Sumário e Objectivos Sumário: Introdução à Teoria da Plasticidade. Ensaio de Tracção. Critérios de Cedência. Regra de Encruamento. Lei de Escoamento. Objectivos da Aula: Apreensão de Alguns Conceitos Fundamentais Associados à Teoria da Plasticidade. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 1 Compressão de uma Placa Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 2 Modelos de Comportamento Uniaxial Comportamento linear elástico Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 3 Modelos de Comportamento Uniaxial Comportamento rígido-perfeitamente plástico atrito Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 4 Modelos de Comportamento Uniaxial Comportamento rígido-plástico com encruamento linear atrito Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 5 Modelos de Comportamento Uniaxial Comportamento elástico-perfeitamente plástico atrito Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 6 Modelos de Comportamento Uniaxial Comportamento elásto-plástico com encruamento linear atrito Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 7 Exemplo de Aplicação As três barras são constituídas do mesmo material, com igual E, A e Pc. Admita-se ainda que, uma vez atingida a tensão de cedência o material pode deformar-se infinitamente mantendo-se contudo o estado de tensão constante. Pretendese determinar qual o valor da carga de rotura da estrutura, Pr, em função de Pc. y 45 L 1 45 2 3 x, 1 P, 2 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 8 Exemplo de Aplicação Esforços normais numa barra Começa-se por fazer um cálculo linear elástico determinando os esforços normais suportados por cada barra. Para o efeito, pode-se recorrer ao método dos deslocamentos, em que numa dada barra i, a uma variação de comprimento cosi, corresponde um esforço normal EiAi/Licosi Lúcia Dinis 2005/2006 EiAi/Licosi EiAi/Licosiseni cosi EiAi/Li (cosi)2 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade Li y i x 9 Exemplo de Aplicação Coeficientes de Rigidez para a Estrutura Considerando os graus de liberdade assinalados na figura inicial, 1 e 2, os coeficientes de rigidez para a estrutura são: 3 K21 Ei Ai cos i sen i K12 i 1 Li 3 K11 Ei Ai cos2 i i 1 Li Lúcia Dinis 2005/2006 3 K22 Ei Ai sen 2 i i 1 Li Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 10 Exemplo de Aplicação Coeficientes de Rigidez para a Estrutura K11 cos 2 45o cos 2 90o cos 2 135o 2 EA EA L L L 2 L 1 2 3 K 21 K12 K 22 sen45o cos 45o sen90o cos90o sen135o cos135o EA 0 L L L 1 2 3 sen 2 45o sen 2 90o sen 2 135o 2 EA EA 1 L L L 2 1 2 3 L Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 11 Sistema de Equações O estabelecimento das equações de equilíbrio segundo os respectivos graus de liberdade permite determinar as componentes do vector deslocamento do nó de aplicação da força exterior, P 2 EA 2 L 0 Lúcia Dinis 2005/2006 0 u 0 u L 1 0 2 EA 1 P 2 v P v 2 1 2 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 12 Esforços Axiais O esforço normal em cada uma das barras pode ser calculado por: Ai Ei Ai Ei Fi cos i u sen i v Li Li Para o conjunto das três barras tem-se: cos 1 L1 F1 cos 2 F2 AE L2 F 3 cos 3 L3 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade sen1 L1 sen 2 u L2 v sen 3 L3 13 Esforços Axiais ou, atendendo à relação entre comprimentos, L2=L e L1=L3= = 2L / 2 F1 AE F 2 L F 3 Lúcia Dinis 2005/2006 2 2 2 2 cos 45 cos 90 cos135 2 2 2 sen45 2 2 0 L sen90 12 2 2 P EA 1 2 P 2 sen135 2 2 2 2 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 14 Barra 2 Atinge a Cedência em 1º Lugar → Os esforços calculados, que apenas são válidos enquanto todas as barras "funcionarem" no domínio linear elástico, permitem concluir que a barra 2 é a que suporta um maior esforço normal, pelo que, num processo de carregamento incremental será a primeira a atingir a carga correspondente à tensão de cedência. A carga P (P) que leva a que a primeira barra da estrutura (barra 2) a Pc atingir a carga de cedência: F2 =Pc = 2 - 2 P P = O deslocamento vertical é: Lúcia Dinis 2005/2006 v = 2- 2 Pc L L L × P2 = × 12 × = Pc EA 1+ 2 EA 1+ 2 2 - 2 EA Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 15 Carga de Rotura Pc F1 F3 P (Pr) A carga de rotura é atingida quando os esforços normais F1 e F3 igualarem a carga de cedência, Pc. A equação de equilíbrio vertical permite escrever: v F i 0 Pc F1 cos45 F3 cos45 P 0 Fazendo coincidir F1=F3Pc e PPr, resulta: Pr 1 2 cos 45 Pc 1 2 Pc Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 16 Cálculo dos Deslocamentos Para forças exteriores em que se verifique P [P,Pr[, o cálculo dos deslocamentos nodais faz-se de modo semelhante, mas considerando apenas as duas barras que se y encontram em regime elástico. 45 L 45 1 3 Pc x, 1 P[P,Pr[, 2 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 17 Cálculo dos Deslocamentos As componentes do vector deslocamento do nó de aplicação da força tomam os seguintes valores: 2 EA 2 L 0 0 0 u u L 2 0 P P P P v v EA 2 2 c c 2 Pelo que, para uma força exterior de, P Pr (1 2)Pc , o deslocamento vertical segundo o grau de liberdade 2 toma o valor: vr 2Pc L / EA . Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 18 Gráfico Carga-Deslocamento P Pc 1 2 1 1 2 1 Lúcia Dinis 2005/2006 2 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade LPc/EA v 19 Observações Experimentais: O Ensaio de Tracção Gráfico TensãoDeformação de uma liga metálica P B tensão limite elástico A tensão limite proporcionalidade O Lúcia Dinis 2005/2006 p e Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 20 Gráfico tensão-deformação de um aço de baixo teor em carbono Devido à dificuldade existente em distinguir no ensaio todos estes parâmetros, normalmente apenas se refere a tensão de cedência como a tensão necessária para provocar uma deformação plástica de 0,2%. limite superior da tensão de cedência patamar de cedência O Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 21 Histerese e Encruamento Na fase de deformação plástica, isto é, quando o nível de carregamento corresponde a um valor para a tensão superior à tensão de cedência, o incremento de deformação plástica é acompanhado de um incremento de tensão, e diz-se que houve um encruamento do material. Regra geral, a curva tensão-deformação de descarregamento pós deformação plástica (AA do gráfico seguinte) não é exactamente linear e paralela à porção elástica inicial