Epidemiologia e Gestão de Riscos Sanitários: desafios
para o Brasil
Vítor Salvador Picão Gonçalves
([email protected])
Prof. Associado; Laboratório de Epidemiologia e Planejamento em Saúde Animal (EpiPlan); FAV;
Universidade de Brasília
Acordo SPS
Inocuidade
de
alimentos
Sanidade
animal
Sanidade
vegetal
Conceitos principais - SPS
Harmonização
Equivalência
Transparência
SPS
Regionalização
Análise de
risco
Regionalização

No passado, a presença de uma enfermidade no
território de um país significava que o país inteiro
estava infectado

Este conceito reconhece que zonas de um país podem
ser reconhecidas como livres de doenças

Zonas / Compartimentos

Alta demanda por estudos para certificar zonas ou
compartimentos livres
Análise de risco



É a avaliação da probabilidade de entrada,
estabelecimento e disseminação de doenças ou
pragas, assim como as consequências biológicas e
econômicas a elas associadas.
Pode ser usada no comércio internacional ou como
ferramenta de planejamento de medidas sanitárias
dentro do país.
Esta ferramenta usa métodos epidemiológicos e
necessita de informação epidemiológica.
Harmonização

Estabelecimento, reconhecimento e aplicação
de medidas sanitárias comuns
=

Padrões internacionais - OIE
O papel da epidemiologia na
harmonização (OIE)

Desenvolvimento de padrões internacionais
Modelos de doença
 Diretrizes para vigilancia e demonstração de zonas
ou compartimentos livres
 Definição sobre uso e interpretação de testes
diagnósticos


Grupo Adhoc especifico de epidemiologia na OIE
Equivalência

Reconhecimento de que medidas SPS
diferentes podem obter resultados similares

Permite flexibilidade na organização dos
serviços veterinários, sistemas de vigilância etc.

Enfoque no risco final, mais do que no método
utilizado
Papel da epidemiologia na
equivalência

Desenvolvimento de métodos para comparar medidas de
mitigação de risco

Desenvolvimento de critérios para definir o nível
adequado de proteção
Transparência

Os países devem notificar à OMC e OIE mudanças
significativas que tenham grande impacto no comércio
internacional

O conceito aplica-se aos mecanismos de adoção de
medidas sanitárias, assim como à notificação da situação
sanitária


Base científica
Sem transparência não há credibilidade
Papel da epidemiologia na
transparência

A notificação de enfermidades é a base da confiança

Os sistemas de vigilância são a base para a notificação
internacional de enfermidades

A questão não é apenas de honestidade das autoridades
sanitárias, mas sobretudo de eficiência e credibilidade da
vigilância
O contexto mundial

O tema “vigilância em saúde animal” ocupa hoje um lugar de
destaque nas discussões internacionais e vem progressivamente
se tornando objeto central de políticas públicas

Isto decorre em parte da necessidade de prover certificações
sanitárias no comércio nacional e internacional, de garantir a
eficiência e avaliar a eficácia das ações de prevenção e
controle, mas também da crescente aversão dos
consumidores ao risco veiculado por produtos de origem
animal
Na OIE

Existem diretrizes de vigilância gerais e para
doenças específicas no Código e foi
desenvolvido um guia mais abrangente.
Uma definição de Vigilância

A coleta, processamento e analise sistemática de dados
relacionados à saúde animal e a disseminação tempestiva
de informação para que ações possam ser tomadas –
Código terrestre da OIE

Um sistema de vigilância poderá ser composto por
estratégias complementares como mecanismos de alarme e
detecção precoce (early warning), vigilância baseada em
risco (risk-based surveillance), vigilância de síndromes
(syndromic surveillance) e vigilância de patógenos específicos
(pathogen specific surveillance)
E para Vigilância Baseada em Risco

Aplicação de métodos quantitativos ou
qualitativos que visam aumentar a eficiência
da vigilância dirigindo as atividades a:



Populações mais expostas a fatores que aumentam o risco
de doença ou infecção;
Subpopulações onde, por fatores inerentes aos
hospedeiros, é mais provável encontrar a infecção
Priorizar populações onde as consequências da doença
podem ser mais graves
Monitoramento de fatores de risco

É necessário:
saber quais são
 criar mecanismos de coleta e análise de dados
 ter um sistema de informação que garanta rapidez
e simplicidade

A informação deve ser utilizada para ajustar as
atividades do sistema de vigilância – inteligência
epidemiológica
Onde estamos?
Fases dos Programas Sanitários
Prevalência da Doença
Controle
Medidas de
mitigação de
risco
Redução
progressiva do
nº total de focos e
da incidência de
novos focos
Erradicação
Zona Livre
Vigilância Epidemiológica
Detecção e
eliminação de
todos os focos
Tempo (anos)
Prevenção e
certificação de
zona livre
Doenças de rápida difusão – tipo
epidêmico – zonas livres

