História do Pensamento Econômico I Prof. Dr. Eduardo Gonçalves [email protected] 1 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) 2 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Dados Biográficos Nasceu em Kirkcaldy, costa oriental da Escócia. Pai morre antes do seu nascimento. Viveu com sua mãe Margaret e ajuda de parentes até 1737, quando se muda para Glasgow para entrar na universidade. Com 14 anos não era incomum a entrada na universidade, que era um tipo de escola secundária superior. Conhece o professor Francis Hutcheson que se destacava na área de filosofia do direito natural e nos princípios do sistema de Economia Política. Já havia estudado latim em Kirkcaldy e começa a estudar grego, lógica, (tradição Aristotélica, Descartes e Locke), filosofia natural, matemática, física e filosofia moral (Francis Hutcheson). Em 1740, Smith ganha uma bolsa de estudos (£ 40 anuais por 11 anos) em Oxford, no Balliol College, como preparação para carreira eclesiástica. 3 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Dados Biográficos Indispôs-se com professores de lá por ler a obra de David Hume (“Tratado sobre a natureza humana”). Em 1746, retorna para cidade natal. Entre 1748 e 1751, manteve cursos de literatura inglesa em Edimburgo. Em 1751, assume a cadeira de lógica (aulas sobre retórica) na Universidade de Glasgow e depois a de filosofia moral (teologia natural, ética, jurisprudência, política e economia política). Em 1752, assume a cadeira de Francis Hutcheson, que havia falecido. Em 1759, publica “A teoria dos sentimentos morais”, que alcançou 6 edições antes da morte de Smith. Livro, traduzido para outras línguas, projeta o nome de Smith. 4 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Dados Biográficos Um dos leitores, Charles Townshend, concede a Smith a tutela de seu enteado, pela pensão vitalícia de £ 300 anuais. Smith sai de Glasgow (1764) e ruma à França para uma viagem de 2 anos pelo país, onde terá contato com os fisiocratas. Conhece Voltaire, d’Alembert, Quesnay e outros. A estadia na França termina em 1766, quando o irmão mais novo do duque, também sob custódia de Smith, é assassinado. De volta a Kirkcaldy, dedicou-se à “Riqueza das Nações”, morando com sua mãe de 1767 a 1773. Em 1773, mudou-se para Londres para trabalhar na impressão do livro, publicado em 1776. 5 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Dados Biográficos A primeira edição de “Uma investigação acerca da natureza e causas das riquezas das nações” teve sucesso instantâneo, esgotando-se em menos de 6 meses. Houve 5 edições em 12 anos. Em 1800, a obra já havia sido traduzida para francês, alemão, italiano, dinamarquês e espanhol. Em 1777, Smith é nomeado para alto cargo na administração aduaneira escocesa e 10 anos depois se torna reitor da Universidade de Glasgow. 6 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Contexto Histórico Crescimento das exportações inglesas entre 1700 e 1750 (aumento da produção para mercado interno em 7% e aumento de 76% para o mercado externo). Diversas inovações no campo da fiação e tecelagem e siderurgia. Principal inovação: motor a vapor (James Watt, 1769) Nova fonte de energia em substituição à água. Meados do século XVIII houve crescimento das manufaturas Fábricas que reuniam o prédio, os equipamentos, as matérias-primas, além de operários assalariados e de um capitalista. Tinha grande grau de divisão do trabalho e produtividade elevada. Aparecimento da máquina a vapor permitiu o nascimento do sistema fabril em grande escala. Mark Blaug: Smith não menciona muitas inovações importantes da época. Seus exemplos remontam à Idade Média. Ex.: minério de ferro fundido com carvão Não era plenamente consciente da Revolução Industrial. 7 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Contribuições Excesso de restrições da época mercantilista eram prejudiciais ao desenvolvimento econômico. Determinação dos fatores que conduziam ao crescimento econômico. Marco inicial do enfoque científico da economia. Vantagens da divisão do trabalho. Tratamento do lucro Rendimento específico Motor da acumulação de capital Origem 8 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Contribuições Identificação da classe dos capitalistas, com interesses bem identificados e papel econômico definido. Concepção clara da estrutura de classes na sociedade capitalista e de cada rendimento respectivo. Capitalistas: lucro Proprietários de Terras: renda fundiária Trabalhadores: salários Conceito de riqueza em contraposição aos mercantilistas. Bases da tributação moderna. Algumas bases para teoria de comércio internacional. 9 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Influência Intelectual Idéias da sua obra não são inteiramente originais, mas isso não compromete sua qualidade. Destaca-se seu poder de síntese. Richard Cantillon: diferenciais de salários. David Hume: teoria monetária. Hume e Petty: comércio internacional e tributação. Locke, Petty, Hutcheson: divisão do trabalho. Fisiocracia: uma noção de trabalho produtivo, concepção de riqueza, fluxo circular de renda e produto. Hutcheson: ordem natural. 10 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Influência Intelectual Noção de divisão do trabalho é antiga. Autores gregos clássicos e W. Petty a abordaram. Smith traz a divisão do trabalho para o centro da análise econômica para explicar quais são os elementos que determinam o padrão de vida de uma nação e suas tendências ao progresso ou regresso. Sua obra é dividida em cinco partes ou livros: Livro I: divisão do trabalho (progresso tecnológico), teoria do valor e distribuição. Livro II: moeda e acumulação. Livro III: história das instituições e economia desde a queda do Império Romano. Livro IV: doutrinas mercantilistas e fisiocrata. Livro V: gastos e receitas públicas, papel do Estado. 