UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS COORDENAÇÃO DO CURSO DE PEDAGOGIA Gestão Democrática da Escola Pública: ação e participação Iron Pereira Godinho Anápolis UEG/2009 IRON PEREIRA GODINHO Gestão Democrática da Escola Pública: ação e participação Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado na Coordenação do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Goiás, como requisito de graduação no referido curso. Área de concentração: Educação Linha de pesquisa: Políticas Educacionais Orientador: Profº. Ms. Renato Ribeiro Leite Anápolis UEG/2009 Gestão Democrática da Escola Pública: ação e participação Trabalho apresentado na Coordenação do Curso de Pedagogia, da Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas, da Universidade Estadual de Goiás, para fins de graduação no Curso de Pedagogia, em 15 de dezembro de 2009, pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes professores: __________________________________________________ Profª. MS. Eliane Gonçalves Costa Anderi ________________________________________ Profº. MS. Renato Ribeiro Leite Anápolis UEG/2009 A minha esposa, Angélica Lúcia da Costa Godinho, pela paciência, amor, companheirismo e dedicação. Aos meus filhos, Orion Trindade da Costa Godinho, Angelúcia Trindade da Costa Godinho e Marluce Trindade da Costa Godinho, pelo apoio e camaradagem. Ao meu orientador, Renato Ribeiro Leite, pela amizade e confiança estabelecida nesses últimos anos. Anápolis UEG/2009 Agradecimentos A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, em especial à minha família, amigos e companheiras de curso. Aos professores: Eliane Gonçalves Costa Anderi, João Roberto Resende Ferreira, Magda Ivonete Montagnini, Maria Martins Lisboa, Mirza Seabra Toschi e Sandra Elaine Aires de Abreu, que muito contribuíram para minha formação política, humana e ética. Resumo A realização deste estudo tem a pretensão de responder os questionamentos levantados na sala de aula a respeito da democracia na escola. Desse modo, direcionamos a nossa pesquisa para conhecer a gestão da escola pública e as formas de participação dos sujeitos nas decisões. Para atingir essa meta, optamos pelo método da observação; leitura documental e análise teórica. Por meio dessa metodologia, buscamos conhecer os princípios legais que norteiam as ações desenvolvidas no ambiente escolar e compreender como se efetiva a participação dos sujeitos nas decisões. Nessa perspectiva, analisamos o cotidiano de uma Escola Pública estadual da cidade de Trindade no Estado de Goiás. E, com vistas ao processo de gestão e participação, procuramos, à luz das teorias e das prescrições legais, averiguar o modo da gestão praticada na escola e a participação dos sujeitos nas decisões. Destacam-se na investigação as seguintes categorias: legislação, gestão, participação e democracia. Palavras-chave: Escola Pública. Ação. Decisões. Cotidiano. Sumário p. Introdução.......................................................................................................8 Capítulo 1 - Sociedade e Escola..................................................................10 1.1. A educação pública brasileira a partir dos anos 80......................10 1.2. Democracia...................................................................................11 1.3. Gestão...........................................................................................13 1.4. Participação...................................................................................14 Capítulo 2 - Gestão Escolar Democrática - Princípios Legais....................16 2.1. As leis da Educação Nacional........................................................16 2.2. A História da Gestão Democrática da Escola Pública em Goiás...19 2.3. A estrutura funcional da Escola Pública em Goiás.........................21 Capítulo 3 - Apreensão Empírica e Reflexão Teórica da Pesquisa.............23 3.1. A escola-campo da pesquisa...........................................................23 3.2. As pessoas.......................................................................................25 3.3. A gestão e a participação na escola.................................................27 Considerações finais.......................................................................................35 Referências.......................................................................................................39 8 Introdução Este trabalho analisa a gestão escolar e os princípios legais que norteiam o processo de gestão da Escola Pública. Para alcançar esse objetivo foi analisado o cotidiano1 de uma escola pública estadual, com vistas a se apreender a lógica da efetivação da gestão escolar e da participação dos agentes integrantes do seu ambiente nas decisões. A idéia da realização do presente trabalho surgiu da pretensão de preencher uma lacuna percebida mediante os questionamentos levantados no contexto da sala de aula, após instigantes debates acerca da gestão democrática da escola pública e as formas de participação. Desse modo, almejamos: compreender, por meio das teorias referentes ao tema e a partir da observação do cotidiano de uma escola pública estadual, o modo como ocorre a gestão democrática da escola pública e as formas de participação dos agentes integrantes do ambiente escolar na gestão; responder os questionamentos levantados na sala de aula e, ao mesmo tempo, contribuir com os professores da área de educação e os futuros acadêmicos do curso de pedagogia. Para a realização do estudo, proposto no tema, fixamos as coordenadas da pesquisa para a observação, a análise documental e o estudo bibliográfico. A pesquisa de campo foi realizada em uma escola pública estadual, na cidade de Trindade. Para se apreender com maior precisão a forma como é realizada a gestão democrática da Escola Pública, optamos pelo método da observação, cujo objetivo é descrever a rotina da escola e selecionar os aspectos permanentes e ocasionais no cotidiano escolar, em especial, nas ações desenvolvidas pelos agentes escolares; a pesquisa documental, que se trata de um instrumento indispensável para a 1 A vida cotidiana é a vida comum de todo homem. Todos nascem inseridos nessa cotidianidade, na qual participam com a personalidade e com todos os sentidos intelectuais e afetivos. A vida cotidiana é constituída pela organização do trabalho, da vida privada, do lazer, do descanso, da atividade sistematizada, do intercâmbio e da purificação. Para a autora, a vida cotidiana está no centro do acontecer histórico e seria a substância da história. Não seria possível separar os aspectos cotidianos e não-cotidianos, pelo contrário, essas dimensões estariam interpenetradas na realidade social. Heller indica a existência de um pensamento próprio do cotidiano sustentado pelo pragmatismo, pela espontaneidade, pela imitação e pelo costume. (SILVA, 2009 p. 20). 9 investigação por que serve como recurso para se contextualizar o objeto da pesquisa e completar o quadro de informações básicas a respeito do funcionamento do sistema; e as leituras bibliográficas que orientou a pesquisa. A pesquisa bibliográfica se deu durante todo o ano de 2009, com a participação do orientador na indicação dos autores a serem estudados. A observação na escola-campo, as leituras documentais, as revisões textuais e a confecção do relatório ocorreram nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2009. O conteúdo do trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro capítulo apresentamos um breve histórico da educação pública brasileira após o período da ditadura militar, seguido dos conceitos de democracia, gestão e participação; no segundo capítulo, fazemos a análise da legislação, em vigor, que trata da educação pública no Brasil e em Goiás e a estrutura da escola pública; e, finalmente, no último capítulo apresentamos a escola-campo da pesquisa e em seguida, a gestão e as formas de participação dos sujeitos na sua administração. A guisa de conclusão incluímos no final do trabalho as reflexões realizadas a partir dos dados levantados durante o estudo, com o propósito de formular um referencial capaz de demonstrar a realidade da escola-campo da pesquisa. A realização deste trabalho busca contribuir para a reflexão acerca da gestão participativa da escola pública e seus princípios legais Capítulo 1 - Sociedade e Escola Neste primeiro capítulo, apresentaremos, primeiramente, um breve relato histórico da evolução da educação pública no Brasil após o fim da ditadura militar de 64. E para concluir, alguns conceitos de democracia, gestão e participação. 