UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO AVALIAÇÃO PROCESSUAL DE BURNOUT EM ENFERMEIROS PARA E NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE JOSÉ EDUARDO LIMA MARTINS Orientadora: Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro Vila Real, 2010 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO AVALIAÇÃO PROCESSUAL DE BURNOUT EM ENFERMEIROS PARA E NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE Dissertação de Mestrado em Gestão dos Serviços de Saúde JOSÉ EDUARDO LIMA MARTINS Orientadora: Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro Vila Real, 2010 Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Gestão dos Serviços de Saúde, sendo apresentada na Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro. ii À minha esposa Conceição À minha filha, Carolina, a fonte da minha vida iii AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro, pela orientação atenta, pela franca disponibilidade, pela motivação, pela compreensão e pelas aprendizagens que me proporcionou em todos os momentos; À professora Maria da Conceição Alves Rainho Soares Pereira, pela sua co-orientação, pela sua disponibilidade, pelo incentivo e motivação, bem como pelos momentos de aprendizagem que me proporcionou; Ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, na pessoa da Enfermeira Directora – Enfermeira Antonieta Alves, pelas facilidades concedidas, visando a formação e a valorização dos seus recursos humanos; Aos enfermeiros que se disponibilizaram a integrar o presente estudo; À senhora D. Teresa Carvalho, pela paciência e dedicação com que configurou a versão final desta tese; Por último, mas não somenos proeminente, a toda a nossa família e amigos, pelo incentivo, tolerância, paciência e compreensão demonstradas na presença de que se viram privados e cuja afectividade foi fundamental para a concretização desta tese. E a todos os que de algum modo e em algum momento se preocuparam comigo….. iv RESUMO O aparecimento do burnout está relacionado com a exposição continuada a eventos de origem laboral e são vários os estudos (Carlloto & Câmara, 2004; Maslach & Jackson, 1982; Queirós, 2005) a demonstrar que os profissionais que mantêm uma relação continuada e directa com outras pessoas apresentam com mais frequência o síndroma de burnout, aumentando significativamente quando esta relação é de ajuda. Os enfermeiros são considerados um dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de cuidar holística. A partir do processo de fundamentação conceptual deste síndroma, as autoras propõem um conceito operacionalizado em três dimensões: exaustão emocional; cinismo ou despersonalização e redução da realização pessoal. As razões apontadas orientam o desenvolvimento desta investigação que tem como finalidade contribuir para o bem-estar dos enfermeiros na sua relação com o trabalho, que se repercute na qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem, e que se concretiza nos seguintes objectivos: i) caracterizar o síndroma de burnout nos profissionais de enfermagem quanto a variáveis demográficas e socioprofissionais; ii) determinar a relação entre factores antecedentes de burnout e a expressão do síndroma em profissionais de enfermagem; iii) determinar a relação entre os factores antecedentes de burnout e as dimensões que constituem este síndroma. Como instrumento de recolha de dados utilizou-se um questionário composto por váriáveis de caracterização e pelo Questionário Breve de Burnout (Moreno Jimenez, Bustos, Matallana & Mirrales, 1997), constituído por 21 itens, que permite avaliar antecedentes de burnout, síndroma de burnout e consequências do síndroma. Participaram no estudo 103 enfermeiros a desempenhar funções nos serviços de urgência e cuidados intensivos de um centro hospitalar do norte do país. São predominantemente do sexo feminino (73,8%), a média de idades é de 36,31 anos, a maioria mantém uma relação com parceiro habitual, tem filhos e pessoas dependentes a seu cargo. A maioria detém licenciatura em enfermagem. A média de anos na profissão é de 13,5 anos e a maioria está no nível 1 da categoria profissional. Verifica-se que 93,2% realiza um horário por turnos e que o tipo de vínculo laboral predominante, é o contrato em funções públicas. No que diz respeito à interacção com os utentes, 57,1% atende menos de 30 utentes por dia e 80% do tempo diário é dispendido na prestação de cuidados. Relativamente ao síndroma de burnout, verificou-se que os enfermeiros apresentam uma média ponderada de burnout de 2,55 e d.p.0,53 e que a dimensão despersonalização apresenta uma v média ponderada mais elevada (2,83d.p.=0,82). Uma correlação estatisticamente significativa e positiva foi verificada entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma, bem como com as dimensões do mesmo e entre o síndroma de burnout e as suas consequências. Constatou-se que os elementos do sexo masculino, os que têm mais filhos, os que desempenham funções em serviços de urgência versus os que desempenham em cuidados intensivos, os que trabalham por turnos há mais de 12 anos, os que possuem um vínculo laboral mais estável, os que dispendem mais de dez minutos na deslocação de casa para o trabalho, e os que atendem um maior número de utentes apresentam valores médios de burnout mais elevados. Quanto à análise de regressão linear, constatou-se que os factores antecedentes de burnout explicam 50% da variância do síndroma de burnout; quanto às dimensões constituintes do sóndroma de burnout, explicam 32% da exaustão emocional, 18% da despersonalização e 40% da redução da realização pessoal: O (re)conhecimento deste problema, no seio das organizações e dos profissionais de saúde, constitui um passo decisivo para a definição de estratégias que o adjectivam como uma “epidemia invisível”. Palavras-chave: burnout, enfermeiros, unidades de urgência e cuidados intensivos. vi ABSTRACT The appearance of burnout syndrome is related to permanent exposure to work-related events and there are several studies ( such as Maslach & Jackson, 1982; Carlotto & Câmara, 2004; Queirós, 2005) which show that the professionals who keep a permanent and direct relationship with other people show burnout syndrome more often, increasing significantly when this is a relationship of assistance. Nurses are considered to be one of the professional groups most affected by burnout since they incorporate a humanistic philosophy and a holistic way of caring in their profession. By using a process of conceptual validity of this syndrome, the authors propose functional concept in three dimensions: emotional exhaustion, cynicism or depersonalization and reduction of personal fulfillment. The reasons mentioned above guide the development of this research, which aims to contribute to the well-being of nurses in their relation to work. This is reflected in the quality and safety of healthcare and is evidenced by the following goals: i) the characterization of burnout syndrome on nursing professionals considering demographical and social -professional variables; ii) the determination of the relation between the antecedent factors of burnout and its effects on nurses; iii) the determination of the relation between the antecedent factors of burnout and its dimensions. As a research tool we have used a questionnaire composed of several characterization variables and by the Brief Questionnaire of “Burnout” (Moreno Jimenez, Bustos, Matallana & Mirrales, 1997), composed of 21 items, which allows for the evaluation of the antecedents of burnout, burnout syndrome itself and its consequences. About 103 nurses, who are working in emergency rooms and intensive care services in the north of Portugal, took part in the research. They are mainly female (around 73.8%), with an average age of 36.31. They all maintain a stable relationship with a usual partner, and have children and people who depend on them. The majority have a nursing degree. The average number of years that they have been working as health care professionals is 13.5 and the majority has attained the 1st level in their professional category. It is noticeable that 93.2% work in a timetable divided into shifts and the main type of contract is that of public service. As far as interaction with patients, 57.3% answered that they saw fewer than 30 patients per day and 80% of their daily time is spent taking care of patients. With regards to burnout syndrome, we verified that nurses had an average of 2.55 and s.d.0.53 burnouts with depersonalization dimension exhibiting a higher average (2.83 s.d.=0.82) . A significant and positive statistical correlation was verified between the antecedent factors of burnout and the syndrome itself, as well as its dimensions and also, between burnout syndrome vii and its consequences. It was ascertained that males, those who have more children, those who work in emergency rooms versus those who work in intensive care, those who have been working in shifts for over 12 years, those whose professional bond is more stable, those who spend more than 10 minutes going to work, and finally those who take care of a large number of patients exhibit higher levels of burnout (extremely high average). As for the analysis of linear regression, we ascertained that antecedent factors of burnout explain 50% of its variance; furthermore, the constituent dimensions of burnout syndrome explain 32% of the emotional exhaustion, 18% of the depersonalization and 40% of the reduction of personal fulfillment. The recognition of this problem in the world of healthcare represents a decisive step for defining strategies that call it the “Invisible Epidemic”. Key Words: Burnout, Nurses, Emergency Rooms and Intensive Healthcare viii ÍNDICE DEDICATÓRIA................................................................................................................................... iii AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................... iv RESUMO ........................................................................................................................................... v ABSTRACT ........................................................................................................................................ vi LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS....................................................................................... xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................................................. xii INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1 PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO........................................................................................ 5 1. DELIMITAÇÃO CONCEPTUAL DE BURNOUT .................................................................................. 6 1.1. Evolução histórica .............................................................................................................. 6 1.2. Modelos teóricos de burnout .............................................................................................. 8 2. FACTORES ANTECEDENTES .......................................................................................................... 13 2.1. Factores antecedentes organizacionais ............................................................................... 14 2.2. Características da tarefa ...................................................................................................... 16 3. CONSEQUÊNCIAS .......................................................................................................................... 18 4. O BURNOUT NOS ENFERMEIROS ................................................................................................... 19 5. A AVALIAÇÃO DE BURNOUT NOS PROCESSOS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES........................ 22 6. CONTEXTO DO ESTUDO: SERVIÇOS DE URGÊNCIA/UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS ......... 25 PARTE II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ......................................................................... 27 1. HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................... 28 2. JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................................... 29 3. DESENHO DO ESTUDO ...................................................................................................... 30 4. AMOSTRA ......................................................................................................................... 31 5. VARIÁVEIS DO ESTUDO E OPERACIONALIZAÇÃO .............................................................. 32 6. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS.......................................................................... 33 ix 6.1. Questionário Breve de Burnout .............................................................................. 34 6.2. Fiabilidade .............................................................................................................. 35 7. PROCEDIMENTO NA RECOLHA DOS DADOS ...................................................................... 36 8. ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................................................................... 37 PARTE III – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................... 39 1. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................... 40 1.1. Caracterização da amostra do estudo .................................................................................. 40 1.2. Descrição das sub-escalas ................................................................................................... 44 1.3. Análise correlacional e regressão linear simples ................................................................ 45 1.4. Comparação das médias do síndroma de burnout nos enfermeiros da população .............. 48 PARTE IV – CONCLUSÕES E SUGESTÕES ....................................................................................... 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 58 ANEXOS ............................................................................................................................................ 67 I. QUESTIONÁRIO BREVE DE DE BURNOUT (QBB) ..................................................................... 68 APÊNDICES ....................................................................................................................................... 71 I. OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS .................................................................................. 72 II. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ............................................................................... 74 III. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A RECOLHA DE DADOS ................................................... 79 x LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS Figura 1. Modelo geral explicativo de burnout .............................................................................. 10 Quadro 1. Fases do burnout (Modelo de Golembewski & Muzenrider, 1988) .............................. 12 Quadro 2. Fases do burnout (Modelo de Leiter, 1988, 1989) ......................................................... 13 Quadro 3. Sumarização dos trabalhos internacionais sobre o burnout em profissionais de saúde ............................................................................................................................. 20 Quadro 4. Estrutura teórica do Questionário Breve de Burnout ..................................................... 34 Quadro 5. Valores de fiabilidade das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout em diferentes estudos ......................................................................................................... 36 Tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo as características sóciodemográficas ................. 41 Tabela 2. Distribuição dos enfermeiros segundo as características profissionais ........................... 43 Tabela 3. Estatísticas descritivas das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout ................... 44 Tabela 4. Correlação entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma ............................... 46 Tabela 5. Correlação entre o síndroma de burnout e as consequências .......................................... 