11 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) A Ordem Natural e a Mão Invisível Napoleoni: “Riqueza das Nações” “é uma tentativa sistemática de explicar o modo pelo qual o livre desenvolvimento das forças individuais na economia dá lugar à constituição e ao desenvolvimento da sociedade econômica.” Maurice Dobb: “interesse individual é a força motriz da economia”. Sistema baseado na “Ordem Natural”. 12 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) A Ordem Natural e a Mão Invisível Estudou astronomia e abraçou a idéia de harmonia natural dos planetas, mesmo se cada planeta se move em torno de sua própria órbita → harmonia natural na economia mesmo se cada um possui seu próprio interesse. Ao procurar atender o interesse próprio, o homem beneficia a sociedade como se fosse guiado por uma mão invisível. 13 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Todo indivíduo empenha-se continuamente em descobrir a aplicação mais vantajosa de todo capital que possui. Com efeito, o que o indivíduo tem em vista é sua própria vantagem, e não a da sociedade. Todavia, a procura de sua própria vantagem individual natural ou, antes, quase necessariamente, leva-o a preferir aquela aplicação que acarreta as maiores vantagens para a sociedade.” (Smith, Livro IV, Cap. II) 14 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Geralmente, na realidade, ele não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo. Ao preferir fomentar a atividade do país e não de outros países ele tem em vista apenas sua própria segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, visa apenas a seu próprio ganho e, neste, como em muitos outros casos, é levado como que por mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas intenções. (...). Ao perseguir seus próprios interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo.” (Smith, Livro IV, Cap. II) 15 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua auto-estima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles.” (Smith, Livro I, Cap. II) 16 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) A Ordem Natural e a Mão Invisível Mão invisível simboliza o mecanismo que conduz à harmonia social → livre mercado. Ex.: funcionamento do livre mercado → John, o vizinho egoísta. Se a sociedade é composta por pessoas egoístas, que fatores impedem o seu desmoronamento? Como explicar a coesão social num mundo em que cada um busca seu próprio interesse? A busca do interesse próprio “leva ao mais inesperado dos resultados: a harmonia social” Egoísmo x Competição → melhor dos mundos Não se deve intervir nas leis de mercado → a economia caminha para o melhor dos resultados, conduzida por uma espécie de “mão invisível”. 17 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) A Ordem Natural e a Mão Invisível Liberalismo econômico: conseqüência da suposição de que a economia é uma ciência regida por leis naturais, universais e eternas, como a física newtoniana. Leis do mercado Impõem preços competitivos. Produtores dêem atenção às exigências da sociedade. Ex.: deslocamento de demanda de luvas para calçados. 18 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Crescimento Econômico Que fatores são responsáveis pela riqueza das nações e como se dá o crescimento econômico? Causa da riqueza = trabalho humano Trabalho humano gera maior produção dependendo de dois fatores. Quais são esses fatores? Sentidos da expressão divisão do trabalho Definição e efeito da divisão do trabalho. Extremos do processo produtivo Trabalhador realiza todas as tarefas produtivas. Trabalhador realiza apenas uma tarefa produtiva. O que determina (causa) a divisão do trabalho? 19 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Crescimento Econômico Quais são as razões pelas quais a divisão do trabalho aumenta a capacidade produtiva do homem? Ex.: Fábrica de Alfinetes O grau da divisão do trabalho é governado por que circunstâncias? “... a certeza de poder permutar toda a parte excedente da produção de seu próprio trabalho que ultrapasse seu consumo pessoal estimula cada pessoa a dedicar-se a uma ocupação específica, e a cultivar e aperfeiçoar todo e qualquer talento ou inclinação que possa ter por aquele tipo de ocupação ou negócio.” (Smith, Livro I, Cap. II) 20 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Crescimento Econômico “Nas casas isoladas e nas minúsculas aldeias espalhadas pelas regiões montanhosas da Escócia, cada camponês deve ao mesmo tempo ser açougueiro, padeiro e fabricante de cerveja de sua própria família.” (Smith, Livro I, Cap. III) o Destaca efeitos adversos da divisão do trabalho sobre o trabalhador. “Com o avanço da divisão do trabalho, a ocupação da maior parte daqueles que vivem do trabalho, isto é, da maioria da população, acaba restringindo-se a algumas operações extremamente simples, muitas vezes a uma ou duas.” (Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3) 21 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “O homem que gasta toda sua vida executando algumas operações simples, cujos efeitos também são, talvez, sempre os mesmos ou mais ou menos os mesmos, não tem nenhuma oportunidade para exercitar sua compreensão ou para exercer seu espírito inventivo no sentido de encontrar meios para eliminar dificuldades que nunca ocorrem. Ele perde naturalmente o hábito de fazer isso, tornando-se geralmente tão embotado e ignorante quanto o possa ser uma criatura humana. O entorpecimento de sua mente o torna não somente incapaz de saborear ou ter alguma participação em toda conversação racional, mas também de conceber algum sentimento generoso, nobre ou terno, e, conseqüentemente, de formar algum julgamento justo até mesmo acerca de muitas das obrigações normais da vida privada. Ele é totalmente incapaz de formar juízo sobre os grandes e vastos interesses de seus país;” (Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3) 22 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “... este é o estado em que inevitavelmente caem os trabalhadores pobres – isto é, a grande massa da população – a menos que o Governo tome algumas providências para impedir