UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GABRIEL DA SILVA SOUZA OS EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE ESTRESSE OXIDATIVO INDUZIDO POR EPILEPSIA NO CÉREBRO Tubarão 2007 GABRIEL DA SILVA SOUZA OS EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE ESTRESSE OXIDATIVO INDUZIDO POR EPILEPSIA NO CÉREBRO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia. Orientador: Prof. Aderbal Silva Aguiar Jr. Tubarão 2007 Dedico este trabalho aos meus pais, Tania e Edson, por tornar tudo isso possível e permanecerem sempre ao meu lado; a minha irmã, Beatriz, por todo o apoio e a minha namorada, Bruna, por toda força, cobrança, paciência e compreensão que teve comigo durante todo este processo. Amo muito todos vocês! AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente aos meus pais, Tania e Edson, pela vida, pelo amor, pela criação exemplar que me deram, por sempre me apoiarem em minhas decisões e por todo o apoio nesta fase da minha vida. A minha irmã, Beatriz, por todo seu amor e por me aturar durante toda a sua vida. A minha namorada, Bruna, por todo amor, apoio, cobrança, paciência, compreensão e momentos inesquecíveis que me proporcionou durante nossos 2 anos de namoro. Ao meu orientador, Aderbal, por toda dedicação e disponibilidade de tempo para me auxiliar neste projeto. Ao Paulo Renato, por me ajudar na preparação dos camundongos. Aos profissionais do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, que realizaram os testes comportamentais, dissecações e análises bioquímicas necessárias para a obtenção dos resultados. Ao Arlindo, profissional que cuida do Biotério da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, proporcionando os cuidados necessários aos meus camundongos. Aos membros da banca, pela disponibilidade de tempo para contribuir com o meu trabalho. RESUMO As espécies reativas de oxigênio (EROs) implicam na patogênese de várias desordens neurológicas, inclusive a epilepsia. O tratamento farmacológico da epilepsia é voltado para o controle de convulsões, sendo alternativas meramente paliativas. Assim, buscam-se estratégias terapêuticas que também atuem no processo neurodegenerativo desta patologia, como por exemplo, o exercício. Este estudo teve como meta geral analisar os efeitos da atividade física sobre dano oxidativo induzido por epilepsia no cérebro de camundongos, tendo como objetivos específicos: verificar níveis de oxidação de lipídios no hipocampo, identificar níveis de oxidação de proteínas no hipocampo, analisar níveis da enzima citrato sintase no músculo sóleo e verificar atividade motora e memória olfativa. Os camundongos foram separados em 4 grupos, com 7 camundongos em cada grupo (grupo sham, epilepsia, sham exercício, epilepsia exercício). O tempo de treinamento foi de 8 semanas com acesso livre a roda de correr. Os camundongos foram induzidos à epilepsia através de polimicrogiria. Foi realizada análise da enzima cintrato sintase no músculo sóleo, teste de campo aberto e de discriminação olfatória e verificação dos níveis de lipoperoxidação e carbonilação no hipocampo. Verificou-se que: 8 semanas foram suficientes para treinar os camundongos; a epilepsia não leva a déficits motores; a epilepsia causa prejuízos significativos à memória olfativa dos animais e 8 semanas de exercício foram suficientes para reverter os mesmos; os níveis de lipoperoxidação mostraram-se elevados no grupo epilepsia, sendo diminuídos após 8 semanas de exercício, mas sem conseguir voltar a normalidade; os níveis de carbonilação mostraram-se diminuídos no grupo epilepsia exercício, quando comparados ao grupo epilepsia. Comprovou-se que a atividade física diminuiu o dano oxidativo no cérebro gerado pela epilepsia e reverteu os prejuízos causados pela epilepsia à memória olfativa dos camundongos. Assim, demonstrouse que o exercício pode ser uma das estratégias terapêuticas que atuam no processo neurodegenerativo gerado pela epilepsia. Palavras-chave: Epilepsia. Estresse oxidativo. Atividade física. ABSTRACT The reactivate oxygen species (ROS) implicate in the patogenesis of several neurological disorders, besides the epilepsy. The farmacologic treatment of the epilepsy is gone back to the control of convulsions, being merely palliative alternative. Like this, therapeutic strategies are looked for that also act in the neurodegenative process of this pathology, as for instance, the exercise. This study had as general goal to analyze the effects of the physical activity on oxidative damage induced by epilepsy in the brain of mice, tends as specific objectives: to verify levels of oxidation of lipids in the hippocampus, to identify levels of oxidation of proteins in the hippocampus, to analyze levels of the enzyme citrate synthase in the muscle soleus and to verify motive activity and smell memory. The mice were separate in 4 groups, with 7 mice in each group (I group sham, epilepsy, sham exercise, epilepsy exercise). The time of training was of 8 weeks with free access the wheel of running. The mice were induced to the epilepsy through polymicrogyria. Analysis of the enzyme citrate synthase was accomplished in the muscle soleus, test of open field and of olfactory discrimination and verification of the lipoperoxidation and protein oxidation levels in the hippocampus. It was verified that: 8 weeks were enough to train the mice; the epilepsy doesn't take to motor deficits; the epilepsy causes significant damages to the smell memory of the animals and 8 weeks of exercise were enough to revert the same ones; the lipoperoxidation levels were shown high in the group epilepsy, being reduced after 8 weeks of exercise, but without getting to return the normality; the protein oxidation levels were shown decreased in the group epilepsy exercise, when compared to the group epilepsy. He/she was proven that the physical activity reduced the oxidative damage in the brain generated by the epilepsy and it reverted the damages caused by the epilepsy to the smell memory of the mice. Like this, it was demonstrated that the exercise can be one of the therapeutic strategies that act in the neurodegenerative process generated by the epilepsy. Key words: Epilepsy. Oxidative stress. Physical activity. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – EEG de paciente normal...........................................................................13 Figura 2 – EEG de paciente com epilepsia................................................................14 Figura 3 – Metabolismo oxidativo normal...................................................................20 Figura 4 – Estresse oxidativo.....................................................................................21 Fotografia 1 – Roda de correr utilizada no treino dos camundongos.........................28 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Atividade da enzima citrato sintase aumentada nos grupos que realizaram exercício...................................................................................................31 Gráfico 2 – Teste de campo aberto, não mostrando diferença significativa entre os grupos.........................................................................................................................32 Gráfico 3 – Teste de discriminação olfatória mostrando que a epilepsia causa prejuízos significativos a memória olfativa dos animais e que 8 semanas de exercício foram suficientes para reverter a mesma...................................................................33 Gráfico 4 – Níveis de LPO elevados no grupo epilepsia e diminuídos após 8 semanas de exercício, mas sem conseguir voltar a normalidade..............................35 Gráfico 5 – Níveis de carbonilação diminuídos no grupo epilepsia exercício quando comparados ao grupo epilepsia.................................................................................36 LISTA DE SIGLAS ATP – trifosfato de adenosina AVC – acidente vascular encefálico CAT – catalase EEG – eletroencefalgroma EROs – espécies reativas de oxigênio GPx – glutationa peroxidase GSH – glutationa ILAE – Liga Internacional de Epilepsia LPO – lipoperoxidação PTZ – pentilenetetrazol SNC – sistema nervoso central SOD – superóxido dismutase TBARS – substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................10 2 EPILEPSIA ............................................................................................................13 