46 Tabela 6. Regressão linear tendo como variável independente os factores antecedentes e variáveis dependentes o síndroma de burnout, e as suas dimensões .............................. 47 Tabela 7. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o sexo ...................... 48 Tabela 8. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com a existência ou não de filhos ................................................................................................................... 49 Tabela 9. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o serviço onde desempenha funções ........................................................................................................ 49 Tabela 10. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de anos de trabalho por turnos ..................................................................................................... 50 Tabela 11. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tipo de vínculo laboral ............................................................................................................................. 51 Tabela 12. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tempo médio de deslocação de casa para o trabalho ............................................................................ 51 Tabela 13. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de utentes que atende por dia .............................................................................................. 52 xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS cit. - citado cols. – colaboradores d.p. - desvio padrão MBI - Maslach Burnout Inventory nº - número p. - página QBB - Questionário Breve de Burnout s.d. - standard deviation xii INTRODUÇÃO -1- Introdução A sociedade actual e de modo particular as organizações de saúde são confrontadas com modificações profundas, motivadas pela rápida evolução científica e tecnológica, que se repercutem profundamente em todo o tecido económico, social e cultural. Neste contexto de mudança, emerge a problemática da preparação dos profissionais de saúde para uma intervenção dinâmica e inovadora numa sociedade cuja característica intrínseca é estar em permanentes processos de mutação. Acompanhando as modificações científicas e tecnológicas, surgem novos modelos de gestão que pretendem primordialmente melhorar a eficiência e eficácia dos colaboradores, transformando as organizações e modificando o clima organizacional existente. Um exemplo, na área da saúde, foi a transformação de 33 hospitais públicos em sociedades anónimas e, posteriormente, em empresas públicas empresariais, que alteraram de forma repentina o modelo e as práticas subjacentes à sua gestão. É neste enquadramento que a atenção sobre todos os intervenientes, nomeadamente os actualmente designados de colaboradores na sua relação com o trabalho, tem sido objecto de reacções, de aprovação, indiferença ou oposição, mas que de uma maneira ou de outra vão influenciar o desempenho profissional. Segundo Rebelo (1998), a noção de prática está associada à realidade de um trabalho, em que “as práticas não resultam das boas vontades dos seus agentes, mas decorrem da intercepção de vários contextos – o social, marcado pela história; o do sujeito, lugar da biografia de cada um; o da profissão, onde emergem e se constroem os modelos profissionais (saberes, normas e valores que orientam a profissão); o da acção que materializa os modelos organizacionais, lugares e estruturas concretas do trabalho a realizar” (Rebelo, 1998, p. 16). Tendo por base a teia de relação enumeradas pelo autor, e cientes da importância do bem-estar e da felicidade numa das circunstâncias vivenciais mais absorventes do homem moderno, o trabalho, consideramos oportuno estudar um dos factores que mais contribui, de forma silenciosa, para condicionar a realização pessoal e profissional, a saber o burnout. -2- Introdução Utilizado pela primeira vez na literatura científica por Freudenberg, em 1974, o conceito de burnout foi definido como um estado de fadiga ou frustração resultante da devoção a uma causa, estilo de vida ou relação que falhou na produção da expectativa esperada (Mendes, 1996). Na década seguinte, foram inúmeros os autores que se debruçaram sobre esta temática, elaborando outras definições do síndroma, no entanto, a mais consolidada foi a proposta por Maslach e Jackson, em 1981. A partir do processo de fundamentação conceptual e empírica deste síndroma, as autoras propõem um conceito sustentado em três dimensões conceptualmente distintas, mas empiricamente relacionadas, que são: exaustão emocional, cinismo ou despersonalização e redução da realização pessoal. Segundo Maslach e Goldberg (1998), o aparecimento do burnout está relacionado com a exposição continuada a eventos de origem laboral e que desencadeiam stresse. Vários estudos (Carlloto & Câmara, 2004; Maslach & Jackson, 1982; Queirós, 2005), demonstram que os profissionais que mantêm uma relação continuada e directa com outras pessoas apresentam com mais frequência o síndroma de burnout, aumentando substancialmente quando esta relação é considerada de ajuda, como são exemplo os médicos, professores e enfermeiros. O grupo profissional de enfermeiros tem sido objecto de vários estudos que apontam para uma prevalência considerável, como o estudo de Queirós (2005), com enfermeiros a exercer funções em centros de saúde e hospitais, ao revelar que um em cada quatro enfermeiros apresentava burnout no trabalho, e que os enfermeiros que exerciam em unidades de urgência geral, apresentavam níveis de exaustão emocional e física mais elevados. Por conseguinte, os enfermeiros são considerados um dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de cuidar mais holística. Por vezes confrontam-se com realidades adversas como a desumanização e despersonalização do sistema de saúde, tendo que adoptar estratégias de adaptação que implicam um maior investimento psicossocial nem sempre reconhecido e frequentemente sem as condições mínimas que promovam a capacidade de resiliência. -3- Introdução Torna-se, portanto, evidente a relação que existe entre o burnout e o meio laboral em que o indivíduo exerce a sua actividade profissional, e daí emerge a importância de identificar os aspectos relevantes e caracterizadores dos antecedentes do síndroma e das consequências do burnout, perspectivando a integração deste fenómeno nas políticas de gestão das organizações modernas e competitivas. As razões apontadas sustentam o desenvolvimento desta investigação, que tem como finalidade contribuir para o bem-estar dos enfermeiros na sua relação com o trabalho e que se repercute na qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem prestados, e que se concretiza nos seguintes objectivos: i) Caracterizar o síndroma de burnout nos profissionais de enfermagem quanto a variáveis demográficas e socioprofissionais; ii) Determinar a relação entre factores antecedentes de burnout e a expressão do síndroma em profissionais de enfermagem; iii) Determinar a relação entre os factores antecedentes de burnout e as dimensões que constituem este síndroma. De forma sumária, este trabalho é constituído essencialmente por quatro partes. A primeira, diz respeito às contribuições teóricas mais relevantes para a compreensão da temática em estudo, centrado na perspectiva histórica do conceito, factores antecedentes e consequências, bem como na dimensão deste fenómeno num grupo profissional particular, os enfermeiros, e características dos serviços onde decorre o estudo. A segunda, é referente à metodologia e, por isso, respeita os aspectos inerentes à justificação e hipóteses da investigação, desenho do estudo, amostra, variáveis e sua operacionalização e instrumento de recolha de dados, quanto à fiabilidade. Termina-se com referência aos aspectos subjacentes aos procedimentos na recolha, tratamento e análise de dados. A terceira parte, compreende a apresentação e discussão dos resultados obtidos, confrontando-os com os estudos em domínios semelhantes e que suportam a confirmação das hipóteses do estudo e a formulação das principais conclusões. Por último, a quarta parte, pretende destacar os aspectos mais relevantes deste estudo, quanto ao síndroma de burnout em enfermeiros que exercem funções em serviços de urgência e cuidados intensivos, projectando-se a definição de algumas estratégias que, integradas numa política de gestão global da qualidade, visem uma maior satisfação e bem-estar profissional, bem como a qualidade e segurança dos cuidados que este grupo profissional proporciona à comunidade servida por um centro hospitalar de natureza regional. -4- PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO -5- Enquadramento Teórico De acordo com Marconi e Lakatos (1996), a pesquisa bibliográfica é “um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados actuais e relevantes relacionados com o tema” (p. 24). São também de opinião que “…o estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar duplicações e certos erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações” (p. 24). A orientação da revisão bibliográfica deste projecto visa fundamentar os diversos aspectos relacionados com o tema e o problema deste estudo. Assim, parece-nos imprescindível abordar as temáticas relacionadas com o burnout no que concerne à evolução do constructo, modelos explicativos do burnout, factores antecedentes e consequências bem como as principais características do contexto de trabalho dos profissionais que exercem funções nos Serviços de Urgência/Unidades de Cuidados Intensivos. 1. DELIMITAÇÃO CONCEPTUAL DE BURNOUT A delimitação conceptual de burnout resultou da contribuição de múltiplos estudos (Hingley & Harris, 1986; Leiter, 1989; Leiter & Maslach, 1988; Maslach & Pines, 1977; Maslach & Jackson, 1982), que contribuiram para fundamentar o seu conteúdo e para identificar os factores antecedentes (indicadores e predictores), bem como para prevenir o síndroma de burnout no âmbito das profissões cujos clientes são pessoas. 1.1. Evolução histórica A origem do termo burnout é atribuída consensualmente a Freudenberg que, em 1974, o utilizou para designar a situação que se manifesta através de uma verdadeira crise de identidade, colocando em questão todas as características da pessoa, no plano físico psíquico e relacional. -6- Enquadramento Teórico O termo burnout tem sido definido de diversas maneiras por diferentes investigadores. A definição mais abrangente (Freudenberger & Richelson, 1980) equipara burnout a stresse, associando-o a diferentes factores de saúde e bem-estar, e sugere que o burnout esteja ligado a uma expectativa elevada de sucesso. Em 1975, estes autores definiram burnout como um conjunto de sintomas médico-biológicos e psicossociais inespecíficos, como resultado de uma exigência excessiva de energia no trabalho, que ocorre particularmente nas profissões envolvidas numa relação de ajuda. A exposição crónica aos factores laborais de stresse pode levar os profissionais de enfermagem a desenvolver o síndroma de burnout, termo definido inicialmente por Freudenberger e posteriormente conceptualizado como um síndroma por Maslach e Jackson (1982). De acordo com estas autoras, trata-se de um síndroma que se apresenta como uma resposta inadequada ao stresse emocional crónico. Operacionalizaram o conceito como um síndroma mutidimensional, constituído por três dimensões: Exaustão emocional; Despersonalização; Redução de realização pessoal. Segundo Moreno Jiménez, González Gutiérrez e Garrosa Hernandez (2001), o construto burnout fica assim definido como uma disfunção pessoal e profissional num contexto laboral basicamente de tipo assistencial. Como tal, o conceito de burnout pressupõe deterioração e desgaste e a probabilidade de ocorrência é superior nas profissões marcadas por uma forte matriz relacional. Segundo Queirós (1995), o burnout é definido como uma síndroma psicológica de exaustão, cinismo e ineficácia no local de trabalho. As definições de burnout têm sido alteradas ou modificadas como resultado do aprofundamento deste constructo e tem-se observado uma crescente diversidade na sua aplicação. Pines e Maslach (1980) tinham como objectivo a análise dos estados emocionais dos profissionais e as suas reacções aos clientes, relacionando-as com determinadas características do seu trabalho. Na década de 80, os estudos aplicaram o conceito de burnout a muitas áreas, cujos profissionais estão expostos a elevados níveis de stresse no trabalho, não se limitando às profissões cujos clientes são pessoas. Indubitavelmente que o desenvolvimento do constructo de burnout está associado aos trabalhos de Maslach e colaboradores. Se bem -7- Enquadramento Teórico que se deve reconhecer a Freudenberg o uso pioneiro do termo, embora o seu estudo tenha sido um caso pontual, centrado nos aspectos clínicos e descritivos do termo. Foi com Maslach e colaboradores que o burnout se converteu num paradigma de investigação. 1.2. Modelos teóricos de burnout Terminada a descrição da evolução do conceito de burnout, consideramos fundamental conhecer os modelos explicativos do desenvolvimento do síndroma, pelo que descrevemos de forma sumária os que julgamos mais significativos, tomando como suporte a reflexão sistematizada de Queirós (2005). O Modelo de House e Wells (1978), é um modelo que apresenta uma abordagem cognitiva-perceptual com interpretação sobre o meio envolvente do indivíduo e as variáveis pessoais. Identifica variáveis individuais e organizacionais que podem estar relacionadas com o burnout. Segundo este modelo, o burnout instala-se em quatro fases: Fase 1. Grau em que a satisfação é conducente ao stresse, existindo duas circunstâncias em que o mesmo pode surgir: aptidão inadequada e discrepância entre o indivíduo e o meio de trabalho. Fase 2. Stresse percepcionado com relação estreita entre a história e personalidade do indivíduo e das variáveis organizacionais, que vão condicionar a passagem da 1ª à 2ª fase. Fase 3. Resposta ao stresse. Fase 4. Resultados do stresse. O burnout, enquanto experiência multifacetada do stresse emocional crónico, está presente nesta quarta fase. Para os autores deste modelo, segundo Pereira (1992) e Gomes (1995, como cit. em Queirós, 2005), as três dimensões do burnout reflectem as três categorias de stresse e sintomas principais: i) Fisiológicos, focando os sintomas físicos (exaustão emocional); ii) Afectivo-cognitivos, focando as atitudes e sentimentos (exaustão emocional e -8- Enquadramento Teórico despersonalização); iii) Comportamental, focando os comportamentos sintomáticos (despersonalização e diminuição da produtividade no trabalho). O Modelo de Cherniss (1980) considera o burnout como um processo, constituído por diferentes estados sucessivos que ocorrem no tempo e representa uma forma de adaptação às particulares causas de stresse (Cherniss, 1980, como cit. em Gomes, 1995; Correia, 1997; Queirós, 2005). Este modelo baseia-se num estudo de dois anos, que caracterizou profissionais de quatro áreas propensas ao burnout (saúde mental, enfermagem, ensino e direito), no qual o autor propõe que determinadas características do trabalho interagem com características do indivíduo, assim como com as suas expectativas, provocando grande stresse, que o indivíduo experimenta a vários níveis. Modelo geral explicativo de burnout (Maslach, Jackson & Leiter, 1996) Este será o modelo mais explanado, na medida em que suporta o trabalho empírico. Trata-se de um modelo multi-dimensional, em que o conceito de burnout foi definido como a experiência individual do stresse, inserida num contexto de relações sociais e envolvendo, portanto, a concepção que o indivíduo tem de si mesmo e dos outros. É definido através das suas três componentes: a exaustão emocional, o ”cinismo” ou despersonalização e a ineficácia ou sensação de diminuição no desempenho pessoal (Maslach & Goldberg, 1998). A exaustão emocional tem a ver com as sensações de inadequação (de não estar à altura das solicitações) e de esgotamento dos recursos emocionais e físicos do indivíduo (como desgaste, perda de energia, esvaziamento, debilitação e fadiga). O trabalhador sente-se “drenado” emocionalmente e esgotado, sem qualquer fonte onde se reabastecer, sem energia para ajudar outra pessoa que necessite de ajuda ou para enfrentar mais um dia de trabalho. Esta componente representa a dimensão individual básica do stresse no burnout. A despersonalização