Altagerência gerência Alta Descobrindo um oceano azul com a força de trabalho feminina Uma iniciativa de equidade de gêneros está fazendo a mineradora Vale encontrar sinergias e oportunidades inimaginadas para os negócios e pode quebrar paradigmas do mercado corporativo brasileiro. Neste artigo exclusivo, a diretora-executiva da Vale Vania Somavilla, a ex-executiva Carla Gama e a consultora Carmen Migueles descrevem o programa em detalhes Q uando nos sentamos para pensar em equidade de gênero pela primeira vez, em 2011, não imaginamos que nos levaria tão longe. Em pouco tempo, a busca por reduzir a desigualdade entre mulheres e homens em nossos quadros nos conduziu ao coração da estratégia e ao núcleo da cultura organizacional. Por que nos atrevemos a tentar emplacar um projeto que prestigia as mulheres em uma empresa de mineração tradicional como a Vale? Afinal, ela tem sua história marcada por esforços masculinos de desbravar territórios em busca de recursos minerais e foi condicionada pela ética dos shareholders, de Milton Friedman, segundo a qual a obrigação social da empresa é apenas produzir lucro para seus acionistas. Porque entendemos que a ética dos stakeholders, de Edward Freeman, é a mais adequada para nós, até mesmo do ponto de vista dos acionistas. Cuidar das várias partes interessadas é o que consegue garantir a sustentabilidade dos negócios e os retornos futuros. Partimos daí: abandonamos a visão centrada no lucro e de curto prazo e nos dedicamos a analisar como a equidade de gênero poderia gerar todo um conjunto de benefícios (não apenas o lucro) no longo prazo. Um projeto de equidade de gênero na Vale poderia ser importante para: l Colocar nossos valores em prática. l Engajar mais as pessoas. 38 HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br l Apoiar o desenvolvimento de lide- ranças em toda a organização. l Planejar nossa estratégia de inter- nacionalização no que diz respeito a gestão de pessoas. l Criar indicadores de governança que permitissem ao conselho de administração e demais stakeholders acompanhar a evolução dos pilares de sustentabilidade do negócio. Mas qual seria o ponto de partida? A MULHER E A POBREZA Começamos pelo começo, pesquisando por que o tema da equidade de gênero vem surgindo com tanta força nos últimos anos e qual seria nosso papel nesse cenário, se é que haveria um papel para a Vale nele. Estudando dados e análises da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial, compreendemos logo o foco no tema: não é possível pensar em desenvolvimento sustentável, seja de um país, seja de um negócio, sem lidar com a questão de gênero. Os trabalhos da ONU e do Banco Mundial não deixam dúvida de que a pobreza e a miséria crônica são femininas: l A ONU e o relatório A Armadilha do Gênero – Mulheres, Violência e Pobreza, do Banco Mundial, revelam que mais de 70% dos pobres e muito pobres do mundo são mulheres e, dos restantes 30%, boa parte é de crianças do sexo masculino dependentes delas. Consi- As fotografias que ilustram este artigo são de funcionárias reais da Vale que protagonizaram a publicidade da empresa em linha com seu projeto de equidade de gênero dera-se que 86% da pobreza tem a ver com mulheres. l O Global Gender Report de 2012, do Banco Mundial, confirma a relação entre desigualdade de gêneros e a pobreza de uma nação, pois os países mais desiguais são também os mais pobres. É que mulheres pobres propagam famílias pobres. A Vale tinha um papel importante a cumprir, portanto, e o passo seguinte SINOPSE l Em 2010, a Organização das Na- ções Unidas estabeleceu uma série de princípios de empoderamento das mulheres, aos quais mais de 550 empresas do mundo já aderiram. O país com mais adesões é o Japão, e o Brasil ocupa o segundo lugar. Aparentemente, há aqui cada vez mais gestores já convencidos da relação direta entre a pobreza em um país e o nível de desigualdade entre seus habitantes homens e mulheres e, portanto, capazes de vender essa causa aos acionistas. l Entre as companhias que firma- ram o compromisso em prol da equidade de gênero com a ONU está a mineradora Vale, um ícone de sucesso corporativo do Brasil e uma empresa tradicionalmente masculina, como é o padrão nesse setor. Desde 2011, a Vale tem um programa que visa dar as mesmas oportunidades a profissionais mulheres e homens, reconhecendo talentos e capacidades independentemente de gênero e garantindo a meritocracia. l O programa é detalhado neste ar- tigo e, mesmo ainda sendo recente, já surpreendeu a Vale: conforme as primeiras reações, a maior equidade de gênero tende a aprimorar significativamente a gestão do negócio e melhorar resultados em diversas áreas, ao criar sinergias e oportunidades inesperadas. Os países com maior desigualdade entre homens e mulheres são também os mais pobres foi entender o macrocenário brasileiro: também nossa pobreza é feminina? A resposta, infelizmente, é sim. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a taxa de desemprego das mulheres é cerca de 58% maior do que a dos homens –mesmo sendo um dado de 2001, as projeções indicam que a relação se mantém. Além disso, a renda média delas é 21% inferior à deles, na comparação por horas trabalhadas; entre quem tem mais de 15 anos de estudo, o gap aumenta para 39%; e o desnível chega a 61% quando se trata de mulheres negras. Resultado: segundo o estudo “Pobreza multidimensional no Brasil”, HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br 39 Alta gerência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a situação mais crítica de pobreza e vulnerabilidade da infância no Brasil está nos lares chefiados por mulheres negras. A continuarem assim as coisas, nosso futuro está evidentemente ameaçado, até porque cresce o número de lares chefiados por mulheres. Estes passaram de 19,3% em 1992 para 32% em 2002 e, em 90% dos casos, as mulheres não são apenas as chefes, mas as únicas provedoras. É impossível uma empresa brasileira fechar os olhos para uma situação tão grave para o País. PRINCIPAIS DESAFIOS E A TOMADA DE POSIÇÃO A Vale é uma empresa eminentemente masculina e tínhamos dois desafios intrínsecos a isso. O primeiro deles era compreender as causas da menor participação de mulheres aqui e combatê-las. Se acreditamos que as mulheres são tão capazes quanto os homens (e, sim, nós acreditamos nisso), o problema não podia ser discriminação. Qual era, então? O segundo desafio estava em como combater tais causas. Bastaria implantar um sistema de cotas, como muitas vezes se faz? Ou isso feriria nossa meritocracia no coração e não resolveria a questão de maneira sustentável? Uma coisa logo percebemos: o escritor H. L. Mencken tinha razão quando afirmava que “para cada problema complexo há uma solução clara, simples e errada”! Não há soluções simples para a desigualdade de gêneros, pelo menos não no ambiente empresarial. Decidimos não combater uma discriminação com o que entendíamos ser outra, como o sistema de cotas; definimos em nosso posicionamento oficial que reconhecíamos e reduziríamos as diferenças: “A Vale busca reconhecer e promover o talento e a capacidade da mulher, diminuindo a discrepância histórica e cultural de acesso a oportunidades, sem criar um ambiente discriminatório. Acreditamos que, independentemente do gênero, cada um possui talentos únicos e apresenta capacidade para crescer e se desenvolver tanto pessoal quanto profissionalmente. Com paixão pelas pessoas e pelo planeta, reconhecemos as diferenças e as usamos como alavanca para criação de valor de longo prazo.” Escolhemos também tratar o tema como equidade entre os gêneros, não igualdade, para dar conta da questão da maternidade como uma desvantagem histórica das mulheres, entre outras. E assim começou o projeto. DO DIAGNÓSTICO AO PLANEJAMENTO O primeiro passo foi o trabalho de diagnóstico das causas da menor participação das mulheres e descobrimos os seguintes fatores: A cultura nacional, assim como o imaginário social sobre gênero dentro dela, naturalmente entra nas or- 1) 40 HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br ganizações por meio de suas pessoas, e a cultura brasileira é mais masculina. Histórica e mundialmente, há menor número de mulheres nas carreiras técnicas e tecnológicas, como falamos, e soma-se a isso o fato de que muitas das atividades, em uma época de menor desenvolvimento tecnológico, demandavam força física. A cultura organizacional da Vale tinha o viés masculino, por duas razões claras [veja quadro na página ao lado]. O processo seletivo ao longo da empresa é realizado por gestores e funcionários que, compartilhando a cultura nacional e seus valores, podem tender a acreditar de fato que escolher homens contribui para o melhor resultado do negócio, mesmo que lhes seja dito que isso não é o ideal nem o desejável. Felizmente percebemos que muitos gestores em posições estratégicas já entendem a diversidade como um caminho para obtenção de melhores resultados operacionais. 