ESTUDO DA CONCORDÂNCIA NOMINAL DE GÊNERO E DE NÚMERO NO
PORTUGUÊS FALADO POR COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE MS E DO CRIOULO
DA GUINÉ BISSAU.
Nágila Kelli Prado SANA (G.PIBIC/UEMS)
Profa. Dra. Elza Sabino da Silva BUENO (UEMS/FUNDECT)
RESUMO: O presente estudo visa retratar a diversidade linguístico-cultural afro-descendente, no
sentido de contribuir com os estudos relacionados à língua e à interculturalidade, em que temos
como estímulo para essa pesquisa a “Lei nº 10.639/2003 que acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB) dois artigos: 26-A e 79-B em que afirmam que o ensino deve
privilegiar o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra
brasileira e o papel dessas na formação da sociedade nacional. Partindo deste pressupostos,
estudamos a morfossintaxe do crioulo guineense comparando-o à norma padrão e à forma variante
da língua nas comunidades quilombolas rurais, fazendo uma análise do aspecto sociolinguístico do
país e do perfil dos povos que compõe os grupos pesquisados. Analisamos a concordância de
nominal de gênero e de número no português falado por afro-descendentes do Brasil (Comunidade
Picadinha,) e da Guiné Bissau, com objetivo de identificar o processo da crioulização sobre o
aspecto morfossintático do português vernáculo.
PALAVRAS-CHAVE: Português falado; Variação linguística; Metaplasmos; Variação social
Introdução
Nossa pesquisa trata da influência da cultura africana no Estado de mato Grosso do Sul - MS, por
meio de estudos linguísticos que aproximam a língua vernacular brasileira do crioulo guineense de
base portuguesa, uma vez que segundo AFROBRAS (2OO8) a população negro-parda de Mato
Grosso do sul é constituída de 41,3% distribuída nos centros urbanos e em comunidades
quilombolas, dentre elas a Comunidade Picadinha, local selecionado para a nossa pesquisa no
Brasil.
Atualmente existem registros de quinze comunidades quilombolas no estado, que embora façam
parte do contexto social sul-mato-grossense, durante muito tempo, a sociedade brasileira ocultou e
ignorou a cultura africana, bem como as suas contribuições para a formação sócio-linguísticohistórico e cultural, assim de acordo com Lima (2004, p. 85) “a raiz desse ocultamento estava no
preconceito e na ignorância sobre a vida social e a história desses grupos humanos e, sobretudo, na
necessidade de domínio sobre eles, com o objetivo de colonizá-los e/ou até mesmo escravizá-los”.
Aporte teórico-metodológico - línguas em contato
Os quilombos no Brasil são grupos sociais que se caracterizam por serem constituídos em sua
maioria de população negra e ocuparem uma grande área na zona rural do Brasil, e a maioria dessas
terras não possuem titulação, em nosso país apenas setenta e uma delas têm seus direitos territoriais
reconhecidos pelo governo, a comunidade na qual estamos realizado parte de nossa pesquisa não
possui o título da terra expelido pelo INCRA, mas é reconhecida como comunidade quilombola
pela Fundação cultural Palmares.
No distrito de picadinha localizado no município de Dourados a 18 km do perímetro urbano
residem 45 pessoas, formando a comunidade quilombola descendentes de Dezidério Felipe de
Oliveira que segundo Nishijima (2007) Dezidério nasceu em 1867, em Uberaba, Minas Gerais e
chegou ao território Sul- mato-grossense por meio de uma comitiva de gado, que vinha na região de
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Vista Alegre no distrito de Maracajú, onde se casou e teve doze filhos. Veio para o município de
Dourados, em 1907.
Partindo desse panorama, o Brasil foi considerado o maior importador de escravos do mundo ao
receber 38% de todos os africanos trazidos para o Novo Mundo (HOLM, 1991, p.299). Assim,
durante o período da escravatura, as línguas afros e o português estiveram em contato, isso também
ocorreu no domínio do povo Português em Guiné Bissau1 com o surgimento do crioulo guineense e
que, segundo Intumbo (2004, p.5) “o surgimento de uma língua híbrida, com características formais
de ambas as línguas em contato, sendo geralmente a língua do dominador a fonte da maioria dos
vocábulos que constituem seu léxico e as línguas de substrato, fonte de algumas estruturas e
interferências fonético–fonológicas”, de acordo com Coelho (1967, p. 431) “diversas
particularidades dos dialetos crioulos repetem-se no Brasil; tal é a tendência para a supressão das
formas plural”. O autor considera esta semelhança um fator que aproxima o português vernáculo
dos crioulos de base portuguesa, de modo especial, o crioulo guineense, nosso objeto de estudo.