ou “cinismo” corresponde à atitude negativa de reacção ao trabalho excessivamente indiferente ou hostil, muitas vezes com perda de idealismo. É inicialmente uma resposta autodefensiva à sobrecarga que resulta da exaustão emocional, considerada uma espécie de amortecedor emocional, de “envolvimento -9- Enquadramento Teórico indiferente”que pode eventualmente transformar-se em desumanização. A componente “cinismo” representa a dimensão interpessoal do burnout. A redução de realização pessoal ou ineficácia relaciona-se com o declínio dos sentimentos de competência e de produtividade no trabalho. O indivíduo experimenta um crescente sentimento de inadequação relativamente à sua capacidade de executar bem o trabalho, com incapacidade de adaptação e diminuição da auto-estima. Este sentimento pode induzir a uma auto recriminação, dada a incapacidade sentida de realização no trabalho. Esta componente representa a dimensão de auto-avaliação do burnout. Figura 2. Modelo geral explicativo de burnout (Maslach & Goldberg,1998, p. 65). As três componentes do síndroma de burnout (Maslach & Goldberg, 1998), emergiram de estudos sobre o burnout, os quais utilizaram como instrumentos questionários e entrevistas dirigidos a diferentes profissionais que interagem com pessoas no desempenho das funções profissionais. Os estudos relativos ao fenómeno de burnout, foram inicialmente descritivos, seguindo-se uma etapa de investigação sistematicamente empírica. Esta última etapa da investigação sobre burnout, contribuiu para identificar os - 10 - Enquadramento Teórico factores presentes no local de trabalho que melhor predizem o síndroma de burnout (sobrecarga de trabalho e conflito). Estes autores também afirmam que são mais importantes os factores atrás mencionados do que os que se relacionam com a área pessoal (diminuição: controlo, coping, suporte social, capacidades, autonomia e envolvimento na tomada de decisão). Explicam o síndroma de burnout da seguinte forma: primeiro ocorre a exaustão emocional, seguindo-se a despersonalização, enquanto que a redução na realização pessoal se desenvolve separadamente. O síndroma tem como consequências: diminuição do compromisso com a organização, elevada rotatividade, absentismo e consequências físicas. Este modelo multidimensional do burnout apresenta importantes implicações teóricopráticas. Permite uma ampla compreensão deste tipo de stresse no trabalho, através da identificação de várias reacções psicológicas que podem ser vividas por diferentes trabalhadores, num dado contexto social. A primeira fase de investigação empírica de Maslach e colaboradores centrou-se na avaliação de burnout. O instrumento que desenvolveram foi o Maslach Burnout Inventory ([MBI], Maslach & Jackson, 1981, 1986; Maslach, Jackson & Leiter, 1996). A interrelação entre as três componentes definidas foi objecto de subsequentes teorizações e investigações. No seguimento dos estudos de Maslach, outros autores aprofundaram a análise das dimensões implicadas no desenvolvimento de burnout. Assim, surgem os modelos de Gollembiewski e Muzenrider (1988), referidos por Queirós (2005). O Modelo de Golembieweski e Munzenrider (1988) É um modelo estruturado a partir dos resultados do MBI, num modelo em oito fases evolutivas para a ocorrência de burnout, numa sequência com início em valores baixos e a evoluir, conforme pode ser observado no Quadro 1. É considerada a pontuação das três dimensões do MBI, sendo a despersonalização a primeira etapa do modelo. De acordo com este modelo, níveis elevados na dimensão despersonalização podem ter efeitos negativos na dimensão redução de realização pessoal. Um nível elevado nas dimensões anteriores, pode desencadear níveis altos de exaustão emocional. - 11 - Enquadramento Teórico Quadro 1. Fases do burnout (Modelo de Golembewski & Muzenrider, 1988) Factores I II III IV V VI VII VIII Despersonalização Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Redução de realização pessoal Baixa Baixa Alta Alta Baixa Baixa Alta Alta Exaustão emocional Baixa Baixa Baixa Baixa Alta Alta Alta Alta Fonte: Adaptado de Queirós (2005) O modelo indica unicamente que as fases são progressivas quanto aos níveis, mas um indivíduo pode não seguir a sequência descrita no modelo e até pode não experimentar algumas delas. O modelo explica duas formas de apresentação do burnout: crónico, com uma progressão desde a primeira à oitava fase; agudo, em que o indivíduo ultrapassa algumas fases, por exemplo da fase 1 à 5, e desta à 8. O modelo não explica como o indivíduo recupera desde a oitava fase. O Modelo de fases burnout de Leiter (1988, 1989) Este modelo utiliza a amplitude total das três subescalas sem dicotomizar, admitindo quatro fases possíveis (Quadro 2). Permite assegurar toda a riqueza do MBI, sem perda de informação. Leiter (1989), refere que os profissionais que experimentam situações de exaustão emocional, aquando da exposição a situações de stresse no trabalho (sobretudo face aos pedidos relacionados com a função), reagem alheando-se, através da despersonalização. Os profissionais perdem, assim, o compromisso emocional que mantinham na sua relação laboral, ao mesmo tempo que continuam a sofrer de exaustão emocional, produzindo-se uma avaliação negativa da sua realização pessoal, que conduz ao síndroma de burnout. No modelo de Leiter, a exaustão emocional ocupa o lugar central, pois está associada a níveis elevados de despersonalização e níveis baixos de realização pessoal, bem como a outros aspectos, tais como o aumento do absentismo devido à redução do compromisso/envolvimento. A despersonalização aparece como uma tentativa ineficaz para lidar com sentimentos de exaustão, surgidos no relacionamento interpessoal. - 12 - Enquadramento Teórico Quadro 2. Fases do burnout (Modelo de Leiter, 1988, 1989) Fases 1 2 3 4 Exaustão emocional Baixa Baixa Alta Alta Despersonalização Baixa Alta Baixa Alta Redução de realização pessoal Baixa Baixa Baixa Alta Fonte: Adaptado de García (1990) Maslach (2000), refere ainda que, de acordo com um modelo recente, quanto maior é a disparidade ou o desajustamento entre a pessoa e o trabalho que executa, tanto maior será a probabilidade de ocorrência de burnout. Este modelo especifica as áreas, nas quais se pode produzir o desajustamento: sobrecarga, controlo, recompensa, suporte social, adequação de competências à função, autonomia e envolvimento na tomada de decisão. Em cada área, a natureza do trabalho pode não estar em harmonia com a natureza do indivíduo, o que se traduz num aumento de exaustão, de cinismo e de ineficácia. No entanto, quando existe uma melhor adequação nestas áreas, o resultado provável é o empenhamento no trabalho. 2. FACTORES ANTECEDENTES Os factores que estão na origem do burnout podem ser os mais variados, desde a personalidade dos indivíduos implicados até à organização dos serviços e características dos mesmos (Benach, Gimeno & Benavides, 2002). De acordo com Moreno Jiménez e cols. (1997), quando analisaram a influência dos factores antecedentes de burnout no que diz respeito ao contexto organizacional, encontraram nos resultados dos estudos três sub-dimensões: organização, características da tarefa e tédio. No entanto, em termos de factores antecedentes de burnout, as características pessoais também são particularmente importantes (Leiter & Maslach, 2000). - 13 - Enquadramento Teórico Segundo Queirós (1995), vários autores sugerem que a responsabilidade por pessoas é geradora de mais stresse do que a responsabilidade por coisas, incluindo-se nessas pessoas, entre outros, os doentes, os seus familiares, os colegas de trabalho e as organizações profissionais. 2.1. Factores antecedentes organizacionais O exercício da profissão de enfermagem implica um elevado grau de responsabilidade sobre a vida, a saúde e o cuidado de outras pessoas. Segundo Fornéz Vives (1994), os factores de stresse que podem desencadear burnout, associados à profissão de enfermagem, agrupam-se em duas grandes categorias: os específicos da profissão, que pressupõem uma elevada implicação emocional, e os relacionados com a organização do trabalho. Quanto à primeira categorização, integram o contacto contínuo com o sofrimento e a morte de doentes e outras características relacionadas com o conteúdo específico do trabalho do enfermeiro. Na segunda, salienta-se a carga de trabalho, os horários, a elevada responsabilidade, o clima organizacional, que são condicionados pelas equipas de trabalho e a relação com os superiores hierárquicos (Fornéz Vives, 1994; Revicki & May, 1989). Quando uma organização possui uma estrutura centralizada, significa que a tomada de decisão se concentra num único ponto da organização, habitualmente na figura dos gestores, directores ou administradores. Uma organização tem uma estrutura descentralizada, quando os colaboradores possuem maior grau de controlo sobre o seu trabalho, porque podem tomar de forma autónoma decisões ou porque as suas opiniões contam e são efectivamente valorizadas para a superior tomada de decisão (Robbin, 1998; Ross & Altmaier, 1994). O relacionamento entre colegas é de vital importância para a definição de um bom clima de trabalho, sendo esta uma condição essencial de bem-estar e segurança no trabalho. As relações precárias, fracas ou pobres entre colegas de trabalho, estão associadas a sentimentos de ameaça, desconfiança, reduzido apoio social e ausência de empatia. A falta de coesão do grupo pode desencadear comunicação disfuncional, o que contribui para os conflitos interpessoais (Ramos, 2001). As relações interpessoais são - 14 - Enquadramento Teórico potencialmente indutoras de stresse, uma vez que se verificam num contexto de diferenças individuais. Para Selye (1980), aprender a viver com os outros é um dos aspectos da vida de cada pessoa que mais stresse causa. Um dos aspectos organizacionais que deve ser valorizado é o clima organizacional, (Moos, Insel & Humphrey, 1974, como cit. em Moreno Jiménez, González Gutiérrez & Garrosa Hernández, 2001). Se inicialmente o conceito era amplo e incluía aspectos interpessoais, estruturais e organizacionais, actualmente, e segundo os mesmos autores, o conceito foi delimitado aos aspectos interpessoais no âmbito laboral. Nesta linha, o clima organizacional pode relacionar-se com o conceito de apoio social no trabalho, sendo este um dos factores antecedentes considerado relevante. O conceito de apoio social inclui apoio emocional dos colegas e supervisores perante o êxito ou fracasso, bem como a ajuda no desenvolvimento do exercício profissional, dado que actua como um factor motivacional, pois permite a partilha de valores e contextos (Garret & McDaniel, 2001). Outros estudos mostram que a falta de apoio social no trabalho se associa ao aumento de burnout em enfermeiros (Constable & Russel, 1986; Garret & McDaniel, 2001; Gil Monte, Peiró & Vacarcel, 1996). Um dos principais méritos do trabalho em equipa é o seu potencial papel na prevenção do stresse. Contudo, implica mais responsabilidade e o desenvolvimento de competências de relacionamento interpessoal (DeFrank & Ivancevich, 1998; Quick et al., 1997, como cit. em Ramos, 2001). Por outro lado, cada vez mais se fomenta o trabalho em equipa, como forma de aumentar a produtividade e promoção do compromisso dos colaboradores para com a organização. Quando a pessoa tem dificuldade em adaptar-se a uma estrutura organizacional caracterizada pela centralização e complexidade organizativa, podem estar criadas situações que desencadeiem stresse. Os enfermeiros desenvolvem a profissão em contextos organizacionais diversos e complexos, quer em termos institucionais quer departamentais, desempenhando as suas funções em organizações cujo esquema de funcionalidade pode considerar-se uma burocracia profissionalizada (Mintzberg, 1988, como cit. em Moreno Jiménez et al., 2001). Os principais problemas que resultam das burocracias profissionalizadas relacionam-se com a coordenação entre os seus - 15 - Enquadramento Teórico membros, os problemas de liberdade de intervenção, a adopção de inovações e respostas disfuncionais por parte das direcções aos problemas organizacionais. Mais especificamente, nos enfermeiros que desempenham funções em unidades de emergência e cuidados intensivos, a sua intervenção caracteriza-se pela imprevisibilidade nos processos de recuperação e manutenção da vida humana, logo, estão mais expostos a factores antecedentes de burnout, como a falta de suporte social do supervisor, a sobrecarga de trabalho, os ritmos de trabalho intenso em tempo reduzido, a falta de experiência profissional, as dificuldades no processo de comunicação na equipa, a interacção com os doentes e familiares. O tipo de serviço pode influenciar os níveis de burnout, particularmente se compararmos os profissionais que trabalham em unidades de emergência e unidades de cuidados intensivos (Browning, Ryan, Thomas, Greenberg & Rolniak, 2007; Queirós, 1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), observando estes autores níveis superiores nos profissionais que desempenham funções nas unidades de emergência. 2.2. Características da tarefa As características das tarefas são factores potencialmente indutores de stresse. Exemplos disso são: a variedade das tarefas, a autonomia do indivíduo para as realizar, o nível de conhecimentos e de competências exigidas, a responsabilidade inerente à tarefa, os problemas de eficiência. Um dos clássicos stressores organizacionais associados à tarefa é a sobrecarga de trabalho, referindo-se habitualmente ao excesso de trabalho, isto é, ao elevado número de tarefas a cumprir. Este tipo de sobrecarga, associado à falta de tempo, designa-se por sobrecarga quantitativa, originando muitas vezes horários alargados e necessidade de realizar algumas actividades do trabalho em casa (Cartwright & Cooper, 1997, como cit. em Ramos, 2001). A importância do ritmo de trabalho, enquanto factor indutor de stresse, reside no encontro entre o que o determina ou quem o determina, e o grau de controlo que a pessoa pode exercer sobre as tarefas a desempenhar (Karasek & Theorell, 1990; Ross & - 16 - Enquadramento Teórico Altmaier, 1994). A situação ideal seria aquela em que o ritmo de trabalho pudesse ser controlado pelo próprio indivíduo. Contudo, se uma pessoa tiver dificuldade em tomar decisões ou em planificar o seu trabalho, o ritmo determinado por si própria, poderá constituir uma fonte de stresse. Concordamos com Pines (1993), quando afirma que o burnout resulta de um processo gradual de desilusão na busca de um significado existencial através do trabalho. Os enfermeiros, dado as características do seu trabalho, procuram um significado existencial e motivação através do mesmo. No entanto, por vezes deparam-se com ambientes de trabalho nos quais os obstáculos e as situações de stresse são as mais diversas, enquanto a recompensa, o apoio e os desafios são minímos, resultando frequentemente em experiências subjectivas de fracasso. O trabalho que resulta rotineiro e monótono, porque se faz sempre a mesma coisa, durante muito tempo, implica um profissional passivo e concorre para a ocorrência de sintomas associados ao stresse. Segundo o modelo de exigência – controlo de Karasek e Theorell (1990), este tipo de trabalho repetitivo, fruto da repetição contínua de tarefas, assemelha-se à sobrecarga de trabalho, pois não coloca grandes exigências ou desafios ao trabalhador, não exigindo particulares conhecimentos ou competências. O trabalho por turnos é uma necessidade social, pode até revelar-se positivo, pois além de quebrar as rotinas dos horários fixos e habituais, permite ao indivíduo gozar de uma disponibilidade de tempo vantajosa para algumas actividades sociais. No entanto, este pode acarretar consequências psicossomáticas negativas e crónicas, quando se torna prolongado no tempo. Para Gomes (1998), a desregulação do ritmo interno do organismo, que pode acontecer por acção do trabalho por turnos, pode, entre outras consequências, desencadear insónia, cefaleias e alterações gastrointestinais bem como consequências psicológicas e sociais. Aos enfermeiros pede-se um tempo considerável de interacção com pessoas, enquanto processo de “…percepção, comunicação entre pessoa e ambiente e entre pessoa e pessoa, manifestado por comportamentos verbais e não verbais. Cada indivíduo numa interacção (enfermeiro e utente) é detentor de conhecimentos, necessidades, objectivos, experiências passadas e percepções diferentes que influenciam as interacções” (King, - 17 - Enquadramento Teórico 1981, como cit. em Ackermann, 1989, p. 205). É sobretudo quando as pessoas se encontram em situações problemáticas, que potencialmente estão associadas a sentimentos de frustação, medo e desespero, desencadeando com maior probabilidade stresse e exaustão emocional, que pode predispor ao desenvolvimento do síndroma de burnout. Pode, então, verificar-se que este síndroma não é de instalação súbita, pelo contrário, resulta de um desgaste que se instala de modo silencioso e progressivo. 