2.1 HISTÓRICO ........................................................................................................13 2.2 DEFINIÇÃO.........................................................................................................13 2.3 EPIDEMIOLOGIA................................................................................................14 2.4 ETIOLOGIA .........................................................................................................15 2.5 CLASSIFICAÇÃO................................................................................................15 2.5.1 Crises parciais................................................................................................15 2.5.2 Crises generalizadas......................................................................................16 2.6 EPILEPSIA E DANO OXIDATIVO.......................................................................16 2.7 OXIDAÇÃO E ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO ........................................17 2.7.1 Sistema de defesa antioxidante ....................................................................18 2.7.2 Estresse oxidativo..........................................................................................20 2.8 ATIVIDADE FÍSICA.............................................................................................21 2.8.1 Definição .........................................................................................................21 2.8.2 Atividade física e estresse oxidativo ............................................................22 2.9 MEMÓRIA ...........................................................................................................24 2.9.1 Tipos de memória...........................................................................................24 2.9.2 Amnésia ..........................................................................................................25 2.9.3 Lobos temporais e seu papel na memória ...................................................26 2.9.4 Condicionamento clássico e operante .........................................................26 3 DELINEAMENTO DA PESQUISA .........................................................................27 3.1 ANIMAIS..............................................................................................................27 3.2 PROCEDIMENTOS.............................................................................................27 4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO ...............................................................31 4.1 ATIVIDADE DA CITRATO SINTASE ..................................................................31 4.2 CAMPO ABERTO ...............................................................................................31 4.3 DISCRIMINAÇÃO OLFATÓRIA ..........................................................................32 4.4 NÍVEIS DE LIPOPEROXIDAÇÃO E CARBONILAÇÃO ......................................34 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................38 REFERÊNCIAS.........................................................................................................39 10 1 INTRODUÇÃO O sistema nervoso central (SNC) é mais suscetível a danos oxidativos, pois apresenta grande atividade energética mitocondrial dependente de oxigênio, associada à elevada concentração de ferro livre e lipídios polinsaturados e baixos níveis de enzimas antioxidantes (AGUIAR JR., PINHO; 2007). Segundo Rajasekaran (2005), dados crescentes de modelos experimentais no cérebro humano sugerem que este estresse oxidativo e seus acometimentos podem ter um importante papel fisiopatológico em problemas neurológicos agudos como acidente vascular cerebral (AVC) e convulsões. As espécies reativas de oxigênio (EROs) implicam na patogênese de várias desordens frequentemente neurológicas acompanhadas inclusive pela a epilepsia. geração de EROs Convulsões são causando uma lipoperoxidação (LPO), que pode consequentemente causar uma neurodegeneração observada em certos tipos de epilepsia humana (RAJASEKARAN, 2005). Conforme Patel (2004), estudos com animais mostram que convulsões resultam na produção de EROs e danos oxidativos nas proteínas celulares, lipídios e DNA. De acordo com Gluck e outros (2000), o estado epiléptico é uma emergência neurológica associada com uma taxa de mortalidade de 10-12%. Esta condição é caracterizada por prolongadas ou repetitivas descargas epilépticas, resultando clinicamente em persistentes alterações do funcionamento normal do cérebro e estado cognitivo. A prolongada excitação dos neurônios durante as convulsões pode causar dano e morte. Um dos mecanismos plausíveis de dano celular envolve a formação excessiva de EROs, evidências incluem a correlação temporal entre a geração de EROs e o desenvolvimento de convulsões em condições patológicas e a proteção eficaz de agentes antioxidantes contra alguns tipos de convulsões (FRANTSEVA et al., 2000). Evidências demonstram descargas elétricas anormais no eletroencefalograma (EEG) na maioria dos pacientes epilépticos, desaparecendo durante a atividade física e retornando ao repouso (ARIDA et al., 1999). O tratamento farmacológico da epilepsia é baseado na carbamazepina, valproato, fenitoína, fenobarbital e primidona (controle de convulsões) (GUERREIRO, 2006), que são alternativas meramente paliativas. Assim, buscam-se estratégias terapêuticas que também atuem no processo neurodegenerativo desta 11 patologia, como por exemplo, o exercício. Os benefícios dos exercícios físicos regulares são bem comprovados, tais como, diminuição do risco de doenças cardiovasculares (PLAISANCE et al., 2007), câncer (DE BACKER et al, 2007), osteoporose (BORER, 2005) e diabetes (HU et al., 2007). O complexo mecanismo que contribui para esses efeitos inclui diminuição do tecido adiposo, alteração dos perfis lipídicos e hormonais, recepção e transporte-adaptadores protéicos, melhoramento da função mitocondrial e alterações das defesas antioxidantes. Essas defesas são necessárias porque os organismos aeróbicos produzem EROs durante a respiração normal e condições inflamatórias (LEEUWENBURGH; HEINECKE, 2001). Aguiar Jr. e Pinho (2007) citam que os benefícios do exercício à saúde mental em geral e na prevenção de doenças são bem conhecidos. Entretanto, o exercício crônico representa uma forma de estresse oxidativo para o organismo e pode alterar o balanço entre oxidantes e antioxidantes. Os antioxidantes biológicos desempenham papel na proteção celular do estresse oxidativo induzido pelo exercício. Não somente uma grande produção de EROs, mas também a deficiência ou depleção de vários sistemas antioxidantes, pode revelar exacerbação da lesão oxidativa, enquanto a suplementação de vários antioxidantes gera resultados diversos. Na última década pacientes com desordens crônicas vem sendo encorajados a participar de atividades esportivas como parte de sua reabilitação. Pacientes com doenças crônicas, tais como a epilepsia, são facilmente excluídos de atividades físicas por causa de medo, proteção ou falta de informação (ARIDA et al., 1999). A atividade motora regular traz muitos benefícios às condições mentais e físicas, mas as implicações para epilepsia ainda são controversas. Visando esclarecer este problema será estudado se a atividade física diminui o estresse oxidativo a nível cerebral em casos de epilepsia. Sendo assim o presente estudo teve como meta geral analisar os efeitos da atividade física sobre dano oxidativo induzido por epilepsia no cérebro de camundongos. Esta pesquisa teve como objetivos específicos: verificar níveis de oxidação de lipídios no hipocampo, identificar níveis de oxidação de proteínas no hipocampo, analisar níveis da enzima citrato sintase no músculo sóleo e verificar atividade motora e memória olfativa. 12 Esta pesquisa foi dividida em cinco capítulos, sendo que o primeiro referese à introdução, relatando um breve comentário sobre o assunto a ser tratado neste trabalho. O segundo capítulo está direcionado ao referencial teórico, descrevendo detalhadamente o assunto pesquisado. No terceiro capítulo consta o delineamento desta pesquisa, expondo o tipo de pesquisa, a população/amostra utilizada, o material e o procedimento de coletas dos dados. Já o quarto capítulo expõe a apresentação e discussões dos possíveis resultados. E o quinto capítulo refere-se às considerações finais e sugestões feitas pelo autor do estudo. 