Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total
responsabilidade de seu(s) autor(es).
A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR NO ASILO: FORTALECENDO A
INTEGRAÇÃO EDUCAÇÃO-ASSISTÊNCIA
Damaris Asseburg, Juliana Farias Duarte, Glasiely Alves da Silva, Karen Lúcia Abreu
Rodrigues, Noédia Moura de Souza Leão.
Universidade Federal de Mato Grosso/ Campus Universitário de Rondonópolis.
Rondonópolis/Mato Grosso, Brasil.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência interdisciplinar
entre os acadêmicos dos cursos de psicologia e enfermagem da Universidade Federal
do Mato Grosso, em oferecer capacitação aos cuidadores do Lar dos Idosos Paul
Percis Harris, situado em Rondonópolis. A atividade de capacitação está vinculada ao
projeto de extensão Viva a Vida, em que pretendemos colaborar na formação de
profissionais que prestam serviços junto aos idosos. Na experiência institucional
observamos que o funcionário traz consigo dificuldades existenciais, diferentes tipos
de preconceitos e estereótipos relacionados à velhice, presentes em nossa sociedade,
que interferem na assistência. Somado a isso, o idoso portador de situação crônica
incapacitante ou submetido ao agravo temporariamente gera um aumento da
dependência de cuidados, o que aumenta o desgaste dos cuidadores e a importância da
prevenção em saúde aos idosos institucionalizados. Dessa maneira, formamos um
espaço para orientações teóricas, técnicas e éticas sobre envelhecimento a fim de
trabalharmos em prol da construção de uma equipe capaz de oferecer melhores
resultados assistenciais e de proporcionar relações sociais mais solidárias e justas.
Com o contato alcançado, verificamos que através da integração educação e
assistência a partir da perspectiva interdisciplinar, atenuamos as distorções e a
compreensão limitada da atuação dos cuidadores na assistência aos idosos a respeito
dos diversos aspectos que envolvem o envelhecimento e as necessidades que esta fase
implica.
Palavras chave: Idosos, Cuidadores, Interdisciplinaridade.
Este artigo visa apresentar a experiência inicial de atenção ao idoso institucionalizado
por uma abordagem interdisciplinar, entre estudantes de psicologia e enfermagem.
Como forma de aprimorar a atenção prestada aos idosos residentes no Lar dos Idosos
Paul Harris, promovemos a capacitação dos cuidadores. Este trabalho é fruto do
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projeto de extensão “Viva à Vida”, que se estabeleceu devido a uma parceria da
Universidade Federal de Mato Grosso/ Campus Universitário de Rondonópolis e uma
instituição asilar total, situada na cidade de Rondonópolis/ Mato Grosso.
Para apresentarmos a experiência da capacitação é importante falarmos
de como se deu a entrada do projeto na instituição. Em
um
primeiro
momento
realizamos atividades junto aos idosos, ambientação, entrevistas individuais, avaliação
clínica dos idosos, jogos e outras atividades integrativas. Com as entrevistas
realizadas podemos caracterizar os perfis dos idosos da instituição e assim preparar
uma capacitação em consonância com a realidade presente. A necessidade da
instituição em capacitar seus funcionários foi levantada em uma primeira entrevista da
equipe do projeto com os responsáveis pela mesma. Através dos estudos referentes à
capacitação observamos que “o que existe atualmente são experiências isoladas, que
tentam fornecer suporte a determinado grupo de cuidadores de idosos”
(RESENDE,2008). Identificamos, por meio de entrevistas individuais semiestruturadas, dados sobre os cuidadores, suas perspectivas quanto ao trabalho
desenvolvido e também informações quanto a sua experiência e formação
profissional. As entrevistas tiveram como base quatro questões, referentes à
identificação do funcionário, suas experiências profissionais, expectativas e
dificuldades encontradas no trabalho.
