História do Pensamento
Econômico I
Prof. Dr. Eduardo Gonçalves
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
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Adam Smith (1723-1790)
Dados Biográficos
Nasceu em Kirkcaldy, costa oriental da Escócia.
Pai morre antes do seu nascimento.
Viveu com sua mãe Margaret e ajuda de parentes até 1737, quando se
muda para Glasgow para entrar na universidade.
Com 14 anos não era incomum a entrada na universidade, que era um
tipo de escola secundária superior.
Conhece o professor Francis Hutcheson que se destacava na área de
filosofia do direito natural e nos princípios do sistema de Economia
Política.
Já havia estudado latim em Kirkcaldy e começa a estudar grego,
lógica, (tradição Aristotélica, Descartes e Locke), filosofia natural,
matemática, física e filosofia moral (Francis Hutcheson).
Em 1740, Smith ganha uma bolsa de estudos (£ 40 anuais por 11
anos) em Oxford, no Balliol College, como preparação para carreira
eclesiástica.
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Adam Smith (1723-1790)
Dados Biográficos
Indispôs-se com professores de lá por ler a obra de David
Hume (“Tratado sobre a natureza humana”).
Em 1746, retorna para cidade natal.
Entre 1748 e 1751, manteve cursos de literatura inglesa em
Edimburgo.
Em 1751, assume a cadeira de lógica (aulas sobre retórica) na
Universidade de Glasgow e depois a de filosofia moral (teologia
natural, ética, jurisprudência, política e economia política).
Em 1752, assume a cadeira de Francis Hutcheson, que havia
falecido.
Em 1759, publica “A teoria dos sentimentos morais”, que
alcançou 6 edições antes da morte de Smith.
Livro, traduzido para outras línguas, projeta o nome de Smith.
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Adam Smith (1723-1790)
Dados Biográficos
Um dos leitores, Charles Townshend, concede a Smith a tutela
de seu enteado, pela pensão vitalícia de £ 300 anuais.
Smith sai de Glasgow (1764) e ruma à França para uma viagem
de 2 anos pelo país, onde terá contato com os fisiocratas.
Conhece Voltaire, d’Alembert, Quesnay e outros.
A estadia na França termina em 1766, quando o irmão mais
novo do duque, também sob custódia de Smith, é assassinado.
De volta a Kirkcaldy, dedicou-se à “Riqueza das Nações”,
morando com sua mãe de 1767 a 1773.
Em 1773, mudou-se para Londres para trabalhar na impressão
do livro, publicado em 1776.
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Adam Smith (1723-1790)
Dados Biográficos
A primeira edição de “Uma investigação acerca da natureza e
causas das riquezas das nações” teve sucesso instantâneo,
esgotando-se em menos de 6 meses.
Houve 5 edições em 12 anos. Em 1800, a obra já havia sido
traduzida para francês, alemão, italiano, dinamarquês e
espanhol.
Em 1777, Smith é nomeado para alto cargo na administração
aduaneira escocesa e 10 anos depois se torna reitor da
Universidade de Glasgow.
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Adam Smith (1723-1790)
Contexto Histórico
Crescimento das exportações inglesas entre 1700 e 1750 (aumento da
produção para mercado interno em 7% e aumento de 76% para o mercado
externo).
Diversas inovações no campo da fiação e tecelagem e siderurgia.
Principal inovação: motor a vapor (James Watt, 1769)
Nova fonte de energia em substituição à água.
Meados do século XVIII houve crescimento das manufaturas
Fábricas que reuniam o prédio, os equipamentos, as matérias-primas,
além de operários assalariados e de um capitalista.
Tinha grande grau de divisão do trabalho e produtividade elevada.
Aparecimento da máquina a vapor permitiu o nascimento do sistema fabril
em grande escala.
Mark Blaug: Smith não menciona muitas inovações importantes da época.
Seus exemplos remontam à Idade Média. Ex.: minério de ferro fundido
com carvão
Não era plenamente consciente da Revolução Industrial.
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Contribuições
Excesso de restrições da época mercantilista eram
prejudiciais ao desenvolvimento econômico.
Determinação dos fatores que conduziam ao crescimento
econômico.
Marco inicial do enfoque científico da economia.
Vantagens da divisão do trabalho.
Tratamento do lucro
Rendimento específico
Motor da acumulação de capital
Origem
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Contribuições
Identificação da classe dos capitalistas, com interesses bem
identificados e papel econômico definido.
Concepção clara da estrutura de classes na sociedade
capitalista e de cada rendimento respectivo.
Capitalistas: lucro
Proprietários de Terras: renda fundiária
Trabalhadores: salários
Conceito de riqueza em contraposição aos mercantilistas.
Bases da tributação moderna.
Algumas bases para teoria de comércio internacional.
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Influência Intelectual
Idéias da sua obra não são inteiramente originais, mas isso não
compromete sua qualidade. Destaca-se seu poder de síntese.
Richard Cantillon: diferenciais de salários.
David Hume: teoria monetária.
Hume e Petty: comércio internacional e tributação.
Locke, Petty, Hutcheson: divisão do trabalho.
Fisiocracia: uma noção de trabalho produtivo, concepção de
riqueza, fluxo circular de renda e produto.
Hutcheson: ordem natural.
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Influência Intelectual
Noção de divisão do trabalho é antiga. Autores gregos clássicos e W.
Petty a abordaram.
Smith traz a divisão do trabalho para o centro da análise econômica
para explicar quais são os elementos que determinam o padrão de
vida de uma nação e suas tendências ao progresso ou regresso.
Sua obra é dividida em cinco partes ou livros:
Livro I: divisão do trabalho (progresso tecnológico), teoria do valor
e distribuição.
Livro II: moeda e acumulação.
Livro III: história das instituições e economia desde a queda do
Império Romano.
Livro IV: doutrinas mercantilistas e fisiocrata.
Livro V: gastos e receitas públicas, papel do Estado.
