Protocolo de Assistência à Saúde Sexual e Reprodutiva para Mulheres em Situação de Violência de Gênero BEMFAM A edição da publicação PROTOCOLO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO é de responsabilidade da BEMFAM SOCIEDADE CIVIL BEM-ESTAR FAMILIAR NO BRASIL Autores: Mônica Gomes de Almeida Ney Francisco Pinto Costa Projeto Gráfico & Diagramação Trade Mix Propaganda & Design Office Tel: (21) 3852-5363 A realização desta publicação contou com apoio financeiro da Federação Internacional de Planejamento Familiar - IPPF/WHR e da Fundação Alfred Jurzykowski. É proibida reprodução total ou parcial desta publicação para qualquer finalidade, sem autorização por escrito da Sociedade Civil Bem Estar Familiar no Brasil - BEMFAM. Copyright Abril/2001. Ficha Catalográfica Almeida, Mônica Gomes de Protocolo de assistência à saúde sexual e reprodutiva para mulheres em situação de violência de gênero. [Por] Mônica Gomes de Almeida [e] Ney Francisco Pinto Costa. 2.ed.rev. Rio de Janeiro, BEMFAM, 2002. 48p. Acima do Título: “Atitude contra a violência” Inclui Anexos 1. Saúde Sexual e Reprodutiva - Assistência. 2. Violência de Gênero - Protocolo. I. Costa, Ney Francisco Pinto colab. II. Sociedade Civil Bem Estar Familiar no Brasil - BEMFAM III. Título. Fonte: CEDOC-BEMFAM ISBN 249532 Protocolo de Assistência à Saúde Sexual e Reprodutiva para Mulheres em Situação de Violência de Gênero MÔNICA GOMES DE ALMEIDA, Coordenadora do Departamento Médico Científico da BEMFAM é médica, especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO, com Mestrado em Ginecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. NEY FRANCISCO PINTO COSTA, Secretário Executivo da BEMFAM é médico, especialista em Planejamento Familiar pela Johns Hopkins University/USA e em Endocrinologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia, com Mestrado em Endocrinologia e Metabologia pela PUC/IEDE - Rio de Janeiro. BEMFAM RIO DE JANEIRO 2002 AGRADECIMENTOS N a elaboração do Protocolo de Assistência à Saúde Sexual e Reprodutiva para Mulheres em Situação de Violência de Gênero contamos com a colaboração de profissionais da BEMFAM e de outras instituições, parceiras e parceiros, na luta pelo respeito aos direitos humanos de homens e mulheres, e por relações de gênero mais solidárias. A Judith Helzner e Alessandra Guedes, da International Planned Parentood Federation/ Western Hemisphere Region (IPPF/WHR), pelo apoio na captação de recursos e assistência técnica ao projeto. A Maria Cecília Claramunt, Professora Associada de Psicologia da Universidade de San José, Costa Rica, e consultora especialista em violência de gênero da IPPF/WHR, pelas sugestões à versão preliminar do documento. A Lilia B. Schraiber e Ana Flávia P. L. D'Oliveira, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, pela assessoria técnica ao Projeto Atitude. Aos profissionais da BEMFAM, que deram suas contribuições ao protocolo, durante o "Treinamento em Atenção a Mulheres em Situação de Violência", realizado no Rio de Janeiro em Dezembro de 2000: Vânia Petti, Ana Carla Leal, Maria Silvânia Santos, Lúcia Maria Costa, Sânzia Tavares, Francisca Edna Mesquita, Emília Bessa, Raquel Lopes, Josierton Cruz, Francisca Jales Silva, Célia Carvalho, Surama Cristina Paiva, Márcia Máximo, Ana de Lourdes Fernandes, Vera Cabral Santos, Elizabeth Vilar, Kátia Cavalcante, Maria do Socorro Amorim, Josineide Ferreira da Silva, Dóris Pimenta, Deise Santos, Patrícia Pereira, Daniella Cruz, Danielle Passos de Oliveira, Maria Amélia César, Inês Quental, Andréa Abelson e Isabel Macedo. A Ana da Glória Pires, do Centro de Documentação da BEMFAM. CONTEÚDO Parte 1 Introdução .......................................................................................................................................................................................8 Violência de gênero ...................................................................................................................................................................9 Violência doméstica: magnitude da violência, dinâmica das relações violentas , causas e conseqüências ...........................11 Como combater a violência de gênero ..........................................................................................................................15 Parte 2 Orientações gerais para o atendimento ..........................................................................................................................18 Identificação dos casos: clientes referidas por outras instituições, clientes com demanda espontânea, clientes sem queixas relacionadas à violência de gênero ....................................................................................................................................................19 Fluxograma geral de atendimento para clientes referidas por outras instituições ........................................20 Fluxograma geral de atendimento para clientes ........................................................................................................21 Ficha de Rastreio Para Situações de Violência de Gênero ......................................................................................22 Resultados da aplicação da Ficha de Rastreio: rastreio positivo, rastreio negativo, rastreio negativo sem sinais e/ou sintomas suspeitos, rastreio negativo com sinais e/ou sintomas suspeitos .......................................................................................23 Parte 3 Acolhimento: escuta ativa, mensagens positivas .........................................................................................................................26 Resposta .........................................................................................................................................................................................27 Atendimento médico: história clínica detalhada, exame físico, casos de violência sexual há menos de 72 horas ................28 Aconselhamento: identificação de sentimentos, revisão de medidas adotadas até o momento da consulta, clarificação de valores, avaliação das condições de segurança, avaliação das alternativas disponíveis, resultados esperados, apoio às decisões da cliente, elaboração de um plano de ação ...........................................................................................................................................31 Documentação ...........................................................................................................................................................................33 Aspectos legais ...........................................................................................................................................................................34 Acompanhamento dos casos ...............................................................................................................................................36 Parte 4 (Anexos) Ficha de atendimento a mulher em situação de violência/Violência sexual ..................................................37 Anticoncepção de Emergência ...........................................................................................................................................43 Declaração de atendimento para mulheres em situação de violência ............................................................47 PARTE 1 8 INTRODUÇÃO A BEMFAM - Sociedade Civil Bem Estar Familiar no Brasil - é uma instituição filantrópica, de ação social, que tem como missão "Defender os direitos reprodutivos no exercício da cidadania, e promover educação e assis-tência em saúde sexual e reprodutiva, em colaboração com órgãos governamentais e setores organizados da sociedade civil". ATITUDE é o projeto da BEMFAM, que tem como objetivo geral, fortalecer