ISSN 2316 2953 fator vida Prevenção é saúde Publicação da federação Brasileira de hemofilia • Ano 02 • Edição 08 • outubro-dezembro 2013 Experiência com saúde Pessoas mais velhas podem conviver bem com coagulopatias e realizar suas atividades normalmente cenário SAÚDE fatores Terapia domiciliar melhora qualidade de vida e reduz impacto no sistema de saúde Prática de atividade física fortalece a musculatura, inibe dores e proporciona bem-estar Hematologista destaca as conquistas e perspectivas no tratamento de coagulopatias 2 outubro - dezembro 2013 NESTE NÚMERO 14 tratamento Pessoas com coagulopatias envelhecem com saúde, mantêm a rotina e realizam suas atividades normalmente 06 Fatores Dra. Suely Meireles Rezende relata os avanços no tratamento de coagulopatias no País 10 18 22 cenário cobertura saúde Terapia domiciliar melhora qualidade de vida e reduz o impacto econômico sobre os sistemas de saúde Representantes da Federação participam do Fórum de Pacientes no Hemo 2013 Praticar exercícios regularmente traz resultados para a mente e corpo, além de inibir as dores 26 30 Exemplo NA REDE Com a palavra, a Federação Brasileira de Hemofilia (FBH) Maurício Oliveira possui hemofilia e se divide entre a paixão por esportes radicais e a fotografia Confira como foram os eventos que tiveram a participação da FBH e associações regionais 34 Agenda © Shutterstock 04 editorial Confira os principais congressos e cursos programados para os próximos meses e programe-se! outubro - dezembro 2013 3 editorial 2014, aí vamos nós! Final de ano é um bom momento para refletir sobre o que passou, avaliar erros, acertos e, principalmente, é hora de recarregar as energias para encarar novos (ou velhos) desafios com foco e determinação. Quando falamos do cenário da hemofilia e demais coagulopatias, mesmo com todos os avanços conquistados nos últimos anos, é claro que ainda há muito a ser feito. A reportagem Cenário aborda a questão do tratamento domiciliar e traz informações importantes. Apesar das 3.9 unidades per capita disponíveis atualmente no País, algumas pessoas ainda não têm acesso aos quantitativos em regiões mais remotas, bem como nos grandes centros. Dados divulgados no Manual das Coagulopatias do Ministério da Saúde de 2012 apontam que a média nacional de distribuição de doses domiciliares aumentou de 24,37% para 41,91%. Entretanto, existem grandes discrepâncias entre os estados, com números que variam entre 2% e 76%. Por isso continuamos insistindo na importância da capacitação de todas as equipes de tratadores dos centros e do direito ao acesso à informação entre os pacientes e familiares, para que o tratamento oferecido seja igualitário e equânime. É com essa motivação que continuaremos batalhando pelo cumprimento do direito às melhores formas de tratamento disponíveis. Nesta edição trazemos também uma entrevista com a hematologista molecular pela Universidade de Londres Suely Meireles Rezende. Ela ressalta a integração como peça-chave para a melhoria do atendimento e do tratamento das coagulopatias no Brasil. Confira essa e outras reportagens nesta edição da Fator Vida. Tenha uma boa leitura e um ótimo final de ano. Feliz 2014! Tania Maria Onzi Pietrobelli Presidente da Federação Brasileira de Hemofilia ISSN 2316 2953 FATOR VIDA é uma publicação trimestral da Federação Brasileira de Hemofilia distribuída gratuitamente para pessoas com hemofilia, von Willebrand e outras coagulopatias hereditárias e profissionais da saúde. O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade de seus autores e não representa necessariamente a opinião da FBH. Jornalista responsável Roberto Souza (Mtb 11.408) Editor-chefe Fábio Berklian Editor Rodrigo Moraes SUBEditorAS Samantha Cerquetani e Tatiana Piva Reportagem Anderson Dias e Marina Panham REVISÃO Paulo Furstenau Projeto Editorial Fábio Berklian Projeto Gráfico Luiz Fernando Almeida Designers Felipe Santiago, Leonardo Fial e Luiz Fernando Almeida Tiragem 6.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Mundo Av. Itália, 325, Sl. 204, São Pelegrino, Caxias do Sul – RS – 95010-040 54 3224.1004 [email protected] www.hemofiliabrasil.org.br 4 outubro - dezembro 2013 Rua Cayowaá, 228, Perdizes | São Paulo - SP | CEP: 05018-000 11 3875-6296 | [email protected] www.rspress.com.br fatores outubro - dezembro 2013 5 fatores Por um tratamento eficaz Hematologista Dra. Suely Meireles Rezende aponta os próximos passos do tratamento de coagulopatias no Brasil Integração. Essa palavra, de acordo com a doutora em hematologia molecular pela Universidade de Londres Dra. Suely Meireles Rezende, é fundamental na nova estrutura de atendimento e tratamento a coagulopatias no Brasil. Palestrante durante o Hemo 2013 – maior congresso de hematologia, hemoterapia e Terapia Celular da América Latina –, realizado em Brasília, a especialista concedeu entrevista exclusiva à Revista Fator Vida, onde falou sobre as conquistas recentes das pessoas com hemofilia no País e os próximos passos para melhorar o atendimento. A médica também explanou sobre a importância dos centros de hemofilia, além de opinar sobre a necessidade de atualização e integração entre pessoas com coagulopatias, médicos e demais profissionais da área. Confira a entrevista: 6 outubro - dezembrO 2013 POR Anderson Dias A senhora possui um currículo de graduada, mestre, doutora e pós-doutora. Poderia nos dizer sua formação acadêmica completa? Sou médica hematologista formada pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), residente no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), mestre em hematologia e doutora em hematologia molecular pela Universidade de Londres e pós-doutorada em epidemiologia clínica pela Universidade de Leiden, na Holanda. Atualmente, sou professora asso- ciada do Departamento de Clínica Médica da FCMMG, coordenadora médica do Serviço de Hematologia e Oncologia do HC da UFMG e colaboradora do Ministério da Saúde no Programa Nacional de Coagulopatias Hereditárias. Especialistas já classificaram os últimos anos no Brasil como históricos no que diz respeito ao tratamento de hemofilia e coagulopatias. A senhora concorda? Muito se conquistou nos últimos cinco anos, mais especificamente nos últimos dois ou três. Parte dessas conquistas se deve a uma © Thiago Teixeira / RS Press fatores melhoria no processo de compras e aquisição dos concentrados de fator e uma determinação em melhorar esse processo – temos de reconhecer esse esforço do Ministério da Saúde, ou seja, além da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados, para que esse problema fosse resolvido. Paralelamente, houve um esforço grande da própria Coordenação na tentativa de qualificação dos centros de hemofilia, que pertencem ao nível estadual de gestão, tanto em processos de treinamento e qualificação do atendimento quanto na questão diagnóstica. Hoje temos um programa de treinamentos em diversos níveis de assistência, com médicos, enfermeiros, pessoal de laboratório para diagnóstico e distribuição de hemoderivados que envolvem farmacêuticos e a reabilitação com fisioterapeutas, ortopedistas e fisiatras. Suely Rezende elogiou as últimas ações do Ministério da Saúde no tratamento das coagulopatias As gestões estaduais é que precisam, atualmente, de uma atenção maior? Esta é uma questão importante. Trata-se de um programa de parceria, e claro, se um lado trabalhar muito e o outro nada, não haverá êxito. Se agora a questão da aquisição dos fatores está praticamente resolvida, e esperamos