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A Ordem Natural e a Mão Invisível
Napoleoni: “Riqueza das Nações” “é uma tentativa
sistemática de explicar o modo pelo qual o livre
desenvolvimento das forças individuais na
economia dá lugar à constituição e ao
desenvolvimento da sociedade econômica.”
Maurice Dobb: “interesse individual é a força motriz
da economia”.
Sistema baseado na “Ordem Natural”.
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A Ordem Natural e a Mão Invisível
Estudou astronomia e abraçou a idéia de harmonia
natural dos planetas, mesmo se cada planeta se
move em torno de sua própria órbita → harmonia
natural na economia mesmo se cada um possui
seu próprio interesse.
Ao procurar atender o interesse próprio, o homem
beneficia a sociedade como se fosse guiado por
uma mão invisível.
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“Todo indivíduo empenha-se continuamente em
descobrir a aplicação mais vantajosa de todo
capital que possui. Com efeito, o que o indivíduo
tem em vista é sua própria vantagem, e não a da
sociedade. Todavia, a procura de sua própria
vantagem individual natural ou, antes, quase
necessariamente, leva-o a preferir aquela
aplicação que acarreta as maiores vantagens
para a sociedade.” (Smith, Livro IV, Cap. II)
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“Geralmente, na realidade, ele não tenciona
promover o interesse público nem sabe até que
ponto o está promovendo. Ao preferir fomentar a
atividade do país e não de outros países ele tem em
vista apenas sua própria segurança; e orientando
sua atividade de tal maneira que sua produção possa
ser de maior valor, visa apenas a seu próprio ganho
e, neste, como em muitos outros casos, é levado
como que por mão invisível a promover um objetivo
que não fazia parte de suas intenções. (...). Ao
perseguir seus próprios interesses, o indivíduo
muitas vezes promove o interesse da sociedade
muito mais eficazmente do que quando tenciona
realmente promovê-lo.” (Smith, Livro IV, Cap. II)
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Adam Smith (1723-1790)
“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro
ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da
consideração que eles têm pelo seu próprio
interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas
à sua auto-estima, e nunca lhes falamos das nossas
próprias necessidades, mas das vantagens que
advirão para eles.” (Smith, Livro I, Cap. II)
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A Ordem Natural e a Mão Invisível
Mão invisível simboliza o mecanismo que conduz à harmonia
social → livre mercado.
Ex.: funcionamento do livre mercado → John, o vizinho egoísta.
Se a sociedade é composta por pessoas egoístas, que fatores
impedem o seu desmoronamento?
Como explicar a coesão social num mundo em que cada um
busca seu próprio interesse?
A busca do interesse próprio “leva ao mais inesperado dos
resultados: a harmonia social”
Egoísmo x Competição → melhor dos mundos
Não se deve intervir nas leis de mercado → a economia
caminha para o melhor dos resultados, conduzida por uma
espécie de “mão invisível”.
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A Ordem Natural e a Mão Invisível
Liberalismo econômico: conseqüência da
suposição de que a economia é uma ciência regida
por leis naturais, universais e eternas, como a
física newtoniana.
Leis do mercado
Impõem preços competitivos.
Produtores dêem atenção às exigências da
sociedade.
Ex.: deslocamento de demanda de luvas para
calçados.
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Crescimento Econômico
Que fatores são responsáveis pela riqueza das nações e como
se dá o crescimento econômico?
Causa da riqueza = trabalho humano
Trabalho humano gera maior produção dependendo de dois
fatores. Quais são esses fatores?
Sentidos da expressão divisão do trabalho
Definição e efeito da divisão do trabalho.
Extremos do processo produtivo
Trabalhador realiza todas as tarefas produtivas.
Trabalhador realiza apenas uma tarefa produtiva.
O que determina (causa) a divisão do trabalho?
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Crescimento Econômico
Quais são as razões pelas quais a divisão do trabalho aumenta
a capacidade produtiva do homem?
Ex.: Fábrica de Alfinetes
O grau da divisão do trabalho é governado por que
circunstâncias?
“... a certeza de poder permutar toda a parte excedente da
produção de seu próprio trabalho que ultrapasse seu
consumo pessoal estimula cada pessoa a dedicar-se a uma
ocupação específica, e a cultivar e aperfeiçoar todo e
qualquer talento ou inclinação que possa ter por aquele tipo
de ocupação ou negócio.” (Smith, Livro I, Cap. II)
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Crescimento Econômico
“Nas casas isoladas e nas minúsculas aldeias espalhadas
pelas regiões montanhosas da Escócia, cada camponês
deve ao mesmo tempo ser açougueiro, padeiro e fabricante
de cerveja de sua própria família.” (Smith, Livro I, Cap. III)
o
Destaca efeitos adversos da divisão do trabalho sobre o
trabalhador.
“Com o avanço da divisão do trabalho, a ocupação da maior
parte daqueles que vivem do trabalho, isto é, da maioria da
população, acaba restringindo-se a algumas operações
extremamente simples, muitas vezes a uma ou duas.”
(Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3)
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“O homem que gasta toda sua vida executando algumas
operações simples, cujos efeitos também são, talvez, sempre
os mesmos ou mais ou menos os mesmos, não tem nenhuma
oportunidade para exercitar sua compreensão ou para exercer
seu espírito inventivo no sentido de encontrar meios para
eliminar dificuldades que nunca ocorrem. Ele perde
naturalmente o hábito de fazer isso, tornando-se geralmente tão
embotado e ignorante quanto o possa ser uma criatura humana.
O entorpecimento de sua mente o torna não somente incapaz
de saborear ou ter alguma participação em toda conversação
racional, mas também de conceber algum sentimento generoso,
nobre ou terno, e, conseqüentemente, de formar algum
julgamento justo até mesmo acerca de muitas das obrigações
normais da vida privada. Ele é totalmente incapaz de formar
juízo sobre os grandes e vastos interesses de seus país;”
(Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3)
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“... este é o estado em que inevitavelmente caem os
trabalhadores pobres – isto é, a grande massa da população
– a menos que o Governo tome algumas providências para
impedir que tal aconteça.”