que tal aconteça.” “O mesmo não ocorre com as pessoas comuns. Tais pessoas dispõem de pouco tempo para dedicar à educação. Seus pais dificilmente têm condições de mantê-las, mesmo na infância. Tão logo sejam capazes de trabalhar, têm que ocupar-se com alguma atividade, para sua subsistência. Este tipo de atividade é geralmente muito simples e uniforme para dar-lhes pequenas oportunidades de exercitarem a mente; ao mesmo tempo, seu trabalho é tão constante e pesado que lhes deixa pouco lazer e menos inclinação para aplicarse a qualquer outra coisa, ou mesmo para pensar nisso.” (Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3) 23 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Com gastos muito pequenos, o Estado pode facilitar, encorajar e até mesmo impor a quase toda a população a necessidade de aprender os pontos mais essenciais da educação.” “O Estado pode estimular a aquisição desses elementos mais essenciais da educação oferecendo pequenos prêmios e pequenas distinções aos filhos das pessoas comuns que neles sobressaírem.” (Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3) 24 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves 25 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves 26 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Distinção entre trabalho produtivo e improdutivo Razão para tal distinção? Noções de trabalho produtivo em Smith 1) produz lucro ou excedente acima dos custos de produção. Cria excedente que fica disponível para ser reinvestido. 2) trabalho que se realiza em mercadoria vendável, tangível, que não perece no momento de sua criação → serviços eram improdutivos, pois deixam de existir no momento em que são produzidos (produção e consumo ocorrem simultaneamente). Qual noção é correta segundo Marx? 27 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “... o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo ao valor dos materiais com que trabalha: o de sua própria manutenção e o do lucro de seu patrão.” (Smith, Livro II, Cap. III) “Existe um tipo de trabalho que acrescenta algo ao valor do objeto sobre o qual é aplicado; e existe outro tipo, que não tem tal efeito. O primeiro, pelo fato de produzir um valor, pode ser denominado produtivo; o segundo, trabalho improdutivo. (...). Assim, o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo ao valor dos materiais com que trabalha... Ao contrário, o trabalho de um criado doméstico não acrescenta valor algum a nada.” 28 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Mas o trabalho do manufator fixa-se e realiza-se em um objeto específico ou mercadoria vendável, a qual perdura, no mínimo, algum tempo depois de encerrado o trabalho. (...). Ao contrário, o trabalho do criado doméstico não se fixa nem se realiza em um objeto específico ou mercadoria vendável. Seus serviços normalmente morrem no próprio instante em que são executados, e raramente deixam atrás de si algum traço ou valor, pelo qual igual quantidade se serviço poderia, posteriormente, ser obtida.” 29 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “O soberano, por exemplo, com todos os oficiais de justiça e de guerra que servem sob suas ordens, todo o Exército e Marinha, são trabalhadores improdutivos. (...). Na mesma categoria devem ser enquadradas algumas das profissões mais sérias e mais importantes, bem como algumas das mais frívolas: eclesiásticos, advogados, médicos, homens de letras de todos os tipos, atores, palhaços, músicos, cantores de ópera, dançarinos de ópera etc.” (Smith, Livro II, Cap. III) 30 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Crítica de Marx à noção de trabalho produtivo de Smith. “Trabalho produtivo no sentido da produção capitalista é o trabalho assalariado que, na troca pela parte variável do capital (a parte do capital despendida em salário), além de reproduzir essa parte do capital (ou o valor da própria força de trabalho), ainda produz mais-valia para o capitalista.” “... só é produtiva a força de trabalho que produz valor maior que o próprio.” “O mesmo trabalho pode ser produtivo, se o compro no papel de capitalista, de produtor, para produzir valor maior, ou improdutivo, se o compro na função de consumidor, de quem despende renda, para consumir seu valor de uso...” (Marx, Cap. III) 31 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “... os cozinheiros e os garçons de um hotel são trabalhadores produtivos, porquanto seu trabalho se converte em capital para o dono do hotel. Essas mesmas pessoas no papel de criados são trabalhadores improdutivos, porquanto, ao invés de fazer capital com seus serviços, neles gastam renda.” “... o trabalhador de um fabricante de piano é um trabalhador produtivo. Seu trabalho, além de substituir o salário que consome, proporciona valor excedente acima do valor do salário no produto, no piano, a mercadoria que o fabricante vende. Se, ao invés disso, compro todo o material necessário para fabricar um piano... e, ao invés de comprar o piano na loja, mando fazê-lo em casa, nesse caso, quem faz o piano é trabalhador improdutivo, pois seu trabalho se troca diretamente por minha renda.” (Marx, Cap. III) 32 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor: Importância O que determina a razão de troca das mercadorias? Avaliação e determinação quantitativa do produto líquido Por que alguns fatores de produção não criam valor? Quais são os agentes econômicos básicos no processo produtivo e qual a origem de seus rendimentos? Razão específica da “Riqueza das Nações” Realçar o trabalho e não o metal como medida última da riqueza. Realçar o caráter cooperativo da sociedade comandada pelo princípio da divisão do trabalho. 