que isso seja mantido eternamente, temos de garantir também um bom uso desse fator na ponta do processo todo, que é da gestão estadual. Os centros de hemofilia precisam se preparar para prescrever adequadamente a medicação, monitorar outubro - dezembrO 2013 7 fatores “Com a nova realidade, os centros de tratamento geridos pelos estados devem rever seus métodos de trabalho” Para a especialista, pessoas com coagulopatias precisam de mais informação Dra. Suely Meireles Rezende, coordenadora médica do HC da UFMG sua dispensação e obviamente acompanhar as pessoas atendidas no uso do produto. É preciso também quantificar a existência de hemorragias e complicações, chegando até os dados de mortalidade, números que oficialmente não temos hoje no Brasil. Objetivamente, quais são então as necessidades para que os estados atuem de forma mais qualitativa? Os centros estaduais precisarão rediscutir todas essas questões da melhoria, porque será necessária uma readequação em seu modo de trabalho. O que acontecerá nos próximos anos é uma descentralização dos cuidados, antes muito vinculados e dependentes do centro de hemofilia, e agora passando a se tornar cada vez mais independentes. Isso não quer dizer que o atendido deva ficar sem nenhum tipo de assistência, ou seja, fornecemos os concentrados e o fator e consideramos o processo terminado. 8 outubro - dezembrO 2013 A pessoa precisará de orientação e monitoramento dos centros de hemofilia em relação às infusões, hemorragias e complicações, além da mensuração disso tudo. A quantificação da eficiência do programa será feita por esses parâmetros. Se os centros não os colherem, nós simplesmente não os teremos. Qual sua opinião sobre a possível sobra de fator em diversos centros de atendimento no Brasil? Credito essa situação a uma falta de adaptação de todos nós no processo. Trata-se de uma mudança brusca no programa com relação ao abastecimento, e é possível que não tenhamos nos preparado adequadamente para ela, incluindo os estados. Podemos citar como exemplo os pacientes que não foram treinados para a autoinfusão: mesmo que você tenha o medicamento e a pessoa possa levá-lo, se ela não tiver treinamento para sua aplicação, temos aí um problema. Ou essa pessoa atendida precisa ser treinada agora, por um grupo que é geralmente pequeno para tal função nos centros de hemoterapia, ou terá de demandar de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou farmácia, ou ainda voltar para receber a medicação no próprio centro. Portanto, esses espaços terão de passar por uma readaptação dos processos de trabalho. As pessoas retornarão menos ao centro de saúde para receber o fator na urgência/emergência, © Thiago Teixeira / RS Press fatores nhecimento de todos os níveis dessa equipe. Outra questão-chave é o tratamento ortopédico no Brasil – penso que precisamos avançar muito nessa área, além de auxiliar os pacientes mais velhos, que hoje têm sequelas muito importantes dessas coagulopatias. As crianças da atualidade terão sequelas mínimas. O Ministério da Saúde está determinado a encontrar uma solução para essas questões por meio da incorporação da radiosinoviortese na tabela de procedimentos e pela criação de centros de ortopedia para operar pessoas com coagulopatias. Hoje são muitos pacientes que necessitam de intervenções no quadril, joelho e outras cirurgias ortopédicas que, atualmente, não temos condições de realizar. mas irão requerer educação dos centros de saúde. ção de saúde, já que estamos descentralizando o tratamento. Então, as pessoas com coagulopatias também deverão ter mais informações? Sem dúvida. Além da readaptação dos centros de hemofilia, os cidadãos atendidos também precisarão estar mais informados. Agora, eles terão que identificar uma hemorragia, por exemplo. Precisarão de treinamentos e serão mais demandados sobre sua própria situa- Nesse contexto, cresce também a importância das equipes multidisciplinares no atendimento? Essas equipes são fundamentais em um centro de hemofilia. Em muitos locais, esse grupo precisa trabalhar de forma mais coesa e articulada, por meio de reuniões semanais, como já ocorre em alguns centros. É preciso interação. A pessoa atendida deve ser do co- No Hemo, pudemos conferir algumas pesquisas relevantes na área de coagulopatias. Qual a percepção da senhora sobre o assunto no Brasil? Precisamos avançar bastante nessa área de hemostasia e trombose, não apenas nas coagulopatias hemorrágicas. Temos hoje grupos muito específicos e centralizados no sul e sudeste do Brasil. Muitos deles trabalham também de maneira desintegrada. Precisamos atuar mais em colaboração com os centros. O Brasil é muito grande, com diversos pacientes e oportunidades na área de pesquisa. Entretanto, estamos falando de patologias raras, e se não trabalharmos de forma multicêntrica, faremos pouco. outubro - dezembrO 2013 9 cenário Terapia domiciliar Modalidade de tratamento melhora qualidade de vida da pessoa com hemofilia e de seus familiares e reduz impacto econômico sobre os sistemas de saúde POR Marina Panham A dose domiciliar (DD) começou a ser distribuída no Brasil entre 1999 e 2000 com certa insegurança. Enfermeira especializada em hemofilia da Unidade de Hemofilia Cláudio Luiz Pizzigatti Corrêa, do Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e integrante do Comitê de Enfermagem da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), Andréa Sambo acompanhou todo o processo de implantação da DD no País e recorda que inicialmente mal havia quantitativo de fator de coagulação suficiente para atender às intercorrências nas unidades tratadoras, quanto mais para abastecer os domicílios das pessoas com hemofilia. Além disso, havia o agravante da logística que tal modalidade de tratamento exigia. Com o passar dos anos, a qualidade de vida das pessoas com hemofilia aumentou, devido a melhorias no tratamento, como a ampliação na compra de fatores de coagulação e na distribuição de doses domiciliares de três para 12, para pacientes com hemofilia A grave, e nove doses para pacientes com hemofilia B grave e no caso de residirem distante do Centro de Tratamento de Hemofilia (CTH) podem ser bem mais. Mas apesar de haver 3.9 unidades per capita disponíveis atualmente no País, algumas pessoas ainda não têm acesso aos quantitativos em regiões mais remotas e mesmo em grandes centros. Portanto, é necessária uma atuação conjunta entre o Ministério da Saúde e os CTHs para reverter a situação e garantir as doses domiciliares em quantidades adequadas para todos. 