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Doutores Titulados Aquém das Necessidades do Brasil
Clóvis Pereira da Silva – UFPR
Neste texto abordaremos o problema que diz respeito ao número de
doutores titulados anualmente em Matemática Pura, no Brasil, por meio de
Programas de Pós-Graduação stricto sensu. Esse número tem sido, desde os
anos de 1960, aquém das necessidades do país. O problema tem causado
efeitos negativos para a nação.
Devemos ressaltar que existem grupos de pesquisas trabalhando de
modo sério nas grandes áreas, subáreas e especialidades: Análise
Matemática, Geometria Diferencial, Sistemas Dinâmicos, Álgebra
Abstrata. Assim como em novas áreas que formam a fronteira de algumas das
grandes áreas acima mencionadas.
Esse processo faz com que nos dias atuais a pesquisa em Matemática
Pura produzida em nosso país apresente grande desenvolvimento e alto
estágio de maturidade. Os avanços obtidos em diversas subáreas e
especialidades são valiosos e as perspectivas são boas.
Porém, repetimos, o número anual de doutores titulados em Matemática
Pura está aquém das necessidades da nação. Como aumentar gradativamente
esse número? Por que a partir dos anos de 1970 não houve um planejamento
por parte da SBM em conjunto com a CAPES/MEC para equacionar e resolver
esse problema? Para sua solução temos algumas sugestões que são:
1. Aumento da oferta de cursos de doutorado em Matemática Pura;
2. Pagamento de um salário digno ao professor universitário portador do
grau de doutor. Por exemplo, contratar docentes em regime de trabalho de 40
DE horas/semana. Assim haverá maior estímulo para que o jovem talentoso
faça concurso público para o cargo de professor universitário;
3. Desenvolver bons processos de busca e incentivos (além dos
existentes via: Olimpíada Brasileira de Matemática, Olimpíada Internacional de
Matemática, Olimpíada Iberoamericana de Matemática) a alunos talentosos
desde o ensino básico até a graduação;
4. Oferta de bolsas de estudos, bolsas de iniciação científica, bolsas de
monitoria para alunos de graduação;
5. Direcionar os alunos talentosos detectados nas escolas de ensino
básico para os estudos de graduação em Matemática (para aqueles que assim
desejarem), com acompanhamento por profissionais do “ramo”, em
Universidades de primeira classe;
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6. Estimular e apoiar com bolsas de estudos jovens talentosos de 16 a 20
anos de idade para participar da International Summer School of Mathematics
for Young Students. Esta atividade é realizada a cada ano em um país europeu
diferente e, visa introduzir aos jovens, na idade de transição entre o ensino
médio e a Universidade, apresentações e minicursos de tópicos de pesquisa
em matemática;
7. Aumento do número de bolsas de estudos para os programas que
ofertam cursos de doutorado em Matemática Pura;
8. Aumento do número de vagas para cursos de doutorado em
Matemática Pura;
Sabemos que novos programas de Pós-Graduação stricto sensu
ofertados por Universidades públicas foram, há poucos anos atrás,
credenciados pela CAPES/MEC para ofertar cursos de doutorado em
Matemática Pura.
Entre as instituições recém – credenciadas estão: UEM, UFF, UFG,
UFBA/UFAL e UFPB. Dessa forma, juntando-se essas Universidades às que já
ofertam programas com cursos de doutorado, aumenta-se o leque de ofertas
de Programas de Pós-Graduação stricto sensu com cursos de doutorado em
Matemática Pura. Julgamos ser essa correta iniciativa apenas uma das que
contribuirão para a solução do problema que continua em aberto.
Como o tempo que um aluno leva para concluir seu doutorado em
Matemática Pura é de quatro anos, em média, espera-se que a partir de 2014
os Programas existentes titulem um número maior de doutores em Matemática
Pura.
Se analisarmos os dez últimos anos, isto é, o período de 2002 a 2011,
então temos o quadro seguinte para os doutores titulados. Em anos anteriores
foi bem menor o número de doutores titulados.
Ano
Nº de Doutores Titulados em MP
2002
40
2003
41
2004
54
2005
50
2006
64
3
2007
59
2008
49
2009
61
2010
85
2011
81
Tabela 1. Fonte: Instituições consultadas que ofertam cursos de doutorado em MP
A maioria desses titulados trabalha em instituições públicas de ensino
superior e em institutos de pesquisa científica. Decorre daí nossa preocupação
com a oferta de baixo salário ao professor universitário. Poucos doutores
trabalham em indústrias e um número ainda menor trabalha em instituições
privadas de ensino superior que pagam salários com base em hora/aula,
prática não digna ao docente universitário qualificado.
Atualmente os líderes da comunidade matemática brasileira,
representados pela SBM, estão diante dos seguintes grandes desafios:
a. Aumentar o número de pesquisadores;
b. Aumentar a interação da Matemática com outras áreas do saber
humano;
c. Capacitar um grande número de professores (mestres e doutores) para
atuação no ensino superior;
d. Capacitar um grande número de professores com o mestrado
profissional para atuação no ensino básico (fundamental e médio).
Com respeito ao item d) acima citado, há a iniciativa isolada da
Sociedade Brasileira de Matemática – SBM, com o apoio da CAPES/MEC que,
por meio do Programa Mestrado Profissional em Rede Nacional – PROFMAT
está fazendo um excelente trabalho para capacitar professores de Matemática
do ensino básico.
