Olá,
Antes de entrarmos no assunto de hoje, vamos ver mais uma questão da ESAF que
explora conhecimentos sobre Termos da Oração (classe gramatical e função sintática) – assunto
explorado na matéria de apresentação.
AFC/SFC 2002
Leia o texto abaixo para responder às questões 17 e 18.
A economia brasileira, há alguns anos, apresentava fortes barreiras protecionistas, e
controles cambiais provocavam a valorização artificial do câmbio comercial, havendo
ágio expressivo no mercado livre. A realidade hoje é outra. As barreiras tarifárias foram
muito reduzidas, a taxa de câmbio é flutuante e não há diferença significativa entre o
mercado oficial e o paralelo. Os modelos econométricos disponíveis, por menos precisos
que sejam, são unânimes em apontar para uma desvalorização do real acima do seu
equilíbrio de longo prazo, e não o contrário. Logo, onde está o problema? Por que gastar
escassos recursos públicos – pois não se faz política industrial sem eles – para poupar
divisas quando o mercado já está bem sinalizado nesta direção? Pode até haver outras
razões para justificar a política proposta. Mas economia de divisas não é uma delas.
(Adaptado de Cláudio Haddad)
17- Assinale a opção em que as duas expressões exercem a mesma função sintática no
texto.
a) “controles cambiais”(l. 2) = “fortes barreiras protecionistas”(l .1)
b) “a valorização artificial do câmbio comercial”(l .2 e 3) = “A economia brasileira”(l .1)
c) “há alguns anos”(l .1) = “hoje”(l .3)
d) “a taxa de câmbio”(l .6 e 7) = “diferença significativa”( l .7)
e) “escassos recursos públicos”(l .13 e 14) = “o mercado”(l .15)
GABARITO: C
As expressões “há alguns anos” e “hoje” indicam circunstância de tempo – momento em que os
fatos ocorreram. Por isso, são classificadas como expressões adverbiais, na função sintática de
adjunto adverbial.
Com relação às demais opções, estão incorretas porque:
a) “controles cambiais” é sujeito da forma verbal “provocavam” e “fortes barreiras protecionistas”
exerce a função de objeto direto de “apresentava”.
b) “a valorização artificial do câmbio comercial” tem a função sintática de objeto direto de
“provocavam”, enquanto que “A economia brasileira” é sujeito da primeira oração do texto.
d) “a taxa de câmbio” exerce a função de sujeito e “diferença significativa” exerce a função
sintática de objeto direto do verbo “haver”, que é impessoal e, por isso, não tem sujeito (um dos
casos de oração sem sujeito – verbo haver no sentido de existir).
e) “escassos recursos públicos” complementa o verbo “gastar” – objeto direto – e “o mercado”
exerce a função de sujeito.
Bem, um dos primeiros assuntos abordados no estudo da Língua Portuguesa é,
tradicionalmente, ORTOGRAFIA. O estudo da ortografia envolve emprego de letras, uso de
sinais diacríticos (principalmente o hífen e o trema) e acentuação gráfica.
É sobre esse último ponto que iremos falar hoje. Algumas regras poderão ajudar o
candidato na hora de resolver uma questão de ortografia, identificando as palavras com erro na
acentuação.
SÃO ACENTUADAS AS PALAVRAS:
ƒ
MONOSSÍLABAS TÔNICAS - terminadas em A(S), E(S) e O(S).
Exemplos: Acentuam-se: má, pá, pôr (verbo), fé, pó, rês. Não se acentuam: til, meu, bis,
sul.
ƒ
OXÍTONAS – terminadas em A(S), E(S), O(S) e EM(ENS).
Exemplos: Acentuam-se Pará, guaraná, café, cipó, também. Não se acentuam: saci, jacu,
senil, Brasil, correr.
ƒ
PAROXÍTONAS – NÃO terminadas em A(S), E(S), O(S) e EM(ENS), terminadas em
ditongo crescente (*), em –ão e em –ôo.
Exemplos: Acentuam-se fácil, estêncil, biquíni, práxis, hífen (termina com EN), Glória, tênue,
negócio, órgão, perdôo, revólver, médiuns, bônus, ímã. Não se acentuam: hifens (termina
com ENS), item, coco, gratuito, rubrica.
ƒ
PROPAROXÍTONAS - TODAS são acentuadas.
ƒ
ENCONTROS VOCÁLICOS:
ƒ Num hiato, recebem acento I ou U, como 2ª vogal do hiato, sozinho (desde que
não seguido de NH) ou acompanhado de S. Com qualquer outra letra ou sozinho e
seguido de NH, não recebe o acento agudo. Ex: Piauí, juízes, raízes, rainha,
campainha, juiz, Luís, ruim, Itaú (apesar de terminar com U, como angu, Pagu – regra das
oxítonas – é acentuada por tratar-se de U como segunda vogal do hiato, sozinho na sílaba
– I-ta-ú). A única exceção é xiita, pois vogais repetidas formam obrigatoriamente um
hiato.
