Curso Satélite de Matemática Sessão n.º 2 Universidade Portucalense Funções reais de variável real Definição e generalidades Uma função é uma correspondência que a qualquer elemento de um conjunto D faz corresponder um e um só elemento de um outro conjunto B. Exemplo 1: A seguinte correspondência é uma função: f D 1 7 2,1 -3,3 3,5 2 -4 π B Exemplo 2: A seguinte correspondência não é uma função: f D e 3 -3 -1,3(3) 1/7 -5 0 0 B Esta correspondência não é uma função porque o número 1/7 faz corresponder dois números do conjunto B. Também não é uma função porque o elemento 0 ∈ D não tem nenhuma correspondência em B. O conjunto D (conjunto de partida) chama-se o domínio da função. Os elementos do domínio denominam-se os objectos da função. O conjunto B chama-se o conjunto de chegada da função. Os elementos do conjunto de chegada que são correspondidos por um objecto do domínio denominam-se as imagens da função. O conjunto das imagens designa-se o contradomínio ou o conjunto imagem da função. O contradomínio está contido no conjunto de chegada da função. Exemplo: A seguinte correspondência é uma função: f e e 0 0 π π D CD B Esta função tem: • domínio D com objectos 0, π e e; • Conjunto de chegada B = {0, π, e}; • imagens 0 e e que formam o contradomínio da função. Uma função diz-se injectiva se a quaisquer dois objectos diferentes correspondem sempre duas imagens diferentes. Numa função injectiva, dois objectos diferentes não podem ter a mesma imagem. Exemplo 1: A seguinte função é injectiva: a D f 3 b 2 c 1 B Exemplo 2: A seguinte função não é injectiva: e 9 -1/2 0 D f 1,4 2 -4 B Note-se que a imagem 1,4 é correspondida por dois objectos, o e e o 0. Uma função diz-se sobrejectiva se o seu contradomínio for igual ao conjunto de chegada. Numa função sobrejectiva não pode existir um elemento do conjunto de chegada que não seja correspondido por um objecto. Exemplo 1: A seguinte função é sobrejectiva: 10 D f 3 -20 2 30 1 B Exemplo 2: A seguinte função não é sobrejectiva: f 1 2 3 4 D 1 5 0 B Note-se que 0 ∈ B, mas 0 não é uma imagem. Não existe nenhum objeto que faz corresponder o 0. Uma função diz-se bijectiva se ela for simultaneamente injectiva e sobrejectiva. Numa função bijectiva, qualquer elemento do conjunto de chegada é correspondido por um, e um só, elemento do domínio. Exemplo 1: A seguinte função é bijectiva: 101 f -3 -203 2 300 10 D B Exemplo 2: A seguinte função não é bijectiva: 1 2 3 4 D f a b c B Note-se que esta função não é injectiva nem sobrejectiva. É possível representar qualquer função de uma forma mais simples, usando a expressão analítica que define a função: f :D B x y f ( x). Esta notação lê-se: a função f é uma função de domínio D e conjunto de chegada B, que a cada objecto x ∈ D faz corresponder uma e uma só imagem y = f(x) ∈ B. Neste caso, x diz-se a variável independente e y a variável dependente da função. y depende do valor que a variável x assume. Daqui para a frente interessa-nos estudar funções reais de variável real. Uma função diz-se uma função real de variável real se o seu domínio e o seu contradomínio são dois subconjuntos de ℝ. Exemplo: f: x y f ( x) 2 x. Para o objecto 1, a imagem é y = f(1) = 2 × 1 = 2; Para o objecto –1, a imagem é y = f(– 1) = 2 × (–1) = –2; Para o objecto 0.4, a imagem é y = f(0.4) = 2 × 0.4 = 0.8; Para o objecto π, a imagem é y = f(π) = 2 × π = 2π; ... ... ... ... ... ... ... Funções polinomiais: Diz-se que f é uma função polinomial (ou um polinómio) de grau n ∈ ℕ ∪ {0}, se a sua expressão analítica for dada por f: x y f ( x) an x n an1 x n1 an2 x n2 ... a2 x 2 a1 x a0 , onde, para qualquer i = 0, …, n, ai ∈ ℝ e an ≠ 0. Exemplo 1: as funções constantes definidas por f: x y f ( x) a0 , a0 , são funções polinomiais de grau zero. Qualquer que seja o objecto do domínio, f faz sempre corresponder a imagem a0. Gráficos de funções polinomiais de grau 0: O gráfico de uma função constante é uma recta horizontal que passa pelo ponto de coordenadas (x = 0, y = a0). Dizemos que a recta tem ordenada na origem igual a a0. Estas funções têm domínio ℝ e contradomínio {a0}. Não são funções injectivas – todos os objectos têm a mesma imagem. Exemplo 2: as funções lineares definidas por f: x y f ( x) a1 x a0 , a1 , a0 são funções polinomiais de grau um. (a1 0), Gráficos de funções polinomiais de grau 1: O gráfico de uma função polinomial de grau 1 é uma recta oblíqua que tem ordenada na origem igual a a0. O coeficiente de x, a1, chama-se o declive da recta. O declive está relacionado