A pesquisa trata-se de um estudo qualitativo que visa aproximação da língua crioulo guineense com
o português vernáculo brasileiro, para isso utilizamos entrevistas colhidas no país da Guiné Bissau
que constitui, juntamente com as entrevistas de indivíduos da comunidade quilombola picadinha, o
corpus da pesquisa, relembrando que as entrevistas da comunidade em sua maioria enquadram-se
no perfil de falantes do português vernacular brasileiro.
Este estudo foi realizado por meio de pesquisa de campo, entrevistas in loco, baseada no suporte
teórico-metodológico da sociolinguística laboviana que analise as variações ocorridas na língua
decorrentes de variantes linguísticas e ou sociais (LABOV, 2008/1983; FERGUSON, 1974 e
TARALLO, 2007).
Para a constituição do corpus da pesquisa, selecionamos informantes falantes de português
vernáculo, residentes na região de picadinha, distrito de Dourados—MS, Brasil e informantes do
arquipélago dos Bijagos, do país da Guiné Bissau – África Ocidental, classificando-os de acordo
com o nível de escolaridade e classe social, com idades variando entre 40 a 67 anos, fizemos
observação in loco e descrição por meio das entrevistas para traçar o perfil dos sujeitos pesquisados,
num estudo comparativo do uso da concordância de gênero e de número, no português falado no
Brasil e no português falado na África Ocidental, considerando as influências linguísticas do crioulo
guineense e do português vernacular do Brasil.
O crioulo guineense é uma língua de base lexical portuguesa falada por cerca de 40% da população
na Guiné Bissau (ROUGÉ, 1986 p. 28-29) na região sul do Senegal, na Guiné ela é reconhecida
como língua nacional, compreendida e usada no dia-dia pela população e por parte de alguns
guineenses.
Na Guiné há propostas de inserção de projetos de ensino bilíngue, embora o português seja a língua
oficial do país, constituindo o superstrato do crioulo e dando origem a maioria dos léxicos usados
por aquele povo. Questões identitárias e pós-coloniais tornam o crioulo um fruto de mescla cultural
e de não aceitação da língua do dominante como produto de afirmação cultural, sendo assim, de
acordo com Bonnici (2005, p. 33) e na teoria do pós coloniamismo “a língua num país colonizado
transcende a função comunicativa do discurso e adquire um significado profundamente cultural”.
País da África –ocidental foi colonizado por Portugal e teve sua independência reconhecida em 1973, faz parte da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), das Nações Unidas, dos PALOP (Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa).
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Nosso trabalho traz como inovação os arquivos de áudio das falas orais do crioulo guineense com
intuito de comparar o português oral brasileiro e as suas variações por meio das entrevistas
realizadas in loco, tanto na comunidade quilombola “Picadinha”, região de Dourados-MS-Brasil,
como no país da Guiné Bissau-África.
Guiné Bissau
Guiné Bissau é um país localizado na África Ocidental. Durante três séculos constituiu a colônia da
Guiné Portuguesa e só em 1974 foi reconhecida sua independência. Inúmeros conflitos e guerras
civis fizeram parte da sua história durante todos esses anos, gerando constante instabilidade política,
econômica e educacional.
Segundo INEC (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, 2002) o país possui uma extensão
territorial de aproximadamente 36.125Km² e, embora seja pequeno em dimensões territoriais, é rico
em diversidade linguístico-cultural. Sua população é de cerca da 1.181.641 habitantes (INEC, 2002)
divide-se em cerca de “20 etnias e 22 línguas” (GRIMES, 1988, p.240).
O idioma oficial do país é o Português, mas há inúmeras línguas nacionais faladas, pois cada etnia
possui a sua. Essa diversidade linguística se deve às diversas invasões pelo Império de Mali e por
outros povos, além das migrações internas por razões econômicas. As variações linguísticas
demasiadas levaram Simões Landerset (1935) a atribuir o título de Babel Negra ao país.
As etnias mais numerosas em população são constituídas pelos Balantas, que habitam as regiões
litorâneas e cultivam arroz, pelos Fulas criadores de gado, pelos Mandingas comerciantes,
Manjacos caracterizados pelo poder adquirido pelos seus imigrantes, Pepéis concentrados ao redor
da capital Bissau, e os Bijagós que são os habitantes das ilhas e compõem os povoamentos de
animistas, praticando ritos e cerimônias, em sua maioria secretos e que variam de uma ilha a outra.