10 outubro - dezembro 2013 Fábio B. Freire, 11 anos, aplicando a dose domiciliar Na palestra Informação: O Fator Decisivo, conduzida pela vice-presidente da FBH, Mariana Battazza Freire, durante o 3o Fórum Educacional das Instituições de Apoio a Pacientes Portadores de Doenças Hematológicas ou Onco-Hematológicas, no Hemo 2013, foram apresentados os dados divulgados no Manual das Coagulopatias do Ministério da Saúde de 2012. Segundo a publicação, a média nacional de distribuição de doses domiciliares aumentou de © Mariana Battazza Freire / Arquivo pessoal cenário 24,37% para 41,91%, Há muita discrepância entre os números dos estados, variando de 76% a cerca de 2%, o que mostra que o tratamento é bastante desigual ainda em nosso País e que deve haver um esforço na capacitação de todas as equipes de tratadores dos centros no sentido de que o tratamento oferecido seja igualitário e equânime, pois esses são os princípios que regem o SUS. Na mesma ocasião, a vice-presidente citou um estudo da Federação Mundial de Hemofilia (WFH, sigla em inglês) sobre o tratamento domiciliar, realizado em 2009, que demonstra que o acesso imediato ao fator de coagulação aumenta o ciclo e a qualidade de vida dessas pessoas. Segundo a pesquisa, houve uma correlação entre o tratamento em casa e um aumento substancial em termos de longevidade nos últimos 20 anos. Para Andréa, isso ocorre porque o tratamento domiciliar promove autoconfiança e independência a essas pessoas e seus familiares. Ela explica que a terapia possibilita que, além da profilaxia, o fator de coagulação concentrado seja administrado logo que ocorre o sangramento, porque o paciente não precisa se deslocar a um CTH para receber a infusão, podendo realizá-la em casa. “A infusão precoce de fator impacta o tratamento positivamente, pois evita danos em longo outubro - dezembro 2013 11 cenário Para obter as doses domiciliares, a pessoa com hemofilia deve estar cadastrada em um CTH, onde recebe treinamento teórico e prático sobre a coagulopatia e a administração do fator prazo.” Ela destacou ainda a importância da equipe multidisciplinar dos CTHs na assistência e orientação de pessoas com hemofilia e seus cuidadores, que devem passar a fazer parte dessa equipe aprendendo e realizando o autocuidado. Ela conta que na unidade em que atua todas as pessoas com hemofilia são recebidas pela equipe de enfermagem, que realiza a pré-consulta para identificar o problema principal ou avaliar o tipo de queixa, bem como para consulta de rotina, quando há alguma intercorrência, para reavaliação da profilaxia e tratamento domiciliar e, principalmente para o treinamento e retreinamento da infusão domiciliar. Em todas essas ocasiões, o profissional de saúde atualiza peso, altura e alimenta os demais dados, entre eles: motivo da infusão e dosagem de inibidor, no Hemovida Web Coagulopatias – sistema de informação sobre pacientes da unidade. Andréa diz que sua maior atuação é educar esses indivíduos, pois é imprescindível que as pessoas com hemofilia e seus cuidadores conheçam seus direitos e deveres. “Devemos ser compreensivos, pois cada um tem um tempo de aprendizagem diferente.” Segundo ela, os profissionais de saúde devem manter postura positiva durante a orientação. “Procuro fazer sempre o meu melhor para tornar o tratamento 12 outubro - dezembro 2013 domiciliar uma realidade e estimular a autoconfiança, independência e melhor qualidade de vida para pacientes e cuidadores.” Para obter as doses domiciliares, o paciente deve estar cadastrado em um CTH, e é fundamental que esteja em dia com os exames (sorologia, principalmente inibidor), conheça a coagulopatia e o tratamento e saiba fazer autoinfusão – ou ter quem a faça. Para isso, pacientes e familiares são submetidos a treinamento teórico e prático com a equipe multidisciplinar. No treinamento teórico, a coagulopatia e a importância do tratamento e comprometimento das pessoas envolvidas são abordados pelos profissionais. No prático, os pacientes e familiares treinam o preparo e administração do fator. “As capacitações são realizadas de forma gradativa e contínua, e empregadas de acordo com a idade e o entendimento dos participantes.” A pessoa com hemofilia deve possuir uma geladeira com boas condições para armazenar as © Andréa Sambo / Arquivo pessoal cenário doses domiciliares. “Se o paciente não possui o eletrodoméstico em casa, a equipe do CTH deve ajudá-lo a procurar um lugar seguro para armazenar os fatores, podendo ser em uma UBS mais próxima”, afirmou Andréa. Alguns serviços promovem visitas domiciliares regularmente para averiguar as condições de moradia do paciente e armazenamento das doses. Além de identificar pontos que devem ser aperfeiçoados, Andréa enfatizou que a iniciativa visa estreitar vínculos. A equipe da Unidade de Hemofilia Cláudio Luiz Pizzigatti Corrêa, do Hemocentro da Unicamp, também oferece atendimento telefônico para esclarecer dúvidas. “Se ainda assim incertezas persistirem, orientamos a pessoa a procurar o CTH mais próximo.” Outro instrumento importante para o tratamento é um diário fornecido pelo CTH, onde a pessoa com hemofilia descreve todas as informações sobre sangramentos e infusões. O preenchimento desse diário é muito importante para se traçar o perfil de sangramento do paciente e individualizar seu tratamento e ainda poder realizar os registros adequados no Hemovida, importantíssimo para definir e melhorar as políticas públicas. É importante destacar que os CTHs não estão transferindo a “A terapia domiciliar proporciona 73% menos dias perdidos de trabalho ou escola, 74% menos pacientes adultos desempregados, 89% de redução na entrada em hospitais, 83% menos dias gastos em hospitais e redução geral de 74% dos custos do tratamento por pacientes/ano” De acordo com a presidente da FBH, Tania Pietrobelli, o tratamento deve ser oferecido a todas as pessoas com hemofilia, independente de onde residam. “É injusto não oferecer essa modalidade de tratamento a esses indivíduos que moram longe do CTH, pois eles necessitam de maior atenção. Temos o melhor sistema de saúde do mundo, mas para que o melhor tratamento esteja acessível a todos os cidadãos brasileiros, é preciso o comprometimento de todos os envolvidos”, relata. Impacto econômico responsabilidade do tratamento para o paciente e o cuidador, mas sim dividindo a responsabilidade. “Não queremos ser apenas distribuidores de fatores. Nossa expectativa é que o paciente tenha plena consciência de seus direitos e deveres, atuando de maneira correta e segura em seu tratamento.” Para que haja aderência ao tratamento, ela reafirma que o paciente seja inserido como um membro da equipe multidisciplinar. Além disso, parcerias com a FBH e outras associações de apoio aos pacientes são fundamentais para a qualidade de vida. “Deve existir um elo de confiança entre tratadores, pacientes e cuidadores e entidades representativas, que fazem o controle social.” A modalidade de tratamento domiciliar mostrou-se benéfica não apenas para a qualidade de vida e longevidade das pessoas com hemofilia. Estudos apontam redução de aproximadamente 400% no número de visitas a clínicas em países onde a terapia em casa está disponível e comprovam que as doses domiciliares reduzem a carga nos serviços públicos de saúde. Levantamento realizado pela WFH revela que a terapia domiciliar proporciona 73% menos dias perdidos de trabalho ou escola, 74% menos pacientes adultos desempregados, 89% de redução na entrada em hospitais, 83% menos dias gastos em hospitais e redução geral de 74% dos custos do tratamento por pacientes/ano. outubro - dezembro 2013 13 tratamento Envelhecer com coagulopatias Estar ativo física, mental e socialmente: isso é o que mantém uma pessoa saudável e feliz em sua vida adulta e no processo de envelhecimento POR Samantha Cerquetani Nas últimas décadas, a expectativa de vida de uma pessoa com coagulopatia tornou-se exatamente a mesma de qualquer indivíduo. “Atualmente, em virtude do tratamento preventivo com o fator de coagulação, a realidade das crianças e jovens com distúrbios hemorrágicos hereditários é completamente diferente de tempos atrás. Eles têm qualidade de vida, podem seguir a profissão que escolheram e lidam com poucas restrições”, explica a psicóloga e especialista em envelhecimento humano Lutiana Mott. Hoje em dia, a pessoa que faz o tratamento da forma correta com 14 outubro - dezembrO 2013 © Shutterstock tratamento acompanhamento médico regular pode ter