13 2 EPILEPSIA 2.1 HISTÓRICO A epilepsia foi reconhecida pela primeira vez como uma doença do cérebro por Hipócrates em sua monografia “On the Sacred Disease”. Mas foi somente em 1889 que Jackson & Beevor e Jackson & Colemann verificaram em exame post mortem a associação entre lesão de córtex frontal e crises convulsivas motoras focais. Barbosa-Coutinho e outros (1999) citam que inicialmente a demonstração da presença de lesões focais em pacientes com epilepsia era realizada apenas em estudos pós-morte como no importante estudo realizado por Margerison & Corselis sobre alterações clínicas, eletrencefalográficos e neuropatológicos em pacientes com epilepsia. 2.2 DEFINIÇÃO Para Rigatti e Trevisol-Bittencourt (1999), epilepsia é um distúrbio recorrente da bioeletrogênese cerebral. Epilepsias poderão ser provocadas por praticamente qualquer condição que afete o córtex cerebral. Pode, por exemplo, ser conseqüência de anomalias congênitas, infecções, tumores doenças vasculares, doenças degenerativas ou lesão traumática. De acordo com Patel (2004), a epilepsia pode ser convulsiva ou nãoconvulsiva caracterizada por uma atividade elétrica anormal em um grupo de neurônios cerebrais. 14 Figura 1 – EEG de paciente normal Fonte: Markand, 2003. Figura 2 – EEG de paciente com epilepsia Fonte: Markand, 2003. 2.3 EPIDEMIOLOGIA Segundo Rigatti e Trevisol-Bittencourt (1999), epilepsia é uma síndrome neurológica comum, tendo alta prevalência mundial, estimada entra 0,4 a 2% da população geral. No Brasil, apesar da inexistência de estudos epidemiológicos adequados envolvendo diferentes regiões sócio-econômicas, supõe-se que algo em torno de 1 a 2% da população em geral esteja sendo acometida por algumas das formas de epilepsia. Em mais de 3/4 dos pacientes com epilepsia, as crises começam antes dos 18 anos. Na ultima década, aparentemente aumentou a incidência de ataques epilépticos iniciando na vida adulta (RIGATTI; TREVISOL-BITTENCOURT, 1999,). A incidência da epilepsia é maior em crianças com idade menor que 5 anos, também aparecendo em indivíduos com idade superior a 65 anos (PATEL, 2004). 15 2.4 ETIOLOGIA De acordo com Borges e outros (2001), a etiologia da epilepsia pode ser classificada de acordo com as normas da “Commission Epidemiology na Prognosis” da Liga Internacional de Epilepsia (ILAE), conforme segue: a) Idiopática, conforme Borges e outros (2001), refere-se à epilepsia que se enquadra em umas síndromes epilépticas (presumidamente genética) e ocorre na ausência de quaisquer anormalidades neurológicas. b) Sintomática, segundo Borges e outros (2001), refere-se à epilepsia que ocorre na presença de uma agressão remota ou a uma prévia desordem que seja reconhecidamente associada a fator de risco da epilepsia. Segundo Rigatti e Trevisol-Bittencourt (1999), alguns exemplos da classificação sintomática são: cisticercose, traumatismo craniano encefálico, convulsão febril, meningite/outras infecções, transtornos no parto, neoplasias, mau formação artério-venosa, doença vascular cerebral. c) Criptogênico, de acordo Borges e outros (2001), este termo é usado quando há ausência de causa identificável, e o paciente não reúne critério para a síndrome epiléptica idiopática. 2.5 CLASSIFICAÇÃO Mory e outros (2002) citam que as crises epilépticas são classificadas de acordo com os critérios propostos pela ILAE em dois grandes grupos: parciais (ou focais) e generalizadas; estas por sua vez, são subdivididas de acordo com as características de semiologia e caracterização eletroencefalográfica. 2.5.1 Crises parciais Conforme Mory e outros (2002), as crises parciais apresentam achados semiológicos e eletroencefalográficos que envolvem uma região especifica do córtex cerebral. As crises parciais são divididas em simples e complexas: nas crises parciais simples o indivíduo é capaz de perceber e interagir com o meio, enquanto 16 que nas crises parciais complexas ocorre comprometimento da consciência (MORY et al, 2002, p. 789). 2.5.2 Crises generalizadas Nas crises generalizadas, as primeiras manifestações clínicas indicam envolvimento de ambos os hemisférios e o padrão eletrográfico durante a crise é bilateral desde o início (MORY et al, 2002, p. 789). Segundo Mory e outros (2002), dentre os diversos tipos de crises que ocorrem nas epilepsias generalizadas, as crises de ausência e as mioclônicas são as mais relevantes no contexto do diagnóstico diferencial entre as síndromes epilépticas em adultos. 2.6 EPILEPSIA E DANO OXIDATIVO Epilepsia é uma doença neurológica crônica, associada continuamente a dano neurológico, particularmente quando descontrolada. O dano oxidativo pode ter um papel na iniciação e progressão da epilepsia e terapias que visam reduzir o estresse oxidativo podem diminuir os danos teciduais e causar uma alteração favorável no quadro clínico (COSTELLO; DELANTY; 2004). Frantseva e outros (2000) relatam que o estresse oxidativo pode ocorrer durante as convulsões e participar da patofisiologia da epilepsia. Tais evidências incluem o aumento da incidência de convulsões devido a traumatismo craniano, hiperoxigenação e hipoxia, condições estas associadas com um grande aumento da produção de EROs, assim como uma variedade de modelos experimentais de epilepsia onde é observado a formação de EROs. Um papel importante das EROs durante as convulsões induzindo morte neuronal, é suportado em parte pela observação de repetidos ataques epilépticos resultando em um aumento da oxidação de macromoléculas celulares e combinadas com propriedades antioxidantes (superóxido dismutase (SOD), vitamina C e melatonina) (PATEL, 2004). Convulsões que levam a morte neuronal envolvendo processos de necrose e apoptose, são fortemente influenciadas pelo funcionamento mitocondrial e estresse oxidativo (PATEL, 2004). 17 Através de modelos de epilepsia experimentais em roedores, tais como o induzido por pentilenetetrazol (PTZ), verificou-se estresse oxidativo no SNC. As principais razões para o desenvolvimento de estresse oxidativo no SNC podem ser a diminuição das defesas antioxidantes e o aumento da formação de EROs. Além disso, o cérebro é rico em ácidos graxos polinsaturados, tornando os neurônios particularmente vulneráveis ao dano oxidativo (PATSOUKIS et al., 2004). O estresse oxidativo é visto como uma conseqüência importante da ativação do receptor de glutamato e excitotoxicidade, tendo um papel crítico no dano do cérebro epiléptico (PATEL, 2004). Agressões à membrana lipídica, incluindo LPO, contribui significantemente para o mau funcionamento da membrana durante a epileptogênese; o aumento da produção de EROs e danos oxidativos a lipídios foram verificados durante convulsões e danos neuronais (RAJASEKARAN, 2005). A Glutationa (GSH), principal tiol não-enzimático dos organismos aeróbicos, é conhecida por participar de diversos processos celulares, também pela ação direta como antioxidante ou substrato em vários mecanismos enzimáticos de defesa antioxidantes. O papel importante da GSH nas convulsões foi verificado através de estudos no qual esse tiol foi administrado para inibir a convulsões induzidas pela PTZ ou pelo aumento dos níveis das convulsões induzido pelo decréscimo nos níveis de GSH no cérebro. Isto é atribuído ao fato de a depleção de GSH no cérebro gerar elevados níveis de EROs (PATSOUKIS et al, 2004). Os receptores GABA, que são os principais alvos de ação das drogas anticonvulsivantes, são altamente sensíveis ao estresse oxidativo. As EROs podem comprometer os receptores GABA, contribuindo para o dano neuronal (RAJASEKARAN, 2005). 