ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA PRESSÃO AQUÍFERA NUMA REDE GEODÉSICA DE ESTUDO GEODINÂMICO Carlos Antunes1, Rui Gonçalves2, Ana Navarro1, João Catalão1 e João Calvão1 1 Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa 2 Instituto Politécnico de Tomar RESUMO GEOMETRIA DO SISTEMA AQUÍFERO Com o objectivo de avaliar a possível contribuição da pressão exercida pelo sistema aquífero do Vale do Tejo sobre movimentos verticais detectados na rede geodésica de estudo geodinâmico, foi estabelecida uma rede piezométrica que permite a monitorização do aquífero profundo, e consequentemente, o estudo da sua dinâmica. Este estudo permitirá definir uma componente de deslocamento vertical dos vértices associada à variação sazonal do nível hidrostático do sistema aquífero, que deverá ser deduzida dos deslocamentos detectados por observação da rede geodésica com o sistema GPS. A observação regular dos níveis hidrostáticos absolutos com precisão centrimétrica permitirá avaliar a sua capacidade de recarga, os sentidos de fluxo, e em combinação com dados de perfis geoeléctricos, poderá ainda contribuir para uma melhor definição geométrica das estruturas geológicas da zona. É apresentado o trabalho de definição e observação geodésica da rede piezométrica, bem como, resultados preliminar deste estudo a partir das primeiras observações. A descrição da forma e estrutura do sistema aquífero, pode ser inferida com base nas descrições hidro-geológicas, informações da litologia dos furos e a partir da prospecção geoeléctrica e sísmica de superfície. O levantamento geoeléctrico existente engloba cerca de 150 Sondagens Eléctricas Verticais (SEV) no Vale do Tejo. Figura 3 – SEV modelo geoeléctrico correspondente. REDE PIEZOMÉTRICA Foram seleccionados cerca de 80 furos de água a partir da base de dados do INAG (Instituto Nacional da Água) pertencentes ao sistema aquífero Tejo – Sorraia. A Figura 1 mostra a sua distribuição ao longo do Vale do Tejo. Desses cerca de 80 furos foram apenas coordenados 53 a partir de uma estação GPS definida no vértice geodésico MUGE. 3 17 318 320(1834N) 3 19 3 20 S ARDO AL 321 3 22 A LCANE NA 328(1804N) 328 329 CO NS TÂ NCIA TO RRES NO VA S A BRA NTE S 330(170N V ILA ME NONTO VA) DA E NTRONCA 331(55N ) B ARQ UIN HA 3 30 331 3 32 343 3 44 Para a determinação da superfície piezométrica é necessário proceder à medição dos níveis hidrostáticos em cada furo de água, a partir do qual se deduz o seu nível hidrostático absoluto ou nível piezométrico, sabendo-se a cota do bordo do furo (1). Esta medição é feita com uma sonda, a qual é constituída por uma fita métrica (de 100 m ou mais) que comporta um circuito eléctrico de 9 V, e que na sua extremidade tem uma ponta metálica que fecha o circuito em contacto com a água. G O LEG Ã 340/P 340/ASC16 2 342/C H 2 340(1686N) 341(1292) 342/C H 1 3 39RIO M AIO R 3 40 3 41 340/P S 13 342 C HAMUS CA 260000 353(86) 3 51 3 52 364/P S 15 365(1535N) A LME IRIM 366(166) 3 63 3 C6ARTAXO 4 3 66 240000 3 53A LPIARÇA 3 55 3 56 367(1100) 3 65 365/71N 377(151) 376(1524N ) 3 377(1519) 77 3 76 3 68 3 67 31 379(1320) 3 78 A ZA MB UJA A LENQ UER 354 S ANTARÉ M 3 79 380 379(202N ) Figura 5 – Modelo do sistema aquífero - Península Setúbal e NE do Vale do Tejo. MEDIÇÃO DO NÍVEL HIDROSTÁTICO 27 329(1836) 280000 327 Figura 4 – Descrição simplificada da litologia de um