uma vida normal, e com qualidade, vindo a falecer, quando for o momento, por qualquer outro motivo e não por ter hemofilia. Por isso, essas pessoas, além de fazerem o tratamento adequado para a hemofilia, devem, como qualquer indivíduo, ser acompanhadas por diversos especialistas, como cardiologista, endocrinologista e ortopedista, além de praticar exercícios físicos, já que esses cidadãos têm a mesma expectativa de vida de todos. Entretanto, a população que não teve acesso ao tratamento correto desde o início, precisa encontrar formas de reparar e superar as sequelas adquiridas ao longo dos anos, além dos problemas de saúde decorrentes da idade avançada. Para ter uma velhice saudável hoje, a pessoa deve estar engajada em atividades da vida diária, fazer academia, fisioterapia, pilates, desenvolver a musculatura, cuidar de situações diárias que não o ponham em risco. Estudar, trabalhar, participar das atividades de sua casa, seu bairro, de igreja, sua cidade e seu País. Manter-se ativo física, mental e socialmente: isso é o que mantém uma pessoa saudável e feliz em sua vida adulta e no processo de envelhecimento. “Como cuidados gerais, que não seriam uma particularidade de quem tem hemofilia, recomendaria a essas pessoas prevenirem-se do risco, como adaptar a casa com corrimãos em locais estratégicos, eliminar os tapetes soltos e móveis desnecessários e com cantos, evitar escadarias e declives acentuados, não subir em outubro - dezembrO 2013 15 tratamento Exemplo de superação Aos 48 anos, Marinésio Lima de Oliveira relembra sua história em entrevista à Fator Vida. Nascido no interior da Paraíba, na cidade de Alagoa Grande, logo cedo descobriu que possuía hemofilia: “Sou o caçula de três irmãos, todos com esse distúrbio hereditário hemorrágico, e quando surgiram os primeiros sintomas meus pais já sabiam o que viria pela frente”. Nenhum teve o tratamento correto, e quando surgiam sangramentos, eles recebiam transfusões de sangue, geralmente de parentes para evitar contaminação. Por ser um problema de saúde pouco conhecido e a cidade pequena, eles ficaram “famosos” na região. Assim, uma professora do local indicou para o pai dos meninos o Hemocentro de Pernambuco, onde conseguiram ter o tratamento correto pela primeira vez. Porém, um dos irmãos, ao sofrer banquinhos e cadeiras para pegar algo, e organizar principalmente a cozinha, colocando o necessário ao alcance da vista. Isso pode evitar muitos desastres desnecessários”, completa Lutiana. É importante destacar o papel da informação. Ter conhecimento desmistifica, gera entendimento e faz com que as pessoas trabalhem com o rápido diagnóstico e tratamento adequado, gerando a prevenção de problemas resultantes das doenças que podem ser totalmente evitados. A hematologista do Hemocentro do Pará (Hemopa) Iêda Pinto destaca que antigamente as pessoas com coagulopatias não passavam dos 30 anos e sofriam muito durante toda a vida por não terem o atendimento adequado. Segundo ela, aqueles que conseguiram sobreviver, além das sequelas e sangramentos, hoje têm 16 outubro - dezembrO 2013 problemas da idade, que surgem geralmente após os 50 anos. E, na maioria das vezes, isso acontece porque essas pessoas descuidam da parte clínica, deixam de fazer exames de rotina e focam mais nas coagulopatias. “O paciente precisa ser visto de maneira global pelos profissionais de saúde. O fato de possuir qualquer coagulopatia não faz com que os outros problemas de saúde recorrentes da idade desapareçam. Fazer exames de rotina é fundamental para todos e ainda mais importante para manter a qualidade de vida desses idosos”, relata a especialista. De acordo com o estudo The Aging Patient with Hemophilia, publicado no Haemophilia Journal em 2009, hoje uma pessoa com hemofilia pode tranquilamente chegar à terceira idade. Isso ocorre devido à disponibilidade de medicamentos antivirais que tratam do HIV e HCV (que eram transmitidos antigamente, por meio de transfusões de sangue) e ao maior número de pessoas em uso do tratamento correto com fator e de profissionais da saúde especializados nesses distúrbios, que oferecem agora atenção integral. Lutiana afirma que para a pessoa com hemofilia ter uma velhice saudável, é preciso observar alguns cuidados básicos, como a continuidade do tratamento, a prática de exercícios que fortaleçam a musculatura e a prevenção de quedas. “Tais cuidados não são particularidades desses idosos. Porém, a falta de tratamento prévio é um agravante, pois acarreta sequelas que podem dificultar a mobilidade, por exemplo.” A especialista © Marinésio Lima de Oliveira / Arquivo pessoal tratamento uma queda, veio a falecer na adolescência, pois teve hemorragia interna e não conseguiu o atendimento adequado. Apesar de alguns problemas de saúde causados pela falta de fatores de coagulação e tratamento adequado, o paraibano nunca desanimou ou deixou de trabalhar. “Já fui até mesmo ajudante de pedreiro. Hoje sou autônomo e trabalho como costureiro, mas devido a uma artrose no joelho não posso andar por muito tempo, pois sinto dor”, relata. Ele conta que gosta de viajar e usa as doses domiciliares de fatores de coagulação. “Hoje me sinto bem melhor graças à disponibilidade de maior quantitativo de fatores.” Casado há 30 anos, o costureiro tem três filhos e uma neta. “Quando vejo as crianças com coagulopatias brincando por aí, me emociono muito. É maravilhoso que hoje elas consigam ter uma vida normal e praticar esportes. No meu tempo tudo era muito difícil e tínhamos diversas restrições. Posso dizer que hoje sou uma pessoa extremamente feliz”, conclui. destaca também o papel da família: “Em qualquer fase da vida, o apoio familiar é importante, mas a necessidade aumenta muito nesses casos. As crianças precisam dos pais para aplicação do fator até adquirirem independência. Já os mais velhos precisam de outras formas de apoio caso haja limitações, e o convívio familiar é sempre fundamental”. O senador Paulo Paim (PT/RS) abraçou a causa das pessoas com hemofilia há muitos anos: “Recebemos a solicitação da Federação Brasileira de Hemofilia, que queria o amparo de políticas públicas, e prontamente atendemos”. Por conta disso, o senador realizou em dezembro de 2008 uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, da qual era “O paciente precisa ser visto de maneira global pelos profissionais de saúde. O fato de possuir qualquer coagulopatia não faz com que os outros problemas de saúde recorrentes da idade desapareçam. Fazer exames de rotina é fundamental para todos” Iêda Pinto, hematologista do Hemopa presidente, a fim de encontrar soluções para a oferta insuficiente dos fatores de coagulação. O Acórdão TCU no 975/2009, em resposta à consulta da Comissão de Direitos Humanos, colocou como possíveis soluções para a oferta insuficiente de hemoderivados: o aprimoramento do planejamento das compras; a implementação de um estoque regulador de hemoderivados, a implantação da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás); e a possibilidade de aquisição e/ou desenvolvimento da produção do fator VIII recombinante, obtido por engenharia genética. Hoje essas recomendações são uma realidade no Brasil. O senador Paim opina que a falta de tratamento em pessoas com hemofilia é uma questão delicada, já que elas não tiveram o atendimento adequado por anos e convivem hoje com as sequelas dessa situação. Ele afirma que muitos chegaram até mesmo a processar o Governo. “Avançamos muito na questão do tratamento, mas queremos mais. Pretendemos