Produção e caracterização físico-química de bebidas a base de amendoim enriquecidas com polpas de goiaba e umbu Esther Maria Barros de Albuquerque1, Francisco de Assis Cardoso Almeida1, Niédja Marizze Cézar Alves2, Josivanda Palmeira Gomes1, Jaime José da Silveira Barros Neto3, Chirlaine Cristine Gonçalves3 1 Universidade Federal de Campina Grande, [email protected] 2 Universidade Federal do Mato Grosso 3 Instituto Federal de Sergipe Resumo O amendoim, pertencente à família Leguminosae, é uma das principais oleaginosas produzidas no mundo, onde ocupa o quarto lugar depois da soja, do algodão e da colza. O interesse e a busca do consumidor por alimentos mais saudáveis propiciam um rápido crescimento do segmento da indústria de alimentos, que visa contribuir para o alcance de uma dieta de melhor qualidade. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), nos dias de hoje, 15 espécies de plantas são responsáveis por cerca de 90% de toda a dieta humana, dentre elas se encontra o amendoim. Um dos principais problemas encontrados nos países em desenvolvimento é a deficiência do consumo de proteínas por parte da população carente, quadro que exige política de incentivo no consumo de proteína vegetal, de baixo custo e de boa qualidade. Como alternativa a esse problema,estudaram-se técnicas que vieram permitir a produção de duas bebidas a base de amendoim, por sua adequada fonte de proteína,ampla oferta e baixo custo. Neste contexto, procurou-se com o presente trabalhoestudar o comportamento das propriedades físico-químicas (proteína bruta e cinzas) do “leite de amendoim” enriquecido com polpa de umbu e um outro com polpa de goiaba, bem como o armazenamento das bebidas em temperatura de -18 ºC, durante 150 dias, com leituras dos componentes físico-químicos a cada 30 dias.Os resultados do teor de proteína para a bebida formulada com a polpa de umbu revelam que esta, inicialmente, apresentou-se superior àquela formulada com polpa de goiaba, porém, a partir do 120º dia de armazenamento verifica-se que o teor de proteína da bebida formulada com polpa de goiaba superou, estatisticamente, o da polpa de umbu. Quanto ao teor de cinzas, a bebida formulada com polpa de goiaba superou, estatisticamente, àquela formulada com polpa de umbu. Palavras chave: Arachis hypogaea, caracterização química, armazenamento Production and physicochemical characterization of peanut-based drinks enriched with pulp of guava and umbu Abstract The peanut, belonging to the family Leguminosae, is a major oilseeds produced in the world, where it occupies the fourth place after soybean, cotton and rapeseed. The interest of the consumer and the search for healthier foods provide a fast-growing segment of the food industry, contributing to the achievement of a higher quality diet. According to the Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), today, 15 species of plants are responsible for about 90% of the human diet, among them is peanuts.One of the main problems encountered in developing countries is the deficiency of the protein consumption by the poor, demanding a policy of encouraging the consumption of vegetable protein, low cost and good quality. As an alternative to this problem, were studied techniques that enabled the production of two peanut-based drinks, by a suitable protein source, a broad offering and low cost. In this context, we tried with this work, studying the behavior of physicochemical properties (crude protein and ash) from the \\\"peanut milk\\\" enriched with umbu pulp and another with guava pulp, as well as the storage of beverages at a temperature of -18 º C for 150 days, with readings of physical and chemical components every 30 days. The results of the protein to the beverage Ref. Nº C0777 formulated with the umbu pulp show that this, initially, appeared higher than that formulated with guava pulp, however, from the 120th day of storage shows that the protein content of drink made with guava pulp surpassed, statistically, the umbu pulp. As for the ash content, the drink made with guava pulp surpassed, statistically, to that formulated with umbu pulp. Keywords: Arachis Hypogaea, Chemical Characterization, storage Introdução Em razão do crescimento acelerado da população carente nos últimos anos, o Brasil se tem dedicado, sobremaneira, à utilização de alimentos alternativos para o combate à fome, especialmente da população de baixa renda. O interesse e a busca do consumidor por alimentos mais saudáveis propiciam um rápido crescimento do segmento da indústria de alimentos, que visa contribuir