“O mesmo não ocorre com as pessoas comuns. Tais
pessoas dispõem de pouco tempo para dedicar à educação.
Seus pais dificilmente têm condições de mantê-las, mesmo
na infância. Tão logo sejam capazes de trabalhar, têm que
ocupar-se com alguma atividade, para sua subsistência. Este
tipo de atividade é geralmente muito simples e uniforme para
dar-lhes pequenas oportunidades de exercitarem a mente;
ao mesmo tempo, seu trabalho é tão constante e pesado
que lhes deixa pouco lazer e menos inclinação para aplicarse a qualquer outra coisa, ou mesmo para pensar nisso.”
(Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3)
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“Com gastos muito pequenos, o Estado pode
facilitar, encorajar e até mesmo impor a quase toda a
população a necessidade de aprender os pontos
mais essenciais da educação.”
“O Estado pode estimular a aquisição desses
elementos mais essenciais da educação oferecendo
pequenos prêmios e pequenas distinções aos filhos
das pessoas comuns que neles sobressaírem.”
(Smith, Livro V, Cap. I, Parte 3)
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Distinção entre trabalho produtivo e improdutivo
Razão para tal distinção?
Noções de trabalho produtivo em Smith
1) produz lucro ou excedente acima dos custos de
produção. Cria excedente que fica disponível para ser
reinvestido.
2) trabalho que se realiza em mercadoria vendável, tangível,
que não perece no momento de sua criação → serviços
eram improdutivos, pois deixam de existir no momento
em que são produzidos (produção e consumo ocorrem
simultaneamente).
Qual noção é correta segundo Marx?
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“... o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo
ao valor dos materiais com que trabalha: o de sua própria
manutenção e o do lucro de seu patrão.” (Smith, Livro II,
Cap. III)
“Existe um tipo de trabalho que acrescenta algo ao valor do
objeto sobre o qual é aplicado; e existe outro tipo, que não
tem tal efeito. O primeiro, pelo fato de produzir um valor,
pode ser denominado produtivo; o segundo, trabalho
improdutivo. (...). Assim, o trabalho de um manufator
geralmente acrescenta algo ao valor dos materiais com que
trabalha... Ao contrário, o trabalho de um criado doméstico
não acrescenta valor algum a nada.”
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“Mas o trabalho do manufator fixa-se e realiza-se
em um objeto específico ou mercadoria
vendável, a qual perdura, no mínimo, algum
tempo depois de encerrado o trabalho. (...). Ao
contrário, o trabalho do criado doméstico não se
fixa nem se realiza em um objeto específico ou
mercadoria
vendável.
Seus
serviços
normalmente morrem no próprio instante em que
são executados, e raramente deixam atrás de si
algum traço ou valor, pelo qual igual quantidade
se serviço poderia, posteriormente, ser obtida.”
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“O soberano, por exemplo, com todos os oficiais
de justiça e de guerra que servem sob suas
ordens, todo o Exército e Marinha, são
trabalhadores improdutivos. (...). Na mesma
categoria devem ser enquadradas algumas das
profissões mais sérias e mais importantes, bem
como algumas das mais frívolas: eclesiásticos,
advogados, médicos, homens de letras de todos
os tipos, atores, palhaços, músicos, cantores de
ópera, dançarinos de ópera etc.” (Smith, Livro II,
Cap. III)
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Crítica de Marx à noção de trabalho produtivo de Smith.
“Trabalho produtivo no sentido da produção capitalista é o
trabalho assalariado que, na troca pela parte variável do capital
(a parte do capital despendida em salário), além de reproduzir
essa parte do capital (ou o valor da própria força de trabalho),
ainda produz mais-valia para o capitalista.”
“... só é produtiva a força de trabalho que produz valor maior
que o próprio.”
“O mesmo trabalho pode ser produtivo, se o compro no papel
de capitalista, de produtor, para produzir valor maior, ou
improdutivo, se o compro na função de consumidor, de quem
despende renda, para consumir seu valor de uso...” (Marx, Cap.
III)
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“... os cozinheiros e os garçons de um hotel são trabalhadores
produtivos, porquanto seu trabalho se converte em capital para
o dono do hotel. Essas mesmas pessoas no papel de criados
são trabalhadores improdutivos, porquanto, ao invés de fazer
capital com seus serviços, neles gastam renda.”
“... o trabalhador de um fabricante de piano é um trabalhador
produtivo. Seu trabalho, além de substituir o salário que
consome, proporciona valor excedente acima do valor do
salário no produto, no piano, a mercadoria que o fabricante
vende. Se, ao invés disso, compro todo o material necessário
para fabricar um piano... e, ao invés de comprar o piano na loja,
mando fazê-lo em casa, nesse caso, quem faz o piano é
trabalhador improdutivo, pois seu trabalho se troca diretamente
por minha renda.” (Marx, Cap. III)
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Teoria do Valor: Importância
O que determina a razão de troca das mercadorias?
Avaliação e determinação quantitativa do produto líquido
Por que alguns fatores de produção não criam valor? Quais são
os agentes econômicos básicos no processo produtivo e qual a
origem de seus rendimentos?
Razão específica da “Riqueza das Nações”
Realçar o trabalho e não o metal como medida última da
riqueza.
Realçar o caráter cooperativo da sociedade comandada
pelo princípio da divisão do trabalho.
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Teoria do Valor em Smith
Distinção entre valor de uso e valor de troca (paradoxo do
valor).
Valor de troca é mais freqüentemente avaliado pela moeda.
“... somente o trabalho, pelo fato de nunca variar em seu
valor, constitui o padrão último e real com base no qual se
pode sempre e em toda parte estimar e comparar o valor de
todas as mercadorias. O trabalho é o preço real das
mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas.”