2.7 OXIDAÇÃO E ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO Com exceção dos anaeróbios, a maioria dos organismos usa o oxigênio como aceptor terminal de elétrons para oxidar os vários tipos de componentes energéticos metabólicos estocados para que haja a liberação de energia requerida para as atividades biológicas (GARRETT JR; KIRKENDALL, 2003). O oxigênio (O2) representa um paradoxo por ser elemento essencial e, ao mesmo tempo, potencialmente destrutivo para saúde (GHORAYEB; BARROS, 18 2004). Nós somos dependentes do O2 para reações de oxidação durante a geração de trifosfato de adenosina (ATP), desintoxicação e biosíntese. No entanto, quando o O2 aceita um elétron livre, ele se transforma em um radical de oxigênio altamente reativo causando danos celulares em lipídios, proteínas e DNA. Danos causados por radicais de oxigênio reativos contribuem para morte celular e degeneração em uma longa gama de doenças (SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2005.). Os processos de oxiredução são resultados da troca de elétrons entre átomos e moléculas (GHORAYEB; BARROS, 2004). O oxigênio é um elétron que permite que os organismos aeróbicos usem a energia armazenada nos nutrientes, tais como carboidratos, lipídios e proteínas. Isto ocorre devido a processos catabólicos capazes de gerar EROs, tais como superóxido (O2·), radical hidroxil (OH¯ ) e peróxido de hidrogênio (H2O2). Em condições fisiológicas normais, a maioria das EROs são produzidas na cadeia mitocondrial transportadora de elétrons, aproximadamente 95% do consumo de oxigênio do corpo é reduzido a água nas mitocôndrias e 5% a EROs (JI, 1999). Para Koury e Donangelo (2003), as EROs são átomos, íons ou moléculas que contém oxigênio com um elétron não pareado em sua órbita externa. Segundo Ghorayeb e Barros (2004), quando se aumenta a ingestão calórica, a carga de exercício ou se eleva a pressão de oxigênio, o que se faz é aumentar o consumo desse último elemento. Isto ocasiona maior produção de EROs. O constante contato e a reação dos constituintes celulares (incluindo material genético) com as EROs têm sido proposto como o principal mecanismo de envelhecimento do organismo (GARRETT JR; KIRKENDALL, 2003). 2.7.1 Sistema de defesa antioxidante A geração de EROs é um processo normal na vida de organismos aeróbicos. Em condições fisiológicas, estas espécies deletérias são removidas principalmente pelos sistemas antioxidantes celulares, que incluem vitaminas antioxidantes, tiols protéicos e não-protéicos e enzimas antioxidantes (BANERJEE et al, 2003). As EROs são uma séria ameaça ao sistema de defesa antioxidante celular, causando uma diminuição nas reservas de vitaminas antioxidantes e glutationa, aumentando a suscetibilidade tecidual ao dano oxidativo (JI, 1999). 19 Conforme Koury e Donangelo (2003), o sistema de defesa antioxidante do organismo tem como principal função inibir ou reduzir os danos causados às células pelas EROs. As células possuem uma determinada reserva antioxidante, para uma eventual situação de estresse oxidativo, de modo a não ocorrer prejuízos sérios e/ou duradouros em situação fisiológica. Entretanto, pode-se considerar a margem de segurança, conferida pelo sistema antioxidativo, como sendo relativamente baixa (JI, 1999). Nas condições de produção excessiva de EROs ou com mecanismos oxidativos debilitados por inativação ou por deficiência nutricional, extensivos prejuízos celulares podem ocorrer, levando, inclusive, a quadros patogênicos. O resultado do prejuízo pode induzir à maior produção de EROs, resultando assim em uma forma de ciclo vicioso (GARRETT JR; KIRKENDALL, 2003). Conforme Schneider e Oliveira (2004), o sistema antioxidante é constituído por diversas enzimas e elementos antioxidativos não enzimáticos, os quais possuem atividades e concentrações diferentes e estão presentes nos diferentes compartimentos subcelulares. Schneider e Oliveira (2004) citam como principais enzimas antioxidantes a SOD na qual catalisa o processo de dismutação onde o superóxido recebe mais um elétron e dois íons de hidrogênio formando o peróxido de hidrogênio; a catalase (CAT) que desempenha papel importante na eliminação de peróxido de hidrogênio e a glutationa peroxidase (GPx) convertendo a glutationa reduzida à glutationa oxidada, removendo peróxido de hidrogênio e formando água. O sistema não enzimático inclui compostos sintetizados pelo organismo humano como bilirrubina, ceruloplasmina, hormônios sexuais, melatonina, coenzima Q, acido úrico e outros, ingeridos através da dieta regular ou via suplementação como acido ascórbico (vitamina C), -tocoferol (vitamina E), -caroteno (precursor de vitamina A) e grupos fenóis de plantas (flavonóides) (SCHNEIDER; OLIVEIRA, 2004). O perfeito equilíbrio entre as enzimas antioxidantes é importante para a manutenção da integridade celular. 20 Figura 3 – Metabolismo oxidativo normal Fonte: Smith, Marks e Lieberman, 2005. 2.7.2 Estresse oxidativo Para Koury e Donangelo (2003), o estresse oxidativo é desencadeado devido ao desequilíbrio entre a liberação de EROs e a capacidade de ação dos sistemas de defesa antioxidante. Para Schneider e Oliveira (2004), o termo é utilizado em circunstâncias nas quais o “desafio” por EROs resulta em dano tecidual ou na produção de compostos tóxicos ou danosos ao tecido. Ocorre um desequilíbrio entre os sistemas prooxidantes e antioxidantes, de maneira que os primeiros sejam predominantes, ocasionando a oxidação de estruturas celulares importantes como membranas, proteínas e DNA, causando disfunção celular e, portanto, tecidual. A geração de EROs durante o metabolismo é um processo normal e necessário. Isto é compensado por um elaborado sistema antioxidante endógeno. No entanto, devido ao ambiente, ao estilo de vida e a situações patológicas que resultam no excesso de EROs acumulados, causando estresse oxidativo. O estresse 21 oxidativo está relacionado com doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças crônicas (WILLCOX; ASH; CATIGNANI, 2004). Schneider e Oliveira (2004), Powers (2000), McArdle e outros (1998) dizem que um dos principais mecanismos de lesão é a LPO, ou seja, a oxidação da camada lipídica da membrana celular e em conseqüência disfunção cerebral, já que os tecidos do sistema nervoso são especialmente suscetíveis, em virtude de seu alto conteúdo lipídico. Vários são os mecanismos que podem levar ao estresse oxidativo: oxigênio, atividade física, alimentos, tabagismo, álcool, radiação, ativação de macrófagos, infecção, inflamação, trauma, queimaduras, metais tóxicos, drogas, isquemia-reperfusão, transplante (GHORAYEB; BARROS, 2004). Figura 4 – Estresse oxidativo Fonte: Smith, Marks e Lieberman, 2005. 2.8 ATIVIDADE FÍSICA 2.8.1 Definição O exercício para Powers (2000), é movimento corporal produzido pela contração do músculo esquelético e que substancialmente incrementa o gasto 22 energético. Hoffman e Harris (2002) afirmam que essa definição limita o exercício a comportamentos voluntários e propositais (contração músculo esquelética ao contrário dos músculos voluntários). De acordo com Hoffman e Harris (2002, p. 22) “o exercício é um movimento intencional voluntário realizado para alcançar um objeto identificável”. De acordo com esta definição, simplesmente mover o corpo não constitui exercício. Excluindo todos os reflexos involuntários e todos os movimentos fisiológicos como o peristaltismo, a deglutição ou o movimento dos olhos e também os movimentos voluntários que não são realizados com objetivo intencional. Para Robergs e Roberts (2002), o termo exercício pode ser usado para indicar a atividade que é realizada com o objetivo de melhorar, manter ou expressar um tipo específico de aptidão física. 2.8.2 Atividade física e estresse oxidativo A atividade física é conhecida por promover saúde e bem-estar. O exercício também é responsável por aumentar a produção de EROs pelo acréscimo do consumo de oxigênio mitocondrial nos tecidos. O desequilíbrio entre a produção de EROs e as defesas oxidantes dos tecidos pode provocar danos oxidativos a proteínas, lipídios e DNA (AGUIAR JR., PINHO; 2007). Existe uma forte evidência de que o exercício árduo, bem como aquele em que o indivíduo não está habituado, pode acarretar um desequilíbrio entre as espécies reativas de oxigênio EROs e as defesas antioxidantes de maneira que favoreça as primeiras. Esse distúrbio pode ser agravado por desordens fisiológicas, antes e depois dos exercícios, tais como fadiga, dor muscular, ruptura miofibrilar, e problemas associados à função imune (GARRETT JR; KIRKENDALL, 2003). A premissa de que o exercício físico estimula a produção de EROs está baseada no conhecimento de que o consumo de O2 tecidual encontra-se elevado, proporcionalmente ao trabalho físico realizado (GARRETT JR; KIRKENDALL, 2003). A magnitude da melhora do sistema antioxidante depende das cargas de treinamento. Quanto mais alto o VO2máx, mais alta a atividade da enzima antioxidante GPx nos eritrócitos, protegendo o organismo do dano à membrana celular (SCHNEIDER; OLIVEIRA, 2004). 