investir na identificação e/ou construção, nas cinco regiões no Brasil, de hospitais especializados para suprir a necessidade desses indivíduos”, relata. Em 2009, o Congresso Nacional aprovou R$ 360 milhões para compra de fatores de coagulação, aumentando gradativamente nos anos seguintes, e o senador atuou diretamente na causa, por acreditar que a aquisição de medicamentos destinados ao tratamento de pessoas com coagulopatias hereditárias é fundamental para manter a qualidade de vida e saúde dessa população. outubro - dezembrO 2013 17 cobertura Em benefício do paciente Representantes da FBH participam do Fórum Educacional das Instituições de Apoio a Pacientes Portadores de Doenças Hematológicas ou Onco-Hematológicas durante o Hemo 2013 POR Marina Panham Pela terceira vez no Congresso Brasileiro de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (Hemo), a realização do Fórum Educacional das Instituições de Apoio a Pacientes Portadores de Doenças Hematológicas ou Onco-Hematológicas representa o reconhecimento dos médicos para a importância da participação do paciente em seu tratamento. No Congresso realizado em novembro de 2013 em Brasília (DF), estiveram presentes pacientes e representantes da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), Associação de Medula Óssea do Estado de São Paulo (Ameo), Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta), Associação Brasiliense de Pessoas com Doença Falciforme (Abradfal), Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e outros órgãos que atuam em prol do tratamento e qualidade de vida dos pacientes com doenças hematológicas ou onco-hematológicas. 18 outubro - dezembro 2013 Segundo a presidente da FBH, Tania Pietrobelli, essa é uma oportunidade que a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH) proporciona aos pacientes e às instituições de apoio para que participem dos debates junto aos médicos e representantes de órgãos governamentais. Para ela, a consolidação do Fórum na programação do Hemo mostra que a participação do paciente na busca pelo melhor tratamento foi reconhecida pela categoria médica. E defende que o ponto de vista do paciente seja mesmo considerado: “A pessoa com hemofilia também é integrante da equipe multidisciplinar, pois ela deve estar comprometida com seu tratamento para ter uma vida independente, autônoma e plena”. Tania enfatizou que essa é uma visão da FBH, mas que os médicos estão cada vez mais atentos à importância da participação de pacientes e representantes de insti- tuições de apoio em congressos da categoria médica. Para a vice-presidente da FBH, Mariana Battazza Freire, essa é a comprovação de que a categoria médica assume a importância do paciente como um instrumento que contribui para a efetividade do tratamento. “Ninguém melhor que o próprio paciente para difundir informações sobre sua condição e a coagulopatia”, afirmou. O Congresso possibilita intercâmbio de informações entre médicos e outros profissionais de saúde, representantes de órgãos governamentais e de instituições de apoio aos pacientes, e os próprios pacientes. “Trabalhando todos juntos, podemos melhorar continuamente o tratamento e a qualidade de vida das pessoas com coagulopatias”, acrescentou. © Thiago Teixeira / RS Press cobertura Ao lado, a vice-presidente da FBH, Mariana Battazza Freire, inaugurou o Fórum com a palestra Informação: O Fator Decisivo. Acima, a presidente da FBH, Tania Pietrobelli, a vice-presidente Mariana Battazza Freire e o ex-coordenador geral de sangue e hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez Informação: o fator decisivo O presidente do Hemo 2013, Roberto Passetto Falcão, foi o responsável pela abertura oficial do Fórum. Em seguida, Mariana iniciou as apresentações com o tema Informação: O Fator Decisivo e discorreu sobre o trabalho da entidade no País em prol do tratamento e qualidade de vida das pessoas com hemofilia, doença de von Willebrand e outras coagulopatias hereditárias. Em sua explanação, ela destacou que o Brasil possui hoje a terceira maior população de pessoas com hemofilia e outras coagulopatias hereditárias do mundo. A afirmação é baseada em pessoas registradas, que se dividem em 9.122 casos de hemofilia A, 1.801 de hemofilia B, 5.455 de von Willebrand e 1.851 de outras coagulopatias. Segundo Mariana, a FBH tem extensa representação em todo o território nacional. “São 25 associações estaduais filiadas, sendo que uma no Rio Grande do Norte está finalizando o processo burocrático para também se filiar à FBH”, disse. Além disso, alguns estados têm mais de uma associação. “Seguimos o modelo da Federação Mundial de Hemofilia (WFH, sigla em inglês).” A vice-presidente da FBH discorreu também sobre as ações educativas contínuas realizadas pela entidade, destacando o Hemofilia no Tom da Vida, programa que há dois anos capacita os integrantes das associações, e a revista Fator Vida, lançada em abril de 2012, com periodicidade trimestral e enviada à casa das pessoas com coagulopatias gratuitamente, com o intuito de informar e educar. Ela revelou que a entidade iniciará em 2014 novas ações, como o Fator Decisivo e o Acampamento de Fitness em Hemofilia. “Esta última é uma iniciativa inovadora de um programa mundial, e o Brasil será o pioneiro”, ressaltou. Na ocasião, ela lembrou ainda as parcerias com as Secretarias Estaduais de Saúde, Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde (CNS), Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) e Congresso Nacional, além dos canais de comunicação da FBH, que atuam em prol do tratamento e qualidade de vida das pessoas com hemofilia e von Willebrand – assessoria de imprensa, site e redes sociais. “Temos parcerias que nos possibilita realizar um trabalho integrado para buscar e difundir informações sobre essas coagulopatias”, enfatizou. outubro - dezembro 2013 19 saúde Seu corpo agradece Praticar esportes inibe dores, fortalece a musculatura e melhora a qualidade de vida das pessoas com coagulopatias POR anderson dias 22 outubro - dezembrO 2013 © Shutterstock saúde Praticar esportes devidamente indicados por especialistas é algo saudável e necessário para manter a qualidade de vida. E as pessoas com coagulopatias podem e devem praticar atividades físicas regularmente, pois os resultados são interessantes para todas as partes do corpo. Portanto, antes de se entregar ao sofá e a uma vida cada vez mais digital e, consequentemente, sedentária, é preciso se atentar para alguns detalhes. O médico do esporte e ortopedista Roberto Ranzini, do Hospital Israelita Albert Einstein, esclarece que os benefícios de práticas esportivas regulares vão além dos físicos. “Quem pratica esportes de maneira regular faz com que o cérebro produza substâncias que criam sensação de bem-estar e até inibem algumas dores”, explica. Vale lembrar que tais benefícios são comuns para aqueles que praticam esportes no mínimo três vezes por semana e no máximo seis. “É indispensável ter, no mínimo, 24 horas de descanso por semana”, alerta o especialista. Para as pessoas com hemofilia, os benefícios são rigorosamente os mesmos de qualquer indivíduo. Embora existam algumas modalidades não indicadas nesses casos (por exemplo, artes marciais em geral e esportes coletivos como futebol, basquete e rúgbi), existe um número alto de esportes indicados, como natação, tênis, remo, dança e demais atividades sem tanto contato físico. O especialista lembra que, embora pessoas com hemofilia tenham, de forma geral, um diagnóstico