É por esse motivo que a pronúncia de palavras como GRATUITO, FORTUITO FLUIDO
(substantivo) assemelham-se à de MUITO e à da interjeição “UI”. Nessas palavras não
existe acento agudo na letra “i” (ao contrário do que acontece no particípio do verbo fluir –
“A água havia FLU-Í-DO.”), de modo que, naqueles casos, existe um ditongo, e neste um
hiato.
ƒ os ditongos abertos –éi-, -éu-, -ói- , ex: herói, apóiam, idéias,
(*) Segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (V.O.L.P.), que foi editado pela
Academia Brasileira de Letras e tem força de lei (Lei 5.765/71), a acentuação das paroxítonas
terminadas em ditongos abertos é classificada na regra dos proparoxítonos (sé-ri-e / vi-tó-ri-a /
Cláu–di-a) e os monossílabos são classificados na mesma regra dos oxítonos.
Essa classificação já foi abordada por outras bancas (NCE/UFRJ, CESPE/UnB), mas ainda
não caiu nas provas da ESAF. Talvez isso se dê porque, tradicionalmente, esta banca, em Língua
Portuguesa, evita tratar de questões polêmicas. Quando resolve abordar algum assunto em que
haja divergência doutrinária, constrói a questão de modo a não restar outra opção ao candidato,
colocando outro erro gritante na opção errada. Nas poucas vezes em que a ESAF adotou algum
posicionamento específico (como em regência verbal, na prova de AFRF 2002.1 – questão que
será tratada posteriormente aqui), iremos deixar claras a fonte doutrinária e as demais opções de
resposta.
“Mas, professora, o que eu faço se dessa vez cair isso? O que eu respondo? O vocábulo
“Cláudia” é um caso de paroxítona terminada em ditongo crescente ou proparoxítona?”
Muita calma nessa hora. Veja as demais opções. Verifique se alguma outra resposta está
ululantemente incorreta. Normalmente é isso que acontece. Não se apegue ao “erro-formiguinha”
se o “elefante” estiver diante dos seus olhos. Se, ao final, não restar outra opção, reze, recite um
salmo (se você for agnóstico, peça ajuda ao acaso) e marque qualquer uma das duas. Qualquer
que seja a resposta (proparoxítona, segundo a Academia Brasileira de Letras, paroxítona,
segundo inúmeros autores consagradíssimos), teremos uma excelente argumentação para
fundamentar o pedido de anulação da questão.
Finalmente, outra observação do V.O.L.P. é que se conserva, por clareza gráfica, o
acento circunflexo no plural dos verbos LER, VER, CRER e DAR, e nos verbos derivados desses:
crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, desdêem, relêem, revêem, etc.
DICA IMPORTANTÍSSIMA: todas essas regras de acentuação devem ser aplicadas,
inclusive, nas formas verbais, quando houver a colocação de pronomes oblíquos. A análise para a
acentuação recai exclusivamente na forma verbal. Por exemplo: em “analisá-las-ei”, como
tonicidade recai na última sílaba de “analisa”, há necessidade de ser acentuada a vogal para essa
indicação. Outro exemplo mais “cabeludo”: contrabandeá-las-íamos (= iríamos contrabandear
as mercadorias) - na primeira parte do vocábulo, acentua-se pela mesma regra do exemplo
anterior; a segunda parte cai na regra do hiato – o “i” fica sozinho na sílaba. Perceba com esse
exemplo que cada pedacinho do verbo, dividido pela colocação pronominal, deve ser analisado
isoladamente, como se houvesse dois vocábulos independentes.
O conhecimento de ortografia pode ser objeto de questões exclusivas, como as que
veremos abaixo, ou vir sob a forma de “assinale o item que apresenta erro de natureza
gramatical”, pois nesse tipo de questão praticamente TODO o programa da disciplina está sendo
abordado.
Para consulta, acesse o sítio da Academia Brasileira de Letras (www.academia.org.br),
Vocabulário Ortográfico – Sistema de Buscas. Nessa página, você poderá verificar a existência de
qualquer vocábulo da língua portuguesa, sua grafia e a classe gramatical correspondente.
Abaixo estão algumas questões da ESAF que trataram do assunto. Sugiro que você,
primeiro, tente fazer a questão e, somente depois, veja o gabarito e os comentários.
(Técnico da Receita Federal - 2000) Considere o trecho abaixo, transcrito com erros,
para responder às questões de 31 a 35.
“As
versões
existência,
anteriores
no
Novo
sobre
Mundo,
a
de
alguma nação de mulheres adversas
ao jugo varonil, deviam predispor os
aventureiros
colorindo-as
europeus
e
a
acolher,
enriquecendo-as,
segundo lhes pediam a imaginação,
certas notícias sobre tribos indígenas
onde as esposas porfiavam com os
maridos na faina guerreira. Foi às
beiradas daquele rio-mar, porém, e
quando pela primeira vez na história
um bando de espanhóis o cursou em
sua maior extensão até chegar à
embocadura,
que
elas
vieram
a
ganhar corpo. Tendo saido de Quito
em 1541, rumo ao imaginário País da
Canela, Francisco de Orellana e seus
companheiros,
foram
avisados
de
que, águas abaixo, no grande rio, se
achavam amazonas, e que apartadas
dele e metida terra adentro estavam
as
dependências
do
chefe
Ica,
abundantíssimas em metal amarelo.