23 Atletas em condições de sobrecarga de treinamento apresentavam maiores índices de LPO, avaliada pelo nível de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), CK-MB e mioglobina plasmáticos, marcadores de lesão muscular, além da queda da relação GSH:GSSG, indicando claramente que esta sobrecarga compromete os mecanismos de defesa antioxidantes relacionados à resposta induzida pelo exercício (SCHNEIDER; OLIVEIRA, 2004). Os tecidos afetados pelos treinamentos intensos estão sob grande “desafio oxidativo”. O aumento na energia demandada, acompanhado pelo aumento na taxa metabólica oxidativa, significa um grande fluxo de oxigênio pelas mitocôndrias, promovendo uma alta exposição tecidual às EROs. O treinamento pode diminuir os estoques de antioxidantes não-enzimáticos, tais como vitamina E e GSH, caso a ingestão não esteja em equilíbrio com a demanda (GARRETT JR; KIRKENDALL, 2003). Uma série aguda de exercícios pode aumentar a atividade de algumas enzimas antioxidantes sem nova síntese protéica. Esta atividade de proteção é limitada a características enzimáticas individuais e o tecido envolvido. Como estratégia a longo prazo, as células podem aumentar a síntese protéica de enzimas antioxidantes para controlar o estresse oxidativo (AGUIAR JR., PINHO; 2007). Foi demonstrado que o exercício intenso não altera as atividades das enzimas SOD e GPx no hipocampo, estriado e córtex pré-frontal 24 horas após o exercício (AGUIAR JR., PINHO; 2007). Quando ácidos graxos polinsaturados nas biomembranas são atacados por EROs na presença de oxigênio molecular, levando a formação de uma cadeia de reações de peroxidação. Bioprodutos da peroxidação lípidica são os marcadores mais estudados da lesão tissular durante o exercício. Assim como as modificações oxidativas causadas às proteínas (incluindo enzimas) e ácidos nucléicos (AGUIAR JR., PINHO; 2007). De acordo com Aguiar Jr. e Pinho (2007), os efeitos agudos do exercício sobre enzimas antioxidantes do cérebro também não mostraram diferenças na atividade da SOD na medula espinal e hipotálamo, cerebelo, córtex cerebral e hipocampo. O acréscimo da atividade de enzimas antioxidantes no cérebro como resposta ao exercício físico regular está mais provavelmente ligado ao excesso de formação de radicais livres. 24 As EROs e danos associados são um dos possíveis fatores na regulação da função cerebral. A atividade da enzima SOD elevou no tronco cerebral e estriado de ratos após treinamento de corrida em esteira, acompanhada de acréscimo na concentração de GSH no córtex e tronco cerebral (AGUIAR JR., PINHO; 2007). 2.9 MEMÓRIA Memória é a retenção da informação aprendida. Aprendemos e lembramos de muitas coisas e é importante notar que essas várias coisas podem não ser processadas e armazenadas pela mesma maquinaria neural. Não existe uma estrutura ou mecanismo cerebral que, sozinhos, sejam encarregados de todo o aprendizado. Além disto, a forma como determinado tipo de informação é armazenado pode mudar com o tempo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). Memória difere da aprendizagem, pois aprendizagem é apenas o processo de aquisição das informações (LENT, 2004). 2.9.1 Tipos de memória A memória pode ser classificada quanto ao tempo de retenção em: memória ultra-rápida, cuja retenção não dura mais que alguns segundos; a memória de curta duração, que dura alguns minutos ou horas e serve para proporcionar a continuidade do nosso sentido presente e por último a memória de longa duração, que estabelece engramas duradouros (dias,semanas e até mesmo anos) (LENT, 2004). A memória pode também ser classificada, quanto a sua natureza: memória explicita ou declarativa, memória implícita ou não declarativa e memória operacional (LENT, 2004). A memória explicita envolve tudo aquilo que podemos evocar por meio de palavras. Pode ser episódica, quando envolve eventos relacionados ao tempo; ou semântica, quando envolve conceitos atemporais (LENT, 2004). As principais estruturas nervosas responsáveis pelas memórias episódicas e semânticas são duas áreas intercomunicadas do lobo temporal: o hipocampo e o córtex entorrinal. Ambas trabalham associadas entre si e em comunicação com 25 outras regiões do córtex, como o córtex cingulado e o córtex parietal (IZQUIERDO, 2002). A memória implícita é aquela que não precisa ser descrita com palavras. Pode ser de quatro subtipos: a memória de representação perceptual, que corresponde à imagem de um evento, preliminar à compreensão do que ele significa. Outro subtipo é a memória de procedimentos, que trata dos hábitos e habilidades e das regras em geral. Dois subtipos importantes são a memória associativa e a memória não associativa, ambas relacionadas fortemente a algum tipo de resposta ou comportamento, por exemplo, quando começamos a salivar bem antes que a comida chegue à nossa boca (LENT, 2004). O terceiro tipo é a memória operacional, através do qual armazenamos temporariamente informações que serão úteis apenas para o raciocínio imediato e a resolução de problemas, ou para a elaboração de comportamentos, podendo ser descartadas logo a seguir (LENT, 2004). 2.9.2 Amnésia O esquecimento é uma propriedade normal da memória. Provavelmente desempenha papel muito importante como mecanismo de prevenção de sobrecarga nos sistemas cerebrais dedicados à memorização e tem ainda a virtude de permitir a filtragem dos aspectos mais relevantes ou importantes de cada evento. Mas há casos em que o esquecimento é patológico, para mais ou para menos. Chama-se amnésia quando o indivíduo apresenta esquecimento demais. Denomina-se hipermnésia quando ocorre o oposto, exacerbada capacidade de retenção que impede a separação entre aspectos relevantes e irrelevantes dos eventos (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003). Concussão, alcoolismo crônico, encefalite, tumor cerebral e acidente vascular encefálico são condições que podem causar prejuízos à memória. Após trauma cerebral, a perda de memória pode manifestar-se de duas formas: amnésia retrógrada e amnésia anterógrada. A amnésia retrógrada é caracterizada por perda de memória para eventos anteriores ao trauma. Já a amnésia anterógrada é a inabilidade de formar novas memórias após um trauma cerebral (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). 26 2.9.3 Lobos temporais e seu papel na memória Consideráveis evidências apontam para os lobos temporais como sendo particularmente importante para o registro de eventos passados. Os lobos temporais contêm o neocórtex temporal, que pode ser um sítio de armazenamento da memória de longa duração. Dentro do lobo temporal também se encontra o hipocampo e outras estruturas que são críticas para a formação das memórias declarativas (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). Um papel importante dos lobos temporais mediais relaciona-se com o processamento ou consolidação de memória declarativa. Pesquisas com hipocampos de rato sugerem, entretanto, que essa estrutura esteja envolvida em funções relacionadas à memória para uma diversidade de tarefas (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002). 2.9.4 Condicionamento clássico e operante Denominamos condicionamento clássico o fato de o estímulo poder causar uma resposta. Enquanto denominamos condicionamento operante o fato de que a resposta se deve a um estímulo antes associado a outro estímulo. A resposta é feita por associação sendo, portanto, associativa. Este tipo de condicionamento foi feito por Ivan Pavlov, premio Nobel em Medicina de 1904 (KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003). 27 3 DELINEAMENTO DA PESQUISA A pesquisa realizada foi classificada com relação ao nível, como uma pesquisa explicativa. A pesquisa explicativa tem como preocupação fundamental identificar fatores que contribuem ou agem como causa para a ocorrência de determinados fenômenos. É o tipo de pesquisa em que se explica as razões ou os porquês das coisas (HEERDT; LEONEL, 2005, p. 70). Com relação ao procedimento utilizado na coleta de dados, foi classificada como pesquisa experimental. Para Rudio (1999 apud HEERDT; LEONEL, 2005, p. 80): A pesquisa experimental está interessada em verificar a relação de casualidade que se estabelece entre as variáveis, isto é, em saber a variável X (independente) determina a variável Y (independente). Para isto, cria-se uma situação de controle rigoroso neutralizando todas as influências alheias que Y pode sofrer. Na presente pesquisa, buscou-se verificar os efeitos da variável independente (atividade física) sobre a dependente (estresse oxidativo). 