Os
dados obtidos contribuíram para caracterizar o perfil dos profissionais que trabalham
na instituição, apesar da inserção dos alunos na instituição há meses desenvolvendo
atividades com os idosos, quando buscamos conversar com os cuidadores percebemos
certo receio por parte desses profissionais em responder sobre as dificuldades de seu
trabalho. Nesse primeiro contato, as impressões que tivemos é de que os profissionais
são sobrecarregados. Os dados das entrevistas com os cuidadores demonstram os mais
diversos motivos que os levaram ao trabalho junto aos idosos, alguns entraram na
instituição por meio de trabalho voluntário e com o passar do tempo acabaram sendo
contratados, outros por terem feito curso de cuidador e alguns por indicação de
amigos. Essas diversas experiências profissionais justificam a demanda para a
realização de uma capacitação.
A capacitação atendeu a 19 cuidadores, entre eles técnicos de enfermagem,
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cozinheiras, motorista da instituição, auxiliares de limpeza e as pessoas que são
contratadas exclusivamente para o cuidado exclusivo do idoso. Para a realização das
atividades foram utilizados projetor de slides para apresentar os conteúdos, registros
de diálogos e videogravações, os participantes foram divididos em dois grupos
realizando as atividades em horários diferentes, cada encontro realizado teve duração
de quatro horas. Nas reuniões organizamos os participantes em um círculo para
melhor disposição e participação de todos. Por meio da dinâmica “Rede” os
cuidadores e estudantes envolvidos foram solicitados a se apresentarem. Procuramos
usar desse recurso para fortalecer o sentido da integração do grupo, propondo um
trabalho conjunto, no qual seria importante uma boa comunicação.
Acentuamos a importância do momento de
integração de estudantes e profissionais que se interessam por uma atenção ao idoso,
apontamos que o ambiente seria apropriado ao diálogo e troca de experiências teóricas
e práticas visando uma atenção de qualidade as pessoas idosas residentes do Lar. Uma
segunda dinâmica realizada é a do “Balão”, que tinha o objetivo de promover uma
reflexão entre os participantes, utilizando balões e vários bombons. Após a dinâmica
promovemos reflexões sobre o que nos leva a “estourar os balões dos outros”, nesse
sentido emergiram reflexões sobre o respeito do espaço de trabalho de cada um, da
importância de trabalhar de forma integrada e sem “passar por cima do outro”.
Os temas trabalhados nessa experiência foram sobre o processo de
envelhecimento (aspectos psicológicos e sociais) e cuidados gerais importantes para
os idosos (como a nutrição, hidratação e higiene pessoal). As orientações prestadas
são referentes às características das doenças mais recorrentes a velhice e ao tipo de
cuidado a ser executado. Promovemos grupos de conversa, orientação, reflexão, além
de integração da equipe. O caráter interdisciplinar desenvolvido visa atender a
importância de se trabalhar de forma integrada com outros profissionais.
De acordo com Herédia, os idosos institucionalizados vivem
seu envelhecimento com maior grau de dependência em relação aos nãoinstitucionalizados, um dos grandes desafios aos trabalhos desenvolvidos com idosos
é o da promoção de um envelhecimento saudável, a fim de evitar situações de
desamparo e exclusão buscamos promover uma discussão sobre o processo de
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envelhecimento e suas repercussões visando integrar os referenciais teóricos e a
experiência prática de cada cuidador para propor uma atenção ao idoso que seja
fundamentada e não desconsidere as dificuldades do dia a dia. Durante o encontro foi
possível conhecer um pouco da história de cada cuidador, suas perspectivas de vida e
quanto a sua velhice, como eles vêem o próprio trabalho, suas angústias, frustrações e
expectativas. Buscamos promover a sensibilização dos participantes envolvidos para
que, possam desenvolver novas práticas de cuidados ao idoso, pautadas na promoção
ao respeito e autonomia destes. No grupo surgiram discussões de como eles se vêem
como idosos e como o idoso é visto em nossa sociedade. Destacamos algumas falas
abaixo:
Cuidador (1): “tem idosos que é uma criança até hoje”.
Frase que mostra possível concepção infantilizada quanto ao idoso.
Cuidador (2): “Quando eu cheguei à primeira vez aqui virei pra trás e disse: “vou
embora””. Frase que fala da primeira visita do cuidador a instituição.
