Recursos Hidrogeológicos Por: Luís Cardoso e David Rosa. Introdução A água é um bem essencial à Vida. O seu papel no desenvolvimento da civilização é reconhecido desde a longínqua antiguidade. Este recurso aparenta ser bastante abundante no nosso Planeta. No entanto, 97% de toda a água do mundo é salgada, pelo que não pode ser consumida pelo ser humano. No final de contas feitas só 0,675% da água de todo o planeta se encontra em condições de ser utilizada pelo Homem. E não é só: mesmo esta pequena percentagem está sujeita à poluição, tornando-se assim água não potável, diminuindo ainda mais a percentagem de água potável. Desta forma, facilmente se compreende por que é a água é considerada um recurso tão precioso. Reservatórios de Água A água da Terra, que constitui a hidrosfera, distribui-se por três reservatórios principais: os oceanos, os continentes, e a atmosfera. Entre estes existe uma circulação perpétua conhecida por ciclo da água, ou ciclo hidrológico. O Sol é o principal “motor” deste ciclo, iniciando a evaporação da água. Reservatórios de Água (continuação) A capacidade de um aquífero (reservatório de água subterrânea) para armazenar água e possibilidade da sua extracção estão relacionadas com a sua: - porosidade; - permeabilidade. As formações com baixa porosidade (poucos poros e sem ligações entre eles) armazenam pouca água e apresentam reduzida permeabilidade. Pelo contrário, se as rochas forem muito porosas e se os poros tiverem dimensões adequadas e estabelecerem ligações entre si, as rochas têm elevada porosidade e permeabilidade. Deste tipo de rochas, o mais apropriado para aquífero, pode citar-se os materiais arenosos. Zonas de um aquífero Da superfície terrestre para o interior, um aquífero divide –se em: -zona de aeração, na qual os poros não se encontram completamente cheios de águas, pois contém também ar; -zona de saturação, em que os poros se encontram totalmente preenchidos com água, daí a sua designação. A linha imaginária que permite separar estas duas zonas é o nível hidroestático. Zonas de um aquífero (continuação) O nível hidroestático corresponde à profundidade a que se encontra a água numa determinada região. Esta linha estará tanto mais perto da superfície quanto maior for a pluviosidade na região. Assim, é de esperar que no Verão esta linha se encontre a uma maior profundidade que no Inverno. Tipos de aquíferos Existem essencialmente 2 tipos de aquíferos: - Aquífero livre (B): a recarga faz-se pelas camadas acima dele (A). Assim a pressão da água na parte superior deste aquífero (nível hidroestático) é igual à pressão atmosférica. - Aquífero confinado (D): Este aquífero é limitado superiormente por uma camada impermeável. Assim, a recarga deste tem de ser feita lateralmente e não pela camada cimeira. A pressão da água neste aquífero (nível hidroestático em contacto com C) é superior à pressão atmosférica. Gestão das águas subterrâneas O aumento demográfico verificado em algumas regiões do Planeta causou também o aumento da produção de resíduos e de outros poluentes. Hoje é necessária, mais do que apenas água, água de qualidade. A natureza da poluição a que a água pode estar sujeita são a poluição física, química e bacteriológica. A poluição física é a menos comum, e aquela cujos efeitos são menos nefastos, pois o aquífero consegue rapidamente readquirir as suas propriedade físicas normais. Os outros dois tipos de poluição são de remediação quase impossível A poluição química provoca a alteração de (diversas) propriedades da água, que fica imprópria para muitas utilizações. Está-se perante uma situação de poluição bacteriológica quando existem organismos patogénicos na água, tornando-a imprópria para as utilizações do dia-a-dia. Gestão das águas subterrâneas (continuação) A esmagadora maioria da poluição de águas subterrâneas ocorre devido à actividade do Homem. A poluição pode ter origem agrícola, urbana ou industrial. A poluição de origem agrícola ocorre principalmente devido ao uso intensivo de químicos e estrumes que nunca são totalmente absorvidos pelas plantas e que as águas das chuvas se encarregam de levar consigo até aos aquíferos, que ficam inutilizados. (À esquerda) Já a poluição urbana tem origem nos aterros “sanitários”, que com o tempo originam materiais perigosos. Para os aquíferos os mais nefastos são as águas de lixiviação, que se não forem tratadas poderão contaminar de forma irremediável os recursos hídricos do subsolo. (À direita) Gestão das águas subterrâneas (continuação) A actividade industrial, principalmente as indústrias petroquímica, metalúrgica e alimentar gera detritos líquidos (contendo metais pesados, poluentes orgânico, entre outros) que, boa parte das vezes, são lançados livremente em cursos de água. (Figura à direita) A sobreexploração de um aquífero pode também causar a sua poluição. Isto acontece quando a sobreexploração se dá perto do mar. A extracção de água doce possibilita o avanço da água salgada subterrânea que acaba por alcançar o aquífero. Este fica assim poluído com água salgada, o que inviabiliza a sua original utilização. (Figura à esquerda) Consumo de água pelo Homem Esta temática afigura-se como uma das mais importantes dos próximos anos. Actualmente, cerca de 87% de toda a água no mundo é destinada à agricultura. Como se isso não bastasse, boa parte dessa percentagem acaba por ser desperdiçada. (Em baixo, à direita) Cerca de apenas 8% da água é destinada ao consumo urbano. No entanto, mesmo este valor está desigualmente distribuído pela população. Por comparação, cada habitante de um país desenvolvido gasta, em média, por dia, 28 vezes mais que um habitante de um país em desenvolvimento. Conclusão Os aquíferos tornaram-se numa das melhores formas de extrair a tão rara água potável. No entanto, todos os dias o Homem despeja os seus detritos nela. Medidas têm de ser tomadas para diminuir a sua poluição e melhorar a sua distribuição a nível internacional. Não podemos deixar que esta se torne no petróleo do século XXI, causadora de guerra e de morte. Será que algo tão puro como a água, essência de vida, pode ser profanada a ponto de causar a morte?