3.1 ANIMAIS Constituíram a amostra 28 camundongos da raça Mus Muscarinus, do Biotério da UNISUL, com 6 semanas de idade, todos machos. Separados aleatoriamente em 4 grupos, de 7 camundongos cada: sham, epilepsia, sham e exercício e epilepsia e exercício. Os animais foram mantidos com ciclo claro/escuro de 12/12h a 22 °C, com água e comida ad libitum. 3.2 PROCEDIMENTOS Este projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da UNISUL, em 19/04/2007, registro no CEP (código): 07.014.4.08.III. Os animais foram induzidos à epilepsia através de uma criolesão em seu lobo temporal, no seu 1° dia de vida. Os filhotes foram anestesiados através de hipotermia, sendo imersos no gelo até não responderem a estímulos nocivos, tal como um forte estresse de compressão na cauda. Seus crânios foram expostos e uma caneta especial (criada pelos acadêmicos) a uma temperatura de -50°C foi 28 colocada no local exposto por 3-7s. A caneta tem uma forma circular com 2-3 mm de diâmetro. O escalpo foi suturado, os filhotes aquecidos e colocados de volta nas gaiolas (JACOBS; HWANG; PRINCE, 1999) O treinamento teve a duração de 8 semanas com acesso livre às rodas de correr. Fotografia 1 – Roda de correr utilizada no treino dos camundongos Fonte: Elaboração do autor, 2007. Após 48 horas passadas da última sessão de treinamento, os camundongos foram sacrificados e tiveram seu hipocampo, córtex temporal e sóleo dissecados para posterior análise. O nível de estresse oxidativo foi mensurado através da comparação entre os níveis encontrados, pela dissecação do hipocampo e sóleo, de Carbonil, TBARS, atividade da cintrato sintase e proteínas entre o grupo controle e os grupos induzidos à epilepsia. Campo aberto - Para avaliarmos possíveis alterações motoras induzidas pelos diferentes tratamentos utilizados, os animais foram testados durante 5 min no campo aberto. O aparato de madeira e fórmica é formado por um chão de cor preta (30 x 30 cm), dividido em 9 quadrantes de 10 x 10 cm, com paredes transparentes de 15 cm de altura. Durante os experimentos, cada camundongo foi colocado no centro do campo aberto, sendo que um sistema de câmera de vídeo captou as imagens, registrando o número de quadrantes cruzados e o número de atos de levantar (PREDIGER; BATISTA; TAKAHASHI, 2005 e PREDIGER; DE-MELLO; TAKAHASHI, 2006). 29 Discriminação olfatória - Foi realizado seguindo o protocolo previamente descrito por Prediger, Batista e Takahashi (2005) e Prediger, De-Mello e Takahashi (2006). O teste consistiu em isolar os animais 72 horas antes do início dos experimentos em caixas individuais (42 x 34 x 17 cm) para que houvesse uma padronização da impregnação do odor. A caixa de discriminação olfatória consiste em dois compartimentos idênticos (30 x 30 x 20 cm) separados por uma abertura que permite o acesso dos animais aos dois compartimentos. O chão de um dos compartimentos foi forrado com a serragem retirada da gaiola na qual o camundongo ficou isolado por 72 horas, enquanto que o outro compartimento foi forrado com serragem limpa e inodora. O experimento consistiu em colocar o animal na caixa de discriminação olfatória e registrar, durante um período de 5 minutos, o tempo de investigação em cada compartimento. A discriminação olfatória foi avaliada pela preferência do animal ao compartimento impregnado com o seu cheiro (compartimento familiar) em relação ao compartimento inodoro (não-familiar), visto que nesta situação tem sido demonstrado que roedores adultos preferem ambientes impregnados com seu próprio cheiro. Nível de TBARS - Os níveis de Espécies Reativas ao Ácido Tiobarbitúrico (TBARS) foram mensurados pelo método de Draper e Hadley (1990) e expressos em equivalentes de malonaldeído (MDA). 1ml de ácido tricloroacético 10% e 1ml de ácido tiobarbitúrico 0,67% foi acrescido às amostras e posteriormente aquecidos em banho maria por 15 min. Os níveis de TBARS foram determinados pela leitura da absorbância a 535nm e os resultados em nmol MDA/mg proteína. Nível de Carbonil - O conteúdo de carbonilação de proteínas foi determinado de acordo com o método de Levine et al (1990), pela formação de derivados da proteína hidrazona utilizando 2,4-dinitrofenilhidrazida (DNPH). Estes derivados foram extraídos sequencialmente com ácido tricloroacético 10% seguido de tratamento com etanol/etilacetato (volume 1:1) e re-extração com ácido tricloroacético 10%. O precipitado resultante foi dissolvido em uréia 6M. A diferença entre as leituras do espectro a 370nm de 2,4-DNPH (branco) foi utilizada para calcular o nmol de 2,4-DNPH incorporado por mg de proteína. Atividade da Citrato Sintase - A atividade da CS do músculo sóleo foi realizada através do método de Alp et al (1976). O tecido foi homogeneizado em gelo em 100 mM de Tris-HCl, e adicionado a 100 mM de Tris-HCl, 1.0 mM ditio-bis (2- ácido nitrobenzóico), e de 3.9 mM acetil coenzima A. Após a adição de 1.0 mM 30 de oxalacetato, foi registrada a absorbância a 412nm por um período de 2 min. A absorbância média alterada por minuto foi registrada para cada amostra e a atividade da CS em mmol.min/g calculada utilizando um coeficiente de extinção de 13.600. Os dados foram descritos em média±erro padrão médio e analisados estatisticamente pela análise de variância (ANOVA) two-way, seguido pelo teste post hoc Tukey. O nível de significância estabelecido para o teste estatístico é de p<0,05. Foi utilizado o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 12.0 como pacote estatístico. No estudo piloto, realizado pelo autor com os camundongos, foram feitos somente os grupos sham, que tiveram os crânios expostos, mas a caneta não estava na temperatura de -50 °C para causar a criolesão. 31 4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO 4.1 ATIVIDADE DA CITRATO SINTASE O gráfico 1 apresenta os níveis de atividade da enzima citrato sintase no músculo sóleo, nos grupos sham, sham exercício, epilepsia e epilepsia exercício. O grupo sham apresentou 0,42048±0,05236U CS/mg proteína, o grupo sham exercício 0,71±0,06U CS/mg proteína, o grupo epilepsia 0,28±0,04U CS/mg proteína e o grupo epilepsia mais exercício 0,59±0,07U CS/mg proteína. Verificou-se que 8 semanas de exercício foram suficientes para treinar os camundongos (p<0,05). Gráfico 1 – Atividade da enzima citrato sintase aumentada nos grupos que realizaram exercício. *p<0,05 do grupo sham. #p<0,05 do grupo epilepsia. ‡p<0,05 do grupo sham exercício. Fonte: Elaboração do autor, 2007. Segundo Evangelista, Brum e Krieger (2003), um aumento da atividade muscular oxidativa concomitante com um aumento da capacidade de trabalho aeróbico é um dos marcadores da adaptação do músculo ao condicionamento aeróbico. Evangelista, Brum e Krieger (2003) e Röckl e outros (2007) verificaram que a atividade da citrato está elevada no músculo sóleo dos camundongos treinados. 4.2 CAMPO ABERTO O gráfico 2 apresenta o teste de campo aberto, nos grupos sham, sham exercício, epilepsia e epilepsia exercício. Quanto ao item cruzamentos, o grupo 32 sham apresentou 118±22,6 cruzamentos, o grupo sham exercício 133,6±32,4, o grupo epilepsia 130±34,4 e o grupo epilepsia mais exercício 119,2±25,9. Já com relação ao item levantamentos, o grupo sham apresentou 49,6±6,9 levantamentos, o grupo sham exercício 41,8±4,9, o grupo epilepsia 38,7±3,8 e o grupo epilepsia mais exercício 45,2±5,4. Não existiu diferença estatística entre os grupos, verificando que a epilepsia não leva a déficits motores (p<0,05). Gráfico 2 – Teste de campo aberto, não mostrando diferença significativa entre os grupos. *p<0,05 do grupo sham. #p<0,05 do grupo epilepsia. ‡p<0,05 do grupo sham exercício. Fonte: Elaboração do autor, 2007. 4.3 DISCRIMINAÇÃO OLFATÓRIA O gráfico 3 apresenta o teste de discriminação olfatória, nos grupos sham, sham exercício, epilepsia e epilepsia exercício. O grupo sham ficou 39,4±3,3s no ambiente novo, o grupo sham exercício 41±10,8s, o grupo epilepsia 60,1±5,9s e o grupo epilepsia mais exercício 40,3±8,7s. Existiu diferença estatística no desempenho ao teste de discriminação olfatória nos grupos sham vs. epilepsia e epilepsia vs. eplipesia mais exercício (p<0,05). Estes resultados demonstram que a epilepsia causa prejuízos à memória olfativa dos animais e que 8 semanas de exercício foram suficientes para reverter os mesmos. 