2) 3) 4) Descobrindo um oceano azul com a força de trabalho feminina 5) As próprias mulheres têm certo “preconceito” com o negócio “mineração”, desconhecendo a evolução tecnológica e as oportunidades que já existem para o sexo feminino nesse setor. A etapa seguinte, da análise, levou-nos a listar os desafios de gestão de pessoas que a Vale enfrenta hoje e observar se eles poderiam ser, de alguma forma, minorados com um projeto de equidade de gênero: l Escassez de talentos. A maioria das empresas ainda tem a propensão de recrutar seus talentos dentro do grupo de homens brancos, uma espécie de estratégia “oceano vermelho” do recrutamento e seleção, que recusa a diversidade. O fato é que cerca de 56% dos egressos dos cursos superiores no Brasil já são mulheres, além de serem no grupo com melhor desempenho de notas (estão no primeiro quartil), e vêm ocupando espaço crescente nas carreiras técnicas. De muitos modos, as profissionais do sexo feminino representam um oceano azul em si e, para completar, o combate à discriminação de gênero nos ajuda a aprender a combater com eficácia todas as formas de discriminação, promovendo a diversidade como um todo. l Cultivo à confiança. Entre outras coisas, a confiança é o que costura o comprometimento das pessoas com uma organização. A discriminação, além de intolerável por si e contrária aos valores da empresa, pode criar um sentimento de injustiça que mine a confiança. l Inovação. Há uma relação direta entre atração e retenção de talentos, gestão do conhecimento e produtividade do trabalho intelectual e inovação, como mostra um dos mais antigos programas corporativos de gestão da diversidade do mundo, o da norte-americana IBM. Na percepção de seus gestores, o fato de a empresa ser a campeã mundial de patentes relaciona-se diretamente com a diversidade. A lógica é simples: a capacidade humana está igualmente distribuída entre gêneros, raças e etnias e, quanto mais o processo seletivo discriminar, mais se reduzirá a probabilidade de recrutar os melhores. Em paralelo, listamos os desafios da Vale no novo contexto de competição global e analisamos como o projeto de equidade de gênero poderia responder a isso: l Alinhamento com os organismos internacionais. Entre as falsas crenças a ser combatidas entre os líderes estava a de que os filhos prejudicam o desempenho da mãe As grandes multinacionais precisam atuar em linha com os macrodesafios propostos pelos organismos internacionais, como o Pacto Global da ONU. Além das razões éticas, isso aumenta as chances de obter a licença social para operar e cria valor de marca em diferentes mercados; gera confiança na empresa e fornece as bases para a consolidação do crescimento. Valor de marca, no cenário da globalização, é resultado principalmente das ações orientadas por valores e produto da reputação de uma comunidade de indivíduos que faz a coisa certa. l Globalização da ética dos stakeholders. Para o desenvolvimento de competências organizacionais importantes a quem atua no cenário global e multicultural, metas de equidade de gênero precisam ser perseguidas nos diferentes locais onde uma empresa opera –no caso da Vale, devem ser buscadas seja no Canadá, seja em Omã, seja em Moçambique. A experiência no Brasil apoia outras experiências. l Criação de contexto capacitante para o desenvolvimento de lideranças adequadas a contextos multiculturais. O projeto de equidade de gênero ajuda a estabelecer um padrão de construção de confiança e engajamento dos funcionários que tenha êxito nas mais diferentes culturas. Era preciso ainda combater ativamente três falsas crenças existentes ao longo da hierarquia, com muita comunicação: l “Filhos prejudicam o desempenho da mãe.” Alguns líderes ainda acreditavam que selecionar homens era importante para garantir a estabilidade e a continuidade do “Mulher em mina traz má sorte” Você já ouviu falar que mulher em uma mina dá azar, podendo causar acidentes e tragédias? Até pouco tempo atrás, essa crença era real na engenharia de minas e, como quase toda crendice, tem também uma explicação racional que faz sentido. A engenharia de minas surgiu ligada à engenharia militar, pela forma como lidava com explosivos e pela conquista de territórios ainda não explorados, e considerava-se que ambas as situações representavam perigo para as mulheres. Essa é uma das raízes da cultura organizacional masculina até hoje verificada na Vale. A outra é que a empresa foi fundada em 1942, época em que era impensável mandar mulheres para regiões remotas, como era preciso fazer em uma mineradora, qualquer que fosse a atividade em