para o alcance de uma dieta de melhor qualidade (Katz, 2000). Como alternativa a esse problema, tem-se utilizado a soja por sua adequada fonte de proteína, ampla oferta e baixo custo. No entanto, a diversificação da alimentação, a partir da inclusão de outras leguminosas como o amendoim (Arachis hypogaea), pode ajudar a minimizar essa carência, além de enriquecer a dieta (Pettri, 2010). De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), nos dias de hoje, 15 espécies de plantas são responsáveis por cerca de 90% de toda a dieta humana, dentre elas se encontra o amendoim. Alguns alimentos como fonte alternativa na elaboração de produtos para a alimentação humana, na forma de extrato aquoso já foram bastante estudados. Assim, a formulação de bebidas mistas prontas para beber a base de vegetais pode ser utilizada com intuito de melhorar as características nutricionais de determinados produtos (Jain e Khurdiya, 2004), pela complementação de nutrientes fornecidos por vegetais diferentes, como por exemplo, amendoim mais goiaba, amendoim mais umbu, entre outras. Outros produtos derivados do amendoim, como pasta de amendoim, estão sendo priorizados pela ONU para serem distribuídos no Haiti, principalmente entre as crianças, as mais afetadas pela falta de abastecimento no país “É um alimento bastante energético e com rápida ação no organismo, pois concentra três fontes de calorias: amendoim, açúcar e óleo” (Proamendoim, 2010). Neste contexto, com o presente trabalho, estudou-se o comportamento das propriedades físico-químicas (proteína bruta e cinzas) do “leite de amendoim” enriquecido com polpa de umbu e um outro com polpa de goiaba, bem como o armazenamento das bebidas em temperatura de -18 ºC, durante 150 dias, com leituras dos componentes físico-químicos a cada 30 dias. Material e Métodos O experimento foi realizado no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola (UAEA) do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), juntamente com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, PB. As sementes de amendoim (Arachis hypogaea L.) utilizadas nos experimentos provieram de supermercados localizados na cidade de Campina Grande, PB. As polpas de frutas de umbu (Spondias tuberosa Arr. Cam.) e da goiaba (Psidium guajava L.) foram adquiridas comercialmente em uma indústria de polpa de frutas na cidade de Campina Grande, PB, onde provieram congeladas. As polpas ao chegarem no laboratório foram homogeneizadas e reembaladas em sacos de polietileno de baixa densidade. Uma parte foi caracterizada quanto a umidade, extrato seco, pH, acidez, cinzas e sólidos solúveis e outra parte foi armazenada em freezer a – 18 ºC, até o momento de serem utilizadas nos experimentos. O extrato de amendoim (leite de amendoim) foi obtido em uma máquina desenvolvida pelo LAPPA, para esta finalidade, denominada vaca mecânica (Figura 1), em que se estudaram extratos provenientes de amendoim sem casca. A elaboração da bebida consistiu na adição de polpa de umbu ou goiaba, ao extrato do amendoim na concentração 1:8 (grão/água). A bebida foi acondicionada em frascos de politereftalato de etileno (PET) e armazenadas em temperatura de -18 ºC durante 150 dias. A cada 30 dias, as amostras eram avaliadas em triplicata quanto à proteína bruta e Ref. Nº C0777 cinzas, de acordo com as recomendações do Instituto Adolfo Lutz (2008). Os resultados foram analisados através do Programa Computacional Assistat (Silva e Azevedo, 2006), versão 7.4. beta, em um delineamento inteiramente casualizado (DIC). As médias foram comparadas pelo o teste de Tukey a 5% de probabilidade. Figura 1. Vaca mecânica Resultados e Discussão Na Tabela 1 se encontram os resultados referentes à influência da interação polpa com tempo de armazenamento sobre o teor de proteínas. Os resultados obtidos para cada polpa ao longo da armazenagem revelam que a formulação com polpa de umbu decresceu, uniformemente, ao longo do armazenamento, encontrando igualdade estatística a partir do 90º dia. Para a formulação com polpa de goiaba notou-se igualdade estatística para todos os días de análises, com exceção do 30º dia, quando este apresentou o maior teor de proteína; no entanto, quando se analisam os resultados das duas polpas dentro de cada dia de análise (coluna) verifica-se que, inicialmente, a formulação com polpa de umbu apresentou teor de proteína superior ao da goiaba, porém, a partir do 120º dia, verifica-se que o teor de proteína da formulação com polpa de goiaba superou estatisticamente o da polpa de umbu. Abreu et al. (2007), obtiveram, em