estudos recentes vieram demonstrar que não existe evidência da referida associação e que deverá ser relembrado o facto de a mulher infértil possuir, por si, um risco duas vezes aumentado de cancro do ovário. Gestação múltipla A gestação e o parto múltiplo podem ser considerados como das principais complicações da reprodução medicamente assistida. Esta complicação tem aumentado significativamente nas últimas décadas em muitos países desenvolvidos. Em Portugal, verificouse um aumento da incidência de partos múltiplos em paralelo com a disseminação das técnicas de PMA desde que, em 1988, nasceu a 1.a criança de fecundação in vitro conseguida por Pereira Coelho. Este aumento é especialmente significativo se comparado com o decréscimo da natalidade (Fig. 42). Figura 42. Partos múltiplos em Portugal (fonte: INE, Anuários Estatísticos de 1976 a 2002). 62 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Alguns autores sugerem o coasting como medida preventiva, referindo que não afecta o prognóstico do ciclo se não for prolongado por mais de três dias220. Porque a HCG é o factor nuclear de desenvolvimento da síndrome de hiperestimulação, a administração de uma dose menor (5.000 unidades) pode ser uma atitude prudente em doentes com risco. Em alternativa à HCG, o desencadeamento da onda de LH endógena, com agonistas da GnRH, promoverá a maturação ovocitária final. Alguns autores utilizaram profilacticamente a albumina endovenosa no momento da punção folicular, pretendendo assim reduzir o risco de desenvolvimento da síndrome de hiperestimulação221. Quanto ao benefício deste procedimento, os resultados de vários estudos não são conclusivos. Outros pretenderam associar um aumento do risco de cancro do ovário aos agentes plos que nos recém-nascidos de parto único. Também a percentagem de prematuridade (menos de 37 semanas) é, na gravidez gemelar, superior a 40%, o que é desfavorável em relação aos 10% das gestações de feto único. Os riscos de morbilidade e mortalidade perinatais relacionados com a prematuridade e o baixo peso são maiores à medida que aumenta o número de fetos em gestação. Alguns estudos recentes mostram uma incidência de paralisia cerebral cinco vezes superior na gestação gemelar dupla e 17 vezes na gestação de triplos, quando comparadas com a de feto único. O risco de pelo menos uma das crianças ter paralisia cerebral é estimado de 1 a 5% na gestação dupla, 8% na tripla e quase 50% na quádrupla. Apesar destes factos e de a tendência ter vindo a declinar, o registo ESHRE de 2009 (ano 2005) mostra ainda percentagens de partos duplos de 21%, e de 1% de triplos8. É porém verdade que a transferência sistemática de um único embrião não é uma política aceitável, para os casais e para os médicos, que pretendem conciliar a maior taxa de êxito com o menor risco. É então possível identificar um perfil de risco, i.e., grupos de doentes com risco aumentado de gravidez múltipla e de complicações no caso de ela ocorrer e, 60 50 40,2% 0.9* 40 32.0* 30 20 10 0 36,9% 5.2* 32.0* 13,2% 2.3* 67.1* 62.9* 32,0% 4.9* 32.2* 4.5* 29.5* 62.9* 66.0* 4 5+ 97.7* 1 2 3 26,6% Número de embriões transferidos Triplos ou mais Duplos Únicos Figura 43. Nados vivos por transferência e percentagens de partos múltiplos em FIV/ICSI (fonte: CDC, 2003). Infertilidade 63 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Nados vivos por transferência (percentagem) Claro, que a percentagem de gestações múltiplas está directamente relacionada com o número de embriões transferidos em cada ciclo de tratamento. A ilusão de que com o aumento do número de embriões transferidos se conseguiriam mais elevadas percentagens de «sucesso» não correspondeu à realidade, porque a partir da transferência de mais de dois embriões o número de recémnascidos vivos diminui (Fig. 43). Conhecidos também melhor os riscos da gestação múltipla, para a mãe e para o feto, de que são exemplos os aumentos das incidências de abortamento, pré-eclampsia, eclampsia, hemorragia anteparto, parto pré-termo, atraso do crescimento intra-uterino, aumento dos partos cirúrgicos, baixo peso ao nascer independentemente da idade gestacional, prematuridade, paralisia cerebral, retinopatia, surdez, problemas placentares e até malformações congénitas entre outros, a tendência dos últimos anos tem sido a de reduzir a um ou dois o número de embriões transferidos por ciclo e criopreservar eventuais embriões supranumerários. Mas mesmo limitando a dois o número de embriões transferidos, há que ter em mente que a mortalidade perinatal é cinco a seis vezes superior nos gémeos du- 5.8.3. MICROINJECÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA DO ESPERMATOZÓIDE (ICSI) As técnicas de fecundação in vitro continuam a revelar