1.1. A Educação pública brasileira a partir dos anos 80 A partir dos anos 80 surge no Brasil, durante o processo de democratização do país, a reivindicação de que os anseios democráticos da sociedade brasileira deveriam atingir, também, a educação. Nessa ocasião levantam-se questões tais como: autonomia da escola pública, gestão democrática e eleições diretas para escolha dos diretores das escolas. Havia a expectativa de que por meio da eleição direta para a escolha dos diretores fosse possível eliminar o autoritarismo existente na escola e a falta de participação de outros sujeitos a ela ligados (professores, alunos, funcionários e pais) nas decisões. O argumento era que uma escola pública democrática e autônoma neutralizaria práticas tradicionalistas de clientelismo e favorecimento pessoal. (PARO, 2001). Em meados da década de 80, no século passado, com o fim da ditadura militar que comandou o país desde 1964, a população brasileira assistia com entusiasmo o fim de um regime de exceção e preparava-se para o início de um regime aberto e democrático, com eleições diretas para a escolha dos dirigentes. Nessa ocasião, também, muitos intelectuais ligados à educação contribuíram para a construção desse novo Brasil apresentando propostas para uma nova concepção de escola, baseada nos princípios de liberdade, democracia, participação e qualidade (OLIVEIRA; ADRIÃO, 2007). O primeiro governo pós-ditadura, chefiado por José Sarney, tomou posse em abril de 1985 - eleito por meio de colégio eleitoral formado por Deputados federais e Senadores - foi considerado um governo de transição, contudo, pressionado pelo povo, o novo presidente convocou a Assembléia Nacional Constituinte com a missão de elaborar uma nova Carta Magna para o país. 11 Em 1986, reuniram-se cerca de seis mil educadores para a elaboração da “Carta de Goiânia”. Essa carta dava ao Congresso Constituinte as diretrizes que os educadores brasileiros queriam ver na Constituição Federal. (TOSCHI; FALEIRO, 2001) Promulgada em 1988, essa constituição foi a que apresentou o mais longo capítulo sobre a educação. Entre os pontos contemplados, podemos destacar: consagração da educação como direito público subjetivo; princípio de gestão democrática do ensino público; dever do Estado em prover creches e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos; oferta de ensino noturno regular; ensino fundamental obrigatório e gratuito inclusive aos que a ele não tiveram acesso em idade própria; atendimento educacional especializado aos portadores de deficiências. (TOSCHI; FALEIRO; 2001). Na década seguinte tivemos mais mudanças entre as quais destacamos a aprovação da Lei nº 9394/96-LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), primeira lei geral de educação promulgada desde 1961, que apresenta os princípios, fins, direitos e deveres; dispositivos sobre a organização da educação nacional, aí incluindo as incumbências das diferentes esferas do Poder Público; níveis e modalidades de ensino - Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio) e Educação Superior, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional; Profissionais da Educação; Recursos Financeiros; Disposições Gerais; e, disposições Transitórias. Mais recentemente, por meio de emenda à constituição, criou-se o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e valorização dos profissionais da educação) que trata da vinculação de despesas oriundas dos impostos federal, estaduais e municipais destinados à educação básica. (LDB, 1996). 1.2. Democracia Democracia, substantivo feminino que denomina a forma de governo na qual o poder emana do povo e em nome dele é constituído; soberania popular; igualdade. (BUENO, 2000). A democracia é importante, pois influencia o pensamento do homem e influi em decisões políticas. No entanto, o mais importante é não pensar que existe um 12 determinado sistema que exemplifique uma verdadeira democracia, mas distinguir os diferentes aspectos de cada sistema e avaliar quais deles são democráticos e quais não o são. Segundo Randolph Lucas (1975): [...] A palavra democracia tanto pode servir para indicar a realização de valores essenciais da convivência humana, valores de igualdade e de liberdade, como para indicar a participação direta dos cidadãos nas decisões. Possui, ainda, uma carga valorativa muito grande, sendo utilizada como sinônimo de bem estar coletivo, um mundo ideal construído com a participação de todos e o respeito e a aplicação de valores para uma harmoniosa justiça social. A palavra democracia e seus derivativos aplicamse a processos de tomada de decisão. Uma decisão será democrática se visar ao interesse de todos e não apenas aos de uma facção, grupo ou partido. (p.61) Em uma meritocracia, por exemplo, a decisão parte dos mais qualificados, na autocracia a decisão é tomada por um único homem, e na democracia ela é tomada aproximadamente por todos. Uma decisão é tomada democraticamente se ela é alcançada mediante discussão, crítica e acordo. A prática da democracia só se faz possível em razão de certos fatos relacionados à dinâmica dos grupos, ou seja, uma democracia pressupõe participação, debates, acordo, consenso ou aceitação da vontade da maioria. (LUCAS, 1975). Democracia é um conceito vago, e dependendo do grau de participação ela será exercida em maior ou menor grau. Trata-se, então de um processo contínuo de conquistas de garantias dos direitos fundamentais e criação de novos direitos. Mais ainda, é um instrumento de realização de valores essenciais de convivência humana, dentre eles a liberdade, a igualdade e a vontade da maioria. (Idem). Existem duas formas de os cidadãos exercerem a democracia. Uma delas é a participativa, nesse modelo, o poder é exercido pela maioria e decidido por meio do voto e, na outra, a representativa, os cidadãos não exercem o poder diretamente, mas sim, por meio de seus representantes. Esses conceitos, contudo, não ficam claros quando se questiona quem são esses representantes. No modelo de democracia praticado no Brasil, por exemplo, esses conceitos se confundem, ele é ao mesmo tempo participativo (quando nos reunimos para votar) e representativo (depois que elegemos os representantes). As principais críticas em relação ao sistema representativo se referem à diferenciação entre dirigentes e dirigidos, perdendo assim, de certa forma, uma das características principais da democracia: a igualdade. No entanto, para existir uma verdadeira democracia é preciso que cada cidadão se dedique às questões de cidadania, interagindo com as pessoas que 13 dividem o mesmo planeta, o mesmo país, a mesma cidade, o mesmo bairro, o mesmo espaço de trabalho, lazer. (Ibidem). 1.3. Gestão Gerir é mais amplo e profundo do que administrar, ou seja, é muito mais que a simplicidade da fórmula2 POC3, prescrita pela administração tradicional. Segundo Sonia Simões Colombo (2004), também engloba a busca e a implementação de inovações e de melhoria nos processos relacionados ao negócio, identificando oportunidades e agindo preventivamente perante possíveis ameaças. Quando, no entanto, falamos da escola pública, a proposta é outra. A organização e os processos de gestão assumem diferentes modalidades, conforme a concepção que se tenha das suas finalidades. Segundo Libâneo; Oliveira; Toschi (2006), [...] Em relação à sociedade e à formação de alunos ela deve ser vista como instrumento de relações sociais e políticas. Certos princípios e métodos da organização escolar originam-se de experiência administrativa em geral estas e muitos são aplicáveis às escolas. Todavia, têm características muito diferentes das empresas industriais, comerciais e de serviços. Por exemplo: seus objetivos dirigem-se para a educação e formação de pessoas; seu processo de trabalho tem uma natureza eminentemente interativa, com forte presença das relações interpessoais; o desempenho das práticas educativas implica uma ação coletiva de profissionais; o grupo de profissionais tem níveis muito semelhantes de qualificação, perdendo relevância relações hierárquicas; os resultados do processo educativo são de natureza muito mais qualitativa do que quantitativa; os alunos são, ao mesmo tempo, usuários de um serviço e membros da organização escolar (p. 315). De acordo com Libâneo; Oliveira; Toschi (2006) há pelo menos duas maneiras de ver a gestão educacional: na perspectiva neoliberal e na perspectiva sociocrítica. Na primeira versão, a escola aparece como centro das políticas, o que significa liberar boa parte das responsabilidades do Estado, deixando às comunidades e às escolas a iniciativa de planejar, organizar e avaliar os serviços educacionais. Na outra perspectiva, a sociocrítica, há a valorização das ações dos profissionais decorrentes de sua iniciativa, de seu interesse, de suas interações 2 Fórmula utilizada nos cursos de administração para definir a seqüência (planejar, organizar, controlar, coordenar e comandar). 