“Fica, pois, evidente que o trabalho é a única medida
universal e a única medida precisa de valor, ou seja, o único
padrão através do qual podemos comparar os valores de
mercadorias diferentes, em todos os tempos e em todos os
lugares.” (Smith, Livro I, Cap. V)
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Adam Smith (1723-1790)
Teoria do Valor em Smith
Trabalho é trabalho em qualquer lugar e tempo → esforço é
esforço em qualquer lugar e tempo.
Trabalho é um denominador comum de desconforto (noção
utilitarista).
Em contraposição aos mercantilistas, Smith deseja mostrar
que riqueza depende de esforço e não de moeda e que
poder é comando sobre o trabalho e não tesouro.
Um indivíduo será rico ou pobre de acordo com a quantidade
de trabalho alheio de que possa dispor ou que se ache em
condições de adquirir.
Teoria do valor-trabalho comandado.
Trabalho comandado x Trabalho contido
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Teoria do Valor em Smith
“O poder que a posse dessa fortuna lhe assegura, de forma
imediata e direta, é o poder de compra; um certo comando
sobre todo o trabalho ou sobre todo o produto do trabalho que
está então no mercado. Sua fortuna é maior ou menor,
exatamente na proporção da extensão desse poder;” (Smith,
Livro I, Cap. V)
“O preço real de cada coisa – ou seja, o que ela custa à pessoa
que deseja adquiri-la – é o trabalho e o incômodo que custa a
sua aquisição.”
“O trabalho foi o primeiro preço, o dinheiro de compra original
que foi pago por todas as coisas.” (Smith, Livro I, Cap. V)
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Adam Smith (1723-1790)
Teoria do Valor em Smith
Crítica de Ricardo a Smith: o que motivou
Ricardo a fazer uma crítica da teoria do valor de
Smith?
Segundo Ricardo (e outros críticos, inclusive
Marx), Smith pressentiu que na transição da
sociedade rude e primitiva para a sociedade
capitalista o trabalho contido diverge do trabalho
comandado.
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Adam Smith (1723-1790)
“No estágio antigo e primitivo que precede ao acúmulo de
patrimônio ou capital e à apropriação da terra, a proporção
entre as quantidades de trabalho necessárias para adquirir
os diversos objetos parece ser a única circunstância capaz
de fornecer alguma norma ou padrão para trocar esses
objetos uns pelos outros. Por exemplo, se em uma nação de
caçadores abater um castor custa duas vezes mais trabalho
do que abater um cervo, um castor deve ser trocado por – ou
então, vale – dois cervos. É natural que aquilo que
normalmente é o produto do trabalho de dois dias ou de
duas horas valha o dobro daquilo que é produto do trabalho
de um dia ou uma hora.” (Smith, Livro I, Cap. VI)
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Adam Smith (1723-1790)
“Nessa situação, todo o produto do trabalho pertence
ao trabalhador; e a quantidade de trabalho
normalmente empregada em adquirir ou produzir
uma mercadoria é a única circunstância capaz de
regular ou determinar a quantidade de trabalho que
ela normalmente deve comprar, ou pela qual deve
ser trocada.” (Smith, Livro I, Cap. VI)
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Adam Smith (1723-1790)
“No momento em que o patrimônio ou capital se acumulou nas
mãos de pessoas particulares, algumas delas naturalmente
empregarão esse capital para contratar pessoas laboriosas,
fornecendo-lhes matérias-primas e subsistência a fim de auferir
lucro com a venda do trabalho dessas pessoas ou com aquilo
que este trabalho acrescenta ao valor desses materiais. (...).
Nesse caso, o valor que os trabalhadores acrescentam aos
materiais desdobra-se, pois, em duas partes ou componentes,
sendo que a primeira paga os salários dos trabalhadores, e a
outra, os lucros do empresário, por todo o capital e os salários
que ele adianta no negócio.” (Smith, Livro I, Cap. VI)
“Salários, lucro e renda da terra, eis as três fontes originais de
toda receita ou renda, e de todo valor de troca.” (Smith, Livro I,
Cap. VI)
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Adam Smith (1723-1790)
Teoria do Valor em Smith
Em conseqüência, Smith teria abandonado a concepção do
valor-trabalho em favor de uma teoria do preço natural.
Nesta teoria, o valor de troca seria a soma de 3
componentes (salário, lucro, aluguel) em seus níveis
naturais.
Dobb: segunda teoria do valor de Smith → “Teoria da Soma
dos Três Componentes do Preço”
Por que o trabalho contido diverge do trabalho comandado
na sociedade capitalista?
Exemplo de Napoleoni.
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Teoria do Valor em Smith
Quantidade de trabalho alheio que o possuidor
de A pode comandar ou adquirir é 200h, embora
A tenha 100h apenas de trabalho contido.
Na sociedade primitiva, a quantidade de trabalho
alheio que o possuidor de A podia comandar ou
adquirir era 100h, o que era igual ao trabalho
contido em A.
Preços naturais x Preços de mercado
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Teoria do Valor em Smith
Mecanismo concorrencial → “taxas ordinárias ou médias” do
salário, lucro e renda da terra → taxas naturais.
Soma das taxas naturais dos 3 componentes → preço
natural → suficiente para dar ao empresário capitalista, ao
proprietário de terras e aos trabalhadores, lucros, renda da
terra e salários equivalentes aos níveis habituais ou médios
destas remunerações.
Preço de mercado → determinado pela oferta e demanda.
Preço natural é o preço central ao redor do qual os preços
giram.
Procura > Oferta → preço > preço natural → lucros > taxa
média (natural) → atração de outros capitalistas para o ramo
de negócio.
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Adam Smith (1723-1790)
“Essas taxas comuns ou médias podem ser
denominadas taxas naturais dos salários, do
lucro e da renda da terra, no tempo e lugar em
que comumente vigoram.”