resultados insuficientes por tentativa com transferência (±30%), agravados em alguns casos particulares, como os das situações motivadas por infertilidade masculina, nas quais os êxitos ocorrem ainda em menor percentagem. Foi este facto que motivou o desenvolvimento de diversas técnicas de microfertilização, como a «dissecção parcial da zona» ou a «inseminação subzonal». A injecção intracitoplasmática de espermatozóide é o último passo do desenvolvimento das técnicas de microfertilização, predominantemente indicadas com o objectivo de ultrapassar a subfertilidade masculina, mas também utilizada em situações de reduzido número de ovócitos e de ausência de fecundação em FIV, permitindo alcançar percentagens de gravidez (mesmo em caso de infertilidade masculina muito grave) idênticas às da fecundação in vitro efectuada com outras indicações140,141. A primeira fase do tratamento é essencialmente clínica e comum à generalidade dos ci- clos de fecundação in vitro, assentando numa manipulação medicamentosa do eixo hipotálamo/hipófise/gónadas, com vista à obtenção de um razoável número de ovócitos (6/7) que possa ser utilizado para fertilização. Os procedimentos de colheita de ovócitos e os de laboratório são idênticos ao já descrito para FIV mas, após incubação, os ovócitos são novamente lavados em meio próprio e desnudados das células que os rodeiam, por meios bioquímicos (que utilizam a acção da enzima hialorunidase em substituição da acção do acrossoma do espermatozóide). O processo continua, com lavagens sucessivas que retiram o excesso de enzima e permitem o descolamento das células da granulosa. Podem então observar-se com nitidez as maturações nuclear e do citoplasma, bem como a textura do ooplasma. O fluido seminal é removido do ejaculado por intermédio de lavagens e centrifugações sucessivas, para selecção dos espermatozóides com melhores morfologia e motilidade. A injecção intracitoplasmática do espermatozóide é efectuada em placa aquecida a 37o num microscópio invertido com ampliação de 400x (Fig. 44). A agulha de injecção e a pipeta de holding (que imobiliza o ovócito) são constituídas por tubos capilares de vidro com um calibre de cerca de 0,009 e 0,0048 mm respectivamente (Fig. 44). Figura 44. Microscópio invertido; holding e agulha de microinjecção. 64 Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 partindo de uma política geral de transferência de dois embriões, realizar nessas doentes, a transferência de um único embrião. Figura 45. Microinjecção ICSI. Com o ovócito imobilizado, a pipeta que contém o espermatozóide penetra no oolema pela posição das três horas (para evitar o fuso acromático) e aspira um pouco de ooplasma para melhor envolver o espermatozóide, que é em seguida microinjectado (Figs. 46 e 47). A pipeta de injecção é retirada lenta e cuidadosamente. A figura 48 resume os procedimentos. O ovócito é libertado da holding e transferido para um meio de cultura apropriado ao seu desenvolvimento e o procedimento repetido em outros ovócitos em metáfase II. Dezasseis a dezoito horas mais tarde, pode constatar-se que os ovócitos fecundados possuem dois pronúcleos e dois glóbulos polares (Fig. 27). Habitualmente os dois pronúcleos estão muito próximos, formando um anel duplo ou figura de oito. A primeira divisão celular (embrião de duas células) observa-se entre as 24 e as 30 horas (Fig. 28), às 48 pode identificar-se o embrião com quatro células (Fig. 29), às 72 com oito (Fig. 30) e posteriormente com 12. O embrião é mantido em estufa, em meios de cultura apropriados, e cerca das 96 horas após fecundação (4.o/5.o dia) é possível observar que deu origem a um blastocisto (Fig. 32) que é transferido para a cavidade uterina, cuja mucosa foi entretanto preparada com progesterona administrada por via vaginal. Figura 46. Microinjecção ICSI. Figura 47. Microinjecção ICSI. Infertilidade 65 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Os espermatozóides são colocados em meio viscoso, polivinilpirrolidona (PVP), que lhes dificulta os movimentos. A completa imobilização é conseguida por intermédio da pipeta de injecção e por pressão realizada na cauda do espermatozóide contra o fundo da placa. Em seguida, o gâmeta masculino é lentamente aspirado pela cauda, num processo que está facilitado pelo uso de um circuito de óleo mineral ao qual a agulha se encontra ligada. O ovócito é fixado por pressão negativa à pipeta holding, com o glóbulo polar posicionado às 6 ou 12 horas (Fig. 45). Punção folicular Pesquisa dos ovócitos Desnudação enzimática dos ovócitos Preparação e tratamento do esperma Figura 48. Resumo esquemático ICSI. (cortesia de Alice Pinto). Microinjecção intracitoplasmática de espermatozóide – material e procedimentos