14 (autonomia, participação), em razão do interesse público dos serviços educacionais prestados, sem, com isso, desobrigar o Estado de suas responsabilidades. Ainda, de acordo com Libâneo; Oliveira; toschi (2006), a escola é uma instituição social potencialidades cujos físicas, objetivos são: cognitivas, e desenvolver afetivas por em meio seus dos alunos as conteúdos: conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valores visando a torná-los cidadãos participativos na sociedade em que vivem. 1.4. Participação A participação comporta diferentes níveis. Pode dar-se no nível econômico por meio de empresas comunitárias, cooperativas, etc. Na área social e cultural compreendendo ações em diferentes instituições da sociedade onde se articulam interesses de classes ou grupos, circulam valores, normas, pautas de conduta, manifestações da criatividade artística (sindicatos, escolas, associações, clubes) e, também, a participação na área política que corresponde à participação no processo de tomada de decisões desde as estruturas de poder local até o plano nacional (partidos e movimentos). (FURRER, 2005). Ainda, segundo Luis Ernesto Furrer, a necessidade humana de participação, ou de ser protagonista de sua própria história é reconhecida como condição resultante de um processo de transformação. A participação real do sujeito humano das decisões que afetam sua vida supõe o reconhecimento de outras necessidades resultantes do processo participativo. No entanto, quando voltamos nosso olhar para a participação no interior da escola, ficamos pensando que seria bom que esse compromisso de participação condicionasse a própria forma de organizar o trabalho e todas as atividades levadas a efeito na unidade escolar. São de extrema relevância os aspectos das relações pessoais3 que entre si se estabelecem. Diretor e professores, diretor e funcionários, diretor e alunos, diretor e pais, professores e professores, professores e pais, Funcionários e alunos. Todos, 3 Um importante condicionante interno da participação na escola são as relações interpessoais. Por meio de seu exame é possível detectar conflitos, delinear grupos de interesse, identificar aspirações e expectativas que norteiam as ações dos diversos atores; por fim, traçar um quadro em movimento dos contatos humanos por que se pauta a vida na instituição escolar. (PARO, 2001, p. 163). 15 independentemente da função, estão envolvidos na educação das crianças e, portanto, devem estar imbuídos de todas as responsabilidades que cabem a cada setor da escola. (PARO, 2007). A Escola pública é uma organização estatal e como tal ela é fundamentada em lei e objetivada por meio de uma estrutura formal. Portanto, essa estrutura deve estar em consonância com outras instituições que formam o estado. Todavia, se quer resultados favoráveis à sua missão, a escola não pode abrir mão de desempenhar seu papel aglutinador e formador de consciências. [...] Como espaço de convivência que favoreça o exercício da cidadania, a escola possui formas de organização, normas procedimentos que não são meramente aspectos formais de sua estrutura, mas se constituem nos mecanismos pelos quais podemos permitir e incentivar ou, ao contrário, inibir e restringir as formas de participação de todos os membros da comunidade escolar. Nesse sentido, uma escola que pretende atingir, de forma gradativa e consistente, crescentes índices de democratização de suas relações institucionais não pode deixar de considerar, como parte integrante de seu projeto, o compromisso de participação (PARO, 2007, p. 107). Todavia, vale ressaltar que o princípio participativo não esgota as ações necessárias para assegurar a qualidade do ensino. Ela é mais um meio de alcançar melhor e mais democraticamente os objetivos da escola. Capítulo 2 - Gestão Escolar - Princípios Legais Neste capítulo, estaremos apresentando os históricos da CF/88 e da LDB/96, dando ênfase aos princípios legais que regem a gestão da escola pública; a legislação da educação do Estado de Goiás e a organização da escola. 2.1. As Leis da Educação Nacional 2.1.1. Constituição Federal - CF/88 Com o fim da ditadura militar que esteve no poder por mais de vinte anos, providências urgentes deveriam se tomadas pelos novos governantes, uma delas, a mais urgente, era mudar a constituição que até então vigorava no país. Sob a presidência de José Sarney, a nação exigiu e o então presidente, convocou a Assembléia Nacional Constituinte com a missão de elaborar uma nova Carta Magna para o país. Uma constituição de acordo com o novo regime. E, nesse período, inúmeros intelectuais ligados à escola se juntaram a fim de projetar um novo modelo de educação para figurar no texto da nova constituição. (TOSCHI; FALEIRO, 2001) Promulgada em 05 de outubro de 1988, a nova Carta Constitucional, segundo seu preâmbulo, foi elaborada com a intenção de instituir o estado democrático de direito, destinado a assegurar direitos sociais e individuais, liberdade, segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade e justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias. (BRASIL, CF/1988). Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto Seção I, Da Educação [...] Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios 17 [...] VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; (BRASIL, 1988). 2.1.2. Lei Federal, nº 8069/90 Esta lei, também conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, cujo objetivo é assegurar à criança e ao adolescente os direitos inerentes à condição de pessoa humana e de cidadão, trás no seu texto relativo ao direito à educação a seguinte redação: Capítulo IV Do direito à Educação, à cultura, ao Esporte e ao Lazer. Art. 53 - A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurandolhes: [...] IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (BRASIL, 1990). 2.1.3. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB/96 Aprovada em 20 de dezembro de 1996, de acordo com a Constituição Federal - CF/88, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB/96, preconiza os princípios e fins da Educação Nacional com a seguinte redação: Título II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 3º - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação do sistema de ensino; 18 Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com a suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, LDB/1996b). Nota-se que, apesar de aprovada após mais de oito da promulgação da nova Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB/96 pauta-se pelos mesmos princípios que inspiraram a redação da nova Carta constitucional. O Art. 3º, inciso VIII, repete a Constituição Federal que, no inciso VII do Art. 206, apresenta “a gestão democrática do ensino público na forma da lei” como um princípio. Segundo Vitor Paro (1997), há na CF/88 e na LDB/96, dois aspectos a serem observados: [...] O primeiro é a restrição da gestão democrática ao ensino público. Isso seria o mesmo que dizer que o ensino privado pode-se pautar por uma gestão autoritária. Numa sociedade que se quer democrática, é possível, a pretexto de se garantir liberdade de ensino à iniciativa privada, pensar-se que a educação - a própria atividade de atualização histórica do homem, pela apreensão do saber - possa fazer-se sem levar em conta os princípios democráticos? O segundo aspecto é sobre a pretensa intenção da LDB, de se entender que a regulamentação legislativa da Constituição Federal esteja esgotada no âmbito nacional. O princípio aí