3. CONSEQUÊNCIAS O burnout é um problema real que necessita de programas especificos dirigidos aos grupos vulneráveis, que é o caso dos enfermeiros no sentido de reduzir a ocorrência dos efeitos negativos ou consequências (Braithwaite, 2008). Relativamente às consequências do síndroma de burnout e dado que é um síndroma característico do meio laboral, tem consequências negativas tanto a nível individual, como organizacional, familiar e social (Maslach, 2000). As consequências a nível físico parecem mais relacionadas com a exaustão emocional conforme mencionado em vários estudos (Edwards & Burnard, 2003; Maslach & Leiter, 1997) ao demonstrarem que existe uma correlação com sintomatologia como: cefaleias, fadiga crónica, perturbações gastrointestinais, insónias, tensão muscular, hipertensão. A exposição a situações desencadeadoras de stresse crónico correlaciona-se com manifestações de ansiedade, sentimento de incompetência e percepção de falta de compromisso com os objectivos da organização, podendo também associar-se a depressão em profissionais de saúde (Murcho, Jesus & Pacheco, 2009). A exaustão emocional pode ter como consequência o aumento do absentismo, diminuição da produtividade e ambas podem afectar a carga de trabalho dos outros profissionais e comprometer os cuidados aos utentes. O burnout pode originar uma deterioração da qualidade dos cuidados e serviços prestados aos doentes e/ou clientes na medida em que uma das consequências é que o indivíduo que vive um processo de burnout pode exercer uma influência negativa nos colegas, como desencadear conflitos, perturbar a execução das tarefas. O burnout tem - 18 - Enquadramento Teórico sido associado a várias formas de afastamento do trabalho – absentismo, intenção de abandonar o trabalho e rotatividade. A intenção de demissão, rotatividade (turnover), é um problema com implicações especialmente para as organizações cuja actividade envolve o atendimento de pessoas. A maior parte dos estudos que investigaram a intenção de rotatividade dos trabalhadores demonstraram que a rotatividade desejada ou intencional estava significativamente relacionado com o burnout (Maslach & Jackson, 1984). 4. O BURNOUT NOS ENFERMEIROS O trabalho constitui um dos aspectos mais importantes na formação da identidade socioprofissional dos indivíduo, pois é através dele que ocorre a afirmação de si mesmo e o desenvolvimento mais complexo da interacção social, podendo, no entanto, o trabalho ser um factor gerador de stresse. O síndroma de burnout apresenta uma ocorrência elevada entre os profissonais de saúde e de modo particular entre os enfermeiros, conforme evidenciam os estudos epidemiológicos europeus e canadianos. De acordo com Delbrouck (2006), os resultados são convergentes, nas diferentes tipologias dos serviços, com a exaustão profissional a atingir cerca de um quarto dos enfermeiros de hospitais gerais, também corroborado por Queirós (2005), ao concluir que “um em cada quatro enfermeiros apresentam burnout no trabalho” (p. 234). O Quadro 3 pretende compilar os dados sobre o burnout em profissionais de saúde quanto ao tipo de amostra, instrumentos de avaliação de burnout e principais conclusões. - 19 - Enquadramento Teórico Quadro 3. Sumarização dos trabalhos internacionais sobre o burnout em profissionais de saúde Amostra: contexto Conclusões Moreno-Jiménez, Villa-George, Rodríguez-Carvajal, Villalpando-Uribe (2009) Profissionais de saúde n=380, secretárias, admnistrativos e directores. Instrumento: - QBB; Serviços de saúde pública no México. - Os resultados obtidos mostraram claramente a complexidade dos factores intervenientes na predição das consequências negativas relacionadas com o trabalho, tal como no QBB acontece com os problemas organizacionais, sociofamiliares e sintomatológicos. - Os resultados também indicam que grande parte das consequências negativas se correlacionam com o síndroma de burnout. Confirmou-se que a exaustão emocional de associa fortemente com as consequências do burnout. Moreira, Magnago, Sakae, Magajewski (2009) Profissionais de saúde n=269, 20 - Observou-se uma relação significativa entre os pedidos de enfermeiros, 132 técnicos de enfermagem licença para tratamento de saúde e níveis de burnout e 127 auxiliares de enfermagem maiselevados; Instrumento: - MBI; Hospital Nossa Senhora da Conceição (Rio de Janeiro). Sahraian, Fazelzadeh, Mehdizadeh, Toobaee (2008) Enfermeiras n= 180 Instrumento: - MBI;- Questionário geral de saúde (GHQ) Hospitais no Shiraz, Irão (5) Román Hernandéz (2003) - No serviço de psiquiatria as participantes, apresentam níveis mais elevados de Burnout que nos outros serviços estudados. Enfermeiros - 118 Centro saúde: 55 Hospital: 63 Médicos - 169 Centro saúde: 89 Hospital: 80 Instrumento: Questionário Breve de Burnout - Médias mais elevadas de: . Despersonalização (síndroma); . Tédio e características da tarefa, (antecedentes) . Os profissionais que desempenhavam funções em Centros de Saúde apresentaram valores significativamente mais elevados de burnout; . Os profissionais que trabalhavam em hospitais apresentaram valores significativamente mais elevados de despersonaliza ção, (síndroma). Adali, Priami (2002) Profissionais de saúde: Enfermeiros n=223 Instrumento: MBI - 5 Hospitais Gregos; - Os enfermeiros dos departamentos de emergência apresentam maiores níveis de burnout que os enfermeiros das unidades de cuidados intensivos e serviços de internamento de medicina. Moreno Jimenez, Garrosa-Hernandez, Gálvez, González, Benevides-Pereira (2002) Enfermeiros - 247 Instrumento: Cuestionário de Desgaste Profesional de Enfermería (CDPE) Hospitais (5) - Entre as variáveis de corte sócio-demográfico e o síndroma de burnout observou-se uma relação fraca: - Quanto à relação entre o tipo de contrato (contratado ou efectivo) observou-se uma relação positiva e significativa; os enfermeiros efectivos apresentaram níveis superiores de redução de realização profissional; - Neste estudo, o tempo de interacção diária com os utentes, mostrou ser o melhor preditor do processo de burnout; Relativamente aos estudos realizados em Portugal, salienta-se o estudo de Queirós (2005) que numa amostra de 965 enfermeiros a exercerem funções em centros de saúde quer em hospitais em que o instrumento utilizado foi o MBI-GS concluindo que: Um em cada quatro enfermeiros apresenta burnout no trabalho; - 20 - Enquadramento Teórico O género não diferência os níveis de burnout no trabalho; O burnout no trabalho exerce mais influência sobre o burnout conjugal, do que o inverso; Os enfermeiros que trabalham na urgência geral, surgem com níveis de exaustão emocional e física mais elevados; O ponto de partida para o burnout pode-se encontrar na insatisfação geral no trabalho e na ineficácia profissional. Salienta-se também o estudo de Rainho (2005), que utilizou pela primeira vez em Portugal o QBB para estudar o síndroma de burnout numa amostra de 160 enfermeiros que exerciam funções em contexto hospitalar e centros de saúde. Teve como principais conclusões: A observação de diferenças estatisticamente significativa na média ponderada de burnout entre os enfermeiros que trabalhavam no hospital e nos centros de saúde, sendo superior nestes; A verificação de uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre factores antecedentes de burnout e o síndroma; A demonstração de que os factores antecedentes são um preditor significativo do síndroma de burnout, através da análise de regressão. Já, Garrosa, Rainho, Moreno-Jiménez & Monteiro (2010), que utilizou o Cuestionário de Desgaste Profesional de Enfermería (CDPE) para estudar o síndroma de burnout numa amostra de 98 enfermeiros a frequentar um curso pós-laboral para aquisição do grau de licenciado em Enfermagem, teve como conclusão a existência de correlações positivas moderadas e significativas dos factores antecedentes com as dimensões do síndroma de burnout. Os enfermeiros são considerados dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de cuidar mais holística. Por vezes, confrontam-se com realidades adversas como a desumanização e despersonalização do sistema de saúde, tendo que adoptar estratégias - 21 - Enquadramento Teórico de adaptação que implicam investimento psicosocial nem sempre reconhecido e frequentemente sem as condições mínimas que promovam a capacidade de resiliência. 5. A AVALIAÇÃO DE BURNOUT NOS PROCESSOS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES Uma organização é um sistema composto por actividades humanas aos mais diversos níveis, constituindo um conjunto complexo e multidimensional de personalidades, pequenos grupos, normas, valores e comportamentos, ou seja, um sistema de actividades conscientes e coordenadas de um grupo de pessoas para atingir objectivos comuns (Chiavenato, 1995). As organizações hospitalares são cada vez mais sistemas complexos compostos por diversos departamentos e profissões, tornando-as sobretudo uma organização de pessoas confrontadas com situações emocionalmente intensas, tais como a vida, doença e morte, as quais podem causar ansiedade e tensão física e mental. Sendo o hospital uma organização formal e institucionalizada de prestação de serviços, a sua primordial função é a prestação de cuidados diferenciados aos utentes com um forte envolvimento das tecnologias. O centro hospitalar situado no norte do País, assume como Missão, de acordo com o seu regulamento interno, prestar cuidados de saúde diferenciados, com qualidade e eficiência, em articulação com outros serviços de saúde e sociais da comunidade, apostando na motivação e satisfação dos seus profissionais, com um nível de qualidade, efectividade e eficiência elevadas. Faz igualmente parte da sua missão o ensino pósgraduado e o desenvolvimento das funções de formação consideradas necessárias ao desenvolvimento dos colaboradores através da investigação e do desenvolvimento científico em todas as áreas das ciências da saúde. O referido centro hospitalar é constituído por quatro unidades hospitalares e uma unidade de cuidados continuados integrados. Possui a lotação de 645 camas de internamento e enquanto hospital central, possui as mais diversas valências, excepto neurocirurgia e cirurgia cardiotorácica. - 22 - Enquadramento Teórico O centro hospitalar, classificado como hospital central, possui um departamento de emergência e cuidados intensivos e intermédios, constituído por um serviço de urgência básica, um serviço de urgência médico-cirúrgica e um serviço de urgência polivalente, distribuídas por três das suas unidades hospitalares. O serviço de emergência, de acordo com o seu regulamento tem como missão assistencial a prestação de cuidados de saúde com níveis de qualidade e eficiência elevados a todos os indivíduos com doença emergente/urgente. De forma a dar cumprimento à missão referenciada, tem-se observado um aumento progressivo das exigências em termos de quantidade e qualidade da intervenção dos profissionais, o que implica um conhecimento aprofundado dos protocolos, que permitam uma actuação de emergência sem planeamento prévio dos cuidados. Por outro lado, devido à pressão da procura do serviço de emergência, os profissionais frequentemente ficam impossibilitados de realizar períodos de descanso programado durante o trabalho, tornando difícil perspectivar uma vida profissional equilibrada, a que se acresce o facto de que por vezes as condições ambientais não serem as mais adequadas. Dado os condicionalismos atrás descritos, podemos afirmar que poderão estar criadas as potenciais condições para se observarem níveis de burnout cada vez mais elevados. Por isso, os gestores devem adoptar as medidas proactivas que permitam minimizar os factores condicionantes de situações que desencadeiem stresse no trabalho, de modo a evitar consequências quer individuais, quer organizacionais, que resultam do síndroma de burnout. Assim, é fundamental a adopção de uma atitude positiva na gestão dos factores que podem desencadear stresse, tendo em conta o bem-estar dos colaboradores e a manutenção de um relacionamento baseado nos principios éticos (Turner, Hulmann & Keegan, 2008). É neste enquadramento que as organizações devem assumir um papel relevante, fomentando uma cultura de capacitação dos colaboradores, gerindo os recursos humanos, orientando-os para a avaliação de processo e para a mudança organizacional, bem como para o cliente inserido nos seus grupos socio-familiares. Consciente da necessidade de melhorar o seu desempenho e garantir a qualidade de cuidados, o centro hospitalar em causa, iniciou um processo de acreditação em 2003, de acordo com os standards da Joint Commission International. Trata-se de forma - 23 - Enquadramento Teórico genérica de um processo em que uma entidade exterior e distinta à organização de saúde, procede a uma avaliação para determinar a conformidade a um conjunto de normas e requisitos destinados a melhorar a qualidade dos cuidados. Para o efeito, foi necessário proceder à elaboração e adequação de normas de procedimentos e protocolos de actuação, de acordo com as guidelines internacionais e a evidência científica, o que permitiu uniformizar procedimentos de actuação e assegurar a segurança dos cuidados, num contexto organizacional marcado pela intervenção multiprofissional e altamente diferenciada científica e tecnologicamente. Este processo, iniciado de forma voluntária, demonstra um compromisso visível de uma organização que se preocupa com a melhoria contínua e sustentada da qualidade, e com a garantia de um ambiente seguro para os utentes e colaboradores. Um dos principais activos de uma organização, são os seus recursos humanos. Estudos realizados nos últimos anos demonstram que os recursos humanos contribuem significativamente para o sucesso da organização e são o motor do seu desenvolvimento (Delaney & Godard, 2001). Daí a importância que a gestão dos recursos humanos desempenha na organização, pelo que é essencial os funcionários executarem as suas tarefas de forma eficiente e eficaz. Para o efeito, a organização deve dispor de mecanismos que permita: i) formar os colaboradores de forma a permitir a aquisição de conhecimentos, competências e capacidades; ii) motivar os colaboradores para utilizar as suas capacidades em beneficio da organização (Yongmei Liu et al., 2007). Quando os colaboradores só conhecem as rotinas do trabalho, não conseguem contribuir para a organização mais do que com a realização das suas tarefas. E mesmo quando lhes é permitido ultrapassar as situações de rotina, provavelmente não o farão se não forem devidamente motivados. É portanto fundamental que a gestão dos recursos humanos tenha como prioridade motivar e facilitar o desempenho dos seus colaboradores por forma a aumentar a produtividade e a satisfação profissional. À relação problemática entre o indivíduo e a situação que este vive está inerente o conceito fundamental de stresse. Quando aplicado ao burnout, esta abordagem propõe que quanto o maior desajustamento entre o indivíduo e o trabalho, maior a probabilidade de burnout. Assim, Maslach e Goldberg (1998) especificam as seis situações em que este pode ocorrer: 1) sobrecarga de trabalho (excesso de tarefas a - 24 - Enquadramento Teórico desempenhar); 2) falta de controle (quando as pessoas têm pouco controle sobre o trabalho que fazem); 3) recompensa insuficiente (quer a nível económico, quer a nível emocional); 4) isolamento da equipa (perda da ligação positiva com os outros elementos da equipa); 5) ausência de equidade (resulta quando a sensação de justiça não é percebida no local de trabalho); 6) conflito de valores (ocorre quando à um desajustamento entre a exigência do trabalho e os princípios do indivíduo). O reconhecimento destas seis áreas em que não se verifica a adequação entre o indivíduo e o trabalho aumenta o leque de opções de intervenção dos gestores no âmbito das medidas de prevenção. Assim, a sobrecarga de trabalho pode ser minimizada se o foco de atenção se centrar em alguns dos outros desajustamentos, por exemplo, as pessoas podem ser capazes de tolerar maiores cargas de trabalho se sentirem que o trabalho é valorizado, que estão a fazer algo importante, ou então que estão a ser recompensados pelo seu esforço. Acreditamos, que o potencial desta abordagem é muito mais promissor como estratégia para lidar com o burnout em contexto de trabalho. 