“Quando o preço de uma mercadoria não é
menor nem maior do que o suficiente para pagar
ao mesmo tempo a renda da terra, os salários do
trabalho e os lucros do patrimônio ou capital
empregado em obter, preparar e levar a
mercadoria ao mercado, de acordo com suas
taxas naturais, a mercadoria é nesse caso
vendida pelo que se pode chamar seu preço
natural.” (Smith, Livro I, Cap. VII)
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“O preço efetivo ao qual uma mercadoria é vendida
denomina-se seu preço de mercado. (...). O preço de
mercado de uma mercadoria específica é regulado
pela proporção entre a quantidade que é
efetivamente colocada no mercado e a demanda
daqueles que estão dispostos a pagar o preço
natural da mercadoria...” (Smith, Livro I, Cap. VII)
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Teoria do Valor em Smith
o
Noção de preço natural não serve para explicar o valor de
troca porque possui o problema da circularidade.
V= f(S, L, R)
Defesa de Smith
o A noção de trabalho comandado reaparece no Livro IV, em
que Smith combate o mercantilismo. Isso desautoriza a
interpretação de provisoriedade ou superação.
o Princípio de trabalho comandado constitui a teoria do valor
por excelência em Smith, pois se acomoda à visão de
riqueza e poder presente na “Riqueza das Nações”.
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Teoria do Valor em Smith
Há um sentido no qual a teoria smithiana do valor não constitui
fracasso, mas etapa decisiva do pensamento econômico →
trabalho comandado é importante para teoria do
desenvolvimento capitalista.
Trabalho comandado → função de medida da parte do valor
que é excedente.
Segundo Smith, trabalho produtivo reproduz valor dos meios de
subsistência e produz valor adicional (apropriado como renda
ou lucro) ou é produtivo o trabalho que gera um produto pelo
qual o trabalho comandado é maior que o trabalho contido.
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Teoria do Valor em Smith
Preocupação de Smith: o fato de o trabalho comandado ser
maior que o trabalho contido não implica que o trabalho
adicional capaz de ser “posto em movimento” seja um trabalho
produtivo.
É preciso que o rendimento apropriado pelo capitalista e
proprietário fundiário seja transformado em capital (ou seja deve
ser acumulado).
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Acumulação de Capital
Antecipação de meios de subsistência a trabalhadores
produtivos adicionais.
Acumulação é propiciada pelo lucro.
Lucro aparece pela primeira vez como um rendimento
específico (ao contrário da Fisiocracia que via o lucro como
pagamento pelo trabalho de inspeção e direção).
Apenas em Smith é possível identificar uma classe de
capitalistas com interesses bem identificados e papel
econômico definido.
Não só o lucro, mas todos os rendimentos foram remetidos
direta ou indiretamente aos agentes sociais básicos.
Marx elogia Smith por tocar na origem do lucro.
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Adam Smith (1723-1790)
“Poder-se-ia talvez pensar que os lucros do patrimônio não
passam de uma designação diferente para os salários de um
tipo especial de trabalho, isto é, o trabalho de inspecionar e
dirigir a empresa. No entanto, trata-se de duas coisas bem
diferentes; o lucro é regulado por princípios totalmente distintos,
não tendo nenhuma proporção com a quantidade, a dureza e o
engenho desse suposto trabalho de inspecionar e dirigir. É
totalmente regulado pelo valor do capital ou patrimônio
empregado, sendo o lucro maior ou menor em proporção com a
extensão desse patrimônio.” (Smith, Livro I, Cap. VI)
50
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Para os fisiocratas, portanto, não existe o lucro propriamente
dito do capital, o lucro donde a renda fundiária apenas se
destaca. O lucro afigura-se-lhes uma espécie de salário
superior pago pelos proprietários de terras...” (Marx, Cap. II)
“Nesse caso, o valor que os trabalhadores acrescentam aos
materiais desdobra-se, pois, em duas partes ou componentes,
sendo que a primeira paga os salários dos trabalhadores, e a
outra, os lucros do empresário, por todo o capital e os salários
que ele adianta no negócio.” (Smith, Livro I, Cap. VI)
51
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Smith portanto declara aí expressamente: o lucro obtido com a
venda do produto acabado do trabalho não provém da própria
venda, de ter sido a mercadoria vendida acima do valor, não é
lucro de alienação. Ao contrário, o valor, isto é, a quantidade de
trabalho que os trabalhadores adicionam ao material, divide-se
em 2 partes. Uma paga-lhes os salários ou lhes é paga pelos
salários.”
“Ao contrário, atribui o lucro do capitalista ao fato mesmo de
este não ter pago parte do trabalho adicionado à mercadoria,
surgindo por isso o lucro na ocasião da venda. (...). Desse
modo reconheceu Smith a verdadeira origem da mais-valia.”
(Marx, Cap. III)
52
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Acumulação de Capital
Antecipa a teoria desenvolvida por Marx. Mas, não desenvolve
uma teoria de exploração.
O crescimento econômico favorece os trabalhadores?
“Talvez mereça ser observado que a condição dos
trabalhadores pobres parece ser a mais feliz e a mais tranqüila
no estado de progresso, em que a sociedade avança para
maior riqueza, e não no estado em que já conseguiu sua plena
riqueza. A condição dos trabalhadores é dura na situação
estacionária e miserável quando há declínio econômico da
nação. O estado de progresso é, na realidade, o estado
desejável e favorável para todas as classes sociais, ao passo
que a situação estacionária é a inércia, e o estado de declínio é
a melancolia.” (Smith, Livro I, Cap. VIII)
53
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Adam Smith (1723-1790)
Relação entre lucro e salário
Acumulação de capital eleva a demanda de trabalho e aumenta
o salário de mercado.
Reconhece tensões da relação salarial e conflito de interesses.
Lucros e salários podem crescer juntos por causa da
acumulação de capital.
A relação entre lucros e salários não é estritamente opositiva.
Lucros caem quando há grande afluência de capital para
determinado ramo.
Importância da poupança: “Os capitais aumentam por
parcimônia e diminuem por prodigalidade e desmandos”.
De que dependem os salários?