estabelecido é o de que a “gestão democrática” se dará “na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”, fazendo supor que, em termos de legislação federal, esta lei esgota o assunto. Isto é confirmado pelo Art. 14, que estabelece “princípios” que devem nortear “as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica”, que, segundo o mesmo artigo, serão definidas pelos “sistemas de ensino”. Ao estabelecer os princípios que nortearão “as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica”, esse Art. É de uma pobreza sem par. O primeiro princípio é o que há de mais óbvio, já que seria mesmo um total absurdo imaginar que “a elaboração do projeto pedagógico da escola” pudesse dar-se sem a “participação dos profissionais da educação. (p. 243-251). Ao renunciar a uma regulamentação mais precisa do princípio constitucional da “gestão democrática” do ensino básico, a LDB, além de furtar-se a avançar, desde já, na adequação de importantes aspectos da gestão escolar, como a própria reestruturação do poder e da autoridade no interior da escola, deixa também à iniciativa de estados e municípios - cujos governos poderão ou não estar articulados com interesses democráticos - a decisão de importantes aspectos da gestão como a própria escolha dos dirigentes escolares. (PARO, 1998). 19 2.2. A História da Gestão Democrática da Escola Pública em Goiás 2.2.1. Constituição Estadual de Goiás Amparada no Art. 206 da CF/88, a Constituição do Estado de Goiás, de acordo com os princípios da Carta Constitucional do país, trata da educação no Estado, nos seguintes termos: [...] Capítulo III - Da Educação, da Cultura, do Desporto e do Lazer Seção I, Da Educação Art. 156 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. [...] VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; (GOIÁS, CE/). 2.2.2. Lei nº 26/98 - a LDB do Estado de Goiás O Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública reuniu professores e alunos, para elaboração coletiva do projeto de Lei do Sistema Educativo de Goiás, que viria substituir a Lei nº 8.870, de 23 de janeiro de 1980. Ao fim de 1998, o projeto é aprovado em rápidas sessões plenárias e enviado ao governador para sanção. Devido a demora no retorno, o presidente da Assembléia Legislativa sanciona a lei complementar nº 26, aprovada em 28 de dezembro de 1998, publicada no Diário Oficial do Estado em 12 de dezembro de 1998 e entra em vigor a partir dessa data. (TOSCHI; FALEIRO, 2001). A LDB de Goiás, assim chamada a Lei 26/98, segundo a professora Mirza Seabra Toschi (2001), até a publicação da sua pesquisa, três anos após a promulgação da referida Lei, ainda não tinha sido colocada em prática na sua totalidade, embora tenha significado um avanço na luta e na organização dos 20 trabalhadores da Educação em Goiás, para buscar um processo educativo democrático e com qualidade. A Lei 26/98, no seu título II, que trata dos princípios e fins da educação escolar, o Art. 2º, Inciso III, determina a observância dos princípios dispostos na Constituição Federal e na Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996. Nas disposições gerais, a Lei Complementar nº 26/98, o caput do artigo 106 trás a seguinte redação: “as escolas mantidas pelo poder público estadual obedecem aos princípios da gestão democrática, assegurada a existência de conselhos escolares paritários, dos quais participam os segmentos; direção, professores, demais servidores, alunos e pais de alunos. O parágrafo 2º do mesmo artigo institui o regime de eleições diretas para os diretores das escolas descritas na Lei. E, por fim, vislumbramos o parágrafo 5º, que determina ao Conselho Estadual de Educação de Goiás definir as formas de participação dos segmentos da comunidade escolar na gestão democrática e, o parágrafo 6º, que estipula o mandato dos dirigentes para um período de dois anos sendo permitida uma reeleição. (GOIÁS, 1998). 2.2.3. Lei 13.666/2000 Essa Lei estadual, de acordo com seu Art. 1º, institui no âmbito da Secretaria de Educação de Goiás o Programa Estadual Dinheiro Direto na Escola – PROESCOLA, que tem o objetivo de prestar assistência financeira, em caráter suplementar, às escolas públicas do ensino fundamental, médio, especial, profissional e de jovens e adultos da rede estadual e às escolas qualificadas como entidades filantrópicas ou por elas mantidas. Art. 5º - Cada Unidade Escolar da rede pública, beneficiária, instituirá um conselho escolar – CE, com inscrição no cadastro de pessoa jurídica (CNPJ), como órgão deliberativo, consultivo e fiscalizador, constituído por no mínimo 5 (cinco) e no máximo 15 (quinze) membros. (GOIÁS, 2000). 2.2.4. Lei 14.340/2002 A Lei que trata da eleição direta para escolha dos diretores das escolas públicas, foi aprovada em 03 de dezembro de 2002, definindo no caput Art. 1º, o 21 último dia letivo do mês de maio de 2003 a data para a realização da primeira eleição para diretor de Unidade Escolar no Estado de Goiás. (GOIÁS, 2002). 2.2.5. Resolução nº 004-CEE/CP/2009 O Conselho Estadual e Educação por meio da Resolução nº 004/2009, fixa as normas para a gestão democrática nas unidades escolares de educação básica do sistema educativo do Estado de Goiás. O Art. 1º da Resolução dispõe sobre a gestão democrática as Unidades Escolares do Sistema Educativo do Estado de Goiás, conforme o Art. 156, inciso VI da Constituição do Estado de Goiás e o Art. 106 da Lei Complementar Estadual nº 26/98, pelos seguintes princípios: [...] IX - efetiva participação da comunidade nos órgãos colegiados e nos processos decisórios da unidade escolar. [...] Parágrafo único A Gestão Democrática implica formas de convívio que respeitem o aluno, o agente administrativo educacional e o docente como pessoa humana: a) nas relações cotidianas; b) no respeito à diversidade e às minorias; c) nas ações de inclusão social e educacional; d) no diálogo permanente com a comunidade. 2.3. A Estrutura da Escola Pública no Estado de Goiás Baseada na legislação em vigor, toda escola tem uma estrutura funcional que é a disposição e a ordem das partes físicas e hierárquicas que compõe a Unidade Escolar, ou seja: Direção; Coordenação; Corpo docente; Corpo Discente; Serviço Administrativo. No âmbito da escola democrática e participativa, vamos encontrar, ainda, de acordo com os princípios legais os seguintes órgãos: O Conselho Escolar, órgão autônomo, sem fins lucrativos, de natureza coletiva, de tempo indeterminado, 22 constituído, garantido e respaldado pelos dispositivos do Art. 106 da Lei Complementar nº 26 de 28/12/98, com o objetivo de promover a dinamização e a autonomia da escola, abrindo espaço de participação para todos os segmentos da comunidade escolar decidir sobre questões relacionadas aos eixos pedagógicos, administrativo e relacional, visando o aperfeiçoamento e a melhoria da qualidade. (Diretrizes/SEE, 2009). O Conselho Escolar é presidido por um de seus membros que não integre a direção da Unidade Escolar, o qual será eleito por seus pares, o mandato dos membros do Conselho Escolar tem duração de dois anos, permitida apenas uma recondução consecutiva. (Idem). O Grêmio Estudantil, entidade representativa dos interesses do corpo discente criado na forma da legislação em vigor e suas finalidades são: desenvolver atividades educacionais, culturais, cívicas, desportivas e sociais; contribuir para a formação do aluno pela promoção da co-responsabilidade, iniciativa e criatividade; auxiliar a administração da Unidade Escolar. (Diretrizes/SEE, 2009) O Conselho de Classe, obrigatório a cada bimestre letivo. É soberano em suas decisões, sendo composto por professores, coordenação pedagógica, representante dos alunos, dos pais, do Conselho Escolar e os demais agentes administrativos. O Conselho de Classe avalia o processo de desenvolvimento da aprendizagem de todos os alunos de cada turma, separada e individualmente, tomando as medidas que se fizerem necessárias para o seu aprimoramento e recuperação imediata daqueles que apresentarem dificuldades. (Idem). Capítulo 3 - Apreensão Empírica e Reflexão Teórica da Pesquisa Dedicamos este capítulo a apresentação da escola-campo da pesquisa, a localização, o prédio, as instalações, as características, o funcionamento, o pessoal e, por fim, a reflexão sobre a forma de gestão e a participação dos sujeitos nas decisões. 