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Em
02 Foco
Dossier
Mercado de usados:
valores residuais
e efeitos nos ciclos
de utilização
intra
Entrevista
Duarte Gonçalves
“O remarketing poderá tornar-se
um canal preferencial, apenas
nos casos de frotistas de pequena
dimensão”
Entrevista de José Branco
No entender do director do departamento de equipamento da Novopca – Construtores
Associados as empresas de maior dimensão irão continuar a utilizar os meios tradicionais
de aquisição de viaturas, independentemente do período que atravessamos, em que o
panorama do mercado de usados tem provocado mexidas significativas nos valores residuais.
Descreva-nos a composição da vossa frota e qual o
mente penoso para as pequenas frotas. Qual é a sua
modo de gestão que adoptaram?
opinião sobre esta conjuntura?
A frota actual divide-se em frota própria e aluguer opera-
Dada a conjuntura actual as empresas locadoras vão
cional de veículos. A tendência tem sido para a aquisição
apresentar um decréscimo de facturação, uma vez que, o
de veículos em AOV em detrimento da aquisição própria,
mercado está retraído e continuará por mais algum tempo.
devido aos bons resultados obtidos nos últimos anos com
Neste período difícil, as empresas de aluguer operacional
este tipo de gestão. Neste momento, contamos com 88%
têm de fazer parcerias com os seus clientes, ou seja, es-
da nossa frota em modo de aluguer operacional.
truturar e adaptar o negócio em função de cada parceiro
em prol de benefícios mútuos. Por exemplo: penso que em
A indústria automóvel está a atravessar tempos di-
média o prazo de aluguer operacional de veículos ronda os
fíceis, e no entender dos especialistas, de um modo
42 meses e nestas situações algumas locadoras já estão
nunca visto. Inevitavelmente, assim que houver sinais
a propor ao cliente dilatar o prazo de aluguer para 54 me-
de retoma económica, é provável que venhamos a
ses, incrementando assim, o prazo de aluguer contratual
assistir ao aumento dos valores envolvidos nos con-
por mais um ano, com o aumento proporcional dos outros
tratos de arrendamento porque as locadoras terão de
serviços intrínsecos (número de quilómetros, número de
passar para os seus clientes as despesas acumuladas
pneus, veículo de substituição, seguro, etc.). Para o clien-
no período de crise. Esta situação também se repercu-
te, o custo da renda mensal mantém-se, retirando provei-
tirá no corte da aquisição de novos veículos no parque
tos durante estes meses da extensão contratual. Por outro
automóvel das locadoras, o que poderá ser particular-
lado, as locadoras também retiram benefícios pois o valor
31
de investimento foi calculado para o período contratual. O
inconveniente deste sistema para as empresas de aluguer
operacional é que, com a dilatação do período contratual,
as taxas de avarias também aumentam, logo, têm de assumir este risco.
Outra alternativa para combater esta situação difícil pode
passar pelo aproveitamento, por parte das locadoras, dos
veículos abrangidos por contratos com prazo de aluguer e
quilometragem baixos. Terminado o seu contrato, proporse-ia um novo com a vantagem de uma renda mensal mais
baixa, dado tratar-se de um produto (veículo) usado. Esta
alternativa também poderia ser vantajosa para as pequenas frotas, para colmatar o baixo desconto que usufruem
relativamente ao investimento do veículo.
Ao nível do mercado, pensa que as empresas podem
ter aproveitado Dezembro (um mês que normalmente regista um número reduzido de venda de viaturas
novas) para reforçar ou renovar as suas frotas, contribuindo para uma subida de 26% ao nível das vendas,
devido ao receio do agravamento do ISV que entrou
em vigor em Janeiro?
Enquanto que no resto do mundo as vendas de carros
novos diminuíram drasticamente, Portugal registou este
grande aumento no mercado de ligeiros no mês de Dezembro. Não tenho qualquer dúvida que este aumento se
Todos nós estamos a atravessar tempos difíceis e as em-
deu por dois factores:
presas também. Neste período, as empresas têm de fazer
1º - Agravamento do imposto automóvel (ISV) que entrou
a máxima contenção de custos, retardando a sua renova-
em vigor em 1 de Janeiro de 2009;
ção de frota. O mercado de vendas nos automóveis novos
2º - Campanhas de marketing massivas, por algumas mar-
repercute-se sempre, quer seja pela aquisição directa por
cas, anunciando o aumento do imposto, colocando pre-
parte das empresas ou através do aluguer operacional de
ços ainda mais atractivos com o objectivo de escoarem
veículos (AOV).