questão. HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br 41 Alta gerência Saiba mais sobre as autoras Em 2011, a diretora-executiva da Vale Vania Somavilla foi convidada pela ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, a participar da Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade, formada para discutir as questões de gênero com vistas à Conferência Rio+20, da Organização das Nações Unidas, que aconteceria no ano seguinte. Somavilla acreditou tanto na proposta que a abraçou e a patrocinou na Vale, pedindo à então diretora de educação e gestão de talentos Carla Gama que criasse um projeto de equidade de gênero. A consultora Carmen Migueles entrou na parceria oferecendo base conceitual para a iniciativa. Em outubro de 2011, nascia o projeto, com o patrocínio imediato do presidente da Vale, Murilo Ferreira, altamente sensível ao tema. Somavilla é engenheira de formação e atua na Vale desde 2001; ali lidera as áreas de recursos humanos, saúde e segurança, sustentabilidade e energia. A também engenheira Gama ingressou na empresa em 2005 e deixou-a em abril de 2013; atualmente é consultora independente com foco em estratégia, gestão e pessoas. A consultora Migueles é sócia da Symballein, especializada em cultura e gestão de ativos intangíveis, desempenho, porque as equipes não ficariam desfalcadas no período de licença-maternidade ou com a atenção das mães aos filhos. Por essas razões específicas, em uma disputa entre um homem de menor potencial e uma mulher mais capacitada (tanto em talento como em comprometimento), esses líderes declaradamente prefeririam o homem. Nesse caso, a falsa crença é achar que garantir a presença física do trabalhador na empresa por toda a sua vida útil e sua maior disponibilidade de tempo compensa menos talento e menos comprometimento. l “Não há desigualdade de gêneros na Vale.” Alguns líderes disseram que a empresa não tinha problemas ou desafios com essa questão, o que é uma falsa crença a julgar pelas estatísticas do quadro pessoal. l “Esse assunto não tem nada a ver com negócios; é responsabilidade social.” Alguns líderes mostraram crer que esse tipo de programa não está relacionado diretamente com a gestão do negócio e com seu desem42 Carla Gama Carmen Migueles Vania Somavilla e coordena o núcleo de estudos de sustentabilidade em gestão da Fundação Getulio Vargas. Mestre e doutora em antropologia aplicada à gestão, trabalhou por 13 anos na Universidade de Sophia, de Tóquio, Japão, em uma metodologia que relaciona cultura e sucesso em gestão. penho e, portanto, deve ser tocado por uma área específica, à parte, como a ligada à responsabilidade social. Montamos um comitê corporativo para pensar sobre o problema e ouvimos pessoas da ponta operacional a respeito HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br Chegamos, então, à hora de efetivamente criar as medidas de promoção da equidade de gênero. Para isso, fizemos dois movimentos. Em primeiro lugar, montamos um comitê corporativo, composto por homens e mulheres, líderes em todos os níveis e de diversas localidades e negócios da empresa, para pensar sobre o problema, debatê-lo e propor soluções. Seus membros foram capacitados a fazer isso. Em segundo, ouvimos pessoas da ponta operacional a esse respeito, tanto homens como mulheres, de diferentes áreas e locais. É fundamental ouvir a ponta, pois um projeto de mudança como esse nunca é imposto de cima para baixo; a transformação só ocorre por meio do envolvimento e desenvolvimento da consciência sobre os problemas e as oportunidades. Reunimos as sugestões do comitê e da pesquisa com a ponta e as colocamos em uma matriz “Impacto x esforço requerido (em termos de orçamento e alocação de tempo das equipes)”, para priorizar as medidas a ser tomadas. Ficamos surpresas: era alto o volume de ações de alto impacto e baixo esforço que surgiram nas consultas. Definimos as ações prioritárias com base nessa matriz, e desde o início foi possível observar o resultado em termos de percepção do valor dessas ações e desejo por participação e engajamento. Descobrindo um oceano azul com a força de trabalho feminina O DESAFIO NO OCIDENTE E NO ORIENTE Tanto na porção ocidental do mundo como na oriental, é preciso que as empresas e a sociedade como um todo desafiem arquétipos culturais há muito introjetados ou que aceitem as características descritas como capazes de contribuir para a lógica de seus negócios. A especialista Carmen Migueles fez uma série de pesquisas e compilou as principais características associadas aos dois