ISSN 18094589
ANO VII – Nº 13 - DEZEMBRO D E 2011
P. 79 – 86
ÁGORA Revista Eletrônica, objetivando a valorização do debate regional contextualizado,
promotor de questionamentos e problematizações, almejando transformações sócio-econômicas,
atenta às demandas populares e devotada a democraci a profunda, efetiva, de alta intensidade, ou seja,
democraci a cidadã, parti cipativa, entrevista Plínio Simas, Coordenador do Comitê de Implantação do
Hospital Regional de Palmeira das Mi ssões, como ele próprio diz, primeiro hospital a ser construído a
partir de discussões gestadas no seio
dos
movimentos
populares
e,
igualmente, pioneiro, na formatação
democráti ca do sentido público que o
está gestando. Plínio Simas, foi
entrevistado por Claudionei Vicente
Cassol, Editor de ÁGORA Revi sta
Eletrônica, em sua casa, na tarde de 27
de novembro do corrente ano como
destaque pel a relevância temáti ca e
significação sócio-política local, regional,
nacional e internacional, da ação que
coordena em forma de gestão colegi ada.
ÁGORA Revista Eletrônica (ARE):
Plínio Simas, gente da terra, da cultura e das raízes da região Norte do Estado do Estado do Rio Grande do
Sul, proveniente da agricultura camponesa, com destaque a nível regional, estadual, nacional e internacional,
pelas iniciativas e participações nos movimentos sociais e populares. Também pela discussão, debate de
ideias que vem desenvolvendo nos últimos tempos no Brasil. Promover um debate, dar um novo alerta, uma
nova discussão, uma nova dimensão para os problemas da sociedade brasileira, promovendo a vida, a
qualidade de vida dos brasileiros, da população em geral, trazendo também alternativas, situações novas
para o nosso país, para a nossa gente.
Plínio, nós estamos satisfeitos e contentes com a sua disponibilidade de conversar conosco e
gostaríamos de discutir hoje a respeito do Hospital Público Regional. Gostaríamos que tu dissesses para nós
agora, no primeiro momento mais ou menos de onde vem, quais as fontes, quais as demandas, de onde brota
esse movimento que articula esse Hospital Regional P úblico e a partir de que princípios essa proposta
começou a ser discutida, começou a ser construída por vocês e por você enquanto presidente dessa
Comissão Regional, desse Comitê Regional que agrega vários municípios, que congrega vários municípios,
uma comissão que está para além daquilo que é uma determinação, mas uma construção coletiva.
Gostaríamos de saber um pouco Plínio, em umaconversa, como brotam, no aspecto histórico, essas
demandas do Hospital Público Regional?
Plínio Simas: Para nós é importante estarmos conversando com o nosso povo de Cerro Grande e da
nossa região. Os movimentos sociais têm, nos últimos anos, sido chamados de clínicos gerais, pois têm
trabalhado em todas as áreas e sempre brigando, buscando, questionando, implementando políticas públicas.
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Seja na agricultura através do crédito, na habitação que foi uma conquista dos movimentos sociais durante
vários anos; discutindo a questão da educação, pois foi uma conquista as universidades na nossa região,
nos três estados do sul que é uma política de educação importante para o desenvolvimento e os movimentos
sociais sempre estiveram à frente para trazer essas políticas. E, nos últimos quatro anos iniciou-se um debate
acerca de um vácuo que havia na saúde pública da região norte e noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
Além disso, inspirados na vinda da universidade da CESNORS para a região nós começamos a discutir a
necessidade de saúde pública e nós que andamos nessa região sabemos da necessidade de média e alta
complexidade da população. Então nós fomos certo dia na universidade conversar que havia esse vácuo e
tratar a respeito da importância desse hospital que na época era chamado Hospital Público Federal. Durante
o debate entendemos que há muito tempo a governo estadual e federal não cria hospitais, e sabendo da
necessidade da população começamos a pensar em um Hospital Público Regional. E na época, foi dada
ênfase que o hospital devia ser público e não mais um hospital. Também, seria necessário que atendesse a
demanda da região e não somente os interesses de alguns. Foi frisado que precisaria atender aos interesses
sociais da região. E depois, no debate que fomos fazendo, fomos construindo o projeto e pesquisando em
todos os municípios da região quais as principais doenças que levavam as pessoas a procurar os hospitais.
Também foi questionado a respeito do número de internações que saiam da nossa região e iam para outras
como Passo Fundo, Ijuí, Santa Maria e Porto Alegre. A partir dessa pesquisa nós constatamos que havia
espaço para construir um hospital que atendesse pessoas com problemas de média e alta complexidade. E
temos insistido, não abrimos mão de que esse atendimento seja cem por cento SUS e cem por cento rede.