a capacidade institucional para o desenvolvimento de ações preventivas e assistenciais na área de violência de gênero. Para atingir este objetivo, funcionários e funcionárias de todos os níveis hierár-quicos e áreas de atuação tiveram oportunidade de participar de um processo de sensibilização, visando a reflexão sobre a construção sócio-cultural das desigualdades de gênero, da violência de gênero, suas conseqüências negativas para a saúde e as possi-bilidades de atuação de cada um na promoção de relações de gênero mais equilibradas. Técnicos/as da BEMFAM diretamente envolvidos com a assistência a clientes receberam treinamento complementar especializado, para prestar um atendimento diferenciado às mulheres em situação de violência de gênero. O Protocolo de Assistência à Saúde Sexual e Reprodutiva para Mulheres em Situação de Violência de Gênero foi elaborado a partir do conhecimento e da experiência adquiridos com a execução das atividades do projeto ATITUDE. Destina-se aos profissionais de saúde, que atuam em unidades ambulatoriais, e tem como objetivos: auxiliar a identificação de casos de violência de gênero, e VIOLÊNCIA DE GÊNERO G ênero se refere a um conjunto de valores, atitudes, condutas e formas de relacionamento que definem o que significa ser homem ou mulher na sociedade. É uma construção cultural, que se inicia antes mesmo do nascimento, quando os pais criam expectativas para o desempenho de papéis e responsabilidades social-mente atribuídos a meninos e meninas. Na maioria das sociedades, as diferenças biológicas entre homens e mulheres justificam e legitimam desigualdades, no que diz respeito ao poder atribuído a homens e mulheres. Violência de Gênero é qualquer ato que resulta em dano físico ou emocional, causado pelo abuso de poder de uma pessoa sobre outra, baseado nas desigualdades de gênero. As desigualdades de gênero podem estar presentes em todas as relações humanas, indepen-dente do sexo e da idade das pessoas envolvidas. Na maioria dos casos, o autor da violência de gênero é homem, e a pessoa agredida é mulher. Assim, violência de gênero e violência contra a mulher são termos muitas vezes usados como sinônimos. A Organização Mundial de Saúde define Violência Contra a Mulher como "todo ato de violência que tenha, ou possa ter, como resultado, um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para a mulher, assim como as ameaças de tais atos, a coação, ou privação arbitrária da liberdade, tanto se ocorrerem na vida pública como na privada." A violência contra a mulher é uma grave violação dos direitos humanos fundamentais. No mundo inteiro, pelo menos uma, em cada três mulheres, foi agredida fisicamente, coagida a ter práticas sexuais, ou vítima de outro tipo de abuso. Na maioria dos casos, o agressor é conhecido, nomeadamente marido ou outro elemento masculino da família. A violência, sob todas as suas formas, causa enormes danos à saúde sexual e reprodutiva, à saúde mental e ao bem-estar geral das mulheres: • Em nível global, os danos para a saúde são comparáveis aos causados por doenças tais c o m o t u b e r c u l o s e , c â n c e r, d o e n ç a s cardiovasculares e infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV); • A violência doméstica limita a capacidade das mulheres para prevenção de gravidez não planejada e doenças sexualmente transmissíveis, seja pela impossibilidade de recusar relações sexuais não protegidas, ou pela dificuldade de negociar com o parceiro o uso de meios de prevenção, • São freqüentes, entre as mulheres em situação de violência: problemas ginecológicos persistentes, incluindo dores crônicas; alterações psicológicas diversas; comportamentos sexuais de risco, como início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros e abuso de drogas. O isolamento social em que vivem muitas mulheres em situação de violência, dificulta a identificação dos casos, e conseqüentemente a adoção de medidas de combate a este tipo de violência. O serviço de saúde, em alguns casos, é o único local que mantém contato direto com a mulher agredida. A violência contra a mulher pode ocorrer na família, na comunidade, no trabalho, e em situações de conflito 9 10 VIOLÊNCIA DE GÊNERO A violência contra a mulher pode ser expressa de diversas formas: violência física, psicológica, sexual e econômica. Violência física diz respeito a agressões em geral: empurrões, bofetadas, pontapés, arremesso de objetos, queimaduras, feridas por arma, etc. De acordo como o Código Penal Brasileiro, lesão corporal significa "ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem". A lesão corporal é considerada de natureza grave se resulta em: incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou função e aceleração de parto. Violência sexual é um conceito amplo que inclui toda forma de coerção sexual contra a mulher, com ou sem violência física. O Código Penal define os "Crimes Contra a Liberdade Sexual": 1 • Estupro: constranger mulher à conjunção carnal , mediante violência ou grave ameaça (Art. 213) • Atentado Violento ao Pudor: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal (Art. 214) Um dos tipos de violência sexual é o abuso sexual, definido como uma situação em que uma criança ou adolescente é usado/a para gratificação sexual de um adulto, ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado numa relação de poder que inclui desde carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, explo-ração sexual, voyeurismo, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem 1 Conjunção carnal se refere à relação sexual com penetração vaginal. penetração, com ou sem violência (ABRAPIA, 1997). As definições do Código Penal incluem: • Sedução: seduzir mulher virgem, menor de 18 anos e maior de 14 anos, e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança (Art. 217) • Corrupção de menores: corromper ou facilitar a corrupção de maior de 14 e menor de 18 anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou a presencia-lo (Art. 218) • Presume-se a violência: se a vítima não é maior de 14 anos; é alienada ou débil mental, e o agressor conhecia esta circunstância; não pode, por qualquer motivo, oferecer resistência (Art.224) Violência psicológica é uma forma de violência que inclui ameaças a vítima ou a outras pessoas, ameaças a animais de estimação ou destruição de objetos; gritos; controle sobre as atividades das vítimas; isolamento; restrição do acesso a serviços, escola, emprego; humilhação, insultos e críticas constantes, acusações sem fundamento. Violência econômica é uma forma de controle através da dependência financeira: gasto do dinheiro da vítima contra sua vontade, tomada de decisões sobre gastos, e controle do acesso ao dinheiro. Desde que o tipo mais comum de violência de gênero é a violência contra a mulher, e a maioria das mulheres está exposta a violência doméstica, este será o foco principal das ações propostas neste Protocolo. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA iolência doméstica é a ocorrência de violência física, psicológica e/ou sexual praticada por parceiro/a íntimo/a ou outra pessoa que mantém relação de afinidade com a pessoa agredida. O termo doméstica se refere ao tipo de relacionamento entre as pessoas envolvidas, e não ao local onde ela ocorre. MAGNITUDE DO PROBLEMA Estabelecer com precisão o número de mulheres em situação de violência doméstica não é possível, porque a maioria dos casos não são notificados, principalmente em função: do estigma social associado a situações de violência, o que dificulta a revelação do problema, e diferenças nas definições de violência utilizadas nas pesquisas, dificultando a comparação entre os dados existentes. O resultado desses fatores é a sub-notificação, com pobreza de dados realistas sobre a magnitude da violência doméstica na maioria dos países. De acordo com estimativas do UNICEF (1997), ¼ a ½ das mulheres no mundo sofrem violência, cometida pelo parceiro; 40 a 58% das agressões sexuais são contra meninas de 15 anos ou menos. Nos Estados Unidos, pesquisas indicam que uma em cada quatro mulheres relatou ter sido fisicamente agre-dida pelo marido ou namorado em algum momento de suas vidas; a cada ano, pelo menos 4 a 8% de todas as gestantes, cerca de 240.000, são agredidas por um homem. Alguns estudos indicam que a violência durante a gravidez pode ser mais prevalente do que doenças como hipertensão, diabetes gestacional ou placenta prévia, condições para as quais as gestantes fazem rastreio de rotina. No Canadá, 29% das mulheres de uma amostra representativa do país relataram ter sido fisicamente agredidas, pelo parceiro atual ou passado, desde a idade de 16 anos. No Chile, 26% das mulheres de uma amostra representativa de Santiago relataram pelo menos um episódio de violência cometida pelo parceiro. Na Nicarágua, 52% de mulheres de uma amostra representativa de Leon relataram ter sido fisicamente agredidas pelo parceiro pelo menos uma vez; 27% relataram agressão física no ano anterior à pesquisa (1996). No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (IBGE, 1988) descreveu que, na Região Sudeste, 55% das mulheres agredidas foram submetidas à violência dentro de casa, e 67% das agressões foram perpetradas por parentes e conhecidos. EXEMPLOS Efeitos de violência física sobre a gravidez: abortamento, parto prematuro, baixo peso ao nascer Violência doméstica, prostituição e pornografia, mutilação genital, falta de acesso a serviços de saúde e educação Violência doméstica, assédio e violência sexual no local de trabalho, prostituição forçada, tráfico de mulheres, gravidez ou esterilização forçadas, homicídio Homicídio por motivos econômicos; abuso físico, psicológico e sexual 11 12 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DINÂMICA DAS RELAÇÕES VIOLENTAS A violência doméstica é repetitiva em sua natureza: uma em cada cinco mulheres agredidas pelo marido ou ex-marido relataram que foram vítimas de uma série de pelo menos 3 episódios de agressão física nos últimos 6 meses (EUA, 1993). Os episódios de violência tendem a aumentar com o tempo, em freqüência e intensidade, aumentando progressivamente os riscos para a mulher. Através de múltiplos padrões de comportamento, o agressor estabelece uma dinâmica de poder e controle no relacionamento: PODER E CONTROLE n Uso da coerção e ameaças: de abandono, de cometer suicídio, forçar a mulher a cometer atos ilegais n Uso da intimidação: olhares, gestos, quebrar coisas, destruir bens, abusar de animais de estimação, mostrar armas n Abuso emocional: humilhação, fazê-la sentir-se culpada n Abuso econômico: impedir que ela trabalhe, fazer com que ela peça dinheiro, usar o dinheiro dela, não dar acesso à informação sobre a renda familiar n Isolamento: controlar o que faz, com quem fala, o que lê, onde vai, usando como justificativa o ciúme n Uso das crianças: enviar mensagens, ameaçar a guarda dos filhos/as n Minimizar, negar e culpar: não levar as preocupações da mulher a sério, dizer que a violência não acontece A relação violenta se caracteriza por um padrão de comportamento cíclico, composto de 3 fases, que formam o chamado "Ciclo da Violência" (Walker, 1987): 1ª FASE - aumento da tensão: o agressor mostra-se irritado, ocorrem discussões, atritos constantes; pode haver episódios de humilhação e degradação; o nível de tensão no relacionamento aumenta progressivamente. 2ª FASE - explosão: é um incidente agudo de violência. Pode ser violência física isoladamente, ou acompanhada de violência psicológica e/ou sexual.Após o incidente, a tensão diminui. 3ª FASE - lua-de-mel: após a explosão de violência, a tensão diminui. Usualmente o agressor diz estar arrependido, promete não repetir a agressão, mudar de comportamento, pede perdão, e para isto recorre a estratégias diversas (dá presentes, promove passeios, busca mediadores na família, na Igreja, etc.). Nem sempre as três fases são bem definidas. A medida em que a violência se torna mais grave, pode haver redução ou desaparecimento da terceira fase. Sair de uma relação violenta é um processo. O tempo necessário para que a mulher tome a decisão de mudar de situação, é variável. Algumas mulheres abandonam a relação violenta precocemente, outras após um longo período, e algumas nunca abandonam. Existem diversas barreiras, que impedem a interrupção do ciclo da violência: • Comportamento do agressor: ameaça contra crianças, medo de que a violência aumente; • Falta de opções seguras para a mulher e VIOLÊNCIA DOMÉSTICA religiosos ou culturais voltados para a manutenção da família acima de tudo); • História de ter recebido respostas inadequadas de instituições e profissionais; • Sentimentos ambivalentes: desejo de terminar com a violência, mas não com o relacionamento; • Esperança de que o agressor irá mudar de comportamento; • Estigma do divórcio; • Impunidade para os agressores. A maioria das mulheres agredidas não é vítima passiva, mas usa estratégias para maximizar sua segurança e a de seus filhos. Algumas resistem, outras tentam manter a paz atendendo às demandas do parceiro. O que pode parecer falta de resposta para um observador externo, pode ser uma tática de sobrevivência e de proteção para os filhos/as. Muitas mulheres saem e voltam várias vezes, até sair definitivamente. Fatores que motivam as mulheres a deixar a relação violenta são: aumento do nível de violência, a consciência de que o parceiro não vai mudar, ou a violência que está ameaçando os filhos/as. Infelizmente, abandonar a situação de violência não significa encontrar segurança. A violência algumas vezes continua e pode até se tornar mais grave. De fato, o risco de homicídio é maior logo após a separação. CAUSAS A violência é uma forma de solução de conflitos aprendida através da experiência, na família, na comunidade e na cultura em geral. A impunidade dos agressores, é um fator importante na manutenção da violência doméstica. Não há um fator isolado que possa ser identificado como responsável pela violência. A violência é causada por um conjunto de fatores, todos relacionados às desigualdades de poder nas relações entre homens e mulheres. Assim, as vítimas preferenciais são as pessoas em situação de menor poder na sociedade: mulheres e crianças. Alguns fatores favorecem a manutenção da violência doméstica na sociedade: • Culturais: crença na superioridade masculina, masculinidade associada a poder e dominação, família como ambiente privado e sob o controle do homem, aceitação da violência como forma de solução de conflitos; • Econômicos: dependência econômica das mulhe-res, acesso limitado das mulheres a educação e emprego; • Legais: definições legais de estupro e violência doméstica, tratamento inadequado das mulheres no sistema judiciário e impunidade dos agressores; • Políticos: pouca organização e tímida participação política das mulheres. A violência não é causada por: • Doenças: algumas doenças como Alzheimer e psicose podem causar comportamento agressivo em alguns casos, mas não o padrão abusivo e coercitivo da violência doméstica. Quando há doença, há também outros sintomas, e não há 13 COMO COMBATER A VIOLÊNCIA DE GÊNERO U ma resposta à violência é efetiva quando contempla os aspectos individual, institucional e social. Na maioria dos países, o sistema de saúde é um dos únicos que interage com a mulher em algum momento de sua vida. Dessa forma, os profissionais de saúde estão em situação privilegiada para identificar e ajudar as vítimas. A violência é uma questão para todos os segmentos da sociedade, portanto, a abordagem deve ser multisetorial. É importante que os programas, serviços e profissionais de saúde tenham a perspectiva do que é possível fazer no campo de atuação da saúde. Os Programas de Saúde Reprodutiva devem: • Estabelecer políticas e procedimentos para diagnosticar a violência de gênero; • Estabelecer protocolos para oferta de cuidados de saúde e serviços de referência; • Promover acesso a anticoncepção de emergência. Os Serviços de Saúde Reprodutiva devem: • Diagnosticar, tratar e contribuir para a prevenção da violência de gênero. Os Profissionais de saúde devem: • Estar sensibilizados para o tema; • Adquirir conhecimentos sobre violência de gênero e refletir sobre seus mitos e preconceitos; • Prover atendimento sem julgamentos. 