gêneros, como se vê ao lado: No ocidente: O Masculino o feminino Força Fragilidade Razão Emoção Independência Dependência Coragem Medo Lógica Psicológica Consciente e sensação Aberta ao inconsciente/ intuição/sentimento Racionalidade Irracionalidade Público Privado Sol/dia/claro/ confiável/puro Lua/noite/escuro/ suspeito/impuro Política Intriga No oriente: O Masculino O aspecto masculino em nós, homens e mulheres, representa a ação, a força de vontade, a capacidade de realizar, de movimentar o corpo e de fazer coisas no mundo físico. o feminino A energia feminina representa a parte mais profunda e sábia, que se comunica conosco pela intuição. A energia feminina é também a capacidade de sentir, de dar e de receber carinho, afeto e amor, de expressar as emoções e desejos. Excitado e poderoso Calmo e firme Desabrochar Semente Dia Noite Força Técnica Expirar Inspirar O pai, o governante, o guerreiro A mãe O céu, o polo, claro A terra Ligado à força, ao ímpeto e ao pensamento lógico e racional. Está associado aos movimentos de expansão, ao dia, ao sol, à explosão de energia. Seu atributo principal é a força para a ação. Atitudes yang: assertividade, espírito de luta, precisão, clareza, capacidade de tomar iniciativa e conquistar. Ligado à suavidade, à sensibilidade e à intuição. Seu atributo principal é ser receptivo. Yin é o lado escuro, mas não está ligado à negatividade, e sim à fertilidade e ao mistério. Atitudes yin: aceitação, paciência, acolhimento, introspecção, recolhimento. HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br 43 Alta gerência MEDIDAS PRÁTICAS: CONDIÇÕES MATERIAIS, PROCESSOS E LÍDERES As medidas práticas se referiam a condições materiais (que formam as condições reais e objetivas para colocar valores em prática), processos (que estabelecem as condições organizacionais) e comprometimento dos líderes (que geram as condições políticas). Só depois de elas serem implementadas é que a empresa poderia falar sobre valores, identidade e missão com as pessoas. Quanto às condições materiais, destacam-se as seguintes medidas: Equipamentos de proteção individual (EPIs) e uniformes sob medida. Como se sabe, tudo isso foi desenhado para homens –e mulheres não são iguais a homens menores. Já viu como fica uma luva masculina na mão de uma mulher? O redesenho dos EPIs e dos uniformes para as mulheres podia gerar mais conforto e aumentar a segurança delas. Chamamos fornecedores, que viram uma oportunidade de inovação para seu produto e uma forma de gerar mais valor para seus clientes e desenvolveram protótipos com a participação das mulheres da Vale. Isso ocorreu com base na colaboração, sem necessidade de investimentos. Reforma de instalações físicas. Para aumentar o efetivo de mulheres, seria necessário construir ou reformar vestiários e banheiros, além de rever o número e a qualidade das salas de amamentação. Investimos no planejamento, priorização e alocação de recursos para todas as reformas necessárias. Suporte para a maternidade. Embora mais engajadas do que os homens em geral, as mulheres abandonam mais o emprego, muitas vezes por causa dos filhos. Incluir mais mulheres, portanto, significa dar suporte para a maternidade e, assim, iniciamos trabalho de análise da revisão do tempo da licença e dos benefícios. É necessário fazer escolhas difíceis. Por exemplo, os homens gostariam de ter o mesmo benefício relativo a creche que as mulheres, opção que dividiria igualmente os recursos e impactaria enormemente no montante a ser empregado no programa. No primeiro momento (podemos rever isso no futuro), a escolha é pelo suporte para o ingresso e permanência das mulheres na empresa. O objetivo é a equidade, e não a igualdade, como já comentamos. No que diz respeito aos processos, podemos mencionar um: 1) 2) 3) l Mudança no modo de ingressar na empresa. Revimos a forma de anunciar nossas vagas e de atrair talentos. Em nossa publicidade para o tema, por exemplo, predominavam imagens de homens trabalhando na empresa. Mostramos mulheres dirigindo caminhão fora de estrada, eletricistas, mecânicas e outras. É esperado aumento do número de candidatas com ações simples como essa. As mulheres são aptas a fazer tudo isso, e com muito mais cui- 44 HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br As mulheres são aptas a dirigir caminhão offroad, atuar como eletricistas e mecânicas, e fazem tudo isso com cuidado, reduzindo acidentes dado, reduzindo os acidentes e o custo com seguros e reforçando o primeiro de nossos valores corporativos, que é o