Esta iniciativa da SBM visa corrigir, nas licenciaturas em Matemática, uma
parte da insensatez praticada pelo Conselho Nacional de Educação - CNE que,
por meio da Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de 2002, instituiu a
duração e a carga horária dos cursos de licenciaturas (formação de
professores) em pelo menos, três anos de duração. Esse ato criou uma
excrescência no Sistema Nacional de Graduação – SNG, que está
consubstancial com a formação aligeirada, em três anos, de professores com
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má formação técnica. Esse grave problema continua para a formação de
professores em outras áreas do conhecimento humano.
No contexto da consolidação e desenvolvimento do ensino e da pesquisa
em Matemática no Brasil se destaca a Região Sudeste na qual está situado o
maior número de Universidades e Institutos de pesquisa em Matemática. Essa
Região também se destaca das demais como o maior centro formador de
doutores em Matemática Pura.
Na Tabela 2 listamos as instituições que ofertam atualmente os
melhores programas com cursos de Doutorado em Matemática Pura. São os
programas que obtiveram nota 6 e 7 (a maior nota é 7) durante a Avaliação
Trienal 2007-2009, da CAPES/MEC que foi realizada em 2010. O leitor poderá
observar a hegemonia da Região Sudeste.
Instituição
Nota
USP
6
ICMC/USP
6
UNICAMP
7
UFRJ
6
IMPA
7
UnB
6
Tabela 2. Fonte: CAPES/MEC
Mesmo com as limitações existentes em número de instituições, podemos
dizer que o Sistema Nacional de Pós-Graduação – SNPG se constitui em uma
das realizações mais bem sucedidas, em qualidade, ao longo da existência do
Sistema Brasileiro de Ensino – SBE (pós-graduação, graduação e básico), a
despeito da visão curta de vários gestores federais com respeito à necessidade
de dotação de um justo orçamento financeiro para o SBE. Citamos que a Lei
Orçamentária Anual (PLOA) 2012 (R$ 2,150 trilhões), que foi aprovada pelo
Congresso Nacional, em 22 de dezembro de 2011, destinou apenas 3,18%
para a Educação.
Enquanto isso, a mesma Lei destinou 47,19% (R$ 1,014 trilhão) para
pagamento de juros, encargos da dívida e amortizações. Em outras palavras, a
Administração Federal prioriza pagamentos a banqueiros em detrimento de
maior percentual do Orçamento Anual para ações em: educação escolar
pública, saúde pública, segurança pública, saneamento básico, pesquisas em
C & T, transporte público etc.
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Mesmo nesse contexto de baixo percentual do Orçamento Anual de 2012
para a educação escolar, recentemente o Governo Federal, de modo
insensato, anunciou o corte, em forma de contingenciamento, de 22,38% (R$
1,5 bilhão) no orçamento do MCTI para o ano de 2012; e o corte de 5,5% (R$
1,93 bilhão) no orçamento do MEC para o corrente ano. Além disso, o FNDCT
tem sofrido contingenciamentos regulares em verbas desde muitos anos.
Sabemos, mas os gestores da nação não, que esses cortes terão
repercussão negativa na vida acadêmica do Brasil e nas atividades de
pesquisa científica e tecnológica e inovação que são essenciais para a
formação de recursos humanos qualificados que, por sua vez, têm impactos
significativos no crescimento acadêmico, científico e na geração de riquezas
para o país.
Sabemos ainda que a qualidade do sistema educacional escolar de um
país é fator estratégico, para o presente e para o futuro, no processo de
desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, social e cultural dessa
nação.
Ele representa uma referência institucional indispensável à formação de
recursos humanos altamente qualificados e ao fortalecimento do potencial
científico - tecnológico do país. Decorre desse fato a necessidade de termos
um excelente sistema educacional escolar em todos os níveis e, de termos
uma produção de C & T avançada. E não temos.
Sabemos também que a tarefa do Sistema Nacional de Pós-Graduação –
SNPG é qualificar os profissionais aptos a atuar em diferentes setores da
sociedade e que sejam capazes de contribuir, a partir da formação recebida,
para o processo de modernização da nação. Os dados disponíveis
demonstram, sobremaneira, que é no SNPG que, basicamente, ocorre a
atividade de pesquisa científica e tecnológica em nosso país.
Essa constatação é verdadeira não apenas para a pesquisa em
Matemática Pura, mas para a pesquisa científica e tecnológica feita no Brasil
em várias áreas do conhecimento humano. Os gestores dos negócios do
Sistema Brasileiro de Ensino devem dedicar atenção especial para esse fato.
Chamamos a atenção do leitor para o seguinte fato: no período entre os
anos de 1960 até o ano de 2011, todas as instituições brasileiras juntas não
titularam anualmente mais que 100 doutores em Matemática Pura.
Alertamos para o seguinte fato: será impossível ampliar o total de alunos
talentosos a serem direcionados para os estudos em Matemática sem reformar
também o ensino básico (fundamental e médio). Relembramos que na última
versão do PISA, que foi realizada em 2009, o Brasil alcançou o 53º lugar na
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pontuação final, no total de 65 países participantes do exame. Colocação
vergonhosa, com pontuação significativamente abaixo da média da OCDE.
Hong Kong – China alcançou o 4º lugar; a Finlândia alcançou o 3º lugar; a
Coreia do Sul o 2º lugar, e Shangai - China alcançou o 1º lugar.
O PISA é um Programa Internacional de Avaliação de Alunos, com
exames realizados a cada três anos, cuja finalidade é produzir indicadores
sobre a efetividade dos sistemas educacionais dos países participantes,
avaliando o desempenho de alunos na faixa de 15 anos de idade. Este
programa é desenvolvido e coordenado internacionalmente pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE.
Publicado in Observatório da Universidade em 30/03/2012
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