15 PARTE 2 18 ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ATENDIMENTO Q ualquer abordagem sobre situações de violência, somente poderá ser feita em ambiente privativo e exclusivamente com a cliente, ou seja, sem a presença de acompanhante(s). Se a cliente estiver acompanhada na primeira consulta, criar oportunidade para fazer as perguntas durante o exame físico ou em consulta de retorno. Neste último caso, anotar no prontuário que as perguntas não foram feitas por falta de oportunidade de estar a sós com a cliente. A cliente que vivencia situações de violência pode, em algumas situações, ter preferência por profissionais mulheres. Deve-se respeitar o desejo da cliente. A violência de gênero ocorre em todas as classes sociais. Não há um perfil específico para as mulheres agredidas. Não há justificativas para a violência. A violência é de responsabilidade do agressor, e não da pessoa agredida. IDENTIFICAÇÃO DOS CASOS A prevalência da violência contra a mulher e suas conseqüências negativas justificam a identificação rotineira dos casos. Um encontro com o/a profissional de saúde pode ser a única oportunidade para interromper o ciclo da violência, antes que ocorram conseqüências mais graves. A maior parte das mulheres em situação de violência, especialmente violência doméstica, não revela espontaneamente a situação em que vive, em função de diversos fatores, entre os quais destacamse: o medo do comportamento do/a agressor/a (temor pela sua segurança e também de familiares), vergonha e humilhação, baixa auto-estima (pensa que tem culpa e merece ser agredida), falta de apoio familiar e comunitário, e a falta de perspectivas de obter respostas adequadas das instituições e dos/as profissionais. A seguir são apresentadas as possibilidades para identificação dos casos: 1- CLIENTES REFERIDAS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES Clientes encaminhadas por profissionais de outras instituições, que são identificadas com essa demanda na recepção. Nestes casos, após a abertura de prontuário, a recepcionista deverá se comunicar com os/as técnicos/as da equipe, e encaminhar a cliente 2 direta-mente para o atendimento especializado . O primeiro atendimento poderá ser feito por médico/a ou enfermeiro/a, dependendo da disponibilidade do serviço no momento da chegada da cliente. 2 2- CLIENTES COM DEMANDA ESPONTÂNEA Clientes novas ou subseqüentes, que relatam espontaneamente a situação de Violência de Gênero devem receber atendimento especializado. 3- CLIENTES SEM QUEIXAS RELACIONADAS À VIOLÊNCIA DE GÊNERO As clientes novas, sem qualquer queixa relacionada à Violência de Gênero, deverão responder a um questionário constituído de 3 perguntas objetivas (Ficha de Rastreio para Situações de Violência de Gênero). As perguntas da Ficha de Rastreio devem ser a última etapa da anamnese, ou seja, aplicadas após ter-se estabelecido algum vínculo com a cliente. O resultado poderá ser: positivo ou negativo. Os resultados negativos podem ser encontrados em mulheres com ou sem sinais e sintomas suspeitos para Violência de Gênero. A decisão de incluir o rastreio na consulta médica é decorrente da dinâmica geral de atendimento na clínica. As clientes novas antes da consulta médica são atendidas por auxiliares de enfermagem, na préconsulta, e já respondem a um questionário sobre risco para doenças sexualmente transmissíveis neste momento. Como são clientes novas, é importante estabelecer um vínculo maior com a instituição antes de abordar um tema sensível como violência de gênero. Atendimento especializado é descrito nos itens ACOLHIMENTO e RESPOSTA. 19 20 FLUXOGRAMA GERAL DE ATENDIMENTO PARA CASOS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO CLIENTES REFERIDAS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES Recepção Abertura de prontuário 1º atendimento: médico/a ou enfermeiro/a Atendimento especializado + rotina para outros diagnósticos FLUXOGRAMA GERAL DE ATENDIMENTO PARA IDENTIFICAÇÃO DE CASOS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO CLIENTES DA BEMFAM Recepção Abertura de prontuário e/ou registro da visita Sala de espera: Palestra, Vídeo, Grupos Pré-consulta Consulta médica Revelação espontânea de VG Atendimento especializado + rotina para outros diagnósticos Sem queixas de VG: rastreio Positivo Sem suspeita VG Negativo Com suspeita de VG Rotina para o motivo da consulta e outros diagnósticos Informação e acesso a atendimento especializado 21 22 FICHA DE RASTREIO PARA SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO A Ficha de Rastreio para Situações de Violência de Gênero deve ser utilizada pelo/a médico/a, durante a consulta médica. As perguntas somente poderão ser feitas em ambiente completamente privativo, sem qualquer outra pessoa presente, seja funcionário/a da clínica ou acompanhante da cliente. Caso a cliente esteja acompanhada, deve-se buscar um momento de que as perguntas sejam feitas. Antes de fazer as perguntas, deve-se introduzir o tema com a cliente, conforme a seguinte sugestão: "A violência e os maus-tratos infelizmente são muito comuns na vida das mulheres. Por isso, começamos a fazer algumas perguntas para todas as clientes novas que vêm aos nossos serviços". 1. Você já se sentiu maltratada emocionalmente ou psicologicamente por seu/sua parceiro/a ou outra pessoa importante para você? (ex. insultos constantes, humilhações, destruição de objetos importantes como fotos, ameaçar animais de estimação, ridicularizar, ameaçar, isolar, xingar) ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 2. Alguma vez seu/sua parceiro/a ou alguém importante para você lhe agrediu fisicamente? (pancada, tapa, queimaduras, empurrões) ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 3. Você já se sentiu forçada a ter contato ou relações sexuais? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim RESULTADOS DA APLICAÇÃO DA FICHA DE RASTREIO ASTREIO POSITIVO Clientes novas que responderam "sim" a uma ou mais perguntas da Ficha de Rastreio deverão receber atendimento especializado, além do diagnóstico e tratamento adequados para o motivo da consulta e outros problemas de saúde detectados durante a consulta. • Múltiplas lesões em diferentes estágios de cicatrização; • Retardo inexplicável entre a ocorrência da lesão e a busca por assistência médica; • História de depressão, uso de sedativos, distúrbios do apetite, uso de álcool/drogas, tentativa de suicídio; • Sintomas de dores crônicas, sem causa aparente; RASTREIO NEGATIVO Clientes novas que responderam "não" a todas as perguntas da Ficha de Rastreio. Podem ocorrer duas situações: Rastreio negativo sem sinais e/ou sintomas suspeitos Proceder com a rotina de atendimento da Clínica, diagnóstico e tratamento adequados para o motivo da consulta e outros problemas de saúde detectados durante o atendimento. Aproveitar a oportunidade para divulgar o atendimento especializado para mulheres em situação de violência. Rastreio negativo com sinais e/ou sintomas suspeitos São considerados sinais e sintomas suspeitos de situações de violência de gênero: •Lesões com padrão (parecem com a forma do objeto que feriu); • Lesões não compatíveis com a explicação sobre as causas, relatadas como acidentais; • Queixas crônicas: dor pélvica crônica, infecção urinária de repetição, leucorréias repetidas, gastrite, colite, asma; • Dificuldades nas relações sexuais: frigidez, vaginismo; • Múltiplas visitas ao médico por ansiedade ou sintomas de depressão; •Cliente acompanhada por parceiro agressivo/muito alerta/que se recusa a deixar a cliente sozinha/o parceiro responde às perguntas pela cliente; • Parceiro com lesões nas mãos, braços, rosto; • Início tardio do pré-natal; • Lesões durante a gravidez, especialmente nas mamas e abdome; • Cliente ansiosa e demonstrando medo do parceiro. Nesses casos, aceitar as respostas da cliente. Falar sobre o atendimento especializado na Clínica, e se colocar disponível para discutir o assunto em outra ocasião. 