6 . CONTEXTO DO ESTUDO: SERVIÇOS DE URGÊNCIA/UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS Os Serviços de Urgência integram a primeira linha de acesso aos cuidados de saúde. É o local onde ocorrem todos os utentes, desde os que têm uma simples síndroma gripal, às situações mais graves e que colocam em risco a vida dos utentes. Com atendimento disponibilizado 24 horas por dia e 7 dias por semana, estes serviços são lugares geradores de stresse por excelência, dadas as suas peculiares características, nomeadamente: Pressão do tempo e intervenções urgentes; Impossibilidade de realizar períodos de descanso programável durante o trabalho; Falta de condições ambientais (espaço, luz, decoração, climatização); Exigência de um conhecimento profundo sobre protocolos, que permita uma actuação de emergência sem planeamento prévio dos cuidados; - 25 - Enquadramento Teórico Responsabilidade civil e criminal associada à prestação de cuidados em situações de grande complexidade; Exposição permanente a situações de contínuo risco e perigosidade; Aumento progressivo das exigências em termos de quantidade e qualidade da actuação profissional; Aumento contínuo da pressão social, que promove nos utentes uma permanente atitude crítica com a actuação dos profissionais de saúde dos serviços de urgência a ser o alvo de todas as falhas do sistema de saúde. Portanto, restam poucas dúvidas, para que não se considerem os serviços de urgência como verdadeiros ambientes potenciadores de factores de risco para o aparecimento do chamado síndroma de burnout (Vaquera, Rabazo Méndez & Bartolomé, 2004). Se por um lado, as unidades de cuidados intensivos são serviços mais organizados do ponto de vista de planeamento e gestão de cuidados, por outro, são serviços onde diariamente a tecnologia de ponta é amplamente utilizada em doente graves que necessitam das mais variadas técnicas de manutenção e suporte de vida. Acresce a este contexto de cuidados, a pressão constante do dia-a-dia de trabalhar com utentes em risco eminente de vida. Queirós (1998), ao estudar um grupo de enfermeiros de cuidados intensivos, identificou um nível de burnout mais elevado nas componentes “exaustão emocional” e “despersonalização” e paradoxalmente “realização pessoal”. Em jeito de síntese, reafirmamos que as unidades de saúde que prestam cuidados a doentes agudos (urgências e cuidados intensivos), pelas características intrínsecas já referidas por Queirós (1998), são locais para uma maior probabilidade dos seus profissionais desenvolverem o síndroma de burnout. - 26 - PARTE II ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO - 27 - Enquadramento Metodológico A metodologia é um conjunto de actividades sistemáticas e racionais com a finalidade de rentabilizar recursos humanos, materiais e de tempo, servindo de orientação para alcançar os objectivos deliniados. É uma etapa essencial no desenvolvimento de um estudo de investigação, permitindo ao investigador imprimir rigor metodológico à investigação e responder às hipóteses formuladas. Nesta parte, pretendemos explicitar as hipóteses de investigação, as razões que suportam a realização deste estudo e aspectos inerentes ao desenho do estudo, população, variáveis do estudo e análise estatística. 1. HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO Após a identificação do problema e realizada a pesquisa bibliográfica, a formulação das hipóteses apresenta-se como um aspecto fulcral do estudo. Segundo Marconi e Lakatos (1996), hipótese “…é uma preposição que se faz na tentativa de verificar a validade de resposta existente para um problema. É uma suposição que antecede a constatação dos factos e tem como característica uma formulação provisória, deve ser testada para determinar sua validade” (p. 26).. Acrescentam que a sua função na pesquisa científica “…é propor explicações para certos factos e ao mesmo tempo orientar a busca de outras informações. (...) formulada de tal maneira que possa servir de guia na tarefa de investigação” (p. 26). Nas considerações apontadas pelas autoras, formulamos como hipóteses: H1 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, quanto ao síndroma de burnout. H2 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre a existência ou não de filhos, quanto ao síndroma de burnout. H3 – Existem diferenças estatisticamente significativas de acordo com os serviços onde desempenham funções, quanto ao síndroma de burnout. - 28 - Enquadramento Metodológico H4 – Existem diferenças estatisticamente significativas de acordo com o numero de anos de trabalho por turnos, quanto ao síndroma de burnout. H5 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre o tipo de vínculo laboral, quanto ao síndroma de burnout. H6 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre o tempo médio de deslocação de casa ao trabalho, quanto ao síndroma de burnout. H7 – Existe relação estatisticamente significativa entre o número de utentes atendidos por dia e o síndroma de burnout. H8 – Existe relação estatisticamente significativa entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma de burnout. H9 – Existe relação estatisticamente significativa entre os factores antecedentes e as dimensões que constituem o síndroma de burnout. 2 . JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO Qualquer investigação tem o seu início com a escolha de um domínio particular de interesse para uma questão de investigação que poderá ser estudada (Fortin, 2009), corroborado por Quivy e Campenhoudt (1992), ao referirem que “o primeiro problema que se põe ao investigador é muito simplesmente o de saber como começar bem o seu trabalho” (p. 29). Confrontados perante a necessidade de efectuar um projecto e consequente dissertação, colocou-se-nos de imediato um problema: o que investigar? Encontrando-nos a frequentar um Curso de Mestrado em Gestão de Serviços de Saúde, e tendo como referência a Gestão da Higiene e Segurança e Saúde no Trabalho, optamos por escolher para temática a desenvolver na dissertação a prevalência de burnout nos enfermeiros. As transformações ocorridas nas organizações introduziram várias alterações na gestão das organizações de saúde, salientando-se as tecnologias de informação, os estilos de - 29 - Enquadramento Metodológico gestão organizacional, a transitoriedade e precariedade do emprego e a importância do sector da saúde no cenário económico do país. Estas mudanças induziram a novas formas de organizar o trabalho e alteraram o padrão das relações interpessoais no trabalho. Os enfermeiros têm sido objecto de atribuições cada vez mais variadas e mais complexas num contexto organizacional com estruturas menos hierarquizadas e níveis de responsabilidade mais elevados. De igual modo, assiste-se a um maior ênfase na relação do trabalhador com o utente, a novas exigências de qualidade na execução das tarefas, que implicam a permanente qualificação e aquisição de competências (Borges, Argolo, Pereira, Machado & Silva, 2002). É neste cenário de cuidados permanentemente atravessado pela imprevisibilidade e exigência, e mais específicamente enquanto gestor de uma equipa de enfermagem de um serviço de urgência polivalente, que encontramos as razões subjacentes a este estudo. Neste contexto, consideramos oportuno e pertinente para as instituições de saúde, o estudo do síndroma de burnout em enfermeiros, dado que em Portugal a prevalência de burnout no trabalho é de um em cada quatro enfermeiros de acordo com Queirós (2005), o que coloca a necessidade de um estudo mais aprofundado perspectivando o delineamento de estratégias de intervenção no âmbito do centro hospitalar no qual ocorreu o estudo deste fenómeno. Após a realização de pesquisa bibliográfica sistemática, propomo-nos desenvolver um estudo que dê resposta ao seguinte problema: Estudo da relação entre os factores antecedentes de burnout e a ocorrência do síndroma em enfermeiros a desempenhar funções em Serviços de Urgência e Unidades de Cuidados Intensivos de um Centro Hospitalar sediado no Norte do País. 3 . DESENHO DO ESTUDO Os estudos são classificados pelo tipo de dados a colher, pela sua análise e tendo em conta os objectivos pré-estabelecidos. Analisando detalhadamente as nossas pretensões, o presente estudo pode ser considerado como um estudo observacional, descritivo, transversal e correlacional. - 30 - Enquadramento Metodológico Parafraseando Gil (1995), o estudo descritivo tem como objectivo primordial “a descrição das características de determinada população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” (p. 45), e o estudo é correlacional é “o método mais comum para se descrever a relação entre duas medidas, sendo conhecido como procedimentos de correlação” (Polit & Hungler, 1995, p. 237). Atendento ao exposto, optámos por um estudo observacional, descritivo, transversal com uma componente analítica, que relaciona a exposição a determinados factores nos indivíduos, numa população definida num determinado ponto no tempo, e a ocorrência de um determinado resultado. Assim, os resultados de um estudo tranversal disponibilizam informação de um único momento no tempo, medindo simultaneamente exposição e resultado. Logo, os estudos de corte transversal têm limitações importantes como: a não possibilidade de inferir a sequência temporal entre exposição e resultado, o que pode colocar algumas questões de validade e precisão se a exposição for uma característica mutável. Por outro lado, têm como vantagens, estudar os casos prevalentes de longa duração, que é o caso do síndroma de burnout, e também implicam menos recursos, logo menos onerosos. Com este estudo procurámos descrever a distribuição das variáveis no grupo de enfermeiros que participaram no estudo. As estatísticas descritivas apresentadas servem apenas para descrever a precisão das medições da amostra de enfermeiros estudada. Na componente analítica, fazemos inferências sobre a natureza das relações entre a hipótese de ter ou não estado exposto a fatores de risco (factores antecedentes de burnout) e resultado (síndroma de burnout). O estudo desenvolvido inscreve-se num paradigma quantitativo, permitindo apresentar resultados através de procedimentos estatísticos (Fortin, 2009), que serão usados para determinar a relação entre variáveis, para aferir a probabilidade de esta ter ocorrido por acaso. É com base no desenho do estudo delineado que prosseguimos com a selecção dos participantes. 4. AMOSTRA A amostra seleccionada para o estudo decorre da magnitude da ocorrência do síndroma em unidades de emergência e de cuidados intensivos, de acordo com alguns estudos - 31 - Enquadramento Metodológico (Browning et al., 2007; Queirós, 1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), pelo que optámos por seleccionar uma amostra não-probabilística, na medida em que os elementos da população foram seleccionados de acordo com a sua disponibilidade para participar no estudo. Neste tipo de amostragem, não é possível determinar com exactidão o tamanho da amostra bem como o grau de enviesamento causado pela ausência de elementos. Para este estudo, a amostra foi constituida por todos os enfermeiros a exercer funções nos Serviços de Urgência, Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente e Unidade de Cuidados Intensivos Coronários de um hospital central, perfazendo um total de 103 enfermeiros dos 138 que integram as referidas unidades. 5. VARIÁVEIS DO ESTUDO E OPERACIONALIZAÇÃO A identificação e operacionalização de variáveis são parte importante de qualquer trabalho de investigação, uma vez que permite a determinação do rigor e explicitação das mesmas. Tem também uma importância relevante para uma melhor compreensão do tema. Para Quivy e Champenhoudt (1992), chama-se variável “a todo o atributo, dimensão ou conceito susceptível de assumir várias modalidades” (p. 217). A variável dependente é definida como “aquela que o investigador tem interesse em compreender, em explicar ou prever”(Polit & Hungler, 1995, p. 26), ou seja, é o fenómeno em estudo como resultado da acção das variáveis independentes. Neste estudo, a variável dependente foi: síndroma de burnout e suas dimensões. A variável síndroma de burnout é avaliada pelos itens: 1, 3, 5, 7, 11, 12, 15, 18, 19, do Questionário Breve de Burnout (QBB), de Moreno-Jiménez e cols. (1997), (Anexo 1). A síndroma de burnout inclui as três dimensões de acordo com Maslach e Jackson, (1981) e Maslach e Schaufali (1993). No questionário Breve de Burnout, estas dimensões são avaliadas, conforme seguidamente se descreve: Exaustão emocional (EE), a pontuação resulta do cálculo da média ponderada das pontuações dos participantes relativamente aos itens: 1, 7, 15; - 32 - Enquadramento Metodológico Despersonalização (DP), a pontuação resulta do cálculo da média ponderada das pontuações dos participantes relativamente aos itens: 3, 11, 18; Redução da realização pessoal (RRP), a pontuação resulta do cálculo da média ponderada das pontuações dos participantes relativamente aos itens: 5, 12, 19. Quanto às variáveis independentes, neste estudo foram identificadas as de natureza sociodemográfica e de caracterização da situação laboral e os Antecedentes de Burnout. A última variável mencionada é avaliada através do QBB, e subdividida em factores relacionados com as características da tarefa, cujos itens na escala são: 2, 10, 16; tédio, cujos itens na escala são: 6, 14, 20; e organização, cujos itens na escala são: 4, 8, 9. A operacionalização de variáveis consiste em subdividi-las de modo a uniformizar critérios e proceder à sua mensuração. Segundo Marconi e Lakatos (1996), as variáveis “devem ser definidas com clareza e objectividade e de forma operacional” (p. 27). Por sua vez, Polit e Hungler (1995) afirmam que “para que seja útil, a definição deve especificar a maneira como a variável será observada e mensurada na situação de pesquisa” (p. 27). A operacionalização das variáveis sociodemográficas e da situação laboral dos participantes, pode ser consultada no Apêndice I. 6. INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS Antes de iniciar uma recolha de dados, o investigador deve questionar-se se a informação que deseja recolher, com a ajuda do instrumento de medida em particular, é exactamente a que tem necessidade para responder aos objectivos e, consequentemente, às principais questões da sua investigação. Para isso, deve conhecer os diversos instrumentos de medida disponíveis, assim como as vantagens e os inconvenientes de cada um. Gil (1995), refere a este propósito, que a elaboração de um instrumento de recolha de dados consiste em traduzir os objectivos específicos da investigação, em parâmetros bem rígidos atendendo a regras básicas para o seu desenvolvimento obtendo, desta forma, informação válida e pertinente para a realização da investigação. - 33 - Enquadramento Metodológico Atendendo ao tipo dos dados que pretendíamos recolher, bem como às hipóteses em estudo, aplicámos o QBB. 6.1. Questionário Breve de Burnout Este questionário foi elaborado por Moreno Jimenez e cols. (1997), e a sua adaptação foi realizada por Rainho (2005), que “incluiu a sua tradução, a sua adaptação cultural e idiomática e a comprovação das características psicométricas de fiabilidade” (p. 9). O questionário (Apêndice II) inclui questões fechadas, dicotómicas, e questões mistas para caracterizar a população, é constituído por duas partes a primeira inclui variáveis de caracterização pessoal e profissional: idade, sexo, estado civil (relação pessoal), habilitações académicas, categoria profissional, local de trabalho, tipo de horário, anos de experiência profissional e tempo de interacção diária com os utentes; a segunda parte é constituída por 21 itens estruturalmente composta por antecedentes do burnout, síndroma de burnout e consequências do burnout (Jimenez et al., 1997). Quadro 4. Estrutura teórica do Questionário Breve de Burnout Aspectos do processo Sub escalas Questões Antecedentes Características da tarefa 2,10,16 Organização 4,8,9 Tédio 6,14,20 Exaustão emocional 1,7,15 Despersonalização 3,11,18 Redução da realização Pessoal 5,12,19 Físicas 13 Sociais 17 Psicológicas 21 Síndroma de burnout Consequências Fonte: Adaptado de Moreno-Jiménez e cols. (1997). Em todas as afirmações, a amplitude da escala de resposta varia entre um e cinco, sendo que as questões 2, 4, 8, 9, e 16 foram codificadas de forma inversa, para se obter as pontuações globais das escalas correspondentes, de acordo tom a metodologia proposta pelos autores. As pontuações nas escalas obtêm-se através da média ponderada das - 34 - Enquadramento Metodológico pontuações dos sujeitos, ou seja, pontuações altas na escala indicam intensidade elevada de factores antecedentes, síndroma de burnout e consequências. Optámos por este instrumento por permitir a avaliação do burnout numa perspectiva processual, o que implica recolher informação sobre os diferentes aspectos do processo (antecedentes, síndroma de burnout e consequências). 