Material Frasco estéril para colheita do esperma Estufa de CO2 a 37 oC Lâminas e lamelas Microscópio Câmara de Neubauer Centrífuga Tubos de centrífuga SPM SSS Catéter de transferência Agulhas de gauge estéreis para todas as seringas Pipetas Pasteur estéreis para as lavagens do esperma Tetina Micropipeta e pontas de micropipeta Câmara de fluxo laminar Todos os meios são pré-equilibrados durante 24 h na estufa de CO2 a 37 oC. Procedimentos Dia –1 — Preparar cinco tubos contendo: v Tubo 1: 10 ml de SPM. 66 v Tubo 2 e 3: 4 ml de gradiente de 80 e 55% em cada. v Tubo 4: 10 ml de PBS. v Tubo 5: 7 ml de parafina. — Preparar uma placa de quatro poços de meio de cultura. Os poços 1 e 2 devem ser preenchidos com 0,7 ml de IVF e os poços 3 e 4 com 0,7 ml de ISM1. — Colocar tudo o que foi preparado na estufa. Dia 0 A primeira fase de uma ICSI é a punção folicular, pelo que devem ser seguidos os passos descritos no respectivo protocolo de punção. — Colocar os ovócitos depois de pesquisados e isolados no poço número 1 da placa de quatro poços, na estufa, a 37 oC, três a quatro horas. — Centrifugar, por centrifugação fraccionada, o líquido espermático com SSS 80 e 55%, colocando por fim o esperma. São necessários cuidados para que os diferentes líquidos não se misturem. Este passo é praticado a 1.800 rpm durante 20 minutos. — O sobrenadante é retirado, acrescentando-se ao tubo, SPM, levando-o a centrifugar durante 10 minutos a 1.100 rpm. Esta alínea é repetida mais uma vez. Capítulo 28 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Estimulação ovárica Desnudação dos ovócitos Antes do procedimento laboratorial: Coloca-se uma placa de quatro poços a estabilizar na estufa cerca de duas horas antes da desnudação propriamente dita. Esta placa contém no poço número 1 0,3 ml de hydase, poço número 2 e 3 cerca de 0,4 ml de SPM e por fim no poço número 4, 0.5 ml de SPM. É de notar que os poços 1,2,3 são cobertos com parafina aquecida. — Transferem-se os ovócitos do poço 1 para a placa de quatro poços, isto é para o poço número 1 que contem a hidase. Devem permanecer na placa não mais de 30 segundos, sendo aspirados cuidadosamente com ajuda de pipeta de forma a facilitar a libertação das células foliculares. — Os ovócitos são de seguida transferidos sucessivamente para os restantes poços onde a desnudação é realizada com a ajuda da pipeta apropriada. — No final, transferem-se os ovócitos desnudados para o poço 2 da placa de quatro poços inicial onde ficam a aguardar a ICSI na estufa 2. A microinjecção só deve ser efectuada no mínimo uma hora após a desnudação. Após a microinjecção os ovócitos são colocados nos poços 3 e 4 da placa de quatro poços. Para o dia seguinte deve ser colocada a equilibrar na estufa uma placa de Petri com o número de gotas igual ao número de ovócitos sobre parafina (cada gota deve ser de 20 ul de ISM1). Dia 1 (18-20 horas após a inseminação): — Os ovócitos com 2PN devem ser transferidos para a placa de ISM1. Os ovócitos com 3PN devem ser de imediato eliminados e os ovócitos não fecundados devem ser avaliados mais tarde. — Colocar os zigotos na placa com gotas de meio de cultura de embriões estabilizada. Infertilidade — Colocar novamente na estufa a 37 oC sob atmosfera de CO2. Dia 2 (44-48 horas após a inseminação): — Retirar a placa com os embriões da estufa. — Verificar e registar a clivagem e qualidade embrionária. — Colocar os embriões novamente na estufa a 37 oC sob atmosfera de CO2. — Se transferência dia 5: v Colocar em estufa de CO2 a 37 oC uma placa de nunc ref. 153066 com gotas de 20 μl de meio de ISM2 para embriões com número igual ao de ovócitos seleccionados para cultura prolongada (sob parafina). Dia 3 (70-72 horas após a inseminação): — Retirar as placas com os embriões da estufa. — Verificar e registar a clivagem e qualidade embrionária. — Colocar os embriões novamente na estufa a 37 oC sob atmosfera de CO2. — Se transferência dia 5: v Colocar os embriões na placa de ISM2 com gotas de meio de cultura de embriões estabilizada. Bibliografia 1. Morice P, Josset P, Chapron C, Dubuisson JB. History of Infertility. Hum Reprod Update. 1995;1(5):497-504. 2. Isaacs JC. The patient voice in infertility. AWHONN Lifelines. 2005;9(5):363-4. 3. DESTAQUE, Informação à Comunicação Social, Instituto Nacional de Estatística, 29 de Dezembro de 2009. 4. Andersen AN, Gianaroli L, Nygren KG. Assisted reproductive technologie in Europe, 2000. Results generated from European registers by ESHRE. Hum Reprod. 2004;19:490-503. 5. Jensen TK, Andersen AN, Skakkebaek NE. Is human fertility declining? Advances in Fertility and Reproductive Medicine. International Congress Series. 2004;1266:32-44. 6. 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