23 PARTE 3 26 ACOLHIMENTO: VALIDAR A EXPERIÊNCIA DA MULHER ESCUTA ATIVA Escuta ativa é a atitude de estimular e acolher o que a cliente diz, sem colocar juízo de valor. Deve-se facilitar a expressão dos sentimentos da cliente. Reafirmar o caráter confidencial e o sigilo das informações prestadas3. MENSAGENS POSITIVAS As mensagens positivas têm como objetivo demonstrar à cliente que a violência ocorre com freqüência; e que a culpa é exclusivamente do agressor. Adicionalmente, podem ajudar a elevar a auto-estima da mulher. Sugestões de mensagens positivas: 4 "Estamos preocupadas/os com a sua segurança e bem estar” 4 "Você não está sozinha” 4 "Existem outras opções para sua vida” 4 "A situação é complicada, às vezes leva tempo para resolver, e nós podemos ajudar” 4 “Nós nos importamos e estamos satisfeitas/os por você ter nos contado. Podemos ajudar” 3 Casos de violência em clientes menores de 18 anos devem ser comunicados ao Conselho Tutelar. RESPOSTA O objetivo da intervenção não é fazer com que a mulher em situação de violência se separe do agressor, mas sim dar informação sobre as opções disponíveis, reforço positivo e apoio necessários para que a cliente tome suas próprias decisões. As preocupações dos/as profissionais devem ser a segurança física e a situação psicológica da mulher e de seus/suas filhos/as. O momento da revelação da situação de violência, apesar de muitas vezes se constituir em momento de crise, pode ser utilizado para promover mudanças positivas na vida da mulher. 27 28 ATENDIMENTO MÉDICO H istória detalhada, conforme a FICHA DE ATENDIMENTO A MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA / VIOLÊNCIA SEXUAL (Anexo 1) EXAME FÍSICO Antes de iniciar o exame físico, a cliente deve ser informada sobre o que será realizado em cada etapa do atendimento, e a importância de cada conduta, respeitando-se sua opinião ou recusa em relação a algum procedimento. O exame físico inclui: exame físico geral e ginecológico, com registro rigoroso de todas as alterações encontradas, e preenchimento completo do prontuário e da Ficha de Atendimento à Mulher em Situação de Violência/Violência Sexual. Em caso de lesões corporais, identificar o local e tipo de lesão no desenho (Figura 1, Anexo 1). As rotinas para diagnóstico e tratamento devem seguir as rotinas dos serviços, exceto nos casos de violência sexual há menos de 72 horas. CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL HÁ MENOS DE 72 HORAS Caso a cliente tenha registrado Boletim de Ocorrência e realizado exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, pode-se proceder ao exame físico geral e ginecológico. Quando a cliente tem idade igual ou maior de 18 anos, inicialmente orientar sobre a importância de realizar o Boletim de Ocorrência na Delegacia de Proteção à Mulher, para então poder ser encaminhada ao exame de corpo de delito. Este procedimento é um direito da mulher, que contribui para a punição do agressor, e viabiliza a realização do aborto previsto por lei, caso ocorra gravidez decorrente do ato de violência. Entretanto, não há uma exigência legal para a queixa. Se a cliente não desejar formalizar a queixa, sua vontade deverá ser respeitada, sem prejuízo do atendimento integral de saúde e/ou dos encaminhamentos que se fizerem necessários. Não há impedimento legal, no Brasil, para que qualquer médico examine uma mulher vítima de violência sexual. Por isso, a mulher vítima de violência sexual poderá receber o primeiro atendimento na Clínica da BEMFAM, conforme as especificações descritas abaixo. Quando a cliente tem idade inferior a 18 anos, é obrigatória a notificação para o Conselho Tutelar. Da mesma forma que com mulheres mais velhas, o primeiro atendimento pode ser realizado na Clínica da BEMFAM. É desejável que a criança ou adolescente esteja acompanhado de um familiar ou acompanhante, e a presença do/a mesmo/a durante o atendimento deverá ser uma decisão da criança ou adolescente. Entretanto, se a adolescente estiver desacompanhada, deverá ser atendida, e a seguir feita comunicação imediata ao Conselho Tutelar. Os atendimentos a casos de violência sexual há menos de 72 horas deverão incluir: coleta de material para identificação do agressor, exames laboratoriais, anticoncepção de emergência, profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis e vacinas. Importante: ATENDIMENTO MÉDICO • Deve-se usar luvas sem talco, para não prejudicar os exames laboratoriais; • O espéculo vaginal pode ser umedecido com água morna, mas não com lubrificantes. condições adequadas, à disposição da Justiça. 4. Caso haja microscópio disponível, deve-se fazer a pesquisa de espermatozóides em lâmina a fresco, com solução salina. Coleta de material para identificação do agressor Outros exames laboratoriais O material para identificação do agressor pode ser obtido: Devem ser solicitados os seguintes exames: sorologias para sífilis, Hepatite B, anti-HIV e teste de gravidez (testes rápidos), cultura de secreção vaginal e endocervical (pesquisa de gonococo e clamídia) e tipagem sanguínea. 1. Das roupas da cliente, que podem ser usadas para identificação do agressor: deixar secar em ar ambiente e guardar em saco de papel (dependendo da roupa, inteira ou uma parte com evidências de sangue ou secreções). As roupas externas devem ser guardadas em separado das roupas íntimas. 2. Pêlos pubianos: se tiver secreção na região dos pêlos pubianos, coletar uma amostra e acondicionar em papel, deixar secar ao ar ambiente, e guardar em envelope comum. 3. Através da coleta de conteúdo vaginal e 4 endocervical, com swab de algodão . O material deve ser fixado em papel de filtro poroso (tipo filtro de café), estéril, deixado secar em ar ambiente e ser armazenado em envelope comum. O material coletado nos itens 1, 2, e 3 deve ser identificado com o nome da cliente, data da agressão, e a data da coleta. O material nunca deve ser acondicionado em sacos plásticos, que facilitam a transpiração, e com a manutenção do ambiente úmido, facilitam a proliferação de bactérias que podem destruir as células e o DNA. O material deve ser 4 5 Anticoncepção de Emergência Deve sempre ser oferecida, conforme a rotina estabelecida pelo Informe Técnico do Departamento Médico Científico da BEMFAM, Ano II Número 5, contidas no Anexo 2, a todas as mulheres, exceto às já submetidas a esterilização ou histerectomia. 5 Prevenção de DST As medicações devem ser prescritas conforme o resultado do teste de gravidez (imediato). Gonorréia e Infecção por Chamydia trachomatis: Azitromicina 1g, VO, dose única + Ofloxacina 400mg, VO, dose única Gestantes, nutrizes e menores de 18 anos, substituir: Azitromicina por Amoxicilina 500mg, VO, 8/8horas, 7 dias Ofloxacina por Cefixima 400mg, VO, dose única (crianças, ajustar doses conforme idade e peso) Sífilis: A coleta de material em crianças deve ser realizada sem o uso de espéculo vaginal. Conforme rotina estabelecida pela Norma Técnica de Atendimento a Vítimas de Violência Sexual do Ministério da Saúde (1999) e CNDST/AIDS do Ministério da Saúde. 