33 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Distinção entre valor de uso e valor de troca (paradoxo do valor). Valor de troca é mais freqüentemente avaliado pela moeda. “... somente o trabalho, pelo fato de nunca variar em seu valor, constitui o padrão último e real com base no qual se pode sempre e em toda parte estimar e comparar o valor de todas as mercadorias. O trabalho é o preço real das mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas.” “Fica, pois, evidente que o trabalho é a única medida universal e a única medida precisa de valor, ou seja, o único padrão através do qual podemos comparar os valores de mercadorias diferentes, em todos os tempos e em todos os lugares.” (Smith, Livro I, Cap. V) 34 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Trabalho é trabalho em qualquer lugar e tempo → esforço é esforço em qualquer lugar e tempo. Trabalho é um denominador comum de desconforto (noção utilitarista). Em contraposição aos mercantilistas, Smith deseja mostrar que riqueza depende de esforço e não de moeda e que poder é comando sobre o trabalho e não tesouro. Um indivíduo será rico ou pobre de acordo com a quantidade de trabalho alheio de que possa dispor ou que se ache em condições de adquirir. Teoria do valor-trabalho comandado. Trabalho comandado x Trabalho contido 35 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith “O poder que a posse dessa fortuna lhe assegura, de forma imediata e direta, é o poder de compra; um certo comando sobre todo o trabalho ou sobre todo o produto do trabalho que está então no mercado. Sua fortuna é maior ou menor, exatamente na proporção da extensão desse poder;” (Smith, Livro I, Cap. V) “O preço real de cada coisa – ou seja, o que ela custa à pessoa que deseja adquiri-la – é o trabalho e o incômodo que custa a sua aquisição.” “O trabalho foi o primeiro preço, o dinheiro de compra original que foi pago por todas as coisas.” (Smith, Livro I, Cap. V) 36 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Crítica de Ricardo a Smith: o que motivou Ricardo a fazer uma crítica da teoria do valor de Smith? Segundo Ricardo (e outros críticos, inclusive Marx), Smith pressentiu que na transição da sociedade rude e primitiva para a sociedade capitalista o trabalho contido diverge do trabalho comandado. 37 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “No estágio antigo e primitivo que precede ao acúmulo de patrimônio ou capital e à apropriação da terra, a proporção entre as quantidades de trabalho necessárias para adquirir os diversos objetos parece ser a única circunstância capaz de fornecer alguma norma ou padrão para trocar esses objetos uns pelos outros. Por exemplo, se em uma nação de caçadores abater um castor custa duas vezes mais trabalho do que abater um cervo, um castor deve ser trocado por – ou então, vale – dois cervos. É natural que aquilo que normalmente é o produto do trabalho de dois dias ou de duas horas valha o dobro daquilo que é produto do trabalho de um dia ou uma hora.” (Smith, Livro I, Cap. VI) 38 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Nessa situação, todo o produto do trabalho pertence ao trabalhador; e a quantidade de trabalho normalmente empregada em adquirir ou produzir uma mercadoria é a única circunstância capaz de regular ou determinar a quantidade de trabalho que ela normalmente deve comprar, ou pela qual deve ser trocada.” (Smith, Livro I, Cap. VI) 39 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “No momento em que o patrimônio ou capital se acumulou nas mãos de pessoas particulares, algumas delas naturalmente empregarão esse capital para contratar pessoas laboriosas, fornecendo-lhes matérias-primas e subsistência a fim de auferir lucro com a venda do trabalho dessas pessoas ou com aquilo que este trabalho acrescenta ao valor desses materiais. (...). Nesse caso, o valor que os trabalhadores acrescentam aos materiais desdobra-se, pois, em duas partes ou componentes, sendo que a primeira paga os salários dos trabalhadores, e a outra, os lucros do empresário, por todo o capital e os salários que ele adianta no negócio.” (Smith, Livro I, Cap. VI) “Salários, lucro e renda da terra, eis as três fontes originais de toda receita ou renda, e de todo valor de troca.” (Smith, Livro I, Cap. VI) 40 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Em conseqüência, Smith teria abandonado a concepção do valor-trabalho em favor de uma teoria do preço natural. Nesta teoria, o valor de troca seria a soma de 3 componentes (salário, lucro, aluguel) em seus níveis naturais. Dobb: segunda teoria do valor de Smith → “Teoria da Soma dos Três Componentes do Preço” Por que o trabalho contido diverge do trabalho comandado na sociedade capitalista? Exemplo de Napoleoni. 41 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Quantidade de trabalho alheio que o possuidor de A pode comandar ou adquirir é 200h, embora A tenha 100h apenas de trabalho contido. Na sociedade primitiva, a quantidade de trabalho alheio que o possuidor de A podia comandar ou adquirir era 100h, o que era igual ao trabalho contido em A. Preços naturais x Preços de mercado 42 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Mecanismo concorrencial → “taxas ordinárias ou médias” do salário, lucro e renda da terra → taxas naturais. Soma das taxas naturais dos 3 componentes → preço natural → suficiente para dar ao empresário capitalista, ao proprietário de terras e aos trabalhadores, lucros, renda da terra e salários equivalentes aos níveis habituais ou médios destas remunerações. Preço de mercado → determinado pela oferta e demanda. Preço natural é o preço central ao redor do qual os preços giram. Procura > Oferta → preço > preço natural → lucros > taxa média (natural) → atração de outros capitalistas para o ramo de negócio. 