3.1. A escola-campo da pesquisa A Escola Estadual Frei Beto4, foi escolhida para fazer parte desta pesquisa, por ser a maior do município e oferecer o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. 3.1.1. Localização a) O município Trindade é um município brasileiro do Estado de Goiás com 719,75 Km² e população estimada em 2008 de 102.870 habitantes, distribuídos em áreas rurais e urbanas. Os dados que constam no site da prefeitura, nos dão conta de que a educação em 2007, contava com 56 escolas, 497 salas de aula, 1006 docentes e 25.685 alunos. A cidade surgiu da romaria a imagem do Divino Pai Eterno e continua seguindo sua vocação religiosa até hoje. Atualmente faz parte da região metropolitana de Goiânia. b) O Bairro A localização da escola é no centro da cidade, em rua paralela à avenida principal que corta a cidade, em toda a sua extensão, e recebe ao longo de seu trajeto várias ruas que ligam o centro, às diversas vilas e bairros próximos ou distantes. 4 A fim de preservar as pessoas e as informações, o nome da escola é fictício. 24 No centro da cidade, o terreno é plano, apresenta pouco desnível, a pavimentação é boa, com calçadas e asfalto de boa qualidade, ótima iluminação e as ruas são bastante arborizadas. As moradias são casas construídas em alvenaria e abrigam pessoas da classe média (comerciantes, funcionários públicos, profissionais liberais, pequenos e médios proprietários, produtores rurais e outros). O comércio é abrangente e difuso, não há áreas específicas para abrigá-lo. 3.1.2. A Escola A Escola é toda cercada por muro baixo. A entrada da escola oferece a impressão de um casarão antigo, com algumas colunas e um bonito gramado. Para se entrar na escola, é necessário cruzar uma grande porta de madeira que se abre em duas partes, sendo essa porta mais usada para entrada e saída de professores e visitantes. Ao se adentrar, a visão é de um grande pátio na forma de quadrilátero entre colunas, sendo possível visualizar o conjunto do pátio. Há sempre uma boa visão de todos os ângulos, que possibilita maior controle do ambiente. No corredor da entrada principal há um pavilhão de fotos dos ex-diretores da unidade escolar, à direita fica a sala da diretoria e, à esquerda, a secretaria. A sala da direção costuma ficar sempre fechada, pois a diretora circula com freqüência pelas outras dependências da escola. A posição das salas de aula segue a arquitetura em quadrilátero, pois há quatro pavilhões nos quais se localizam as salas. No corredor do pavilhão da frente onde fica a sala da direção, localizam-se algumas salas de aula; nos corredores, à direita e à esquerda encontram-se a maior parte das salas de aula e os banheiros: feminino e masculino; no pavilhão do fundo localizam-se a copa, a sala dos professores e o depósito de materiais de limpeza. A sala de informática e a biblioteca localizam-se em bloco separado, no pátio, em frente à sala dos professores. O acesso à sala de informática é pelo pátio interno, possui vários computadores, com acesso à internet e fica sob os cuidados de uma dinamizadora que é a responsável pelo espaço. 25 Nos fundos da escola, há uma casa para o caseiro, uma horta, um portão secundário e um espaço parecido com um grande quintal onde há uma quadra de esportes com piso cimentado. As condições gerais do prédio são boas apesar de arquitetonicamente antigo. A escola está instalada em quatro pavilhões em forma de quadrilátero interligados nas extremidades formando um grande pátio interno. No pavilhão da entrada, que aqui chamaremos primeiro pavilhão, fica um corredor largo que dá acesso à sala da direção e à sala da secretaria - ambas com banheiros privativos - e ao pátio interno da escola. Nesse primeiro pavilhão pelo lado interno, encontram-se duas salas de aula à esquerda e duas à direita de quem adentra à escola. Em frente, ligado ao telhado do pavilhão há um amplo galpão para recreação e eventos e um espaço fechado em um dos cantos do galpão, onde fica a sala de informática. Do lado direito há um pavilhão interligado ao primeiro pavilhão por uma das extremidades, onde se encontram seis salas de aula e um sanitário destinado às meninas e outro aos meninos. No lado oposto a este pavilhão, encontra-se outro pavilhão cuja divisão é idêntica ao anteriormente mencionado. Ao fundo, fechando o quadrilátero, encontra-se outro pavilhão que abriga a biblioteca, a sala dos professores, os sanitários destinados aos professores, a cozinha, a dispensa, o depósito de ferramentas e materiais de limpeza. As salas de aula, dezesseis ao todo, são amplas e bem ventiladas com piso em cerâmica. Todas as salas possuem ventiladores, não se observou falta de lâmpadas, ou tomadas e interruptores danificados ou com defeito, as portas das salas são de madeira pintadas a óleo, bem conservadas. Anexo ao pavilhão de entrada, como já foi falado acima, na parte interna, há uma grande cobertura com piso em cimento liso, aberto nas laterais e forrado com PVC, tendo ao fundo um palco onde se realizam as atividades artísticas dos alunos, as festividades e eventos da escola e da comunidade. É também onde se reúne a maior parte dos alunos durante os intervalos das aulas. 3.2. As pessoas 3.2.1. A direção 26 A direção é composta pela diretora, a vice-diretora e o secretário geral. 3.2.2. Os professores (as) De acordo com o seu Projeto Político Pedagógico (2009), a escola conta com um total de 61 (sessenta e um) professores (as), sendo 36 efetivos e 25 temporários, quase todos com formação superior em licenciaturas, e pós-graduação nas áreas de educação, à exceção de uma professora de religião que está no último ano do curso de filosofia. A jornada de trabalho na escola é de 20 e 40 horas semanais de acordo com as necessidades da Unidade Escolar e a disponibilidade de professores (as) em cada disciplina nos turnos e nas séries. 3.2.3. Os funcionários O serviço administrativo e serviços gerais da Unidade Escolar são executados por funcionários contratados pela Secretaria de Educação do Estado. A escola conta com um total de 12 (doze) funcionários, sendo: três efetivos e os demais em regime de contrato temporário, distribuídos nas funções conforme o quadro de funcionários previstos pela Secretaria de Educação de Goiás. 3.2.4. Usuários A Unidade Escolar funciona em três turnos (manhã, tarde e noite) nos turnos da manhã e da tarde a escola oferece o 9º ano do Ensino Fundamental e o Ensino Médio e no turno da noite, o Ensino Médio. A escola trabalha neste ano de 2009, com 1.517 (mil quinhentos e dezessete) alunos, matriculados no 9º ano do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, distribuídos nos turnos e nos níveis de ensino oferecidos pela escola. 3.2.5. As famílias A Unidade Escolar atende uma clientela bastante diversificada, e reúne alunos cujas famílias ocupam lugar nas diversas camadas que compõe a população 27 do município, residindo, tanto no centro, em locais próximos à escola, quanto em localidades mais distantes, em bairros da periferia e área rural. (PPP, 2009). 3.3. A Gestão e a Participação na Escola A atual diretoria foi eleita para o biênio 2009/2010 nas eleições realizadas no mês de maio do ano corrente e tem como meta o exercício da gestão participativa, segundo afirmações da diretora e da vice-diretora. A Escola realiza eleição para escolha de diretores desde o ano de 2003 e, segundo o que se pode ver pelas atas de eleições sempre houve duas chapas concorrentes, com exceção das eleições de 97, quando só teve uma chapa concorrendo. A direção ou grupo gestor é composto pela diretora, a vice-diretora e a secretária geral, eleitos em maio do corrente ano, como chapa única, para um período de dois anos, de acordo com o Art. 106, parágrafo 2º da Lei Complementar nº 26/98. Prometendo uma gestão democrática e participativa, a atual direção assumiu o mandato definindo sua missão entre valores, objetivos, estratégias, regras e normas, durante a campanha por meio de uma cartilha de intenções reproduzindo partes do PDE e do PPP da escola. Missão: proporcionar um ensino de alta qualidade dentro do mais alto grau de satisfação da clientela, buscando a formação integral e democrática dos alunos. Valores: organização (trabalhar de forma organizada e com funções definidas, o que garante resultados satisfatórios no trabalho); excelência (valorização dos clientes com fornecimento de qualidade e Excelência em tudo que é feito) e participação (trabalhar em equipe com a comunidade com quem manteremos um trabalho conjunto no desenvolvimento de projetos). Objetivos gerais - formar e informar homens conscientes e capazes de buscar seus direitos e cumprir com seus deveres; desenvolver habilidades, hábitos e atitudes para atuar perante a comunidade aqui, agora e também no futuro; construir competência para aperfeiçoar as habilidades e conhecimentos capazes de vencer suas próprias dificuldades e limitações; desenvolver o hábito e gosto pela leitura de textos diversos tornado-se um leitor competente capaz de construir-se mediante uma prática efetiva de leitura e escrita nas várias áreas do conhecimento. Estratégias: melhorar a afetividade do processo ensino aprendizagem; modernizar a gestão participativa de processos da escola; envolver os pais no processo educacional. (anexo 1). 