33 Gráfico 3 – Teste de discriminação olfatória mostrando que a epilepsia causa prejuízos significativos a memória olfativa dos animais e que 8 semanas de exercício foram suficientes para reverter os mesmos. *p<0,05 do grupo sham. #p<0,05 do grupo epilepsia. ‡p<0,05 do grupo sham exercício. Fonte: Elaboração do autor, 2007. Isto é bem postulado na literatura, já que Aguiar Jr. e Pinho (2007) descreveram que exercícios moderados aumentam a cognição, sendo que recentemente foi demonstrado que o cérebro é responsivo à atividade física. Isso quer dizer que a atividade física apresenta potencial na prevenção e tratamento de danos traumáticos cerebrais assim como em doenças neurodegenerativas. Estudos apóiam que muitas dessas mudanças ocorrem em áreas específicas de funções cerebrais importantes como a memória de longo termo e prevenção do declínio cognitivo durante o envelhecimento. Radák e outros (2001) verificaram que 9 semanas de natação regular aumentaram a capacidade de aprendizagem e memória dos animais. Praag e outros (1999) observaram que a atividade física regula a neurogênese hipocampal, plasticidade sináptica e aprendizagem. Radák e outros (2001) relataram que o exercício físico através de diferentes meios, incluindo a indução do fator de crescimento de fibroblastos, atividades das enzimas antioxidantes ou aumento concomitante na secreção de catecolaminas, podem levar a uma melhora da função cognitiva. Radák e outros (2006) citaram que processos adaptativos ao exercício produzem efeitos benéficos na função cerebral, incluindo aprendizagem e memória. O exercício físico mantém a integridade cerebrovascular, aumenta a capilarização, as conexões dendríticas e melhora a eficiência no processamento de funções no sistema nervoso central. 34 De acordo com Navarro e outros (2004) os resultados negativos nos testes de função cognitiva, associados a indicadores de TBARS e às atividades mitocondriais no cérebro, indicam uma correlação entre estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e diminuição da cognição. O mesmo autor constatou que o exercício moderado tem um efeito positivo nestes fatores. 4.4 NÍVEIS DE LIPOPEROXIDAÇÃO E CARBONILAÇÃO No gráfico 4 observamos os níveis de LPO nos grupos sham, sham exercício, epilepsia e epilepsia exercício. O grupo sham apresentou 0,3±0,07nmol MDA/mg proteína, o grupo sham exercício 0,2±0,05nmol MDA/mg proteína, o grupo epilepsia 0,52±0,14nmol MDA/mg proteína e o grupo epilepsia mais exercício 0,37±0,05nmol MDA/mg proteína. Existiu diferença estatística nos níveis de LPO nos grupos sham vs. epilepsia, sham exercício vs. epilepsia exercício e epilepsia vs. eplipesia mais exercício (p<0,05). Estes resultados demonstram que a epilepsia eleva os níveis de LPO no cérebro de camundongos e que 8 semanas de exercício causa um decréscimo significativo nestes níveis, mas sem conseguir voltar a normalidade. O gráfico 5 mostra os níveis de carbonilação nos grupos sham, sham exercício, epilepsia 0,00660±0,00108mMol 0,00449±0,00073mMol e epilepsia exercício. carbonil/mg carbonil/mg proteína, No grupo no proteína, grupo no sham sham grupo verificou-se exercício epilepsia 0,01024±0,00433mMol carbonil/mg proteína e no grupo epilepsia exercício 0,00503±0,00037mMol carbonil/mg proteína. Houve diferença estatística nos níveis de carbonilação no grupo epilepsia vs. eplipesia mais exercício (p<0,05). Observou-se que 8 semanas de exercício diminui os níveis de carbonilação induzidos pela epilepsia. Exercícios físicos aumentam a geração de EROs, causando adaptações, podendo diminuir a incidência de EROs associada a doenças. Uma única série de exercício, dependendo da intensidade e da duração, pode causar aumento da atividade de enzimas antioxidantes, diminuição dos níveis de tióis e vitaminas antioxidantes, resultando em dano oxidativo como um sinal de uma adaptação incompleta. Aumento nos níveis de EROs e dano oxidativo são iniciadores de respostas adaptativas específicas, tais como a estimulação da ativação de enzimas 35 antioxidantes, tióis, aumentando o reparo dos danos oxidativos (AGUIAR et al, 2007). Exercícios regulares têm a capacidade de desenvolver compensações para o estresse oxidativo, resultando em supercompensação contra o aumento dos níveis de produção de EROs e dano oxidativo. Exercícios regulares causam adaptações aos sistemas antioxidantes e de reparo, que pode resultar em decréscimo dos níveis de danos oxidativos e aumento da resistência ao estresse oxidativo (BANERJEE et al, 2003). O estresse oxidativo certamente possui um papel importante na adaptação fisiológica à atividade física. Exercícios de intensidade moderada (menos de 50-60% da capacidade aeróbica ou da máxima tensão muscular) causam pequeno estresse sem causar dano oxidativo. Treinos regulares e uma dieta balanceada são mecanismos de defesa contra o estresse oxidativo excessivo (APOR; RADI, 2006). Dishman e outros (2006) citam que a atividade física voluntária crônica também aumenta as respostas neurais ao estresse nos circuitos cerebrais responsáveis pela regulação da atividade simpática periférica, podendo possivelmente contribuir para a redução de desordens clínicas como hipertensão, ataque cardíaco, estresse oxidativo e diminuição da imunidade. Gráfico 4 – Níveis de LPO elevados no grupo epilepsia e diminuídos após 8 semanas de exercício, mas sem conseguir voltar a normalidade. *p<0,05 do grupo sham. #p<0,05 do grupo epilepsia. ‡p<0,05 do grupo sham exercício. Fonte: Elaboração do autor, 2007. Existem várias evidências demonstrando dano oxidativo induzido pela epilepsia. Gluck (2000), em seu estudo, verificou que após 4 horas da indução à epilepsia, o nível de carbonilação estava elevado em 103, 55, 52 e 32% no córtex, 36 hipocampo, gânglia basal e cerebelo, respectivamente. O nível de LPO estava aumentado em 30-45% em todas as áreas. Após 24h, níveis elevados de oxidação de proteínas e lipídios persistiam no hipocampo e no cerebelo. Rajasekaran (2005) e Frantseva e outros (2000) relatam que convulsões resultam em um aumento significante no hipocampo nos níveis de peroxidação lipídica e na atividade da SOD, junto com um significante decréscimo da atividade da GPx. Freitas e outros (2005) relatam que depois da indução do estado epiléptico, verificou-se aumento significante de 77% na peroxidação de lipídios, mas um decréscimo de 55% no nível de GSH. A atividade da CAT aumentou 88%, mas a atividade da SOD permaneceu inalterada. Esses resultados mostram evidências de dano neurológico no hipocampo, devido ao decréscimo da concentração de GSH e aumento da peroxidação de lipídios e nitratos. As atividades da GSH e da CAT estão envolvidas com mecanismos responsáveis pela eliminação de espécies reativas de oxigênio durante o estabelecimento do estado epilético no hipocampo. A GSH e a CAT trabalham como mecanismos antioxidantes no hipocampo durante o estado epilético. Gráfico 5 – Níveis de carbonilação diminuídos no grupo epilepsia exercício quando comparados ao grupo epilepsia. *p<0,05 do grupo sham. #p<0,05 do grupo epilepsia. ‡p<0,05 do grupo sham exercício. Fonte: Elaboração do autor, 2007. Os resultados encontrados corroboram aos achados da literatura, pois Radák e outros (2001) verificaram que 9 semanas de natação regular diminuíram a acumulação de derivados de carbonil reativos no cérebro de ratos e esse decréscimo é acompanhado de melhora da função neuronal. Radák e outros (2006) 37 constataram que ocorre um decréscimo nas EROs no cérebro de ratos após treinamento e esse efeito benéfico não é eliminado com o destreinamento. A atividade muscular é dependente da estimulação nervosa. Ativações repetidas das células nervosas podem levar a uma melhora da função neurológica. Inatividade forçada e/ou voluntária do sistema muscular ou nervoso pode causar sérias conseqüências. Oito horas de imobilização resultam em um aumento dos níveis de derivados de carbonil reativos, TBARS no cérebro de ratos (RADÁK et al, 2001). Navarro e outros (2004) verificaram que o exercício moderado em camundongos, tanto machos quanto fêmeas, preveniu em 43±14%, o aumento dos níveis de derivados de carbonil reativos e de TBARS (p<0,05). O exercício moderado decresce significativamente o estresse oxidativo, prevenindo o aumento de derivados de carbonil reativos e de TBARS nas membranas submitocondriais e a diminuição da atividade das enzimas antioxidantes (Mn- e Cu, Zn-SOD e CAT) no cérebro de camundongos (NAVARRO et al, 2004). 