Sua extensão territorial é pequena em termos geográficos, mas grande é a diversidade linguística no
país que, por diversas vezes, foi invadido e, que também serviu como refúgio para conflitos internos
na Àfrica, de acordo Intumbo (2007 p. 4) Guiné Bissau tem cerca de 22 línguas que podem muitas
vezes trata-se de variedades de uma mesma língua, há muitas discussões sobre o assunto, mas nessa
divergência as línguas são distinguidas na literatura como grupo Oeste Atlântico e o grupo Mande,
ambos da família Níger – Congo.
Partindo dessa premissa, realizamos este estudo para contribuir na divulgação das comunidades
quilombolas existentes no Brasil e, de modo especial em Mato grosso do sul, pois atualmente
existem registros de quinze comunidades quilombolas no estado, que embora façam parte do
contexto social sul-mato-grossense, há muito tempo, a sociedade brasileira ocultou e ignorou a
cultura africana, bem como as suas contribuições para nossa formação social, assim de acordo com
Lima (2004, p. 85) “a raiz desse ocultamento estava no preconceito e na ignorância sobre a vida
social e a história desses grupos humanos e, sobretudo, na necessidade de domínio sobre eles, com
o objetivo de colonizá-los e/ou até mesmo escravizá-los”.
Os quilombos no Brasil são grupos sociais que se caracterizam por serem constituídos em sua
maioria de população negra e ocuparem uma grande área na zona rural do Brasil, a maioria dessas
terras não possuem titulação, em nosso país apenas setenta e uma delas têm seus direitos territoriais
reconhecidos pelo governo. A comunidade na qual ealizamos parte de nossa pesquisa não possui o
título da terra expelido pelo INCRA, mas é reconhecida como comunidade quilombola pela
Fundação cultural Palmares .
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No distrito de picadinha localizado no município de Dourados a 18 km do perímetro urbano
residem 45 pessoas, formando a comunidade quilombola descendentes de Dezidério Felipe de
Oliveira que segundo Nishijima (2007) que nasceu em 1867, em Uberaba, Minas Gerais e chegou
no território Sul- mato-grossense por meio de uma comitiva de gado, que vinha na região de Vista
Alegre no distrito de Maracajú, onde se casou e teve doze filhos. Veio para o município de
Dourados, em 1907.
Diante desse contexto não podemos deixar de mencionar que o Brasil foi considerado o maior
importador de escravos do mundo ao receber 38% de todos os africanos trazidos para o Novo
Mundo (HOLM, 1991, p.299). Assim, durante o período da escravatura, as línguas afros e o
português estiveram em contato, isso também ocorreu no domínio do povo Português em Guiné
Bissau2 com o surgimento do crioulo guineense e que, segundo Intumbo (2004, p.5) “o surgimento
de uma língua e híbrida, com características formais de ambas as línguas em contato, sendo
geralmente a língua do dominador a fonte da maioria dos vocábulos utilizados no léxico e as línguas
de substrato são fontes de algumas estruturas e interferências fonético–fonológicas”, nesse estudo
verificamos estas interferências e fizemos algumas constatações comparando a língua brasileira ao
crioulo da Guiné Bissau, uma vez que de acordo com Coelho (1967, p. 431) “diversas
particularidades dos dialetos crioulos repetem-se no Brasil; tal é a tendência para a supressão das
formas plural”. O autor considera esta semelhança um fator que aproxima o português vernáculo
das línguas crioulas de base portuguesa.
Neste contexto, vale ressaltar que a língua é parte fundamental da identidade cultural de um povo e
para esse estudo contamos com o estímulo da legislação, e esse é o diferencial relevante da
importância em realizar essa pesquisa em que nossa pretensão é estimular e despertar os educadores
ao atendimento à lei:
Lei nº. 10.639/2003 que acrescentou à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
dois artigos: 26-A e 79-B. O primeiro estabelece o ensino sobre cultura e história afrobrasileiras e específica que o ensino deve privilegiar o estudo da história da África e dos
africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional. O mesmo artigo ainda determina que tais conteúdos devem ser
ministrados dentro do currículo escolar. (MEC, 2003).
A pesquisa trata-se de um estudo qualitativo que visa a aproximação da língua crioulo guineense
com o português vernáculo brasileiro, para isso utilizamos entrevistas colhidas no país da Guiné
Bissau que constitui, juntamente com as entrevistas de indivíduos da comunidade quilombola
picadinha, o corpus da pesquisa, relembrando que as entrevistas da comunidade em sua maioria
enquadram-se no perfil de uma falar mesclado de fenômenos linguísticos presentes no crioulos
guineense e no português vernacular do Brasil, como veremos no decorrer deste estudo.