furo. 3 81 378(212N ) 390/110N S ALVA TE RRA DE MAG O S 391(1321N) 3 90 391 B ENA VENTE 404/51N ) 4 404(1332N 04 394(216) 3 92392(231) 3 93 406/22 406(210) 406 4 05 419/1381N 200000 4 19 3 95 M O RA 407(220) 4 07 408 409 4 21 422 4 23 4 35 436 4 37 SUPERFÍCIES PIEZOMÉTRICAS 420(232) 421(211N ) 418(1379N) 4 18 394 C ORUCH E 405/51 V ILA FRANCA DE XIRA 220000 392/29 419/8N 4 20 4 3433/551N 3 4 34 Dada a grande capacidade de recarga do aquífero do Vale do Tejo, um dos aquíferos mais produtivos, e dado o elevado nível de extracção de água que se verifica, pretende-se determinar sazonalmente superfícies piezométricas com o objectivo de estudar a sua dinâmica, bem como, a sustentabilidade do aquífero. E, principalmente para a componente de geodesia, estudar a possível influência da pressão do aquífero exercida sobre a topografia do terreno, de modo a poder retirar-se ilações sobre a sua influência nos movimentos verticais dos vértices geodésicos da rede de estudo geodinâmico da zona detectados com o GPS. 35 432/73N A LCO CHETE 434(953N ) 4 32 M O NTIJO V ENDA S NOV AS 443(500) 445(1372) 444/1452N 4 4 4 445(1374) 445 M O ITA 4 443(623) 43 442/94 446 447 4 48 4 56 4 57 458 4 59 4 67 4 68 469 454(601) P ALM ELA 455(1423) 454(778) 180000 4 54 455 S ETÚBA L 4 65 466 4 70 160000 120000 140000 160000 180000 200000 Figura 1 – Distribuição dos furos de água coordenados na região do Vale do Tejo. A escolha de furos para integrar esta rede tem em consideração dois factores, a acessibilidade e a presença de equipamento de bombagem. O equipamento de bombagem presente no furo é o factor mais importante, já que por um lado inviabiliza muitas vezes a utilização dos furos para medição piezométrica, pelo facto de impedir a introdução da sonda, e por outro, em períodos de extracção não permite a medição correcta do nível hidrostático. Os melhores furos, são por isso, os furos sem bombagem ou desactivados. 3 9 .4 O tipo de equipamento e o nível de extracção de água constituem também entraves à boa representatividade do aquífero. É conveniente referir que, por vezes, para aumentar a capacidade de extracção o revestimento do furo é perfurado ao longo de toda a sua extensão, pondo em contacto directo os diferentes aquíferos que este atravessa, nomeadamente o aquífero superficial e o aquífero profundo. Sem furos especificamente dedicados a este tipo de estudo, o trabalho deve ser conduzido com muita cautela, nomeadamente efectuar medidas de nível só após um longo período de estabilização do nível hidrostático da zona, e nunca em alturas de extracção ou de recuperação. Este tipo de consideração levou à exclusão de alguns furos medidos em momentos de captação, os quais alteravam consideravelmente a modelação da superfície piezométrica. 3 2 9 (1 8 36 ) 3 9.4 3 9 .2 3 20 (1 83 4N ) 3 3 0 (1 7 0 N) 3 5 3 (8 6 ) 39.5 3 29 (18 3 6) 3 28 (18 0 4N ) 3 5 4 (1 7 4 ) 3 9.2 39.3 3 53 (8 6) 3 6 7 (1 1 0 0) 3 90 / 1 10 N 3 9 2 (2 3 1 ) 4 0 6 /2 2 4 04 / 5 1N 38.9 4 2 0 (2 3 2) 4 1 8 (1 3 7 9N ) 3 8.8 39.0 4 0 7 (2 2 0) 4 0 4 (1 3 32 N ) 3 8.6 -9.4 -9 .2 -9.0 -8 .8 -8.6 -8.4 -8 .2 -8.0 -7.8 -9.1 4 19 / 8 N 4 33 / 5 51 N 38.7 4 4 5 (1 3 72 ) 4 4 4 /1 4 5 2 N 4 4 5 (1 3 74 ) 4 4 3 (6 2 3) 4 5 4 (6 0 1 ) 4 5 5 (1 4 23 ) 4 5 4 (7 7 8) -8.9 -8.7 4 06 / 2 2 4 20 (23 2 ) 4 32 / 7 3N 4 3 3 /5 5 1 N 4 4 2 /9 4 3 94 (21 6 ) 3 92 / 2 9 4 05 / 5 1 4 19 / 1 38 