Coordenadas polares Seja o vetor posição de uma partícula de massa m representado por r. Se a partícula se move, então seu vetor posição depende do tempo, isto é, r = r (t) , onde representamos a coordenada temporal pela variável real t. Para aplicar a segunda lei de Newton precisamos da aceleração a da partícula e, portanto, devemos calcular a segunda derivada temporal do vetor posição da partícula: a d2 r . dt2 = Em coordenadas cartesianas, o vetor posição é simplesmente escrito como r = xx̂ + yŷ + zẑ, onde x, y e z são as coordenadas cartesianas do vetor posição r e x̂, ŷ e ẑ são os versores respectivamente ao longo dos sentidos dos eixos x, y e z . Note que você não deve confundir as coordenas, x, y e z , com os nomes dos eixos x, y e z ; as coordenadas mudam de valor e dependem do tempo, pelo menos no presente caso, enquanto os eixos tem apenas nomes x, y e z e esses nomes não mudam. Concordo que isso ca um pouco confuso, mas com o tempo acabamos acostumando. A gura abaixo mostra uma representação gráca do que estamos falando. Em coordenadas cartesianas, portanto, porque as coordenadas dependem do tempo, isto é, x = x (t) , 1 y = y (t) z = z (t) , e mas os versores são xos no espaço e, assim, não dependem do tempo, não importa como o vetor posição r possa mover-se, então a aceleração da partícula de massa m ca a = = d2 (xx̂ + yŷ + zẑ) dt2 d2 x d2 y d2 z x̂ 2 + ŷ 2 + ẑ 2 . dt dt dt Para simplicar a compreensão do que estamos estudando, vamos agora particularizar o problema para o caso em que a partícula de massa m move-se apenas no plano xy, sempre com a coordenada z igual a zero. Nesse caso, o vetor posição escreve-se r = xx̂ + yŷ e a aceleração ca a = x̂ d2 x d2 y + ŷ . dt2 dt2 A próxima gura ilustra esse caso mais simples. 2 Em coordenadas polares no plano xy, denimos novos versores, r̂ e θ̂, e novas coordenadas, r e θ. É mais fácil vermos como o versor r̂ é denido, pois é apenas o vetor posição r dividido por seu módulo r : r̂ = r . r Conforme indica a gura a seguir, as coordenadas cartesianas, x e y, podem ser escritas em termos das coordenadas polares, r e θ, assim: x = r cos θ y = rsenθ. e Assim, r̂ = xx̂ + yŷ r e, portanto, r̂ = x̂ cos θ + ŷsenθ. Note que como, para um movimento arbitrário no plano xy, a coordenada angular θ depende do tempo, então o versor r̂ também é uma função do tempo. Da denição do versor r̂ segue que o vetor posição pode ser escrito como r = rr̂. 3 Em coordenadas polares, o vetor velocidade, dado por v = dr , dt escreve-se, então, v d (rr̂) , dt = que, pela regra da derivada do produto de duas funções dependentes do tempo, resulta em v = r̂ dr dr̂ +r . dt dt Como acabamos de ver que r̂ = x̂ cos θ + ŷsenθ, sua derivada temporal dá dr̂ dt = x̂ d cos θ dsenθ + ŷ . dt dt Da regra da cadeia para derivadas decorre que d cos θ dt = −senθ dθ dt e dsenθ dt = cos θ dθ . dt Denamos a velocidade angular como ω = dθ . dt Note também que ω é uma função do tempo se houver aceleração do ângulo θ, isto é, ω = ω (t) . Com tudo isso em mente, podemos agora concluir que a derivada dr̂ dt = x̂ d cos θ dsenθ + ŷ dt dt também pode ser escrita como dr̂ dt = −x̂senθ 4 dθ dθ + ŷ cos θ , dt dt isto é, dr̂ dt = dr̂ dt = ω (−x̂senθ + ŷ cos θ) . dθ (−x̂senθ + ŷ cos θ) , dt ou seja, Note agora que apareceu, naturalmente, um vetor −x̂senθ + ŷ cos θ que é, na verdade, um versor e vamos denotá-lo por θ̂ = −x̂senθ + ŷ cos θ. Assim, dr̂ dt = ω θ̂. O vetor θ̂ é um versor porque, obviamente, θ̂ · θ̂ = sen2 θ + cos2 θ = 1. Note também que o versor θ̂ é ortogonal ao versor radial r̂ : θ̂ · r̂ = (−x̂senθ + ŷ cos θ) · (x̂ cos θ + ŷsenθ) = −senθ cos θ + cos θsenθ = 0. Mais ainda, veja que o versor θ̂ nada mais é senão o próprio versor r̂ rodado mais π/2 para além do ângulo θ. Para vermos isso, façamos π r̂ θ + 2 π π = x̂ cos θ + + ŷsen θ + . 2 2 Mas, π cos θ + 2 = cos θ cos π π − senθsen 2 2 = −senθ e π π π sen θ + = senθ cos + sen cos θ 2 2 2 = cos θ. Logo, π r̂ θ + 2 = −x̂senθ + ŷ cos θ = θ̂. 5 Com esses resultados, a velocidade da partícula pode agora ser escrita como dr dr̂ dr +r = r̂ + rω θ̂. dt dt dt Veja que o termo ao longo da direção do versor r̂ é a chamada componente radial da velocidade e o termo ao longo da direção do versor θ̂ é a chamada v = r̂ componente tangencial da velocidade. A gura a seguir ilustra gracamente os versores r̂ e θ̂. E a derivada do versor θ̂? Agora é fácil: dθ̂ dt d (−x̂senθ + ŷ cos θ) dt dθ (−x̂ cos θ − ŷsenθ) , dt = = isto é, dθ̂ dt = −ωr̂. Sabendo as derivadas primeiras dos versores r̂ e θ̂ permite-nos encontrar suas derivadas segundas: e d2 r̂ dt2 d2 θ̂ dt2 = = − dω dθ̂ θ̂ + ω = αθ̂ − ω 2 r̂ dt dt dω dr̂ r̂ − ω = −αr̂ − ω 2 θ̂, dt dt 6 onde denimos a aceleração angular como α dω d2 θ = 2. dt dt = Agora que já conhecemos os versores r̂ e θ̂ e suas primeiras e segundas derivadas temporais, podemos calcular a aceleração em coordenadas polares de uma partícula de massa m e vetor posição r : a d d2 r = 2 dt dt = dr dt dv d = = dt dt dr r̂ + rω θ̂ , dt isto é, a dr̂ dr d2 r d (rω) dθ̂ + r̂ 2 + θ̂ + rω , dt dt dt dt dt = ou seja, a = ω θ̂ dr d2 r dr dω + r̂ 2 + ω θ̂ + r θ̂ − rω 2 r̂, dt dt dt dt ou ainda, a = r̂ d2 r − rω 2 dt2 dr dω + θ̂ 2ω + r . dt dt Assim, a = r̂ d2 r − rω 2 dt2 dr + θ̂ 2ω + rα . dt Como exemplos particulares, consideremos dois casos. Se o movimento for sobre uma circunferência, então a distância radial r será constante e suas derivadas anular-se-ão. Nesse caso, a aceleração cará acirc. = −r̂rω 2 + θ̂rα. Se o movimento for circular uniforme, não haverá aceleração angular e a aceleração será igual à chamada aceleração centrípeta: acirc. unif. = −r̂rω 2 , onde, nesse caso, r e ω são constantes. Espero que esta postagem possa ter proporcionado a você algum esclarecimento sobre um assunto muitas vezes complicado no início. A noção de derivada é sempre recente para estudantes do primeiro ano de graduação e uma abordagem como esta pode trazer diculdades. Além de Cálculo Diferencial, a disciplina chamada Geometria Analítica pode ajudar muito para o entendimento da presente postagem. Se você acha que algum trecho está demasiado obscuro, deixe-me um comentário e tentarei torná-lo mais claro. 7