43 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Essas taxas comuns ou médias podem ser denominadas taxas naturais dos salários, do lucro e da renda da terra, no tempo e lugar em que comumente vigoram.” “Quando o preço de uma mercadoria não é menor nem maior do que o suficiente para pagar ao mesmo tempo a renda da terra, os salários do trabalho e os lucros do patrimônio ou capital empregado em obter, preparar e levar a mercadoria ao mercado, de acordo com suas taxas naturais, a mercadoria é nesse caso vendida pelo que se pode chamar seu preço natural.” (Smith, Livro I, Cap. VII) 44 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “O preço efetivo ao qual uma mercadoria é vendida denomina-se seu preço de mercado. (...). O preço de mercado de uma mercadoria específica é regulado pela proporção entre a quantidade que é efetivamente colocada no mercado e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o preço natural da mercadoria...” (Smith, Livro I, Cap. VII) 45 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith o Noção de preço natural não serve para explicar o valor de troca porque possui o problema da circularidade. V= f(S, L, R) Defesa de Smith o A noção de trabalho comandado reaparece no Livro IV, em que Smith combate o mercantilismo. Isso desautoriza a interpretação de provisoriedade ou superação. o Princípio de trabalho comandado constitui a teoria do valor por excelência em Smith, pois se acomoda à visão de riqueza e poder presente na “Riqueza das Nações”. 46 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Há um sentido no qual a teoria smithiana do valor não constitui fracasso, mas etapa decisiva do pensamento econômico → trabalho comandado é importante para teoria do desenvolvimento capitalista. Trabalho comandado → função de medida da parte do valor que é excedente. Segundo Smith, trabalho produtivo reproduz valor dos meios de subsistência e produz valor adicional (apropriado como renda ou lucro) ou é produtivo o trabalho que gera um produto pelo qual o trabalho comandado é maior que o trabalho contido. 47 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Valor em Smith Preocupação de Smith: o fato de o trabalho comandado ser maior que o trabalho contido não implica que o trabalho adicional capaz de ser “posto em movimento” seja um trabalho produtivo. É preciso que o rendimento apropriado pelo capitalista e proprietário fundiário seja transformado em capital (ou seja deve ser acumulado). 48 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Acumulação de Capital Antecipação de meios de subsistência a trabalhadores produtivos adicionais. Acumulação é propiciada pelo lucro. Lucro aparece pela primeira vez como um rendimento específico (ao contrário da Fisiocracia que via o lucro como pagamento pelo trabalho de inspeção e direção). Apenas em Smith é possível identificar uma classe de capitalistas com interesses bem identificados e papel econômico definido. Não só o lucro, mas todos os rendimentos foram remetidos direta ou indiretamente aos agentes sociais básicos. Marx elogia Smith por tocar na origem do lucro. 49 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Poder-se-ia talvez pensar que os lucros do patrimônio não passam de uma designação diferente para os salários de um tipo especial de trabalho, isto é, o trabalho de inspecionar e dirigir a empresa. No entanto, trata-se de duas coisas bem diferentes; o lucro é regulado por princípios totalmente distintos, não tendo nenhuma proporção com a quantidade, a dureza e o engenho desse suposto trabalho de inspecionar e dirigir. É totalmente regulado pelo valor do capital ou patrimônio empregado, sendo o lucro maior ou menor em proporção com a extensão desse patrimônio.” (Smith, Livro I, Cap. VI) 50 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Para os fisiocratas, portanto, não existe o lucro propriamente dito do capital, o lucro donde a renda fundiária apenas se destaca. O lucro afigura-se-lhes uma espécie de salário superior pago pelos proprietários de terras...” (Marx, Cap. II) “Nesse caso, o valor que os trabalhadores acrescentam aos materiais desdobra-se, pois, em duas partes ou componentes, sendo que a primeira paga os salários dos trabalhadores, e a outra, os lucros do empresário, por todo o capital e os salários que ele adianta no negócio.” (Smith, Livro I, Cap. VI) 51 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Smith portanto declara aí expressamente: o lucro obtido com a venda do produto acabado do trabalho não provém da própria venda, de ter sido a mercadoria vendida acima do valor, não é lucro de alienação. Ao contrário, o valor, isto é, a quantidade de trabalho que os trabalhadores adicionam ao material, divide-se em 2 partes. Uma paga-lhes os salários ou lhes é paga pelos salários.” “Ao contrário, atribui o lucro do capitalista ao fato mesmo de este não ter pago parte do trabalho adicionado à mercadoria, surgindo por isso o lucro na ocasião da venda. (...). Desse modo reconheceu Smith a verdadeira origem da mais-valia.” (Marx, Cap. III) 52 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Acumulação de Capital Antecipa a teoria desenvolvida por Marx. Mas, não desenvolve uma teoria de exploração. O crescimento econômico favorece os trabalhadores? “Talvez mereça ser observado que a condição dos trabalhadores pobres parece ser a mais feliz e a mais tranqüila no estado de progresso, em que a sociedade avança para maior riqueza, e não no estado em que já conseguiu sua plena riqueza. A condição dos trabalhadores é dura na situação estacionária e miserável quando há declínio econômico da nação. O estado de progresso é, na realidade, o estado desejável e favorável para todas as classes sociais, ao passo que a situação estacionária é a inércia, e o estado de declínio é a melancolia.” (Smith, Livro I, Cap. VIII) 53 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Relação entre lucro e salário Acumulação de capital eleva a demanda de trabalho e aumenta o salário de mercado. Reconhece tensões da relação salarial e conflito de interesses. Lucros e salários podem crescer juntos por causa da acumulação de capital. A relação entre lucros e salários não é estritamente opositiva. Lucros caem quando há grande afluência de capital para determinado ramo. Importância da poupança: “Os capitais aumentam por parcimônia e diminuem por prodigalidade e desmandos”. De que dependem os salários? 