“stocks” e (tentar?) cumprir objectivos.
A Novopca não ficou alheia a este problema e acabou tam-
No sentido da redução de custos, a opção pelo AOV
bém por adquirir viaturas ligeiras de passageiros, no mês
e pelo AOL (Aluguer de Longa Duração) parece ser a
de Dezembro de 2008.
modalidade de funcionamento de gestão de frota cada
vez mais real para as empresas em detrimento da frota
Considera que a tendencial crise de vendas nos au-
própria. Acha que por esta via as empresas encarem
tomóveis novos se deve ao pragmatismo instituído
esta modalidade como a perda de património impor-
do AOV ou acha que as organizações estão mesmo a
tante?
cortar no investimento na renovação das suas frotas
O aluguer operacional não está em voga por acaso, mas
devido às contingências orçamentais?
sim pelos benefícios que traz a uma organização. O primei-
intra
ro contrato de aluguer operacional que a Novopca, S.A.
cerca de 12 mil leiloadas em 2008, pensa que o re-
efectuou foi em 2002 e, passados estes anos, continuo
marketing poderá ser um dos canais preferenciais dos
com a percepção que foi a melhor opção de gestão para
clientes frotistas?
a sua frota, pois as vantagens deste tipo de contrato em
O remarketing poderá tornar-se um canal preferencial, ape-
outsourcing, resumem-se a três factores preponderantes:
nas nos casos de frotistas de pequena dimensão. Na mi-
- redução de custos;
nha opinião as empresas de maior dimensão continuarão
- transferência de risco;
a utilizar os mesmos meios de aquisição. Estas empresas
- a eficiente utilização dos recursos disponíveis.
só poderiam aderir ao remarketing se fossem as próprias
As empresas ao utilizarem o AOV não encaram uma perda
locadoras a criar o seu próprio canal de distribuição, ou
de património, pois intrinsecamente sabem que não pre-
seja, fazendo o seu remarketing directo com as grandes
cisaram de utilizar fundos próprios ou empréstimos para
empresas.
adquirir os veículos. Outra grande vantagem do AOV é que
o imobilizado dos veículos está incorporado na empresa
Com a corrente crise económica, a logística e as ope-
locadora, tornando-se um benefício em termos contabilís-
rações são áreas funcionais que perdem competitivi-
ticos para a s empresas.
dade face a todas as outras. Como lida um Gestor de
Frotas com esta adversidade?
A conjuntura actual leva a que, progressivamente, os
Antes de mais, discordo que haja perda de competitivida-
carros das empresas sejam atribuídos consoante o cri-
de. A logística e as operações nunca desempenharam um
tério da sua utilidade para a função profissional. Pensa
papel tão importante nas organizações, como nos dias
que esta restrição não irá desmotivar alguns funcioná-
de hoje. Principalmente na construção civil que é uma
rios que vêem ser-lhe retirado este benefício?
actividade muito volátil, e com alterações constantes nas
Nos dias de hoje as evoluções e alterações são extrema-
localizações da operação, obrigando a organizar, adaptar
mente rápidas em todas as áreas e as empresas e pessoas
e a rentabilizar permanentemente todo o fluxo organiza-
têm de se ajustar e adaptar-se a estas comutações, pois
cional.
só assim conseguem ultrapassar os obstáculos/dificuldades. Neste sentido, a atribuição de carros por parte da
empresa deve ser em função da sua actividade profissional. O seu utilizador tem de entender que, para o correcto
desempenho da sua função, esta escolha foi a melhor opção e que, por outro lado, também traz outros benefícios
para a empresa.
Algumas empresas para reduzirem os custos com a sua
frota, podem vir a diminuir os plafonds para a atribuição de
veículos, retirando assim algum “conforto” aos utilizadores. No entanto, os funcionários não devem ficar desmotivados, mas encarar estas medidas como um downsizing
necessário, em detrimento de cortes salariais ou até despedimentos, acabando por tornar a empresa mais competitiva.
No passado dia 20 de Janeiro teve lugar o maior leilão de sempre no nosso país, com 800 viaturas. Com
Perfil
Duarte Gonçalves é director do departamento de
equipamento da Novopca – Construtores Associados S.A. Entre 2000 e 2003, desempenhou funções
de chefia na área de manutenção, na FUNFRAP –
Fundição Portuguesa, S.A. É licenciado em Engenharia Mecânica, pela Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto.
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