UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA LUANA FERREIRA BARBOSA DISTRIBUIÇÃO DOS FENÓTIPOS DE GRUPOS SANGUÍNEOS ABH E LEWIS NA INFECÇÃO PELA HELICOBACTER PYLORI. BELÉM 2011 LUANA FERREIRA BARBOSA DISTRIBUIÇÃO DOS FENÓTIPOS DE GRUPOS SANGUÍNEOS ABH E LEWIS NA INFECÇÃO PELA HELICOBACTER PYLORI. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharelado em Biomedicina. Orientadora: Profª. Drª. Tereza Cristina de Oliveira Corvelo BELÉM 2001 LUANA FERREIRA BARBOSA DISTRIBUIÇÃO DOS FENÓTIPOS DE GRUPOS SANGUÍNEOS ABH E LEWIS NA INFECÇÃO PELA HELICOBACTER PYLORI. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharelado em Biomedicina, aprovado com o conceito 9,75 (EXCELENTE). Belém (PA), 14 de dezembro de 2011. Banca Examinadora: Profª. Drª. Tereza Cristina de Oliveira Corvelo ICB - UFPA (orientadora) Profª. Drª. Délia Cristina Figueira Aguiar (UFPA) Profª. Msc. Rosane do Socorro Pompeu de Loiola (LACEN-PARÁ) Profª. Drª. Rita de Cassia Mousinho Ribeiro - Suplente (ICB- UFPA) BELÉM 2011 i A Maria de Nazaré Ferreira Barbosa ii AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus por tornar tudo possível. Agradeço a minha mãe, Maria de Nazaré Ferreira Barbosa, por toda a dedicação esforço que sempre fez para que eu pudesse chegar até aqui. A minha orientadora Doutora Tereza Cristina de Oliveira Corvelo pela grande contribuição para o desenvolvimento deste trabalho. Ao laboratório de Imunogenética e a toda a equipe, pelos conhecimentos adquiridos. Aos meus professores pelos conhecimentos repassados e pela dedicação. A minha família pelo apoio, em especial a minha avó, Sabina Ferreira Barbosa. Aos meus colegas de classe pelo companheirismo e momentos descontraídos. Ao meu namorado, Mizael Trindade Barros, por toda ajuda prestada e pela ótima companhia. Muito Obrigada! iii RESUMO Introdução:Helicobacter pylori é uma bactéria gram-negativas, curva-espiralada, microaerófila, especializada na colonização do estômago humano, que infecta mais da metade da população mundial. Embora a maioria dos indivíduos infectados não mostrem sintomas clínicos, a infecção persistente pode causar úlcera gástrica, gastrite crônica atrófica com desenvolvimento de metaplasia intestinal, displasia e carcinoma gástrico. Objetivos: Investigar em pacientes com patologias gástricas da região Amazônica os antígenos de grupo sanguíneos ABO e Lewis com relação à soroprevalência da infecção pela H. pylori. Material e métodos: Foram colhidas 65 amostras de sangue de indivíduos com patologias gástricas provenientes de uma população triíbrida do Estado do Pará e uma amostra de saliva de cada indivíduo, para a fenotipagem ABO e Lewis aos níveis eritrocitário, pelo método de hemaglutinação, e salivar, por dot-Elisa. Para a detecção de anticorpos anti-H. Pylori específicos foi utilizado um ensaio quantitativo imunoenzimático (ELISA) Resultados: Entre os pacientes testados, 92% (60/65) apresentaram IgG anti-H. pylori específico. Quando comparamos o fenótipo O Le (a-b+) e os outros fenótipos do sistema ABO e Lewis com a presença da infecção pelo H.pylori nos pacientes estudados não encontramos uma associação estatisticamente significantiva (p > 0,05). A distribuição dos fenótipos de grupos sanguíneos ABO e Lewis de pacientes com doenças gástricas foram consistentes com a prevalencia descrita na população de Belém. Conclusão: A taxa de soroprevalência da infecção por Helicobacter pylori foi de 92% na amostra de pacientes estudada. Neste estudo não encontramos associação significativa entre o fenótipo de grupo sanguíneo O Leb e a infecção por H. pylori.Nos pacientes com patologias gástrica, observou-se uma discrepância em relação aos fenótipos Lewis entre o nível salivar e eritrocitário, sugerindo que esta alteração seja reflexo da perda desses antígenos na mucosa gástrica. Palavras-chave: Helicobacter pylori, ABO, Lewis. iv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. HISTÓRICO 1 1.2. CARACTERÍSTICAS DA BACTÉRIA HELICOBACTER PYLORI 2 1.2.1. Morfologia 2 1.2.2. Constituição genética 2 1.2.3. Fatores de virulência 3 1.2.3.1. Citotoxina associada ao gene A (cagA) 3 1.2.3.2. Citotoxina vacuolizante (VacA) 3 1.2.3.3. Adesina ligante de antígenos de grupo sanguíneo (BabA) 4 1.2.3.4. Urease 4 1.3. EPIDEMIOLOGIA 6 1.4. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À INFECÇÃO 7 1.5. GRUPOS SANGUÍNEOS ABO E LEWIS 8 1.6. ASSOCIAÇÃO DOS ANTÍGENOS DE GRUPOS SANGUÍNEOS ABH E LEWIS E A INFECÇÃO PELA H. PYLORI. 10 1.7. RESPOSTA IMUNE À INFECÇÃO 10 1.8. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS 12 2. OBJETIVOS 13 2.1. GERAL 13 2.2. ESPECÍFICOS 13 3. MATERIAL E MÉTODOS 14 3.1. MARERIAL 14 3.2. MÉTODOS 15 3.2.1. Coletado sangue 15 3.2.2. Coleta da saliva 15 3.2.3. Determinação dos fenótipos ABO e Lewis no sangue 15 3.2.4. Determinação dos fenótipos Lewis e ABO ao nível salivar. 3.2.5. Detecção de anticorpos anti-H. Pylori específicos. 16 16 v 3.