As variáveis sociais estudadas - o gênero do falante
Quando nos referimos ao fator gênero/sexo e afirmamos ou questionamos sobre as diferenças na
fala, isto soa como algo retórico e talvez até redundante, uma vez que é comprovada as diferenças
entre homens e mulheres, já que homens possuem caracteristicamente voz mais baixa e grave
enquanto as mulheres apresentam voz mais aguda e mais alta. Porém, por se tratar de um estudo
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sociolinguístico tais características não constituem elemento principal, visto que o foco
sociolinguístico está centrado no fator lexical. Nas sociedades ocidentais as diferenças de léxico
entre homens e mulheres são bem menos acentuadas, enquanto que em algumas culturas isso é
marcante, havendo, inclusive em algumas delas vocabulários específicos para ambos os gêneros.
De acordo com alguns estudos, entretanto, fica claramente comprovada a influência do
gênero/sexo nas variações linguísticas e há uma predominância de opção e uso da forma dita
prestigiada pelas mulheres muito mais que pelos homens. Elas parecem se preocupar mais com a
fala e com aquilo que devem dizer e como devem dizer. É importante lembrar também as
influências dos chamados “tabus” linguísticos, ou seja, há expressões ou palavras em que seu uso
é considerado inadequado às mulheres ou mesmo as próprias falantes hesitam em fazer uso de tais
expressões, Preti (2000).
De acordo com Paiva (apud MOLLICA, 1994), um dos primeiros estudos a que se tem referência
sobre a influência do gênero/sexo sobre as variações linguísticas encontra-se em Fischer (1958),
que afirma essa predominância da mulher em escolher formas mais requintadas. Também se
associa o fato de que as mulheres se preocuparem mais com a beleza física, com a apresentação no
vestir-se, no andar, a estética como foco de valorização e isso pode se refletir também no falar,
fazendo-as mais observantes das normas linguístico-gramaticais.
Entretanto, ainda de acordo com esses estudos há questões que tratam a variação estável, ou seja,
há controvérsias sobre as influências de homens e mulheres na criação de novas formas, uma vez
que mulheres são mais criativas e inovadoras ao passo que aos homens parecem competir a
autonomia em definir e implantar novas formas linguísticas, já que prevalece quase sempre a
ideia/posição masculina na imposição de certas regras.
Diante do exposto, dividem-se as opiniões, pois quando se trata das chamadas formas prestigiadas,
as mulheres parecem ocupar a liderança, já quando se trata das formas menos prestigiadas, os
homens propensos ao uso de tal modalidade. Outro fato relevante na influência das mulheres na
determinação das mudanças linguísticas é que estas são as responsáveis pela educação dos filhos e
contribuem para a aquisição da língua nos dois primeiros anos de vida de uma criança, de acordo
com Labov (apud MONTEIRO, 2000, p. 127). Também é importante ressaltar que essas variações
e distinções são assim reconhecidas e ocorrentes se considerarmos apenas o fator gênero/sexo, ou
seja, homens e mulheres de mesmo nível social, idade e escolaridade. Portanto, isto não é válido
quando se compara grupos distintos, em que há influências de outros fatores, isto é, uma pessoa
com nível superior de escolaridade tende a sobressair nas acentuadamente em questões normativa,
independente d e se gênero.
Ao falar de gênero, diferenças e particularidades, é preciso ter em mente também as questões
culturais. Na cultura ocidental, por exemplo, as lutas pelo nivelamento das diferenças estão se
evidenciando cada vez mais e homens e mulheres já conseguem conviver harmoniosamente em
muitas áreas sem muitas distinções, entretanto, algumas culturas ou povos ainda preservam um
pensamento mais machista ou mais opressivo quanto ao gênero. Há lugares, conforme já citado
acima, em que as divisões entre papéis masculino e feminino são muito nítidas, em que podemos
até falar da existência de uma “apartheid linguística”.
A variável idade do falante
As línguas são elementos em movimento e em processo ativo constante, o que implica
transformações e mudanças no tempo e no espaço. Se as línguas variam no espaço e no tempo, a
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temporalidade é algo fundamental no processo variacionista, por isso o fator idade é determinante
nessas mudanças. Dessa forma, percebe-se claramente, de acordo com os vários estudos realizados
que há diferenças perceptíveis nos grupos de falantes com faixas etárias distintas. Até mesmo em
grupos de familiares, de geração para geração ou amigos há diferenças no falar. Cada falante elege
como usuais os termos ou expressões próprias de seu tempo, ou seja, em muitos casos permanecem
as formas antigas . como muito bem salienta Naro (apud, MOLLICA, 1994,p. 82)
Os falantes adultos tendem a preferir formas antigas, criando uma situação
estranha, pelo menos a primeira vista; existem pessoas que, apesar de estarem em
interação constante (do tipo pai/filho), costumam falar de maneira distinta.