28 A escola possui o Conselho Escolar, fundado em 20/08/1999 cuja ata de fundação também transcrevemos abaixo: [...] Órgão colegiado constituído, garantido e respaldado pelos dispositivos legais. Art. 106, Lei Complementar nº 26, de 28/12/1998, e Artigos 4º ao 15 da Lei nº 13.666 de 27/07/2000 e pela assembléia geral, com foro jurídico no Colégio Estadual, fundado em 1983, com sede à rua Cristiano Souza, nº 560 Centro, Trindade - GO. O Conselho Escolar José Correia é um órgão autônomo de natureza coletiva, sem fins lucrativos, instituído por tempo indeterminado, com objetivo de promover a dinamização e a autonomia da escola, abrindo espaço de participação para todos os segmentos da comunidade escolar nas decisões relacionadas aos eixos pedagógicos, administrativo e relacional, visando ao seu aperfeiçoamento e enriquecimento. Todos os membros da Comunidade Escolar têm representatividade no Conselho Escolar, através de eleição direta e secreta. O Conselho Escolar garantirá a representação de todos os segmentos da comunidade escolar, assegurada a proporcionalidade de 50% (cinqüenta por cento) para pais e alunos e 50% (cinqüenta por cento) para professores e demais servidores efetivos da escola. (anexo 2). O Conselho Escolar, segundo a diretora, se reúne sempre que se fizer necessário. Neste ano, ocorreram duas reuniões: a primeira, realizada no início do ano letivo, abriu a pauta para discutir as políticas pedagógicas e o Plano de Desenvolvimento da Escola. Essa reunião contou com a presença dos representantes da direção, dos professores e dos pais. Não consta a participação de representantes dos funcionários e nem dos alunos. Na ata da reunião constam diversas sugestões da direção, dos professores e dos representantes dos pais. A segunda reunião aconteceu após as eleições, com o intuito de apresentar a equipe da nova direção eleita. A respeito da participação nessa reunião foi-nos apresentado um livro com assinaturas de alunos e pais confirmando presenças. Abordamos alguns professores, pais e funcionários para saber as suas opiniões sobre a participação nos assuntos da escola: com relação aos pais, falamos com quatro deles, no haal5 de entrada da escola em ocasiões diversas. O fato mais interessante que observamos durante as conversas que tivemos com essas pessoas, foi o nível de politização que demonstraram. Todas tiveram boa vontade em falar, algumas delas não pouparam criticas ao governo pela má qualidade do ensino, o baixo salário dos professores, a falta de perspectivas para o futuro dos jovens. Mas não deixaram de criticar também a própria escola: disseram que os professores não tem paciência com os alunos e que a diretora (da última 5 Pequena sala que dá acesso a outros ambientes do prédio; vestíbulo. 29 gestão) era muito severa. Agora, quanto à participação na escola, nenhuma se disse interessada, apresentando varias desculpas como a falta de tempo e outras. As entrevistas foram realizadas em conformidade com os objetivos da pesquisa, com os andamentos das observações e, principalmente, de acordo com as condições do momento em que foram realizadas. No contexto da escola, com significativas relações de desconfiança e de perseguição, as entrevistas somente puderam ser realizadas depois de certo aprofundamento da confiança entre nós, os professores, os docentes e os pais. Além das garantias de anonimato e dos devidos esclarecimentos a respeito dos objetivos da pesquisa. É significativo destacar que as entrevistas foram realizadas em forma de diálogos, os quais foram apresentados, no conjunto do texto, de forma a reproduzir o mais fielmente possível as anotações das falas das pessoas entrevistadas. A seguir transcreveremos as falas das pessoas entrevistadas, naquilo que foi possível anotar durante as conversas. Pai 1 - tem uma filha que estuda no 9º ano do Ensino Fundamental: [...] Eu sei que existe o Conselho Escolar, mais pra eu participar não dá. Eu sei que é importante, mas se for pra participar tem que ser pra valer, chegar e não fazer nada não adianta. Eu sei de pessoas que aceitam participar e depois nem comparece nas reuniões, falo isso por que já ouvi a diretora reclamando que essas pessoas não comparecem nas reuniões. Eu já falo logo que não tenho tempo porque não tenho mesmo. Nas reuniões dos pais, eu faço questão de comparecer para saber as notas da minha filha e quando não dá pra eu vir a minha mulher vem por que não pode descuidar dos estudos da menina. Na opinião desse pai, a falta de tempo é responsável pelo afastamento dos pais das atividades internas da escola, como por exemplo, a participação no Conselho Escolar. Menciona que a direção se esforça para que haja essa participação, mas ela não ocorre a contento. Pai 2 - cujo filho também é aluno do 9º ano do Ens. Fund. Na mesma linha do primeiro, este pai, que na verdade é avô do aluno que vive sob seus cuidados por que os pais estão trabalhando fora do país, afirma que falta tempo para estar mais presente na escola. [...] Se eu tivesse tempo eu vinha pra participar mais da escola, nos dias de hoje quanto mais perto você tiver desses jovens é melhor. Meu neto é um bom menino, a mãe dele, que é minha filha, foi com 30 o marido pra Inglaterra trabalhar, já faz três anos, e eu é que cuido dele e da irmã dele, que é mais nova e estuda em outra escola. Ele já está grande, não precisava vir aqui pegar as notas dele, mas eu venho que é pra ele não ficar muito livre pra fazer coisa errada. A irmã dele que é mais nova, todos os dias eu ou a avó vai levar e buscar na escola, que é pra não deixar à vontade e também pra proteger. Mãe 3 - tem dois filhos na escola, uma jovem de 16 anos no 2º ano do Ensino Médio e um jovem de 13 anos no 9º ano do Ensino Fundamental. Essa foi mais incisiva nas suas declarações. Fez duras críticas ao governo e à escola e disse que não participa dos assuntos da escola por que sabe que não adiantaria de nada participar. [...] Você acha que minhas opiniões tem valor pra escola, é claro que não. E isso vem é de cima, quem está com o poder não quer nem saber dos que estão em baixo, principalmente quando se é pobre. O governo faz do jeito que quer, sem dar bola pra as precisões do povo. Faltam verbas pra tudo, hospitais, remédio, escola então, nem se fala, eu conheço mãe que precisa trabalhar e não tem com quem deixar os filhos. Cadê as creches, não têm. Tudo isso é coisa que o povo precisa e o governo não faz, adianta reclamar? Na reunião dos pais eu venho por que tenho que apanhar as notas dos meus filhos e isso eu quero acompanhar, porque eu me preocupo com o futuro deles... Agora, esse conselho escolar não adianta de nada, a escola só faz o que o governo manda e não adianta de nada a opinião dos alunos e dos pais. Meus filhos estudam em escola pública desde pequenos, por que não posso pagar escola particular e muitas vezes eu procurei a diretora pra conversar, sobre alguma coisa que eu achava importante para escola, ela ouvia, anotava e depois nunca mais falava do assunto. E quando eu ia lá cobrar, ela dizia que a minha sugestão não foi aprovada na reunião do conselho ou então que o conselho ainda estava avaliando. Teve uma vez que uma diretora me convidou para fazer parte do conselho escolar, dei meu nome e fiquei aguardando o dia da eleição, que foi o que me disseram, passado muito tempo fui procurar e me disseram que estavam esperando que mais pessoas se inscrevessem para participar, o ano encerrou e nunca fiquei sabendo dessa eleição. Em minha opinião, o conselho