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA 17 4. RESULTADOS 18 5. DISCUSSÃO 25 6. CONCLUSÃO 28 7. REERÊNCIAS 29 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. HISTÓRICO Helicobacter pylori é uma bactéria que infecta mais da metade da população mundial (Atherton et al, 2006). Essa bactéria foi, primeiramente observada na mucosa gástrica de cachorro em 1890 (Bizzozero et al, 1892), sendo que muitas espécies apresentam variedades do gênero Helicobacter em seus estômagos. Em 1982 a bactéria foi descrita pela primeira vez em humanos. Em seus estudos, os pesquisadores Marshall (1983) e Warren (1983) observaram uma grande quantidade de bactéria no muco gástrico de pacientes com gastrite crônica e úlcera duodenal, que acreditavam ser do gênero Compylobacter. Estudos posteriores, principalmente ao nível genético, resultaram na criação de um novo gênero, Helicobacter no qual a bactéria previamente descrita por Marshall e Warren passou a pertencer como espécie denominada Helicobacter pylori. (Goodwin et al, 1989). Antes do primeiro isolamento da bactéria e sua documentação, acreditava-se que o estômago fosse um ambiente estéril, devido a sua acidez, impossibilitando que este fosse nicho ecológico de qualquer organismo (Cothi et al, 1989; Morris et al, 1989). No entanto, a H. pylori é totalmente adaptada ao estômago humano, seu principal reservatório (Lambert et al, 1995). Embora a maioria dos indivíduos infectados por essa bactéria não mostrem sintomas clínicos, a infecção persistente pode causar úlcera gástrica, gastrite crônica atrófica com desenvolvimento de metaplasia intestinal, displasia e carcinoma gástrico (Correa & Houghton, 2007). 2 1.2. CARACTERÍSTICAS DA BACTÉRIA HELICOBACTER PYLORI 1.2.1. Morfologia A Helicobacter pylori é uma bactéria de forma curva espiralada, mede aproximadamente 0,5 µm de diâmetros e 3 a 5 µm de comprimento. Ela é um organismo de características gram negativas que apresenta de 4 a 6 flagelos unipolares embainhados que possibilitam que a bactéria se mova livremente em ambientes viscosos como o muco gástrico. (Marshall et al, 1984) A H. pylori apresenta-se também na forma rredondada, conhecida como forma cocóide (Catrenich & Makin, 1991). Essa é uma forma viável domicrorganismo, que ocorre quando a bactéria encontra-se em ambientes hostis fora da mucosa gástrica. (Cellini et al, 1994). A H. pylori é nutricionalmente exigente. Em cultivo seu crescimento preferencial ocorre a 37°C em meio como o ágar sang ue em condição microaerófila em uma atmosfera que pode variar de 5 a 10% de dióxido de carbono. Bioquimicamente ela é uease, catalase e oxidase positiva. (Eaton et al, 1991) 1.2.2. Constituição genética Em 1997 foi sequenciado o genoma completo da cepa 26695 da H. pylori. Essa bactéria consiste de um cromossomo circular de 1.667.867 pares e base e média de 39% de conteúdo de G + C. Cinco regiões do genoma têm composição diferente de G + C. Uma delas é a ilha de patogenicidade (PAI) cag, Cag - PAI. (Tomb et al, 1997) cepas com está proteína estão associadas ao desenvolvimento mais severo de doenças gástircas (Xiang et al, 1997). 3 1.2.3. Fatores de virulência A infecção pela H. pylori é extremamente comum e assintomática na maioria dos casos. A infecção crônica, tipicamente adquirida na infância, está relacionada a uma variedade de doenças severas como úlcera gástrica (Graham et al, 1992), úlcera duodenal (Hentschel et al, 1993; Marshall et al, 1988) e carcinoma gástrico (Nomura et al, 1991; Parsonnet et al, 1991). A razão para um indivíduo desenvolver doenças gástricas pode estar relacionado com a presença de certos fatores de virulência da H. pylori tais como CagA e VacA e BabA2 em linhagens bacterianas, que favorecem a colonização bacteriana a partir de interações com marcadores genéticos do hospedeiro, como os antígenos de grupos sanguíneos ABH e Lewis. 1.2.3.1. Citotoxina associada ao gene A (cagA) As formas mais severas das doenças gastrointestinais estão relacionadas a presença ou ausência da ilha de patogenicidade cagA (cag – PAI) de 40-kb que contém 31 genes (Marshall et al. 1989). Supõe-se que esta ilha derive de outras espécies de bactérias devido ao conteúdo GC desta região ser diferente do resto do genoma da H. pylori. (Finlay & Falkow, 1998). A cag – PAI induz a secreção do mediador de inflamação, interleucina 8 (IL -8) pelas células epiteliais do hospedeiro, causando, assim, o aumento da inflamação gástrica e um maior risco do desenvolvimento de úlcera e câncer gástrico (Censini et al, 1996; Crabtree et al, 1991; 1994). Em humanos há uma grande correlação entre a infecção por H. pylori positivas para o gene cag e a ocorrência de úlcera e câncer gástrico ( Covacci et al, 1999) . 1.2.3.2. Citotoxicina vacuolizante (VacA) O gene vacA está presente em todas as cepas de H. pylori, porém é expressa em metade delas (Tummum et al, 1993). A expressão da proteína VacA é responsável pela erosão observada nas células hospedeiras infectadas (Cover, 1996). O gene vacA apresenta duas regiões diferentes: a região sinal (região - s) e a região média (região - m) (Atherton et al, 1995). A região s apresenta duas formas 4 alélicas, a s1 (que pode ser distinguido como s1a, s1b ou s1c) ou a s2. A região m apresenta as formas m1 ou m2. A produção da citotoxina vacuolizante VacA depende da combinação entre os alelos das regiões s e m: s1/m1, s1/m2. Cepas portadoras da combinação s1/m1 produzem maior quantidade de toxina do que as cepas com outras combinações, sendo assim são mais patogênicas. 