Destacamos algumas falas que demonstram o nível de cansaço, e sobrecarga de
trabalho:
Cuidador (3): “No dia de folga eu quero é descansar”
Cuidador (4): “A gente não vem trabalhar por dinheiro e sim por vontade”
Cuidador (5): “Você acaba não vendo o resultado do seu trabalho”
Cuidador (6): “Você acaba sendo mais profissional e menos humano”
Buscamos proporcionar a valorização dos cuidadores, na medida em que
oferecemos essa atenção a eles nesse espaço, ainda que pequeno, falaram sobre suas
angústias em relação ao seu trabalho e sobre sua visão da população a quem eles
prestam assistência. O ambiente proporcionou a troca de experiências entre os
cuidadores e os participantes do projeto, alguns participantes destacaram que nunca
haviam conversado entre si, apenas participavam de algumas reuniões juntos. Outro
tema trazido pelos cuidadores no encontro foi quanto à carência dos idosos:
Cuidador (8): “Se você faz alguma coisa para um idoso tem de fazer para todos”.
Falando quanto às exigências dos idosos de atenção.
Durante a capacitação visamos conversar com os cuidadores de modo que eles
reconheçam seu papel no cuidado ao idoso, de dar visibilidade a esse idoso
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procurando promover sua independência e autonomia. Todos os cuidadores foram
levados a pensar sobre como espera que seja seu processo de envelhecimento, na
resposta da maioria apareceu que almejavam um envelhecimento com qualidade de
vida e independência de cuidados alheios.
Esse espaço possibilitou, além de uma ajuda técnica na
execução de seu trabalho, uma oportunidade para expressarem seus anseios e
insatisfações referentes à sua prática.
Com o contato alcançado, verificamos que através da
integração educação e assistência a partir da perspectiva interdisciplinar, atenuamos as
distorções e a compreensão limitada da atuação dos cuidadores na assistência aos
idosos a respeito dos diversos aspectos que envolvem o envelhecimento e as
necessidades que esta fase implica.
Referências Bibliográficas
Trabalho apresentado no III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia, sendo de total
responsabilidade de seu(s) autor(es).
HERÉDIA, V.B.M.; CASARA, M.B.; CORTELLETTI, I.A. (Org).Idoso asilado: um
estudo gerontológico. Caxias do Sul: Edipucrs, Educs, 2004.
RESENDE, Márcia Colamarco Ferreira; DIAS, Elizabeth Costa (2008). Cuidadores
de idosos: um novo / velho trabalho. Physis, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4. Disponível
em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
73312008000400010&lng=pt&nrm=iso>.
acessos
em10
set.
2009.
doi:
10.1590/S0103-73312008000400010.
RODRIGUES, R.A.P.; DIOGO, M.J.D.. Como cuidar dos idosos. São Paulo: Papirus,
1996.
SARTIN, J.R.; BETTINELLI, L.A; BERINCA, C.R. (Org). Envelhecimento humano:
cuidado e cidadania. Rio Grande do Sul: Universidade de Pano Fundo, ed.
Universitária.
Mini-currículo e endereço eletrônico
Damaris Asseburg, discente do quarto ano de graduação em Psicologia pela
Universidade Federal de Mato Grosso/Campus de Rondonópolis e Bolsista de
Extensão pelo projeto “Viva à Vida”. Endereço eletrônico: [email protected]
Juliana Farias Duarte, discente do quarto ano de graduação em Psicologia pela
Universidade Federal de Mato Grosso/Campus de Rondonópolis e Bolsista de
Extensão pelo projeto “Viva à Vida”. Endereço eletrônico: [email protected]
Glasiely Alves da Silva, discente do quarto ano de graduação em Psicologia pela
Universidade Federal de Mato Grosso/Campus de Rondonópolis e Bolsista de
Extensão
pelo
projeto
“Viva
à
Vida”.
Endereço
eletrônico:
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Karen Lúcia Abreu Rodrigues, discente do terceiro ano de graduação em Psicologia
pela Universidade Federal de Mato Grosso/Campus de Rondonópolis e Bolsista de
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Noédia Moura de Souza Leão, discente do terceiro ano de graduação em Psicologia
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