escolar, não faz nada, é só pra constar no papel. Pai 4 - tem uma filha no 2º ano do Ensino Médio, trabalha e reside na escola. Sua opinião também é de descrença com relação à efetiva participação nas decisões tomadas pela direção da escola. [...] Eu só vou às reuniões quando a diretora me chama. Aqui a diretora e os professores são boas pessoas. Nas reuniões a diretora sempre quer saber minha opinião. Eu acho que as pessoas deviam participar mais, principalmente os pais dos alunos, olha aqui no fundo dessa escola tem um pátio enorme, eu já falei várias vezes nas reuniões que a gente poderia fazer um pomar e uma horta bem grande, mas para isso tem que ter ajuda dos alunos e dos pais dos alunos para ajudar no trabalho e para 31 manter, não deixar acabar, só que nunca ninguém apareceu para fazer alguma coisa, eu vou fazendo como dá mas se tivesse mais participação acho que podia melhorar a escola. Com os professores conseguimos, depois de várias tentativas, falar com três. Eram evasivos e não disseram nada que pudesse esclarecer sobre seus pontos de vista, e a real participação nas decisões da direção. Preferiam dar explicações partindo dos princípios legais com afirmações do tipo: [...] Claro, a participação nos assuntos ligados à imprescindível para o bom andamento da escola, professores são conscientes dessa importância e participar, dar sugestões e contribuir para as decisões tomadas pelo grupo gestor. gestão é todos os procuram que serão A escola não conta com o Grêmio Estudantil e quando questionada a respeito, a vice-diretora não poupou críticas aos alunos, afirmando que estes não se interessam em participar das reuniões: [...] todos os anos é a mesma coisa, a gente convida os alunos pra participar do processo de formação do Grêmio Estudantil, mas eles não demonstram interesse. À vezes aparecem alguns, e até começam com certo entusiasmo, mas depois deixam a apatia tomar conta e acabam se distanciando das atribuições destinadas ao Grêmio. Todavia, entre os alunos, apesar de não ter havido unanimidade nas respostas, quanto ao interesse de participar do Grêmio Estudantil, pelo menos um, entre os cinco alunos com os quais conversamos, afirmou ter vontade de participar, mas se sente desmotivado por que não há incentivo por parte da escola. A seguir transcreveremos as falas de dois alunos, do 2º ano, do Ensino Médio durante uma conversa, a três, que tivemos após as aulas. Aluno 1: [...] Ah...! Eu moro longe, e pra participar do Grêmio tem que participar de reunião, organizar festa, vigiar as brigas dos alunos. Eu é que não quero, dá trabalho demais. E a diretora ainda fica pegando no pé. Por que o Grêmio é pra isso né? Quem quizer ficar no Grêmio tem que mostrar serviço e ainda ser criticado pelos outros. Este aluno, afirmou que está na escola desde a sétima série, por que antes de 2009, a escola atendia a uma clientela maior do Ensino Fundamental. Disse que mora na zona rural e que gosta de estudar. Seu pai toma conta de uma chácara e sua mãe é funcionária da prefeitura. Quer estudar para melhorar de vida e ter seu 32 próprio negócio. Quando perguntado que tipo de negócio gostaria de ter, respondeu: quero ter uma Lan House6. Aluno 2: [...] Sei não... pra participar do Grêmio tem que conhecer uma porção de coisas, todo mundo que participa do Grêmio é CDF, faz política, sei lá... Gosta de aparecer. No ano passado tinha o Grêmio e logo acabou... Esse ano ninguém chamou para fazer o Grêmio, ainda bem, não adianta mesmo... O Grêmio só serve pra organizar as festas da escola. Tinha um colega meu que participou, quase foi reprovado de tanto que saía da sala. Tem uma professora na minha sala que vive criticando a gente lá na sala, por que não tem Grêmio na escola, ela quer que a gente forme o Grêmio, mas eu acho que ninguém vai participar, eu acho que ela vai perder o tempo dela e ninguém vai querer formar o Grêmio. Só se for noutra sala, na minha sala ninguém vai não. Depois dessa conversa com os dois alunos do 2º ano do Ensino Médio, procuramos novamente nos aproximar de um grupo de alunos do 3º ano. Após algum tempo de conversa, concluímos que não seria possível convencê-los a dar suas opiniões, sobre o Grêmio Estudantil. Alguns foram diretos. e disseram que nunca se interessaram pelo assunto e por isso nem sabiam do que se tratava. Outros, extrovertidamente, em tom de brincadeira, disseram que os alunos que participam do Grêmio são todos uns “baba-ovos”. Depois dessa experiência resolvemos ser mais prudentes e evitar abordagens a grupos de alunos, dando preferência as abordagens isoladas. No dia seguinte conversamos com um aluno do 3º ano que revelou ter assistido a conversa do dia anterior com o grupo de alunos do 3º ano, porém, afirmou que não fazia parte do grupo. Procuramos não fazer críticas ao comportamento dos alunos e partimos diretamente para as perguntas que nos interessava. Qual a sua opinião sobre o Grêmio Estudantil? Você acha que o Grêmio e importante? Você participaria? Sem demora, parecendo que já esperava por aquela entrevista, o aluno respondeu: [...] É... Eu acho que o Grêmio é importante por que a gente participa da escola, a maioria acha que não tem importância, que não adianta nada, mas eu acho que se tivesse o Grêmio a gente ficaria sabendo mais coisas que a diretora e os professores estão fazendo... Esses alunos que falam que o Grêmio não serve pra nada, é porque não sabe a função do Grêmio, eu sei, minha mãe é professora e sempre me fala que o Grêmio é importante por que o aluno participa e dá opinião. Aqui sempre teve o Grêmio, eu nunca participei por que quando eu era do Ensino Fundamental tinha vergonha de participar, agora... O ano passado teve, mas acabou logo, este ano ninguém participou, 6 Pequenas empresas de informática, acesso à Internet e jogos eletrônicos. 33 mas esse ano, também, eu não vi a diretora ir na sala chamar os alunos para formar o Grêmio, só tem uma professora que fica perguntando por que a gente não forma o Grêmio, mas acho que ela não sabe explicar direito, os alunos não sabem para que serve o Grêmio e ela não sabe explicar. Este ano eu já vou terminar o Ensino Médio e nunca participei, é muito bagunçado. Para completar a nossa investigação não poderíamos deixar de ouvir as opiniões dos alunos do 1º ano do Ensino médio e por que não, também de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. E para dar seqüência a essa atividade conversamos com um aluno de cada um desses anos de ensino. Aluno 4 - 9º ano do Ensino Fundamental. [...] Eu não sei pra que o Grêmio. Quando tinha grêmio... Uma vez... Quando eu tava na 6ª série (7º ano), a gente queria que reformasse a quadra, aí os alunos do Grêmio falaram pra diretora e ela não reformou, falou que tinha que pintar a escola e colocar uns vidros, na janela, que tava quebrado. Ainda botou a culpa na gente, dizendo que se não tivesse sujado as paredes e quebrado os vidros podia arrumar a quadra. Por isso que eu acho que o Grêmio não vale de nada, se eu for participar eu quero que compre mais computador e os alunos poder ficar depois da aula navegando na internet. Todo ano a gente fala pra diretora comprar mais computador e ela só fala que tem que esperar mias verbas. Se eu for pro Grêmio aí ela vai ter que comprar. Aluno 5 - 1º ano do Ensino Médio. [...] Grêmio Estudantil? É pra representar os alunos é.... Eu não sei pra que serve, não. Eu nunca participei. Todo ano tem que formar o Grêmio. Se esse ano tem? ... Ah, não sei não, deve ter, todo ano tem. Eu não acho que o Grêmio é importante, não. Tem coisa mais importante, eu estudo pra “caramba”. Estudar é mais importante. Entre todos os alunos com os quais já havíamos conversado, este foi sem sombra de dúvidas o mais espontâneo. Expressava claramente suas idéias. Contudo, sua espontaneidade, acabou, de certo modo, prejudicando nossa conversa, porque repentinamente saiu, como se nem estivéssemos ali, no exato momento em que surgiu algo que lhe despertou maior interesse. Durante a realização deste estudo, verificamos a partir das análises dos dados obtidos por meio dos textos legais, das leituras documentais e, principalmente da observação e das conversas realizadas no campo escolar, que os sujeitos diretamente ligados a escola (gestores, professores, funcionários, alunos e pais), demonstraram desconhecer o que seja uma escola democrática, ou seja, uma escola