1.2.3.3. Adesina ligante de antígenos de grupo sanguíneo (BabA) O gene babA codifica a proteína BabA (Das & Paul, 2007) que se liga ao antígeno de grupo sanguíneo Lewis b nas células gástricas. A aderência da bactéria ao epitélio gástrico favorece a colonização e contribui para sua patogenicidade (Prinz et al, 2001). O babA permite o contato entre a bactéria e o epitélio e facilita a liberação de fatores de virulência como o cagA e o vacA. Cepas que expressam babA, aderem mais firmemente às células epiteliais gástricas, o que evidencia a influencia deste gene à severidade da doença. Cepas que possuem BabA, CagA e VacA apresenta elevado risco de câncer gástrico (Lauren, 1965). O gene babA possui dois alelos distintos, o babA1 e o babA2. O produto do babA1 é idêntico ao do babA2, entretanto não produz um transcrito. Cepas H. pylori babA2 positivas são associadas ao aumento do risco de úlcera péptica, enquanto cepas babA2 negativas são associadas com formas de gastrite sem complicações (Das & Paul, 2007). Em seu estudo, Gerhard et al. (Gerhard et al, 1999) demonstraram associação entre o alelo babA2 e a presença de úlcera péptica e de adenocarcinoma gástrico. 1.2.3.4. Urease A adesão da H. pylori a mucosa gástrica humana é essencial para o sucesso da infecção. Porém o estômago apresenta um meio ácido hostil à colonização bacteriana. A H. pylori expressa altos níveis de uma enzima potente, a uréase, que catalisa a hidrólise da ureia resultando na produção de amônia. A amônia, por sua vez, forma uma nuvem neutralizante que protege a H. pylori da acidez. Dessa forma, a urease tem se demonstrado essencial para a colonização da 5 bactéria a mucosa gástrica, visto que em experimentos usando animais de laboratório, bactérias mutantes, ou seja, urease negativa, não foram capazes de realizar a colonização (Eaton et al, 1991; Tsuda et al, 1994). Além de necessária para a colonização bacteriana, a urease ativa uma resposta imune do hospedeiro que causa dano a ele. Essa resposta inclui ativação de fagócitos e a liberação de citocinas como IL-1, IL-2, IL-8 e TNF-α.b (Makristathis et al, 1998; Harris et al, 1996). O excesso de amônia pode ser tóxica a mucosa gástrica. Nijevitch (1998) reportou uma correlação do grau de gastrite, com a colonização do microrganismo e resposta IgG – anti-H. pylori com a concentração de amônia no suco gástrico. A partir de seus resultados pôde sugerir que a atividade da urease é um indicador do sucesso da infecção e do papel patogênico da H. pylori em crianças. 6 1.3. EPIDEMIOLOGIA A Helicobacter pylori é uma bactéria de distribuição cosmopolita considerada a causa de infecção crônica mais comum em humanos que acomete mais da metade da população universal (Cave, 1996; 1997). Há um consenso de que a transmissão da bactéria ocorra por via interpessoal,l pelas rotas oral-oral (Goodman et al, 1996; Albenque et al, 1990; Clemens et al, 1996) e/ou fecal-oral (Thomas et al, 1992; Kelly et al, 1994). Infecção iatrogênica por meio de endoscópios contaminados também pode ocorrer (Axon, 1991; Fantry et al, 1995). Águas contaminadas são vistas como reservatórios ambientais de H. pylori (Goodman et al, 1996; Sasaki et al, 1999). A infecção pela H. pylori está presente tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos, no entanto a taxa de prevalência nos países em desenvolvimento é maior em todas as faixas etárias (Patel et al, 1994; Rocha et al, 1993). Na infância a taxa de prevalência é maior, principalmente nos cinco primeiros anos de vida (Kodaira et al, 2002) em que o risco para a aquisição da infecção é mais elevado, já que neste período há um contato mais próximo da criança com a mãe devido aos cuidados que necessita. (Albenque et al, 1990; Clemens et al, 1996). A partir do 15 anos o aumento da prevalência passa a ser lento e constante. Em idosos acima de 60 anos ocorre um lento declínio de prevalência, explicado pelo fato da mucosa gástrica atrofiar com a evolução da gastrite causada pelo agente e pelo envelhecimento, o que leva a bactéria a perder seu nicho ecológico no estômago (Kodaira et al, 2002). O principal fator de risco para a aquisição da infecção pela bactéria está relacionado às precárias condições socioeconômicas na infância. Assim, baixa renda familiar (Graham et al, 1991; Fiedorek et al 1991), baixo nível de escolaridade dos pais (The Gastrointestinal Phisiology Working Group, 1990), más condições de higiene e moradia (Goodman et al, 1996), ausência de saneamento básico e água encanada, dieta e moradia com aglomeração em que há mais de uma pessoa por quarto (Mendall et al, 1992) são fetores de risco para a aquisição da infecção. 7 Bòren et al (1993), relataram que indivíduos dos grupos sanguíneos O Lewis b são mais susceptíveis a infecção pela H. pylori, evidenciado, dessa forma a predisposição genética como fator de risco para a infecção. 