6.2. Fiabilidade A fiabilidade de uma medida refere a capacidade desta ser consistente. Se um instrumento de medida dá sempre os mesmos resultados (dados) quando aplicado a alvos estruturalmente iguais, podemos confiar no significado da medida e dizer que a medida é fiável. Dizemo-lo, porém, com maior ou menor grau de certeza porque toda a medida é sujeita a erro. Assim, a fiabilidade observada nos nossos dados é uma estimativa, e não um “dado”. A análise da consistência interna de uma medida é uma necessidade aceite na comunidade científica. Entre os diferentes métodos que nos fornecem estimativas do grau de consistência de uma medida salienta-se o coeficiente alpha de Cronbach sobre o qual acenta a confiança da maioria dos investigadores (Maroco & Garcia-Marques, 2006). O coeficiente alfa de Cronbach necessita de uma única aplicação do instrumento, este produz valores entre 0 e 1, ou entre 0 e 100%. Se o coeficiente for maior que 70%, ou 0,7, diz-se que o instrumento de avaliação é fiável. Assim, foram estimados coeficientes de alpha de Cronbach para cada uma das escalas componentes do questionário (antecedentes, síndroma de burnout e consequências). No Quadro 5 pode observar-se os valores obtidos neste estudo, bem como os obtidos em alguns estudos anteriores. - 35 - Enquadramento Metodológico Quadro 5. Valores de fiabilidade das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout em diferentes estudos Antecedentes de burnout Síndroma de burnout Consequências de burnout Este estudo Enfermeiros n=103 α = 0,71 9 itens α = 0,62 9 itens α = 0,47 3 itens Rainho, 2005 Enfermeiros n=160 α = 0,88 9 itens α = 0,71 9 itens α = 0,69 3 itens Román Hernandez, 2003 Enfermeiros e médicos n=287 α = 0,72 9 itens α = 0,65 9 itens α = 0,65 3 itens Moreno Jimenez et al., 1997 Professores ensino básico n=145 α = 0,82 9 itens α = 0,34 9 itens α = 0,64 3 itens Estudos α - coeficiente de alpha de Cronbach Para medir, avaliar ou quantificar, o investigador precisa atender aos critérios de significância e precisão dos instrumentos de medida que irá utilizar: validade e fiabilidade (Maroco & Garcia-Marques, 2006). Assim, um instrumento para ser útil necessita ser fiável. A fiabilidade diz respeito à consistência ou estabilidade de uma medida. 7. PROCEDIMENTO NA RECOLHA DOS DADOS Em investigação, quer os aspectos éticos quer os deontológicos são decisivos, pois sem um código que aponte limites e oriente os passos da investigação, é a própria investigação que fica posta em causa (Ribeiro, 1999). Assim, conduzir uma investigação, assemelha-se mais ao estabelecimento de uma amizade do que à formalização de um simples contrato. Os sujeitos desempenham neste tipo de investigação um papel activo e extremamente importante, pois tomam decisões constantes relativamente à sua participação (Bogdan & Biklen, 1994). Os investigadores deverão também obter a aprovação para realizar a investigação na instituição onde esta vai decorrer. O consentimento informado assume particular importância, pois deve utilizar-se uma linguagem que seja compreendida pelos - 36 - Enquadramento Metodológico participantes, de forma a evitar consequências adversas ao sujeito e ao investigador. Os investigadores devem honrar os compromissos que assumem com os sujeitos participantes na investigação, de forma a que num futuro próximo essa porta continue aberta (Ribeiro, 1999). O questionário aplicado foi anónimo e foi assegurada a confidencialidade dos dados obtidos, pois seguindo a opinião de Fortin, Prud’Homme-Brisson e Coutu-Wakulczyk (2003), quando se pretende utilizar pessoas numa investigação, é necessário proteger a sua identidade. Assim, de acordo com o referido, foi sempre nossa pretensão garantir o anonimato dos indivíduos e a confidencialidade das respostas. Foi solicitada autorização para a aplicação do QBB, cujos participantes seleccionados eram os enfermeiros a desempenhar funções em serviços de urgência e cuidados intensivos, ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar onde foi realizado o estudo, após deferimento da mesma, a recolha de dados ocorreu no 1º trimestre de 2009 (Apêndice III). Os vários serviços onde os participantes desempenhavam funções estavam dispersos em várias unidades do Centro Hospitalar, pelo que houve necessidade de realizar reuniões de sensibilização e explicação dos objectivos do trabalho aos enfermeiros, motivando-os para participarem no estudo. Foi especialmente reforçada a garantia de confidencialidade, bem como a disponibilização do estudo aquando da sua conclusão. Para garantir a confidencialidade, os questionários foram distribuidos a cada enfermeiro dentro de um envelope em branco, que após o seu preenchimento foi selado. 8. ANÁLISE DOS RESULTADOS Na análise descritiva foram calculadas as percentagens, médias e correspondentes desvio-padrão. Os testes paramétricos foram utlizados após a verificação através da prova Kolmogorov-Smirnov, da natureza da distribuição dos valores da variável (distribuição Normal). A prova de Kolmogorov-Smirnov é o teste mais usado na prática, fundamenta-se na comparação da função de distribuição acumulada dos dados - 37 - Enquadramento Metodológico observados com a distribuição Normal, medindo a máxima distância entre as duas curvas (Martínez González & Sánchez Villegas, 2001; Pértegaz Díaz & Pita Fernandéz, 2001). Na análise de correlação, foi utilizado coeficiente de correlação e de Pearson para verificar a intensidade e direcção das relações existentes entre os factores antecedentes e o síndroma de burnout. A análise de regressão linear simples foi utilizada para nos indicar a mudança esperada no valor da variável dependente (Síndroma de Burnout), pelo aumento de cada unidade da variável independente (Antecedentes), (Martínez González & Sánchez Villegas, 2001). A comparação de médias de dois grupos independentes foi analisada através do teste t de student para amostras independentes (Martínez González & Sánchez Villegas, 2001). O nível de significância utilizado foi p< 0,05. - 38 - PARTE III APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS - 39 - Apresentação e Discussão dos Resultados Nesta parte da dissertação, procede-se à apresentação dos resultados obtidos, e para uma melhor compreensão e visualização serão organizados da seguinte forma: i) numa primeira fase, descrevemos a caracterização sóciodemográfica e profissional da amostra em estudo; ii) seguidamente, descrevemos as três sub-escalas do QBB (factores antecedentes, síndroma de burnout e consequências; iii) realização da análise correlacional e regressão linear simples; iv) e, por fim, a análise de comparação de médias de burnout entre os enfermeiros, de acordo com o serviço onde exercem funções e algumas variáveis sóciodemográficas e profissionais. 1. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS De acordo com os objectivos do estudo, os resultados são apresentados em tabelas, nas quais não constará a fonte, local ou data, visto que os dados apresentados são referentes à amostra em estudo e foram obtidos através do instrumento de recolha de dados. 1.1. Caracterização da amostra do estudo Constituída por 103 enfermeiros, a exercer funções nos Serviço de Urgência e Unidades de Cuidados Intensivos de um Centro Hospitalar da Região Norte, cuja caracterização quanto a variáveis sociodemográficas, nomeadamente sexo, idade, relação pessoal, número de filhos e de pessoas dependentes, habilitações académicas e tempo dispendido no trajecto de casa para o trabalho, se encontram na Tabela 1. Os resultados serão expressos em valores absolutos e em percentagens e em função do sexo. - 40 - Apresentação e Discussão dos Resultados Tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo as características sóciodemográficas Feminino nº % Masculino nº % 76 100 27 21-30 27 35,5 31-40 28 41-50 ≥ 51 Características sóciodemográficas % 100 103 100 2 7,4 29 28,2 36,8 12 44,4 40 38,8 17 22,4 11 40,7 28 27,2 4 5,3 2 7,4 6 5,8 Com parceiro habitual 58 76,3 26 96,3 84 81,6 Sem parceiro habitual 18 23,7 1 3,7 19 18,4 Sem filhos 33 44,6 5 18,5 38 37,6 Com filhos 41 55,4 22 81,5 63 62,4 0 29 39,2 2 7,4 31 30,7 1 11 14,9 6 22,2 17 16,8 2 23 31,1 13 48,1 36 35,6 ≥3 11 14,9 6 22,2 17 16,8 Bacharel 3 3,9 0 0,0 3 2,9 Licenciado 71 93,4 27 100 98 95,1 Mestrado 2 2,6 0 0,0 2 1,9 1a5 21 27,6 3 11,1 24 23,3 6 a 10 27 35,5 9 33,3 36 35,0 11 a 15 13 17,1 12 44,4 25 24,3 ≥ 16 15 19,7 3 11,1 18 17,5 Sexo Idade (anos) Relação pessoal Filhos Número de dependentes Habilitações académicas Tempo gasto de casa para o trabalho (minutos) Total nº Os sujeitos da investigação são predominantemente do sexo feminino (76-73,8%), e a média de idades é de 36,31 anos, d.p. de 8,3. Na distribuição etária, podemos verificar que a maioria dos sujeitos é jovem, reflectido no grupo etário dos 31-40 anos com 38,8%, seguido do grupo etário dos 21-30 anos com 28,2%. Somente 5,8% dos enfermeiros pertence ao grupo etário dos 51-60 anos, ou seja, já numa idade próxima da reforma. Como acontece na maior parte dos estudos realizados com enfermeiros, a amostra é predominantemente do sexo feminino (Garrosa et al., 2010; Queirós, 2005; Rainho, 2005), o que reflecte a realidade da profissão de enfermagem, que é maioritariamente feminina. O grupo etário predominante é o compreendido entre os 21 a 40 anos - 41 - Apresentação e Discussão dos Resultados (67,0%), representando uma amostra de jovens adultos, o que também se verifica em outros estudos em que fazem parte das amostras indivíduos jovens (Garrosa et al., 2010; Moreno-Jiménez et al., 2009; Rainho, 2005). No que concerne à relação pessoal, a maioria (84-81,6%) mantém relações com parceiro habitual. Existe, contudo, um número significativo de enfermeiros que não tem parceiro habitual (19-18,4%), sendo na sua grande maioria do sexo feminino. De acordo com Moreno Jiménez e cols. (2002), as relações com parceiro habitual pressupõem que a relação acarreta consigo um apoio socio-emocional, que se recebe ou se dá ao companheiro, reflectindo-se no bem-estar emocional da pessoa. No entanto, neste estudo não se constataram diferenças estatisticamente significativas no que concerne à relação pessoal. Quanto à existência de filhos, 63 (62,4%) do total dos enfermeiros do estudo têm filhos. É de salientar que 70 (69,3%) enfermeiros referem ter pessoas dependentes a seu cargo, na sua maioria 2 ou mais dependentes, o que se verifica de modo mais expressivo entre os enfermeiros do sexo masculino. No que diz respeito às habilitações académicas, a maioria (98-95,1%) possui licenciatura e apenas 3 (2,9%) têm o bacharelato e 2 (1,9%) o mestrado, o que demonstra o interesse deste grupo profissional na aquisição de conhecimentos e competências com vista à aquisição de qualificação para o exercício da profissão, e que se traduziu na frequência do Curso de Complemento de Formação em Enfermagem introduzido pela Portaria n.º 799-E/99 de 18 de Setembro, e que visava a atribuição do grau de licenciado em enfermagem aos enfermeiros titulares do grau de bacharel ou de equivalente legal. Pelo facto de se tratar de uma amostra em que os participantes detêm um nível elevado de formação, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas, o que parece subscrever a opinião de Delaney e Godard (2001) e Yongmei Liu, et al. (2007) ao referir que a formação, oferece mais segurança ao colaborador, e permite-lhe um desempenho mais assertivo, fornecendo-lhe mais competências e desta forma facilita a gestão dos factores condicionantes, reduzindo os níveis de burnout. - 42 - Apresentação e Discussão dos Resultados A Tabela 2 diz respeito à apresentação de variáveis de âmbito socioprofissional que dará suporte à formulação das hipóteses de estudo. Tabela 2. Distribuição dos enfermeiros segundo as características profissionais Cuidados intensivos Feminino nº % 26 34,2 Masculino nº % 6 22,2 nº 32 % 31,1 Urgência 50 65,8 21 77,8 71 68,9 0a7 21 27,6 1 3,7 22 21,4 8 a 14 27 35,5 11 40,7 38 36,9 15 a 21 17 22,4 9 33,3 26 25,2 ≥ 22 11 14,5 6 22,2 17 16,5 Nível 1 69 90,8 24 88,9 93 90,3 Nível 2 7 9,2 3 11,1 10 9,7 Fixo 5 6,6 2 7,4 23 6,8 Turnos 71 93,4 25 92,6 80 93,2 Quadro 55 72,4 25 92,6 80 77,7 Contrato 21 27,6 2 7,4 23 22,3 1 a 15 25 41,7 6 25,0 31 36,9 16 a 30 10 16,7 7 29,2 17 20,2 31 a 45 7 11,7 1 4,2 8 9,5 18 30,0 10 41,7 28 33,3 < 20 % 4 5,3 4 14,8 8 7,8 ≥ 20% a 39% 6 7,9 2 7,4 8 7,8 ≥ 40% a 79% 29 38,2 10 37,0 39 37,9 ≥ 80% 37 48,7 11 40,7 48 46,6 Características profissionais Serviço Tempo de experiência Profissional (anos) Categoria Tipo de Horário Situação Laboral Número de utentes que atende por dia ≥46 Tempo de interacção com os utentes (% de tempo) Total No que diz respeito ao serviço onde exercem funções, 71 (68,9%) enfermeiros trabalham num serviço de urgência e 32 (31,1%) em unidades de cuidados intensivos. O tempo médio de anos na profissão é de 13,5 anos, com o mínimo de um ano e o máximo de 36 anos, sendo que a maioria (93-90,3%) está no nível 1 da categoria profissional, distribuída da seguinte forma: 26 (25,2%) na categoria de enfermeiro, 67 (65,0%) na categoria de enfermeiro graduado. No nível 2 estão 10 (9,7%) enfermeiros, dos quais 6 são enfermeiros especialistas e 4 (3,9%) são enfermeiros chefes. O tempo médio na - 43 - Apresentação e Discussão dos Resultados categoria foi de aproximadamente oito anos. Relativamente ao tipo de horário praticado, verifica-se que a maioria (80-93,2%) realiza um horário por turnos. No que concerne ao vínculo laboral, 80 (77,7%) têm vinculo definitivo, encontrando-se os restantes (2322,3%) em situações precárias de trabalho, ou seja, com contrato individual de trabalho a termo. O tempo de exercício profissional é descrito em alguns estudos como uma variável que apresenta uma relação significativa com os níveis de burnout (Browning et al., 2006), ou com uma ou mais dimensões do síndroma de burnout (Queirós, 2005), o que não se verificou neste estudo, pelo que merecerá um aprofundamento desta variável em estudos subsequentes. No que diz respeito à categoria profissional, apesar de ser apontada uma relação entre a categoria profissional e os níveis de burnout e algumas dimensões do burnout (Browning et al., 2007; Queirós, 2005), no presente estudo a relação entre estas variáveis não foi estabelecida, tendo em conta a assimetria na distribuição dos respondentes da amostra. Na sua prática diária, 48 (57,1%) enfermeiros atendem menos de 30 utentes por dia, e no que diz respeito ao tempo de interacção com os utentes, verifica-se que para 48 (46,6%) é superior a 80% do tempo diário de prestação de cuidados. 1.2. Descrição das sub-escalas Na Tabela 3, apresentam-se as pontuações das médias ponderadas e respectivos desviospadrão, para as sub-escalas que constituem o QBB, obtidas a partir das respostas dos enfermeiros. Tabela 3. Estatísticas descritivas das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout Sub-escalas do QBB Médias ponderadas Desvio padrão Factores antecedentes de burnout 2,24 0,39 Síndroma de burnout 2,55 0,53 . Exaustão emocional 2,41 0,56 . Despersonalização 2,83 0,82 . Redução da realização pessoal 2,39 0,74 2,53 0,60 Consequências de burnout - 44 - Apresentação e Discussão dos Resultados Os resultados apresentados na tabela 4 mostram que as médias ponderadas das subescalas e dimensões da sub-escala síndroma de burnout se aproximam do valor do ponto médio (2,5). Da análise do valor médio das sub-escalas, o síndroma de burnout apresenta o valor médio mais elevado, sendo que a dimensão despersonalização detém o valor médio mais elevado de entre as três dimensões do síndroma de burnout, como também é constatado pelo estudo de Moreno-Jiménez e cols. (2009), numa amostra de 380 enfermeiros de saúde pública no estado de Puebla (México), com a componente despersonalização a deter o valor médio consideravelmente mais elevado (2,36) e no estudo de Czernik e cols. (2006), com profissionais de saúde. Moreno Jiménez, Garrosa Hernández, González Gutiérres e Gálvez Herrer (2004), propõem o valor três, para ser considerado afectado pelo síndrome. Numa revisão de alguns estudos sobre as médias ponderadas do síndroma de burnout apontam para valores abaixo de três, como é o caso do estudo realizado por Román Hernández (2003), numa amostra de 287 profissionais de saúde, dos quais 118 eram enfermeiros (média 2,46 d.p. 0,98), realizado por Rainho (2005) em enfermeiros de cuidados de saúde primários e diferenciados (média 2,33 dp 0,52) e por Moreno Jiménez e cols. (1997) numa amostra de 145 professores (média 2,35 d.p. 0,61). 