54
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Os patrões, por serem menos numerosos, podem associar-se
com maior facilidade; além disso, a lei autoriza ou pelo menos
não o proíbe, ao passo que para os trabalhadores ela proíbe.
Não há leis do Parlamento que proíbam os patrões de combinar
uma redução dos salários; muitas são, porém, as leis do
Parlamento que proíbem associações para aumentar os
salários.”
“Mas, embora nas disputas com os operários os patrões
geralmente levem vantagem, existe uma determinada taxa
abaixo da qual parece impossível reduzir por longo tempo os
salários normais, mesmo em se tratando do tipo de trabalho
menos qualificado.” (Smith, Livro I, Cap. VIII)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“O aumento do capital, o qual faz subir os salários, tende a
baixar o lucro. Quando o capital de muitos comerciantes ricos é
aplicado no mesmo negócio, naturalmente sua concorrência
mútua tende a reduzir seus lucros; e quando há semelhante
aumento de capital em todos os diversos ramos de negócio de
uma mesma sociedade, a mesma concorrência produz
necessariamente o mesmo efeito em todos eles.” (Smith, Livro I,
Cap. IX)
“É evidente que a demanda de pessoas que vivem de salário só
pode aumentar na medida em que aumentam os fundos
destinados ao pagamento de salários. Esses fundos são de
dois tipos: primeiro, a renda que vai além do necessário para a
manutenção; segundo, o excedente do cabedal necessário para
os respectivos patrões manterem seu negócio.” (Smith, Livro I,
Cap. VIII)
56
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Adam Smith (1723-1790)
Apreciação crítica da doutrina do fundo de salário
Huberman afirma que essa doutrina era prejudicial aos trabalhadores,
sendo usada para controlar as reivindicações de salários mais altos.
Por que os salários não podiam aumentar? Porque havia um certo
fundo posto de lado para pagamento de salários e havia um certo
número de assalariados.
Opiniões contrárias: Francis Walker → economista norte-americano
que escreveu em 1876.
Esse é um dos motivos pelos quais a “Economia Política” foi muitas
vezes considerada como contrária à classe trabalhadora e a favor do
homem de negócios.
57
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Uma teoria popular de salários ... baseia-se na suposição de
que os salários são pagos com o capital, com os resultados
obtidos pela indústria no passado. Portanto, argumenta-se, o
capital deve constituir a medida dos salários. Pelo contrário,
sustento que os salários são pagos com o produto da atual
indústria, e portanto que a produção constitui a verdadeira
medida dos salários. ... Um empregador paga salários para
comprar trabalho, não para gastar um fundo que possa ter. ... O
empregador compra o trabalho com o objetivo de ter o produto
desse trabalho; e o tipo e o total do produto determinam quais
os salários que pode pagar. ... É, portanto, para a produção
futura que os trabalhadores são empregados, e não porque o
empregador esteja de posse de um fundo que deve gastar.”
(Walker apud Huberman, 1986)
58
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Fatores que afetam o salário real
1) Condições de trabalho
“... os salários do trabalho variam segundo a facilidade ou
dureza, o grau de limpeza ou sujeira, o prestígio ou desprestígio
da profissão”.
2) Regularidade do emprego
“... os salários do trabalho em ocupações diferentes variam com
a constância ou a inconstância do emprego.”
3) Confiança e responsabilidade
“... os salários do trabalho variam de acordo com o grau de
confiança – pequeno ou grande – que se deve depositar nos
trabalhadores.” (Smith, Livro I, Cap. X)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Fatores que afetam o salário real
4) Probabilidade de sucesso
“... o salário do trabalho em ocupações diferentes
varia de acordo com a probabilidade ou
improbabilidade de sucesso que elas oferecem. (...).
Coloquemos nosso filho como aprendiz de sapateiro,
e poucas dúvidas haverá de que aprenderá a fazer
um par de sapatos. Se, porém, o fizermos estudar
Direito, veremos que dentre vinte haverá no máximo
um cuja eficiência seja suficiente para possibilitar-lhe
viver dessa ocupação.” (Smith, Livro I, Cap. X)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Fatores que afetam o salário real
5) Custo de aquisição da especialização e
conhecimento necessários
“... os salários do trabalho variam com a facilidade e
o pouco dispêndio, ou a dificuldade e a alta despesa
requeridas para aprender a ocupação. (...). Uma
pessoa formada ou treinada a custo de muito
trabalho e tempo para qualquer ocupação que exija
destreza e habilidade extraordinárias pode ser
comparada a uma dessas máquinas dispendiosas.
(...). A diferença entre os salários do trabalho
qualificado e os do trabalho comum está fundada
nesse princípio.” (Smith, Livro I, Cap. X)
61
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Adam Smith (1723-1790)
Teoria do Salário Eficiência de Smith
“Assim como a remuneração generosa do trabalho estimula a
propagação da espécie, da mesma forma aumenta a
laboriosidade. Os salários representam o estímulo da operosidade,
a qual, como qualquer outra qualidade humana, melhora em
proporção ao estímulo que recebe. Meios de subsistência
abundantes aumentam a força física do trabalhador, é a esperança
confortante de melhorar sua condição e talvez terminar seus dias
em tranqüilidade e abundância que o anima a empenhar suas
forças ao máximo. Portanto, onde os salários são altos, sempre
veremos os empregados trabalhando mais ativamente, com maior
diligência e com maior rapidez do que onde são baixos; é o que se
verifica, por exemplo, na Inglaterra, em comparação com a
Escócia, o mesmo acontecendo nas proximidades das cidades
grandes, em comparação com as localidades mais recuadas do
interior”
62
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Adam Smith (1723-1790)
Funções do Estado para Smith
Sistema de liberdade natural concedia ao Estado 3 funções:
Defender o país contra agressão estrangeira.
Administrar a justiça.
Criar e preservar certos serviços públicos e instituições
públicas (ruas, portos, canais navegáveis, pontes, educação
para juventude, instrução religiosa, sustento do soberano).