1.4. PATOLOGIAS ASSOCIADAS À INFECÇÃO Um dos maiores fatores para o desenvolvimento de várias doenças gastrointestinais como gastrite crônica, gastrite atrófica úlceras pépticas, carcinoma gástrico e linfoma gástrico é a infecção pela H. pylori (Covacci et al, 1999). Apesar de metade da população humana estar infectada pela bactéria, 80% dos indivíduos permanecem assintomáticos por toda a vida, sem manifestação clínica. Uma pequena porcentagem dos infectados pela H. pylori desenvolve neoplasias, o que indica o envolvimento de outros fatores no desenvolvimento de patologias gastrointestinais (HANSSON et al, 1993; WATANABE et al, 1997). Dessa forma, fatores bacterianos e do hospedeiro estão diretamente ligados à evolução de patologia gastrointestinal. A associação entre a infecção pela H. pylori com o desenvolvimento de úlcera péptica foi bem estabelecido pela NHI Consensus Conference (1994). Que estabeleceu que a bactéria está presente em 90% a 100% dos pacientes com úlcera duodenal e em 70% a 90% dos pacientes com úlcera gástrica. (Marsshal et al, 1994; Martins et al, 2002) Pelo fato de estar possivelmente associada ao adenocarcinoma gástrico, em 1994 a International Agency for Research on Cancer (órgão subordinado a Organização Mundial de Saúde – OMS) classificou a bactéria como carcinógeno do tipo 1 para câncer de estômago. Essa classificação foi baseada em estudos epidemiológicos, que demonstraram uma prevalência mais alta da infecção pela H. pylori entre pacientes com câncer gástrico que em pacientes de grupo controle (Williams et al, 1999) 8 Assim como na úlcera péptica, nem todos os indivíduos com câncer gástrico estão infectados pela H. pylori. Além disso, nem todos os indivíduos infectados desenvolvem câncer gástrico. Portanto, a etiologia do carcinoma gástrico é multifatorial e a infecção pela H. pylori é apenas um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento de patologias gástricas (Friedman & Peterson, 1998). 1.5. GRUPOS SANGUÍNEOS ABO E LEWIS O sistema de grupo sanguíneo ABO foi descoberto em 1990 pelo cientista Landsteiner, através da comprovação de reações de aglutinação em hemácias humanas por isoaglutininas (Landsteiner, 1900.). Landsteiner identificou a presença de antígenos na membrana das hemácias o que mais tarde caracterizou os tipos A, B, AB e o grupo O, quando não há presença desses antígenos (von Descastello & Sturli, 1902.) Estes antígenos, porém, não são expressos apenas nas hemácias mas, também, nos tecidos e secreções corporais. O gene secretor Se determina a capacidade de secreção dessas substâncias nos fluidos corporais. Os indivíduos que manifestam o gene secretor são considerados secretores (genótipos Se/Se ou Se/se), e os indivíduos que não o secretam são considerados não-secretores (genótipo se/se) (Henry et al, 1996; Oriol et al, 1986; Watkins, 1980). Em 1946, Mourant descreveu, pela primeira vez, o sistema Lewis através da identificação de um antígeno sanguíneo de natureza carboidrática denominado de Lewis a ou Lea. Em 1948, Andersen descreveu um segundo antígeno para este sistema denominado Lewis b ou Leb. A descoberta desses antígenos permitiu determinar a existência de quatro fenótipos: Lewis a, Lewis ab, Lewis negativo e o fenótipo Lewis b, predominante na maioria das populações humanas (Henry et al, 1995). Devido o seu grande polimorfismo, os grupos sanguíneos ABO e Lewis constituem excelentes marcadores populacionais, resultado da ação de genes do sistema ABO, Secretor e Lewis que codificam glicosiltransferases específicas que 9 atuam no processo de síntese destes antígenos transferindo açucares específicos para substâncias precursoras, implicando na ocorrência de fenótipos variantes distintos e geneticamente determinados dentro da mesma população (Le Pendu, 1985). Os antígenos ABO e Lewis são oligossacarídeos relacionados bioquimicamente, produzidos a partir das mesmas substâncias precursoras. As substâncias A e B são originadas pela ação dos genes A e B, a partir da síntese da substância H, sob controle de pelo menos dois sistemas genéticos polimórficos H/h e Se/se. Os genes Se e H dirigem a produção de distintas α-fucosiltransferases, que trabalham em diferentes cadeias precursoras. O gene Se atua na substância do tipo 1 e o gene H sobre a substância tipo2 (Clausen & Hakomori, 1989). Em indivíduos secretores, o gene dominante (Se) é a forma ativa no epitélio glandular, responsável por determinar a produção de antígenos H pelo tecido, já o gene recessivo (se) é incapaz de produzir antígeno H (Le Pendu, 1985). 10 1.6. ASSOCIAÇÃO DOS ANTÍGENOS DE GRUPOS SANGUÍNEOS ABO E LEWIS E A INFECÇÃO PELA H. PYLORI. Alguns indivíduos de fenótipos sanguíneos específicos têm pré-disposição a diversos agentes patológicos. Assim, certos antígenos nas superfícies das células poderiam servir como pré-requisito para a aquisição de microrganismos (Schonitzer, 1997). Em 1953, Aird observou um aumento na frequência de pessoas do grupo A entre os pacientes com câncer gástrico Além disso, há uma associação ainda maior entre úlcera péptica e o grupo O (Ilver et al, 1998). Desde 1994, vêm sendo realizados estudos para mostrar a associação entre os grupos sanguíneos ABO e Lewis, mais especificamente o grupo O Lewis b. Bóren et al (1993), relataram que indivíduos do grupo O apresentavam mais receptores para a H. pylori em relação aos indivíduos dos outros grupos, sendo, então, mais susceptíveis a infecção pela bactéria. Além disso, mostrou em seu estudo que o antígeno Lewis b medeia a ligação da H. pylori a mucosa gástrica, verificando em sua análise que a bactéria se liga ao epitélio gástrico que expressa Lewis b. Esse achado é confirmado pela demonstração bioquímica da ligação da adesina BabA da H. pylori ao antígeno Lewis b (Ilver et al, 1998). 