Esse último senhorio nunca o viram e
nem ouviram falar os expedicionários.
Das amazonas, no entanto, voltaram
a ter notícia, quando, mais adiante,
lhes advertiram-nos outros índios do
perigo
a
que
se
expunham
de
alcançá-las, por serem poucos e elas
muitas.”
(Sérgio Buarque de Holanda)
31- Ocorre erro de acentuação gráfica na linha
a)
3
b)
21
c)
8
d)
11
e)
13
GABARITO: E - A questão é maior que o comentário. O erro é a ausência de acento agudo em
“SAÍDO”- linha 13 (SA-Í-DO - a letra I como segunda vogal do hiato, sozinha ou com a letra S, é
acentuada).
(ATE MS – 2001) 04- Leia o texto adaptado de diploma legal e, em seguida, responda à
questão.
O imposto é tachado no momento:
I - da saida de mercadoria de estabelecimento de contribuinte, ainda que para
outro estabelecimento do mesmo titular;
II - do fornecimento de alimentação, bebidas e outras mercadorias por qualquer
estabelecimento;
III - da transmissão a terceiro de mercadoria depositada em armazem geral ou em
depósito fechado, neste Estado;
IV - da transmissão de propriedade de mercadoria, ou de título que a represente,
quando a mercadoria não tiver transitado pelo estabelecimento transmitente;
V - do início da prestação de serviços de transporte, de qualquer natureza;
VI- do ato final do transporte iniciado no exterior;
VII- do fornecimento de mercadoria com prestação de serviços não compreendidos
na competência tributária dos Municípios.
Quanto à ortografia, ocorre(m) neste texto
a) um erro
b) nenhum erro
c) dois erros
d) três erros
e) quatro erros
GABARITO: D – São três os erros:
- São parônimos os verbos tachar (linha 1) (“por defeito em algo ou alguém”, “censurar”,
“acusar” – “Às primeiras respostas, o professor tachou-o de ignorante” – segundo Aurélio.) e
taxar (tributar, estabelecer ou fixar taxas, fixar ou regular o preço de – segundo a mesma fonte).
Na questão, deveria estar escrito taxado.
- O vocábulo “saída” (linha 2) está sem o acento. A letra I como segunda vogal do hiato, sozinha
ou com s, é acentuada (ué...tenho a impressão de ter acabado de falar sobre isso, e você? Veja a
prova para TRF 2000...).
- O vocábulo “armazém” (linha 6) também ficou sem acento agudo (regra: oxítona terminada por
“EM”).
CUIDADO !!! É muito comum, em questões de ortografia da ESAF, a ausência de acento
na letra “i”. A intenção deve ser pegar os desatentos, que lêem a questão correndo e
não notam a falta do sinal. Por isso, nesse tipo de questão, leia várias e várias vezes o
texto, com bastante atenção.
(TTN 1998) 17 - Leia o texto seguinte e responda à questão abaixo.
Segundo os cientistas, os macacos pongídeos – termo usado para designar os
bichos mais próximos do homem, como gorilas, orangotangos, chimpansés e bonobos –
vivem em sociedades organizadas, em que as relações entre os individuos são
semelhantes às humanas. Diferentemente dos animais mais primitivos, aos quais se
atribuem apenas emoções simples, como medo e fome, esses macacos parecem possuir
compaixão e solidariedade. Sua capacidade intelectual está muito acima de todo o restante dos bichos e a diferença entre seu código genético e o dos seres humanos é de
apenas 1,6%. As pesquisas com essas espécies vem causando tanta comoção que, no
final de 1997, um grupo de biólogos, assessorado por advogados ambientalistas,
publicou um documento pedindo a extensão dos direitos humanos aos pongídeos!
(Valéria França - Veja - 28/1/98, adaptado)
Há, no texto,
a)
três erros de ortografia
b)
nenhum erro de ortografia
c)
dois erros de ortografia
d)
um erro de ortografia
e)
quatro erros de ortografia
GABARITO: A
Dessa vez, para complicar ainda mais, não houve seqüência lógica na indicação dos erros das
opções (três / nenhum / dois...). Os três erros são: CHIMPANZÉ (linha 2) ou chipanzé, mas
sempre com a letra Z; INDIVÍDUOS (linha 3) - olha a ausência do acento agudo na letra “i”,
como vimos no quadro da questão anterior; e VEM (linha 8), que foi considerado um erro de
ortografia, o que corrobora a posição de alguns autores sobre ser um acento diferencial de
número. Na minha modesta opinião, está mais para erro de concordância verbal do que de
ortografia. Questão maldosa essa, hem? Vida de candidato não é fácil mesmo.
Bons estudos e até a próxima.
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