38 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Comprovou-se que a atividade física diminuiu o dano oxidativo no cérebro gerado pela epilepsia e reverteu os prejuízos causados pela epilepsia à memória olfativa dos camundongos. Assim, demonstrou-se que o exercício pode ser uma das estratégias terapêuticas que atuam no processo neurodegenerativo gerado pela epilepsia. 39 REFERÊNCIAS AGUIAR JR., A. S.; PINHO, R. A. Efeitos do exercício físico sobre o estado redox cerebral. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 2007 “in press”. AGUIAR JR., A. S. et al. Intense Exercise Induces Mitochondrial Dysfunction in Mice Brain. Neurochemical research, v. 6, jul. 2007. ALP, P. R.; NEWSHOLME, E. A.; ZAMMIT, V. A. Activities of Citrate Synthase and NAD+-Linked and NADP+-Linked Isocitrate Dehydrogenase in Muscle from Vertebrates and Invertebrates. The Biochemical journal, n. 154, p. 689-700, 1976. APOR, P.; RADI, A. Physical exercise, oxidative stress and damage. Orvosi Hetilap, v. 147, n. 22, p. 1025-1031, jun. 2006. ARIDA, R. M. et al. Effect of physical exercise on seizure occurrence in a model of temporal lobe epilepsy in rats. Epilepsy Research, v. 37, p. 45-52, 1999. BANERJEE, A. K. et al. Oxidant, antioxidant and physical exercise. Molecular and Cellular Biochemistry, v. 253, n. 1-2, p. 307-312, nov. 2003. BARBOSA-COUTINHO, L. M. et al. Neuropatologia das epilepsias de difícil controle: estudo de 300 casos consecutivos. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 57, n. 2-B, p. 405-414, 1999. BEAR, M. F.; CONNORS, B W.; PARADISO, M A.. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. BORER, K. T. Physical activity in the prevention and amelioration of osteoporosis in women: interaction of mechanical, hormonal and dietary factors. Sports medicine, Auckland, v. 35, n. 9, p. 779-830, 2005. BORGES, M. A. et al. Prevalência da epilepsia entre índios Bakairi do estado do Mato Grosso, Brasil. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 8085, 2001. COSTELLO, D. J.; DELANTY, N. Oxidative injury in epilepsy: potential for antioxidant therapy?. Expert review of neurotherapeutics, v. 4, n. 3, p. 541-553, mai. 2004. DE BACKER, I. C. et al. High-intensity strength training improves quality of life in cancer survivors. Acta Onconlogica, Stockholm, v. 30, p. 1-9, mai. 2007. DISHMAN, R. K. Neurobiology of exercise. Obesity, v. 14, n. 3, p. 345-356, mar. 2006. DRAPER, H. H.; HADLEY, M. Malondialdehyde determination as index of lipid peroxidation. Methods in enzymology, n. 186, p. 421-431, 1990. 40 EVANGELISTA, F.S.; BRUM, P.C.; KRIEGER, J.E.. Duration-controlled swimming exercise training induces cardiac hypertrophy in mice. Brazilian journal of medical and biological research, Ribeirão Preto, v. 36, n. 12, 2003. FRANTSEVA, M. V. et al. Oxidative stress is involved in seizure-induced neurodegeneration in the kindling model of epilepsy. Neuroscience, v. 97, n. 3, p. 431-435, 2000. FREITAS, R. M. et al. Oxidative stress in the hippocampus after pilocarpine-induced status epilepticus in Wistar rats. The FEBS journal, v. 272, n. 6, p. 1307-1312, mar. 2005. GARRETT JR, W. E.; KIRKENDALL, D. T. A ciência do exercício e dos esportes. São Paulo: Artmed, 2003. GHORAYEB, N.; BARROS, T. L. de. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu, 2004. GLUCK, M. R. CNS oxidative stress associated with the kainic acid rodent model of experimental epilepsy. Epilepsy Research, v. 39, p. 63-71, 2000. GUERREIRO, Carlos A. M.. História do surgimento e desenvolvimento das drogas antiepilépticas. Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology, Porto Alegre, v. 12, n. 1, 2006. HEERDT, M. L; LEONEL, V. Metodologia da pesquisa: disciplina na modalidade a distância. 2. ed. Palhoça: UnisulVirtual, 2005. HOFFMAN, S. J.; HARRIS, J. C. Cinesiologia: o estudo da atividade física. Porto Alegre: Artmed, 2002. HU, G. et al. Epidemiological studies of exercise in diabetes prevention. Applied physiology, nutrition, and metabolism, v. 3, n. 32, p. 583-593, jun. 2007. IZQUIERDO, I. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002. JACOBS, K. M.; HWANG, B. J.; PRINCE, D. A.. Focal epileptogenesis in a rat model of polymicrogyria. Journal of neurophysiology, United States, v. 81, n. 1, p. 159173, jan. 1999. JI, L. L. Antioxidants and oxidative stress in exercise. Proceedings of the Society for Experimental Biology and Medicine, New York, v. 222, n. 3, p. 283-292, dez. 1999. KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M.. Princípios da neurociência. Barueri: Manole, 2003. KOURY, J. C.; DONANGELO, C. M. Zinco, estresse oxidativo e atividade física. Revista de Nutrição, Campinas, v. 16, n. 4, p. 433-441, out./dez. 2003. 41 LEEUWENBURGH, C.; HEINECKE, J. W. Oxidative stress and antioxidants in exercise. Current Medical Chemistry, v. 8, p. 829-838, 2001. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. Ed. rev. e ampl. São Paulo: Atheneu, 2004. LEVINE, R. L. et al. Determination of carbonyl content in oxidatively modified proteins. Methods in enzymology, n. 186, p. 464-478, 1990. MARKAND, O. N. Pearls, perils, and pitfalls in the use of the electroencephalogram. Seminars in Neurology, v. 32, n. 1, p. 7-46, 2003. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. MORY, S. B. et al. Epilepsias generalizadas idiopáticas diagnosticadas incorretamente como epilepsias parciais. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 60, n. 3-B, p. 788-796, 2002. NAVARRO, A. et al. Beneficial effects of moderate exercise on mice aging: survival, behavior, oxidative stress, and mitochondrial electron transfer. American journal of physiology. Regulatory, integrative and comparative physiology, v. 286, n. 3, p. 505-511, mar. 2004. PATEL, M. Mitochondrial dysfunction and oxidative stress: cause and consequence of epileptic seizures. Free Radical Biology & Medicine, v. 1, p. 1951-1962, 2004. PATSOUKIS, N. et al. Thiol redos state (TRS) and oxidative stress in the mouse hippocampus after pentilenetetrazol-induced epileptic seizure. Neuroscience Letters, v. 357, p. 83-86, 2004. PLAISANCE, E. P. et al. Cardiovascular fitness and vascular inflammatory markers after acute aerobic exercise. International journal of sport nutrition and exercise metabolism, v. 2, n.17, p. 152-162, abr. 2007. POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole, 2000. PRAAG, H. V. et al. Running enhances neurogenesis, learning, and long-term potentiation in mice. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 96, n. 23, p. 13427-13431, nov. 1999. PREDIGER, R. D.; BATISTA, L. C.; TAKAHASHI, R. N.. Caffeine reverses agerelated deficits in olfactory discrimination and social recognition memory in rats. Involvement of adenosine A1 and A2A receptors. Neurobiology of aging, United States, v. 26, n. 6, p. 957-964, jun. 2005. PREDIGER, R. D.; DE-MELLO, N.; TAKAHASHI, R. N.. Pilocarpine improves olfactory discrimination and social recognition memory deficits in 24 month-old rats. 42 European journal of pharmacology, Netherlands, v. 531, n. 1-3, p. 176-182, fev. 2006. RADÁK, Z. et al. Regular exercise improves cognitive function and decreases oxidative damage in rat brain. Neurochemistry International, v. 38, p. 17-23, 2001. ________. The effects of training and detraining on memory, neurotrophins and oxidative stress markers in rat brain. Neurochemistry International, 2006. RAJASEKARAN, K. Seizure-induced oxidative stress in rat brain regions: blockade by nNOS inhibition. Pharmacology, Biochemistry and Behavior, v. 80, p. 263-278, 2005. RIGATTI, M.; TREVISOL-BITTENCOURT, P. C. Causas de epilepsia tardia em uma clínica de epilepsia do estado de Santa Catarina. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 57, n. 3-B, p. 787-792, 1999. ROBERGS, R. A.; ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte, 2002. RÖCKL, K. S. et al. Skeletal muscle adaptation to exercise training: AMP-activated protein kinase mediates muscle fiber type shift. Diabetes, v. 56, n. 8, p. 2062-2069, ago. 2007. SCHNEIDER, C. D.; OLIVEIRA, A. R. Radicais livres de oxigênio e exercício: mecanismos de formação e adaptação ao treinamento físico. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v. 10, n. 4, jul./ago. 2004. SMITH, C.M.; MARKS, A.; LIEBERMAN, M.A. Marks' Basic Medical Biochemistry: A Clinical Approach. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 2005. WILLCOX, J. K.; ASH, S. L.; CATIGNANI, G. L. Antioxidants and prevention of chronic disease. Critical reviews in food science and nutrition, v. 44, n. 4, p. 275295, 2004.