1.7. RESPOSTA IMUNE À INFECÇÃO A resposta imune do hospedeiro à infecção pela H. pylori é caracterizada por intenso infiltrado de células inflamatórias (células plasmáticas, linfócitos, neutrófilos, monócitos) na lâmina própria da mucosa gástrica que gera a erosão do epitélio gástrico (Telford et al, 1997; Aguilar et al, 2001). O epitélio gástrico atua como uma barreira que impede que a H. pylori invada a lâmina própria, representando, assim, a primeira linha de defesa ativa contra a infecção. As células epiteliais da mucosa gástrica, quando na presença de antígenos da bactéria, secretam mediadores inflamatórios que iniciam a resposta imune contra ela (Shimoyama & Crabtree, 1998; Suerbaum & Michetti, 2002). 11 A infecção induz as células epiteliais a secretarem citocinas préinflamatórias como a IL8, potente mediador inflamatório, que recruta e ativa neutrófilos. (Shimoyama & Crabtree, 1998; Suerbaum & Michetti, 2002) Induz, também, a secreção de outras quimiocinas que atraem neutrófilos (Aguilar et al, 2001). Os neutrófilos são o componente inicial da resposta inflamatória ao patógeno. No entanto, quando cronicamente ativados, apresentam propriedades que contribuem para aumentar a lesão tecidual, pois além de atuarem na fagocitose e na digestão da bactéria, liberam seus grânulos e substâncias tóxicas (Shimoyama & Crabtree, 1998; Aguilar et al, 2001; Suerbaum & Michetti, 2002). Apesar de persistente, a ação dos neutrófilos é ineficaz para a eliminação da H.pylori, devido a ação de enzimas bacterianas como a catalase e a superóxido desmutase que protegem a bactéria. (Shimoyama & Crabtree, 1998). A continua exposição ao patógeno resulta na ativação da resposta imune celular (Blaser, 1992; Shimoyama & Crabtree, 1998), com estimulação dos linfócitos T auxiliares. A resposta humoral ocorre na infecção pela H. pylori. Existem anticorpos, predominantemente do tipo IgG, contra vários antígenos da bactéria, entretanto eles não conferem proteção nem evitam nova infecção (Goto et al, 1999; Kato & Ohara, 2000). 12 1.8. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS O diagnóstico da H. pylori pode ser realizado por testes endoscópicos e não endoscópicos. Os de natureza endoscópicos podem ser examinados por técnicas de histopatologia, teste da uréase e cultura do material da biópsia gástrica (Wilcox et al, 1996). Pelo fato de serem relativamente simples, as provas sorológicas destacam-se entre os testes não endoscópicos. Existem kits de ensaios imunoenzimáticos (ELISA) comerciais que demonstram boas sensibilidade e especificidade, em torno de 95% e 98%, respectivamente. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é bastante utilizada, podendose detectar a bactéria em diferentes amostras biológicas como biopsia de mucosa gástrica, fezes, saliva e placa dental (Dunn et al, 1997; Torres et al, 2000; Oderba et al, 2001) 13 2. OBJETIVOS 2.1. GERAL Investigar em pacientes com patologias gástricas da região Amazônica os antígenos de grupo sanguíneos ABH e Lewis com relação à soroprevalência da infecção pela H. pylori. 2.2. ESPECÍFICOS - Estimar a soroprevalência da infecção pelo H. pylori entre os indivíduos com patologias gástricas da população de Belém; - Estabelecer as freqüências dos fenótipos ABH e Lewis ao nível salivar e eritrocitário na população alvo. - Verificar a associação entre os fenótipos sanguíneos ABO e Lewis e a infecção pela H. pylori. 14 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. MATERIAL Foram colhidas 65 amostras de sangue de indivíduos com patologias gástricas provenientes de uma população triíbrida do Estado do Pará, atendidas no serviço de endoscopia do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) e no Hospital Ofir Loyola (HOL), que se manifestaram de acordo em participar do estudo. Adicionalmente, uma amostra de saliva de cada indivíduo foi colhida em um pote descartável, para caracterizar o estado secretor de substância ABH e Lewis. Além disso, um questionário sócio-demográfico foi respondido pelos sujeitos da pesquisa. Todos os indivíduos que participaram do estudo apresentavam doença gástrica (câncer ou úlcera) e eram maiores de 18 anos de idade. Além disso, todos os indivíduos foram informados sobre a pesquisa, de maneira acessível, e assinaram um Termo de Esclarecimento e Consentimento Livre, conforme rege a resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) da Universidade Federal do Pará (UFPA). 15 3.2. MÉTODOS 3.2.1. Coleta do sangue O sangue foi coletado utilizando-se material estéreo, de uso individual descartado imediatamente, segundo as normas de biossegurança. Foram utilizados aproximadamente 3 ml de sangue de cada indivíduo, sendo distribuído em dois tubos de ensaio, um com anticoagulante (Heparina) e outro sem anticoagulante. O sangue total foi centrifugado a 3.000 rpm durante 20 minutos e o soro separado e stocado à -20oC. As hemácias foram mantidas à 4oC e testadas no prazo de três dias. Não foram utilizados soros hemolíticos, lipêmicos, ou ictéricos. 