clínico completo, é indicada, antes de se iniciar qualquer atividade física, uma avaliação ortopédica. Com ela, é possível detectar pequenas alterações, como encurtamentos musculares e problemas articulares, que podem só aparecer em caso de exercícios. “A medicina preventiva é sempre mais eficaz e barata.” Especificamente para o sangue, independentemente de coagulopatias, o exercício também é mais que indicado. “Todos os parâmetros sanguíneos, ou seja, hormonais, colesterol e glicemia, passam por melhora considerável”, relata. Mas ele frisa que não se pode exagerar: algumas pessoas transformam esporte em vício, criando uma dependência patológica e correndo o risco de lesões. O fisiatra Silvio Marcos de Oliveira, do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), acredita que atualmente as pessoas com hemofilia, de forma geral, estão cientes da importância da prática de atividades físicas. No entanto, o especialista diz que, para isso, foi necessária uma mudança em alguns conceitos. Com experiência de 12 anos na instituição carioca, Oliveira comentou essa mudança conceitual: “Quando cheguei ao Hemorio, os pacientes pouco praticavam atividades físicas, por medo de sangramentos e também por desinformação. O tempo passou, estudos foram realizados e hoje sabemos que a prática da atividade física é fundamental”. Sobre as mudanças na prática de esportes após a adoção do tratamento profilático universalizado no País, ele afirma que o fato trouxe confiança para pessoas com hemofilia e, consequentemente, para seus familiares. Ainda assim, o especialista recomenda prudência e que seja realizada uma consulta médica antes de se praticar qualquer esporte. “Temos recebido notícias de jovens com hemofilia que querem praticar artes marciais, o que pode ser muito perigoso, além do futebol”, lembra ao citar que, no caso do esporte mais popular do mundo, o risco está na competitividade dos outros jogadores. “Nesse caso, um jogo entre amigos pode realizar um sonho, sem grandes riscos”, sugeriu Oliveira. Exemplos Edições anteriores da revista Fator Vida já trouxeram alguns casos de pessoas com hemofilia que praticam esportes até de maneira profissional, com vitórias, sucesso e reconhecimento entre atletas de alto rendimento. Em seu grupo no Facebook, a Federação Brasileira de Hemofilia (FBH) pediu para que os indivíduos com coagulopatias contassem seus feitos esportivos. A natação é a preferida, mas esportes como capoeira e stand up paddle (mistura de surfe e remo) também aparecem na lista. Confira alguns dos depoimentos recebidos por meio da página da instituição na rede social: outubro - dezembrO 2013 23 saúde benefícios do esporte Os bens da prática regular de esportes vão muito além dos efeitos estéticos. De acordo com o médico do esporte Roberto Ranzini, o corpo humano reage ao esporte quase que em sua totalidade, dos membros inferiores e superiores ao estado emocional. Quem pratica atividade física, além de sair do sedentarismo, evita possíveis dores e problemas. Confira em que os esportes contribuem para diferentes partes do corpo humano: Cabeça Sensação de bem-estar, inibição de dores e regulação hormonal. Sistema cardiorrespiratório Aumento dos níveis de hemoglobina, glicemia, colesterol bom (HDL). Músculos e ossos Fortalecimento dos músculos e densidade óssea. A musculatura exercitada funciona como uma espécie de amortecedor e poupa as articulações. Sangue Melhora de todos os índices clínicos e hormonais. 24 outubro - dezembrO 2013 Kelvin Salvan Feltrin, três anos, de Pedras Grandes (SC), filho de Daiane Salvan Feltrin, diagnosticado com hemofilia A grave. Natação desde maio de 2012, duas vezes por semana, e tratamento profilático há um ano e quatro meses. O garoto jamais apresentou hemartrose ou qualquer tipo de complicação decorrente das atividades esportivas. Sua mãe lembra que a natação tem deixado as articulações de Kelvin mais fortes, o que, junto com a profilaxia, evita episódios de crise. Kelvin Feltrin Edielson Pasche Nunes, sete anos, do Rio de Janeiro (RJ), filho de Carla Cristina Pasche, diagnosticado com hemofilia A grave. Natação, capoeira e stand up paddle, profilaxia há aproximadamente três anos. Apaixonado por esportes, nos dias em que pratica capoeira o garoto recebe aplicação do fator, mas nunca apresentou sangramentos por causa do esporte. Heitor dos Santos Smity, quatro anos, do Rio de Janeiro (RJ), filho de Elaine Cristina dos Santos, diagnosticado com hemofilia B grave. Natação três vezes por semana há oito meses, e tratamento profilático há um ano e sete meses. A mãe do garoto diz que seu filho utiliza a natação como um treinamento, uma atividade benéfica ao organismo, não em ritmo de competição. Ele jamais apresentou qualquer tipo de problema por conta dos exercícios. © Vanessa Mastro / Reprodução Heitor Smity Bruno Silva Borsato, 27 anos, de Juiz de Fora (MG), diagnosticado com hemofilia A moderada. Natação e tênis de mesa. Formando em medicina, comparece mensalmente ao Hemominas, onde consegue as doses de fator necessárias para três aplicações semanais. Ele iniciou o tratamento profilático em junho de 2013 e quase que instantaneamente notou melhora. © Daiane Feltrin / Arquivo pessoal © Carla Pasche / Arquivo pessoal exemplo No topo do Canion Fortaleza (RS): há mais de vinte anos Maurício tem contato com esportes radicais e aventuras ao ar livre Conheça os canais de Maurício na web 26 outubro - dezembrO 2013 site www.trilhaseaventuras.com.br blog www.trilhaseaventuras.com.br/blog instagram @aventureiros © Maurício Oliveira / Arquivo pessoal exemplo POR tatiana vieira A noção de limite é relativa. Maurício Oliveira revela seu segredo para superar a hemofilia: a paixão por esportes radicais e a vontade de desafiar limites Pode-se dizer que, para alguns, está restrita ao seu “campo de visão” e, para outros, chega a “tocar o céu”. A superação costuma acompanhar aqueles com força de vontade para se autodesafiar. Maurício Oliveira, 36 anos, sabe bem o que é isso. O fato de possuir hemofilia A grave não o restringiu de forma alguma. Dono de um espírito desafiador, ele se rendeu aos esportes radicais e hoje coleciona histórias e registros de emoções vividas em aventuras dentro e fora do Brasil. Tudo começou quando o baiano, nascido em Valença, mudou-se para o Rio de Janeiro. Filho único, Oliveira foi para a capital fluminense com os pais e lá conviveu bastante com os primos da mesma faixa etária. Aos 15 anos, já viajava com eles, em programas que incluíam trilhas e banhos de cachoeira. O contato com a natureza e a prática de esportes ao ar livre começou a encantá-lo de forma especial. Dali em diante, uma trajetória de superação marcaria sua rotina. Ele conta que, ainda criança, sempre teve gosto pela prática de esportes, porém, precisou adaptar-se às modalidades que ofereciam menos riscos de torções, quedas ou machucados. “Meus pais sempre me deixavam livre para brincar, apesar de serem bastante zelosos. Eu costumava andar de bicicleta e praticar natação com frequência, mas acabei abandonando o futebol para evitar os hematomas causados pelas pancadas”, relata. Apesar de ter que deixar de praticar alguns esportes, o jovem nunca parou de se exercitar, o que acabou sendo uma influência predominante quando teve seu primeiro contato com as práticas esportivas de aventura. Como todo desafio que nos propomos a enfrentar, corremos o risco de fraquejar ou sofrer uma queda. E com o jovem aventureiro não foi diferente. Em uma de suas viagens, aos 20 