Por isso, esses dois conceitos de saúde estarão na base da construção desse Hospital Público Regional. Nós
falamos em rede porque os pacientes devem ser atendidos pelo médico da família, pelas equipes de saúde
do município. Caso não solucione o problema em casa, vai até o posto de saúde, se ainda assim não for
resolvido vai ao hospital. E quando o paciente volta para casa, a secretaria de saúde vai ser comunicada a
respeito desse paciente, a respeito de como deve ser seu tratamento e seu acompanhamento. Devido a
esses dois conceitos (cem por cento SUS e cem por cento rede) esse projeto está tendo muita adesão.
ARE: É interessante também Plínio a situação de que as políticas públicas, a partir dessa discussão
que vocês fazem, destaca, como possível, autonomia dos movimentos sociais, das demandas da população e
também resgata aquilo que é o sentido do público, não é?
PS: Exatamente. E nós temos garantia de que esse hospital vai ser de fato público e mais do que
público, pois ele vai atender somente SUS, não vai haver portas diferenciadas para receber pessoas com
dinheiro ou não. Todos serão atendidos da mesma forma. Vai haver fila única (tomara que não necessite ter
fila) mas caso tiver, todas as pessoas serão tratadas iguais de acordo com as suas necessidades e as suas
urgências. No Hospital vai haver sala de urgência e emergência, ou seja, todos que tiverem esse tipo de
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necessidade serão atendidos, porém todos os que puderem participar da rede será importante para não
superlotar esse Hospital.
ARE: Plínio, nas análises de vocês, de todo o comitê gestor dos municípios, das comissões que
estudam e discutem o Hospital Público Regional deve haver um balizador de estatísticas em termos de
saúde. Você até falou a pouco de algumas coisas em termos da saúde dos cidadãos, das cidadãs, dos
trabalhadores e trabalhadoras, inclusive da centralização do SUS nas grandes cidades, da superlotação que
se vê nos últimos tempos e, também, você já remeteu a alguma coisa da vacância ou desse vácuo das
instituições especializadas e com autonomia aqui no norte do Rio Grande do S ul, na região de Palmeira das
Missões, Frederico Westphalen, essa região toda do norte do estado. Você poderia destacar alguns índices
que auxiliaram as análises, a opção pela implantação desse Hospital Regional em Palmeira das Missões?
Que motivações e que discussão tem gerado isso?
PS: Nós fizemos uma pesquisa primeiramente nesses setenta e dois municípios que têm 500 mil
habitantes. De 500mil habitantes, oitenta por cento é SUS dependente, vinte por cento têm plano privado.
Então nós temos 400 mil pessoas que dependem do SUS. Isso é um público muito grande. Em média oito por
cento da população é internada. Outro dado importante é que de 42 hospitais que nós temos na região, só um
hospital tinha UTI. E nessa UTI só havia 10 leitos no período em que foi feita a pesquisa. Era uma demanda
gritante. Inclusive mais de 50 por cento dos partos são feitos fora da região. O cidadão não tinha o direito nem
de nascer na sua própria cidade ou na sua própria região porque não havia UTI, então em qualquer gravidez
de risco se fazia necessário procurar outros hospitais. Quanto às doenças que acometem a população, o
câncer é uma das que causa mais dificuldade para as pessoas quanto ao difícil acesso ao tratamento. Outro
exemplo são os acidentes, em que a maioria dos pacientes vai para Passo Fundo. Mais um dado importante
é incapacidade de resolutividade dos hospitais que apesar de terem bom atendimento e se esforçarem para
suprir as necessidades dos pacientes, porém não há condições desses hospitais manterem seus
equipamentos em pleno funcionamento nem ter pessoal capacitado suficiente para atender a demanda.
Portanto, para conseguir atender a essas necessidades tendo pessoal capacitado para trabalhar e
equipamentos é necessário haver um Hospital Público.
ARE:Plínio, presidente do comitê regional de implantação do Hospital Público Regional, que
contribuições estão presentes nas discussões que vocês estão levantando em termos de região acerca dos
benefícios que a população regional desses setenta e dois municípios pode ter? O que vocês estão
visualizando com mais destaque? O que poderia ajudar de imediato a população com a implantação do
hospital?