29 30 ATENDIMENTO MÉDICO 500mg. VO, 6/6 horas, 14 dias Gestantes alérgicas dessensibilização com penicilina V oral ou estearato de eritromicina 500mg VO, 6/6horas, 14 dias (neste caso considerar o feto como não tratado) (crianças, ajustar doses conforme idade e peso) Tricomoníase: Metronidazol, Tinidazol ou Secnidazol 2g VO, dose única Gestantes: tratar somente após o 1º trimestre, com metronidazol 2g VO, dose única Nutrizes: suspender o aleitamento por 24 horas Hepatite B: Gamaglobulina hiperimune para Hepatite B, 0,06ml/kg peso IM, dose única, preferentemente até 48 horas após a exposição, com limite máximo de uma semana após. A gravidez e a lactação não são contra-indicações. Iniciar vacinação (1ª dose) 1ml adultos e 0,5ml crianças, e posteriormente completar o esquema de 3 doses. HIV: Não há consenso sobre os benefícios da utilização profilática de anti-retrovirais. Não está recomendado na Norma Técnica do Ministério da Saúde. No entanto, a cliente deve ser informada desta possibilidade, e conforme sua decisão, encaminhada a um serviço de referência para utilização de anti-retrovirais. Outras medidas: Vacinação anti-tetânica, em casos de ferimentos perfuro-cortantes ou contato com terra. Para muitas mulheres, a higienização da genitália é importante, porque têm a sensação de que estão Seguimento: As sorologias deverão ser repetidas: sífilis (30 dias), Hepatite B (180 dias), anti-HIV (90 e 180 dias). ACONSELHAMENTO O rientação ou aconselhamento tem como objetivos avaliar as condições de segurança da cliente e ajudála a tomar decisões importantes para sua vida. O processo de tomada de decisão compreende as seguintes etapas: IDENTIFICAÇÃO DE SENTIMENTOS Qual é o principal problema a ser resolvido, na opinião da cliente? Considerar que nem sempre o principal proble-ma identificado pelo/a profissional coincide com a principal preocupação da cliente. Identificar as fortalezas e recursos internos da cliente. Esclarecer os sentimentos expressados de forma verbal e não verbal pela cliente, aprofundando suas vivências emocionais. Fazer perguntas abertas, significativas e diretas. REVISÃO DAS MEDIDAS ADOTADAS ATÉ O MOMENTO DA CONSULTA A maioria das mulheres em situação de violência não é vítima passiva, mas sim usa estratégias para maximizar sua segurança e a de seus filhos/as. Algumas resistem, outras tentam manter a paz, atendendo às demandas do parceiro. Algumas já tentaram sair da situação e buscaram ajuda, mas não foram bem sucedidas nas instituições às quais recorreram. CLARIFICAÇÃO DE VALORES Quais são os valores da cliente que apóiam as medidas adotadas até o momento e que vão influenciar as decisões futuras? Utilizar técnicas como parafrasear. O/a profissional deve estar bem capacitado/a e não impor seus valores, e acima de tudo, não julgar a cliente. AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA A segurança deve ser uma preocupação constante, em qualquer tipo de intervenção. Deve-se tomar todas as medidas para que as intervenções não c o m p r o m e t a m a s e g u r a n ç a d a c l i e n t e, independente de qualquer benefício potencial. O/a profissional deve reconhecer que a cliente é a melhor pessoa para avaliar os riscos. Deve-se perguntar: ! A violência aumentou neste último ano? ! Ameaçou te matar? ! Tem armas em casa? ! A separação é recente? Deve-se sempre perguntar: "É seguro voltar para casa hoje?" AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS DISPONÍVEIS Pessoas que podem oferecer apoio (amigos, familiares, grupos religiosos). Fornecer informação sobre serviços e instituições de referências disponíveis, conforme a necessidade do caso. Discutir as vantagens e desvan-tagens de cada alternativa, e ainda refletir sobre quais as alternativas que vão contra os valores da cliente. RESULTADOS ESPERADOS O que a cliente considera como resultado satisfatório para as medidas propostas? Muitas vezes, a cliente tem expectativas que não poderão ser atingidas, pelo menos, a curto prazo. É importante discutir os resultados espe-rados em função da estrutura disponível no serviço, nas demais instituições da rede de referência, e na comunidade. APOIO ÀS DECISÕES DA CLIENTE 31 32 ACONSELHAMENTO momento da consulta; pode ser necessário um tempo para refletir sobre o que foi discutido durante o atendimento. Neste caso, deve ser agendado um novo atendimento para que o/a profissional possa apoiar as decisões da cliente, através das referências disponíveis . ELABORAÇÃO DE UM PLANO DE AÇÃO Devem ser estabelecidos os passos a serem seguidos para que a cliente saia da situação de violência. O objetivo da intervenção não é fazer com que a mulher em situação de violência se separe do agressor, mas sim dar acolhimento, informação e aconselhamento para que a cliente possa tomar suas próprias decisões. Existem situações em que a cliente deseja apenas ter a oportunidade de falar sobre a situação em que vive, e não reverter a situação atual de violência. O/a profissional deve reconhecer que o "sucesso"da sua intervenção naquele momento foi ter dado oportunidade para que a cliente fale/reflita e tenha iniciado a reflexão sobre outras opções para sua vida. O plano de ação deve ser elaborado a partir da prioridade de problemas e necessidades. O plano de ação, qualquer que seja, deve incluir o estabelecimento de um plano de segurança. Podem ser sugeridas as seguintes medidas: ! Identificar um ou mais vizinhos ou amigos para falar sobre a situação de violência, e pedir para que busquem ajuda caso escutem alguma briga em casa. ! Se uma discussão parece inevitável, tentar ir para um cômodo do qual possa sair com facilidade. ! Ficar fora de cômodos que tenham armas ou objetos cortantes (cozinha). Não usar armas para ameaçar o agressor, pois as armas podem ser voltadas contra a mulher. ! Praticar estratégias de fuga. Identificar portas, janelas, elevador, escada, etc. e locais próximos que ofereçam alguma segurança, como lanchonetes, postos de gasolina, escolas, shopping center, etc. Evitar fugir sem as crianças, que poderão ser usadas pelo agressor para chantagem ou alegação de abandono de lar (para requisitar a custódia dos/as filhos/as). ! Ter pronta uma bolsa com chaves extras, dinheiro, documentos importantes e roupas. Deixar na casa de um parente ou amigo, caso tenha que deixar a casa às pressas. ! Ter um código para usar com crianças, familiares, amigos, que indique situação de emergência ou necessidade de chamar a polícia. ! Decidir para onde ir caso seja necessário sair de casa (mesmo se não estiver pensando em sair no momento). ! A cliente tem o direito de proteger a si mesma e a seus filhos. DOCUMENTAÇÃO O s seguintes instrumentais devem ser preenchidos de forma completa e com letra legível: o prontuário da BEMFAM, a Ficha de Rastreio (casos assintomáticos) e a Ficha de Atendimento à Mulher em situação de Violência / Violência Sexual. 