valor da vida. (Sempre é bom lembrar que as causas mais profundas dos acidentes de trabalho e da falta de cuidado com a própria saúde e com o meio ambiente estão relacionadas com o paradigma cultural da masculinidade e que confirmamos, no dia a dia, que mulheres têm menos acidentes de trabalho.) Quanto ao comprometimento dos líderes, isso passa pela construção de novos paradigmas, em andamento: l Comunicação da separação entre os dados biológicos do sexo e as questões de gênero. Sexo é um dado biológico; gênero é uma produção cultural. A discriminação contra as mulheres está profundamente in- Descobrindo um oceano azul Objetivos em 10 anos fluenciada pelos paradigmas culturais de gênero. Eles são transmitidos e reforçados nas artes, nos mitos, nas lendas e na literatura, tanto do Ocidente como do Oriente [veja quadro na página 43], com a diferença de que as culturas orientais aceitam que todos temos energia masculina (yang) e feminina (yin). Historicamente, nas empresas, buscavam-se apenas as virtudes masculinas do imaginário cultural e estas eram associadas somente à contratação de homens. Nossos líderes estão aprendendo que os negócios podem beneficiar-se tanto das virtudes masculinas como das femininas, e que mulheres e homens são igualmente capazes de viver e desenvolver ambas de maneira equilibrada, se forem educados desse modo. Ou seja, as mulheres são capazes de comandar e os homens são capazes de cuidar. O desequilíbrio para qualquer lado é prejudicial, e em nossa sociedade o predomínio da masculinidade vitimiza não só mulheres, mas também homens e o meio ambiente, na forma como cria problemas sociais e ambientais. O desequilíbrio faz com que o processo de socialização dos homens esteja voltado para a competição e o individualismo, com foco nas vitórias individuais em cada embate. OS PRÓXIMOS DEZ ANOS Elaboramos uma lista de temas estratégicos para nortear nossa reflexão e as sinergias possíveis entre o projeto de equidade de gênero e outros projetos da empresa, o que ajuda a organizar a agenda de discussão dos agentes da equidade. Os agentes agora estão estruturados em três: o comitê corporativo, já relatado; os embaixa- 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 l Sensibilização e aprofundamento l Engajamento l Influência l Consolidação da posição da Vale no cenário nacional l Consolidação da posição da Vale no cenário internacional l Vale como líder no tema: melhores práticas e promoção do diálogo Vale como modelo de inspiração para outras empresas l Vale como interlocutora reconhecida por governos e sociedade por sua contribuição para o tema l feminina dores, que ficaram encarregados de difundir e debater o tema pela empresa; e os comitês regionais, que mantêm o debate vivo nas pontas e se encontram integrados com o comitê corporativo, dando unidade à diversidade. Dada a dispersão geográfica da Vale, foi preciso montar essa estrutura para facilitar a gestão, a produção do conhecimento sobre o assunto, sua articulação nas diferentes áreas e seu monitoramento. Os temas estratégicos da agenda são seis: l l com a força de trabalho Vale como modelo de inteligência estratégica em gestão multicultural e intercultural, com excelência em gestão da diversidade Vale reconhecida internacionalmente como empresa onde diversidade é valor e gera valor para o negócio 1) Equidade de gênero em relação aos macrodesafios dos organismos internacionais. 2) O desafio da equidade de gênero para grandes multinacionais. 3) A relação com seus públicos internos e os stakeholders. 4) A relação com o desenvolvimento das pessoas e a missão maior do trabalho. 5) A relação com os desafios da responsabilidade social corporativa. 6) A equidade de gênero e a saúde e segurança no trabalho. Com base nisso, elaboramos um conjunto de diretrizes para nortear nossa reflexão sobre metas e desafios para o desenvolvimento do projeto no tempo, com etapas sugeridas para a ação em dez anos [veja a linha do tempo ao lado]. Temos consciência: o caminho para o sucesso depende de muitas coisas. Depende de formular o entendimento de aonde queremos chegar, de definir as etapas de maneira realista, de envolver e engajar nelas as pessoas (principalmente as mais próximas da operação, do dia a dia), de capturar o máximo de sinergia com outros esforços da organização, de planejar as ações de modo que todos ganhem com isso. Por fim, depende de ter claro um sentido de missão e de pensar em um legado. HSM Management HSM Management 102 • janeiro-fevereiro 2014 hsmmanagement.com.br 45