54 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Os patrões, por serem menos numerosos, podem associar-se com maior facilidade; além disso, a lei autoriza ou pelo menos não o proíbe, ao passo que para os trabalhadores ela proíbe. Não há leis do Parlamento que proíbam os patrões de combinar uma redução dos salários; muitas são, porém, as leis do Parlamento que proíbem associações para aumentar os salários.” “Mas, embora nas disputas com os operários os patrões geralmente levem vantagem, existe uma determinada taxa abaixo da qual parece impossível reduzir por longo tempo os salários normais, mesmo em se tratando do tipo de trabalho menos qualificado.” (Smith, Livro I, Cap. VIII) 55 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “O aumento do capital, o qual faz subir os salários, tende a baixar o lucro. Quando o capital de muitos comerciantes ricos é aplicado no mesmo negócio, naturalmente sua concorrência mútua tende a reduzir seus lucros; e quando há semelhante aumento de capital em todos os diversos ramos de negócio de uma mesma sociedade, a mesma concorrência produz necessariamente o mesmo efeito em todos eles.” (Smith, Livro I, Cap. IX) “É evidente que a demanda de pessoas que vivem de salário só pode aumentar na medida em que aumentam os fundos destinados ao pagamento de salários. Esses fundos são de dois tipos: primeiro, a renda que vai além do necessário para a manutenção; segundo, o excedente do cabedal necessário para os respectivos patrões manterem seu negócio.” (Smith, Livro I, Cap. VIII) 56 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Apreciação crítica da doutrina do fundo de salário Huberman afirma que essa doutrina era prejudicial aos trabalhadores, sendo usada para controlar as reivindicações de salários mais altos. Por que os salários não podiam aumentar? Porque havia um certo fundo posto de lado para pagamento de salários e havia um certo número de assalariados. Opiniões contrárias: Francis Walker → economista norte-americano que escreveu em 1876. Esse é um dos motivos pelos quais a “Economia Política” foi muitas vezes considerada como contrária à classe trabalhadora e a favor do homem de negócios. 57 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Uma teoria popular de salários ... baseia-se na suposição de que os salários são pagos com o capital, com os resultados obtidos pela indústria no passado. Portanto, argumenta-se, o capital deve constituir a medida dos salários. Pelo contrário, sustento que os salários são pagos com o produto da atual indústria, e portanto que a produção constitui a verdadeira medida dos salários. ... Um empregador paga salários para comprar trabalho, não para gastar um fundo que possa ter. ... O empregador compra o trabalho com o objetivo de ter o produto desse trabalho; e o tipo e o total do produto determinam quais os salários que pode pagar. ... É, portanto, para a produção futura que os trabalhadores são empregados, e não porque o empregador esteja de posse de um fundo que deve gastar.” (Walker apud Huberman, 1986) 58 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Fatores que afetam o salário real 1) Condições de trabalho “... os salários do trabalho variam segundo a facilidade ou dureza, o grau de limpeza ou sujeira, o prestígio ou desprestígio da profissão”. 2) Regularidade do emprego “... os salários do trabalho em ocupações diferentes variam com a constância ou a inconstância do emprego.” 3) Confiança e responsabilidade “... os salários do trabalho variam de acordo com o grau de confiança – pequeno ou grande – que se deve depositar nos trabalhadores.” (Smith, Livro I, Cap. X) 59 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Fatores que afetam o salário real 4) Probabilidade de sucesso “... o salário do trabalho em ocupações diferentes varia de acordo com a probabilidade ou improbabilidade de sucesso que elas oferecem. (...). Coloquemos nosso filho como aprendiz de sapateiro, e poucas dúvidas haverá de que aprenderá a fazer um par de sapatos. Se, porém, o fizermos estudar Direito, veremos que dentre vinte haverá no máximo um cuja eficiência seja suficiente para possibilitar-lhe viver dessa ocupação.” (Smith, Livro I, Cap. X) 60 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Fatores que afetam o salário real 5) Custo de aquisição da especialização e conhecimento necessários “... os salários do trabalho variam com a facilidade e o pouco dispêndio, ou a dificuldade e a alta despesa requeridas para aprender a ocupação. (...). Uma pessoa formada ou treinada a custo de muito trabalho e tempo para qualquer ocupação que exija destreza e habilidade extraordinárias pode ser comparada a uma dessas máquinas dispendiosas. (...). A diferença entre os salários do trabalho qualificado e os do trabalho comum está fundada nesse princípio.” (Smith, Livro I, Cap. X) 61 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Teoria do Salário Eficiência de Smith “Assim como a remuneração generosa do trabalho estimula a propagação da espécie, da mesma forma aumenta a laboriosidade. Os salários representam o estímulo da operosidade, a qual, como qualquer outra qualidade humana, melhora em proporção ao estímulo que recebe. Meios de subsistência abundantes aumentam a força física do trabalhador, é a esperança confortante de melhorar sua condição e talvez terminar seus dias em tranqüilidade e abundância que o anima a empenhar suas forças ao máximo. Portanto, onde os salários são altos, sempre veremos os empregados trabalhando mais ativamente, com maior diligência e com maior rapidez do que onde são baixos; é o que se verifica, por exemplo, na Inglaterra, em comparação com a Escócia, o mesmo acontecendo nas proximidades das cidades grandes, em comparação com as localidades mais recuadas do interior” 62 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Funções do Estado para Smith Sistema de liberdade natural concedia ao Estado 3 funções: Defender o país contra agressão estrangeira. Administrar a justiça. Criar e preservar certos serviços públicos e instituições públicas (ruas, portos, canais navegáveis, pontes, educação para juventude, instrução religiosa, sustento do soberano). 