3.2.2. Coleta da saliva Aos indivíduos participantes deste estudo foi dado um copo descartável para depositar saliva. O material foi transferido para tubos de ensaio e no intervalo de 2 horas, as amostras de saliva foram fervidas em banho-maria por 10 minutos e mantidas a -30°C. Antes da estocagem, todas as amos tras foram centrifugadas e o sobrenadante separado para os testes das substâncias ABH e Lewis. 3.2.3. Determinação dos fenótipos ABO e ewis no sangue Nos eritrócitos, os fenótipos ABO e Lewis foram tipificados pelos testes de hemaglutinação. As hemácias foram lavadas e resuspendidas a 3% com solução salina a 0,09%. O teste de hemaglutinação foi realizado misturando-se um volume de 25µl da suspensão de hemácias com igual volume de cada anticorpo com as respectivas especificidades a serem analisadas (anti-A, anti-B, anti-H, anti-Lewis a e anti-Lewis b). 16 3.2.4. Determinação dos fenótipos Lewis e ABO ao nível salivar. A caracterização dos fenótipos ABH e Lewis, na saliva, foi realizada pela técnica de dot-ELISA. modificada de Pflug et al (1989). Brevemente, um volume de 2µl de cada amostra foi gotejado com uma micropipeta em 5 pedaços de uma membrana de nitrocelulose, de dimensão aproximada de 4 x 7 cm, em seguida deixando secar por 60 minutos a 37°C. As áreas livr es da membrana de nitrocelulose foram bloqueadas com um tampão bloqueador (0,01M Tris-HCI Salina, pH 7.4; 1% Triton X-100; 3% BSA) por 45 minutos à temperatura ambiente e com agitação mecânica constante. Cada pedaço da membrana de nitrocelulose foi incubado em solução tampão contendo o anticorpo secundário (anti-IgM de rato) conjugado à enzima fosfatase alcalina, diluído 1/1000, e o anticorpo monoclonal primário em diluição apropriada (anti-A 1/50; anti-B 1/100; anti-H 1/10; anti-Lea 1/1000 e anti-Leb 1/2000) por 45 minutos à temperatura ambiente. Os pedaços da membrana de nitrocelulose foram lavados 6 vezes com o tampão de lavagem (0,01M Tris-HCI Salina pH 7.4; 0,05% Triton X-100) durante 5 minutos cada, excluindo Triton X-100 do tampão nas duas últimas lavagens. A reação antígeno anticorpo foi revelada usando um tampão substrato (25ml 0,25M Glicina/NaOH pH 10.4; 500µl 0,1M MgCl2; 500µl 0,1M ZnCl2); 100µl da solução do estoque (50mg 5-bromo-4-cloro-3-indolfosfato dissolvido em 1ml dimetilformamida) a 37°C até a visualização de pontos azuis brilhantes no local da reação; posteriormente as membranas foram lavadas em água corrente e secas para serem analisadas. 3.2.5. Detecção de anticorpos anti-H. Pylori específicos. Amostra de soro de cada paciente foi testada para a presença de anticorpos tipo IgG com especificidade anti-H. pylori, através de um ensaio quantitativo imunoenzimático (ELISA) em microplaca, usando o kit comercial HIK anti-H. pylori EIA (Monobind, Inc-USA) de acordo com as instruções do fabricante. 17 3.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA Foram empregados testes estatísticos adequados como o teste do x2 e teste G para detectar ou não a diferença entre os grupos objeto de estudo. O programa de computador utilizado foi o BioEstat 5.0 (Ayres et al, 2000). A significância estatística foi aceita ao nível de 0.05. 18 4. RESULTADOS O estudo constitui-se de 65 indivíduos, dos quais 50 eram do sexo masculino e 15 do feminino. A amostra foi composta por 28 indivíduos com úlcera gástrica (22 homens e 6 mulheres) e 37 com câncer gástrico (28 homens e 9 mulheres) com idade variando de 28 a 80 anos e média de 57 anos de idade. Entre os pacientes com câncer gástrico 21 foram diagnosticados com câncer do tipo difuso e 16 com o tipo intestinal. Entre os pacientes testados, 92% (60/65) apresentaram IgG anti-H. pylori específico, sendo que entre estes indivíduos observou-se taxas de soroprevalência de 93% (26/28) nos pacientes com úlcera e de 92% (34/37) nos pacientes com câncer, não sendo estas diferenças de soroprevalência entre estes tipos de doenças gástricas estatisticamente significativa (Tabela 1). Foi realizada a distribuição da infecção pelo sexo, contudo não foram evidenciadas diferenças estatisticamente significativas (Tabela 02). Tabela 1. Comparação do resultado sorológico para infecção por H. pylori entre pacientes com as patologias gástricas. Diagnóstico Úlcera Câncer sorológico Gástrica gástrico Hp+ 26 34 60 Hp- 02 03 05 28 37 65 Total GYates= 0,1049; p= 0,7460 Total 19 Tabela 2. Distribuição da infecção pela Helicobacter pylori entre pacientes com doenças gástricas de acordo com o sexo. Infecção pela Helicobacter pylori Doença Úlcera Câncer Sexo Positivo ( + ) Negativo ( - ) Masculino 21 01 Feminino 05 01 Masculino 25 03 Feminino 09 00 60 05 Total Teste G = 0,0318; p = 0,8586 Quanto ao sistema de grupo sanguíneo ABO e estado secretor ABH foi observado que todos os indivíduos eram secretores da substância ABH em conformidade com o fenótipo sanguíneo ABO eritrocitário (Tabela 3). O grupo O apresentou a maior prevalencia, de 56,92% (37/65), entre os indivíduos analisados em relação aos outros grupos que mostraram as seguintes frequências: A 29,23% (19/65), B 7,70% (5/65) e AB 6,15% (4/65), conforme a Tabela 3. A diferença entre os fenótipos ABO observados e os esperados não é estatisticamente significativa (p = 0,0563), revelando-se em equilíbrio de Hardy-Weinberg (A = 0,1940; B = 0,0710; O = 0,7350). No que concerne o sistema de grupo sanguíneo Lewis, foram detectadas as seguintes distribuições fenotipicas: ao nível eritrocitário, 15,93% eram Le (a+b-), 27,69% eram Le (a-b+) e 56,92% eram (a-b-); e ao nível salivar, 3,08% eram Le (a+b-), 86,15% eram (a-b+) e 10,77% eram Le (a-b-) (Tabela 4). Observou-se diferença significativa eritrocitário (Tabela 4). entre as frequências fenotípicas Lewis ao nível salivar e 20 Tabela 3. Distribuição dos Estados secretores ABH e dos fenótipos Lewis ao nível eritrocitário e salivar na população alvo. Fenótipo Eritrocitário Lewis Lewis a Substância Salivar Lewis Lewis a Lewis b Estado Secretor ABH N A B AB O + - 0 - - + + 10 3 - 3 4 Lewis b + + 18 4 - 1 13 Lewis (a-b-) - - 7 4 - - 3 + - 2 - 1 - 1 - + 3 - - - 3 + + 25 8 4 - 13 65 19 (29,23) 5 (7,70) Total (%) - 4 (6,15) 37 (56,92) A distribuição dos antígenos de grupo sanguíneos Lewis ao nível eritrocitário e salivar (Tabela 4), permitiu classificar as amostras dos pacientes em dois grupos fenotípicos: Lewis concordantes e Lewis discordantes (Tabela 5). Os fenótipos concordantes apresentavam antígenos Lewis idênticos e compatíveis no sangue e na saliva, enquanto que nos discordantes, os antígenos detectados nos eritrócitos eram diferentes das especificidades da saliva. 21 Verificou-se que a presença de discordância entre sangue e saliva, nos fenótipos Lewis, representa 61,54% (40/65) do total da amostra dos pacientes investigados (Tabela 5). E pelos dados listados na tabela 4, o maior número observado de discrepâncias eritrocito/saliva concentrou-se no grupo classificado nos eritrócitos como Le (a-b-) envolvendo 30 discordantes e 7 concordantes dos 37 pacientes com este fenótipo eritrocitário. Essa discordancia caracteriza-se pela expressão de antígenos Lewis na saliva sem detecção nas hemácias. Tabela 4. Frequência dos Fenótipos Lewis ao nível eritrocitário e salivar na população estudada. Fenótipo Lewis Sangue Lewis a Saliva Lewis b Lewis (a-b-) Total N Lewis a - 10 - 10 % 15,39 Lewis b - 18 - 18 27,69 Lewis (a-b-) 2 28 7 37 56,92 Total (%) 2 (3,08) 56 (86,15) 7 (10,77) 65 100 T-G (Willians) = 73,6370; (p) < 0,0001 No entanto, em relação a distribuição dos antigenos no sangue e saliva, classificados em concordantes e discordantes, obtivemos uma associação estatisticamente significativa, indicando uma maior ocorrência de discordancia entre os pacientes com doenças gástricas e infectados pela H. pylori do que nos indivíduos em geral da população (Tabela 5). 22 Tabela 5. Comparação dos fenótipos Lewis concordantes e discordantes (sangue/saliva) entre pacientes estudados com úlcera ou câncer e os indivíduos da população de Belém. Fenótipo Lewis Pacientes gástricos População de Belém Concordante 25 102 Discordante 40 48 Total 65 150 X2 (YATES) = 15,167; P < 0,0001 Quando comparamos o fenótipo O Le (a-b+) e dos outros fenótipos do sistema ABO e Lewis com a presença da infecção pelo H.pylori nos pacientes estudados (Tabela 6), não encontramos uma associação estatisticamente significantiva (p > 0,05). Do mesmo modo, na analise dos testes estatísticos de dependência dos fenótipos do grupo sanguíneo ABO com o tipo de doença gástrica apresentada pelos pacientes não foi observada uma significância estatística. (Tabela 7). 23 Tabela 6. Distribuição dos fenótipos Lewis salivar e ABO em relação a infecção por H. pylori na população analisada. Fenótipos Infecção ABO e Lewis Total Hp+ Hp- O Lewis b 29 4 33 Outros 31 1 32 60 5 65 Total P = 0,0868 Tabela 7. Distribuição dos fenótipo de grupos sanguíneo ABO em pacientes com úlcera, câncer gástrico e controle. Fenótipo ABO Úlcera Câncer Controle O 14 23 85 A 10 9 46 B/AB 4 5 19 28 37 150 G - teste Williams = 1,1677; p = 0,8834 Adicionalmente, os resultados do presente estudo envolvendo pacientes com úlcera e câncer gástrico foram comparados com as frequências dos grupos sanguíneos ABH e Lewis, anteriormente descritos (Corvelo et al, Comunicação Oral, 2011) para uma amostra de indivíduos adultos da mesma população de Belém do Pará, conforme discriminados na tabela 8. A distribuição dos fenótipos de grupos sanguíneos ABO e Lewis de pacientes gástricos são consistentes com a prevalencia descrita na população de Belém (Corvelo et al, Comunicação Oral, 2011). 