anos, ele caiu da bicicleta e machucou o braço. Ele relata que sofreu bastante para se recuperar, tendo que se submeter a fisioterapia por um ano para recuperar plenos movimentos e força. “Sinto dores até hoje, mas procuro formas saudáveis de fortalecer a musculatura e evitar o incômodo, por meio da prática de musculação e natação.” Apesar da queda sofrida e suas sequelas, ele não desistiu de se aventurar, pois sempre acreditou que os riscos são naturais e estão em todo lugar, para outubro - dezembrO 2013 27 exemplo qualquer pessoa. “O importante é ter responsabilidade em tudo o que se faz. Procuro sempre estar com um grupo de pessoas, não viajo sem levar o fator, faço profilaxia e já começo a tomá-lo um ou dois dias antes da viagem para me precaver, pois estas viagens incluem atividades intensas”, explica. Aventuras Já são mais de duas décadas viajando e se aventurando em esportes como rafting, canoagem, rapel, remo e mergulho. Durante esse tempo, conheceu lugares marcantes e enfrentou desafios que testaram sua capacidade de superação. Entre os passeios que ele guarda na memória, está a viagem que fez ao Canadá, onde praticou esportes de neve como o ski e o snowboard. “Essa viagem não me marcou só pelo destino em si, mas também pelas experiências novas que vivenciei durante os 12 dias em que passei lá”, ressalta. Outro momento que o jovem considera especial aconteceu há pouco tempo, em uma viagem ao Parque Estadual do Jalapão, localizado no estado de Tocantins. O local possui difícil acesso, o que, por si só, já complicaria a viagem, até por ser preciso levar o fator. Outro problema era a falta de energia elétrica, o que poderia dificultar o armazenamento do medicamento: “Tive que colocá-lo em uma geladeira fora do acampamento em que fiquei, que funcionava com luz solar e gerador. E, caso eu precisasse de algum atendimento de urgência, teria que contar com o apoio do grupo que viajou comigo”. Mesmo com as dificuldades, ele defende que conhecer e explorar as belezas de Jalapão por meio do esporte valeu a pena. “Foi um momento de superação incrível para mim. Eu passava de oito a dez horas caminhando dentro dos cânions, andando pelos rios, com pedras soltas, 28 outubro - dezembrO 2013 o que poderia ser um risco”, afirma. E o grande prêmio sempre vinha ao final da travessia. “Chegar ao destino final dava uma sensação de poder, porque eu me orgulhava muito em ter conseguido superar tudo para estar ali e ainda deparar com uma paisagem incrível”, conta. Uma curiosidade é que o aventureiro não usa equipamentos de segurança além dos obrigatórios para cada modalidade seu diferencial para lidar com as dificuldades é todo o condicionamento físico que busca adquirir, por meio da prática diária de exercícios. “Não tenho dúvidas de que o esporte fez toda a diferença na minha vida e nas minhas escolhas. Exercitar o corpo traz benefícios para todos, mas acredito que o retorno é ainda maior para as pessoas com coagulopatias”, defende. A realidade Apesar de já ter vencido muitos obstáculos para realizar seus sonhos, Oliveira ainda precisa lidar com alguns desafios. “Muita gente tem a ideia de que as pessoas com coagulopatias têm que viver em uma bolha, e o próprio fato de eu ter buscado ir além foi bem complicado no início.” Ele conta que quando começou a praticar os esportes de aventura, seus médicos eram contrários e a família também tinha receios de que pudesse acontecer algum acidente. Sendo assim, não teve apenas o trabalho de convencer as pessoas à sua volta de que a hemofilia não era uma condição limitante. Sua dificuldade também esteve nos embarques, especialmente em voos internacionais. “Muitas pessoas ainda desconhecem a hemofilia e o tratamento com o fator. Com isso, já fui parar até na Polícia Federal de aeroportos para explicar sobre o medicamento que eu carregava, ao ponto de quase perder uma viagem.” Por outro lado, um benefício que exalta é a melhoria no acesso ao fator, 3 O aventureiro ainda quer realizar um grande sonho: dar uma volta ao mundo por um ano 1 - Canoagem no Jalapão (TO) 2 - Stand up paddle em Muro Alto, Porto de Galinhas (PE) 3 - Trilha no Jalapão (TO) 4 - Patinação no gelo no Canadá © Maurício Oliveira / Arquivo pessoal exemplo 1 2 hoje encontrado em quase todos os hemocentros de médio e grande portes do País. “Durante minha infância, por exemplo, era muito difícil me submeter ao tratamento. Eu recorria a métodos mais simples, e só quando acontecia algo grave minha família enfrentava as longas horas de viagem para me levar até Salvador”, lembra. E ele acredita que hoje as condições dos indivíduos com distúrbios hemorrágicos hereditários já melhoraram muito e devem melhorar ainda mais. “Seria interessante, por exemplo, se o fator durasse mais tempo no organismo ou se pudesse ser administrado via oral. Seu formato atual acaba nos exigindo maior planejamento para as viagens”, expõe. Novos desafios 4 Formado em análise de sistemas, ele hoje atua diretamente com sua maior paixão: exerce a carreira de jornalismo e é fotógrafo de viagem. Em cada novo passeio, registra tudo e compartilha por meio de seu blog, site e perfil no Instagram. E vem mais aventura por aí. “Meu sonho é tirar um ano sabático e dar uma volta ao mundo, com uma mochila nas costas e muita disposição para desbravar paraísos naturais”, diz. No início do próximo ano, já tem um destino certo: vai passar três meses morando nos Estados Unidos, com o objetivo de aprimorar o inglês. “Quero aproveitar a oportunidade para também praticar esportes, como pedalar e fazer trilhas. Acho que será mais um grande desafio pra mim.” E o aventureiro deixa a mensagem para os jovens com coagulopatias: “Façam profilaxia! Pratiquem esporte! Descubram a modalidade que mais gostem e se adaptem. E não deixem de tentar ir além dos seus limites, mas sempre com cuidado”. outubro - dezembrO 2013 29 NA REDE Fundação Hemopa foi incluída no projeto piloto da Hemorrede Sustentável Hemocentros participam de projeto nacional de sustentabilidade A Fundação Hemopa oficializou, em 18 de novembro, sua adesão ao projeto piloto da Hemorrede Sustentável, do Ministério da Saúde (MS). O objetivo é reduzir custos com energia e água, e causar menos danos ao ambiente, buscando melhorias na qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Com apoio da Coor- denação Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH), o projeto inclui também os hemocentros do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Sul e Amazonas. A solenidade de lançamento teve a presença do secretário de Estado de Proteção e Desenvolvimento Social, Adnan Demachki, do secretário de Esta- do de Saúde Pública, Hélio Franco, da representante da CGSH Maria de Fátima Pombo Montoril, da presidente da Hemopa, Luciana Maradei, e da coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade Aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo (LaSUS), do MS, Marta Adriano Romero. Na ocasião, Luciana recepcionou os presentes e destacou que a gestão do hemocentro está voltada para a busca da responsabilidade social e da excelência. Vinho solidário reverte renda para a FBH As vendas do Vinho Solidário, da Vinícola Perini, revertem R$ 1 de cada rótulo vendido para a Federação Brasileira de Hemofilia (FBH) e para o Instituto do Câncer de Mama (IMAMA). A ação contribui para o tratamento e socialização das pessoas que possuem o transtorno genético e pacientes com câncer de mama. Além disso, as vendas podem aprimorar o desenvolvimento de políticas públicas