PS: Primeiramente, a resolutividade. Vai ter resolutividade, tecnologia de última geração,
equipamentos novos e estrutura nova. Então a resolutividade nas doenças que muitas vezes chegavam a
níveis avançados para poder ir até Passo Fundo ou outras regiões, não precisarão mais se sujeitar a isso,
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pois poderão diagnosticar logo e tratar. Sendo assim, será evitado muito sofrimento. Além da questão social e
do bem estar das pessoas, também haverá uma diminuição considerável em termos de gastos de
deslocamento para outras cidades distantes. Esse hospital resolverá grande parte das doenças que foram
citadas através da pesquisa. Ele não pode ser ocioso, pelo contrário, precisa ser muito bem utilizado porque
tem altos custos. Por isso, teve-se o cuidado de colocar nesse hospital as especialidades que são mais
necessárias de acordo com o levantamento feito de doenças de maior incidência na região.É claro que talvez
não possa ser atendida 100 % da região. Talvez haja casos que não haja compatibilidade com as
especialidades disponíveis no Hospital Público Regional. Mas a grande maioria dos casos vai ser atendida
nesse local. Com isso será economizado muito dinheiro e também haverá maior desenvolvimento econômico
na região.
ARE: Antes de falarmos das especialidades, poderia destacar quais as principais doenças que foram
encontradas nessa pesquisa na região?
PS: O câncer é uma das doenças que se encaixa nos casos gravíssimos. Problemas
cardiovasculares também estão presentes. Mas as principais doenças que afetam a população da região não
são de alta complexidade. É média e baixa que se transforma em alta complexidade porque muitas vezes não
tem um diagnóstico preciso e vão se tornando crônicas. Ocorre também que por falta do diagnóstico, muitas
pessoas fazem tratamento para doenças erradas. Os principais casos de óbito na região são por
complicações pneumáticas e por patologias que não seriam de extrema gravidade, mas que por falta de um
tratamento correto acabam se agravando. Esse é um grande problema que assombra a região norte. Outro
ponto importante quando se trata do social além do serviço 100% SUS, 100% público, 100% rede, é a
humanização da saúde. Não há como discutir sem falar de humanização que por sinal está sendo pouco
levada em conta atualmente. Nós temos que resgatar o debate de humanização e esse hospital vai nascer
com um prédio junto com o hospital de 5.000 metros quadrados onde vão ser atendidos os familiares. Não vai
ter albergue para deputado ganhar voto. O prédio vai ser um lugar de apoio à família junto ao hospital como
parte da saúde sem custo nenhum. Não é caridade, é investimento em saúde. As famílias poderão ficar nesse
local, pois é preciso resgatar a humanização e não se faz saúde sem humanização.
ARE: ...É a questão do sujeito, do cidadão, da pessoa ser tratada como pessoa e não como objeto de
joguete de um lado pro outro andando mais tempo nas estradas do que nos tratamentos...
PS: Portanto, além da tecnologia que vai ter para as pessoas não precisarem circular muito, há
também formas de enviar exames pela internet e aguardar os resultados sem precisar se locomover.
ARE: Plínio, falando em termos de investimento financeiro e das especialidades, inclusive do volume
de atendimentos que a comissão tem pensado que o comitê regional tem pensado e da qualidade que tu tens
referido na tua fala mais ou menos com que expectativa o grupo está trabalhando em termos de investimento
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financeiro, das especialidades, do volume dos atendimentos, tem alguma coisa sendo pensada nesse
montante todo?
PS: Esse hospital é um projeto com duas estruturas, uma em Palmeira das Missões e outra em
Frederico Westphalen. No primeiro município o projeto arquitetônico já está saindo com 250 leitos (constam
180, mas vão ser construídos 250). O segundo município contará com 92 leitos. Somando as unidades dos
dois municípios haverá grande número de leitos disponíveis para as pessoas que precisarem do atendimento
oferecido nesse hospital. O custo do hospital de Palmeira das Missões fica em torno de 120 milhões de reais
para construção e equipamentos. É um valor bastante significativo e o recurso já está garantido e depositado
sendo que a construção e os equipamentos são de responsabilidade do governo federal. A manutenção dele
tem sido desde cedo discutida. Tudo indica que o estado e a união sejam os responsáveis pela manutenção.
A reponsabilidade dos municípios será dar a atenção básica, que assume papel muito importante no
município. A avaliação da manutenção é de que chegue a até 5 milhões ao mês e vai gerar cerca de 800
empregos diretos somente no hospital de Palmeira das Missões. A unidade de Frederico Westphalen ainda
não foi calculada. Mas acreditamos que haverá muitos empregos também. Surgirão também empregos
indiretos, pois em função do hospital surgirão diversos novos serviços para atender a demanda.