24 Tabela 8. Distribuição do Sistema ABO nos pacientes analisados e na população de Belém. Sistema ABO Pacientes Gástricos Fenótipo Salivar Lewis Lewis (a-b-) Lewis a Lewis b População de Belém Fenótipo Salivar Lewis Lewis (a-b-) Lewis a Lewis b A 4 - 15 2 7 37 B - - 5 2 1 14 AB - - 4 0 1 1 O 3 1 33 6 14 65 Total 7 1 57 10 23 117 25 5. DISCUSSÃO A infecção por Helicobacter pylori atinge mais de 50% da população mundial (Wang et al, 2000). Entre os indivíduos infectados, a maioria permanece assintomática por toda a vida, no entanto cerca de 10% desenvolvem úlcera péptica e 1 a 2% desenvolvem câncer gástrico (Cover et al, 2001). No presente estudo, a taxa de infecção entre os indivíduos analisados foi de 92%, não diferindo entre os tipos de doença gástrica, com ambas apresentando altas freqüências de infecção: 93% dos casos de úlcera e 92% nos casos de câncer. E apesar da maior prevalência de homens com doenças gástricas, não observamos diferença significativa entre o gênero e o tipo de doença. Essa alta prevalência de homens acometidos pode ser explicada pelo fato dos homens estarem mais expostos aos fatores de risco e pelo seu estilo de vida como não freqüentar o médico regularmente. A H. pylori é bem conhecida pela sua habilidade em colonizar o estômago humano e por adaptar-se às alterações sofridas pela sua persistência no meio, podendo levar ao aparecimento de severas doenças gástricas. Durante este processo inflamatório estão envolvidos vários fatores de virulência. Entre estes, a aderência bacteriana é imprescindível para o estabelecimento subsequente dos demais mecanismos de patogenicidade (Guruge et al, 1998). Primariamente, esta aderência ocorre pela ligação da adesina bactériana babA ao antígeno de grupo sanguíneo ABO/Lewis b (Ilver et al, 1998). Em nosso estudo, as frequências dos grupos sanguíneos ABO estão de acordo com o equilíbrio de Hardy-Weinberg, e não diferem das frequências da população de Belém encontradas por Corvelo et al (Comunicação Oral, 2011).Neste estudo, todos os 65 pacientes com doenças gástricas analisados são secretores ABH. Observamos diferenças entre as frequências dos fenótipos Lewis ao nível salivar e eritrocitário dos pacientes, o que nos permitiu dividi-los em dois grupos: 26 concordantes e discordantes. A razão dessas discrepâncias sangue/saliva podem ser explicadas por observações previas (Corvelo et al, Comunicação Oral, 2011) que tem relação com a presença da mutação 59T > A. Do mesmo modo, quando analisamos as frequências destes grupos estudados com outra amostra (controle sadio) da população de Belém (Corvelo et al, Comunicação Oral, 2011) verificamos que o número de concordantes é maior que o de discordantes, contrário ao observado na amostra dos pacientes estudos, cujo número de indivíduos discordantes sangue/saliva foi a maior. De fato, tem sido relatada a ocorrência de fenótipos eritrocitários Le(a-b-) em indivíduos previamente tipados como Lewis positivo em associação com mudanças nas condições de saúde, a exemplo de vários carcinomas (Hirano et al, 1987). Portanto, nossos achados corroboram estes estudos, e nos levam a inferir que a presença de doença gástrica, particularmente o adenocarcinoma gástrico, altera a substância Lewis ao nível eritrocitário (p < 0,0001), sugerindo que esta alteração seja reflexo da perda dos antígenos Lewis na mucosa gástrica Em 1993 Bóren et al relataram que indivíduos do grupo sanguíneo O possuem mais receptores para a H. pylori em contraste com os indivíduos dos outros grupos, sendo, por esse motivo, mais susceptíveis a infecção pela bactéria. Além disso, mostrou em seu estudo que o antígeno Lewis b medeia a ligação da H. pylori a mucosa gástrica, verificando em sua análise que a bactéria só se vinculou ao epitélio gástrico que expressava Lewis b. No presente estudo, não encontramos uma maior frequência do grupo A em pacientes com câncer gástrico nem um aumento do grupo O em pacientes com úlcera. Contudo, é importante ressaltar que o pequeno tamanho amostral do presente estudo pode ter interferido na significância estatística dos resultados. O grupo sanguíneo O tem sido associado à úlcera (Smith et al, 1994; Clark et al, 1956; Mentis et al, 1991) e o câncer gástrico ao grupo A (Hajj et al, 2007). Kambay et al (2005) mostraram que pacientes dos grupos A e O foram mais propensos a infecção por H. pylori que os pacientes dos outros grupos, levando a conclusão de que a infecção pela bactéria está intimamente associada a esses dois grupos sanguíneos. 27 Por outro lado, Keller et al (2002) não demonstraram associação entre o grupo sanguíneo ABO e a infecção pela H. pylori assim como, não encontraram relação entre o fenótipo Lewis b e a infecção pela bactéria. Seus resultados também não confirmaram a hipótese de que o estado secretor ABH e o grupo sanguíneo O tenham influencia na infecção por H. pylori. Deste modo, outros estudos são necessários para evidenciar a associação dos antígenos de grupos sanguíneos ABO e Lewis com a infecção por Helicobacter pylori. 28 6. CONCLUSÃO A taxa de soroprevalência da infecção por Helicobacter pylori foi de 92% atingindo 93% nos pacientes com úlcera gástrica e 92% dos indivíduos com câncer. Neste estudo não encontramos associação significativa entre o fenótipo de grupo sanguíneo O Leb e a infecção por H. pylori, o que pode ser justificado pelo pequeno tamanho amostral. Nos pacientes com patologias gástrica, observou-se uma discrepância em relação aos fenótipos Lewis entre o nível salivar e eritrocitário, sugerindo que esta alteração seja reflexo da perda desse antígenos na mucosa gástrica. 29 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUILAR, G. R.; AYALA, G. & ZÁRATE, G. F. Helicobacter pylori: recent advances in the study of its pathogenicity and prevention. Salud Publica Del México; 43(3): 237247. 2001. ALBENQUE, M.; TALL, F.; DABIS, F.; MÉGRAUD, F. 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