1.3. Análise correlacional e regressão linear simples No que diz respeito à análise correlacional, primeiramente quanto aos factores antecedentes de burnout com o síndroma, e seguidamente quanto aos factores antecedentes de burnout com cada uma das dimensões do síndroma, ou seja, exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional. Posteriormente procedeu-se à relação entre o síndroma de burnout e as consequências, e à regressão simples para determinar em que medida os antecedentes de burnout explicam a variância dos valores do síndrome e as suas dimensões na amostra dos profissionais em estudo. Os coeficientes de correlação entre os factores antecedentes de burnout e o síndrome e as suas dimensões podem observar-se na Tabela 4. - 45 - Apresentação e Discussão dos Resultados Tabela 4. Correlação entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma Síndroma de burnout por dimensão Síndroma burnout Factores antecedentes (total) Exaustão emocional Despersonalização Redução realização pessoal 0,71** 0,56** 0,42** 0,63** Coeficiente de correlação de Pearson. ** p<0,01 (2-caudas) Podemos verificar através do coeficiente de correlação de Pearson, uma correlação estatisticamente significativa e positiva entre factores antecedentes de burnout e o síndroma (r = 0,71; p<0,01), o que pode ser considerada uma associação alta (Pestana & Gageiro, 2000). Este resultado é também corroborado pelos estudos de Rainho (2005), cuja correlação foi de 0,72, de Román Hernández (2003), com uma correlação de 0,65 e de Moreno Jiménez e cols. (1997), com uma correlação mais moderada (0,60). De igual modo, as correlações entre as três dimensões do síndroma de burnout e os factores antecedentes foram significativas. A redução da realização pessoal foi a dimensão mais fortemente correlacionada (r = 0,63; p<0,01), conforme se pode observar na Tabela 4. O que não é sobreponível aos resultados obtidos por Garrosa e cols. (2010) e por Moreno-Jiménez e cols. (2009) sendo que foi a exaustão emocional a dimensão em que se verificou uma maior correlação, respectivamente r=0,43 e r=0,45. A Tabela 5, apresenta o coeficiente de correlação entre o síndroma de burnout e as consequências. Tabela 5. Correlação entre o síndroma de burnout e as consequências Consequências 0,62** Síndroma burnout Coeficiente de correlação de Pearson. ** p<0,01 (2-caudas) Como podemos observar pela análise da Tabela 5, através do coeficiente de correlação de Pearson, verifica-se uma correlação estatisticamente significativa e positiva entre o - 46 - Apresentação e Discussão dos Resultados síndroma de burnout e as consequências (r = 0,62; p<0,01). No entanto, esta correlação merece uma interpretação cuidada, na medida em que o teste de fiabilidade através do coeficiente de alpha de Cronbach foi de 0,47, bastante inferior ao recomendado (0,70) (Maroco & Garcia-Marques, 2006). Realizada a análise de correlação, procedeu-se à análise de regressão linear simples, tendo como variável independente os factores antecedentes de burnout e variáveis dependentes o síndroma de burnout, as dimensões do síndroma, ou seja, a exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional, cujos resultados da análise de regressão linear se encontram explicitados na tabela 6. Tabela 6. Regressão linear tendo como variável independente os factores antecedentes e variáveis dependentes o síndroma de burnout, e as suas dimensões (variáveis dependentes) Antecedentes (variável independente) β IC (95%) t R2 F(1,158) p Síndroma burnout 0,71 (0,77-1,15) 10,08 0,50 101,55 <0,01 Exaustão emocional 0,56 (0,57-1,04) 6,81 0,32 46,44 <0,01 Despersonalização 0,42 (0,51-1,25) 4,71 0,18 22,15 <0,01 Redução da realização pessoal 0,63 (0,90-1,48) 8,12 0,40 66,01 <0,01 Quanto aos resultados da regressão linear, constata-se na Tabela 6 que “os factores antecedentes” são um preditor significativo do síndrome de burnout (=0,71, p<0,01), explicando 50% da variância, na amostra em estudo. Quanto às dimensões do síndroma de burnout, podemos observar que “os factores antecedentes” são um preditor significativo de exaustão emocional, explicando 32% da variância (=0,56, p<0,01), 40% da variância da realização pessoal (=0,63, p<0,01) e 18% da variância quanto à variável despersonalização (=0,42, p<0,01). Valores muito idênticos foram encontrados no estudo de Rainho (2005), apontando para valores explicativos da variância de 32% , 14% e 44%, respectivamente. Os resultados obtidos no estudo quanto à explicação da variância dos factores antecedentes, relativamente às dimensões do síndroma, vão de encontro ao modelo proposto por Maslach e cols. (1996), em que o processo evolutivo do síndroma de burnout se inicia pela exaustão emocional e só - 47 - Apresentação e Discussão dos Resultados posteriormente ocorre a despersonalização como resultado da exaustão, enquanto que a redução da realização pessoal se desenvolve de forma independente, tendo como resultado o síndrome de burnout. 1.4. Comparação das médias do síndroma de burnout nos enfermeiros da população Com o objectivo de analisar os níveis de burnout em diversos grupos, e desta forma poder associar o burnout a determinadas características da amostra, foram avaliadas as médias do síndrome de burnout e comparadas entre dois grupos independentes de acordo com o sexo, como se pode constatar na Tabela 7. Tabela 7. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o sexo n Média Desvio Padrão Masculino 27 2,74 0,46 Feminino 78 2,48 0,54 Sexo t g.l p -2,47 54,00 0,017 Como podemos observar na Tabela 7, a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em enfermeiros do sexo masculino foi de 2,74 (d.p.=0,46), e em enfermeiros do sexo feminino de 2,48 (d.p.=0,54), com diferenças estatisticamente significativas (p=0,017), sendo o valor médio superior nos enfermeiros do sexo masculino. Os resultados obtidos quanto à expressão do síndroma de burnout em função do sexo não são sobreponíveis aos estudos de Queirós (2005), Garrosa e cols. (2010) e Browning, Ryan, Greenberg e Rolniak (2006), que não identificam a variável género como diferenciadora do valor do síndroma de burnout, o que poderá ter como razões explicativas o facto do grupo do sexo masculino apresentar algumas características sociodemográficas relevantes: a média de idades aproxima-se dos 40 anos (39,85, d.p.=1,3), têm mais filhos e mais pessoas dependentes, como também atendem mais pessoas por dia. - 48 - Apresentação e Discussão dos Resultados Na Tabela 8 encontram-se as médias ponderadas do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo com a existência ou não de filhos. Tabela 8. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com a existência ou não de filhos Desvio n Média Sem filhos 38 2,37 0,49 Com filhos 63 2,64 0,53 Padrão Filhos t g.l p -2,57 82,80 0,012 Na Tabela 8, podemos observar que a média ponderada dos valores do síndroma de burnout nos enfermeiros que não têm filhos foi de 2,37 (d.p.=0,49) e nos enfermeiros que têm filhos foi de 2,64 (d.p.=0,53). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,012), sendo superior nos enfermeiros que têm filhos. Embora os estudos de Marques-Teixeira (2002) e de Maslach e Jackson (1986) apontem para que ter família e filhos parece ajudar, funcionando como factor protector de burnout, neste estudo o mesmo não se verificou, o que pode estar relacionado, face à média de idades dos enfermeiros em estudo, com o facto dos filhos estarem na faixa etária da adolescência e, por conseguinte, influenciar os valores de burnout. O estudo de Queirós (2005) aponta para que os filhos menores parece influenciar os valores de exaustão emocional e física. Na Tabela 9, explicitam-se as médias do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo com o serviço onde desempenham funções. Tabela 9. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o serviço onde desempenha funções Serviço onde trabalha Desvio n Média Urgência 71 2,64 0,55 Cuidados intensivos 32 2,33 0,43 - 49 - Padrão t g.l p 3,08 75,7 0,003 Apresentação e Discussão dos Resultados Na Tabela 9, observa-se que a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência foi de 2,64 (d.p.=0,55) e nos enfermeiros que exercem funções em unidades de cuidados intensivos foi de 2,33 (d.p.=0,43). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,003), sendo superior nos enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência. O local onde os profissionais desempenham funções, devido às suas características intrínsecas, têm um papel importante no desenvolvimento do burnout. Estudos identificam os serviços de urgência e as unidades de cuidados intensivos como contextos de trabalho onde os níveis de burnout são superiores relativamente a outros serviços (Browning et al., 2007; Queirós, 1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), o que também se evidencia neste estudo com os enfermeiros que exercem funções no serviço de urgência a apresentar uma média ponderada (2,64) de burnout já preocupante. Na Tabela 10, encontram-se as médias do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo com o número de anos de trabalho por turnos. Tabela 10. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de anos de trabalho por turnos Tempo que trabalha por turnos Desvio n Média ≤ 12 anos 49 2,45 0,57 > 12 anos 48 2,67 0,45 Padrão t g.l p -2,11 91,5 0,037 Na Tabela 10, constata-se que a média ponderada dos valores do síndroma de burnout nos enfermeiros com menos de doze anos de trabalho por turnos foi de 2,45 (d.p.=0,57) e nos enfermeiros com mais de doze anos de trabalho por turnos foi de 2,67 (d.p.=0,45). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,037), sendo superior nos enfermeiros que trabalham por turnos há mais de doze anos. O tipo de horário praticado, nomeadamente o trabalho por turnos, e mais especificamente o horário nocturno, tem sido apontado como potenciador da exaustão emocional e da despersonalização (Sahraian et al., 2008), resultado que corrobora o verificado neste estudo. A tabela 11 diz respeito às médias do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo com o tipo de vínculo laboral. - 50 - Apresentação e Discussão dos Resultados Tabela 11. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tipo de vínculo laboral Vínculo laboral Contrato em funções públicas Contrato individual de trabalho n Média 80 2,62 23 Desvio Padrão t g.l p -2,88 39,7 0,006 0,53 2,29 0,47 Como se pode observar na Tabela 11, a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em enfermeiros cujo vínculo laboral é contrato em funções públicas foi de 2,62 (d.p.=0,53) e nos enfermeiros cujo vínculo laboral é contrato individual de trabalho foi de 2,29 (d.p.=0,47). O tipo de vínculo à organização é mencionado por Queirós (2005) com relevância estatisticamente significativa no que diz respeito à dimensão despersonalização. Neste estudo, a diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,006), sendo superior nos enfermeiros cujo vínculo laboral é contrato em funções públicas, que apesar de se apresentar como um tipo de contrato com maior estabilidade profissional, traduz-se em níveis de burnout mais elevados. Na Tabela 12, encontram-se as médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tempo médio de deslocação de casa para o trabalho. Tabela 12. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tempo médio de deslocação de casa para o trabalho Tempo de casa ao trabalho Desvio n Média ≤ 10 min 60 2,42 0,52 > 10 min 43 2,72 0,50 Padrão t g.l p -2,97 92,34 0,004 Relativamente ao tempo gasto na deslocação de casa para o trabalho, verificamos que 60 (58,3%) enfermeiros demoram menos de 10 minutos. Como podemos observar na Tabela 12, a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em enfermeiros que demoram menos de 10 minutos na deslocação de casa para o trabalho foi de 2,42 - 51 - Apresentação e Discussão dos Resultados (d.p.=0,52) e nos enfermeiros que demoram mais de 10 minutos na deslocação de casa para o trabalho foi de 2,72 (d.p.=0,50). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,004), sendo superior nos enfermeiros que demoram mais de 10 minutos na deslocação de casa para o trabalho, o que não foi identificado no estudo de Queirós (2005), como uma variável com relação significativa no que concerne ao síndroma de burnout. Da Tabela 13 constam as médias do síndroma de burnout em enfermeiros de acordo com o número de utentes que são diariamente atendidos. Tabela 13. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de utentes que atende por dia Número de utentes dia Desvio n Média < 29 39 2,38 0,51 ≥ 29 45 2,75 0,47 Padrão t g.l p -3,39 78,52 0,001 Conforme a Tabela 13, a média ponderada dos valores do síndroma de burnout em enfermeiros que atendem menos de vinte e nove utentes por dia foi de 2,38 (d.p.=0,51) e nos enfermeiros que atendem mais de vinte e nove utentes por dia foi de 2,75 (d.p.=0,47). A diferença verificada é estatisticamente significativa (p=0,001), sendo superior nos enfermeiros que atendem diariamente mais de vinte e nove utentes. De facto, as profissões que assentam numa relação humana intensa, tais como os enfermeiros, apresentam uma sobrecarga qualitativa, na medida em que encerram, para além de uma exigência técnica, uma elevada capacidade comunicacional inerente ao relacionamento interpessoal. Flynn, Thomas, Hawkins e Clarke (2009), num estudo transversal com 1015 enfermeiros de várias unidades de diálise, sublinham que o rácio paciente/enfermeiro é um factor preditor importante para a sobrecarga de trabalho e consequentemente com possível efeito no aparecimento de burnout. - 52 - PARTE IV CONCLUSÕES E SUGESTÕES - 53 - Conclusões e Sugestões Efectuado o estudo, este é o momento de sumariar as principais conclusões relativas ao estudo do fenómeno de burnout em enfermeiros portugueses, num contexto particular de intervenção destes profissionais em serviços de urgência e unidades de cuidados intensivos de um centro hospitalar do norte do país. Tendo por base a análise das variáveis em estudo e por uma questão de organização, considerámos parcelarmente as conclusões relativas aos sujeitos (caracterização da amostra), ao síndroma de burnout, bem como às relações estatisticamente significativas das médias de burnout, com determinadas características sociodemográficas e profissionais. De um total de 138 enfermeiros a desempenhar funções nos serviços de urgência e cuidados intensivos, participaram neste estudo um total de 103. São predominantemente do sexo feminino (73,8%), e a média de idades é de 36,31 anos. Na distribuição etária, podemos verificar que a maioria dos sujeitos é jovem, sendo o grupo etário 31-40 anos o mais representativo (38,8%), seguido do grupo etário dos 21-30 anos (28,2%). No que concerne à relação pessoal, a maioria (81,6%) mantém relações com parceiro habitual, existe, contudo, um número significativo de enfermeiros que não tem parceiro habitual (18,4%), na sua maioria do sexo feminino. Quanto à existência de filhos, 62,4% do total dos enfermeiros do estudo tem filhos e é de salientar que 69,3% refere ter pessoas dependentes a seu cargo, na sua maioria duas ou mais pessoas dependentes, situação mais expressiva nos enfermeiros do sexo masculino. No que diz respeito às habilitações académicas, a maioria (95,1%) possui licenciatura em enfermagem. No que diz respeito ao serviço onde exercem funções, 68,9% dos enfermeiros trabalha em serviços de urgência, o tempo médio de anos na profissão é de 13,5 anos, com o mínimo de 1 ano e o máximo de 36 anos, sendo que a maioria (90,3%) está no