1 N 38.8 4 3 2 /7 3 N 4 4 3 (5 0 0 ) 3 8 .4 3 66 (1 66 ) 3 64 / P S 1 5 3 77 (15 1 ) 3 76 (15 2 4N ) 39.1 3 8 .6 3 31 (55 N) 3 54 (17 4 ) 39.2 3 7 7 (1 5 1) 3 7 6 (1 5 2 4N ) 3 9 0 /1 1 0 N 3 9.0 3 8 .8 3 30 (1 70 N) 3 40 / P S 1 6 3 42 / CH 2 3 41 (12 932)42 / CH 1 39.4 3 6 6 (1 6 6) 3 9 .0 3 3 1 (5 5 N) 3 4 1 (1 2 92 ) -8.5 38.6 -8.3 4 43 (50 0 ) 4 42 / 9 4 -9 .1 4 45 (13 7 2) 4 44 / 1 45 2N 4 45 (13 7 4) 4 43 (62 3 ) 4 54 (60 1 ) 4 55 (14 2 3) -8 .9 -8.7 -8 .5 -8.3 Figura 6 – Superfícies piezométricas observadas: a) Julho e Novembro de 2000; b) Julho de 2001 Figura 2 – Modelo aproximado da topografia do terreno da zona do Vale do Tejo. COORDENAÇÃO DOS FUROS CONCLUSÕES A coordenação dos furos foi feita por GPS a partir de uma estação definida no vértice geodésico MUGE, tomando como referencial geodésico a estação permanente de CASCAIS do IGP (Instituto Geográfico Português) no sistema WGS84. A determinação de superfícies piezométricas de precisão requer, por um lado, técnicas de posicionamento específicas da geodesia, quando se trata de áreas de grande extensão como é o caso do Vale do Tejo, e por outro lado, cuidados acrescidos na escolha dos furos de água que constituem a rede de medição. Enquanto que a geodesia já pode dar resposta a este tipo de posicionamento altimétrico de precisão de forma eficiente, já a escolha de pontos de água é uma questão de difícil contorno, pois os furos deverão estar em contacto apenas com o aquífero profundo, sob pena de conduzir a medidas erradas de nível. Certeza essa, difícil de obter. A cota é a componente de posicionamento mais importante para este estudo, pois é a altitude ortométrica do nível hidrostático (1) que define a superfície piezométrica, pelo que houve a necessidade de se conjugar o sistema GPS com um modelo de geóide existente para a zona. As coordenadas planimétricas para além de fornecerem um posicionamento dos furos, necessário à localização dos furos no terreno, são usadas para a interpolação do modelo de geóide. h NH = (H GPS −N ) Geóide boca − do −tubo + Nível (1) sonda O posicionamento com GPS foi feito em modo estático com bases inferiores a 20 km, obtendo-se uma precisão altimétrica estimada na ordem dos 5 cm. Considerando a precisão absoluta do modelo de geóide utilizado de 8 cm e a precisão de medição do nível de 1 cm, podemos assumir uma precisão final do nível hidrostático absoluto da ordem dos 10 cm. Esta precisão obtida é suficiente para garantir, da parte da componente de posicionamento geodésico, um rigor superior a 0,01 % nos declives da superfície piezométrica. Poder-se-á , contudo, aumentar essa precisão para o nível de 5 cm, perfeitamente ao alcance do GPS e dos modelos de geóide mais actuais. Cruzando o modelo preliminar da superfície piezométrica com a topografia da zona, conduz-nos à conclusão da necessidade ampliar a rede de furos a NW do rio Tejo, por forma a caracterizar melhor o modelo ao nível do sentido de fluxo do aquífero. Dado que este trabalho ainda se encontra em fase preliminar de análise de dados, não é possível apresentar aqui nem conclusões sobre a dinâmica do aquífero, nem conclusões sobre a pressão exercida sobre a topografia. Este trabalho está a ser realizado no âmbito do Projecto I&D “Seismic Hazard Evaluation of the Lower Tagus Valley (SHELT)” financiado pela FCT ao abrigo do programa PRAXIS/P/CTE/11178/98.