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Adam Smith (1723-1790)
“Segundo o sistema da liberdade natural, ao soberano cabem
apenas três deveres; três deveres, por certo, de grande
relevância, mas simples e inteligíveis ao entendimento comum:
primeiro, o dever de proteger a sociedade contra a violência e a
invasão de outros países independentes; segundo, o dever de
proteger, na medida do possível, cada membro da sociedade
contra a injustiça e a opressão de qualquer outro membro da
mesma, ou seja, o dever de implantar uma administração
judicial exata; e, terceiro, o dever de criar e manter certas obras
e instituições públicas que jamais algum indivíduo ou um
pequeno contigente de indivíduos poderão ter interesse em criar
e manter, já que o lucro jamais poderia compensar o gasto de
um indivíduo ou de um pequeno contigente de indivíduos...”
(Smith, Livro IV, Cap. IX)
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Adam Smith (1723-1790)
Financiamento dos gastos públicos
Defesa e sustento do soberano: toda a coletividade.
Justiça/Obras públicas/Educação da juventude: parte pelos
beneficiários diretos (ou que transgridem a lei) e parte por toda
a coletividade.
Tipos de Tributos
Receitas Patrimoniais + Impostos
Impostos
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Diretos: não podem ser obstáculos ao desenvolvimento.
Indiretos: evitar incidir sobre bens essenciais.
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Adam Smith (1723-1790)
Máximas da Tributação
o
Proporcionais à capacidade contributiva.
“Os súditos de cada Estado devem contribuir o máximo possível
para a manutenção do Governo, em proporção a suas respectivas
capacidades, isto é, em proporção ao rendimento de que cada um
desfruta, sob a proteção do Estado.” (Smith, Livro V, Cap. II)
o
Cobrado sem arbitrariedades, avaliando o tempo de pagamento e
o modo mais cômodo.
“O imposto que cada indivíduo é obrigado a pagar deve ser fixo e
não arbitrário. A data do recolhimento, a forma de recolhimento, a
soma a pagar, devem ser claras e evidentes para o contribuinte e
para qualquer outra pessoa.”
“Todo imposto deve ser recolhido no momento e da maneira que,
com maior probabilidade, forem mais convenientes para o
contribuinte.” (Smith, Livro V, Cap. II)
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Adam Smith (1723-1790)
Máximas da Tributação
o
Minimizar a parcela da arrecadação fiscal gasta com
administração financeira dos tributos.
“Todo imposto deve ser planejado de tal modo, que retire e
conserve fora do bolso das pessoas o mínimo possível, além da
soma que ele carreia para os cofres do Estado.” (Smith, Livro V,
Cap. II)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Incidência dos Tributos
o
o
o
Lucros / Salários / Renda Fundiária / Todos os tipos de renda
Lucros: lucro bruto é composto por juro do capital e recompensa
do risco.
Efeitos
o
o
68
O capitalista aumenta o preço em correspondência ao
imposto→ transfere-o para o consumidor.
O imposto é absorvido pelo lucro→ como não pode incidir
sobre a parte do lucro que cobre o risco, incidirá sobre o juro→
transferência de capitais.
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“O rendimento ou lucro oriundo do capital divide-se
naturalmente em dois componentes: o que paga os juros e
pertence ao dono do capital, e aquele excedente que vai além
do que é necessário para pagar os juros. Evidentemente, este
último componente é um item não passível de tributação direta.
É a compensação... pelo risco e pelo trabalho de aplicar o
capital.” (Smith, Livro V, Cap. II)
“... um imposto sobre os lucros do capital empregado em
qualquer ramo do comércio nunca pode recair, em última
análise, sobre os vendedores... mas sempre sobre os
consumidores, que inevitavelmente são obrigados a pagar, no
preço das mercadorias, o imposto adiantado pelo
comerciante...” (Smith, Livro V, Cap. II)
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Adam Smith (1723-1790)
Incidência dos Tributos
o
Salários: situam-se no nível de subsistência→ será transferido
para os patrões→ incidirá sobre o lucro, o que prejudica a
acumulação e a própria demanda por trabalho.
“... não se poderia dizer com propriedade que um imposto direto
sobre o salário do trabalho, ainda que o trabalhador talvez o
possa pagar ele mesmo, deva ser adiantado pelo trabalhador...
seria na realidade adiantado pela pessoa que diretamente lhe
desse emprego.” (Smith, Livro V, Cap. II)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Incidência dos Tributos
o
Qualquer tipo de rendimento: proporcionais à fortuna ou à renda
de cada contribuinte→ arbitrários.
“Os impostos de capitação, caso se tente torná-los
proporcionais à fortuna ou ao rendimento de cada contribuinte,
tornam-se totalmente arbitrários. A situação da fortuna de uma
pessoa varia diariamente e, a menos que se faça uma
sindicância, mais insuportável do que qualquer imposto... só
pode ser calculada conjecturalmente. (...). Os impostos de
capitação, se forem proporcionais à classe ou posição de cada
contribuinte e não à fortuna que supostamente possui, tornamse inteiramente desiguais, pois os graus de fortuna muitas
vezes são desiguais no mesmo grau de posição.” (Smith, Livro
V, Cap. II)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Incidência dos Tributos
o
Impostos Indiretos
o Artigos de Primeira Necessidade: mesmo incoveniente do
que aquele sobre os salários.
o Aceitáveis sobre bens de luxo.
“... um imposto sobre os artigos de necessidade opera
exatamente da mesma forma que um imposto direto sobre
os salários do trabalho. (...). A longo prazo, o imposto a
pagar sempre terá que ser adiantado ao trabalhador pelo
seu empregador imediato, no aumento de seu salário.”
(Smith, Livro V, Cap. II)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Diverso é o caso com os impostos incidentes sobre o que
chamo artigos de luxo, mesmo se o consumidor for da classe
pobre. O aumento de preço dos bens tributados não
produzirá necessariamente um aumento dos salários dos
trabalhadores.”