ARE: Plínio, e em termos de especialidade o que vocês tem discutido para o Hospital Público
Regional de Palmeira e talvez para Frederico Westphalen. Há alguma coisa concreta nesse sentido?
PS: Agora nós estamos redimensionando, estamos passando nos 72 municípios novamente, pois os
dados eram do IBGE de 2002 e 2006. Nesse momento temos ido diretamente a todos os municípios, nos
hospitais acompanhando essa equipe de pesquisa para redimensionar os hospitais já existentes e as
especialidades que existirão em Palmeira e Frederico.Em Palmeira das Missões já há um redimensionamento
de leitos; será 40 clínico geral; 25 clínico-cirúrgica; 30 ortopedia (especialidade que quase não há na região);
20 pediatria; 10 psiquiatria; 20 obstetrícia; 10 ginecologia; 25 U TI (5 pediatria, 5 neonatal, 15 adulto). De
acordo com a pesquisa esses leitos suprirão as necessidades da região, principalmente a UTI que é muito
necessária e quase não existe.
ARE: Interessante a pesquisa que vocês vêm desenvolvendo, porque assim já traz uma nova
concepção de administração ou uma pé-administração que vem concebendo uma estrutura histórica da
região na questão da saúde que contempla toda a questão da humanização, também a questão da cidadania,
das demandas, das necessidades. Ou seja, é um hospital que vem para consolidar uma nova perspectiva
administrativa e também a questão da cidadania, das demandas das políticas públicas regional traz também
um novo conceito para a região.
PS: E também dentro desse mesmo hospital que estamos falando vai ter o espaço para ensino e
pesquisa. Vai haver auditório, salas ao lado dos postos de atendimento para que ao mesmo tempo que os
pacientes sejam atendidos haja espaço para treinar novos profissionais de saúde.
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ARE: O Hospital Público Regional com essa concepção de público não vai se omitir e dizer que não
pode atender. O objetivo é universalizar o atendimento. Tu já terias, enquanto presidente do comitê, uma
forma, uma discussão, já pensada ou iniciada de como vão funcionar agendamentos, atendimentos, o
funcionamento, o próprio financiamento que vão qualificar a saúde da população principalmente aqui no norte
do estado? Como vai funcionar a dinâmica do hospital?
PS: Vai ter um centro de regulação, porque hoje o estado do Rio Grande do Sul tem um centro de
regulação para que as pessoas não percam a viagem. Elas têm que saber qual o leito que está esperando
elas. Estamos pensando se esse centro vai ser regional ou vai ser em Porto Alegre. Mas o que temos certeza
é que esse hospital vai atender todos, não somente os 72 municípios. Quando fazemos um projeto temos que
colocar o território, porém vai haver casos de pessoas de outras regiões que precisem e possam ser
atendidas no local. Também serão atendidos os planos privados, porém o atendimento não será diferenciado
e o plano privado vai pagar o hospital. Não será questionado à pessoa se ela tem plano privado, ela será
atendida de qualquer forma sem nenhum custo. A gestão está sendo discutida, foram feitas várias reuniões
para não haver erro na proposta da pessoa jurídica. E sabemos que a saúde não espera. Quando surge a
necessidade, tem que ser sanada. Portanto é uma pessoa jurídica que vai dar amparo a esse hospital. Essa
pessoa tem que ter agilidade, estar de fato colado com as necessidades. Temos debatido muito o consórcio,
CIPS, mas o que tem mais se aproximado é a fundação pública de direito privado pois é mais flexível, vai ter
acompanhamento, fiscalização do tribunal de contas pois é preciso zelar pelo bom uso do dinheiro público
mas ele possibilita fazer compras de remédio ou material dentro de 4 ou 5 dias. Caso fosse um Hospital
Público Federal levaria em torno de 40 dias, 60 dias. E como nós temos experiência no Hospital Conceição,
que é um grande hospital de referência mundial que tem nos acompanhado, nos assessorado e com essa
compreensão estamos trabalhando em uma fundação pública de direito privado para facilitar o trabalho dentro
do hospital.
ARE: ...O hospital não pode esperar, portanto não pode ser burocrático. A fundação pública de direito
privado viabiliza, agiliza toda essa dinâmica hospitalar que tem que ser urgente, imediato para atender bem a
população.
PS: Sem dúvida. Por isso dentro dessa fundação, na gestão nós queremos que estejam
trabalhadores do hospital, usuários do hospital e sociedade civil organizada gestando esse hospital sem
interesses particulares. O grande conjunto da região tem que gestar esse hospital.
ARE: ...É uma gestão colegiada...