63 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Segundo o sistema da liberdade natural, ao soberano cabem apenas três deveres; três deveres, por certo, de grande relevância, mas simples e inteligíveis ao entendimento comum: primeiro, o dever de proteger a sociedade contra a violência e a invasão de outros países independentes; segundo, o dever de proteger, na medida do possível, cada membro da sociedade contra a injustiça e a opressão de qualquer outro membro da mesma, ou seja, o dever de implantar uma administração judicial exata; e, terceiro, o dever de criar e manter certas obras e instituições públicas que jamais algum indivíduo ou um pequeno contigente de indivíduos poderão ter interesse em criar e manter, já que o lucro jamais poderia compensar o gasto de um indivíduo ou de um pequeno contigente de indivíduos...” (Smith, Livro IV, Cap. IX) 64 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Financiamento dos gastos públicos Defesa e sustento do soberano: toda a coletividade. Justiça/Obras públicas/Educação da juventude: parte pelos beneficiários diretos (ou que transgridem a lei) e parte por toda a coletividade. Tipos de Tributos Receitas Patrimoniais + Impostos Impostos 65 Diretos: não podem ser obstáculos ao desenvolvimento. Indiretos: evitar incidir sobre bens essenciais. HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Máximas da Tributação o Proporcionais à capacidade contributiva. “Os súditos de cada Estado devem contribuir o máximo possível para a manutenção do Governo, em proporção a suas respectivas capacidades, isto é, em proporção ao rendimento de que cada um desfruta, sob a proteção do Estado.” (Smith, Livro V, Cap. II) o Cobrado sem arbitrariedades, avaliando o tempo de pagamento e o modo mais cômodo. “O imposto que cada indivíduo é obrigado a pagar deve ser fixo e não arbitrário. A data do recolhimento, a forma de recolhimento, a soma a pagar, devem ser claras e evidentes para o contribuinte e para qualquer outra pessoa.” “Todo imposto deve ser recolhido no momento e da maneira que, com maior probabilidade, forem mais convenientes para o contribuinte.” (Smith, Livro V, Cap. II) 66 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Máximas da Tributação o Minimizar a parcela da arrecadação fiscal gasta com administração financeira dos tributos. “Todo imposto deve ser planejado de tal modo, que retire e conserve fora do bolso das pessoas o mínimo possível, além da soma que ele carreia para os cofres do Estado.” (Smith, Livro V, Cap. II) 67 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Incidência dos Tributos o o o Lucros / Salários / Renda Fundiária / Todos os tipos de renda Lucros: lucro bruto é composto por juro do capital e recompensa do risco. Efeitos o o 68 O capitalista aumenta o preço em correspondência ao imposto→ transfere-o para o consumidor. O imposto é absorvido pelo lucro→ como não pode incidir sobre a parte do lucro que cobre o risco, incidirá sobre o juro→ transferência de capitais. HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “O rendimento ou lucro oriundo do capital divide-se naturalmente em dois componentes: o que paga os juros e pertence ao dono do capital, e aquele excedente que vai além do que é necessário para pagar os juros. Evidentemente, este último componente é um item não passível de tributação direta. É a compensação... pelo risco e pelo trabalho de aplicar o capital.” (Smith, Livro V, Cap. II) “... um imposto sobre os lucros do capital empregado em qualquer ramo do comércio nunca pode recair, em última análise, sobre os vendedores... mas sempre sobre os consumidores, que inevitavelmente são obrigados a pagar, no preço das mercadorias, o imposto adiantado pelo comerciante...” (Smith, Livro V, Cap. II) 69 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Incidência dos Tributos o Salários: situam-se no nível de subsistência→ será transferido para os patrões→ incidirá sobre o lucro, o que prejudica a acumulação e a própria demanda por trabalho. “... não se poderia dizer com propriedade que um imposto direto sobre o salário do trabalho, ainda que o trabalhador talvez o possa pagar ele mesmo, deva ser adiantado pelo trabalhador... seria na realidade adiantado pela pessoa que diretamente lhe desse emprego.” (Smith, Livro V, Cap. II) 70 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Incidência dos Tributos o Qualquer tipo de rendimento: proporcionais à fortuna ou à renda de cada contribuinte→ arbitrários. “Os impostos de capitação, caso se tente torná-los proporcionais à fortuna ou ao rendimento de cada contribuinte, tornam-se totalmente arbitrários. A situação da fortuna de uma pessoa varia diariamente e, a menos que se faça uma sindicância, mais insuportável do que qualquer imposto... só pode ser calculada conjecturalmente. (...). Os impostos de capitação, se forem proporcionais à classe ou posição de cada contribuinte e não à fortuna que supostamente possui, tornamse inteiramente desiguais, pois os graus de fortuna muitas vezes são desiguais no mesmo grau de posição.” (Smith, Livro V, Cap. II) 71 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Incidência dos Tributos o Impostos Indiretos o Artigos de Primeira Necessidade: mesmo incoveniente do que aquele sobre os salários. o Aceitáveis sobre bens de luxo. “... um imposto sobre os artigos de necessidade opera exatamente da mesma forma que um imposto direto sobre os salários do trabalho. (...). A longo prazo, o imposto a pagar sempre terá que ser adiantado ao trabalhador pelo seu empregador imediato, no aumento de seu salário.” (Smith, Livro V, Cap. II) 72 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Diverso é o caso com os impostos incidentes sobre o que chamo artigos de luxo, mesmo se o consumidor for da classe pobre. O aumento de preço dos bens tributados não produzirá necessariamente um aumento dos salários dos trabalhadores.” “Os