que se preocupa, não só com os conteúdos curriculares, mas, e, principalmente com a formação do cidadão crítico e consciente de seus direitos e 34 deveres. Percebe-se a falta da ação comprometida desses mesmos sujeitos na direção de realizarem os projetos da escola democrática e cidadã previstos nos textos legais. Por meio dos documentos da escola aos quais tivemos acesso, observa-se claramente que: no que concerne à papelada, tudo parece se encaminhar para uma gestão democrática e participativa, todavia esses registros analisados com mais atenção e confrontados com a legislação em vigor e as teorias denunciam a intenção de gestores e professores de ocultar a real situação da escola no que diz respeito a gestão e à participação dos sujeitos nas decisões. Considerações finais A análise da gestão democrática da escola pública foi realizada após as leituras teóricas, que nos forneceu o suporte indispensável à pesquisa de campo e as observações do cotidiano de uma escola pública estadual da cidade de Trindade, onde tivemos a oportunidade de conversar com alguns dos agentes integrantes do ambiente escolar: vice-diretora e alunos; fazer leitura de atas de reuniões e outros documentos relacionados com a gestão da escola. Depois de analisar as concepções teóricas referentes ao estudo, conhecer os princípios legais da gestão democrática da escola pública Art. 206, Inciso, VI da CF/ 88; Art. 3º, Inciso VIII da LDB/96; Art. 156, inciso VI da Constituição do Estado de Goiás; Art. 106 da Lei Complementar nº 26/98; Art. 1º, inciso IX e o Parágrafo único da Resolução nº 004/2009 e concluir as observações realizadas na escola-campo da pesquisa, passamos a considerar os dados obtidos para concluir à luz das teorias, da legislação em vigor e da própria observação, que a gestão democrática da escola pública ainda não pode ser vista como algo que exista de verdade, pois falta aos sujeitos integrantes do ambiente escolar, a conscientização da importância da participação de todos nas atividades ligadas à administração, à gestão, à coordenação e principalmente nas decisões que serão tomadas pelo grupo gestor. No interior da escola observada, a participação é simbólica7. Isto é, não existe uma participação real e integrada dos sujeitos no seu funcionamento. Apesar das insistentes negativas por parte dos membros da direção e dos professores entrevistados, em reconhecer a inépcia de suas alegações e ações, a concepção neoliberal de mercado é visível no interior dessa escola. O próprio modo de expressar dos membros da direção, que se refere aos alunos como “clientela”, denuncia a concepção empresarial e mercadológica orientando as práticas na escola. Tomando a participação dos pais, por exemplo, nas reuniões bimestrais vimos por meio dos registros, que a presença é bem aquém do número de alunos 7 Geertz esclarece que o sistema de símbolos é usado para qualquer objeto, ato, acontecimento, qualidade ou relação que serve como vínculo a uma concepção, ou seja, a concepção é o “significado” do símbolo. (Apud SILVA, 2009, p. 25). 36 matriculados. Essas reuniões são organizadas com o objetivo de fazer a entrega da notas dos alunos; proferir palestras; fazer leitura de informes e registro de controle de presença dos pais. Por intermédio das atas e livros de registros pode-se observar que as reuniões do Conselho Escolar e Conselhos de classe são realizados com pouca, ou nenhuma, participação dos alunos e dos pais. Vale ressaltar que durante os momentos na escola não foi possível identificar se há o empenho da direção no sentido de modificar essa situação. Uma forma de participação, defendida nessa escola, é a contribuição monetária no valor de R$ 2,00, que cada aluno ou pai deve entregar bimestralmente na escola. Sobre isso, nos fala Vitor Paro: [...] Uma de participação aceita pela escola é a colaboração monetária ou a doação de trabalho para executar tarefas decididas pela direção, sem participação das famílias na tomada de decisões. Entretanto quando se convoca os pais e alunos para que participem na decisão é a direção da escola que apresenta as idéias e as coloca em votação, sem que os participantes tenham como discutir e, eventualmente, discordar do que lhe foi apresentado (2007, p. 99). Todavia, se de um lado as leituras realizadas nos documentos (atas de reuniões e livro de registros), não nos dar a certeza de que falta o empenho da direção para que haja, de fato, a participação dos alunos e pais nos assuntos gerais da escola, por outro lado, quando observamos as ações, propriamente ditas, do grupo gestor e da maioria dos professores, nos parece que estes procuram evitar, de certo modo, a interferência dos alunos, pais e funcionários nas decisões. Restringindo aos professores e à direção a tomada de decisão. Quanto aos funcionários, parece que se distanciam dos assuntos internos da escola, talvez pela condição instável de emprego, haja vista que a maioria é regida pelo contrato temporário e mesmo os concursados, que gozam de estabilidade, também ficam à margem das decisões, talvez por que não conseguem superar a distancia, imposta pela estrutura hierárquica, entre as suas funções e as funções dos dirigentes e professores. A escola conta com eleições de diretor e o Conselho Escolar, entretanto, não há complementaridade entre estas e outras ações que configuram a existência da gestão participativa da escola. Podemos citar como exemplos: o esvaziamento nas 37 reuniões de pais, o desinteresse de alunos, pais e funcionários em participar das reuniões do Conselho Escolar e a inexistência do Grêmio Estudantil. Nos diálogos com a vice-diretora, esta alega que não há como “obrigar as pessoas a comparecer nas reuniões”, a maioria trabalha e as reuniões ocorrem durante o expediente escolar. E os membros do Conselho Escolar, só se reúnem quando são convocados pela direção. E com relação ao Grêmio Estudantil, ela afirma que: inicialmente há certo interesse dos alunos em participar, mas depois, aos poucos, vão se afastando e, por fim, nem comparecem nas reuniões, a não ser que haja muita insistência por parte da direção e dos professores. Deste modo, à luz das teorias e princípios legais, referenciadas no presente estudo, nas observações do cotidiano da escola e entrevistas realizadas com diversos integrantes do ambiente escolar fica evidente que ainda falta aos gestores e professores, pelo menos dessa escola que foi objeto do nosso estudo, a real consciência da importância da democracia no ambiente escolar. Constata-se, por intermédio do presente estudo, que na verdade existe, sim, uma preocupação de gestores e professores, mas na direção de evitar a real participação de alunos, pais e funcionários nos assuntos ligados às decisões tomadas na escola, impedindo, desse modo, que o ambiente escolar seja de fato um espaço democrático, sem reservas e imposições hierárquicas. E com relação aos outros sujeitos integrantes do ambiente escolar (funcionários, alunos e pais), apesar do distanciamento em relação aos assuntos internos da escola, foi possível perceber, no entanto, que o motivo desse afastamento é mais pelo desconhecimento da estrutura funcional e dos objetivos da escola e, ainda, dos direitos e deveres de cada um, do que por outros motivos, entre eles, o mais alegado, a falta de tempo. Que a participação nas reuniões é incipiente, as atas e registros não deixam dúvidas. Quanto a participação nas decisões, podemos afirmar que é nula se levarmos em conta a falta do Grêmio Estudantil e a sensível ausência de alunos, funcionários e pais nas reuniões do Conselho Escolar e de pais Um fato que verificamos, por meio das assinaturas no livro de presença nas três reuniões de pais realizadas neste ano, foi a pequena participação, em comparação ao número de alunos matriculados na escola. 38 Os resultados obtidos, no presente estudo, destacam que ainda não há a participação de todos os integrantes do ambiente escolar, nas atividades e nas decisões tomadas na escola, ocasionando à certificação da ausência de uma gestão democrática e participativa. Nota-se que as decisões tomadas na escola não vão além dos gestores e professores. A participação dos outros sujeitos (funcionários, alunos e pais) é limitada. Referências BRASIL - Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de Outubro de 1988. 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