“Os impostos sobre artigos de luxo não apresentam
nenhuma tendência a produzir aumento do preço de
quaisquer outros bens, a não ser o das mercadorias
tributadas. Os impostos sobre artigos de necessidade, por
elevar os salários dos trabalhadores, tendem
necessariamente a elevar o preço de todos os
manufaturados e portanto a diminuir as vendas e o consumo
dos mesmos.” (Smith, Livro V, Cap. II)
73
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Incidência dos Tributos
o
Conclusão: qual o melhor imposto?
“Há, porém, duas circunstâncias que fazem com que os juros do
dinheiro sejam um item muito menos adequado para taxação
direta do que a renda da terra. Primeiramente, a quantidade e o
valor da terra possuída por qualquer pessoa nunca podem ser
um segredo, pois podem ser sempre averiguados com grande
precisão. (...). Em segundo lugar, a terra é algo irremovível, ao
passo que o capital pode ser removido com facilidade.” (Smith,
Livro V, Cap. II)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Comércio Internacional e Liberalismo Econômico
o
o
o
o
Luta contra restrições mercantilistas.
Mão invisível.
Defesa do laissez-faire, laissez-passer.
Teoria das Vantagens Absolutas: é conveniente importar cada
vez que uma mercadoria seja produzida no exterior a um custo
inferior ao da produção interna.
“Se um país estrangeiro estiver em condições de nos fornecer
uma mercadoria a preço mais baixo do que o da mercadoria
fabricada por nós mesmos, é melhor comprá-la com uma
parcela da produção de nossa própria atividade, empregada de
forma que possamos auferir alguma vantagem.” (Smith, Livro
IV, Cap. II)
75
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“As vantagens naturais que um país tem sobre outros na
produção de determinadas mercadorias por vezes são tão
relevantes que todo mundo reconhece ser inútil pretender
concorrer com esses outros países. Utilizando vidros, viveiros e
estufas pode-se cultivar excelentes uvas na Escócia, podendose com elas fabricar vinhos muito bons, com uma despesa
aproximadamente trinta vezes superior àquela com a qual se
pode importar de outros países vizinhos... Seria porventura uma
lei racional proibir a importação de todos os vinhos
estrangeiros, simplesmente para incentivar a fabricação de
vinho clarete e borgonha? (...). Sob esse aspecto, não interessa
se as vantagens que um país leva sobre outro são naturais ou
adquiridas. Enquanto um dos países tiver estas vantagens, e
outro desejar partilhar delas, sempre será mais vantajoso para
este último comprar do que fabricar ele mesmo.” (Smith, Livro
IV, Cap. II)
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Comércio Internacional e Liberalismo Econômico
o
o
o
Qual o problema com essa teoria?
Esse problema seria resolvido com Ricardo, por meio de sua
teoria das vantagens comparativas.
Smith admitia 2 casos em que se podia impor restrições às
importações:
o
o
77
Proteger uma indústria essecial para defesa nacional.
Impor imposto sobre o produto importado quando há imposto
sobre similar nacional (estabelece condições de paridade entre
as duas indústrias).
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Contudo, parece haver dois casos nos quais
geralmente será vantajoso impor alguma
restrição à atividade estrangeira, para estimular
a nacional. O primeiro ocorre quando se trata de
um tipo específico de atividade necessária para
a defesa do país. (...). O segundo caso, em que
geralmente será vantajoso impor alguma
restrição à indústria estrangeira para estimular a
nacional, ocorre quando dentro do país se impõe
alguma taxa aos produtos nacionais. Nesse
caso, parece razoável impor uma taxa igual ao
produto similar do país estrangeiro.” (Smith, Livro
IV, Cap. II)
78
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Comércio Internacional e Liberalismo Econômico
o
o
o
Qual o problema com essa teoria?
Esse problema seria resolvido com Ricardo, por meio de sua teoria das
vantagens comparativas.
Smith admitia 2 casos em que se podia impor restrições às
importações:
o
o
o
Proteger uma indústria essecial para defesa nacional.
Criar imposto sobre o produto importado quando há imposto sobre
similar nacional (estabelece condições de paridade entre as duas
indústrias).
É contra represálias quando essa prática não redundar no fim das
políticas de restrições das outras nações: é danosa pois acrescenta
novo dano àquele já provocado pela política errônea das outras
nações.
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
Apreciação Crítica da Defesa do Livre Comércio
o
o
o
o
o
o
Comércio internacional completamente livre perpetua a situação dada,
podendo impedir o desenvolvimento de certos países.
O próprio Smith soube ser liberal e prudente, levando em conta a
realidade, como mostra as duas exceções que discutiu.
Friedrich List: era favorável ao comércio livre, mas só depois que os
países menos desenvolvidos alcançassem os mais desenvolvidos.
Em 1841, a Alemanha tinha indústria jovem e subdesenvolvida e se o
comércio internacional livre fosse estabelecido seria necessário um
longo tempo para alcançar as indústrias da Inglaterra, se houvesse
condições.
List sugeriu que a Inglaterra tentava tornar impossível o progresso das
outras indústrias: defende proteção e muralhas tarifárias.
Teve influência forte nos EUA e na Alemanha.
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HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
Adam Smith (1723-1790)
“Qualquer nação que, devido a infelicidades,
esteja atrás das outras na indústria, comércio e
navegação, embora possua os meios mentais e
materiais para desenvolver-se, deve acima de
tudo fortalecer sua capacidade individual, a fim
de poder entrar na concorrência livre com
nações mais adiantadas.”
“É um recurso muito comum e muito esperto
que, ao se atingir o cume da grandeza, se lance
fora a escada pela qual subimos, a fim de
impedir aos outros os meios de subir atrás.” (List,
Sistema nacional de economia política, 1841,
apud Huberman, 1986)
81
HPE I - Prof. Eduardo Gonçalves
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História do Pensamento Econômico I