da curva. No carregamento seguinte (curva AA) observa-se que a curva não coincide com a curva de descarga, retomando a curva inicial em A. Este fenómeno é conhecido por histerese não sendo considerado no modelo descrito no presente texto Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 22 Histerese e Encruamento A A Gráfico tensão-deformação com descarregamento e carregamento O Lúcia Dinis 2005/2006 A Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 23 Efeito de Bauschinger D T Tensão de Cedência à Tracção Y0 C Tensão de Cedência à Compressão Y0 T Y0 T C Y0 Y0 p O G C Y0 p Lúcia Dinis 2005/2006 A dependência da tensão de cedência com o sentido de carregamento é conhecida como Efeito de Bauschinger D Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 24 Efeito do Tempo P A P B O C Lúcia Dinis 2005/2006 A Na Fig. representa-se um gráfico tensão-deformação com duas curvas obtidas em dois ensaios de tracção realizados a velocidades diferentes. A curva dinâmica OP é obtida num ensaio realizado com uma velocidade de deformação superior à velocidade aplicada no ensaio referente à curva quase estática OP. Conclui-se assim, que a velocidade de deformação com que se realiza o ensaio de tracção conduz a diferentes curvas tensãodeformação. Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 25 Efeito do Tempo p O Lúcia Dinis 2005/2006 Outra observação importante que se verifica nestes testes, é que, realizando-se o ensaio a uma taxa de deformação finita, e portanto numa situação dinâmica, se se parar no ponto A, verifica-se que o estado de deformação tende, com o tempo, para o ponto A, mantendo-se contudo o mesmo nível de tensão. Quando o ponto A é atingido a velocidade de deformação é aproximadamente nula, isto é, entre o ponto A e o ponto A a velocidade de deformação sofreu uma variação, cuja lei pode seguir a curva do gráfico da Fig. t Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 26 Efeito do Tempo Em certos metais, a dependência da deformação plástica com a velocidade de deformação pode ser razoavelmente quantificada por r [24] , em que o expoente r depende da deformação plástica e da temperatura. No quadro seguinte apresentam-se vários valores de r para um ensaio de compressão realizado à temperatura ambiente [21]. Metal Valores de r para as seguintes reduções em altura 10% 30% 50% Alumínio 0,013 0,018 0,020 Cobre 0,001 0,002 0,010 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 27 Efeito da Pressão, Humidade e Temperatura O expoente r, definido anteriormente, de modo a quantificar a dependência da deformação plástica com a velocidade de deformação é ainda função da temperatura, como se mostra no quadro seguinte [21]. Metal Alumínio Cobre Aço Lúcia Dinis 2005/2006 Temperatura (ºC) Valores de r para as seguintes reduções em altura 10% 30% 50% 18 0,013 0,018 0,020 350 0,055 0,073 0,088 550 0,130 0,141 0,155 18 0,001 0,002 0,010 450 0,001 0,008 0,031 900 0,134 0,154 0,190 930 0,088 0,094 0,105 1200 0,116 0,141 0,196 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 28 Definição de Fluência A B B O Lúcia Dinis 2005/2006 Considere-se a curva tensão-extensão representada no gráfico da Fig. em que, quando se atinge o ponto A da curva localizado na região plástica, a carga é mantida constante. Observa-se que a deformação aumenta de A para B e o seu valor depende do tempo de permanência da tensão constante. Quanto maior for o tempo de permanência da tensão constante, maior será o alongamento verificado. O fenómeno acabado de descrever é conhecido por fluência (creep) [22] e para certos materiais pode até ser verificado à temperatura ambiente. Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 29 Curvas de Fluência c curva de fluência para elevada temperatura e tensão fluência terciária fluência secundária fluência primária curva de fluência a baixa temperatura e tensão O Lúcia Dinis 2005/2006 t Considerando a extensão de fluência c ( ) como a extensão total menos a inicial (em que se aplicou a tensão), obtém-se tipicamente para os metais uma das curvas representadas na Fig. [24]. Na curva de fluência típica (a traço interrompido) é possível distinguir três estágios correspondentes a: fluência primária, secundária e terciária. Para baixas temperaturas e tensões apenas é visível o estagio de fluência primário, verificando-se um valor limite. Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 30 Lei da Potência em Fluência Para elevadas temperaturas e tensões a fluência primária mostra uma dependência logarítmica ou potencial de acordo com uma das c seguintes leis [24]: c ln(t ) t em que toma valores entre 0 e 1, designando-se por lei de fluência de Andrade para =1/3. Segundo Nadai [29], a fluência descrita pela lei da potência pode ser obtida a c partir duma fórmula que relaciona a tensão, a deformação de fluência ( ) e a c velocidade de deformação de fluência ( ): c n c r C em que C, n e r dependem da temperatura Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 31 Lei de Bailey-Norton A fluência terciária é normalmente considerada como resultante de modificações ao nível estrutural acompanhada de perda de resistência e, eventualmente, de rotura. Segundo Lubliner [24], para um metal submetido a elevadas temperaturas e tensões pode-se considerar como característica desse metal a taxa de fluência mínima. Por outro lado, a dependência dessa taxa de fluência mínima, para uma dada temperatura, pode ser aproximada por uma lei exponencial para um elevado estado de tensão, ou, para um estado de tensão reduzido, por uma função potencial do tipo: c min q Esta relação é normalmente conhecida pela lei de BaileyNorton [24], verificando-se que a expressão de Nadai descreve esta mesma lei tomando n=0 e r=1/q. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 32 Deformação de Fluência em função do Tempo Uma aproximação utilizada para o cálculo da deformação de fluência como função do tempo e para uma dada temperatura é a seguinte: c c c t 0 mint c c em que min é a velocidade de fluência mínima, e 0 é um valor fictício definido pela intercepção da recta tangente à curva de fluência num ponto pertencente à zona em que a taxa de fluência é estacionária. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 33 Modelo de Bingham Para muitos materiais e a diferentes temperaturas, a deformação inelástica é insignificante quando o nível de tensão é inferior à tensão de cedência. Um modelo simples que descreve este efeito é o modelo de Bingham: Y0 0, Y0 1 , Y0 em que representa a viscosidade do metal e representa o estado de tensão instalado. Deve-se ainda observar que o modelo de Bingham acabado de descrever representa de facto o modelo mais simples apresentado pela teoria da viscoplasticidade. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 34 Dependência da Tensão de Cedência com a Temperatura T Os trabalhos experimentais demonstraram que nos ensaios de tracção realizados a temperaturas superiores à temperatura ambiente se obtêm valores diferentes, quer para as constantes elásticas, quer para as propriedades de resistência, dos obtidos à temperatura ambiente. Por exemplo, os aços ao carbono revelam um aumento da resistência à tracção para temperaturas até 300ºC a partir da qual a resistência à tracção desce cerca de 50% até temperaturas da ordem de 500 a 600ºC. De um modo geral, para os metais, verifica-se um decréscimo da tensão de cedência com o aumento da temperatura [6] Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 35 Combinação de Efeitos Para os metais, a tensão de escoamento é simplesmente a tensão de cedência para o estado uniaxial de tensão, expresso como uma função da temperatura, do estado de deformação, da velocidade de deformação e da microestrutura. Genericamente, também é referida como a tensão efectiva ou tensão equivalente representando um estado triaxial de tensões. Assim, pode-se escrever: f ( , ,T , ) em que , é a tensão efectiva, é a deformação efectiva, é a velocidade de deformação efectiva, T é a temperatura e, reflecte a estrutura metalúrgica do material Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 36 Função de Sellars-Tegart Existem de facto algumas expressões cujo objectivo é determinar a influência que cada um dos termos atrás referidos provoca no valor da tensão de cedência. Uma das funções, baseada na equação de Arrhenius [24], foi proposta por Sellars-Tegart [23][37], permitindo analisar a influência da temperatura e da taxa de deformação em simultâneo: Z exp Q R T 273 em que Z é o parâmetro de Zener-Hollomon, Q representa uma energia de activação do escoamento plástico, normalmente independente da temperatura e em muitos casos independente do estado de deformação, R é a constante de Boltzmann (8,314 J/molºK) e T é a temperatura em ºC. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 37 Relação Tensão Efectiva Deformação efectiva e velocidade de Deformação Outra função para a tensão de cedência e que, contrariamente à de Sellars-Tegart, tem em consideração o estado de deformação, através da deformação efectiva , é a seguinte [37][38]: K K K K f0 T em que K f0 é um coeficiente que depende do metal, tomando por exemplo para o aço inoxidável valores compreendidos entre 153 e 303, enquanto os restantes parâmetros são funções com a seguinte forma: KT A1 exp m1T K A2 m2 K A3 m3 Lúcia Dinis 2005/2006 Os parâmetros Ai e mi diferem de acordo com o tipo de metal. Por exemplo, para o aço inoxidável tomam os seguintes valores [17]: A1 17,07 m1 0,00284 A2 1,647 m2 0, 217 A3 0,789 m3 0,104 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 38 Relação de ALSPEN Existem ainda outras expressões que tentam combinar os vários efeitos que os diferentes parâmetros possam provocar nas características de resistência, e que foram estabelecidas para um determinado tipo de metais, como por exemplo a expressão de ALSPEN, que é adequada para as ligas de alumínio [12]: c 0 0.001 m n em que 0 é uma função dependente da deformação efectiva, e os coeficientes c, m e n são funções não lineares dependentes da temperatura. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 39 Carregamento-Descarregamento Y f () Y p Y0 p p p Lúcia Dinis 2005/2006 O comportamento elasto-plástico é caracterizado por uma resposta do material, inicialmente elástica e, a partir de um determinado nível de tensão, por um comportamento essencialmente plástico. O comportamento plástico do material é geralmente acompanhado por uma invariância do seu volume a) Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 40 Modelos Elastoperfeitamente Plástico e elasto-plástico com endurecimento. Y0 Y0 p Y f ( p ) Y p Y0 p p p p p b) Lúcia Dinis 2005/2006 p c) p Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 41 Modelo Unidimensional Na Fig. mostra-se o modelo reológico unidimensional. Aplica-se uma força (tensão ), que provoca um alongamento do modelo (l), cujo resultado pode ser aferido pela extensão causada l l0 que comporta uma componente elástica e, uma componente plástica: e p E Y0 p (1 e ) L1 p Lúcia Dinis 2005/2006 atrito (1 p ) L2 p Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 42 Relação Tensão Deformação O comportamento do material, isto é, a extensão causada pelo carregamento é elástica até um determinado ponto, denominado limite elástico (e a tensão que o provoca: tensão limite elástico ou tensão de cedência - Y0 ), após o qual, o material apresenta deformação plástica. No modelo da figura, o comportamento linear elástico é caracterizado pela constante elástica da mola E traduzindo-se matematicamente pela expressão: E e E p A deformação plástica inicia-se quando a tensão aplicada atinge o valor da tensão de cedência ( Y0 ). O modo como se estabelece esse valor da tensão aplicada, de modo a compará-lo com a tensão de cedência, denomina-se critério de cedência. Na modelo considerado, a tensão de cedência corresponde ao atrito entre as placas. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 43 Variação da Tensão de Cedência Atingida a tensão de cedência, este valor pode, ou não, manter-se constante com o aumento de deformação. Se esse valor não depender do aumento da extensão plástica, diz-se que o material tem um comportamento perfeitamente plástico. Se, pelo contrário, o valor da tensão de cedência, aumentar com o crescimento da extensão plástica, diz-se que o material está a sofrer um encruamento. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 44 Tensor das Deformações Começa-se por considerar formulações elasto-plásticas considerando pequenas deformações. De acordo com a teoria da elasticidade para as pequenas deformações, tem-se o Tensor das Deformações definido do seguinte modo ε u s ij 1 2 1 2 u u T u i, j u j ,i em que u é o gradiente dos deslocamentos, e s u a sua parte simétrica. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 45 Lei da decomposição Multiplicativa 2 1 X 1 p 2 u X u 2 3X p 3 F1,1 p p Lúcia Dinis 2005/2006 X u p F1,1 X 1 X 1u X 2 X u 1 X 2 u X 1 X 1u 1u 1 1X 1X 1X 2 X 2 X u u 1 2X 2X 2X 3 X F1,1 1X 3 F1,1 F1,1 F1,1 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade X 3X 3X X X 1 2 1X 2 46 Decomposição Aditiva Extensão Total 1 X 1 p 2 2 2 3 X p Lúcia Dinis 2005/2006 u u p X 1 X 2u X 1 1X X p X 3 3 u X 1 X 1u X 1 1X X 2 X u 1X 1X p 2 X 1 X 3 X 2 X 3 X 1 X 2u 1X 1X 1X 1X Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 47 Gradiente de Deformação e Tensor das Deformações Fazendo coincidir a primeira fase com o domínio elástico, vindo a segunda fase a ocorrer no domínio plástico, ter-se-á formalmente para o Tensor das Deformações , e para o gradiente de deformação, F F FF e p Fi, j Fi,ej Fjp,i Lúcia Dinis 2005/2006 ε εe ε p ij e ij Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade p ij 48 Comportamento Elasto-plástico Numa formulação elasto-plástica envolvendo pequenas deformações, decompoe-se o Tensor das Deformações numa componente elástica e, numa componente plástica, pelo que se torna conveniente estabelecer modelos matemáticos, que traduzam os fenómenos físicos da elasticidade e da plasticidade, separadamente. O comportamento elástico é descrito pela teoria da elasticidade, importando agora definir o modelo matemático para a componente plástica das deformações. Com esse objectivo, três aspectos devem ser considerados: i) Um critério de cedência indicando o nível de tensão, em termos do tensor das tensões, de modo a analisar-se o início da plastificação; ii)Uma lei de encruamento, descrevendo, se e como, o critério de cedência depende do grau de deformação plástica, depois de se iniciar a plastificação; iii)Uma regra de escoamento, definindo a relação entre tensão e deformação pós-plastificação, comportando a deformação total, as componentes elástica e plástica. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 49 Funções de Cedência O aparecimento do comportamento plástico é condicionado por um critério de cedência, que na sua forma mais geral, pode ser formulado do seguinte modo F σ, α 0 em que ´ indica um conjunto de variáveis de endurecimento e é o tensor das tensões. Para um material isotrópico, em que a cedência plástica dependa unicamente da grandeza das tensões principais, e nunca das suas orientações no espaço das tensões, a função escalar F torna-se apenas dependente de um valor escalar, conhecido por parâmetro de encruamento –. F σ, f σ Y 0 em que f () é a função de cedência Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 50 Espaço de Westergaard A função de cedência pode tomar várias formas analíticas com representação geométrica no espaço distintas. Tratando-se de uma função de tensão pode assumir-se como espaço para a respectiva representação geométrica, o espaço de tensões de Westergaard [3], em que três eixos mutuamente ortogonais são coincidentes com as direcções principais de tensão Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 51 Considere-se um ponto material com um estado de tensão representado pelo ponto P e resultante de um incremento traduzido pelo vector OP . Este vector é decomposto num vector com a direcção OO ( OP ), que coincide com o eixo em que as três tensões principais tomam o mesmo valor, e num outro cuja linha de acção se encontra sobre o plano normal a OO ( OP ). No caso de se admitir que a pressão hidrostática não tem qualquer efeito na cedência do material, esta dependerá somente da intensidade, direcção e sentido do vector OP , ou seja, das tensões de desvio Admitindo que a função de cedência é independente do referencial escolhido então possível expressá-la em função dos três invariantes das tensões: ndim ,é I1 tr σ ii I2 I3 1 2 1 3 Lúcia Dinis 2005/2006 tr σ 2 tr σ 3 1 2 ij ji 1 3 ij jk ki Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 52 Invariantes das Tensões de Desvio Com base em observações experimentais, é possível concluir que a deformação plástica, ou seja, a função de cedência dos metais, não depende da pressão hidrostática, p Consequentemente, a partir da definição das tensões de desvio s dev σ σ 13 tr σ I2 sij ij 13 kk ij a função de cedência apenas depende do segundo e terceiro invariantes das tensões de desvio: J2 1 2 tr s 2 1 2 sij s ji J3 1 3 tr s3 1 3 sij s jk ski Com base nestes dois invariantes é possível estabelecer um outro, cuja interpretação geométrica se verá adiante 3 3 J3 1 1 sen ; 3 3 2 J2 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade π π , 6 6 53 Projecção de duas superfícies de cedência no plano do desviador. 3 Outra forma de representação geométrica da superfície de cedência é através das projecções ortogonais dos eixos das tensões no plano normal a OO. 1 2 Na figura encontram-se representadas duas superfícies de cedência: uma corresponde, no espaço das tensões principais, a um cilindro; outra, no mesmo espaço, corresponde a um prisma. O plano de corte dos objectos geométricos, e que coincide com o plano do papel designa-se plano do desviador. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 54 Função de Cedência Atendendo a F σ, f σ Y 0 pode-se concluir que, se num determinado ponto de um corpo material deformável, se verificar a inequação f (σ ) Y ( ) , o corpo nesse ponto apresentará um comportamento elástico Se, por outro lado, se verificar a igualdade f (σ) Y ( ) , o comportamento será plástico. Atingido este estado, o comportamento subsequente desse ponto material, será T condicionado pela variação de f relativamente a σ , f df d em que f é um vector normal à superfície de cedência Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 55 Condição de ortogonalidade no espaço das tensões 1-2 f df d T Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 56 Condição de ortogonalidade no espaço das tensões 1-2 De um modo sucinto, pode-se concluir o seguinte: Se df < 0, indica que se está perante uma situação de descarregamento elástico. O estado de tensão situa-se no interior da superfície de cedência, retomando o material, um comportamento elástico; Se df = 0, indica que o estado de tensão atingiu a superfície de cedência, o que corresponde a um regime plástico, se o material apresentar comportamento perfeitamente plástico ( constante); Se df > 0, indica que o estado de tensão se mantém sobre a superfície de cedência, não se mantendo esta constante. É o que acontece no comportamento dum material com encruamento. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 57 Critério da Tensão Principal Máxima F σ, 1 Y Ou em termos dos invariantes I1 2 F σ, J 2 sen 23 π Y 3 3 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 58 Critério de Tresca Este critério, postulado por Tresca em 1864 , baseado em resultados experimentais, admite por hipótese, que a deformação plástica num ponto material, ocorre sempre que a tensão tangencial máxima atinge um determinado valor limite. 1 2 Y Y 1 3 Y Y 2 3 Y Y em que Y() é uma função característica do material obtida com base no ensaio de tracção uniaxial, e que depende da deformação plástica. F σ, 1 3 Y para 1 2 3 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 59 Representação gráfica das superfícies de cedência de Tresca e von Mises Graficamente, as expressões anteriores definem, no espaço das tensões principais, um prisma hexagonal regular e infinitamente longo, cujo eixo é perpendicular ao plano do desviador, , representado pela equação 1 2 3 0 Função de Tresca em Termos dos Invariantes F σ, 2cos J 2 Y Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 60 Critério de Mohr-Coulomb Pirâmide Hexagonal O critério de Mohr-Coulomb é utilizado para representar o comportamento dos materiais granulosos dotados de atrito interno, tendo-se no entanto verificado que estes materiais atingem em geral um estado de cedência plástica à tracção antes de se ter atingido a superfície de Mohr-Coulomb. F σ, 1 1 1 3 c cos 1 3 sen 2 2 Com o objectivo de ter em conta estes resultados, Prandtl propôs em 1921 uma superfície de cedência obtida a partir da de Mohr por substituição do vértice da pirâmide por uma superfície parabólica, conhecida por superfície de cedência de Mohr-Prandtl e que se pode representar matematicamente pela seguinte função: 1 2 1 1 2 F σ, 1 2 c 1 tang 1 3 tang 2 c Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 61 Energia de Deformação Elástica por unidade de Volume Dilatação média m m Deformação de Desvio 1 ii 3 m 3k ij m ij d ij d ij 1 U 0 ij ij 2 ij sij 2 Lúcia Dinis 2005/2006 m 3k sij 2 1 1 1 U 0 ij sij m ij 2 2 3k 1 1 2 U0 sij sij m 12 2k ij U0 1 1 J 2 m2 2 2k Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 62 Critério de Beltrami Beltrami apresentou em 1885 um critério de cedência que estabelece para o início da deformação plástica o estado de tensão que corresponde a um valor crítico da energia de deformação elástica por unidade de volume Este valor crítico pode ser obtido para uma estado de tensão uniaxial, resultante do ensaio de tracção: U 0 critico Y2 Y2 6 18k 1 1 J 2 m2 U 0 critico 2 2k 1 1 1 2 1 2 F σ , J 2 m Y ou 2 2k 6 18k F σ, No espaço de Westergaard esta condição de cedência representa-se por uma superfície elíptica com simetria circular em relação ao eixo hidrostático. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 63 Critério de von Mises Von Mises formulou um critério de cedência em 1913, sugerindo que a cedência ocorre quando o segundo invariante das tensões de desvio atinge um valor crítico: J2 1 2 0 em que( ), dependente do parâmetro de endurecimento () é o raio da superfície de cedência. = 3J 2 = 3 2 s :s = 3 2 sij sij - Y =0 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 64 Representação das projecções das superfícies de Tresca e de von Mises. 3 von Mises (J2=constante) 1 Lúcia Dinis 2005/2006 Tresca (máx=constante) 2 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 65 Interpretação do Critério de von Mises Existem duas interpretações físicas possíveis para o critério de von Mises. Uma, dada por Nadai (em 1937), que introduziu o conceito de tensão de corte octaédrica, oct = 2 3 J 2, que é a tensão de corte nos planos do octaedro regular, cujos vértices coincidem com os eixos principais de inércia. Outra interpretação, dada por Hencky (em 1924), mostra que a cedência ocorre quando a energia elástica de distorção atinge um valor crítico. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 66 Critério de Drucker-Prager (cone de revolução) Ainda para aplicação ao comportamento de materiais granulosos dotados de atrito interno existe uma outra função de cedência utilizada com alguma frequência e que corresponde à superfície de cedência de Drucker-Prager cuja expressão matemática é a seguinte F 3 m J 2 k 0 em que os coeficientes e k são constantes do material e que dependem do ângulo de atrito interno () e da coesão (c): 6c cos 2 sen k 3 3 sen 3 3 sen Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 67 Critério de Green Para materiais com fendas interiores ou materiais porosos, Green apresentou uma superfície de cedência que é função do coeficiente de porosidade do material 2 2 32 4 2 3 F 2 ln m 3 3 J 2 Y 31 em que é o coeficiente de porosidade sendo definido do seguinte modo volume de vazios volume total Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 68 Regra de Encruamento A regra do encruamento estabelece as condições para que um novo escoamento plástico possa ocorrer, depois de se ter atingido o estado plástico do material. Esta situação verifica-se em virtude da superfície de cedência poder sofrer contínuas alterações à medida que se dá o escoamento plástico Na expressão F σ, α 0 introduziu-se um conjunto de variáveis de endurecimento contidas num vector, α . Basicamente, existem dois tipos de aproximações para a dependência de qualquer variável interna de endurecimento i α , (1 i nendurecimento ) Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 69 Variáveis de Encruamento i) Se uma variável de endurecimento é assumida como dependente da deformação plástica efectiva, isto é, i = i( p ) , diz-se que ocorre deformação com encruamento, em que a deformação plástica efectiva, p , é definida do seguinte modo p 2 3 εp :εp 2 3 ijp ijp Esta deformação plástica efectiva «reflecte a história» do processo de deformação plástica, na medida em que estabelece que o endurecimento é determinado por cada parcela infinitesimal de deformação plástica, e não simplesmente pelo seu estado inicial e final: Lúcia Dinis 2005/2006 p d d dt dt 0 t p p Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade ijp 2 3 d d p ij p 12 ij 0 70 Variáveis de Encruamento ii) A segunda possibilidade designa-se por endurecimento energético, e relaciona a variável de endurecimento com o trabalho plástico total, i = i (W p ) , em que p ijp 0 0 W p σ : dε p ij d ijp Segundo Nayak e Zienckiewicz para o caso dos materiais em que seja possível aplicar o critério de von Mises, os dois modelos de endurecimento descritos são equivalentes, ou seja, as curvas obtidas no ensaio de tracção conduzem ao mesmo nível de encruamento. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 71 Modelos de Encruamento (I) Se a superfície de cedência subsequente, provocada pelo incremento de deformação plástica, é exclusivamente uma expansão uniforme da superfície de cedência precedente, o modelo de encruamento é designado de isotrópico Encruamento isotrópico para o caso bidimensional Lúcia Dinis 2005/2006 Superfície de cedência corrente Superfície de cedência inicial Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 72 Modelos de Encruamento (II) Se a superfície de cedência subsequente, mantiver a mesma forma, mas simplesmente for transladada no espaço das tensões como um corpo rígido, o tipo de encruamento diz-se cinemático Encruamento Cinemático para o caso Bidimensional Este modo de encruamento, apresentado inicialmente por Prager, surgiu com o objectivo de modelar um fenómeno bem visível experimentalmente, o efeito de Bauschinger, muito corrente em materiais sujeitos a regimes de carregamento cíclico Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 73 Modelos de Encruamento (III) Endurecimento distorcional, em que se admite a expansão, a translação e a rotação da superfície de cedência, ou inclusive a mudança de forma Encruamento Distorcional para o caso Bidimensional Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 74 Variáveis no Encruamento Isotrópico e cinemático Com o objectivo de modelar matematicamente os dois primeiros modos de encruamento, admite-se que a escolha das variáveis de endurecimento no vector α , pode ser a seguinte: T α , σ p b p em que, o valor escalar da deformação plástica efectiva p é suficiente para a definição de qualquer tipo de endurecimento isotrópico, enquanto que o tensor, σ b , usualmente conhecido por tensor das tensões de recuperação é necessário para a descrição do endurecimento cinemático. A tensão de recuperação observa-se graficamente pela translação no espaço das tensões do centro da superfície de cedência, tendo portanto a mesma dimensão do tensor das tensões. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 75 Função de Cedência Encruamento Isotrópico e Cinemático F σ, α f σ σ b p Y Encruamento Isotropico p 0 Y Y0 h p d Y H p em que, H é a derivada da função geral h, relativamente a p . p d Y Y0 H H 0 1 exp n p Y Y0 H p Encruamento Cinemático dσb Lúcia Dinis 2005/2006 2 K 3 p d p F σ k com σ k σ σb Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 76 Curva tensão-deformação de um ensaio de tracção uniaxial Tendo em atenção novamente o ensaio de tracção, mostra-se na Fig. uma curva típica de um ensaio de tracção dum provete metálico A curva resulta das medidas de 1e 1 , em que o índice 1 indica a direcção para a primeira direcção principal d ET d p d Y0 E Lúcia Dinis 2005/2006 d e Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 77 Ensaio de Tracção No ensaio de tracção tem-se, por hipótese, 1 0 e 2 3 0 , vindo a tensão média m ii 3 1 3 . As tensões de desvio segundo as direcções principais são: s1 23 1; s2 s3 13 1 Utilizando o critério de von Mises e por conseguinte, substituindo estas tensões de desvio na expressão para o cálculo da tensão efectiva 3 2 s1 s1 s2 s2 s3 s3 1 De modo análogo para a deformação plástica efectiva, em que se assume a incompressibilidade do material (=0,5), e consequentemente, as outras duas deformações plásticas principais são 2p 3p -0,51p , resultando: p Lúcia Dinis 2005/2006 2 3 2p 2p 3p 3p 1p p p 1 1 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 78 Ensaio de Tracção Então, para que a expressão que relaciona - p , seja válida para 1 -1p , pode-se relacionar facilmente 1 com 1p , e assumir essa relação como válida para o caso geral - p , isto é H p d 1 d d p d 1p A tangente local à curva tensão-deformação, ET , calcula-se a partir da curvatura obtida no d 1 d ensaio: ET = d d 1 O módulo de encruamento pode-se obter, em função desta tangente, do seguinte modo: d 1 H Lúcia Dinis 2005/2006 p dd 1 p 1 d 1 e d 1 d 1 d 1 ET ET d 1 E 1 ET E d 1e 1 1 d 1 ET d 1 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 79 Teorias do Escoamento Plástico No estudo do comportamento dos materiais em regime plástico existem duas formulações em que se baseiam as relações constitutivas: - admite a influência da trajectória de carregamento e portanto relaciona o tensor das tensões aos incrementos de deformação plástica; Teoria incremental - relaciona o tensor das tensões com o tensor das extensões. A primeira formulação (teoria incremental) serve de base à denominada teoria do escoamento plástico, enquanto que a segunda (teoria da deformação total) suporta a teoria da deformação plástica. De uma forma geral, o estado de deformação plástico depende da trajectória do carregamento, coincidindo ambas as teorias para o caso em que o carregamento apresenta uma trajectória linear. Todavia, a teoria da deformação plástica, embora ignore a influência da trajectória de carregamento, é frequentemente utilizada, pois a sua aplicação simplifica consideravelmente a solução de problemas em plasticidade Teoria da deformação total Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 80 Postulado de Drucker p 0 0 0 0 Ilustração para um modelo uniaxial p 0 processo de encruamento 0 0 Lúcia Dinis 2005/2006 0 p 0 material perfeitamente plástico p 0 processo de amaciamento p 0 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 81 Postulado de Drucker Para um ponto material submetido a um estado de tensão e a um estado de deformação plástico p , o produto p corresponde, em termos dimensionais, à energia por unidade de volume. Considere-se então um estado de tensão uniaxial cujo valor é a que corresponde a deformação plástica p . Admita-se um incremento de carga, que conduz a um incremento de tensão (d), provocando um incremento de deformação d, o qual pode ser decomposto numa componente elástica d e e, numa plástica d p (sendo portanto o incremento total de deformação: d d e d p ). Seguidamente procede-se ao descarregamento desse incremento de carga. O trabalho efectuado pelo incremento de carga vale: e p d d d d d Admita-se agora um processo cíclico de carregamento-descarregamento, partindo-se do mesmo estado inicial de tensão () e deformação plástica ( p ). O trabalho desenvolvido pelo sistema que actua sobre o sólido neste ciclo de carregamento-descarregamento p depende apenas da parcela plástica do incremento de deformação: d d Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 82 Postulado de Drucker Por outro lado, e para os referidos incrementos de tensão e deformação, verifica-se que o trabalho correspondente à parcela elástica do estado de deformação ( d d e ) é sempre positivo, enquanto que o trabalho correspondente à parcela plástica do estado de deformação pode tomar um valor maior ou igual a zero. Desta forma, para o estado de deformação total resulta que: d d 0 . Assim, Drucker definiu que um material é susceptível de encruar com o incremento do estado de deformação plástica se, para um carregamento incremental o trabalho desenvolvido for positivo e, no processo de carregamento–descarregamento o trabalho realizado for não negativo. A definição acabada de descrever é conhecida na literatura como o postulado de Drucker, vindo para um estado geral de tensão/deformação d ij dij 0 d ij dijp 0 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 83 Postulado de Drucker O postulado de Drucker acabado de descrever e em que um incremento de carga provoca um incremento infinitesimal de tensão, também pode ser estendido para um incremento de tensão finito. Em particular, para o caso em que o estado de tensão inicial ( ij* ) se encontra no interior da superfície de cedência e o estado de tensão final ( ij ) está sobre a superfície de cedência. Admitindo então um incremento de carga que conduza o estado de tensão de ij* para o estado de tensão ij e subsequentemente um descarregamento que conduza novamente o estado de tensão para ij* , o postulado de Drucker implica a seguinte relação: Lúcia Dinis 2005/2006 ij * ij d Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade p ij 0 84 Postulado da Dissipação Plástica Máxima Para um estado de Tensão uniaxial pode escrever-se * d p 0 Esta desigualdade representa a propriedade de que a variação de extensão é positiva se o valor do estado de tensão final não for inferior ao estado de tensão inicial elástico. Esta interpretação constitui o postulado da dissipação plástica máxima e que, segundo Lubliner foi proposto independentemente por von Mises em 1928, por Taylor em 1947 e por Hill em 1948. Utilizando uma abordagem em termos do espaço das deformações, temse um postulado análogo devido a Ilyushin. Esta expressão tem importantes consequências na teoria da plasticidade. Considere-se por exemplo, que a superfície de cedência é diferenciável em todos os seus pontos, como ocorre na superfície correspondente ao critério de von Mises. Desta forma, num qualquer ponto pertencente à superfície de cedência é possível definir um plano tangente à superfície e um vector normal a esse plano * d p 0 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 85 Normalidade do vector incremento de deformação d p * Lúcia Dinis 2005/2006 - * Para que o produto interno possa ser válido para um estado de tensão elástico inicial arbitrário, o vector correspondente ao incremento de deformação plástica , deve ser normal ao plano tangente à superfície e com o sentido a apontar para fora da superfície. A descrição acabada de descrever é conhecida como a regra da normalidade Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 86 Convexidade da superfície de cedência No entanto, como se pode verificar na se o estado de tensão inicial se encontrar do outro lado do plano tangente a inequação é violada. Deste modo, toda a região elástica se encontra do mesmo lado do plano tangente, pelo que se pode concluir que a superfície de cedência é convexa. Lúcia Dinis 2005/2006 * d p - * A regra da normalidade, bem como a conclusão acerca da convexidade da superfície de cedência são consideradas propriedades consequentes do postulado da dissipação plástica máxima. Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 87 Potencial Plástico e Regra de Escoamento Na teoria do escoamento plástico relaciona-se incrementos infinitesimais de tensão com incrementos infinitesimais de deformação. O incremento infinitesimal de deformação total dε é igual à soma dos incrementos infinitesimais correspondentes a uma componente elástica dε e e a uma componente plástica dε dεe dε p dij dije dijp Lévy (1871) e mais tarde von Mises (1913) propuseram que o incremento total de extensão se relaciona com o respectivo estado de tensão da seguinte forma: dε d s d d sij em que é um coeficiente de proporcionalidade e que pode eventualmente variar ao longo do processo de deformação plástica. Naturalmente, que a expressão só seria aplicável em materiais cujo processo de deformação não inclua componente elástica (Hill denomina-os de materiais fictícios Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 88 Potencial Plástico e Regra de Escoamento No entanto, admita-se a aplicação de equação anterior a um material cujo processo deformação inclua também componente elástica. Para esta situação suponha-se que à componente elástica do incremento de deformação é aplicável a lei de Hooke e que à restante parte do incremento de deformação (componente plástica) se aplica a expressão anterior. Deste modo, o incremento infinitesimal de extensão total pode então ser calculado por intermédio da seguinte expressão: 1 3 d ij d ije d ijp d ij m d sij ij 1 2 O trabalho de deformação correspondente ao incremento de deformação plástica vem: dW p ij d ijp ij d sij d sij ij m sij d sij sij 2d J 2 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 89 Trabalho de Deformação Plástica dW p ij d ijp ij d sij d sij ij m sij d sij sij 2d J 2 Donde dW p 3dW p d 2J 2 2 2 Tendo em conta d ij d Obtém-se Lúcia Dinis 2005/2006 e ij d p ij 1 3 ij m d sij d ij 2 1 p 1 3 3dW d ij ij m sij d ij 2 1 2 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 90 Admitindo que o incremento de deformação elástica é desprezável, quando comparado com o incremento de deformação total, pode-se calcular o incremento de deformação total do seguinte modo dij d sij d xx d d yy d zz d d Lúcia Dinis 2005/2006 xx 12 yy zz yy 12 zz xx zz 12 xx yy d xy 3 d xy 2 d xz 3 d xz 2 d yz Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 3 d yz 2 91 A lei do escoamento plástico pode ser obtida por uma outra via, em que se considera que o incremento de deformação plástica deriva de uma função potencial. Entende-se por função do potencial plástico Q(σ ) a função escalar do tensor das tensões a partir da qual os incrementos de deformação plástica podem ser determinados por derivação parcial em ordem às componentes do tensor das tensões dQ d ε d σ p d ijp d Q ij em que o escalar d, é uma constante de proporcionalidade maior que zero, denominado multiplicador plástico. Do mesmo modo, como se fez na validação do incremento da tensão de recuperação, assume-se também aqui uma lei da plasticidade associativa, isto é, a função de cedência coincide com o potencial plástico, Q F . Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 92 Lei Associativa e Lei não Associativa Note-se que, para outros materiais, como por exemplo, em solos, a aplicação de regras de escoamento plástico fazendo uso da lei não associativa em simulações numéricas, conduz a resultados mais realistas. Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 93 Plasticidade Anisotrópica Em processos tecnológicos relacionados com a conformação em chapa, considere-se a direcção de rolamento (RD) e a direcção transversal à direcção de rolamento, ou simplesmente direcção transversal (TD). As propriedades Mecânicas podem ser distintas. Rolo RD TD 1 3 2 Direcções de Anisotropia Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 94 Critério de Hill Tensão Equivalente F 2 3 G 1 3 H 1 2 2 2 2 em que F,G, e H são constantes do material que caracterizam a anisotropia Para um estado uniaxial de tensão, correspondente ao ensaio de tracção, a direcção da tensão coincide com a direcção principal 1 (sendo o estado de tensão representado por 1 0 , 2 3 0 ), obtendo-se: F 0 0 G 0 H 0 G H 2 2 2 2 Igualando a expressão inicial ao segundo membro da segunda obtém-se a tensão equivalente para o critério de cedência de Hill (em função das tensões principais) 2 Lúcia Dinis 2005/2006 F G H 2 2 2 2 3 1 3 1 2 GH GH GH Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 95 Incremento de Deformação Plástica Fazendo uso da lei associativa, tomando portanto para potencial plástico a própria função de cedência e utilizando a expressão anterior para a regra de escoamento, obtém-se para os incrementos de deformação plástica (segundo as três direcções principais): d 2p d d 3p d d1p d 2 3 1 Resultando para uma estrutura tipo casca e tomando d G 1 H 1 2 posteriormente 3 0 d p 1 d 2p Lúcia Dinis 2005/2006 d F 2 H 2 1 GH GH d G 1 F 2 d GH p 3 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 96 Provetes para ensaios Experimentais Os valores associados às constantes do material F,G, e H terão que ser determinados experimentalmente. sendo as constantes determinadas de forma indirecta, por recorrência à condição de normalidade, e em que são determinados os cocientes entre extensões obtidas em ensaios de tracção. Para o efeito são efectuados provetes a partir da própria chapa como se mostra na Fig. B TD RD A 1 2 3 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 97 Coeficientes de Anisotropia Tomando um provete cuja direcção longitudinal coincida com a direcção RD (provete A na Fig.), define-se coeficiente de anisotropia (R) segundo a direcção RD como sendo: p p dTD d 22 RRD p p d esp d 33 Para um provete cuja direcção longitudinal coincida com a direcção TD (provete B), coeficiente de anisotropia segundo a direcção TD vale: p d RD d11p RTD p p d esp d 33 Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 98 Coeficientes de Anisotropia Para uma direcção arbitrária, definida pelo ângulo , o coeficiente de anisotropia resultará do cociente entre a componente do incremento de deformação d p , ocorrida no plano da chapa e medida na direcção perpendicular à direcção de tracção, e a componente do incremento de deformação verificada na direcção da espessura ( d 33p ) d p R d 33p Considerando as componentes do incremento de deformação estabelecidas no referencial definido pelo eixos RD, TD e 3, obtém-se para o coeficiente de anisotropia R R Lúcia Dinis 2005/2006 1 2 d p 11 d 22p 12 d11p -d 22p cos 2 d12p sin 2 d 33p Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 99 Coeficientes de Hill A relação entre os coeficientes de anisotropia, RRDe RTD, e as constantes do material presentes no critério de Hill (F,G e H) pode ser obtida com base no ensaio de tracção e recorrendo às expressões que definem as deformações plásticas. Para o caso em que o provete é executado de modo a que seja esticado (por aplicação de uma tensão de tracção ) segundo a direcção RD tem-se: 1 2 3 0 p F 2 H 2 1 H dTD d 22p R 0 R0 p p d 33 d 33 F 2 G 1 G Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 100 Coeficientes de Hill Para o caso em que o provete é executado de modo a que seja esticado segundo a direcção TD tem-se: 2 , 1 3 0 p d RD d11p G 1 H 1 H 2 H R 90 R90 p p d 33 d 33 F 2 G 1 F É ainda usual considerar-se o caso em que o provete é executado de modo a que a aplicação da tensão de tracção se efectue segundo uma direcção a 45º com a direcção de laminagem R 45 R45 . Lúcia Dinis 2005/2006 Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 101 Modelo Constitutivo Elasto-Plástico F σ, p f σ Y p 0 Gradientes da função de cedência e do potencial plástico, a aQ = 2 3 F ; σ aQ aQ : aQ = dε dε dε e p dε C : dσ d aQ 1 4 Lúcia Dinis 2005/2006 2 3 Q σ aij = F ; ij a a Q ij Q ij aQ = ij Q ij d p =d aQ dij dije dijp -1 d ij = Cijkl d kl d aQ Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade ij 102 Modelo Constitutivo Elasto-plástico Estado de Tensão dσ C 4 : dε d a Q d ij = Cijkl d kl -d aQ dF a : dσ H d 0 p d p 1 a : dσ H d aQ 1 a : C 4 : dε d a Q H Lúcia Dinis 2005/2006 kl dF = aij d ij -H d p =0 1 a : dσ H 1 1 d aQ a : C4 : aQ a : C4 : dε H H d aQ Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade 103 Modelo Constitutivo Elasto-plástico a : C4 : dε a : C4 : dε d H H aQ a : C4 : aQ H aQ a : C4 : aQ 1 H d aij Cijmn d mn H aQ aij Cijmn aQ mn dε C : dσ d aQ 1 4 dσ Cep 4 : dε ep 4 C = C4 - ep ijkl C4 :aQ a : C4 aQ H +a:C4 :aQ C = Cijkl - Lúcia Dinis 2005/2006 Cijmn aQ aop Copkl mn aQ H aqr Cqrst aQ Mecânica dos Sólidos não Linear Plasticidade st 104