33 34 ASPECTOS LEGAIS D eve-se fornecer à mulher que recebeu atendimento na Clínica da BEMFAM um atestado, o mais completo possível, sobre o atendimento clínico, tratamento prescrito e exames laboratoriais solicitados e realizados (Anexo 3). Este atestado não terá o valor do exame de corpo de delito realizado pelos peritos oficiais, entretanto, poderá ser juntado ao processo como documento importante, principalmente se o exame de corpo de delito tiver sido realizado tardiamente ou não tiver sido feito. Deve-se fornecer informação sobre a possibilidade de, em caso de gravidez resultante de estupro, realizar a interrupção da gravidez, nos serviços públicos de saúde. Para solicitar este procedimento, são necessários os seguintes documentos e 6 procedimentos : ! Autorização da gestante ou, em caso de incapaci-dade, de seu representante legal para a realização do abortamento, firmada em documento de seu próprio punho, na presença de duas testemunhas - exceto pessoas integrantes da equipe do hospital - que será anexada ao prontuário médico. ! Informação à mulher ou a seu representante legal de que ela poderá ser responsabilizada criminal-mente caso as declarações constantes no Boletim de Ocorrência Policial sejam falsas. ! Registro em prontuário médico, e de forma separada, das consultas da equipe multidisciplinar e 6 !da decisão por ela adotada, assim como dos resultados de exames clínicos ou laboratoriais. Adicionalmente, são recomendados: ! Cópia do Registro de Atendimento Médico à época da violência sofrida ! Cópia do Laudo do Instituto Médico Legal, quando se dispuser. A queixa criminal é um direito, e não uma obrigação da pessoa agredida. A cliente deve ser esclarecida sobre os resultados habituais da queixa7 : ! Nem sempre o autor da violência é chamado à Delegacia. Desde 1995, com a aprovação da Lei 9.099, muitas vezes o agressor é convocado diretamente pelo Juizado Especial Criminal. O procedimento varia de delegacia para delegacia. Em algumas delegacias, o acusado só é chamado quando seus dados de identificação não forem suficientes. ! Se a queixa for de lesão corporal considerada "leve" ou de ameaça, o caso será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. Nesse caso, a Delegacia não abre inquérito e não tem mais nenhuma forma de intervenção no caso. Tudo fica a cargo do Juizado Especial Criminal. ! No Juizado, para onde serão convocados vítima e acusado, haverá uma audiência de conciliação, na qual a mulher pode tentar uma "reparação de danos" ou pode retirar a queixa: Norma Técnica para Prevenção e Tratamento dos Agravos resultantes de violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes do Ministério da Saúde (1999). 7 Extraído do documento "Técnicas de Atendimento para o DD Mulher", Elaborado por Bárbara Soares e Marisa Gaspary, Subsecretaria de Pesquisa e Cidadania/Subsecretaria Adjunta de Segurança da Mulher, Rio de Janeiro, 2000. ASPECTOS LEGAIS ! Se ela quiser representar (ir adiante), o promotor vai propor uma transação penal (que significa que o agressor paga uma cesta básica, uma multa ou presta serviços à comunidade), e ao final, não fica com nenhuma mancha em sua ficha criminal. Ele sai ileso. O único problema é que o acusado não pode ter esse privilégio mais de uma vez, em um período de 5 anos. ! Se o acusado não aceitar a transação penal ou não tiver mais direito a ela, o juiz vai lhe aplicar uma sentença, que será também (em quase todos os casos) o pagamento de uma multa ou de uma cesta básica, só que nesse caso, o acusado perde a primariedade (deixa de ser réu primário) e terá que acatar a sentença do juiz. ! Não podemos garantir para a mulher agredida que nada vai lhe acontecer, se ela denunciar ou procurar ajuda. Muitos homens ficam ainda mais violentos quando a mulher os denuncia. Só podemos dizer que ela vai encontrar pessoas que vão tentar ajudá-la e protegê-la. O silencio é o maior aliado da violência. 35 36 ACOMPANHAMENTO DOS CASOS O acompanhamento médico deverá seguir as rotinas estabelecidas para cada patologia específica. No aconselhamento podem ser revisados os passos estabelecidos no plano de ação, o que foi efetivamente implementado e os resultados obtidos. Médicos/as e enfermeiros/as não são profissionais indicados para fazer avaliação das repercussões psicológicas, nem terapia especializada. Deve-se ter claro estas limitações, e a articulação com a rede de referência é fundamental para um atendimento qualificado para as clientes. Diga a você mesmo que fez um bom trabalho seguindo os passos anteriores na sua intervenção. ANEXO 1 Ficha de atendimento à mulher em situação de violência / violência sexual 38 MODELO DE FICHA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA / VIOLÊNCIA SEXUAL DATA DO ATENDIMENTO ___/___/___ PRONTUÁRIO ______________________ FICHA Nº _________ RESPONSÁVEL / ACOMPANHANTE ___________________________________________ 1ª PARTE DADOS GERAIS (Preencher em todos os casos) 1. Há quanto tempo ocorreu a última agressão? ( 1 ) Mais de 72 horas Data: ____/____/____ ( 2 ) Menos de 72 horas Data: ____/____/____ Hora:_______ 2. Onde ocorreu? ( 1 ) Em casa ( 3 ) No trabalho ( 2 ) Na rua ( 4 ) Outro 3. O agressor é: ( 1 ) Marido ( 3 ) Pai / padrasto ( 5 ) Avô ( 7 ) Desconhecido ( 2 ) Namorado ( 4 ) Tio ( 6 ) Vizinho ( 8 ) Outro 4. A agressão foi presenciada por outras pessoas? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 5. Tipo de violência: Sim Não A) Física (1) (2) B) Psicológica (1) (2) C) Sexual (1) (2) 6. Houve intimidação? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim… ( 1 ) Arma ( 2 ) Ameaça verbal ( 3 ) Força física 7. Usou algum objeto para agredir? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Qual _______________________ ( ) 8. Você havia utilizado álcool ou drogas? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Qual _______________________ ( ) 9. E o agressor? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Qual _______________________ ( ) ( 9 ) Mais de um agressor MODELO DE FICHA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA / VIOLÊNCIA SEXUAL 10. Qual a freqüência da agressão? ( 1 ) Episódio único ( 2 ) Todo dia ( 3 ) Toda semana ( 4 ) Todo mês ( 5 ) Outro SE O CASO INCLUIR VIOLÊNCIA SEXUAL, SEGUIR PARA A 2ª PARTE. OUTROS TIPOS DE VIOLÊNCIA, PASSAR PARA A 3ª PARTE (ENCAMINHAMENTOS). 2ª PARTE - CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL 11. Contato com a genitália do agressor ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 12. Manipulação da sua genitália ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 13. Houve penetração? Se sim, de que tipo? ( 1 ) Sim... ( 1 ) Vaginal ( 2 ) oral ( 3 ) anal ( 2 ) Não 14. Houve uso de preservativo? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 15. Atividade sexual prévia? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim 16. Apresenta sintomas? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Quais? _______________________ 17. Uso de anticoncepção antes da ocorrência? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Que método? _______________________ ( ) 18. Uso de medicação após a violência? ( 1 ) Não ( 2 ) Sim Qual? _______________________ ( ) 19. A) Tomou banho ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 1 ) Sim ( 2 ) Não C) Mudou de roupa ( 1 ) Sim ( 2 ) Não B) Ducha vaginal 39 40 MODELO DE FICHA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA / VIOLÊNCIA SEXUAL 3ª PARTE EXAME E PROVIDÊNCIAS Exame geral ______________________________________________________ Tanner: ( )mamas ( ) pêlos Lesões gerais ______________________________________________________________________________ Oroscopia _________________________________________________________________________________ Sim Não Genitália externa normal ( 1 ) ( 2 ) Secreção vaginal Sim Não (1) (2) Sangramento (1) (2) Secreção uretral (1) (2) Equimose (1) (2) Condiloma acuminado Laceração (1) (2) (1) (2) Aspecto do colo uterino __________________________ Toque vaginal/retal ______________________________ Sim (1) Lesão perianal Não (2) Anticoncepção de emergência (1) ( 2 ) Qual? ______________________ ( ) Prevenção/Tratamento DST (1) ( 2 ) Qual? ______________________ ( ) (1) ( 2 ) Origem _____________________ ( ) Colhido material para identificação do agressor Sim Não Solicitados: 1. Tipagem sanguínea ( 1 ) ( 2 ) 4. Anti-HIV 2. Teste de gravidez (1) (2) 5. Sorologia Hepatite B ( 1 ) ( 2 ) 3. VDRL (1) (2) Sim Não (1) (2) Prescrito: Sim Não 1. Vacinas Hepatite B ( 1 ) ( 2 ) 2. Antitetânica (1) (2) Encaminhamento: ( 1 ) Registro policial ( 3 ) Conselho Tutelar ( 5 ) Atendimento psicológico ( 2 ) Hospital ( 4 ) Juizado ( 6 ) Aborto legal ( 7 ) Outros ___________________ Atendido por: _____________________________________________________ ( ) Figura 1 - Mapa para identificação de lesões corporais ANEXO 2 Anticoncepção de emergência 44 ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA ROTINA PARA UTILIZAÇÃO DE PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS DE EMERGÊNCIA NA BEMFAM