com a inclinação da recta (o declive é a tangente da inclinação). Estas funções têm domínio ℝ e contradomínio ℝ. São funções bijectivas. Exemplo 3: as funções quadráticas definidas por f: x y f ( x) a2 x 2 a1 x a0 , a2 , a1 , a0 são funções polinomiais de grau dois. (a2 0), Gráficos de funções polinomiais de grau 2: O gráfico de uma função polinomial de grau 2 é uma curva chamada parábola. O coeficiente de x2, a2, determina a concavidade da parábola. Se a2 for negativo, a parábola tem concavidade voltada parta baixo. Se a2 for positivo, a parábola tem concavidade voltada para cima. Estas funções têm domínio ℝ mas o seu contradomínio nunca é ℝ. Não são funções injectivas porque conseguimos sempre encontrar dois objectos diferentes que correspondem à mesma imagem. Funções racionais: Diz-se que f é uma função racional se ela for definida como o quociente entre duas funções polinomiais. Sejam n(x) e d(x) duas funções polinomiais quaisquer. A função f :D n( x) an x n ... a1 x a0 x y f ( x) , m d ( x) bm x ... b1 x b0 é uma função racional. Exemplo: f: \{0} x 1 y f ( x) . x O gráfico da função anterior é uma curva chamada hipérbole. Note-se que o número zero não pertence ao domínio da função anterior, uma vez que 1/0 não tem sentido. Geralmente, o domínio das funções racionais não é o conjunto dos números reais. n( x ) Considere-se uma função racional definida por f ( x) . d ( x) O domínio de f é o conjunto D x : d ( x) 0 , uma vez que o denominador da função racional não pode ser zero. Dividir por zero não tem sentido. Exemplo: determine o domínio da função racional x2 g ( x) 2 . x 1 Resolução: o domínio de g é o conjunto formado por todos os x que fazem com que x2 – 1 não seja igual a zero. Comecemos por determinar quando é que x2 – 1 é igual a zero: x2 – 1 = 0 ⇔ (x – 1)(x + 1) = 0 ⇔ x = –1 ∨ x = 1. Então x não pode ser 1 e x não pode ser –1. O domínio de g é dado por Dg = {x ∈ ℝ: x2 – 1 ≠ 0} = {x ∈ ℝ: x ≠ –1 ∧ x ≠ 1}. O conjunto anterior também pode ser representado por ℝ\{-1, 1}. Lê-se ℝ excepto -1 e 1. Gráfico de g: Funções exponenciais: Diz-se que f é uma função exponencial de base a se ela for definida por f: y f ( x) a x , x onde a é um número real positivo diferente de 1. Nota: repare que a variável é x. A base da função exponencial é uma constante. Exemplo: f: x y f ( x ) 3x , Gráficos de funções exponenciais: As funções exponenciais têm domínio ℝ e contrdomínio ℝ+. São funções injectivas porque não existem dois objectos com a mesma imagem. Dentro da família das funções exponenciais, a função exponencial de base e (onde e representa o número de Neper) tem uma grande importância na modelação de uma conta que rende juros compostos de uma forma contínua. Se s0 for o capital investido numa conta que é capitalizada continuamente com a taxa nominal r (de juros compostos), o valor da conta passados t anos é dado pela função exponencial f(t) = s0 × ert. Se se investir 10.000€ com uma taxa de 3% obtém-se o gráfico: Considerem-se dois depósitos com taxas 3% e 5% e igual s0: Considerem-se três depósitos com a mesma taxa e diferente s0: Funções logarítmicas: Diz-se que f é uma função logarítmica de base a, e define-se f: x y f ( x) log a ( x), quando ay = x, ou seja, y é o número que se tem que elevar a base a, para se obter x (a > 0 e a ≠ 1). A função logarítmica de base a diz-se a função inversa da função exponencial de base a, uma vez que uma anula o efeito da outra: Função exponencial ax x Função logarítmica Gráficos de funções logarítmicas: As funções logarítmicas têm domínio ℝ+ e contrdomínio ℝ. São funções injectivas porque não existem dois objectos com a mesma imagem. Tal como nas funções exponenciais, a função logarítmica de base e tem uma grande importância. Por isso, representa-se o logarítmo de base e por f(x) = ln(x), sem se especificar a base. O logarítmo de base e também é designado por logarítmo natural. Propriedades dos logarítmos: 1- loga(ax) = x, para qualquer número real x. 2- Como a1 = a, então loga(a) = 1. 3- Como a0 = 1, então loga(1) = 0. 4- a log a x x, para qualquer número real positivo x. 5- Sejam x e y dois números reais positivos. Então loga(x × y) = loga(x) + loga(y). Demonstração: log a ( xy ) log a a loga ( x ) a loga ( y ) log a a loga ( x )loga ( y ) log a ( x) log a ( y ). 6- Sejam x e y dois números reais positivos. Então loga(x ÷ y) = loga(x) – loga(y). 7- Seja x um número real positivo e y ∈ ℝ. Então loga(xy) = y × loga(x). 8- Para fazer cálculos deve-se usar: loga(x) = ln(x) ÷ ln(a).