Entretanto isso não chega a comprometer a comunicação, já que ambos os lados
são capazes de utilizarem ambas as formas. Trata-se apenas de uma tendência em
direção a uma ou outra forma. Com o correr do tempo é provável que a forma nova
seja adotada por todos.
Outro fato curioso e interessante é o de que a idade linguística de um falante não corresponde à sua
idade real. Naro (op cit) afirma que a língua apresentada por um falante é calculada pela linguagem
adquirida aos quinze anos de idade, isto significa que a realidade linguística de um falante atual
deve ser subtraída quinze anos de sua realidade etária. Por exemplo, uma pessoa de 60 anos
apresenta a linguagem de apenas 45 anos atrás e não de sessenta e que a partir da cristalização
dessas formas linguísticas adquiridas, o falante compõe o seu repertório.
Resultados e Discussão
Concordância de número no sintagma nominal.
No português, a modalidade padrão da língua apresenta a regra geral para todos os nomes contáveis
e a maior parte dos determinantes, quantificadores e modificadores são marcados no plural
acrescentando-se o morfema /s/ nas formas do singular. Essa concordância dos elementos com o
núcleo do sintagma nominal é obrigatória nessa modalidade da língua, vejamos alguns exemplos a
seguir, selecionados do corpus de pesquisa com os informantes entrevistados:
(PNP) A menina talentosa.
(PNP) A-s menina-s talentosa-s
A- PL menina-PL talentosa-PL
No crioulo guineense
CG- mininu djiru_
“ menino inteligente”
CG mininu-s djiru_
“Uns meninos inteligentes”
Menino-PL inteligente
CG dus mininu (-s) djiru_
dois menino(-PL) inteligente_]
PVB mininus bunito
Menino- PL bonito
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No Crioulo Guineense (CG), de acordo com Intumbo (2007), o plural pode ser deduzido a partir de
um contexto ou indicado por meio da inserção do morfema /s/ de plural aos nomes, em que a
pluralidade é marcada pelo mesmo processo morfológico usado no português, embora seja
característico de todas as variedades dos crioulos, nos determinantes e modificadores serem
invariáveis e não receberem essa marcação de número.
Concordância de gênero no sintagma nominal
No Crioulo Guineense, o gênero não é indicado por meio de flexões, mas é comum o falante utilizar
léxicos que designam o sexo, logo em seguida ao nome, como podemos verificar nos exemplos a
seguir:
CG primu matco
Primo homem
CG primu femia
Prima Mulher
Já na modalidade padrão de língua portuguesa distinguem–se os gêneros masculino e feminino pela
flexão das desinências /a/ e /o/, para os respectivos gêneros. Observe os exemplos a seguir:
(PNP) um brinco lind-o
Det.M brinco lind-M
( PNP) Uma vida tranquil-a
Det.F vida ( F) tranquil-a
Os dados das nossas entrevistas do Português Vernacular do Brasil (PVB) ainda apresentam raros
casos de falta de concordância, mas o que podemos constatar até então são nomes femininos
acompanhados por determinantes masculinos. Que são fenômenos já destacados nesta modalidade
do português (CARENO, 1997) e que continuam a fazer parte de nossa pesquisa. Vejamos a seguir
uma breve amostragem do uso dos pronomes pessoais no Crioulo Guineense.
Ex. PVB-.meu saúde num ta boa.. ( INQ A)
De acordo com Intumbo (2007) o plural no crioulo da Guiné Bissau pode ser deduzido a partir de
um contexto ou indicado por meio do morfema /s/ o mesmo também ocorre no português falado no
Brasil para se fazer a concordância de número no sintagma
Conclusões
Na análise do processo morfossintático do português vernacular e do crioulo guineense
encontramos a redução das flexões de concordância de gênero e número no sintagma nominal,
nesses dados comparativos encontramos semelhanças históricas sociais e linguísticas, trabalhamos
com africanos e descendentes de africanos com uma visão etnolinguística. Convém ressaltar que
este estudo encontrar- se em andamento, tendo o seu término previsto para novembro do corrente
ano, assim, ainda há dados a serem levantados e análise a serem realizadas, no sentido de traçar o
perfil linguístico e histórico de nossos informantes e a sua comparação entre os falantes afrobrasileiros e os guieenses.
Referências
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