Manifesto de Ação Social Dezembro de 2011 Manifesto do movimento associativo nacional quanto às problemáticas de ação social no ensino superior Portugal vive mergulhado numa grave crise económico-financeira com fortes repercussões sociais, sendo que a transfiguração do atual paradigma só poderá acontecer através de uma trajetória de políticas que potenciem o crescimento sustentável. Tendo em conta esta perspetiva, o movimento estudantil nacional considera irrenunciável a necessidade de desenvolver uma economia baseada na informação e no conhecimento, e que seja competitiva à escala global; tal modelo económico só pode ser conseguido através do necessário investimento na educação e na formação da população e, particularmente, dos jovens, na inovação e na investigação, o chamado triângulo do conhecimento, conforme recentes conclusões do Conselho sobre a modernização do ensino superior (2011/C 372/09), in JOUE de 20 de Dezembro, promovendo a igualdade de oportunidades com mecanismos eficazes e justos de ação social, onde as bolsas de estudo desempenham um papel central. Só assim se poderá cumprir o desiderato da estratégia Europa 2020 para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, adotada em junho de 2010, de forma a atingir o objetivo de aumentar para pelo menos 40 %, até 2020, a percentagem da população juvenil que conclui o ensino superior ou equivalente. Porém, os atrasos nas análises das candidaturas e por conseguinte do pagamento das bolsas de estudo e a parca capacidade de diálogo do presente Governo, bem como a inabilidade deste em responsabilizar diretamente os serviços técnicos, como a Direcção Geral de Ensino Superior (DGES), que têm agido de forma pouco eficaz no domínio da gestão público-institucional, estão a tomar proporções inimagináveis com consequências inadmissíveis, num sistema que pretende garantir em condições de igualdade o sucesso académico aos mais carenciados. O movimento associativo nacional, assumindo um papel responsável e verdadeiramente representativo dos estudantes, tem vindo a demonstrar, ao longo dos anos, que se quer constituir em mais do que uma estrutura puramente consultiva; antes assumindo um papel ativo, construtivo e interventivo e querendo ser parte reconhecida, aberto ao diálogo e ao debate de ideias com resultados e soluções concretas. Prova disso foram as propostas de alteração ao Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior emitidas e amplamente difundidas no Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA) de caráter extraordinário de 10 de outubro de 2011, assim como os sucessivos pedidos de audiência com o Ministério de Educação e Ciência (MEC) e com a DGES. Contudo, nem as propostas, nem a generalidade dos pedidos de reunião foram atendidas (e, muitas vezes, nem sequer respondidas!). O movimento associativo tem, igualmente, vindo a frisar a necessidade de abertura de uma segunda fase de candidatura para estudantes candidatos ao 1º ano/1ª vez este ano letivo, tal como aconteceu para todos os restantes estudantes do Ensino Superior e como inicialmente foi afiançado quer pelo MEC, quer pela DGES que aconteceria. Também esta promessa está por cumprir, apesar de ser consensual entre todos os grupos parlamentares essa necessidade. A atual situação de análise dos processos de atribuição de bolsa tem feito perigar os mais básicos compromissos sociais e garantias legais consagrados de que nenhum estudante será impedido de estudar apenas por motivos de carência económica. Com particulares excepções, no fim de dezembro boa parte das Instituições de Ensino Superior não concluiu um mínimo de 10% da análise dos requerimentos de bolsa de ação social e muitos têm sido os indeferimentos por questões meramente técnico-processuais. Numa fase em que o rendimento das famílias é cada vez menor, , a manutenção do investimento na ação social e, especialmente, a garantia da sua eficácia e da eficiência do sistema de atribuição de bolsas de estudo no ensino superior são os únicos mecanismos disponíveis para os estudantes poderem estudar serenamente e atingir o sucesso e a exigência que o bem comum exige. Mais do que nunca, estamos conscientes das adversidades que o país está a atravessar e daquelas que ainda nos esperam, assim como temos plena consciência da importância da manutenção da estabilidade democrática do nosso Estado de Direito: não obstante, cremos que os decisores e executores políticos não estão a prestar um bom serviço aos estudantes, aos jovens, ao país e, sobretudo, ao futuro e à prosperidade que todos almejamos, se persistirem em não enfrentar os recorrentes problemas que a ação social atravessa, negando respostas eficazes e céleres que removam os obstáculos burocráticos que desperdiçam os recursos nacionais e afastam os estudantes do ensino superior. Dado o impasse em que nos encontrámos, consideramos que temos o dever de demonstrar pacificamente o nosso descontentamento. Esta semana, em plena época natalícia, estamos de luto pela esperança dos jovens, dos estudantes e do futuro de Portugal.