B) Etinilestradiol 240mcg e Levonorgestrel 1,2mg, divididos em duas doses: 1. Quem pode usar as pílulas anticoncepcionais de emergência? • 1ª dose: 4 comprimidos, até 72 horas após a relação sexual não protegida; Qualquer cliente que tenha tido relação sexual não protegida e não deseje engravidar, nas seguintes situações: • 2ª dose: 4 comprimidos, 12 horas após a primeira dose. ® ® Microvlar , Ciclo 21 , Ciclon ® ® Nociclin , Nordette ® , Gestrelan ® , • Sem uso de método anticoncepcional; Pílulas de progestogênio isolado • Acidente com outros métodos (o condom rompeu, o diafragma deslocou, esqueceu de tomar a pílula); A) Levonorgestrel 1,5mg • Violência sexual. • 1ª dose: 1 comprimido, até 72 horas após a relação sexual não protegida; ® ® Postinor 2 , Pilen , Pozato ®, 2. Como a cliente deverá ser avaliada? • 2ª dose: 1 comprimido, 12 horas após a primeira dose. Não é necessário realizar nenhum tipo de exame antes do uso das pílulas de emergência. Nortrel ® • 1ª dose: 25 comprimidos, até 72 horas após a relação sexual não protegida; 3. Preparações comerciais/posologia Podem ser usadas pílulas combinadas ou pílulas de progestogênio isolado. As pílulas de progestogênio isolado são mais eficazes e provocam menos efeitos colaterais. Pílulas combinadas A) Etinilestradiol 200mcg e levonorgestrel 1mg, divididos em duas doses: ® ® ® Evanor , Normamor , Neovlar • 1ª dose: 2 comprimidos, até 72 horas após a relação sexual não protegida; • 2ª dose: 2 comprimidos, 12 horas após a primeira dose . • 2ª dose: 25 comprimidos, 12 horas após a primeira dose. 4. Aconselhamento O aconselhamento é fundamental, especialmente para informar de forma antecipada sobre os possíveis efeitos colaterais e as alterações menstruais que podem ocorrer. Em caso de vômito até 2 horas após a ingestão das pílulas, a dose deverá ser repetida. A menstruação seguinte deverá ocorrer na época esperada, mas pode antecipar ou atrasar. A menstruação pode ser mais abundante ou mais escassa que o habitual. Se houver atraso menstrual de ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA As pílulas de emergência só protegem contra a relação sexual passada em até 72 horas. Para manter a proteção até o final do ciclo, a cliente deverá fazer abstinência sexual ou usar um método adicional, como preservativos, até a menstruação seguinte. A cliente deve ser orientada para o uso excepcional da anticoncepção de emergência, e da importância de fazer a anticoncepção regular. A anticoncepção de emergência não deve ser usada de forma freqüente, porque: • É menos eficaz do que a anticoncepção regular; • Provoca mais efeitos colaterais; • Com o uso repetido, passa a ter as mesmas contra-indicações do uso regular dos anticoncepcionais hormonais. 5. Pílulas anticoncepcionais de emergência e DST/HIV/Aids As pílulas anticoncepcionais de emergência não protegem contra DST/HIV/Aids. Deve-se promover o uso de preservativos para todas as clientes. 45 46 ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS DE EMERGÊNCIA INFORMAÇÕES PARA USUÁRIAS ! As pílulas anticoncepcionais de emergência são métodos hormonais, usados após a relação sexual, para evitar gravidez não planejada. ! São métodos que somente devem ser usados em situações de emergência, tais como: relação sexual sem uso de método anticoncepcional, acidente com outros métodos (por exemplo, a camisinha estourou, o diafragma saiu do lugar, esqueceu de tomar as pílulas), e casos de violência sexual. ! Evitam a gravidez através de vários mecanismos, dependendo da fase do ciclo menstrual em que é usada. ! Quando usadas corretamente, funcionam em até 76% a 89% dos casos. ! As pílulas de emergência podem ser usadas até 72 horas após a relação sexual não protegida ! Após o uso das pílulas de emergência, na maioria dos casos, a menstruação acontece na época esperada. Pode adiantar ou atrasar alguns dias. Se houver atraso de 15 dias ou mais, pode ter ocorrido falha do método. Neste caso, procure um serviço de saúde para fazer teste de gravidez. ! Os principais efeitos colaterais são náuseas, vômitos, dor de cabeça e dor nas mamas. Estes efeitos colaterais não são perigosos para a saúde, e geralmente terminam em 24 horas após a última dose da medicação. ! Caso as pílulas de emergência sejam utilizadas por uma mulher que já esteja grávida, o método não funciona. Neste caso também não há riscos de malformações no bebê associadas ao uso das pílulas. ! Após a utilização das pílulas de emergência, você não deverá ter relações sexuais ou usar algum método adicional, como a camisinha, até a próxima menstruação. ! As pílulas de emergência somente devem ser usadas em situações excepcionais. Procure um profissional de saúde para escolher um método seguro, eficaz e que esteja de acordo com seu estilo ANEXO 3 Declaração de atendimento para mulheres em situação de violência 48 MODELO DE RELATÓRIO DE ATENDIMENTO PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA BEMFAM NOME DA CLIENTE ___________________________________________________________ PRONTUÁRIO____________ DATA DO ATENDIMENTO____/____/___ HORA ________ HISTÓRIA CLÍNICA Dados fornecidos por __________________________________________________________ EXAME CLÍNICO EXAMES LABORATORIAIS SOLICITADOS/REALIZADOS RESULTADOS DOS EXAMES (se houver) ORIENTAÇÃO/ENCAMINHAMENTOS PARA OUTROS SERVIÇOS ( ) Delegacia ( ) ConselhoTutelar ( ) Juizado ( ) Hospital ( ) Atendimento psicológico ( ) Centro de atendimento especializadoOutros__________________________ ATENDIDO POR (médico/a, enfermeira/a e responsável pelo aconselhamento, carimbar, assinar e datar) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAPIA - Abuso sexual: Mitos e realidades. [Coord. Vânia Izzo de Abreu. 2. Ed.] Rio de Janeiro, Autores & Agentes & Associados [1997], 40p. ilus. BASTA! Un boletín de IPPF/RHO sobre cómo integrar la violencia basada en género en la salud sexual y reproductiva. New York, IPPF/RHO, 2000. BRASIL. Leis, Decretos... - Código Penal [Organiz. Juarez de Oliveira, colab. Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt]. 35. ed. São Paulo, Saraiva, p.75-86 BRASIL. Ministério da Saúde.Secretaria de Políticas de Saúde.CNDST/AIDS. Manual de controle de doenças sexualmente transmissíveis. 3.ed. Brasília,1999. 42p. CLARAMUNT, Maria Cecilia - Mujeres maltratadas: Guía de trabajo para la intervención en crisis. San José, OPAS [s.d.] 79p. (Serie: Género y Salud Pública) COLOMBIA. Ministerio de Salud - Guia de atención de la mujer maltratada. [s.n.t.] (mimeo.) 40p. COSTA, Ney Francisco Pinto - Protocolo de atenção às doenças sexualmente transmissíveis. [Por] Ney F.P.Costa, Roberto Dias Fontes, Vania Lúcia Bastos Petti. Colab. Julie Becker, Catherine Lowndes, Mauro Romero Passos, Mônica Chicrala. [ Rio de Janeiro], BEMFAM-DEMEC, 1997. 101p. DOMESTIC violence against women and girls. UNICEF Innocenti Digest (6): 22, maio, 2000. ENDING violence against women. Population Reports. Serie L, n.11. PREFEITURA Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Saúde e Desenvolvimento Social - Protocolo de atenção às vítimas de violência sexual no município de Florianópolis. [s.n.t.] (Mimeo) SCHRAIBER, Lilia B.; D'Oliveira, Ana Flávia P. L.; Strake, Silvia Salvan; Liberman, Milena Dayan - Violência contra mulheres e políticas de saúde no Brasil: o que podem fazer os serviços de saúde? [s.n.t.] (Mimeo.) SECRETARIA de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Subsecretaria de Pesquisa e Cidadania. Subsecretaria Adjunta de Segurança da Mulher - Técnicas de Atendimento para o DD Mulher. Elabor. Bárbara Soares e Marisa Gaspary. [Rio de Janeiro, s.ed] 2000. BEMFAM BEMFAM - Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil Av. República do Chile, 230 / 17° andar - Centro - CEP 20031-170 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 210-2448 Fax: (21) 220-4057 e-mail: [email protected] www.bemfam.org.br