Abordagem tradicional para certificar
zonas/países livres:
• 1. Inquéritos epidemiológicos e
• 2. Avaliação qualitativa das atividades de vigilância.
• Tendência preocupante de que os inquéritos substituam
a vigilância
necessidade de modelos que avaliem
a sensibilidade do sistema de vigilância
Componentes de um sistema de vigilância para
zonas livres de doenças de tipo epidêmico

OBJETIVO – DETECÇÃO RÁPIDA DA INTRODUÇÃO DO
AGENTE NA POPULAÇÃO LIVRE - Mecanismos de detecção
precoce (Early Warning) – VIGILÂNCIA PASSIVA* – pode ser
reforçada em subpopulações de maior vulnerabilidade - não
funciona sem participação eficaz da comunidade e sem
respeitar os fluxos de informação existentes na comunidade.
* A VIGILÂNCIA PASSIVA PODE SER PRO-ATIVA E DIRIGIDA A POPULAÇÕES
DE MAIOR RISCO/VULNERABILIDADE – para tanto é necessário realizar
estudos epidemiológicos que caracterizem essas populações e esses riscos.
Exemplos?
Componentes de um sistema de vigilância para
zonas livres de doenças de tipo epidêmico

OBJETIVO – DETECÇÃO DE NICHOS DE ATIVIDADE VIRAL
populações de maior receptividade – vigilância ativa
baseada em risco – relação custo-eficácia das ações (caso da
PSC ou da Zona de Alta Vigilância de febre aftosa)

OBJETIVO - ESTUDO E MONITORAMENTO DE FATORES DE
RISCO – usado no planejamento das duas anteriores –
necessidade de ações transversais aos programas sanitários
DOENÇAS ENDÊMICAS

O papel da vigilância é captar informação
sobre incidência, prevalência e fatores de risco
para avaliar as ações e tomar decisões
sanitárias
Estudos de prevalência e
fatores de risco da brucelose
(PNCEBT – USP - UnB)
Fatores de risco de brucelose bovina no Brasil
com base em dados de 14 estados.
Variável
Odds Ratio
IC (95%)
p-valor
De comerciantes de gado
1,34
[1,14 – 1,57]
≤ 0,001
De outras fazendas
1,13
[1.01 – 1.26]
0,026
Compra de reprodutores
Número total de fêmeas
x ≤ 30
categoria base
30 < x ≤ 100
1,99
[1,72 – 2,31]
≤ 0,001
100 < x ≤ 400
3,09
[2,63 – 3,62]
≤ 0,001
x > 400
5,85
[4,76 – 7,19]
≤ 0,001
Limitações dos estudos transversais



Não captam informação sobre incidência
Mais monitoramento do que vigilância
Torna-se necessário implantar sistemas de vigilância
ativa, baseados em risco – outro tipo de estudos
epidemiológicos para identificar fatores de risco,
como Estudos de Caso-controle
Como o sistema de defesa sanitária
animal está se estruturando para
enfrentar este desafio?

A demanda por estudos e informação
epidemiológica é grande e exige bom nível de
especialização e atualização continuada dos
técnicos envolvidos

A sua qualidade depende muito da existência de
bons sistemas de informação, que permitam a
captação e processamento ágil de dados de
vigilância e populacionais
atualmente

As unidades de epidemiologia das autoridades
sanitárias, quando existem, estão quase
integralmente focadas na compilação de dados
para organizar a notificação de ocorrência de
doenças

A demanda por estudos e o uso de informação
epidemiológica costumam estar vinculados a
programas sanitários específicos, a maioria dos
quais por demanda federal

Como o nível de especialização técnica e científica
ainda é limitado nas unidades de epidemiologia
dos serviços veterinários, recorre-se com
frequência à colaboração com grupos de pesquisa
em epidemiologia sediados nas universidades
Como responder a estes desafios?
a questão deve abordada sob
várias óticas

1. Modernização dos processos de decisão sanitária
– incorporam modelos e informação epidemiológica?

2. Organização institucional e gestão de recursos
humanos – como é produzida a informação
epidemiológica e como é utilizada no quadro
institucional?

3. Como prover a formação de recursos humanos?

Estas 3 questões não são independentes. A eficiência
e a eficácia de qualquer medida para melhorar uma
delas depende da forma como todas estão sendo
resolvidas.

Ou seja, de nada serve investir em formação
avançada em epidemiologia se os modelos de gestão
e os processos de decisão sanitária não estiverem
preparados para usar este recurso e o conhecimento
gerado
soluções





Não existe uma receita de bolo;
As soluções devem ser procuradas no quadro
institucional e jurídico do país;
Exemplos:
1. nível federal – AquaEpi – organismos
aquáticos
2. nível estadual – RS
Subsídios para discussão
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