nível 1 (enfermeiro e enfermeiro graduado) da categoria profissional e o tempo médio na categoria foi de aproximadamente oito anos. Relativamente ao tipo de horário praticado, verifica-se que 93,2% realiza um horário por turnos e que o tipo de vínculo laboral predominante, para 77,7%, é contrato em funções públicas, de carácter mais definitivo. - 54 - Conclusões e Sugestões No que diz respeito à interacção com os utentes, 57,1% atende menos de 30 utentes por dia, enquanto que 46,6% mantém uma interacção superior a 80% do tempo diário dispendido na prestação de cuidados. Relativamente ao síndroma de burnout, verificou-se que: i) Os enfermeiros da amostra apresentam uma média ponderada de burnout de 2,55 (d.p.0,53), ligeiramente superior à média da escala; ii) A dimensão despersonalização detém o valor médio mais elevado (2,83, d.p.0,82) de entre as três dimensões do síndroma de burnout, seguida pela exaustão emocional (2,41,d.p.0,56) e redução da realização pessoal (2,39, d.p.0,74). Uma correlação estatisticamente significativa e positiva verificou-se entre: i) Factores antecedentes de burnout e o síndroma; ii) Factores antecedentes de burnout e exaustão emocional; iii) Factores antecedentes de burnout e despersonalização; iv) Factores antecedentes de burnout e redução da realização pessoal; v) O síndroma de burnout e as suas consequências. De entre os factores intrínsecos à pessoa, mais especificamente as váriáveis sociodemográficas, e constatando-se da revisão bibliográfica diferentes conclusões, serão enumerados os resultados, com base nas hipóteses estabelecidas, em que se verificou diferenças estatisticamente significativas: Atendendo à variável sexo, constatou-se que os elementos do sexo masculino apresentam um valor médio mais elevado (2,74) quanto ao síndroma de burnout; A variável número de filhos diferencia o valor médio de burnout, sendo mais elevado (2,64) para os enfermeiros com filhos do que para os que não têm (2,32); Considerando o serviço, os enfermeiros que exercem funções em serviços de urgência, apresentam um valor médio consideravelmente mais elevado (2,64) em relação aos que exercem em cuidados intensivos (2,33); Em relação ao número de anos de trabalho por turnos, os resultados apontam para que o valor médio de burnout seja superior (2,67) entre os enfermeiros que realizam este tipo de horário há mais de 12 anos; - 55 - Conclusões e Sugestões No que se refere ao tipo de vínculo laboral, os enfermeiros que detêm o contrato em funções públicas revelam um valor médio bastante superior (2,62), em oposição aos que mantêm um vínculo laboral de natureza mais precária; O tempo dispendido na deslocação de casa para o trabalho, determina o valor médio do síndroma de burnout, sendo mais elevado (2,72) nos enfermeiros que demoram mais de dez minutos neste percurso; Os enfermeiros que em média atendem mais utentes evidenciam um valor médio mais elevado (2,75), em relação aos enfermeiros que atendem menos utentes; Quanto à regressão linear efectuada, os factores antecedentes de burnout explicam 50% da variância do síndroma e 32% da exaustão emocional, 18% da despersonalização e 40% da redução da realização pessoal, dimensões constituintes do síndroma de burnout. No que diz respeito ao contributo destes resultados, somos de opinião que as organizações que se querem afirmar pela sua competetividade e excelência dos serviços que prestam, e de modo particular as organizações de saúde, pelas características dos produtos que disponibilizam aos seus clientes, devem integrar nas suas políticas de gestão de qualidade medidas estratégicas para a minimização deste problema. Atendendo à expressão da variância da relação entre os factores antecedentes e a despersonalização, será expectável que os gestores intermédios, actores imprescindíveis na qualidade dos cuidados e no bem-estar das equipas multiprofissionais, incrementem medidas articuladas e sistematizadas no âmbito da prevenção do síndroma de burnout, traduzido em elevada exaustão emocional e despersonalização. A título de exemplo, mencionamos a promoção de locais de trabalho agradáveis, a agilização de fluxos de informação, a criação de grupos de suporte e de discussão, que alicerçadas em dinâmicas relacionais, encorajem a partilha de dificuldades nos processos de tomada de decisão e no reconhecimento do trabalho efectuado. Pensamos que o (re)conhecimento deste problema, no seio das organizações e dos profissionais de saúde constitui um passo decisivo para a definição de estratégias que o adjectivam como uma “epidemia invisível”. - 56 - Conclusões e Sugestões Em qualquer estudo é fundamental a análise das suas limitações, para que em investigações futuras as questões metodológicas possam ser melhoradas, adoptando desenhos mais apropriados. Além das limitações intrínsecas dos estudos transversais para inferir causalidade, este estudo foi desenvolvimento a partir de uma amostra não probabilística, constituída por enfermeiros que participaram voluntariamente no estudo, não permitindo por isso inferir para a população de referência. - 57 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 58 - Referências Bibliográficas Ackermann, M. L. (1989). Imogeneking: teoría del logro de metas. In: A. Marriner Modelos y teorías de enfermería (pp. 202-215). Barcelona: Ed. Rol. Adali, E., & Priami, M. (2002). Burnout among nurses in intensive care units, internal medicine wards and emergency departments in Greek Hospitals. ICUs and Nursing Web Journal, 11, 1-19. Benach, J., Gimeno, D., Benavides, F. G. (2002). Types of employment and health in the European Union. Dublin: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions. Bergman, R. (1990). Priorities in nursing research: change and continuity. 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Psicología do trabalho: uma introdução à psicología industrial/ organizacional. Rio de Janeiro: LTC Editora. - 66 - ANEXOS - 67 - I. QUESTIONÁRIO BREVE DE BURNOUT (QBB) - 68 - II Parte Por favor, responda às seguintes perguntas, rodeando com um círculo a opção desejada (seleccione só uma opção) 1. Em geral, estou cansado do meu trabalho. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 2. Sinto-me identificado com o meu trabalho. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 3. Os utentes do meu trabalho frequentemente apresentam excessivas exigências e comportamentos irritantes. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 4. O meu supervisor apoia-me nas decisões que tomo. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 5. Actualmente o meu trabalho proporciona-me poucos desafios pessoais. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 6. Actualmente o meu trabalho é desinteressante 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 7. Quando estou a trabalhar fico de mau humor. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 8. Eu e os colegas apoiamo-nos no trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 9. As relações pessoais que estabeleço no trabalho são gratificantes para mim 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nunca Raramente Algumas vezes Frequentemente Sempre 10. Dada a responsabilidade que tenho no meu trabalho, não conheço bem os resultados e o alcance do mesmo. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 11. As pessoas que tenho que atender reconhecem muito pouco os esforços que se fazempor eles. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 12. O meu interesse pelo desenvolvimento profissional é actualmente muito escasso. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 13. Considera que o trabalho que realiza, tem consequências na sua saúde pessoal(cefaleias, insónia, etc.) 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 14. O meu trabalho é repetitivo 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 15. Estou desgastado pelo meu trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 16. Gosto do ambiente e do clima do meu trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 17. O trabalho está a afectar as minhas relações familiares e pessoais 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 18. Procuro despersonalizar as relações com os utentes do meu trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 19. O trabalho que eu faço está longe de ser aquele que eu desejaria 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 20. O meu trabalho é muito aborrecido 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 21. Os problemas do meu trabalho fazem com que o meu rendimento seja menor 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões Muito Obrigado pela colaboração APÊNDICES - 71 - I. OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS - 72 - Operacionalização de variáveis sociodemográficas e de caracterização da situação laboral Variável Tipo Categoria Idade Ordinal Número de anos. Sexo (género) Nominal Masculino; Feminino. Relações pessoais: Nominal Com parceiro habitual; Sem parceiro habitual; Sem parceiro. Número de filhos: Ordinal Numero de filhos. Habilitações literárias: Nominal 9º Ano; 12 Ano; Curso médio; Curso superior. Habilitações Académicas: Nominal Bacharel; Licenciado; Mestre. Categoria profissional: Nominal Enfermeiro; Enfermeiro Graduado; Enfermeiro Especialista; Enfermeiro Chefe; Enfermeiro Supervisor. Situação laboral: Nominal Contratado; Efectivo; Tempo de experiência na profissão: Ordinal Número de anos Tempo que trabalha na mesma Instituição: Ordinal Número de anos. Tempo que detém a mesma Categoria: Ordinal Número de anos. Horário: Nominal Fixo; Turnos. Número de horas que trabalha por semana Ordinal Numero de horas. Número de pessoas que atende por dia: Ordinal Numero de pessoas. Ttempo da jornada de trabalho diária que passa em interacção com os utentes: Ordinal Mais de 80%; > 40% até 79%; >20% até 39%; Menos de 20%. Tem que realizar algumas actividades relacionados com o trabalho em casa: Nominal Sim; Não. - 73 - II. INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS - 74 - UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Instrumento de Recolha de Dados Dissertação para a obtenção do grau de Mestre sob a orientação da Professora Doutora Maria João Pinto Monteiro José Eduardo Lima Martins VILA REAL, JANEIRO DE 2009 Informações: Este instrumento consta de três partes: a primeira refere-se aos dados socio-demográficos que caracterizam os profissionais da equipe de enfermagem, a segunda é constituída pelos 21 itens do Questionário Breve de Burnout e a terceira é constituída pela Work Environmente Scale, que é um instrumento para analisar o clima organizacional e é composta por 90 itens dicotonómicos. Não se trata de uma prova de rendimento e tão pouco de um teste de capacidades; por esta razão não há respostas certas ou erradas. Trata-se de um questionário auto-administrado que deve ser preenchido livremente com toda a franqueza e naturalidade. Ao realizá-lo evite mencionar seu nome ou assinar a folha de respostas, para assim assegurar seu anonimato e o carácter confidencial do conteúdo. Agora que sabe como proceder, por favor, responda ao questionário, não deixando nenhum dos itens sem resposta. Reflicta sobre o conteúdo dos mesmos e responda com toda a amplitude de julgamento e com a maior sinceridade possível. ID Questionário (I Parte) 1. Idade:________anos 2. Sexo: F (0) M (1) 3. Relações pessoais: Com parceiro habitual (1) Sem parceiro habitual (2) Sem parceiro (3) 4. Professa alguma religião: Sim (1) Não (0) Especifique _______________________________ 5. Número de filhos: __________ 5.1. Quantas pessoas vivem consigo e que dependem de si? 6. Habilitações Académicas: Bacharel (1) Licenciado (2) Outro: __________________ 7. Anos de Serviço na profissão de Enfermagem: _______ anos _______ meses 8. Categoria profissional: _______________________________________ 8.1 Tempo que detém a mesma Categoria: ______ anos_____ meses 9. Instituição em que trabalha: __________________________________ 9.1 Tempo na Instituição: _____ anos ______ meses 10. Serviço onde trabalha actualmente: ____________________________ 10.1 Tempo de Serviço no local de trabalho actual: ____ anos ____ meses 11. Horário: Fixo (1) Turnos (2) 11.1 Se trabalha por turnos, que sequência mais frequentemente realiza (ex. T T M N F F ou T M D N F T): ________________ 11.2 Ao todo, há quanto tempo trabalha por turnos: ___ anos ____ meses 12. Situação laboral: Contratado (1) Quadro (2) 13. Número de horas que trabalha por semana: ______horas (incluindo horas extraordinárias) 14. Número de horas, que considera de lazer, por semana: ____ horas 15. Em média, quanto tempo gasta para ir de casa para o trabalho ____ horas____ minutos 16. Fuma? Não (0) Sim (1) 16.1 Se Sim, numero médio de cigarros por dia? 17. Número de utentes/doentes que atende por dia?· 18. Quanto tempo da sua jornada de trabalho diária passa em interacção1 com os utentes/doentes? Mais de 80% (1) Entre 80% - 40% (2) 19. É chefe ou coordena alguma área? Entre 39% - 20% (3) Menos de 20% (4) Sim (1) Não (0) 20. Tem que realizar algumas actividades relacionados com o trabalho em casa? Sim (1) Não (0) 1 Interacção, “processo de percepção, comunicação entre pessoa e ambiente e entre pessoa e pessoa, manifestado por comportamentos verbais e não verbais. Cada indivíduo numa interacção (enfermeiro e utente) é detentor de conhecimentos, necessidades, objectivos, experiências passadas e percepções diferentes que influenciam as interacções” (King, 1981, cit. por Ackermann et al., 1989, p.205). II Parte Por favor, responda às seguintes perguntas, rodeando com um círculo a opção desejada (seleccione só uma opção) 1. Em geral, estou cansado do meu trabalho. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 2. Sinto-me identificado com o meu trabalho. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 3. Os utentes do meu trabalho frequentemente apresentam excessivas exigências e comportamentos irritantes. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 4. O meu supervisor apoia-me nas decisões que tomo. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 5. Actualmente o meu trabalho proporciona-me poucos desafios pessoais. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 6. Actualmente o meu trabalho é desinteressante 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 7. Quando estou a trabalhar fico de mau humor. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 8. Eu e os colegas apoiamo-nos no trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 9. As relações pessoais que estabeleço no trabalho são gratificantes para mim 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nunca Raramente Algumas vezes Frequentemente Sempre 10. Dada a responsabilidade que tenho no meu trabalho, não conheço bem os resultados e o alcance do mesmo. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 11. As pessoas que tenho que atender reconhecem muito pouco os esforços que se fazempor eles. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 12. O meu interesse pelo desenvolvimento profissional é actualmente muito escasso. 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Totalmente em desacordo Em desacordo Indeciso De acordo Totalmente de acordo 13. Considera que o trabalho que realiza, tem consequências na sua saúde pessoal(cefaleias, insónia, etc.) 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 14. O meu trabalho é repetitivo 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 15. Estou desgastado pelo meu trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 16. Gosto do ambiente e do clima do meu trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 17. O trabalho está a afectar as minhas relações familiares e pessoais 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 18. Procuro despersonalizar as relações com os utentes do meu trabalho 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 19. O trabalho que eu faço está longe de ser aquele que eu desejaria 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Nada Muito pouco Algo Bastante Muito 20. O meu trabalho é muito aborrecido 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões 21. Os problemas do meu trabalho fazem com que o meu rendimento seja menor 1 ----------------- 2 ----------------- 3 ----------------- 4 ------------------5 Em nenhuma ocasião Raramente Algumas vezes Frequentemente Na maioria das ocasiões Muito Obrigado pela colaboração IV. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A RECOLHA DE DADOS - 79 -