estudo com bebida à base de soja enriquecido com frutas tropicais, teores de proteína variando de 0,06 a 0,37%, sendo maior na bebida contendo extrato de soja puro. De acordo com Burker et al. (1979), citado por Kouone et al. (2005), os valores obtidos para o extrato de amendoim (1:8 p/v) apresentaram-se com 2,8% de proteínas. Lousada Junior et al. (2005), analisando subprodutos de abacaxi (Ananas comosus L.), acerola (Malpighia glabra L.) e goiaba (Psidium Guayaba L.), encontraram valores elevados de proteínas, 8,4%, 10,5% e 8,5% respectivamente. Essas diferenças de dados podem estar relacionadas a diversas causas, como por exemplo: a localização do pomar, a pluviosidade, a luminosidade, entre outros fatores, os quais influenciam diretamente ou indiretamente no desenvolvimento de cada variedade e consequentemente em seus constituintes. Para Sousa et al. (2011) as frutas de uma forma geral não são fontes potenciais de proteínas, entretanto, parece que esse macronutriente se encontra predominantemente nas cascas e sementes das frutas. Tabela 1. Influência da interação polpa com o tempo de armazenamento sobre proteínas presente no extrato de amendoim enriquecido com polpa de goiaba e umbu, em diferentes formulações Tempo de armazenamento (dias) 30 60 90 120 Umbu 2,3550 aA 1,7033 aB 1,4483 aC 1,4667 bC Goiaba 2,2000 bA 1,5967 aB 1,5717 aB 1,6150 aB DMS - colunas: 0,1430; e linhas: 0,2020 Polpa Ref. Nº C0777 150 1,4900 bC 1,6633 aB Médias seguidas da mesma letra minúscula nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Na Tabela 2 se encontram os resultados referentes à influência da interação polpa com tempo de armazenamento sobre o teor de cinzas. Os resultados obtidos para cada polpa ao longo da armazenagem revelam que a formulação com polpa de umbu cresceu ao longo do armazenamento; para a formulação com polpa de goiaba, houve um decréscimo no teor de cinzas, até o 120º dia; entretanto, quando se analisam os resultados das duas polpas dentro de cada dia de análise (coluna) verifica-se uniformidade estatística dos resultados quanto ao teor de cinzas para ambas as polpas, tendo a polpa de goiaba superado estatisticamente o teor de cinzas do umbu, durante todo o período do armazenamento. A composição química do extrato de amendoim, obtido por Isanga e Zhang (2007), revelaram um teor de cinzas de 0,27%. Sousa et al. (2011) caracterizaram nutricionalmente os resíduos de polpas de frutas tropicais e observaram que o resíduo da polpa de goiaba foi o que obteve maior percentual de cinzas (0,72%) frente as demais. Segundo Lima et al. (2003), o valor encontrado para cinzas em polpa de umbu in natura, foi de 0,22%. Pode-se destacar, assim, que a polpa de goiaba apresenta teor de cinzas maior quando comparada com o umbu. Tabela 2. Influência da interação polpa com tempo de armazenamento sobre cinzas presente no extrato de amendoim enriquecido com polpa de goiaba e umbu, em diferentes formulações Tempo de armazenamento (meses) 30 60 90 120 Umbu 0,1300 bD 0,1417 bCD 0,1550 bC 0,1733 bB Goiaba 0,3433 aA 0,2350 aC 0,2000 aD 0,2133 aD DMS - colunas: 0,0129; e linhas: 0,0182 Polpa 150 0,2250 bA 0,2617 aB Médias seguidas da mesma letra minúscula nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade Conclusão O teor de proteínas da bebida formulada com polpa de goiaba apresenta igualdade estatística durante o período de armazenamento, a exceção do primeiro dia de análise. A medida que o tempo avança, há uma diminuição no teor de proteínas da bebida formulada com polpa de umbu, não diferindo estatisticamente a partir do 90º dia de análise. Constata-se que a bebida formulada com polpa de goiaba apresenta teor de cinzas superior quando comparada com a formulação de umbu, durante todo o período de armazenamento. A bebida formulada com polpa de umbu apresenta um acréscimo uniforme do teor de cinzas ao longo do armazenamento. Agradecimentos Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte financeiro a esta pesquisa e pela concessão da bolsa de estudo, e à Universidade Federal de Campina Grande e a Universidade Estadual da Paraíba pelo apoio. Bibliografia Abreu, C. R. A.; Pinheiro, A. M.; Maia, G. A.; Carvalho, J. M.; Sousa, P. H. M. (2007). Avaliação química e físico-química de bebidas de soja com frutas tropicais. Alimentos e Nutrição 18, 291-296. Instituto Adolfo Lutz. (2008). Normas analíticas, métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 4ª ed. 1ª ed. Digital, São Paulo. Ref. Nº C0777 ISANGA, J.; ZHANG, G. N. (2007). 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