PS: ...É uma gestão colegiada. Hoje nós já temos um colegiado de gestão de 16 pessoas que
contempla prefeitos, governo do estado e organizações sociais não governamentais. Nós queremos um
conselho semelhante nessa fundação.
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ARE: Plínio, é interessante tua fala quando disseste que o Hospital Público Regional vai se preocupar
fundamentalmente com a saúde e não com a doença, com ajudar as pessoas para que tenham saúde e não
para trabalhar só a doença para trabalhar pessoas boas, saudáveis e que a saúde esteja em primeiro lugar e
não que a doença esteja em primeiro lugar porque o objetivo é que toda a população tenha saúde e não o
contrário. Então fica mais fácil de trabalhar nessa perspectiva. Como vocês estão agilizando um trabalho
interligado entre o hospital, a universidade e os outros hospitais que já temos na região, os consórcios, como
vamos integrar essa estrutura que já foi construída? Como é que se pensa a longo prazo ou no decorrer de
toda essa viabilização do hospital e também mantendo um pouco dessa estrutura histórica de alguns outros
municípios que têm ajudado de alguma forma até hoje. Como é que se pensa isso?
PS: Nós estamos pensando quanto à estrutura hospitalar que há na região, que até o momento
funcionou muito bem pela distância de um hospital de média e alta complexidade. Nós queremos manter
essas estruturas. Algumas estruturas pretendemos redimensionar como retaguarda desse Hospital Público
Regional porque no momento em que é feita um cirurgia de média e alta complexidade, por exemplo, que é
necessário ficar dez dias internado, ele pode ficar 2 dias nesse hospital de média e alta complexidade e dar o
espaço a outra pessoa que está precisando e voltar para esse hospital que nós chamamos de retaguarda na
própria região. E esse hospital fornecerá o suporte até que o paciente tenha alta. Nós pensamos que alguns
hospitais devem ser redimensionados em algum foco, ser autossuficiente em alguma especialidade, como por
exemplo, no tratamento de dependentes, o que é um problema gritante. Por exemplo, os hospitais farão
atendimentos em geral mas serão especializados em algum tipo de tratamento. É preciso redimensionar para
que todos sejam sustentáveis socialmente e economicamente. O grande desafio dos hospitais hoje é uma
gestão que seja economicamente viável. E a partir do HPR temos certeza de que esses projetos vão
funcionar. Porque nós temos 8 % da população brasileira ocupando os leitos. Só seriam necessário 800 e
tantos leitos e nós temos mais de 3 mil leitos. Isso significa que algo não está sendo resolutivo. Se nós
tivermos resolutividade vão ser ocupados menos leitos e serão necessárias menos internações.
ARE: Sabemos que há um comprometimento do governo federal ou há agora na gestão do Rio
Grande do Sul um comprometimento também do governo estadual. E dos 72 municípios como as gestões
públicas estão dialogando com o comitê gestor do HPR?
PS: Nós já fizemos vários seminários, debates e reuniões, associação dos prefeitos da região,
fizemos vários documentos e todos eles têm apoiado mesmo que não participando assiduamente do projeto,
no que toca a entender que tem a necessidade desse hospital todos os municípios estão colocando à
disposição as estruturas e aprovando as decisões do colegiado de gestão e pensamos que estão sendo bem
representados a associação de prefeitos no colegiado de gestão.
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ARE: Na tua compreensão, na compreensão do comitê gestor, como deve ser organizada e como
deve funciona na região a questão da saúde no Rio grande do Sul, no Brasil? E que aspectos poderíamos
destacar aqui para que ela pudesse funcionar como o nome saúde e não com o tratamento de doença?
PS: Essa região do Rio Grande do Sul criou 7 territórios de saúde no estado do Rio Grande do Sul e
nós somos um território. E o Brasil inclusive o Rio Grande do Sul está prestando atenção em nosso território
porque pode surgir uma nova proposta de saúde. E a nossa responsabilidade nesse projeto do HPR é de não
criar um hospital apenas para tratar, mas também para prevenir. O SUS não é apenas um leito do SUS, ele
tem uma proposta preventiva, tem o médico da família, tem a equipe de saúde da família nos municípios. Isso
tem dado grande resultado e é a equipe de saúde básica. E nós temos passado nos hospitais e constatamos
que depois que esse programa de saúde da família iniciou baixou muito o número de internações. Mas nós
ainda precisamos suprir muitas necessidades. Há muito que se fazer ainda pelo SUS e a saúde preventiva é
a melhor saúde. E se a pessoa precisar de internação precisa estar segura de que haverá tratamento para ela
continuar trabalhando e vivendo nesse país.
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