que visem a melhores 30 outubro - dezembrO 2013 terapias e aumentem a qualidade de vida dessas pessoas. “A Federação Brasileira de Hemofilia foi escolhida para fazer parte do projeto devido ao reconhecimento de sua política de atuação e seriedade, assim como pela credibilidade junto ao Ministério da Saúde e demais órgãos públicos e pelo cuidado e dedicação aos pacientes”, explica a vice-presidente da FBH, Mariana Battazza Freire. © Assessoria de Imprensa / Hemopa © Vinícola Perini / Divulgação NA REDE Coagulopatias na mídia Nos meses de outubro e novembro, o tema coagulopatias foi destaque em diversos meios de comunicação. Em 4 de outubro, a hematologista Clarissa Ferreira foi entrevistada pelo Portal RBS TV (filiada à TV Globo) sobre o lado clínico da hemofilia. Já no dia 23, a vice-presidente da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), Mariana Battazza Freire, concedeu entrevista para o programa Via Legal, da TV Justiça, destacando a importância da profilaxia. E Marcos Bauch, esportista com coagulopatia que passou a competir após o tratamento preventivo, foi entrevistado pela Rádio Bradesco Esportes. No dia 4 de novembro, a hematologista Nivia Foschi, do Hospital Brigadeiro, de São Paulo, relatou para o Portal Chris Flores que as crianças com hemofilia podem e devem levar uma vida normal. A vice-presidente da FBH concedeu entrevista à TV Brasil sobre a importância da obrigatoriedade do NAT, em Brasília, no Hemo. Já a hematologista do Hemocentro do Paraná, Claudia Lorenzato concedeu entrevista para o Programa Consulta ao Doutor, da Rit TV, em 12 de novembro, sobre as doenças hemorrágicas. Para finalizar, no dia 16, a enfermeira especializada em hemofilia do Hemocentro de Campinas Andréa Sambo falou sobre o assunto na Rádio Estadão. 32 outubro - dezembrO 2013 Ministro da Saúde convida FBH para participar da assinatura da Portaria da obrigatoriedade do NAT O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou em 12 de novembro, a Portaria no 2.712/2013, que redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos e estabeleceu que todo sangue coletado no País deverá passar obrigatoriamente pelo teste de ácido nucleico (NAT) para a detecção dos vírus HIV e da hepatite C. Atualmente, são coletadas no Brasil 3,6 milhões de bolsas por ano. A qualidade da rede de sangue brasileira já é reconhecida internacionalmente. A implantação do teste NAT e o questionário (aplicado aos doadores nos hemocentros) complementam o controle do sangue doado, por meio de testes já realizados no Sistema Único de Saúde (SUS)”, explanou o ministro Alexandre Padilha, após assinar Alexandre Padilha, ministro da Saúde a Portaria. Durante o evento, ele também anunciou que a Fiocruz desenvolve tecnologia para detecção da hepatite B no teste NAT, com previsão de uso a partir do segundo semestre de 2014. Rio Grande do Sul se destaca na profilaxia e dose domiciliar Apesar de ser o quinto estado do País em número de pacientes com hemofilia, sendo precedido por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, o Rio Grande do Sul – que tem 1/4 do número de pacientes com hemofilia de São Paulo – é o Estado que mais tem crianças em profilaxia primária do País, somando 28 crianças neste tratamento atualmente. Além disso, destaca-se por ser o 2o estado do Brasil que mais distribui doses domiciliares, alcançando o percentual de 73.77%, segundo dados divulgados no Manual de Coagulopatias do Ministério da Saúde de 2012. © Marcelo Camargo / ABr © AHPAD / Divulgação FBH participa da Universidade Latino-Americana de Hemofilia da Baxter A 7a edição da Universidade Latino-Americana de Hemofilia da Baxter foi realizada entre 12 e 14 de setembro, reunindo mais de 100 médicos, que discutiram tratamentos e formas de melhorar a qualidade de vida das pessoas com coagulopatias. A presidente da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), Tania Pietrobelli, marcou presença no evento e palestrou sobre o tema Hemofilia: a Visão do Paciente, destacando que o MS vem cumprindo com as determinações do Tribunal de Contas da União (TCU) em relação a suas responsabilidades com tratamento das pessoas com coagulopatias, atingindo o quantitativo de fatores de coagulação acima das 3UIs per capita, que possibilitam o tratamento preventivo (profilaxia) para todas as pessoas com hemofilia grave ou com sintoma de grave. Tania ressaltou ainda a ampliação das doses domiciliares para 12, que permitem a independência e autonomia das pessoas com hemofilia. “Ainda assim, a maioria dos Centros de Tratamento de Hemofilia (CTHs) não está levando esse tratamento a todos os pacientes. Embora haja disponibilidade no MS acima das 3UIs per capita, somente estão sendo utilizadas em torno de 2UIs. Isso nos preocupa, pois muitas pessoas ainda estão desenvolvendo artropatias irreversíveis, impossibilitando uma vida plena.” O evento recebeu diversos palestrantes nacionais e internacionais, que trataram de temas como eficácia e segurança do tratamento de profilaxia, segurança e considerações práticas da conversão de FVIII derivado de plasma para recombinante, entre outros. Programa de Hermanamiento organiza acampamento e capacitação de lideranças pela AHPAD Nos dias 19 e 20 de outubro, a Associação de Hemofílicos e Pessoas com Doenças Hemorrágicas e Hereditárias (AHPAD) realizou a capacitação de jovens lideranças e tratadores para o aperfeiçoamento no tratamento das coagulopatias, durante acampamento no Solar Fazenda do Cedro, em Petrópolis (RJ). Na ocasião, os presentes tiveram a oportunidade de interagir e participar de palestras de atualização. O acampamento é fruto do programa de Hermanamiento, firmado entre a WFH e a Federação Brasileira de Hemofilia, sob coordenação de César Garrido, da Associação Venezuelana. A iniciativa desem- Em outubro, a AHPAD promoveu capacitações de jovens lideranças e tratadores em Petrópolis (RJ) penha um papel importante no desenvolvimento das organizações de hemofilia em todo o mundo. E o programa possibilita a troca de conhecimentos e experiências entre uma associação bem estabelecida e experiente com outra em desenvolvimento. outubro - dezembrO 2013 33 agenda Programe-se para conferir os eventos que ocorrem nos próximos meses e prepare-se para acompanhar importantes encontros da área XXII Simpósio Internacional de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular Data: 22 e 23 de março de 2014 Local: São Paulo Informações: www.einstein.br Com duração de 13h, o Simpósio terá como foco temas de atualização em hemoterapia e terapia celular. A proposta do curso é a troca de experiências com profissionais nacionais e internacionais de grande relevância em suas áreas de atuação. Na ocasião, haverá aprendizado teórico-prático de congelamento de hemocomponentes. Dia Mundial da Hemofilia Data: 17 de abril de 2014 INFORMAÇÕES: www.wfh.org Para celebrar o Dia Mundial da Hemofilia, a Federação Mundial de Hemofilia (WFH, sigla em inglês) já iniciou uma convocação geral. Médicos, pacientes e familiares em todo o mundo, podem se conectar por meio das redes sociais da WFH em busca de melhorias para diagnóstico e tratamento da coagulopatia. ISLH 2014 DATA: 15 a 17 de maio de 2014 LOCAL: Haia-Holanda INFORMAÇÕES: www.islh.org De 15 a 17 de maio de 2014, a cidade de Haia, na Holanda, sediará o XXVII International Symposium on Technological Innovations in Laboratory Hematology (ISLH 2014). Na ocasião, serão discutidos temas relevantes da hematologia laboratorial. 34 outubro - dezembro 2013