impostos sobre artigos de luxo não apresentam nenhuma tendência a produzir aumento do preço de quaisquer outros bens, a não ser o das mercadorias tributadas. Os impostos sobre artigos de necessidade, por elevar os salários dos trabalhadores, tendem necessariamente a elevar o preço de todos os manufaturados e portanto a diminuir as vendas e o consumo dos mesmos.” (Smith, Livro V, Cap. II) 73 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Incidência dos Tributos o Conclusão: qual o melhor imposto? “Há, porém, duas circunstâncias que fazem com que os juros do dinheiro sejam um item muito menos adequado para taxação direta do que a renda da terra. Primeiramente, a quantidade e o valor da terra possuída por qualquer pessoa nunca podem ser um segredo, pois podem ser sempre averiguados com grande precisão. (...). Em segundo lugar, a terra é algo irremovível, ao passo que o capital pode ser removido com facilidade.” (Smith, Livro V, Cap. II) 74 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Comércio Internacional e Liberalismo Econômico o o o o Luta contra restrições mercantilistas. Mão invisível. Defesa do laissez-faire, laissez-passer. Teoria das Vantagens Absolutas: é conveniente importar cada vez que uma mercadoria seja produzida no exterior a um custo inferior ao da produção interna. “Se um país estrangeiro estiver em condições de nos fornecer uma mercadoria a preço mais baixo do que o da mercadoria fabricada por nós mesmos, é melhor comprá-la com uma parcela da produção de nossa própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem.” (Smith, Livro IV, Cap. II) 75 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “As vantagens naturais que um país tem sobre outros na produção de determinadas mercadorias por vezes são tão relevantes que todo mundo reconhece ser inútil pretender concorrer com esses outros países. Utilizando vidros, viveiros e estufas pode-se cultivar excelentes uvas na Escócia, podendose com elas fabricar vinhos muito bons, com uma despesa aproximadamente trinta vezes superior àquela com a qual se pode importar de outros países vizinhos... Seria porventura uma lei racional proibir a importação de todos os vinhos estrangeiros, simplesmente para incentivar a fabricação de vinho clarete e borgonha? (...). Sob esse aspecto, não interessa se as vantagens que um país leva sobre outro são naturais ou adquiridas. Enquanto um dos países tiver estas vantagens, e outro desejar partilhar delas, sempre será mais vantajoso para este último comprar do que fabricar ele mesmo.” (Smith, Livro IV, Cap. II) 76 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Comércio Internacional e Liberalismo Econômico o o o Qual o problema com essa teoria? Esse problema seria resolvido com Ricardo, por meio de sua teoria das vantagens comparativas. Smith admitia 2 casos em que se podia impor restrições às importações: o o 77 Proteger uma indústria essecial para defesa nacional. Impor imposto sobre o produto importado quando há imposto sobre similar nacional (estabelece condições de paridade entre as duas indústrias). HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Contudo, parece haver dois casos nos quais geralmente será vantajoso impor alguma restrição à atividade estrangeira, para estimular a nacional. O primeiro ocorre quando se trata de um tipo específico de atividade necessária para a defesa do país. (...). O segundo caso, em que geralmente será vantajoso impor alguma restrição à indústria estrangeira para estimular a nacional, ocorre quando dentro do país se impõe alguma taxa aos produtos nacionais. Nesse caso, parece razoável impor uma taxa igual ao produto similar do país estrangeiro.” (Smith, Livro IV, Cap. II) 78 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Comércio Internacional e Liberalismo Econômico o o o Qual o problema com essa teoria? Esse problema seria resolvido com Ricardo, por meio de sua teoria das vantagens comparativas. Smith admitia 2 casos em que se podia impor restrições às importações: o o o Proteger uma indústria essecial para defesa nacional. Criar imposto sobre o produto importado quando há imposto sobre similar nacional (estabelece condições de paridade entre as duas indústrias). É contra represálias quando essa prática não redundar no fim das políticas de restrições das outras nações: é danosa pois acrescenta novo dano àquele já provocado pela política errônea das outras nações. 79 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) Apreciação Crítica da Defesa do Livre Comércio o o o o o o Comércio internacional completamente livre perpetua a situação dada, podendo impedir o desenvolvimento de certos países. O próprio Smith soube ser liberal e prudente, levando em conta a realidade, como mostra as duas exceções que discutiu. Friedrich List: era favorável ao comércio livre, mas só depois que os países menos desenvolvidos alcançassem os mais desenvolvidos. Em 1841, a Alemanha tinha indústria jovem e subdesenvolvida e se o comércio internacional livre fosse estabelecido seria necessário um longo tempo para alcançar as indústrias da Inglaterra, se houvesse condições. List sugeriu que a Inglaterra tentava tornar impossível o progresso das outras indústrias: defende proteção e muralhas tarifárias. Teve influência forte nos EUA e na Alemanha. 80 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves Adam Smith (1723-1790) “Qualquer nação que, devido a infelicidades, esteja atrás das outras na indústria, comércio e navegação, embora possua os meios mentais e materiais para desenvolver-se, deve acima de tudo fortalecer sua capacidade individual, a fim de poder entrar na concorrência livre com nações mais adiantadas.” “É um recurso muito comum e muito esperto que, ao se atingir o cume da grandeza, se lance fora a escada pela qual subimos, a fim de impedir aos outros os meios de subir atrás.” (List, Sistema nacional de economia política, 1841, apud Huberman, 1986) 81 HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves