TESE DESENVOLVIMENTO DE UM MÉTODO PARA O PROCESSO DE GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA AUTOR: ROBERTO BRÁULIO GUIMARÃES ORIENTADOR: Prof. Dr. Hernani Mota de Lima (UFOP) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP OURO PRETO - DEZEMBRO DE 2012 G963d Guimarães, Roberto Bráulio. Desenvolvimento de um método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina [manuscrito] / Roberto Bráulio Guimarães. - 2012. xviii, 135f.: il., color.; tabs.; mapas. Orientador: Prof. Dr. Hernani Mota de Lima. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Núcleo de Geotecnia - NUGEO. Programa de Pós-Graduação em Geotecnia. Área de concentração: Geotecnia Aplicada à Mineração. 1. Fechamento de mina - Teses. 2. Administração de risco - Teses. 3. Normas técnicas - ABNT NBR ISO 31000:2009 - Teses. 4. Gestão ambiental - Teses. 5. Análise de riscos - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título. CDU: 624.13:502.15 Catalogação: [email protected] “ Assumir riscos calculados. Isso é bem diferente de ser precipitado.” George Patton (1885 – 1945). iii DEDICATÓRIA Aos meus pais, sempre presentes, a minha filha Renata, a Jaqueline e aos meus irmãos que sempre me apoiaram nas horas mais difíceis. iv AGRADECIMENTOS A Deus, que me concedeu na vida todas as condições e oportunidades necessárias para a realização deste trabalho. Sou muito grato por tudo Senhor; Ao meu orientador, Prof. Dr. Hernani Mota de Lima, pela paciência, dedicação e estímulo dado para que eu pudesse enfrentar os desafios encontrados nessa pesquisa e, principalmente, pela confiança e por ter acreditado em meu potencial; A minha família, pelo apoio e incentivo para continuar nos estudos, em especial aos meus pais, pelo exemplo de vida e moralidade; A todos os Professores do NUGEO, em especial ao Prof. Dr. Frederico Garcia Sobreira, Coordenador do Programa de Pós-Graduação, pelo apoio e incentivo; Aos Professores Dr. Uajará Pessoa Araujo e Dr. Antônio Maria Claret de Gouveia, pelas valiosas contribuições durante a apresentação da proposta de qualificação; Ao Rafael Lacerda, secretário do NUGEO, pela amizade e apoio dispensado; Ao Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Ouro Preto, instituição da qual sou Professor, pela autorização para participação no curso de Doutorado; A Universidade Federal de Ouro Preto e ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, pela oportunidade ímpar de obtenção de conhecimento. v RESUMO A reputação de uma empresa de mineração é afetada quando uma mina é abandonada e a área por ela explorada se apresenta ambientalmente degradada, constituindo-se em um passivo por um longo período. O fechamento prematuro e/ou mal planejado de uma mina pode resultar em impactos negativos extremos sobre o meio ambiente e em impactos socioeconômicos e culturais sobre a comunidade circunvizinha à empresa de mineração. O uso de técnicas de gestão de riscos pode ajudar a reduzir esses impactos, tanto para fechamentos de mina prematuros como para fechamentos planejados. A gestão de riscos com foco no fechamento de mina tem por finalidade destacar as questões e os riscos principais, permitindo à administração e ao gestor concentrar os recursos de forma adequada e auxiliando a tomada de decisão. Para elaboração desse estudo, buscou-se desenvolver e testar um método para o processo de gestão de riscos, aplicável ao planejamento do fechamento de mina, de acordo com a ABNT NBR ISO 31000:2009 GESTÃO DE RISCOS, de forma que os riscos identificados no planejamento do fechamento de mina sejam avaliados, priorizados e tratados de forma preventiva. Para aplicação e para verificação da efetividade do método, utilizaram-se, como instrumento de investigação e de estudo de caso, os dados da Mina Carina pertencentes à empresa Polaris Metals Pty Ltda. Palavras-chave: Fechamento de mina, Gestão de riscos, ABNT NBR ISO 31000:2009. vi ABSTRACT The reputation of a mining company is affected when a mine is abandoned and the exploited area is environmentally degraded so it becomes a passive for a long period. The early and/or bad planned closing of a mine could result in some negative extreme impacts on the environment, and cultural and socioeconomics impacts on the neighbor community to the mining company. The use of risk management techniques could help to reduce these impacts on early mine closing as much as on planned closing. The risk management with a focus on the mine closure has to highlight the main risks and questions as a purpose, allowing the administration and the manager to concentrate the resources in a suitable manner and helping the decision-making. To elaborate the study a method was developed and tested to the risk management process which is possible to apply on the planning of the mine closure, according to ABNT NBR ISO 31000:2009 - GESTÃO DE RISCOS, in a way that the identified risks in the mine closure could be evaluated, prioritized and treated in a preventive way. To the application and evaluation of the effectiveness of the method the investigation and study tool used was the Mina Carina data, belonging to the company Polaris Metal Pty Ltda. Key words: Mine closure, Risk management, ABNT NBR ISO 31000:2009. vii Lista de Figuras: Figura 2.1 – Planejamento para fechamento e o ciclo de vida da mina ................................ 8 Figura 3.1 – Diagrama esquemático do processo de gerência de riscos.............................. 21 Figura 3.2 – Relacionamento entre os princípios da gestão de riscos, estrutura e processo 24 Figura 3.3 – Processo de gestão de riscos – Detalhamento ................................................. 26 Figura 3.4 – Processo de avaliação de riscos....................................................................... 29 Figura 4.1 – Plano e projeto de desenvolvimento cíclico nas diferentes fases da vida de uma mina ............................................................................................................................ 43 Figura 4.2 – Abordagem para uso da gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina ..................................................................................................................................... 45 Figura 4.3 – Exemplo dos estágios para implementação do processo de análise e gestão de riscos ambientais ................................................................................................................. 46 Figura 4.4 – Modelo de avaliação de Passivos de Sustentabilidade em Minas Fechadas ... 49 Figura 6.1 – Processo de gestão de riscos no fechamento de mina ..................................... 67 Figura 6.2 – Estratégia e contexto de fechamento de mina ................................................. 68 Figura 6.3 – Estrutura e etapas para a comunicação de riscos no contexto da gestão de riscos .................................................................................................................................... 82 Figura 7.1 – Mapa da Austrália ........................................................................................... 84 Figura 7.2 – Localização da mina Carina ............................................................................ 85 Figura 7.3 – Localização da mina Carina ............................................................................ 85 Figura 7.4 – Localização da mina Carina ............................................................................ 86 Figura 7.5 – Estrutura geral da mina Carina ........................................................................ 87 Figura 7.6 – Contorno da cava da mina Carina ................................................................... 88 Figura 7.7 – Vista aérea da área de Carina .......................................................................... 94 Figura 7.8 – Vista aérea da área de Carina .......................................................................... 94 viii Figura 7.9 – Vista da parte inferior da área de Carina......................................................... 95 ix Lista de Quadros: Quadro 2.1 – Atividades do processo de fechamento de mina associados aos estágios do projeto de mineração ............................................................................................................. 9 Quadro 2.2 – Exemplos de objetivos gerais para as atividades de fechamento de mina..... 13 Quadro 4.1 – Lista de riscos ambientais .............................................................................. 52 Quadro 4.2 – Lista de riscos à comunidade e riscos sociais ................................................ 55 Quadro 4.3 – Níveis de recuperação e uso futuro de áreas degradadas pela mineração ..... 57 Quadro 4.4 – Lista de riscos de uso final do solo ................................................................ 58 Quadro 4.5 – Lista de riscos à saúde e à segurança ............................................................. 59 Quadro 4.6 – Lista de riscos jurídicos e financeiros............................................................ 60 Quadro 4.7 – Lista de riscos técnicos .................................................................................. 61 Quadro 6.1 – Apoio ao brainstorming sobre definição de objetivos sociais de fechamento 72 Quadro 6.2 – Apoio ao brainstorming sobre definição de objetivos ambientais de fechamento........................................................................................................................... 73 Quadro 7.1 – Responsabilidades ambientais na Mina Carina ............................................. 92 Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos) ............................................................................ 99 Quadro 8.2 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina Carina ............. 105 Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina...... 108 Quadro 8.4 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da mina Carina após tratamento dos riscos ......................................................................................................... 115 x Lista de Tabelas: Tabela 3.1 – Exemplo de matriz qualitativa de riscos ........................................................ 33 Tabela 4.1 – Matriz de classificação de riscos primários .................................................... 47 Tabela 4.2 – Análise da necessidade de ação com base na classificação de riscos ............. 47 Tabela 4.3 – Matriz de riscos para avaliação de riscos no fechamento de mina. ................ 50 Tabela 6.1 – Matriz de análise de riscos para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina ................................................................................. 75 Tabela 6.2 – Categorias de probabilidade para análise de riscos de fechamento de mina .. 76 Tabela 6.3 – Categorias de consequências para análise de riscos de fechamento de mina . 77 Tabela 6.4 – Critérios de decisão para análise de riscos de fechamento de mina ............... 79 xi Lista de Siglas e Abreviaturas: ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AIA Avaliação de Impacto Ambiental APP Análise Preliminar de Perigos CMCP Plano Conceitual de Fechamento da Mina Carina Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente Copam Conselho Estadual de Política Ambiental DAM Drenagem Ácida de Mina DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral EIA Estudo de Impacto Ambiental EPA Environmental Protection Agency EUA Estados Unidos da América FMEA Failure Mode and Effects Analysis GFM Guia de Fechamento de Minas HIV Human Immunodeficiency Virus Ibram Instituto Brasileiro de Mineração ICMM Conselho Internacional de Mineração e Metais IEC International Electrotechnical Commission ISO International Organization for Standardization MBR Minerações Brasileiras Reunidas S/A MCA Análise Multicritério MME Ministério das Minas e Energias NAF Material não Formador de Ácido NBR Norma Brasileira NRM Normas Reguladoras de Mineração xii ONG Organização Não Governamental PAE Plano de Atendimento a Emergências PAF Material Potencialmente Formador de Ácido Pemp Plano de Gestão Ambiental de Carina PGR Plano de Gerenciamento de Riscos Prad Plano de Recuperação de Áreas Degradadas RA Riscos Ambientais RCS Riscos à Comunidade e Riscos Sociais RJF Riscos Jurídicos e Financeiros RSS Riscos à Saúde e à Segurança RT Riscos Técnicos RUS Riscos de Uso Final do Solo SRA Society for Risk Analysis SWOT Strengths Weaknesses Opportunities Threats Unep United Nations Environment Programme WRAC Workplace Risk and Control xiii Lista de Anexos: Anexo I – Formulário para avaliação de riscos ambientais ................................................. I-1 Anexo II – Formulário para avaliação de riscos à saúde e à segurança ............................ II-1 Anexo III – Formulário para avaliação de riscos à comunidade e riscos sociais ............ III-1 Anexo IV – Formulário para avaliação de riscos de uso final do solo ............................. IV-1 Anexo V – Formulário para avaliação de riscos jurídicos e financeiros ........................... V-1 Anexo VI – Formulário para avaliação de riscos técnicos ............................................... VI-1 Anexo VII – Formulário para gerenciamento de riscos ................................................. VII-1 Anexo VIII – Termos e definições ................................................................................ VIII-1 xiv SUMÁRIO Dedicatória............................................................................................................................ iv Agradecimentos ..................................................................................................................... v Resumo ................................................................................................................................. vi Abstract ................................................................................................................................ vii Lista de Figuras .................................................................................................................. viii Lista de Quadros .................................................................................................................... x Lista de Tabelas .................................................................................................................... xi Lista de Siglas e Abreviaturas ............................................................................................. xii Lista de Anexos .................................................................................................................. xiv SUMÁRIO ........................................................................................................................... xv CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 1 1.2 CONTEXTO DO PROBLEMA .................................................................................. 1 1.2.1 Questão de pesquisa ........................................................................................... 3 1.3 OBJETIVO DA PESQUISA ....................................................................................... 3 1.4 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 3 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................ 5 CAPÍTULO 2 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES ............................................................. 7 2.1 FASES DA MINERAÇÃO ......................................................................................... 7 2.2 RECUPERAÇÃO ...................................................................................................... 10 2.3 FECHAMENTO DE MINA ...................................................................................... 11 2.4 PLANO DE FECHAMENTO DE MINA ................................................................. 12 2.5 USO FUTURO DA ÁREA ....................................................................................... 15 xv CAPÍTULO 3 – GESTÃO DE RISCOS .......................................................................... 17 3.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 17 3.2 STAKEHOLDERS EM UMA GESTÃO DE RISCOS .............................................. 22 3.3 GESTÃO DE RISCOS SEGUNDO A NORMA ABNT NBR ISO 31000:2009 ....... 22 3.3.1 Processo de gestão de riscos ............................................................................. 25 3.3.1.1 Estabelecimento dos contextos ............................................................. 27 3.3.1.2 Processo de avaliação de riscos ............................................................ 28 3.3.1.2.1 Identificação de riscos................................................................... 33 3.3.1.2.2 Análise de riscos ........................................................................... 34 3.3.1.2.3 Avaliação de riscos ....................................................................... 36 3.3.1.3 Tratamento de riscos ............................................................................. 37 3.3.1.4 Comunicação e consulta ....................................................................... 39 3.3.1.5 Monitoramento e análise crítica............................................................ 40 CAPÍTULO 4 – GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA ........................................................................................................................... 42 4.1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 42 4.2 AVALIAÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NO FECHAMENTO DE MINA ....... 51 4.3 AVALIAÇÃO DE RISCOS SOCIOECONÔMICOS NO FECHAMENTO DE MINA ......................................................................................................................... 53 4.4 AVALIAÇÃO DE RISCOS DE USO FINAL DA ÁREA NO FECHAMENTO DE MINA ............................................................................................. 56 4.5 AVALIAÇÃO DE RISCOS À SAÚDE E À SEGURANÇA NO FECHAMENTO DE MINA ............................................................................................. 58 4.6 AVALIAÇÃO DE RISCOS JURÍDICOS E FINANCEIROS NO FECHAMENTO DE MINA ............................................................................................. 60 4.7 AVALIAÇÃO DE RISCOS TÉCNICOS NO FECHAMENTO DE MINA ............ 61 xvi CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................. 63 5.1 MATERIAIS ............................................................................................................. 63 5.1 MÉTODOS ................................................................................................................ 64 CAPÍTULO 6 – DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO PARA O PROCESSO DE GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA ..... 66 6.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 66 6.2 ESTABELECIMENTO DO CONTEXTO NA GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA...................................................... 68 6.2.1 Política de fechamento de mina ........................................................................ 69 6.2.2 Objetivos, critérios e indicadores de desempenho............................................ 69 6.2.3 Informação, coleta e análise de dados .............................................................. 70 6.3 PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE RISCOS (IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS, ANÁLISE DE RISCOS E AVALIAÇÃO DE RISCOS) ................................. 71 6.4 COMUNICAÇÃO DOS RISCOS ............................................................................. 80 6.5 MONITORAMENTO E REVISÃO DA GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA...................................................... 82 CAPÍTULO 7 – ESTUDO DE CASO: MINA CARINA - POLARIS .......................... 83 7.1 ESTABELECIMENTO DO CONTEXTO NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DA MINA CARINA ............................................................................ 83 7.1.1 O Projeto Mina Carina...................................................................................... 83 7.1.2 Plano estratégico preliminar de fechamento da Mina Carina ........................... 89 7.1.3 Política ambiental da Polaris ............................................................................ 89 7.1.4 Contexto ambiental ........................................................................................... 90 7.1.5 Fechamento da Mina Carina ............................................................................. 91 xvii CAPÍTULO 8 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE RISCOS (IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RISCOS) NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DA MINA CARINA E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................ 97 8.1 IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RISCOS................................ 97 8.2 TRATAMENTO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DA MINA CARINA ...................................................................................................... 105 8.3 COMUNICAÇÃO E CONSULTA AOS STAKEHOLDERS .................................. 117 8.4 MONITORAMENTO E ANÁLISE CRÍTICA ....................................................... 118 CAPÍTULO 9 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 120 9.1 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 120 9.2 RECOMENDAÇÕES.............................................................................................. 121 9.3 LIMITAÇÕES ......................................................................................................... 122 9.4 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS........................................................... 123 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 125 ANEXOS .......................................................................................................................... 135 xviii CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1 Considerações iniciais A mineração é reconhecida como atividade propulsora do desenvolvimento, contribuindo de forma decisiva, para o bem estar e para a melhoria da qualidade de vida da presente e das futuras gerações. Entretanto, dela decorrem impactos sociais e ambientais negativos, quando ocorrem implantação e operação de uma mina, e impactos socioeconômicos, ambientais e culturais, quando de seu fechamento. Por outro lado, esses impactos podem e devem ser minimizados, se a atividade for planejada e executada dentro do conceito de desenvolvimento sustentável. De acordo com Villas Bôas e Barreto (2000), o principal desafio para a indústria de mineração não é somente a recuperação de áreas degradadas, prática já adotada há algumas décadas. Em essência, o fechamento de mina é amplamente considerado pela indústria, e até recentemente por muitos governos como uma questão predominantemente ambiental (ONTARIO, 1995; SASSOON, 1996; SASSOON, 2000). Os autores defendem a incorporação das questões socioeconômicas e culturais nos programas de fechamento de mina, bem como o tratamento da questão ambiental no âmbito do desenvolvimento sustentável. Desta forma, o programa de fechamento de mina deve iniciar-se durante a fase de viabilidade do projeto de mineração e continuar através das fases de produção e renúncia do título minerário. Deve explicitar os objetivos e guias, estabelecer uma provisão financeira e um efetivo programa de consulta e engajamento das partes interessadas ou afetadas pelo empreendimento. 1.2 Contexto do problema O futuro da indústria da mineração depende do legado que ela deixa. Sua reputação é afetada quando uma mina é abandonada e a área ambientalmente degradada se constitui em um passivo por um longo período (WARHURST et al., 1999). A indústria da mineração 1 precisa reconhecer que para ter acesso a novos recursos minerais, é necessário demonstrar que pode, efetivamente, fechar suas minas com o apoio das comunidades onde operam. O entusiasmo e a ostentação que circundam a abertura de uma nova mina, geralmente, não estão presentes quando ocorre seu fechamento. De forma geral, em um cenário de normalidade, as minas deveriam fechar quando suas reservas estão esgotadas. Neste caso, muitos aspectos envolvidos no fechamento de mina seriam mais fáceis de gerenciar e haveria tempo disponível para o planejamento, para o monitoramento e para ensaios. Além disso, os fundos estariam seguros externamente para cobrir os custos de implementação do plano de fechamento. Os objetivos predeterminados poderiam ser alcançados ou evoluiriam satisfatoriamente. As partes interessadas estariam condicionadas a aceitar o fechamento de mina em uma data prevista. Funcionários por exemplo poderiam planejar e encontrar um novo emprego alternativo. A comunidade circunvizinha diretamente afetada pelas operações mineiras poderia se preparar e garantir benefícios sustentáveis. Existem muitas razões pelas quais as minas podem fechar prematuramente. Entre elas, incluem-se, segundo Laurence (2006a), questões econômicas, geológicas, geotécnicas, regulamentares, pressões comunitárias e outras, que podem criar problemas significativos para uma empresa de mineração, para a comunidade envolvida e para o órgão regulador. Laurence (2006a) mostra que quase 70% das minas que foram fechadas nos últimos 25 anos na Austrália tiveram fechamento inesperado e não planejado. O plano conceitual de fechamento de mina deve conter informações contextuais que auxiliem na implementação de um sistema de gestão de riscos. Tais informações podem ser derivadas da avaliação de impactos ambientais e impactos socioeconômicos, assim como impactos na saúde e na segurança e também as questões legais, bem como os acordos firmados com investidores e governos nas suas diversas esferas (local, estadual e federal). A gestão de riscos é uma ferramenta com múltiplas aplicações e pode ser usada com diversos enfoques. Do estudo de viabilidade ao fechamento de uma mina, o processo de gestão de riscos possibilita a identificação de perigos e de situações críticas que possam acarretar acidentes ou outras perdas para a empresa, para a comunidade e para o ambiente. Embora os riscos ambientais representem um dos mais importantes problemas a serem 2 resolvidos, outras questões, como segurança, relações com a comunidade local, legais, fiscais e fatores tecnológicos, também precisam ser levadas em consideração. A gestão de riscos com foco no fechamento de mina deve identificar as possíveis questões que podem levar a empresa a riscos indesejáveis quando ocorre o seu fechamento. Essas questões devem ser destacadas como fatores de riscos, requerendo controle e monitoramento constante em todas as versões de um plano de fechamento de mina, bem como estratégias e métodos para controlar cada risco identificado. 1.2.1 Questão de pesquisa O fechamento prematuro e/ou mal planejado de uma mina pode resultar em impactos negativos extremos sobre o meio ambiente, e em impactos socioeconômicos e culturais sobre a comunidade circunvizinha. Para se evitarem tais impactos é necessário um efetivo planejamento de fechamento de mina. O uso de técnicas de gestão de riscos pode ajudar a reduzir esses impactos, tanto para fechamentos prematuros de mina como para fechamentos planejados. 1.3 Objetivo da pesquisa Esta tese teve por finalidade estudar, desenvolver e testar um método para o processo de gestão de riscos aplicável ao planejamento do fechamento de mina, de acordo com a ABNT NBR ISO 31000:2009 - GESTÃO DE RISCOS, de forma que os riscos identificados no planejamento do fechamento de mina sejam avaliados, priorizados e tratados de forma preventiva. 1.4 Justificativa De acordo com ICMM (2008), todo plano de fechamento de mina deve conter informações atualizadas dos riscos e das oportunidades presentes no projeto, servindo como uma ferramenta auxiliar na tomada de decisões. O gerenciamento e a análise dos riscos/oportunidades devem ser usados para: Minimizar as consequências negativas de fechamento. Maximizar os benefícios positivos de fechamento. 3 Minimizar a probabilidade de insucesso nas atividades de fechamento. Maximizar a probabilidade de que as benfeitorias sejam de longo prazo. O programa da Organização das Nações Unidas para o meio ambiente recomenda que as empresas desenvolvam programas para aumentar a conscientização dos stakeholders sobre os riscos e a preparação das comunidades vizinhas para o caso de acidentes. A mineração está inserida no rol de atividades no qual são recomendadas ações de controle e mitigação de riscos, inclusive no período posterior ao fechamento das minas (UNEP, 2001). Em 2003, o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM, sigla em inglês) adotou um conjunto de dez princípios, no sentido de ratificar o compromisso da indústria mineral com o desenvolvimento sustentável dentro de um quadro estratégico. Entre esses princípios, destaca-se o quarto que trata da implementação de estratégias de gestão de riscos, que deveria ser estruturada em uma base sólida de dados. Nesses dados, incluem-se o processo de consulta das partes interessadas para a identificação e a avaliação dos riscos significativos sociais, de segurança, de saúde, impactos econômicos e ambientais associados às suas atividades; deveriam ainda ser asseguradas a revisão periódica e a atualização dos sistemas de gestão de riscos; a implementação de um programa de informação às partes potencialmente afetadas sobre os riscos significativos em relação às operações de uma mina e quais as medidas que serão tomadas para gerenciar os riscos potenciais de forma eficaz (ICMM, 2003). Entretanto, de acordo com Sanches (2007), os estudos de análise de riscos exigidos no Brasil, para fins de licenciamento ambiental, raramente são aplicados para a mineração. O mesmo pode-se afirmar para o caso de fechamento de mina. O fechamento é uma etapa complexa do ciclo de vida de uma mina. Isso se deve em função da quantidade de componentes envolvidos, com destaque para as questões ambientais, socioeconômicas e culturais. A gestão de riscos no fechamento de mina é uma técnica que permite a decisão mais adequada, pois reduz a possibilidade de que fatores críticos no processo de decisão não sejam negligenciados e de que os riscos mais significativos tenham um peso maior no planejamento do fechamento de uma mina. 4 1.5 Estrutura do trabalho Esta tese está organizada em nove capítulos. O Capítulo 1 apresenta as considerações sobre como a indústria mineira enfrenta a fase de fechamento de mina e suas relações com o conceito de desenvolvimento sustentável. Neste capítulo, são apresentados, também, a questão de pesquisa, o objetivo da pesquisa, a justificativa e a estrutura da tese. O Capítulo 2 apresenta algumas definições e conceitos sobre as atividades da mineração, bem como as suas etapas, principalmente em relação à fase de fechamento de mina. O Capítulo 3 apresenta uma revisão bibliográfica sobre gestão de riscos e como essa questão é tratada na NORMA ABNT NBR ISO 31000:2009, GESTÃO DE RISCOS. O Capítulo 4 apresenta uma revisão bibliográfica de como a gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina é tratada por diversos autores e como a referida gestão é utilizada pela indústria da mineração nacional e internacional. O Capítulo 5 apresenta os materiais e os métodos utilizados na realização da tese. O Capítulo 6 desenvolve a proposta de um método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina, seguindo as orientações da NORMA ABNT NBR ISO 31000:2009. O Capítulo 7 apresenta a contextualização da Mina Carina, pertencente à empresa Polaris Metals Pty Ltda, como um estudo de caso para aplicação do método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. O Capítulo 8 apresenta o processo de avaliação de riscos (identificação, análise e avaliação de riscos) da Mina Carina, além de completar o processo de gerenciamento de riscos com indicações de propostas de tratamento dos riscos identificados e uma análise final dos resultados do processo de gestão. 5 O Capítulo 9 apresenta as conclusões, as recomendações e as limitações do método. Nesse capítulo são apresentadas, também, recomendações para pesquisas futuras. 6 CAPÍTULO 2 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES 2.1 Fases da mineração De acordo com Hartman e Mutmansky (2002), a mineração apresenta as seguintes etapas de desenvolvimento de sua atividade: a) Etapa de planejamento – composta pela prospecção (tem como objetivo a localização de recursos minerais economicamente viáveis) e pela exploração ou pesquisa mineral (tem como objetivo a caracterização e a avaliação de ocorrências minerais encontradas na fase de prospecção). b) Etapa de implantação – caracterizada pelo desenvolvimento, que engloba as operações de preparação da jazida para a lavra. c) Etapa de operação – caracterizada pela lavra (engloba as operações necessárias para o aproveitamento industrial da jazida – extração do bem mineral), pelo beneficiamento do minério lavrado, pela reabilitação ambiental (tem como objetivo controlar os impactos ambientais produzidos pelas atividades extrativas e visa a facilitar o processo de fechamento da empresa). d) Etapa de fechamento – caracteriza-se por ser uma etapa na qual não mais ocorre a extração do minério devido à exaustão das reservas ou à inviabilidade técnico-econômica. Há, apenas, a continuidade dos trabalhos de recuperação ambiental sobre o meio físico, biótico e antrópico das áreas de influência do empreendimento, visando a promover a desativação em caso de exaustão definitiva ou o controle dos aspectos ambientais no caso de paralisação temporária. A desativação é a transição entre o fechamento e o uso futuro da área. Esse uso é caracterizado como pós-fechamento, não sendo mais considerado como atividade minerária. Os impactos criados pela implantação e pela operação de uma unidade mineira são iniciados já na fase de exploração e podem se prolongar até depois do fechamento. Neste sentido, o planejamento para o fechamento é a princípio conceitual e progressivamente se torna mais detalhado (figura 2.1). Em seu estágio conceitual um plano de fechamento de mina pode apresentar objetivos, ao passo que um plano detalhado incluirá marcos e métodos detalhados para a sua realização, para seus processos de monitoramento e para sua 7 validação. O planejamento para o fechamento de mina deve ser integrado aos sistemas e aos processos de tomada de decisões (ICMM, 2008). Figura 2.1 – Planejamento para fechamento e o ciclo de vida da mina. Fonte: ICMM (2008). Considerando que alguns projetos podem ser inviabilizados na fase de exploração, é recomendável que os planos de fechamento das atividades compreendam todas as fases do 8 ciclo de vida do empreendimento (quadro 2.1). Deste modo, segundo Vale – GFM (2011), um ciclo de vida para os planos de fechamento teria a seguinte sequência: Plano de fechamento da fase de exploração. Plano conceitual de fechamento (estudos ambientais). Atualização e detalhamento do plano de fechamento. Plano final de fechamento. Relatórios de pós-fechamento. 3 Etapa de implantação (Desenvolvimento) 2 Etapa de Operação (lavra) 1 Etapa de planejamento (exploração) Ciclo de vida da Mina Etapa de Fechamento 4 Atividades de Mineração Atividades Relacionadas ao Fechamento Abrange investigação geofísica e geoquímica, mapeamento geológico e amostragem a partir da superfície. Exploração avançada inclui trincheiras e poços de pesquisa, aberturas subterrâneas, sondagens e amostragem intensiva. Engloba todas as atividades de exploração, bem como o desenvolvimento dos estudos de pré-viabilidade. Planos de fechamento são requeridos para atividades de exploração avançada. Essa fase abrange desde os estudos de viabilidade para os aspectos econômicos, ambientais e sociais, até a construção e o comissionamento dos diversos componentes do projeto de mineração (startup da unidade operacional). A elaboração do plano de fechamento conceitual é requerida como parte dos estudos de viabilidade. O plano conceitual abrange as atividades e os programas de reabilitação dos danos causados pela implantação. Durante esse período, o minério é lavrado e processado Atualizações periódicas do plano de fechamento são feitas ao longo da vida operacional da mina de modo a atender eventuais mudanças de projetos, nas características do minério, na legislação e na política da empresa em função de fusões ou aquisições. Com a proximidade do encerramento das atividades de lavra, um plano de fechamento detalhado, com projeto executivo, deve ser elaborado. Essa etapa inclui a desativação e a reabilitação. Essas atividades devem ser conduzidas para as diversas estruturas e infraestrutura da mina. Intervenções sociais devem ser feitas para mitigar o impacto do fechamento sobre a população afetada. Essa etapa é composta também pelo pósfechamento, fase que sucede ao fechamento da mina e na qual, via de regra, realizam-se atividades de monitoramento e manutenção das estruturas desativadas. Execução das atividades descritas no plano de fechamento. Execução de atividades de pós-fechamento, dependendo das condições de fechamento (sem restrições, com cuidado passivo e com cuidado ativo). Incluem-se as etapas de monitoramento e de manutenção. Avaliação das condições da mina fechada (aspectos ambiental, social e jurídico), visando à identificação de vulnerabilidades e de passivos eventualmente remanescentes após o fechamento. Quadro 2.1 – Atividades do processo de fechamento de mina associadas aos estágios do projeto de mineração. Fonte: VALE – GFM (2011). 9 2.2 Recuperação O Decreto Federal nº 97.632 de 10 de abril de 1989, que estabelece no seu artigo 3°, a necessidade de preparação de um Plano de recuperação de áreas degradadas (Prad) para todas as atividades de extração mineral, define que: “A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano préestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente”. Recuperação ambiental é um termo geral que designa a aplicação de técnicas de manejo visando a tornar um ambiente degradado apto para um novo uso produtivo, desde que sustentável. A reabilitação ambiental, também denominada de recuperação, deve ser praticada sempre em seguida às operações de desenvolvimento e lavra, ou seja, ela deve estar presente durante todo o desenvolvimento da atividade mineral, num determinado local. As ações de recuperação ambiental visam a habilitar a área para que esse novo uso possa ter lugar. A nova forma de uso deverá ser adaptada ao ambiente reabilitado, que pode ter características bastante diferentes daquelas anteriores às ações de degradação, por exemplo, um ambiente aquático em lugar de um ambiente terrestre, prática relativamente comum em mineração (SANCHES, 2008). O emprego dos termos recuperação/reabilitação/restauração ambiental é definido em função do que se pretende restabelecer no local após o fechamento da mineração. Os termos recuperação e reabilitação são os mais empregados e os que melhor definem as práticas atualmente empregadas. De acordo com Sanches (2000), restauração é a recriação das condições originais do sítio anteriores à intervenção causadora da degradação, incluindo aí a reconstituição da topografia original. Não obstante, a recuperação ou reabilitação incluem diferentes níveis de melhoria das condições ambientais pós-atividade degradadora, tais como capacitar a área para um uso produtivo qualquer, incluindo a criação de um ecossistema inteiramente diferente do original. O autor estabelece que recuperação é o termo usado para designar o processo genérico de melhoria das condições ambientais de uma área e que reabilitação indica o processo de planejamento para tornar a área degradada apta a um novo uso. Tendo 10 em vista as práticas empregadas pelo setor mineral, Taveira (2003) sugere que o termo recuperação ambiental é o que melhor traduz aquilo que se tem feito em áreas degradadas. Remediação é o termo utilizado para designar a recuperação ambiental de um tipo particular de área degradada, ou seja, a área contaminada. Remediação é definida como “aplicação de técnica ou conjunto de técnicas em uma área contaminada, visando à remoção ou contenção dos contaminantes presentes, de modo a assegurar uma utilização para a área, dentro de limites aceitáveis de riscos aos bens a proteger” (CETESB, 2001). A inexistência de ações de recuperação ambiental configura o abandono da área. Caso o grau de perturbação e de resiliência do ambiente afetado não for alto, pode ocorrer um processo espontâneo de regeneração. As atividades de reabilitação progressiva de áreas desativadas constituem etapas iniciais de um processo de fechamento de mina. Entretanto é comum considerar que o fechamento de mina propriamente dito inicia-se com a desativação das instalações antes necessárias ao pleno funcionamento da mina. 2.3 Fechamento de mina De acordo com Oliveira Júnior (2001), o fechamento de uma mina é a paralisação da atividade mineira em decorrência de fatores econômicos, tecnológicos ou ambientais, de caráter parcial ou total, permanente ou temporário. Ainda, de acordo com o autor o fechamento de mina tem como finalidade principal a redução ou eliminação do passivo ambiental por meio de ações de recuperação, desenvolvidas ao longo da vida da mina e após a sua paralisação. Segundo Lima (2002), o fechamento de mina caracteriza o encerramento permanente das operações da mina ou das instalações de beneficiamento pela empresa de mineração, após a conclusão do processo de desativação e reabilitação, do monitoramento e da manutenção. De acordo com Copam (2008), fechamento de mina é o processo que abrange toda a vida da mina, desde a fase dos estudos de viabilidade econômica até o encerramento da atividade minerária, incluindo a desativação, a reabilitação e o uso futuro da área 11 impactada. O fechamento de mina deve ser planejado desde a concepção do empreendimento, tendo como objetivos primordiais: Garantir que, após o fechamento da mina, os impactos ambientais, socioeconômicos e culturais sejam reduzidos. Manter a área, após o fechamento da mina, em condições seguras e estáveis, com a aplicação das melhores técnicas de controle e de monitoramento. Proporcionar à área impactada pela atividade minerária um uso futuro que respeite os aspectos socioambientais e econômicos da área de influência do empreendimento. 2.4 Plano de fechamento de mina O objetivo de um plano de fechamento de mina deve ser o de reabilitar a área afetada pela mineração, de tal forma que ela possa ser novamente disponibilizada, em bom estado, à sociedade e à comunidade circunvizinha. O quadro 2.2 mostra os objetivos gerais de um plano de fechamento de mina. Alguns dos padrões de desempenho de um plano de fechamento de mina incluem: reabilitação do contorno da área degradada; estabilização das áreas superficiais para controle da poluição do ar e da água; regularização do balanço hidrológico na qualidade e quantidade da água superficial e nos sistemas subterrâneos; proteção das áreas circunvizinhas de deslizamentos ou danos. Além disso, segundo IIED (2002), o plano de fechamento de mina deve ser parte do projeto integral de ciclo da vida útil da mina e deve prever métodos e medidas que visem a assegurar que: A segurança e saúde pública não sejam comprometidas em curto, médio e longo prazo. Os recursos ambientais não estejam submetidos à deterioração física e química. A área, ao final da mineração, tenha uso benéfico e sustentável por longo período de tempo. Impactos socioeconômicos e culturais adversos sejam minimizados. Todos os benefícios socioeconômicos sejam maximizados. 12 Critérios Estabilidade física Objetivos do Fechamento • Todas as estruturas antropogênicas remanescentes são fisicamente estáveis, sustentáveis e seguras com relação à erosão, e não impõe riscos para a saúde pública por longo período. • As estruturas estão desempenhando as funções para as quais foram projetadas. Estabilidade química • Todas as estruturas antropogênicas remanescentes são quimicamente estáveis e não impõem riscos para a saúde pública ou ambiental em todas as fases do seu ciclo de vida. • O fechamento é adequado às exigências específicas do local em termos da qualidade das águas superficiais, das águas subterrâneas e dos solos. Estabilidade biológica • O ambiente biológico a) é restaurado em um ecossistema equilibrado e natural, típico da região, ou b) é deixado em um estado tal que incentiva e possibilita a reabilitação natural da diversidade biológica, ambientalmente estável. Influências climáticas • O fechamento é adequado à demanda e especificações locais da região em e geográficas termos de clima (por exemplo, chuvas, tempestades, extremos sazonais) e fatores geográficos (por exemplo, proximidade da comunidade, topografia, acessibilidade da mina) Estética e uso do solo • A reabilitação é tal que o uso final do solo é otimizado. • As oportunidades de fechamento são otimizadas em termos de recuperação do solo e as atualizações do uso do solo são consideradas sempre adequadas e/ou economicamente viáveis. • O fechamento permite o uso produtivo e econômico do solo pós-lavra, seguindo os princípios do desenvolvimento sustentável. Recursos Naturais • O fechamento visa a garantir a quantidade e a qualidade dos recursos naturais da região. Considerações • Os fundos disponíveis são adequados e apropriados para garantir o financeiras fechamento. Questões • Os impactos negativos socioeconômicos são minimizados. socioeconômicas • Os desejos da comunidade local são levados em consideração na medida do possível. Quadro 2.2 – Exemplos de objetivos gerais para as atividades de fechamento de mina. Fonte: (BRODIE et al., 1992; MMSD, 2002a; EC, 2004; ROBERTSON; SHAW, 2004) Planos de fechamento, especialmente aqueles elaborados na fase de licenciamento de um projeto de mineração, devem ser revistos periodicamente, de modo a atender a evolução e as modificações de um projeto. Esses planos devem ser suficientemente flexíveis para levar em conta as mudanças nas características do minério, as novas tecnologias e as alterações nos padrões estabelecidos pela legislação ambiental (BITAR, 1997). O Brasil possui uma legislação específica quanto ao fechamento de mina (NRM 20 – Plano de Fechamento de Mina), que está inserida entre as normas estabelecidas pelo DNPM (Portaria nº 237 de 18/10/2001, alterada pela Portaria nº12 de 22/01/2002 – Normas Reguladoras de Mineração – NRM do DNPM – MME). A portaria Brasil (2001) “estabelece procedimentos administrativos e operacionais em caso de fechamento de mina (cessação definitiva das operações mineiras), suspensão (cessação temporária) e retomada 13 de operações mineiras, estabelecendo, inclusive que tais hipóteses dependem de prévia comunicação e autorização ao DNPM, devendo o titular da concessão de lavra (minerador) apresentar requerimento justificativo, devidamente acompanhado dos diversos documentos que formam o plano de fechamento ou de suspensão da mina”. De acordo com Brasil (2001), o Plano de Fechamento de Mina deve estar contemplado no Plano de Aproveitamento Econômico da Jazida – PAE, sendo que o DNPM poderá exigir sua apresentação, na hipótese de a mina não possuir o plano de fechamento. Esse deverá ser atualizado periodicamente e deverá estar disponível na mina para fiscalização. O plano de fechamento exigido pelo DNPM prevê que as etapas de desativação e de fechamento de mina devem ser consideradas desde o início do projeto de implantação, permitindo uma constante atualização e flexibilidade, desde que não se modifique a solução previamente aprovada pelo órgão ambiental competente para a recuperação da área degradada pela mineração, fato previsto no EIA/RIMA. De acordo com ICMM (2008), existem três etapas básicas para se desenvolver um plano de fechamento de mina efetivo. Se o planejamento para o fechamento fizer parte da filosofia de operação de uma mina, as etapas podem combinar umas com as outras, ao longo do tempo, em vez de se tornarem estágios distintos. A primeira etapa é a concepção de um resultado alvo de fechamento e objetivos, onde tais objetivos são explicados em um plano de fechamento conceitual. Esse plano é desenvolvido e usado durante a exploração, a préviabilidade, a viabilidade/projeto e a implantação, visando-se a guiar a direção das atividades. A sua vida útil pode ser de três a cinco anos. A segunda etapa envolve o desenvolvimento e a implantação de um plano de fechamento detalhado, que aumenta o entendimento e detalha os objetivos e marcos específicos, assim como as ações e os resultados a serem alcançados. Esse plano é utilizado continuamente durante as operações e sua vida útil pode variar de cinco a trinta anos, ou mais, sendo atualizado durante esse tempo. Há possibilidade de mudança das expectativas da comunidade e dos outros interessados diretos durante esse tempo. Também existe a possibilidade de o plano da mina mudar, afetando as operações e a vida da instalação. Se forem bem definidos no início, os objetivos específicos podem não mudar muito durante a 14 vida da operação, mas é provável que o plano de fechamento detalhado evolua de acordo com as variações das circunstâncias. Cabe salientar que o plano de fechamento detalhado é, efetivamente, um plano de fechamento conceitual amplamente detalhado com as informações operacionais servindo para atualizá-lo de modo contínuo. Alguns elementos do plano de fechamento precisarão progredir mais rapidamente do que outros, de maneira a se reduzirem efetivamente os riscos. A última etapa é a transição efetiva para o fechamento, que pode se manifestar como um plano de desativação e pós-fechamento. Sua vida útil pode ser curta, com um ou dois anos. Porém, dependendo das responsabilidades do pós-fechamento, pode-se estender vários anos além desse tempo. O sucesso de um fechamento de mina depende da definição, da revisão e da validação contínua do plano de fechamento e, finalmente, da conquista dos objetivos alinhados com os requisitos da empresa e dos interessados diretos. Recomenda-se que o risco residual para a empresa seja mínimo e que a comunidade perceba os benefícios os quais continuarão a existir, mesmo sem novas contribuições da empresa (ICMM, 2008). 2.5 Uso futuro da área No planejamento do fechamento de mina, insere-se a necessidade de definição do uso futuro da área afetada pelo empreendimento. Nesse tipo de definição deverão ser apresentadas propostas de estratégias de usos “viáveis” sob os pontos de vista de engenharia, econômico, ambiental e social, considerados a vocação natural da terra, o aproveitamento sustentável dos recursos, a proteção da qualidade do meio ambiente e as tendências socioeconômicas locais e regionais (BITAR; ORTEGA, 1998). Do fechamento de uma mina, decorre o processo de mudança de uso da área. Assim é fundamental que sejam observadas as imposições legais que derivam desse fato. Em relação ao fechamento da mina propriamente dita, há a necessidade do licenciamento de sua nova forma de uso e esse licenciamento é de responsabilidade do minerador, o qual terá a obrigação de executar o plano de recuperação da área degradada, sendo que esse plano deverá ser aprovado pelo órgão ambiental competente (SOUZA, 2005). Portanto, o minerador tem a obrigação de implantar o plano de recuperação da área degradada pela 15 atividade de mineração, e esta deverá ser aprovada pelo órgão ambiental competente que contemple o uso futuro da área de influência da mina após o seu fechamento. A discussão das alternativas de uso futuro pressupõe a compreensão das características e do arranjo sistêmico dos atributos ambientais que compõem a área. Devem ser diagnosticadas as partes integrantes desse sistema por intermédio de procedimentos analíticos, que possibilitem reconhecer e identificar as conexões existentes entre os diversos elementos do conjunto. Na caracterização do território em que se insere a unidade, as potencialidades e as limitações naturais devem ser conectadas às contingências e às potencialidades sociais e econômicas. Na seleção da(s) alternativa(s) de uso futuro, os interesses concorrentes devem ser compatibilizados, na medida do possível, minimizando eventuais conflitos (VALE – GFM , 2011). Vale enfatizar, portanto, que as alternativas de uso futuro deverão ser avaliadas tendo em vista as vulnerabilidades ambientais e as relações socioeconômicas da comunidade, das políticas setoriais, dos planos e programas governamentais (federal, estadual e municipal) em desenvolvimento e/ou em implantação. Na construção das alternativas de uso futuro, também deverão ser considerados os requisitos legais aplicáveis à área objeto do fechamento, que possam se caracterizar como impeditivo ou restrição, assim como o envolvimento das partes interessadas (VALE – GFM , 2011). 16 CAPÍTULO 3 – GESTÃO DE RISCOS 3.1 Introdução Não existe uma definição universalmente reconhecida para a palavra risco. Assim, os significados associados a essa palavra diferem, tanto semântica quanto sintaticamente, em função de suas origens. Segundo Wharton (1992), a palavra risq, em árabe, significa algo que lhe foi dado (por DEUS) e do qual você tirará proveito, possuindo um significado de algo inesperado e favorável ao indivíduo. Em latim, riscum conota algo também inesperado, mas desfavorável ao indivíduo. Em grego, uma derivação do árabe risq, o termo significa a probabilidade de um resultado sem imposições positivas ou negativas. O francês risque tem significado negativo, mas, ocasionalmente, possui conotações positivas, enquanto que, em inglês, risk possui associações negativas bem definidas. Conforme Bastias (1977), “risco é uma ou mais condições de uma variável que possuem o potencial suficiente para degradar um sistema, seja interrompendo e/ou ocasionando o desvio das metas, em termos de produto, de maneira total ou parcial, e/ou aumentando os esforços programados em termos de pessoal, equipamentos, instalações, materiais, recursos financeiros, etc.” Desta forma, os riscos assinalam a probabilidade de perdas dentro de um determinado período específico de atividade de um sistema, e podem ser expressos como a probabilidade de ocorrência de acidentes e/ou danos às pessoas, ao patrimônio ou de prejuízos financeiros. Bastias (1977) também salienta que todos os elementos de um sistema apresentam um potencial de riscos que podem resultar na destruição do próprio sistema. De Cicco e Fantazzini (1994) atribuem dois significados à palavra risco. O primeiro, influenciado por Bastias (1977), associa o risco a “uma ou mais condições de uma variável com o potencial necessário para causar danos, que podem ser entendidos como lesões as pessoas, danos a equipamentos e instalações, danos ao meio ambiente, perda de material em processo ou redução da capacidade de produção”. Desta forma, a um risco sempre estará associada uma possibilidade de ocorrência de efeitos diversos. No segundo 17 significado atribuído à palavra, risco “expressa uma probabilidade de possíveis danos dentro de um período específico de tempo ou número de ciclos operacionais” e pode ser relacionado à probabilidade de ocorrência de um acidente “multiplicado” pelo dano decorrente desse acidente, em unidades operacionais, monetárias ou humanas. Jackson e Carter (1992) concordam com o fato de que o conceito de risco esteja associado com a falha de um sistema, constituindo-se na possibilidade de um sistema falhar em termos de probabilidades. No entanto, esses autores preferem trabalhar com a possibilidade de falha de um sistema, ao invés da probabilidade, alegando que a visão probabilística somente se preocupa com a ocorrência de um evento dentro de uma população, enquanto que, ao se analisar a possibilidade da falha, a preocupação é com um evento particular. Em uma análise de riscos, os conceitos de perigo e risco são diferentes. Perigo é definido como uma situação ou condição que tem potencial de acarretar consequências indesejáveis. Trata-se de uma característica intrínseca a uma substância (natural ou sintética), a uma instalação ou a um artefato. Risco, ainda, é conceituado como a contextualização de uma situação de perigo, ou seja, constituiria na possibilidade da materialização de perigo ou de um evento indesejado ocorrer. Uma substância perigosa não identificada e armazenada em recipientes mal vedados representa um risco maior do que uma situação em que há identificação clara da substância, quando as pessoas que a manuseiam conhecem sua periculosidade e há procedimentos de segurança para o manuseio. Assim, como definido pela SRA (2011), risco é o potencial de realização de consequências adversas indesejadas para a saúde ou para a vida humana, para o ambiente ou para bens materiais. Simbolicamente, risco (R) pode ser representado como sendo o produto da probabilidade (P) de ocorrência de um determinado evento vezes a magnitude das consequências (C), ou seja, R = P x C. Portanto, a palavra risco pode significar desde um resultado inesperado de uma ação ou decisão, seja positivo ou negativo, até, sob um ponto de vista mais científico, um resultado não desejado e a probabilidade de ocorrência do mesmo. Nesta tese, risco é abordado de acordo com a ABNT NBR ISO 31000:2009, ou seja, “efeito da incerteza nos objetivos”. 18 As atividades humanas, principalmente as industriais, são sistemas potenciais de geração de acidentes e que podem causar danos ao meio ambiente, à saúde e à segurança pública. Logo, esses sistemas devem ser submetidos a uma criteriosa análise de riscos, na qual as possibilidades de acidentes sejam avaliadas em relação à sua probabilidade de ocorrência e à magnitude dos danos que podem causar (FELICIANO, 2008). Do ponto de vista legal, a Resolução Conama Nº 1, de 23/01/1986, que institui a necessidade de realização da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) para fins de licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, incorporou os estudos de análise de riscos nesse processo, para determinados tipos de empreendimentos, de forma a considerar, além dos aspectos relacionados com a poluição crônica, também a prevenção de acidentes maiores. A gestão de riscos consiste na formulação de diferentes medidas preventivas, para se evitar a ocorrência de acidentes ou para se reduzirem suas consequências. Inclui-se, também, em um plano de gerenciamento de riscos (PGR), a descrição das medidas a serem tomadas em caso de ocorrência de acidentes, também conhecidas como Plano de Atendimento a Emergências (PAE). O PGR deve descrever todos os procedimentos propostos e os recursos necessários, concentrando-se nos aspectos críticos identificados anteriormente e dando prioridade aos cenários acidentais mais importantes (CETESB, 2003). Sell (1995) afirma que o gerenciamento de riscos consiste no levantamento, na avaliação e no domínio sistemático dos riscos da empresa, sendo que tal gerenciamento está fundamentado em princípios econômicos. Também salienta que o domínio dos riscos é tarefa essencial da direção da empresa, sendo que o objetivo primário do gerenciamento de riscos é o de garantir a realização das metas almejadas pela empresa, minimizando a possibilidade de ocorrência de eventos perturbadores que prejudiquem o funcionamento normal da mesma. Segundo De Cicco e Fantazzini (1994), “...gerência de riscos é a ciência, a arte e a função que visa a proteção dos recursos humanos, materiais e financeiros de uma empresa, quer através da eliminação ou redução de seus riscos, quer através do financiamento dos riscos remanescentes, conforme seja economicamente mais viável”. Portanto o gerenciamento de 19 riscos busca a diminuição de erros e falhas e o estabelecimento de planos de ação de emergência para a mitigação de acidentes, não se restringindo apenas à administração dos gastos com seguros, como muitas vezes é entendido. Um estudo de riscos, além de buscar identificar os perigos e estimar o risco (ou seja, estimar, valores para as probabilidades de ocorrência de um evento e a magnitude das consequências), deve propor medidas de gerenciamento. Essas se dividem em medidas preventivas (visando a reduzir as probabilidades de ocorrência e, por conseguinte, reduzir os riscos) e ações de emergência (medidas a serem tomadas, no caso de ocorrência de acidentes). Souza (1995) propõe um diagrama esquemático do processo de gestão de riscos (figura 3.1). A gestão de riscos deve sempre envolver as seguintes etapas (EPA, 2000): 1. Identificação de riscos – determinação de fontes de riscos e de eventos que possam ter um impacto na consecução dos objetivos. 2. Análise de riscos – atividade voltada para o desenvolvimento da estimativa qualitativa ou quantitativa do risco, baseando-se na engenharia de avaliação e nas técnicas estruturadas para promover a combinação das frequências e das consequências de um acidente. 3. Avaliação de riscos – processo que utiliza os resultados da análise de riscos para a tomada de decisão quanto ao gerenciamento de riscos através da comparação com critérios de tolerância de riscos previamente estabelecidos. 4. Tratamento de riscos – formulação e implantação de medidas e de procedimentos técnicos e administrativos, que têm por finalidade prevenir, controlar ou reduzir os riscos existentes numa instalação industrial. Têm, também, como objetivo, manter essa instalação operando dentro de requisitos de segurança considerados toleráveis. 20 Identificaçã o dos riscos IDENTIFICAÇÃO Análise dos riscos ANÁLISE Avaliação dos riscos Prevenção e controle Redução dos riscos Eliminação dos riscos AVALIAÇÃO Financiamen to Retenção Transferênci a Autosseguro Através de seguro Autoadoção Sem seguro TRATAMENTO Gestão de riscos Financiamento de riscos Figura 3.1: Diagrama esquemático do processo de gerência de riscos. Fonte: Souza, (1995). A análise de riscos consiste no exame sistemático de uma instalação industrial (projeto existente), de sorte a identificar os riscos presentes no sistema e formar opinião sobre ocorrências potencialmente perigosas e suas possíveis consequências. Seu principal objetivo é promover métodos capazes de fornecer elementos concretos que fundamentem um processo decisório de redução de riscos e de perdas para uma determinada instalação industrial, seja essa decisão de caráter interno ou externo à empresa (SOUZA, 1995). 21 3.2 Stakeholders em uma gestão de riscos Stakeholders ou partes interessadas são pessoas e organizações que podem afetar, serem ou se considerarem afetadas pela empresa ou pelo processo de gestão de riscos. É importante identificar as partes interessadas e compreender que a organização não escolhe as partes interessadas que quiser. Se algum grupo não for considerado inicialmente é provável que ele apareça posteriormente e que se perderão os benefícios da consulta anterior (ABNT NBR ISO 31000:2009). A análise das partes interessadas fornece aos tomadores de decisões um perfil documentado dessas partes, a fim de melhor se compreender suas necessidades e interesses. Tal análise tem um papel importante na demonstração da integridade do processo e na garantia de que os objetivos do processo de avaliação de riscos abranjam as expectativas legítimas de todas as partes interessadas. As partes interessadas devem ser devidamente incluídas em cada etapa ou ciclo do processo de gestão de riscos através do processo de comunicação e de consulta. O engajamento das partes interessadas promove a aceitação dos riscos e pode gerar soluções construtivas. A não identificação e a não inclusão das partes interessadas podem levar a não aceitação da proposta e de sua estratégia pela direção, pelos clientes, pelos funcionários, pelas entidades reguladoras e pela comunidade. Os principais objetivos e interesses das partes interessadas devem ser levados em consideração de maneira explícita. Isso pode ser feito de modo bastante simples ou podem ser necessárias análises mais sofisticadas através das quais se podem prever os principais riscos sociais e comunitários (DE CICCO, 2009). 3.3 Gestão de riscos segundo a norma ABNT NBR ISO 31000:2009 A gestão de riscos pode ser aplicada a toda uma organização, em suas várias áreas e níveis, a qualquer momento, bem como às funções, atividades e projetos específicos. Em cada setor específico, a aplicação da gestão de riscos traz consigo necessidades particulares, públicos diversos, percepções diferentes e critérios novos. Portanto, uma característica 22 chave da Norma ABNT NBR ISO 31000:2009 é a inclusão do estabelecimento do contexto como uma atividade no início desse processo genérico de gestão de riscos. O estabelecimento do contexto captura os objetivos da organização, o ambiente em que ela persegue esses objetivos, suas partes interessadas e a diversidade de critérios de riscos – o que auxiliará a revelar e a avaliar a natureza e a complexidade de seus riscos. As referências bibliográficas usadas para este item 3.3 e seus subitens, neste capítulo 3, têm como fontes principais a Norma ABNT NBR ISO 31000:2009, a Norma ABNT NBR ISO 31010:2012 “Gestão de riscos – Técnicas para o processo de avaliação de riscos”, a Norma AS/NZS 4360:2004 e o manual, Gestão de riscos – Diretrizes para a Implementação da ISO 31000:2009. Série Risk Management. Risk Tecnologia. Dezembro 2009. Quando implementada e mantida de acordo com a Norma, a gestão de riscos em uma organização possibilita: aumentar a probabilidade de atingir os objetivos; encorajar uma gestão proativa; identificar e tratar os riscos através de toda a organização; melhorar a identificação de oportunidades e ameaças; atender às normas internacionais e aos requisitos legais e regulamentares pertinentes; melhorar o reporte das informações financeiras, a governança e a confiança das partes interessadas; estabelecer uma base confiável para a tomada de decisão e o planejamento; melhorar os controles; alocar e utilizar eficazmente os recursos para o tratamento de riscos; melhorar a eficácia e a eficiência operacional; melhorar o desempenho em saúde e em segurança, bem como a proteção do meio ambiente; melhorar a prevenção de perdas e a gestão de incidentes; minimizar perdas; melhorar a aprendizagem organizacional; aumentar a resiliência da organização (ABNT NBR ISO 31000:2009). Na norma, as expressões “gestão de riscos” e “gerenciamento de riscos” são ambas utilizadas. Em termos gerais, “gestão de riscos” refere-se à arquitetura (princípios, estrutura e processo) para gerenciar riscos eficazmente (figura 3.2), enquanto que “gerenciar riscos” refere-se à aplicação dessa arquitetura para riscos específicos. 23 Figura 3.2 – Relacionamentos entre os princípios da gestão de riscos, estrutura e processo. Fonte: ABNT NBR ISO 31000:2009. 24 Os princípios inerentes à gestão de riscos são genéricos em sua natureza, e são amplamente independentes de qualquer tipo de estrutura organizacional. As técnicas de gestão de riscos fornecem às pessoas, em todos os níveis, uma abordagem sistemática para o gerenciamento dos riscos. 3.3.1 Processo de gestão de riscos Na norma ABNT NBR ISO 31000:2009, de maneira geral, como mostra a figura 3.3, pode-se estabelecer um procedimento básico para o desenvolvimento do processo de gestão de riscos, que é composto pelos seguintes elementos: a) Estabelecimento dos contextos. b) Identificação de riscos. c) Análise de riscos. d) Avaliação de riscos. e) Tratamento de riscos. f) Comunicação e consulta. g) Monitoramento e análise crítica. 25 • • • • • Estabelecimento dos contextos Contexto interno Contexto externo Contexto da gestão de riscos Desenvolvimento de critérios Definição da estrutura • • • Identificação de riscos O que pode acontecer? Quando e onde? Como e por quê? Determinar as consequências Monitoramento e análise crítica Comunicação e consulta Análise de riscos Identificar os controles existentes Determinar a probabilidade Determinar o nível de risco Avaliação de riscos • • Comparar com critérios Estabelecer prioridades Tratar os riscos? Não Sim • • • • Tratamento de riscos Identificar as opções Analisar e avaliar as opções Preparar e implementar os planos de tratamento Analisar e avaliar os riscos residuais Figura 3.3 – Processo de gestão de riscos – Detalhamento. Fonte: De Cicco, (2009). 26 3.3.1.1 Estabelecimento dos contextos O risco é a chance de acontecer algo que terá impacto nos objetivos. Sendo assim, para garantir que todos os riscos significativos sejam identificados, é necessário conhecer os objetivos da função ou da atividade da organização que está sendo examinada. Os objetivos significam a essência da definição dos contextos. Os critérios para o êxito organizacional representam a base para medir o alcance dos objetivos e, por isso, são utilizados para identificar e mensurar os impactos e as consequências dos riscos que podem dificultar o processo de se atingirem as metas. Segundo a norma ABNT NBR ISO 31000:2009, quando se estabelecem os contextos, pode-se definir os parâmetros básicos através dos quais os riscos podem ser gerenciados, podendo-se, ainda, definir o escopo para o restante do processo de gestão de riscos. Os contextos incluem os ambientes interno e externo da organização, bem como os propósitos da atividade de gerenciamento de riscos. Também incluem a consideração das interfaces entre esses ambientes. A definição dos contextos é necessária para: Esclarecer os objetivos organizacionais. Identificar o ambiente no qual se buscam os objetivos. Especificar o escopo principal e os objetivos para a gestão de riscos, bem como perceber as condições limitativas de se atingirem os resultados necessários. Identificar um conjunto de critérios com base nos quais os riscos serão mensurados. Definir um conjunto de elementos principais para a estruturação do processo de avaliação de riscos. Os critérios com base nos quais os níveis de riscos são analisados e avaliados terão um papel importante na definição dos métodos a serem utilizados para análise desses. Por essa razão, é importante que critérios apropriados sejam considerados no início do processo. Os critérios mais importantes a serem considerados incluem: A natureza e os tipos de causas e de consequências que podem ocorrer e como elas serão medidas. A definição da(s) probabilidade(s). A evolução no tempo da(s) probabilidade(s) e/ou consequência(s). A forma como o nível de risco deve ser determinado. 27 Os pontos de vista das partes interessadas. Os níveis em que os riscos se tornam aceitáveis ou toleráveis. A conveniência de se considerarem as combinações de múltiplos riscos e, em caso afirmativo, com quais combinações a referida conveniência precisa de ser considerada. 3.3.1.2 Processo de avaliação de riscos O processo de avaliação de riscos propriamente dito passa pela aplicação de técnicas que permitem identificar, analisar e quantificar o risco (figura 3.4). Essas metodologias são aplicadas sob a forma de workshop multidisciplinar, envolvendo representantes de todas as áreas e níveis de uma organização, que estejam ligados com o processo/atividade a ser analisado(a). Caso seja necessário, recorre-se também, à participação de fornecedores, de clientes ou das partes envolvidas, sejam essas partes internas ou externas. A abordagem usada para a identificação de riscos depende do contexto da gestão de riscos. Existem várias técnicas para o processo de avaliação de riscos. A norma ISO/IEC 31010:2012 “Risk management – Risk assessment techniques” ou, em português, Gestão de Riscos – Técnicas de Avaliação de Riscos, de apoio à ABNT NBR ISO 31000, fornece orientação detalhada sobre a seleção e a aplicação de técnicas sistemáticas qualitativas e quantitativas de avaliação de riscos. 28 Comunicação e consulta Estabelecimento do Contexto PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE RISCOS Identificação de Riscos Análise de Riscos Avaliação de Riscos Tratamento de Riscos Figura 3.4 – Processo de avaliação de riscos. Fonte: ABNT NBR ISO 31000:2009. 29 Monitoramento e Análise Crítica Processo de Gestão de Riscos O padrão ABNT NBR ISO 31010:2012, que tem como objetivo dar suporte ao padrão ABNT NBR ISO 31000:2009. A ISO 31010:2012, apresenta 31 ferramentas de avaliação de riscos, as quais são avaliadas de acordo com a sua aplicabilidade, do ponto de vista de identificação de riscos, análise de riscos (consequência e probabilidade) e quantificação de riscos. As ferramentas mais indicadas para o processo de avaliação de riscos no fechamento de mina (BOWDEN et al. 2001; ICMM, 2008; LAURENCE, 2001b; ROBERTSON; SHAW, 2003), que podem ser usadas, individualmente ou coletivamente, incluem: I – Brainstorming – O brainstorming envolve um processo de estimular e de incentivar o livre fluxo de conversação entre o grupo de pessoas conhecedoras, para se identificarem os modos de falhas potenciais e os perigos e riscos (ameaças/oportunidades) associados, os critérios para decisões e/ou opções para tratamento. A facilitação eficaz é muito importante nessa técnica e inclui o estímulo da discussão desde o início, provocando, periodicamente, o grupo em outras áreas pertinentes e a identificação das questões que emergem da discussão. O brainstorming é uma técnica de geração de ideias em grupo dividida em duas fases, a criativa e a crítica. Na primeira, os participantes apresentam o maior número possível de ideias. Na segunda, cada participante defende sua ideia com o objetivo de convencer os demais membros do grupo sobre suas posições e seus conceitos. Na fase crítica, são filtradas as melhores ideias, permanecendo somente aquelas aprovadas pelo grupo (ABNT NBR ISO 31010:2012). A técnica é composta de quatro regras básicas: 1. As críticas devem ser banidas – a avaliação das ideias deve ser guardada para momentos posteriores. 2. A geração livre de ideias deve ser encorajada. 3. O foco é na quantidade – quanto maior o número de ideias, maiores as chances de se ter ideias válidas. 4. Ênfase na combinação e no aperfeiçoamento de ideias geradas pelo grupo. II – DELPHI – A DELPHI é uma técnica para a busca de um consenso de opinião de um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros. Baseia-se no uso estruturado do conhecimento, da experiência e da criatividade de um painel de especialistas, pressupondose que o julgamento coletivo, quando organizado adequadamente, é melhor do que a opinião de um só indivíduo (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000). 30 III – Entrevistas Estruturadas ou Semiestruturadas – As entrevistas livres, semiestruturadas ou estruturadas são conduzidas individualmente ou em grupo com membros experientes do projeto envolvidos ou com especialistas (PMBOK – PMI, 2004). Em uma entrevista estruturada, os indivíduos entrevistados são convidados a responder a um conjunto de questões propostas com pontos de vistas diferentes, o que permite a identificação de riscos por diferentes perspectivas. A entrevista semiestruturada possibilita uma liberdade maior por meio de um questionamento verbal, explorar as questões à medida que forem surgindo. As entrevistas estruturadas e semiestruturadas são úteis quando é difícil reunir as pessoas para uma sessão de brainstorming, sendo mais frequentemente utilizadas para identificação de riscos e avaliação da eficácia dos controles existentes no âmbito da análise de riscos, podendo, ainda, ser aplicadas em qualquer fase de um projeto ou processo. IV – Análise Preliminar de Perigos – A APP é um método simples, indutivo e analítico, tendo como objetivo identificar os perigos, as situações perigosas e eventos que podem causar danos para uma determinada atividade ou instalação ou, ainda, para um determinado sistema. Esse método é mais comumente utilizado no início do desenvolvimento de um projeto, quando há pouca informação sobre os detalhes de um projeto ou sobre os procedimentos operacionais. Pode ser útil, também, ao se analisarem os sistemas, isto no sentido de se priorizarem os perigos e os riscos existentes, quando as circunstâncias não permitem uma técnica mais ampla de ser usada. Como resultado, espera-se obter uma lista de perigos e riscos e, também, recomendações sob a forma de aceitação de controles recomendados, de especificação do projeto ou espera-se, ainda, conseguir formular uma avaliação mais detalhada (ABNT NBR ISO 31010:2012). V – Checklist – Os Checklists ou Listas de Verificação consistem em uma lista de itens, que vão sendo marcadas como sim ou não, podendo ser utilizada por um membro da equipe ou pelo grupo ou, ainda, através de uma entrevista (BACCARINI, 2001; PMBOK – PMI, 2004). Checklists, normalmente, são listas de perigos, riscos ou de falhas de controle, desenvolvidas normalmente a partir da experiência, quer como resultado de uma avaliação de riscos anterior ou como resultado de falhas do passado. Checklists podem, também, ser usados para identificar os perigos e os riscos ou, ainda, podem ser usados para avaliar a 31 eficácia dos controles. Esse processo pode ser executado em qualquer fase do ciclo de vida de um produto, processo ou sistema. VI – FMEA – A técnica FMEA (Failure Mode and Effects Analysis), sigla originária do inglês, é traduzida pela ABNT como Modos de Pane e Seus Efeitos. De acordo com a NBR 5462:1994, o FMEA é um método qualitativo de análise de confiabilidade, que envolve o estudo dos modos de falhas que podem existir para cada item, podendo determinar os efeitos de cada modo de falha sobre os outros itens e sobre a função específica do conjunto. Portanto, a ferramenta cria a possibilidade de se minimizarem as falhas potenciais e de evitarem seus efeitos. VII – Matriz de Probabilidade/Consequências – Uma matriz de probabilidade/consequência é utilizada para classificar os riscos, as fontes de riscos ou os tratamentos de riscos, tendo como base os seus referidos níveis. A matriz de probabilidade/consequência é um meio de combinar classificações qualitativas ou semiquantitativas de consequências e probabilidades, a fim de se produzir um nível de risco ou classificação de risco. É comumente utilizada como uma ferramenta de seleção, quando muitos riscos foram identificados. Assim, por exemplo, é usada para definir quais riscos necessitam de análise adicional ou mais detalhada, quais riscos necessitam primeiro de tratamento ou quais riscos necessitam ser referidos a um nível mais alto de gestão. Também pode ser utilizada para selecionar quais riscos não precisam de maior consideração no momento da avaliação. Esse tipo de matriz de risco é, também, amplamente utilizado para determinar se um dado risco é de uma forma geral aceitável ou não aceitável de acordo com a sua localização na matriz. O formato da matriz e as definições a ela aplicadas dependem do contexto em que tal matriz é utilizada. É importante que um projeto apropriado seja utilizado para as circunstâncias. Na tabela 3.1, Bowden et al. (2001) mostra um exemplo de uma matriz de probabilidade e consequência. 32 Tabela 3.1 – Exemplo de matriz qualitativa de riscos. Consequências 1 2 3 4 ProbabiInsigni- Menor Mode- Maior lidade Descritor ficante rado 5 Catastrófico A Quase certo A1 A2 A3 A4 A5 B Provável B1 B2 B3 B4 B5 C Possível C1 C2 C3 C4 C5 D Improvável D1 D2 D3 D4 D5 E Raro E1 E2 E3 E4 E5 Classificação de riscos Extremo Alto Moderado Baixo Fonte: Bowden et al. (2001). 3.3.1.2.1 Identificação de riscos A finalidade da identificação de riscos é a de desenvolver uma lista abrangente de fontes de riscos e de eventos que podem ter um impacto na consecução de cada um dos objetivos (ou elementos-chave) identificados nos contextos. Tal lista deve ser abrangente, pois riscos não identificados podem se tornar uma ameaça à organização ou fazer com que se percam oportunidades importantes (ABNT NBR ISO 31000:2009). Informações de boa qualidade são importantes na identificação de riscos. O ponto de partida para isso pode ser o histórico sobre a organização ou sobre as organizações similares. Deve-se, também, abrir para uma posterior discussão com uma ampla gama de partes interessadas sobre questões passadas, atuais e futuras. Alguns exemplos são: Experiência local ou internacional. Opinião de um perito. Entrevistas estruturadas. Discussões dirigidas em grupo. Planos estratégicos e de negócios que incluem análise SWOT e avaliação ambiental. 33 Relatórios de solicitação de pagamento de seguro. Relatórios pós-eventos. Experiência pessoal ou experiência organizacional anterior. Resultados e relatórios de auditorias, de inspeções e de visitas. Pesquisas e questionários. Listas de verificação. Registros históricos, banco de dados de incidentes e acidentes e análise de falhas e registros anteriores de riscos, se houver. É essencial que uma equipe envolvida na identificação dos riscos tenha conhecimento dos aspectos detalhados do estudo de riscos que está sendo realizado. Identificar riscos também pode exigir pensamento criativo e experiência adequada. O envolvimento de uma equipe possibilita a criação de comprometimento e de responsabilidade em relação ao processo de gestão de riscos, bem como garante que sejam considerados riscos para diferentes partes interessadas, quando apropriado (DE CICCO, 2009). 3.3.1.2.2 Análise de riscos A análise de riscos pode ser realizada com diversos graus de detalhes, dependendo da fonte do risco, da finalidade da análise, das informações e dos dados e recursos disponíveis. Dependendo das circunstâncias, a análise pode ser qualitativa, semiquantitativa ou quantitativa. De acordo com De Cicco (2009), as consequências e suas probabilidades podem ser determinadas por modelagem dos resultados de um evento ou conjunto de eventos, ou por extrapolação, isso a partir de estudos experimentais ou a partir dos dados disponíveis. As consequências podem ser expressas em termos de impactos tangíveis e intangíveis. Em alguns casos, é necessário mais que um valor numérico ou descritor para especificar as consequências e suas probabilidades em diferentes períodos, locais, grupos ou situações. A análise de riscos visa à promoção do entendimento do nível de risco e de sua natureza. Além do nível de risco, a análise ajudará a definir as prioridades e as opções de tratamento. O nível de risco é determinado através da combinação das consequências e da 34 probabilidade. As escalas e métodos adequados para tal combinação devem ser compatíveis com os critérios definidos, quando os contextos forem estabelecidos. De acordo com a norma ABNT NBR ISO 31000:2009, risco é uma função tanto da probabilidade como da medida das consequências. Em sua forma mais simples, o risco pode ser expresso da seguinte forma: Risco = função da (Probabilidade e Consequências) Considerando-se que o nível de risco é proporcional a cada um de seus dois componentes (probabilidade e consequências), a função risco será, essencialmente, um produto. Isso pode ser expresso, simbolicamente, como: Risco = Probabilidade x Consequências (R = P x C) As tabelas de consequências e de probabilidades são utilizadas a fim de se fornecerem definições para as escalas de classificação, para que haja um entendimento comum de seu significado. As tabelas devem ser compatíveis com os objetivos específicos e com o contexto da atividade de gerenciamento de riscos. Alguns métodos qualitativos para a geração de informações, para a análise de riscos, incluem: 1. Avaliação usando grupos multidisciplinares. 2. Opinião de especialistas e peritos. 3. Entrevistas estruturadas e questionários. Segundo De Cicco (2009), as principais perguntas que devem ser feitas ao se analisar um risco incluem: Quais dos sistemas atuais podem prevenir, detectar ou reduzir as consequências ou probabilidades de riscos ou eventos indesejáveis? Quais dos sistemas atuais podem melhorar ou aumentar as consequências ou probabilidades de oportunidades ou de eventos benéficos? Quais são as consequências ou a faixa de consequências dos riscos, caso eles ocorram? 35 Qual é a probabilidade ou a faixa de probabilidades de os riscos ocorrerem? Quais fatores podem aumentar ou diminuir as probabilidades ou as consequências? Há limites de probabilidade e consequência além dos quais a análise deixará de ter validade? Quais são as limitações da análise e as hipóteses assumidas? O que causa a variabilidade, a volatilidade ou a incerteza? A lógica, por trás dos métodos de análise, é consistente? Para a análise quantitativa, pode ser utilizado algum método estatístico para compreender o efeito da incerteza e da variabilidade? 3.3.1.2.3 Avaliação de riscos A finalidade da avaliação de riscos é auxiliar na tomada de decisões, tendo-se como base os resultados da análise de riscos, avaliando-se quais riscos necessitam de tratamento e qual é a prioridade para a implementação do tratamento. A avaliação de riscos envolve comparar o nível de risco encontrado durante o processo de análise com os critérios de riscos estabelecidos, quando o contexto foi considerado. Com base nessa comparação, a necessidade do tratamento deve ser considerada. A avaliação de riscos faz uso da compreensão dos riscos, obtida através da análise de riscos, para a tomada de decisões sobre as futuras ações. Tais decisões podem estabelecer se um determinado risco necessita de tratamento ou se uma determinada atividade deve ser realizada. Também essas decisões possibilitam definir as prioridades do tratamento (ABNT NBR ISO 31000:2009). As decisões que necessitam de ser tomadas e os critérios que serão utilizados são definidos conforme o estabelecimento dos contextos, porém necessitam ser revistos mais detalhadamente nessa etapa, agora que se sabe mais a respeito dos riscos identificados. Em algumas circunstâncias, a avaliação de riscos pode levar à decisão de se proceder uma análise mais aprofundada. A avaliação de riscos também pode levar à decisão de não se tratar o risco de nenhuma outra forma que não aquela que já está sendo aplicada. A decisão 36 será influenciada pela atitude perante o risco da organização e pelos critérios de riscos que foram estabelecidos (DE CICCO, 2009). 3.3.1.3 Tratamento de riscos A avaliação de riscos fornece uma lista dos riscos que requerem tratamento, geralmente com suas respectivas classificações e prioridades. O tratamento de riscos implica identificar uma série de opções para o seu tratamento. Também implica avaliar tais opções e elaborar planos de tratamento, além de implementá-los. De acordo com a ABNT NBR ISO 31000:2009, as opções de tratamento de riscos não são necessariamente e mutuamente exclusivas ou adequadas para todas as circunstâncias. As opções podem incluir os seguintes aspectos: A ação de evitar o risco ao se decidir não iniciar ou não continuar a atividade que dá origem ao risco. A tomada ou o aumento do risco na tentativa de tirar proveito de uma oportunidade. A remoção da fonte de riscos. A alteração da probabilidade. A alteração das consequências. O compartilhamento do risco com outra parte ou partes (incluindo contratos e financiamento do risco). A retenção do risco por uma decisão consciente e bem embasada. Antes que ações adequadas de tratamento possam ser determinadas, a análise de cada risco pode precisar ser revisada e ampliada para se extraírem as informações necessárias, para identificar e explorar as diferentes opções de tratamento. A concepção das medidas de tratamento de riscos deve se basear no amplo entendimento dos riscos envolvidos. Tal entendimento vem do nível apropriado da análise de riscos. É, particularmente, importante identificar as causas dos riscos para que os mesmos sejam tratados e não somente seus efeitos. De acordo com De Cicco (2009), uma opção de tratamento que pode ser tomada é a de se evitar totalmente o risco, eliminando-o completamente com a decisão de não prosseguir ou 37 não continuar a atividade. Isso exclui a possibilidade de danos, mas, geralmente, elimina também a oportunidade. Normalmente, o tratamento de riscos envolve uma mudança da probabilidade ou das consequências do risco, ou ambas as coisas. Em geral, uma combinação de opções de tratamento é selecionada a partir de uma série de opções identificadas. As opções selecionadas necessitam de ser compatíveis com os objetivos gerais da organização e com os critérios de avaliação de riscos. Segundo De Cicco (2009), a finalidade mais ampla do tratamento de riscos é a de modificar e a de levar o risco até um nível em que o benefício exceda o custo total do tratamento. Pode-se, também, utilizar a análise custo-benefício, em parte, para distinguir entre diferentes opções de tratamento. O propósito de um plano de tratamento de riscos pode ser colocado sob o aspecto de objetivos do tratamento, os quais podem definir: 1. Os riscos a serem tratados. 2. As causas, as fontes ou os eventos a que o tratamento deve visar. 3. O que as medidas de tratamento devem fazer, quando, onde e como. 4. O nível de desempenho exigido de um tratamento em termos de eficácia, de confiabilidade e de disponibilidade. O sucesso da implementação do plano de tratamento de riscos requer um sistema de gestão eficaz, que especifique os métodos escolhidos, defina as responsabilidades e atribuições de cada pessoa e faça o monitoramento em relação aos critérios especificados. A comunicação é uma parte muito importante da implementação do plano de tratamento. O risco residual é o risco que continua existindo depois que as opções de tratamento tiverem sido identificadas e que os planos de tratamento tiverem sido implementados. É importante que as partes interessadas e os responsáveis pela tomada de decisões estejam cientes da natureza e da extensão do risco residual. Por essa razão, o risco residual deve ser documentado, monitorado e analisado criticamente (ABNT NBR ISO 31000:2009). 38 3.3.1.4 Comunicação e consulta A comunicação e a consulta são duas considerações importantes em cada etapa do processo de gestão de riscos. Elas devem incluir o diálogo com as partes envolvidas, priorizando a consulta em vez do fluxo de informação de mão única dos responsáveis pela tomada de decisão para outras partes envolvidas. (DE CICCO, 2009). A comunicação e a consulta apropriadas buscam melhorar o entendimento que as pessoas têm dos riscos e do processo de gestão de riscos. E, desta forma, garantem que as diversas visões das partes interessadas sejam levadas em consideração e que todos os participantes estejam cientes de seus papéis e de suas responsabilidades. A consulta pode ser descrita como um processo de comunicação informativa entre a organização e as partes interessadas antes de ser tomada uma decisão ou de se definir um posicionamento em relação a uma questão específica (ABNT NBR ISO 31000:2009). É essencial uma comunicação interna e externa eficazes para se garantir que os responsáveis pela implementação da gestão de riscos, bem como aqueles que têm interesse nela, compreendam a base sobre a qual as decisões são tomadas e por que determinadas ações são necessárias. A comunicação entre a organização e as partes interessadas externas permite à primeira desenvolver uma relação com sua comunidade de interesse e estabelecer relacionamentos baseados na confiança. Isso é particularmente importante no gerenciamento de riscos de baixa probabilidade e de altas consequências, tais como os riscos naturais. O envolvimento da comunidade traz uma maior diversidade de perspectivas e de opiniões sobre os objetivos. Quando as incertezas são altas, as opiniões e valores das pessoas são muito importantes. A comunicação dos riscos pode ser um componente significativo na implementação do tratamento dos riscos (DE CICCO, 2009). 39 3.3.1.5 Monitoramento e análise crítica O monitoramento proporciona o acompanhamento rotineiro do desempenho real para que esse desempenho real possa ser comparado ao desempenho esperado ou requerido. Já a análise crítica envolve a investigação periódica da situação atual normalmente com um foco específico. O monitoramento e a análise crítica constituem-se na parte integrante e essencial da gestão dos riscos, sendo, então, uma das etapas mais importantes do processo de gestão de riscos no âmbito organizacional. É necessário que sejam monitorados os riscos, a eficácia e a adequação das estratégias e dos sistemas de gestão estabelecidos para a implantação dos tratamentos de riscos, bem como do plano e do sistema de gestão de riscos como um todo. Os processos de garantia e monitoramento devem ser contínuos e dinâmicos. Não basta somente confiar nas análises críticas e nas auditorias de terceira parte ocasionais (DE CICCO, 2009). De acordo com a norma ABNT NBR ISO 31000:2009, os sistemas de monitoramento e a análise crítica de riscos e o seu processo de gestão exigem cuidado em sua seleção, definição de metas e de planejamento, uma vez que absorvem recursos geralmente escassos. Deve-se dar prioridade ao monitoramento de: Altos riscos. Possíveis falhas das estratégias de tratamento, especialmente das que resultem em consequências graves ou frequentes. Atividades relacionadas a riscos que apresentem uma alta incidência de mudanças. Critérios de tolerância a riscos, principalmente dos riscos que resultem em altos níveis de risco residual. Avanços tecnológicos que possam oferecer alternativas de maior eficácia ou de menor custo no tratamento de riscos em vigor. Em termos gerais, as práticas de monitoramento e a análise crítica são de três tipos: 1. Monitoramento contínuo (ou, pelo menos, frequente), por meio de medições ou verificações rotineiras de parâmetros específicos (por exemplo, níveis de poluição ou fluxos de caixa). 40 2. Análises críticas dos riscos e de seus tratamentos realizadas pela gerência de produção (às vezes chamadas de “autoavaliação dos controles”), que são frequentemente seletivas em seu escopo, mas tipicamente rotineiras e regulares, e que devem ser selecionadas com base em critérios de ponderação de riscos. 3. Auditorias realizadas, tanto por auditores internos quanto externos. As auditorias costumam ser mais seletivas em seu escopo e menos frequentes do que os outros dois tipos anteriormente mencionados (DE CICCO, 2009). 41 CAPÍTULO 4 - GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA 4.1 Revisão da literatura Avaliação dos impactos ambientais e o gerenciamento de riscos constituem uma parte essencial no processo de planejamento do fechamento de mina e do ciclo de vida das operações mineiras. As avaliações são feitas em várias etapas ao longo da vida de uma mina, por exemplo, no planejamento das operações e na preparação de um fechamento de mina. O objetivo das avaliações é minimizar as ameaças e maximizar os benefícios para o ambiente e para os seres humanos através de uma variedade de medidas de gerenciamento de riscos (HEIKKINEN et al, 2008). Do estudo de viabilidade ao fechamento de uma mina, o processo de gestão de riscos possibilita a identificação de perigos e de situações críticas que possam acarretar acidentes ou perdas e/ou maximizar as oportunidades de ganho para a empresa, para a comunidade e para o ambiente. No fechamento de mina, embora os riscos ambientais sejam muito importantes, outras questões, tais como segurança, relações com a comunidade local, legal, fiscal e fatores tecnológicos precisam ser levados em consideração (LAURENCE, 2001a). Diversos autores abordam a gestão de riscos no fechamento de mina e defendem que os riscos de fechamento precisam ser identificados e monitorados durante toda a vida útil da mina e até mesmo por um período pós-fechamento. Diante disso, pode-se observar que diferentes mecanismos de gestão de riscos para o planejamento de fechamento de mina são apresentados pelos autores. Robertson e Shaw (2003) defendem a ideia de que durante o desenvolvimento de um projeto de mina, este deverá passar continuamente por um processo de avaliação de riscos. A avaliação de riscos é feita com o sentido de se verificar se tal projeto está atendendo seus requisitos operacionais. Quando uma operação, em sua fase de desenvolvimento atual, apresentar riscos significativos que não atendam aos objetivos do projeto, esse deverá ser modificado até que suas características de desempenho estejam adequadas. Neste sentido, os autores propõem a técnica FMEA para gerenciamento desses riscos (figura 4.1) e, 42 também, defendem que a análise dos riscos relacionados ao fechamento de mina e o plano de gestão de riscos devam ser elaborados quando do projeto inicial. Posteriormente, o plano de gestão de riscos deve ser atualizado sempre que necessário. Figura 4.1 – Plano e projeto de desenvolvimento cíclico nas diferentes fases da vida de uma mina. Fonte: Robertson e Shaw (2003). A técnica FMEA é utilizada para identificar as formas em que os componentes, os sistemas ou os processos podem falhar em atender os objetivos de um projeto. A FMEA procura identificar todos os modos de falha potenciais das várias partes de um sistema e os efeitos que essas falhas podem ter no sistema. Essa técnica procura também identificar as medidas 43 para se evitar as falhas e/ou se mitigar seus efeitos no sistema. Assim, de acordo com a ABNT NBR ISO 31010:2012, a técnica FMEA pode ser utilizada para: Auxiliar na seleção de alternativas de projeto com elevada garantia de funcionamento. Assegurar que todos os modos de falha de sistemas e processos, bem como seus efeitos no sucesso operacional sejam considerados. Identificar os modos e os efeitos de erros humanos. Fornecer uma base para o planejamento de testes e para a manutenção de sistemas físicos. Melhorar o projeto de procedimentos e processos. Fornecer informações qualitativas ou quantitativas para técnicas de análise, como análise de árvore de falhas em um nível qualitativo ou quantitativo. O Conselho Internacional de Mineração e Metais - ICMM apresentou, em 2008, um kit com treze ferramentas, tendo como objetivo promover uma abordagem mais disciplinada para o planejamento do fechamento integrado de mina e aumentar a uniformidade das boas práticas em todo o setor mineral. Além disso, esse kit de ferramentas foi desenvolvido para ajudar os gerentes de minas e seus grupos de apoio a tomarem decisões balizadas e suportadas em análise holística dos aspectos do fechamento. As ferramentas se constituem em orientações dadas no sentido de conduzir o comprometimento da comunidade, de efetivar um planejamento antecipado de fechamento com implantação operacional progressiva e de implementar um enfoque multifuncional para a obtenção de estratégias efetivas de pós-fechamento/transferência de custódia. Nesse kit, a ferramenta 4 sugere a incorporação de um processo de avaliação de riscos/oportunidades, tendo como base a norma de gestão de riscos desenvolvida do Conselho de Normalização da Austrália e Nova Zelândia (AS/NZC 4360:2004 Risk Management). Nessa norma, é sugerido que as empresas de mineração implementem um processo de avaliação de riscos em um plano conceitual de fechamento, sendo que tal plano deve identificar os pontos potenciais que podem elevar o risco de resultados indesejáveis de fechamento ou que podem reduzir a oportunidade de se obterem benefícios duradouros. Esses pontos devem ser ressaltados como fatores de risco que requerem controle e monitoramento nas versões atual e futura do plano de fechamento. E, para tal, devem ser introduzidas estratégias e abordagens abrangentes para o controle de cada risco identificado. 44 Em outubro de 2006, o governo australiano apresentou, para a indústria mineira daquela região, um guia prático para o desenvolvimento sustentável na mineração, denominado “MINE CLOSURE AND COMPLETION, Leading Practice Sustainable Development Program for the Mining Industry”. Esse guia apresenta uma abordagem detalhada para uso da gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina, que é apresentada na figura 4.2. Definição e classificação de opções de Análise de riscos e oportunidades Avaliação e seleção de opções de fechamento Plano de fechamento sustentável Monitoramento/ Auditoria/ Revisão Previsão de custos financeiros ó Avaliação de risco residual Figura 4.2 – Abordagem para uso da gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. Fonte: Australia (2006). A análise de riscos torna possível identificar as medidas necessárias para o fechamento de mina, priorizando os riscos de forma preventiva e permitindo que as medidas de fechamento sejam focadas no gerenciamento dos riscos mais significativos. Além disso, a comparação de opções de gerenciamento de riscos pode ser usada na seleção das melhores opções possíveis de fechamento total. Se um levantamento dos riscos e uma análise de riscos não foram realizados anteriormente, então, no mais tardar, eles deverão ser feitos quando o plano de fechamento final é elaborado. De acordo com DETR (2000), a gestão de riscos deve ser implementada em etapas, conforme mostra a figura 4.3. O processo deve ser interativo, exceto para os casos mais simples. Pode acontecer que, durante a análise, seja notada a necessidade de novos estudos e o resultado desses pode servir para reorientar o processo de análise ou fazer uma revisão dos seus estágios iniciais. O esquema apresentado na figura 4.3 é específico para riscos ambientais, mas, em princípio, é aplicável a qualquer outro tipo de risco. 45 Definição do Problema Principais estágios dos níveis da análise de riscos Priorização de risco Nível 1. Identificação dos perigos Classificação preliminar de riscos Estimativa de exposição Nível 2. Análise quantitativa de riscos usando métodos de aplicação geral Avaliação do risco Nível 3. Descrição do risco Análise detalhada dos riscos quantitativos Análise e comparação das opções de ação Econômicos Tecnológicos Impactos ambientais e sociais Gerenciamento Gestão de Riscos Aquisição de informações, monitoramento, iteração Figura 4.3 – Exemplo dos estágios para implementação do processo de análise e gestão de riscos ambientais. Fonte: DETR (2000). 46 Os níveis do processo de avaliação de riscos incluem a identificação dos riscos, a estimativa de exposição, a avaliação e a descrição dos riscos. Em um nível inicial, um método qualitativo principal simples é usado e, assim, os riscos são primeiramente priorizados. Uma classificação dos riscos é realizada, por exemplo, de acordo com a tabela 4.1, sendo que uma decisão preliminar é tomada como necessidade de ação, conforme tabela 4.2. Essa classificação pode ser feita, por exemplo, sob a forma de um brainstorming de uma equipe de especialistas (HEIKKINEN et al., 2008). Tabela 4.1 – Matriz de classificação de riscos primários. Probabilidade Extremamente leve Risco Extremamente moderado provável Risco baixo Altamente provável Risco baixo Bastante provável Risco Improvável insignificante Risco Extremamente insignificante improvável Gravidade das consequências Leve Moderado Grave Risco moderado Risco moderado Risco baixo Risco baixo Risco insignificante Risco significativo Risco moderado Risco moderado Risco baixo Risco baixo Risco significativo Risco significativo Risco moderado Risco moderado Risco baixo Desastroso Risco intolerável Risco significativo Risco significativo Risco moderado Risco moderado Fonte: Koskensyrjä (2003), modificado. Tabela 4.2 – Análise da necessidade de ação com base na classificação de riscos. Tipo de risco 1. Insignificante 2. Baixo 3. Moderado 4. Significativo 5. Intolerável Necessidade de ação • Nenhuma ação é necessária. • A ação não é obrigatoriamente necessária. • Melhores soluções sem nenhum custo adicional devem ser consideradas. • A situação precisa de ser monitorada para manter o risco sob controle. • Devem ser tomadas medidas para minimizar o risco, mas isto não é urgente. • A relação custo-eficácia das medidas tomadas deve ser considerada. • Se o risco envolve consequências nefastas, a materialização da probabilidade de riscos deve ser investigada em mais detalhes. • Devem ser tomadas medidas urgentes para minimizar o risco. • A atividade a que o risco se aplica não deve ser iniciada antes que o risco seja reduzido. • Se iniciada, a atividade pode ser continuada, mas todos os envolvidos devem estar familiarizados com o risco e devem ser preparados para parar a atividade, o mais rapidamente possível, se for necessário. • Devem ser tomadas medidas urgentes para neutralizar o risco. • A atividade a que o risco se aplica não deve ser iniciada, ou deve ser interrompida imediatamente, até que o risco seja removido. Fonte: Koskensyrjä (2003), modificado. 47 Se não é possível estimar a severidade de um risco ou a sua probabilidade e se não é possível definir o nível de gerenciamento de riscos requerido através de uma classificação de riscos preliminar, então, a análise de riscos deve ser especificada usando métodos detalhados (tais como análise e modelação de consequências). Uma análise mais detalhada é, geralmente, necessária: se um risco é considerado moderado (classe 3, tabela 4.2); se mais alto; ou se é difícil estimar o quão sério são as consequências de uma situação perigosa que está susceptível devido a vários fatores envolvidos (HEIKKINEN et al., 2008). Logan et. al. (2007) propõem uma ferramenta de avaliação do planejamento do fechamento de mina, que envolve um conjunto de configurações de alternativas definidas pelas técnicas de análise de multicritérios, análise de riscos e análise de custo benefício em uma abordagem integrada única. A técnica é fundamentada na identificação e priorização de critérios de decisão. Os critérios de decisão são fundamentados em exigências legais, políticas da empresa, riscos potenciais e objetivos desejáveis. Cada alternativa configurada é então avaliada de acordo com estes critérios. Segundo os autores, a vantagem deste processo é sua capacidade para avaliar impactos negativos, oportunidades e passivos ambientais. Em 2011, a empresa Vale desenvolveu um guia de fechamento de mina (GFM) com objetivo de: Orientar os profissionais envolvidos no projeto, no planejamento e na operação de minas sobre as práticas atualmente aplicadas na empresa Vale. Estabelecer diretrizes e critérios corporativos para o fechamento de mina como desdobramento de estratégias da empresa Vale. Essas diretrizes e critérios são baseados em análise de requisitos legais e das normas técnicas nacionais e internacionais aplicáveis, de estudos de benchmarks e das melhores práticas de mercado. Junto ao guia de fechamento de mina, a empresa Vale apresentou também, um modelo de avaliação de passivos de sustentabilidade em minas fechadas (figura 4.4). Esse modelo tem como objetivos o monitoramento e a avaliação de passivos de minas fechadas pela empresa Vale. O modelo consiste na proposição de um modelo-padrão para avaliação de riscos nas 48 minas fechadas, permitindo identificar pendências e potenciais passivos de sustentabilidade. De acordo com Vale (2011), o modelo possibilita ainda: Resgatar o histórico operacional e as condições de paralisação das atividades; Avaliar as condições físicas através das minas, resultantes de atividades passadas e/ou presentes; Identificar as vulnerabilidades quer sejam de cunho ambiental, social ou jurídico; Propor ações de controle e/ou mitigação. Avaliação Ambiental Modelo de Avaliação de Minas Fechadas Avaliação Social e Econômica Avaliação Jurídica • Índice de Vulnerabilidade Ambiental • Índice de Vulnerabilidade Social • Índice de Vulnerabilidade Jurídica Figura 4.4 – Modelo de avaliação de Passivos de sustentabilidade em Minas Fechadas. Fonte: Vale (2011). A metodologia proposta pela empresa Vale visa à identificação e à avaliação dos passivos e vulnerabilidades ainda remanescente na condição de pós-fechamento dos seus empreendimentos, para isso, propõe o cálculo de índices de vulnerabilidades associadas aos temas ambiental, jurídico e social. Índice de vulnerabilidade ambiental. Índice de vulnerabilidade social. Índice de vulnerabilidade jurídica. 49 Para facilitar a identificação, a análise e a avaliação de riscos e, principalmente, para tomar decisões, em termos de priorização e alocação de recursos é fundamental uma categorização dos riscos por tipo. Laurence (2001a) dividiu os riscos envolvidos no fechamento de mina nas seguintes categorias: riscos ambientais (RA), riscos à saúde e à segurança (RSS), riscos à comunidade e riscos sociais (RCS), riscos de uso final do solo (RUS), riscos jurídicos e financeiros (RJF) e riscos técnicos (RT). Para a avaliação de riscos de fechamento de mina, Laurence (2001b) propõe a matriz de riscos apresentada na tabela 4.3. Tabela 4.3 – Matriz de riscos para avaliação de riscos no fechamento de mina. P R O C B A B I L I D A D E 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Certo O 10 N 9 S 8 E 7 Q 6 U 5 E 4 N 3 C 2 I 1 Catastrófico Insignificante Raro 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 90 81 72 63 54 45 36 27 18 9 80 72 64 56 48 40 32 24 16 8 70 63 56 49 42 35 28 21 14 7 60 54 48 42 36 30 24 18 12 6 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 40 36 32 28 24 20 16 12 8 4 30 27 24 21 18 15 12 9 6 3 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 A Fonte: Laurence (2001b). A classificação de riscos pode dividir a mina minuciosamente em detalhes, até que uma imagem completa da exposição ao risco seja alcançada. Para ajudar os operadores e os reguladores, Laurence (2006a) apresenta uma lista de verificação das principais questões e riscos que precisam de ser avaliados no fechamento de mina (quadros 4.1, 4.2, 4.4, 4.5,4.6 e 4.7). Essa lista de verificação se baseia nos trabalhos de fechamento de várias minas. Entretanto, convém sublinhar que essa classificação serve de guia e não pretende ser totalmente abrangente, quanto às questões envolvidas em cada mina. Devido à natureza 50 dinâmica e diversificada da indústria da mineração, novas questões serão exigidas ao longo do tempo. Portanto, cada mina deverá ter uma classificação única. 4.2 Avaliação de riscos ambientais no fechamento de mina A mineração, inevitavelmente, provoca diversos impactos no meio ambiente. O grau e a extensão das alterações no meio ambiente dependem da geologia do minério, do método de lavra e do processamento do minério, do tamanho, da geometria e da localização do corpo mineral, bem como do ecossistema onde a mina está inserida. O desenvolvimento das operações de lavra, incluindo as instalações de processamento e infraestruturas associadas, geralmente envolve a alteração permanente da topografia existente, supressão da vegetação, da flora e da fauna, além de potencial impacto nos recursos hídricos. Sem medidas de precaução, é possível que os efeitos negativos ao meio ambiente persistam durante décadas após o fechamento da mina (VALE, 2011). De acordo com Vale (2011), um plano de fechamento de mina visa a garantir que: O ambiente pós-mineração seja seguro e autossustentável do ponto de vista físico, químico e biológico. A qualidade dos recursos hídricos seja protegida. O uso da área, pós-mineração, seja sustentável e estabelecido de forma clara para a satisfação das partes envolvidas. Os critérios de fechamento acordados sejam cumpridos. 51 Riscos Amplos Subquestões Água superficial Água Água subterrânea Uso a jusante Monitoramento Gás Ar Poeira Impacto visual Infraestrutura Solos Sistemas de solos Reconformação/terraplenagem Restabelecimento da flora Restabelecimento da fauna Cavas Subsidência Lavra/exploração Gerenciamento/Monitoramento Bota-fora ou pilha de estéril Rejeitos Rejeito/estéril Materiais perigosos Outros Patrimônio Evento específico • Sedimentação • Efluente • Drenagem • Drenagem ácida de mina (DAM\) • (DAM) / metais pesados • Salinidade • Contaminação (processamento químico) • Rebaixamento do lençol freático • Agricultura • Bebida • Ecossistema aquático • • • • • • • • • • • • • • • Emissão de gás de efeito estufa Outras emissões (por exemplo, SO2) Rejeitos Pilha de minério/estéril Áreas reabilitadas Fechamento de acesso da comunidade à mina Estradas centrais ou principais Áreas remotas Construções, equipamentos, áreas construídas Estradas Estoques, depósitos, barragens, poços Material de empréstimo Contaminação Disponibilidade/adequação de camada superficial de solo Potencial de erosão • • • • • • • • Simples Complexo Rara/significante Terrestre Aviária Aquática Aberto Preenchido (usando material estéril) • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Reconformação Cobertura Drenagem ácida Topografia Frequência sísmica Clima Reconformação Cobertura Drenagem ácida Toxidade Estabilidade Base do solo Ribeirinhos Radiação Químico incluindo cianeto Combustíveis, lubrificantes Saneamento Pneus, máquinas, etc. Lixo Indígena Não indígena Quadro 4.1 – Lista de riscos ambientais. Fonte: Laurence (2006a). 52 4.3 Avaliação de riscos socioeconômicos no fechamento de mina A minimização dos impactos potenciais adversos sobre a economia local e considerações de longo prazo das necessidades das comunidades do entorno da mina podem ser definidas como objetivos gerais socioeconômicos em relação ao fechamento de mina (EC, 2004). Uma empresa de mineração, ao longo de suas diferentes fases, geralmente, fornece consideráveis benefícios socioeconômicos para a comunidade local. Estratégias para assegurar que as comunidades dependentes da mineração mantenham a estabilidade social e continuem a prosperar economicamente após o fechamento da mina podem ser desenvolvidas em consulta com autoridades e partes interessadas. As perspectivas das partes interessadas devem ser levadas em consideração através de consulta aos trabalhadores da mineração, às empresas que estão diretamente ou indiretamente envolvidas com o processo da mineração e à comunidade através dos residentes locais. O objetivo subjacente do processo é garantir uma consulta eficaz e possibilitar que haja uma negociação anterior ao processo de fechamento para se garantirem resultados sustentáveis. Mesmo que o processo não seja seguido em seu pormenor, essa abordagem, no entanto, fornece orientações que podem ser adotadas no planejamento do fechamento e na definição do desempenho relacionado com os objetivos e com os critérios de fechamento (SÁNCHEZ, 1998; OLIVEIRA JÚNIOR, 2001). De acordo com ICMM (2008), o planejamento efetivo do fechamento envolve a conciliação de visões, de interesses, de aspirações, de esforços e de conhecimento dos vários interessados diretos, internos e externos, para a conquista de resultados benéficos para a empresa e para a comunidade hospedeira. Para uma empresa, isso envolve: A incorporação do planejamento de fechamento já nos estágios iniciais do desenvolvimento do projeto (nominalmente pré-viabilidade e viabilidade). A comparação dos objetivos e pontos de vista dos diversos interessados diretos (proprietário do projeto, comunidade local, governo e organizações não governamentais – ONGs) no estágio inicial de desenvolvimento do projeto e durante a operação da mina para instruir o fechamento e os objetivos pósfechamento. 53 Uma atuação compartilhada com as partes envolvidas, de modo a se atingirem os objetivos. O uso dos conceitos de risco e oportunidade, tanto para minimizar passivos quanto para maximizar os benefícios para todas as partes envolvidas. O uso de competências de conhecimento multidisciplinares para se assegurar que a redução de um risco em uma área não acarretará aumento em outra. Para alcançar benefícios duradouros, em nível local e regional, os pontos de vista dos interessados diretos externos devem ser compreendidos. Para se garantir que os benefícios sejam providos, a empresa deve ter condições de supri-los. Isso envolve identificar os interessados diretos externos e, então, estabelecer-se um comprometimento com eles, fomentando um entendimento de mão dupla, no qual os resultados são mutuamente benéficos. No planejamento de fechamento, deve-se reconhecer que as comunidades têm diferentes níveis de dependência da operação. Comunidades dependentes podem ter riscos e benefícios socioeconômicos maiores, que precisam de ser tratados, ao passo que comunidades independentes podem apresentar riscos e oportunidades diferentes e uma sensibilidade socioeconômica menor no que diz respeito à presença ou à ausência da operação (TAVEIRA, 2003). Os participantes do planejamento de fechamento podem, inicialmente, ter pontos de vista diferentes sobre o que pode e o que não pode ser alcançado no fechamento e as expectativas podem variar entre os interessados diretos. Entender esses pontos de vista e essas expectativas (que podem mudar com o tempo) e formular, com os interessados diretos, um resultado de fechamento equilibrado, realista e atingível, que possa ser financiado e sustentado pelas partes interessadas, é um aspecto fundamental do planejamento de fechamento. Esses resultados balanceados, se obtidos pelos participantes durante o planejamento de fechamento, ajudam os interessados diretos a ter o domínio dos resultados e, no final, a garantir um fechamento bem sucedido (TAVEIRA, 2003). Enquanto muitos resultados ambientais de fechamento dependem da competência especializada da empresa de mineração para sua conceituação e realização, as comunidades 54 e governos desempenham um papel essencial nos resultados sociais de fechamento. A comunidade é que detém a maior parte da história local e o conhecimento para instruir o desenvolvimento dos resultados sociais de fechamento. Os governos local, estadual e nacional fornecem informações sobre as capacidades institucionais; sobre a economia local e nacional; sobre as questões culturais e entre comunidades; e sobre o desenvolvimento sustentável nos resultados sociais de fechamento (ICMM, 2008). Riscos amplos Empregados Gerenciamento Subquestões Evento específico Previsão dos direitos Reciclagem, relocalização Pedidos de indenização empregados dos Melhoria da comunicação Sensibilização para a segurança – aumento do nº de acidentes/lesões com o fechamento Manter a equipe junta, particularmente o pessoal-chave Empreiteiros • Pode ser usado para suavizar o baque na redução de empregados • Potencial para redução nos custos Representantes do sindicato/ empregados Latifundiários Indígenas Não indígenas Moradores afetados Novos colonos Governo local (prefeitura) • Fly-in, Fly-out(entrada e saída de pessoas) cidade(vila) da mineração • Vila da empresa • Isolamento • Tradição de mineração na região • Alto desemprego local • Única indústria da cidade • Impacto no valor do imóvel residencial • Impacto sobre os valores da família • Diversificação ou declínio • Retorno para subsistência • Questões de saúde, prostituição, alcoolismo, drogas, etc... Local Impacto na comunidade em geral Regional Nacional Internacional Quadro 4.2 – Lista de riscos à comunidade e riscos sociais. Fonte: Laurence (2006a). De acordo com Vale 2011, a concepção do plano de fechamento de mina deve considerar uma forma de minimizar os impactos adversos de fechamento e otimizar as oportunidades 55 para o desenvolvimento comunitário. O plano de fechamento de mina deve garantir que, no futuro, a saúde e a segurança pública não sejam comprometidas, que a resiliência da comunidade para os impactos adversos de fechamento de mina seja fortalecida, que a comunidade possa maximizar oportunidades para o uso futuro da área e que essa comunidade possa manter a infraestrutura de valor. 4.4 Avaliação de riscos de uso final da área no fechamento de mina A reabilitação ambiental busca uma condição ambiental estável a ser obtida em conformidade com os valores estéticos e sociais da circunvizinhança. Essa atividade tem por objetivo dar um determinado uso para o sítio interferido, de acordo com o plano preestabelecido para o uso do solo, além de conferir a referida estabilidade ao meio ambiente. Programas de reabilitação requerem o planejamento e a execução de trabalhos que envolvam geotecnia, processos biológicos (revegetação) e, em alguns casos, hidrogeologia. Esse processo ainda inclui a manutenção e o monitoramento dessas áreas após a implantação dos projetos (VALE, 2011). Nas opções de uso final da área, deve-se considerar a sua relevância ambiental e a aceitação das partes envolvidas sobre os objetivos e definições, antes que se inicie o progresso das operações de fechamento e antes que se inicie projetos de desenvolvimento sustentável ambiental local e regional. Os objetivos da recuperação de uma determinada área degradada devem atender a requisitos individuais e o plano estabelecido deve deixar claro, previamente, o nível desejado de recuperação. Existem diversos usos potenciais para os quais as áreas degradadas podem ser destinadas, como o cultivo/pastagens, reflorestamento, área residencial ou urbana, parques e áreas de recreação (GRIFFITH, 1980). De acordo com um plano preestabelecido, o destino final da área deverá ser objeto de uma análise conjunta dos componentes sociais, ecológicos e econômicos envolvidos. A definição do uso futuro de uma área (quadro 4.3) deve ser estabelecida com base em amplo estudo da vocação natural da região. Por exemplo, não adianta definir o uso futuro e a prática industrial com alta tecnologia sem que haja a devida capacitação da mão de obra local. Se isso ocorrer, poderá haver imigração para a região sem trazer benefícios aos moradores, que dependem do empreendimento mineral. Adicionalmente, o uso industrial 56 futuro terá de ser compatível com a qualificação dos trabalhadores disponíveis na região. Para objetivar o uso comercial ou residencial, deve-se considerar a demanda da região por esse tipo de empreendimento, já que é necessário o concomitante desenvolvimento de outras atividades econômicas para que se criem comércios e áreas residenciais. Em regiões que se desenvolveram a partir da mineração, essa última alternativa de uso futuro pode tornar-se inviável, caso não seja considerada uma alternativa de desenvolvimento econômico em paralelo (TAVEIRA, 2003; SANCHEZ, 1998). Nível de recuperação abandono Nova situação Novo uso Degradação Sem uso Novo ambiente Conservação, recreativo Condições similares às Conservação, recreativo, anteriores agrícola ou florestal, reabilitação/recuperação urbano (comercial, residencial, industrial) Conservação do patrimônio Turístico, educativo industrial restauração Estabilidade Vários possíveis Quadro 4.3 – Níveis de recuperação e uso futuro de áreas degradadas pela mineração. Fonte: Sanchez (1998). Qualquer que seja a opção de uso futuro da área é de vital importância considerar a atividade econômica que irá substituir a mineração, uma vez que essa mobilizou mão de obra, arrecadou impostos, trouxe desenvolvimento econômico e social, por menor que seja, a uma região. Também, além das condições ambientais locais – relevo, vegetação, hidrografia, pedologia – fatores como a expectativa da sociedade e dos funcionários; o valor da terra; a influência dos órgãos governamentais; a legislação e os aspectos culturais podem influenciar na determinação do uso futuro da área em questão (SANCHEZ, 1998; TAVEIRA, 2003). 57 Riscos Amplos Subquestões Evento específico Boa qualidade para agricultura Valor alto conservação) (valor para Industrial/Comercial/Residencial Parque/Museu Nacional Retorno para o ecossistema pré-existente Valor médio Floresta Pastagem Terreno extensivamente alterado Valor baixo Altamente degradado, terra árida Quadro 4.4 – Lista de riscos de uso final do solo. Fonte: Laurence (2006a). 4.5 Avaliação de riscos de saúde e de segurança no fechamento de mina Em geral, no fechamento de uma mina, os critérios básicos de segurança exigem: 1. Que todas as estruturas (prédios, pontes, sistemas de drenagem, áreas de disposição de estéril e rejeitos) que irão permanecer no local estejam fisicamente e quimicamente estáveis por um longo período. 2. Que qualquer outra estrutura relativa às operações da mineração que possa causar algum risco de segurança (por exemplo: poços, galerias ou aberturas da mina, encostas íngremes e aterros, infraestruturas mineiras e equipamentos desativados) seja removida do local, ou permaneça inacessível. Os critérios de segurança são definidos de forma a possibilitar que os procedimentos de mitigação de riscos sejam suficientemente abrangentes e possam assegurar possíveis contingências geológicas e climáticas. Portanto, segundo Heikkinen et al. (2008) as estratégias de fechamento devem prever as probabilidades seguintes: Eventos naturais extremos (incluindo chuvas intensas, inundações, tempestades, secas, incêndios, deslizamentos e avalanches e, em alguns países, erupções vulcânicas e abalos sísmicos). Riscos potenciais de origem geológica, como: erosão, colapso e subsidência e deslizamento de solo. Degradação ambiental devida aos efeitos cumulativos das inundações sucessivas ou erosão ao longo do tempo. 58 Efeitos das mudanças climáticas, tais como variações na frequência e intensidade de precipitações extremas e eventos de inundação. Deterioração progressiva na qualidade e na perda da integridade de materiais utilizados na área da mina, incluindo estruturas de concreto, madeira e aço. O planejamento e a avaliação da estabilidade, em longo prazo, deverão ser medidos e avaliados através da utilização de vários índices. Exemplos de indicadores usados para monitorar a estabilidade física e química de riscos para a segurança (EC, 2004) incluem: Estabilidade de talude e barreiras de contenção permanente de aterros e depósitos de estéreis. Cálculo de índice de segurança específico para estabilidade de talude. Capacidade dos sistemas de drenagem (N vezes maior que a maior alta medida). Capacidade máxima de inundação de barragens e aterros, canais de drenagem, lagoa de decantação e tratamento de água. Longevidade e estabilidade de estruturas de contenção ao longo do tempo. Riscos amplos Subquestões Evento específico Poços verticais, poço para ventilação, poço interior Galeria de acesso, galeria de mina • Reaterro (enchimento) • Cercada, barreira • Diques • Redução do ângulo de inclinação (reconformação) A céu aberto (Cava) Aberturas Trincheiras Furos de sonda Rebaixamento de lençol Subsidência Minas subterrâneas Infraestrutura Construções e equipamentos • Roubo • Acesso não autorizado Segurança Preparação para respostas de emergência Eliminação de fonte de radiação Quadro 4.5 – Lista de riscos à saúde e à segurança. Fonte: Laurence (2006a). 59 4.6 Avaliação de riscos jurídicos e financeiros no fechamento de mina O fechamento de uma mina é, normalmente, requerido quando a operação deixa de ser viável economicamente, quando o fluxo de caixa está negativo ou quando o valor dos ativos está abaixo das despesas requeridas para continuar com a operação. O objetivo de se garantirem fundos num estágio inicial para o fechamento de mina é se precaver contra o risco de uma empresa, por vontade própria ou por incapacidade, não tomar as medidas necessárias de reabilitação da área minerada devido à falta de recursos (LIMA, 2006). De acordo com Guimarães (2005), o processo e o método para estimar os custos de fechamento devem ser transparentes e de fácil verificação. Alguns países têm-se empenhado para gerenciar os riscos ambientais de empreendimentos de mineração através de diversos meios. Um desses é a utilização de instrumentos econômicos e financeiros instituídos para fazer com que as empresas internalizem seus custos ambientais. Esses instrumentos podem ser implementados na forma de seguros, de fianças, de cartas de créditos, de cauções, de penalidades, etc. Independente disso, uma empresa de mineração deve utilizar provisões contábeis para cobrir os custos de fechamento de mina (LIMA, 2006). No caso de não haver instrumentos de garantia financeira e de provisões para fins de fechamento ou, no caso de tais instrumentos serem insuficientes, a empresa enfrentará problemas jurídicos e financeiros, conforme demonstrado no quadro 4.6. Riscos amplos Subquestões Evento específico Conformidade regulamentar Título (Direito) Governo Segurança/caução Credores Provisão para reabilitação Documentação Empregados Empreiteiros Empresas Governo • Mantém (retém) • Vender (negociar) • Renunciar • Grande • Pequena • Taxas • Royalties Com provisão financeira Sem provisão financeira Reserva de capital Potencial para publicidade negativa e impacto nos negócios Quadro 4.6 – Lista de riscos jurídicos e financeiros. Fonte: Laurence (2006a). 60 4.7 Avaliação de riscos técnicos no fechamento de mina Segundo ANZMEC (2002), o plano de fechamento de mina envolve o planejamento de todas as áreas da mina, identificando-se o processo ideal, considerando-se o processo de consulta e envolvimento das partes interessadas, a provisão e a garantia financeira, verificando-se o estabelecimento de critérios de fechamento (acordado entre as partes) e a liberação legal e técnica das responsabilidades da empresa, quando do cumprimento dos critérios de fechamento de mina. O fechamento de uma mina exige habilidade, experiência operacional e motivação para se conduzir uma operação segura a custo compatível com o orçamento. No planejamento e na implementação do plano de fechamento, deve-se levar em consideração a responsabilidade pela implementação do plano, os recursos necessários para se assegurar a conformidade com o plano, com as exigências de monitoramento e com a manutenção depois da desativação das operações. Para planejar o fechamento de uma mina, deve-se escolher, criteriosamente, uma equipe multidisciplinar. A experiência pessoal dos membros da equipe conta muito, pois as diretrizes para o fechamento, em geral, não são muito claras. Uma equipe inexperiente pode errar grosseiramente na escolha das medidas para reabilitação e na previsão orçamentária, causando grandes prejuízos às empresas (MMSD, 2002a). O quadro 4.7 apresenta uma classificação dos riscos técnicos envolvidos no fechamento de mina. Riscos amplos Subquestões Evento específico Existe plano e data de fechamento Plano de fechamento Não existe plano e data de fechamento Reabilitação progressiva de acordo com o plano de fechamento Gerenciamento Entendimento com a comunidade Equipe de fechamento Ambiental Planejamento Elétrica/Mecânica/Financeiro Exaurido (esgotado) Fontes/Reservas • Acessível para extração futura • Potencial para novas reservas • Esterilizados Não exaurido Quadro 4.7 – Lista de riscos técnicos. Fonte: Laurence (2006a). 61 Uma vantagem em se utilizar essa abordagem descrita é que, dividindo os problemas ou riscos em detalhes, todos os fatores ou problemas que influenciam o fechamento de mina podem ser capturados e analisados devidamente. Segundo De Cicco (2009) é importante documentar cada etapa do processo de gestão de riscos para: Mostrar às partes interessadas que o processo está sendo conduzido adequadamente. Fornecer evidências de uma abordagem sistemática de identificação e de análise de riscos. Possibilitar que as decisões ou os processos sejam analisados criticamente. Possibilitar um registro dos riscos e desenvolver uma base de dados do conhecimento da organização. Fornecer aos responsáveis pela tomada de decisões um plano de gestão de riscos para sua aprovação e posterior implementação. Oferecer um mecanismo e uma ferramenta para a prestação de contas. Facilitar o monitoramento e a análise crítica contínua. Indicar os caminhos para a auditoria. Compartilhar e comunicar informações. Para cada risco identificado, o cadastro de riscos registra: A descrição do risco, suas causas e seus impactos. Um resumo dos controles existentes. Uma avaliação das consequências, se o risco se materializar, e da probabilidade de ocorrerem as consequências dados os controles existentes. A classificação do risco. Uma prioridade geral para o risco. Modelos de registros para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina são apresentados nos ANEXOS I, II, III, IV, V, VI e VII. 62 CAPÍTULO 5 – MATERIAIS E MÉTODOS Neste capítulo são apresentados os materiais e métodos utilizados na realização da tese. 5.1 Materiais A norma ABNT NBR ISO 31000:2009, GESTÃO DE RISCOS. Essa norma foi usada porque propõem princípios, estrutura e processo para gerenciar riscos, além de buscar uma harmonização dos processos de gestão de riscos, tanto em normas atuais quanto em normas futuras. Na referida norma, a gestão de riscos envolve o estabelecimento de uma infraestrutura e cultura apropriadas e a aplicação de um método lógico e sistemático para estabelecer os contextos, bem como para identificar, analisar, avaliar, tratar, monitorar e comunicar os riscos associados a qualquer atividade, função ou processo, de modo a possibilitar às organizações minimizar as perdas e maximizar os ganhos. A norma ABNT NBR ISO/IEC 31010:2012, TÉCNICAS PARA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE RISCOS. Essa norma serve de apoio à ABNT NBR ISO 31000:2009 e foi utilizada para o processo de avaliação de riscos, porque fornece orientações sobre a seleção e aplicação de técnicas sistemáticas para o processo de avaliação de riscos. Matriz de riscos da empresa Vale. A empresa Vale, através da INS-0037, Instrução para Análise e Gerenciamento de Riscos, apresenta uma sistemática de análise das situações de riscos e seus efeitos nas diversas fases do ciclo de vida de seus empreendimentos e apresenta uma matriz de probabilidade/consequência para análise de riscos. Entre as várias matrizes estudadas durante a realização deste trabalho, optou-se pela matriz da Vale, julgadas mais apropriadas por gerarem menor subjetividade na análise. Banco de dados da Mina Carina. A Mina Carina foi usada como um estudo de caso para a aplicação e verificação da efetividade do método de gerenciamento de riscos no planejamento do fechamento de mina. 63 5.2 Métodos O método utilizado nesta pesquisa foi o dedutivo que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes, prediz a ocorrência dos fenômenos particulares. O método dedutivo, de acordo com Pacheco Jr e Pereira (2003), é o método que parte do geral e, a seguir, reduz ao particular com o objetivo de explicar o conteúdo das premissas de pesquisa. A abordagem qualitativa foi selecionada como método de pesquisa, tendo em vista que o estudo tem natureza exploratório-interpretativa, visando a captar através do estudo de caso dados (observações sobre riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina) e secundários (bibliografia). O ordenamento das atividades para se alcançarem os objetivos dessa pesquisa aplicada, de caráter predominantemente qualitativo, seguiu os seguintes procedimentos metodológicos: Revisão da bibliografia relativa ao tema proposto. A finalidade da consulta bibliográfica foi compilar informações de como a questão da gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina é tratado pela legislação, pelas empresas e por diversos autores no Brasil e em alguns países selecionados. Essa etapa serviu, ainda, para a contextualização do problema e para o suporte teórico no desenvolvimento da pesquisa e do método de gerenciamento de riscos no planejamento do fechamento de mina. Leitura e resenha da bibliografia selecionada com intuito de identificar e classificar os principais tipos de riscos relacionados ao planejamento do fechamento de mina. Desenvolvimento do método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. Adaptação do banco de dados da Mina Carina, gerado pela empresa Polaris Metals Pty, para aplicação como estudo de caso e instrumento de investigação. A empresa australiana Polaris Metals Pty Ltda se preparava para fazer o planejamento de lavra da Mina Carina de minério de ferro. Entretanto, para que a empresa Polaris obtivesse a autorização de lavra da Mina, teve como exigência a apresentação de dez documentos ambientais sobre como a Mina Carina seria reabilitada e como se desenvolveria as atividades de fechamento da Mina Carina. Os documentos foram 64 apresentados ao governo australiano como forma de submissão aos trabalhos de lavra e esses serviram de base para uma adaptação e aplicação ao estudo de caso. Redação da tese. 65 CAPÍTULO 6 – DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO PARA O PROCESSO DE GESTÃO DE RISCOS NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DE MINA 6.1 Introdução Para elaboração desse estudo, buscou-se desenvolver um método de análise semiquantitativa de riscos para o fechamento de mina, em que as questões envolvidas, nessa fase da vida de uma mina, sejam mais facilmente identificadas e os riscos individuais ou coletivos sejam quantificados, obedecendo às orientações da norma ABNT NBR ISO 31000:2009 e buscando atender a legislação brasileira para o fechamento de mina, bem como obter as melhores práticas disponíveis. O método proposto é baseado em um conceito de fatores de risco de fechamento de mina que aborda as questões de fechamento de um modo estruturado e sistemático, sendo tal conceito projetado para auxiliar a tomada de decisão no processo de fechamento de mina. Ainda, esse conceito visa a destacar as questões e os riscos principais de fechamento, permitindo à administração e ao gestor concentrar os recursos de forma adequada, apontando para a importância relativa de cada um dos riscos e facilitando as comparações entre áreas diferentes. A norma ABNT NBR ISO 31000 foi adotada porque estabelece princípios, estrutura e um processo para gerenciar qualquer tipo de risco de forma transparente e sistemática em qualquer âmbito ou contexto. Ademais, a ISO 31000 fornece os parâmetros para a gestão de riscos, com os princípios e as diretrizes, e ajuda as organizações de todos os tipos e tamanhos a gerirem seus riscos de forma eficaz. Desta forma, o processo de gestão de riscos apresentado por essa norma pode ser, facilmente, adaptado para a gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. Um método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina é apresentado na figura 6.1. A seguir, são descritos os elementos do processo de gestão de riscos conforme método proposto. 66 Estabelecimento do Contexto no Planejamento do Fechamento de Mina Identificação de Riscos no Planejamento do Fechamento de Mina Análise de Riscos no Planejamento do Fechamento de Mina Avaliação de Riscos no Planejamento do Fechamento de Tratamento de Riscos Figura 6.1 – Processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. Fonte: ABNT NBR ISO 31000:2009, modificado. 67 Monitoramento e Análise Comunicação e consulta Processo de Gestão de Riscos no Planejamento do Fechamento de 6.2 Estabelecimento do contexto na gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina Um plano conceitual de fechamento de mina deve conter informações contextuais e um arcabouço abrangente que ajude na tomada de decisões. Essas informações podem ser obtidas por meio das avaliações dos impactos inerentes ao fechamento de mina, como também por meio do comprometimento com os interessados diretos através de estudos específicos de base social, ambiental e econômica. Para ser eficaz, o plano de fechamento de mina deve ser visto estrategicamente como parte de um contexto de desenvolvimento sustentável (figura 6.2). Informação, coleta de dados, gestão e análise de registros Política Estratégia e contexto de fechamento • • • • • • Objetivos de desempenho, critérios e indicadores Ambiental Social Jurídico e financeiro Técnico Saúde e segurança Uso final do solo Figura 6.2 – Estratégia e contexto de fechamento de mina. Fonte: Australia (2006). As informações contextuais devem incluir uma grande variedade de considerações físicas e sociais, como: a condição do assentamento, a rede de transportes, passivos ambientais existentes, histórico local, localidade e geografia, direito de posse da terra, uso da terra, estado de assentamento/povoamento, geologia, hidrologia, hidrogeologia, população e demografia, composição familiar, densidade e distribuição, línguas, cultura e patrimônio, grupos comunitários, organizações comunitárias, povos indígenas, ocupação econômica e fontes de renda, indústria e produção, agricultura e produção, renda per capita, taxas e padrões de emprego, mineração artesanal (garimpo), instalações educacionais, níveis de alfabetização e de habilidade numérica, habilidades e capacidade vocacionais, instalações de saúde, estatísticas de saúde (incluindo HIV, malária e tuberculose), saúde materna, mortalidade infantil, infraestrutura comunitária, esquemas de planejamento governamental, biodiversidade, passivos sociais existentes, passivos ambientais existentes, passivos 68 econômicos existentes, qualidade da água em superfície e recursos aquíferos, qualidade do ar, valores sociais que requerem proteção, valores ambientais que requerem proteção e valores econômicos que requerem melhorias (ICMM, 2008). 6.2.1 Política de fechamento de mina Uma política de fechamento de mina deve estabelecer, em linhas gerais, os compromissos sobre o processo de fechamento; as estratégias para engajamento dos stakeholders; o processo de gestão de riscos; as medidas para atendimento das exigências normativas; as aspirações sociais e comunitárias; e as expectativas de melhoria contínua de uma companhia de mineração. Uma política de fechamento de mina deve reconhecer que é possível antecipar alguns aspectos do legado de uma mina, logo na sua concepção, de forma a incluir o fechamento como parte de um planejamento geral de uma mina. Para isso, tal política deve identificar riscos e oportunidades, determinar os objetivos e metas a serem atingidos em um uso futuro da área e que essa recuperação atenda aos princípios de desenvolvimento sustentável, bem como aos anseios da comunidade impactada. Normalmente, essa política é baseada em padrões e diretrizes organizacionais e em regulamentações legais. 6.2.2 Objetivos, critérios e indicadores de desempenho O plano de fechamento de mina requer o estabelecimento de um quadro de indicadores que permita medir o desempenho do fechamento e facilitar uma abordagem consistente para sua implementação. O quadro é composto por normas e princípios, objetivos e critérios, que formam a base para a avaliação do plano de fechamento de mina proposto, além de apresentar opções de fechamento e identificação de indicadores chave de desempenho. De um modo geral, tal estrutura deve incluir: Princípios e objetivos da reabilitação, incluindo o uso futuro da área. Requisitos para a desativação. Objetivos e critérios da comunidade. Critérios de acordo. Padrões e critérios relacionados às diversas fases do ciclo de vida da mina. 69 Provisionamento e custeio financeiro. Requisitos legais. Gerenciamento das questões ambientais e socioeconômicas. Considerações de segurança. Tais critérios e indicadores, segundo recomendação da ANZMEC/MCA (2000), devem ser específicos e devem refletir o conjunto de circunstâncias ambientais, econômicas e sociais. Por outro lado, devem ainda ser flexível o suficiente para se adaptar às novas circunstâncias, sem comprometer os objetivos definidos. Entretanto, revisões periódicas desses critérios são necessárias, de forma que esses critérios possam se adequar a possíveis mudanças de contexto. E, por fim, decisões devem ser tomadas embasadas em indicadores ambientais e em produtos de pesquisa científica. 6.2.3 Informação, coleta e análise de dados Ter a informação correta para se tomarem as melhores decisões no planejamento do fechamento de mina requer uma coleta, análise e avaliação dos dados ambientais, sociais e econômicos, que envolvem todo o processo. É importante, nessa etapa, entender os desejos das partes interessadas, incluindo as expectativas da comunidade, para uso futuro da área, do patrimônio e dos valores culturais, da legislação governamental e de outras exigências legais. A identificação precoce de lacunas de dados ajuda a orientar os programas de pesquisa e desenvolvimento necessários para demonstrar a eficácia das estratégias de reabilitação. O plano de fechamento de mina deve fornecer um resumo dos detalhes sobre o ambiente físico e biológico que possam comprometer os resultados no processo de fechamento de mina, incluindo as seguintes informações: Condições climáticas locais e possíveis alterações climáticas futuras devidas às atividades mineiras. Condições ambientais locais: topografia, geologia, hidrogeologia, dados sísmicos e geotécnicos. Informação local e regional sobre a flora, fauna, comunidades ecológicas e seus habitats. 70 Detalhes das fontes hídricas locais: tipos, localização, extensão, hidrologia, qualidade, quantidade e valores ambientais (ecológicos e usos benéficos). Caracterização do solo e material estéril: solubilidade, mobilidade e biodisponibilidade de materiais perigosos (metais pesados, substâncias radioativas), estrutura do solo e erodibilidade, tipo e tamanho médio dos blocos de material estéril. 6.3 Processo de avaliação de riscos (identificação de riscos, análise de riscos e avaliação de riscos) O processo de avaliação de riscos passa pela Norma ISO/IEC 31010:2012, que apresenta 31 ferramentas para identificação, análise e avaliação de riscos, como citado no capítulo 3 subitem 3.3.1.2. Neste sentido, uma equipe-chave de análise de riscos deve ser formada, com autorização e apoio da alta direção, para conduzir o processo de gestão de riscos. A equipe deve ser multidisciplinar e composta por pessoal das áreas envolvidas sob a orientação de um facilitador, que terá o papel de conduzir as atividades de gerenciamento de riscos no planejamento do fechamento de mina. A identificação de riscos, geralmente, é feita em sessões de brainstorming. A maioria das informações de riscos é obtida a partir de operadores experientes e especialistas no assunto, que, em conjunto compreendem as atividades a serem realizadas e seus potenciais impactos sobre a empresa. As partes interessadas externas, geralmente, são consultadas, quando a situação de risco tem uma manifestação mais ampla. O quadro 6.1 fornece algumas ponderações sugeridas para a definição de objetivos sociais. Tais ponderações podem ser usadas para iniciar a formulação de objetivos específicos e quantificáveis para ajudar no processo de identificação de riscos no planejamento do fechamento de mina. O quadro não é completo e a ele se devem adicionar elementos ou dele os apagar, para adequá-lo às condições locais da operação que está sendo considerada. 71 Categoria de fechamento Pobreza Fome Educação Igualdade de sexo Mortalidade infantil Saúde materna HIV/AIDS, malária e outras doenças Sistema de saúde Fornecimento de água Mercado de trabalho Mercado de trabalho para jovens Empregabilidade Tecnologia Lazer Infraestrutura Questões indígenas Cultural Criação de empresas Pergunta aberta típica Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na redução da pobreza? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na redução da fome? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na educação? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na igualdade de sexo? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na mortalidade infantil? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser atingidos na saúde materna? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na gestão de HIV/AIDS, malária e outras doenças? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na gestão do sistema de saúde? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados no fornecimento de água? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados no mercado de trabalho? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados no mercado de trabalho para jovens? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na empregabilidade da comunidade? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados com aplicação de tecnologia? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados em lazer? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados na adaptação da infraestrutura? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos são inerentes às questões indígenas? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos são inerentes ao patrimônio cultural da comunidade? Quais valores ou ganhos sociais e socioeconômicos podem ser alcançados por meio da criação de empresas? Quadro 6.1 – Apoio ao brainstorming sobre definição de objetivos sociais de fechamento. Fonte: ICMM (2008). O quadro 6.2 fornece algumas ponderações sugeridas para a definição de objetivos ambientais. Tais ponderações podem ser usadas para iniciar a formulação de objetivos específicos e quantificáveis para ajudar no processo de identificação de riscos no planejamento do fechamento de mina. O quadro não é completo e a ele devem-se adicionar elementos ou dele os apagar, para adequá-lo às condições locais da operação que está sendo considerada. 72 Categoria de fechamento Recursos da terra Recursos hídricos Flora terrestre Fauna terrestre Flora aquática Fauna aquática Drenagem ácida de rocha Ar Ruídos Rejeitos Disposição de estéril de desenvolvimento Barragem de rejeitos Cava final após exaustão Obras subterrâneas Lixiviação em pilha Poços de rebaixamento Desvio de rios Estação de tratamento de esgoto Estação de tratamento de água Alojamento de empreiteiras Edificações da mina e vila de mineração Pergunta aberta típica Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes aos recursos da terra? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes aos recursos hídricos? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à flora terrestre? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à fauna terrestre? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à flora aquática? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à fauna aquática? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à drenagem ácida de rocha? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes ao ar? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes aos ruídos? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes aos rejeitos? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à disposição de estéril de desenvolvimento? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à barragem de rejeitos? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à cava final após exaustão? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes às obras subterrâneas? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à lixiviação em pilha? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes aos poços de rebaixamento? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes ao desvio de rios? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à estação de tratamento de esgoto? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes à estação de tratamento de água? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes ao alojamento de empreiteiras? Quais valores, ganhos ou perdas ambientais são inerentes às edificações da mina e vila de mineração? Quadro 6.2 – Apoio ao brainstorming sobre definição de objetivos ambientais de fechamento. Fonte: ICMM (2008). Para facilitar e para orientar o processo de identificação de riscos, compilaram-se diversos formulários de gestão de riscos que podem ser usados como checklists para identificação de potenciais riscos de fechamento de mina. Esses formulários são apresentados nos anexos I a VI. Embora a norma recomende que a planilha para avaliação de riscos deva ser de livre escolha da empresa, de forma a atender suas necessidades, sugeriu-se, nesse estudo, uma matriz (tabela 6.1) para análise de riscos de fechamento de mina por entender que esta matriz poderá causar menor erro de subjetividade no momento da análise dos riscos identificados. Junto à planilha, apresentaram-se, também, a tabela 6.2, a qual é relativa às categorias ou à pontuação de probabilidade de análise de riscos; e a tabela 6.3, a qual trata das categorias de consequências para análise de riscos. As tabelas 6.2 e 6.3 constituem a base de comparação e de apoio para que a equipe de análise faça a pontuação de forma 73 mais adequada e próxima da realidade da mina avaliada. As tabelas 6.1 a 6.4 adotadas são referentes às Instruções para Análise e Gerenciamento de Riscos (VALE INS-0037, 2008), desenvolvidas pela Companhia Vale para gestão de riscos, julgadas mais apropriadas por gerarem menor subjetividade na análise. Uma equipe-chave de análise deverá taxar as subquestões envolvidas, no fechamento de mina, por meio da matriz de riscos (tabela 6.1). A escala da matriz é crescente, em relação às duas variáveis envolvidas: probabilidade de ocorrência do evento e consequências desse evento caso ele venha a ocorrer. Para classificar os riscos, o usuário deverá, primeiro, encontrar o descritor da consequência que melhor se adapta à situação de risco identificada. Para isso, deverá usar a tabela 6.3 como apoio a essa definição de valor. Em seguida, a equipe definirá a probabilidade com que os riscos identificados poderão ocorrer, tendo por base a tabela 6.2. O produto dessas duas variáveis é o nível de risco para cada subquestão envolvida. O nível de risco encontrado, na matriz de riscos, está associado a uma regra de decisão (tabela 6.4). Esse número, na tabela, definirá se o risco deverá ser tratado ou não. Também definirá o prazo para a implantação das medidas de tratamento do risco. Ao final, tem-se uma relação classificatória prioritária de todos os riscos identificados para o fechamento de mina. Ainda, ao final, pode-se perceber questões mais importantes (maior nível de risco) e questões menos importantes (nível de risco menor). 74 Tabela 6.1 – Matriz de análise de riscos para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. Fonte: VALE – INS-0037 (2008), modificado. MATRIZ DE PROBABILIDADE/ CONSEQUÊNCIA C 32 Catastrófica O N 16 Crítica S E 8 Grave Q U 4 Moderada E N 2 Leve C I A S 64 32 8 24 40 12 Remota 2 160 48 16 4 96 6 Pouco Provável 3 80 128 20 32 10 75 416 208 64 104 16 26 52 Ocasional Provável Frequente 5 8 13 PROBABILIDADE NÍVEL DE RISCO MUITO ALTO (>150) ALTO (80 a 150) MÉDIO (25 a 79) BAIXO (10 a 24) MUITO BAIXO (4 a 9) 256 Tabela 6.2 – Categorias de probabilidade para análise de riscos de fechamento de mina. Fonte: VALE – INS-0037 (2008), modificado. Categoria (Pesos) REMOTA (2) POUCO PROVÁVEL (3) OCASIONAL (5) PROVÁVEL (8) FREQUENTE (13) Descrição Ocorrência não esperada ao longo do projeto de fechamento da mina (X < 1/100 ANOS). 01 (uma) ocorrência ao longo do projeto de fechamento (1/10 ANOS > X > 1/100 ANOS). No máximo 01 (uma) ocorrência a cada dez anos (1/ANO > X > 1/10 ANOS). 01 (uma) ocorrência ao longo de um ano (1/ANO). Mais de uma ocorrência ao longo de um ano (X > 1/ANO). 76 Tabela 6.3 – Categorias de consequências para análise de riscos de fechamento de mina. Fonte: VALE – INS-0037 (2008), modificado. Categoria (pesos) LEVE (2) MODERADA (4) GRAVE (8) Saúde Segurança Meio Ambiente Reputacional Desconfortos sem transtornos à saúde Acidentes que demandam somente primeiros socorros. Impacto ambiental não significativo. Repercussão limitada: situações de baixo impacto nas quais há o conhecimento público, mas não existe interesse público. Geralmente, essas ocorrências não ultrapassam os limites internos da empresa e/ou de suas unidades, mas não se deve descartar a possibilidade de evoluírem para a categoria moderada. Impacto pontual (uma casa, uma família) Até US 10 mil Doenças ocupacionais sem afastamento (com restrição, com tratamento médico). Acidentes sem afastamento (com restrição, com tratamento médico). Dano ambiental restrito à área do empreendimento, afetando ecossistemas comuns. Repercussão Local: Envolve algum interesse público local; alguma atenção política local e/ou mídia local; com aspectos adversos em potencial para as operações. Caso haja agravamento, pode evoluir para a categoria grave. Impacto Local (bairro, condomínio) Acima de US 10mil até US 100 mil. Doenças ocupacionais com afastamento Acidentes com afastamento. Dano ambiental restrito à área do empreendimento, afetando ecossistemas comuns que abrigam espécies raras e/ou ameaçadas ou afetando ecossistemas raros e/ou ameaçados. Repercussão Regional: situação de médio impacto com risco iminente de envolvimento da mídia e autoridades regionais. É comum existir interesse público regional; ampla repercussão na mídia regional; alguma cobertura da mídia nacional; e atenção política regional. Pode envolver instância adversa de grupos de ação e/ou governo local. Caso haja agravamento da situação, pode evoluir para a categoria crítica. Impacto regional, ou seja, na área de influência direta (município, distrito) Acima de US 100 mil até US 1 milhão. 77 Comunidade e Social Financeiro CRÍTICA (16) Doenças ocupacionais incapacitantes e permanentes ou que gerem 01 (uma) fatalidade Acidentes incapacitantes e permanentes ou 01 (uma) fatalidade. Dano ambiental que alcança áreas externas à instalação, afetando ecossistemas comuns. CATASTRÓFICA (32) Doenças ocupacionais que gerem mais de 01 (uma) fatalidade, decorrente de situação aguda ou crônica. Acidente resultando em mais de 01 (uma) fatalidade. Dano ambiental que alcança áreas externas à instalação, afetando ecossistemas comuns que abrigam espécies raras e/ou ameaçadas ou afetando ecossistemas raros e/ou ameaçados. Repercussão Nacional: situação de alto impacto por envolver interesse público nacional; cobertura na mídia nacional; repercussão junto a autoridades e representantes governamentais nos níveis nacional e/ou regional; com medidas restritivas ao negócio da EMPRESA. Também costuma haver mobilização de grupos de ação. Caso haja agravamento da situação, pode evoluir para a categoria catastrófica. Repercussão Internacional/ Nacional: situação gravíssima em que o negócio e a imagem da EMPRESA estão seriamente ameaçados nacional e/ou internacionalmente, e há grande probabilidade de expressivo prejuízo financeiro, social e de imagem para a empresa. Envolve: atenção pública nacional e/ou internacional; cobertura da mídia nacional/internacional; repercussão junto a autoridades e representantes governamentais nos níveis nacionais e/ou internacional. 78 Impacto nas áreas de influência direta e indireta Acima de US 1 milhão até US 10 milhões. Impacto que extrapola as áreas de influência direta e indireta. Acima de US 10 milhões. Tabela 6.4 – Critérios de decisão para análise de riscos de fechamento de mina. Fonte: VALE – INS-0037 (2008), modificado. Categoria de Riscos Região da Matriz Descrição Critérios para implementação das Recomendações/Sugestões Riscos nessa categoria devem ser eliminados. As recomendações Implementação imediata Muito Alto são consideradas obrigatórias e de Vermelha responsabilidade do supervisor do planejamento do fechamento de mina. Riscos nessa categoria devem ser minimizados. As recomendações Implementação com prazo Alto são consideradas obrigatórias e de máximo de 1 (um) ano. Laranja responsabilidade do supervisor do planejamento do fechamento de mina Pode-se conviver com cenários nesse nível de risco, mas esse Implementação com prazo Médio deve ser reduzido em longo prazo. máximo de 3 (três) anos. Amarela As recomendações são consideradas obrigatórias e de responsabilidade da gerência da área. Cenários com nível de riscos considerado tolerável, mas que Implementação caso o pode ser reduzido em caso de custo seja baixo com baixo Baixo Verde-Claro medidas com baixo investimento. esforço. As sugestões não são consideradas obrigatórias. A avaliação da implementação é de responsabilidade da gerência da área. Cenários com nível de risco Muito tolerável e não há necessidade de Não há obrigatoriedade, Baixo independente do custo. Verde-Escuro medidas para redução. A avaliação da implementação é de responsabilidade da gerência da área • Recomenda-se que os riscos classificados como médio, alto e muito alto devem ter sua classificação de probabilidade e consequência reavaliada, considerando que as recomendações propostas serão implementadas. Os critérios de riscos separam os riscos que necessitam de tratamento daqueles que não necessitam. Isso gera resultados simples, porém não reflete as incertezas da estimativa dos riscos, nem a definição da fronteira entre os riscos que requerem tratamento e aqueles que não o requerem. Quando o risco se aproxima de um nível intolerável, espera-se que esse seja reduzido, a menos que o custo para reduzi-lo seja muito desproporcional aos benefícios obtidos. Já, quando os riscos se encontram próximos ao nível insignificante, 79 recomenda-se que providências sejam tomadas para reduzi-los apenas quando os benefícios superam os custos da redução. Os julgamentos de valor estão implícitos em diversos critérios, que dependem da familiaridade de cada indivíduo com o risco, da confiança na eficácia dos controles de riscos existentes, bem como da percepção dos riscos e benefícios da atividade. O mesmo risco pode parecer insignificante para uma pessoa e muito alto para outra. Portanto, os critérios devem tentar representar uma visão objetiva, levando em conta as necessidades de todos que forem afetados, bem como as pessoas de fato sujeitas ao risco. Embora seja específico de cada empresa, apresenta-se, a seguir, o processo de comunicação (6.4) e monitoramento de riscos (6.5), recomendação presente no método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. 6.4 Comunicação dos riscos Embora o risco possa ser avaliado numericamente como o produto de duas grandezas – a probabilidade de um evento e a gravidade das suas consequências – um risco também é sempre uma questão de valor (LONKA et. al., 2002). Os valores humanos e a concepção de riscos desempenham um papel significativo em relação à percepção de riscos aceitáveis. A percepção do risco também é influenciada pela maneira como o risco é conhecido, seja através de uma fonte confiável de dados sobre como o risco se constitui, seja através da imagem que a mídia projeta sobre os riscos. Portanto, a comunicação de riscos, que é a transmissão de informações sobre os riscos e também os resultados dos riscos e dos processos de gestão das partes envolvidas, representa um elemento essencial no processo de gestão de riscos. O nível e a extensão das comunicações às partes a que se destinam tais comunicações devem ser determinados anteriormente e devem ser efetivados, principalmente, quando a análise de riscos é iniciada. A comunicação de riscos eficaz é um complemento essencial para qualquer processo de gestão de riscos e deve ser projetado para gerenciar a comunicação com as comunidades circunvizinhas, governo e outras partes interessadas. 80 As comunicações vão desde uma simples reunião de equipe com os empregados para se destacar um perigo no local de trabalho e para discutir como administrá-lo. Também para desenvolver uma estratégia de comunicação de risco para lidar com uma vasta gama de públicos intervenientes internos e externos em um risco mais complexo para a saúde, associado com as operações da empresa. A comunicação de riscos eficaz é uma parte fundamental da estratégia de se construir a confiança da comunidade e de melhorar a compreensão da comunidade dos riscos relacionados à mineração e ao processamento de minerais. Comunicação de risco é a troca deliberada de informações sobre a natureza, a gravidade ou a aceitabilidade de riscos e sobre as decisões tomadas para combatê-los. O processo de comunicação de riscos deve envolver uma apresentação franca e aberta de toda informação relevante ao grupo de stakeholders e isso deve ser feito de forma compreensível por todos. Os sete passos de comunicação descritos na figura 6.3 são genéricos para todas as abordagens de comunicação de risco. Para uma situação de riscos simples, os passos são, geralmente, intuitivos. Para situações de riscos mais complexos, as medidas terão de ser trabalhadas sistematicamente, com mais rigor e com um prazo maior, para que a comunicação de risco tenha resultado eficaz. Por exemplo, em situações em que as emissões das instalações tenham potencial para afetar a saúde das pessoas que vivem nas comunidades adjacentes, uma gama mais ampla de partes interessadas deverá ser informada, incluindo toda a comunidade, o governo, a mídia, os altos funcionários do governo e os representantes de ONGs. Em tais situações, há uma grande variedade de abordagens de comunicação que podem ser aplicadas. No entanto, um quadro de gestão global de riscos e de princípios de comunicação deve ser aplicado em todos esses casos. 81 Foco técnico Objetivos da comunicação Estabelecimento Estabelecimento do do contexto contexto Análise dos Stakeholders Identificação de riscos Identificação de riscos Preparar as mensagens Análise de riscos Escolher o método mais apropriado para comunicação Análise de riscos Avaliação de riscos Tratamento de riscos Tratamento de riscos Estrutura da comunicação de risco Estrutura da análise de risco Início do processo de gerenciamento de Preparar plano de comunicação de riscos Implementação do Plano Monitoramento e análise crítica Avaliação Figura 6.3 – Estrutura e etapas para a comunicação de riscos no contexto da gestão de riscos. Fonte: Australia (2007). 6.5 Monitoramento e revisão da gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina Para que o desenvolvimento de uma gestão de riscos de fechamento de mina seja eficaz, é necessário criar um processo de auditoria, de revisão e de monitoramento, processo esse que garanta que a avaliação e os controles estejam efetivamente gerando os efeitos esperados. Tal processo deverá permitir também que o planejamento para o fechamento possa ser reconsiderado em cada etapa do ciclo de vida útil da mina, permitindo uma identificação e uma acomodação de alterações durante esse período. Assim, o plano conceitual de fechamento de mina poderá sofrer alterações; poderá ser melhorado e, ainda, poderá ser adaptado até os últimos anos de vida de uma mina. 82 CAPÍTULO 7 – ESTUDO DE CASO: MINA CARINA – POLARIS Para aplicação e verificação da efetividade do método de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina, utilizaram-se os dados da Mina Carina, localizada na Austrália, pertencente à empresa Polaris (POLARIS, 2011a,b). A empresa Polaris apresentou ao governo australiano cerca de dez documentos como forma de submissão às atividades de lavra da Mina Carina. Entre esses documentos, pode-se destacar: CMCP (Plano Conceitual de Fechamento da Mina Carina); PEMP (Plano de Gestão Ambiental); Análise Ambiental Pública; Plano de Gestão da Vegetação; Plano de Gestão da Fauna; entre outros documentos. Os dados para aplicação e verificação da efetividade do método foram gerados por uma equipe de gestão de riscos da própria empresa. Esses dados foram adaptados e utilizados no método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina proposto neste estudo. Cabe ressaltar que não houve alteração na classificação/lista original de priorização de riscos gerada pela empresa Polaris. A seguir, apresentam-se as informações referentes ao planejamento do fechamento de mina da Mina Carina. 7.1 ESTABELECIMENTO DO CONTEXTO NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENDO DA MINA CARINA 7.1.1 O Projeto Mina Carina Polaris Metals Pty Ltda (Polaris) é a detentora da jazida de minério de ferro Carina, localizada cerca de 60 km a nordeste de Koolyanobbing na Austrália Ocidental (figuras 7.1, 7.2, 7.3 e 7.4). O desenvolvimento da Mina Carina teve início em fevereiro de 2011 e o projeto envolve os seguintes componentes: lavra a céu aberto em cava única, britagem e peneiramento a seco, pilha de estocagem de minério bruto, depósitos controlados de estéril e minério britado, áreas de infraestrutura (oficinas, reservatórios de combustível, geradores de energia, barragem de água, armazenamento de suprimentos, estradas para transporte de carga e outras vias de acesso, alojamento) e transporte do minério de ferro por cerca de 50 km em ferrovia (figuras 7.5 e 7.6). A taxa de produção prevista é de 4 milhões de toneladas 83 por ano para uma reserva de 21,4 milhões de toneladas de minério de ferro com uma vida útil esperada da mina de 5 anos. Figura 7.1 – Mapa da Austrália. Fonte: Infoescola (2012). 84 ‘ Figura 7.2 – Localização da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a). Figura 7.3 – Localização da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a). 85 Figura 7.4 – Localização da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a). 86 Figura 7.5 – Estrutura Geral da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a). 87 Figura 7.6 – Contorno da cava da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a). 88 7.1.2 Plano estratégico preliminar de fechamento da Mina Carina A Mina Carina recebeu a aprovação do Ministério de Meio Ambiente da Austrália em 27 de janeiro de 2011. O item 12 da Declaração Ministerial 852 daquele país exige a elaboração de um projeto preliminar estratégico específico de fechamento de mina. O planejamento para o fechamento da Mina Carina começou nos estágios iniciais do projeto e está integrado aos processos de desenvolvimento da mina. O planejamento para o fechamento é consistente com o quadro estratégico para fechamento de mina da Austrália e Nova Zelândia Minerais e Energia/Conselho de Minerais da Austrália (ANZMEC/MCA, 2000). 7.1.3 Política ambiental da Polaris O plano de fechamento da Mina Carina foi desenvolvido com foco na política ambiental da Polaris Metals, que tem como princípio alcançar o melhor equilíbrio entre desenvolvimento econômico e proteção do ambiente. A política ambiental da Polaris estabelece como objetivos: Respeitar e, quando necessário, exceder as exigências legais, regulamentares, códigos e normas a que se subscreve. Promover a conscientização ambiental entre os seus colaboradores e fornecedores de forma a ampliar a compreensão de seus papéis e de suas responsabilidades na gestão ambiental. Desenvolver o seu pessoal e prover recursos para atender seus objetivos ambientais. Assegurar que as questões ambientais estejam integradas ao processo de tomada de decisão em todos os aspectos de exploração e de desenvolvimento do projeto. Identificar e avaliar os efeitos ambientais potenciais de suas atividades e gerenciar o risco ambiental. Melhorar, monitorar, auditar e rever, regularmente, o desempenho ambiental e na prática, sempre que possível, buscar reduzir a produção de resíduos, reutilizando-o e o reciclando. Manter em todos os momentos um relacionamento aberto e honesto com todas as partes interessadas. 89 Promover o progresso e apresentar seu desempenho ambiental por intermédio de relatórios públicos dirigidos ao governo e à comunidade. 7.1.4 Contexto ambiental A lavra de minério de ferro de Carina é composta por uma cava de aproximadamente 40 ha de área. O estéril da mina é transportado e depositado em uma pilha controlada de estéril ou utilizado como material de empréstimo para a construção da infraestrutura da mina. Cerca de 31 milhões de metros cúbicos de estéril serão lavrados ao longo da vida do projeto. O depósito de estéril exigido tem uma área de aproximadamente 120 ha. A caracterização do estéril da mina é um componente importante no planejamento de lavra. A caracterização da litologia da mina mostra que o perfil oxidado, composto com material não formador de ácido, estende-se a uma profundidade aproximada de 80 m da superfície. Isso indica que aproximadamente 60% do estéril da mina estão na zona oxidada. A composição geral dos estéreis da mina é: 1. Xistos máficos 60% em volume 2. BIF/chert/ultramáficos 38% em volume 3. Zona de falha de contato/transição 2% em volume Dados de sondagem mostram que a principal fonte de material, potencialmente formador de ácido, está na zona de contato em torno de uma falha no lado ocidental do corpo de minério. O sulfeto não oxidado é encontrado abaixo da base de intemperismo (aproximadamente 80 m da superfície). A espessura desse material é variável, mas tem espessura média de 5 m ao longo do mergulho da falha. A exposição da parede da cava é de 1.100 m, que resultará em aproximadamente 275.000 m3 de material com características de geração de ácido. Outras zonas de menor montante, também geradoras de ácido, correspondem a 2% do percentual total da mina. Como o material gerador de ácido está localizado nos níveis inferiores da mina, a escavação dos níveis superiores da mina produzirá estéreis oxidados suficientes para construir uma célula de encapsulamento para os referidos níveis inferiores. 90 7.1.5 Fechamento da Mina Carina O plano conceitual de fechamento da Mina Carina (CMCP) é um documento separado do PEMP (Plano de Gestão Ambiental). O plano conceitual de fechamento da Mina Carina descreve estratégias para a reabilitação final e para o fechamento da mina até a conclusão das operações. As estratégias são destinadas a assegurar o fechamento ao longo do tempo. O CMCP é consistente com o quadro estratégico para fechamento de mina, a ANZMEC/MCA (2000). No final da vida útil da mina, os cinco passos básicos envolvidos, no plano de fechamento, são: A remoção e eliminação de toda infraestrutura que não é necessária para o uso futuro. A remediação de qualquer contaminação do solo ou água. Reabilitação de qualquer degradação restante. Manutenção e monitoramento pós-fechamento. Renúncia da área/resgate da garantia financeira. O plano conceitual de fechamento será revisto a cada dois anos, durante as operações no sítio, para se garantir que ele permaneça preciso e pertinente. Revisões posteriores conterão informações mais detalhadas de infraestruturas reais, de reabilitação, de estratégias de fechamento e de estimativa de custo de fechamento. Haverá, também, informações de como o projeto se moverá através da sua vida operacional. O quadro 7.1 apresenta as áreas da empresa com as responsabilidades para a implantação e para o gerenciamento do PEMP. O objetivo do plano de fechamento de mina é o de estabelecer, ao final, um local seguro, uma paisagem estável, com vegetação autossustentável, semelhante à paisagem circundante (figuras 7.7, 7.8 e 7.9). De acordo com o plano de fechamento, todas as instalações do local e a infraestrutura não apropriada ao uso futuro da área serão desmontadas e a área será reabilitada no fechamento da mina. No entanto, durante a vida da mina, a Polaris deverá consultar as partes interessadas para identificar e para garantir qual infraestrutura poderá ser útil, após a conclusão das operações. 91 PESSOAL Gerente de mina RESPONSABILIDADES • Nomear o gerente de meio ambiente para supervisionar a implementação do PEMP. • Assegurar que o PEMP foi efetivamente aplicado. • Análise do desempenho PEMP em uma base anual. • Revisão ambiental qualquer de não conformidade e ações de remediação. • Alocar recursos para o gerenciamento das questões ambientais. Gerente • Assegurar que os empreiteiros cumpram os requisitos ambientais. • Implantar o PEMP no local. departamental • Fazer a ligação do gerente de meio ambiente e/ou diretor ambiental local sobre as questões ambientais e com as não conformidades. • Assegurar que o pessoal do local esteja ciente de suas obrigações ambientais. Gerente • Tomar ações corretivas para resolver não conformidades. • Responsabilizar-se pelo cumprimento do PEMP. ambiental • Implementar um programa apropriado de introdução ambiental ao pessoal local para auxiliar a implementação do programa. • Elaborar um relatório ambiental anual, com o escritório ambiental, para relatórios externos. • Fazer a ligação com as autoridades locais para manter uma comunicação eficaz. • Fazer a ligação com o público geral e com as partes interessadas, conforme necessário. Escritório • Rever e atualizar o PEMP e a documentação associada. • Garantir que o PEMP seja implementado e os registros exigidos sejam mantidos. ambiental local • Elaborar o relatório ambiental trimestral para o gerente de mina. • Elaborar o relatório ambiental anual com o gerente de meio ambiente para comunicação externa. • Certificar que as comunicações apropriadas estão em vigor entre a Polaris e as empreiteiras. • Confirmar que todos os funcionários foram instruídos antes de começar o trabalho. • Implementar programas de auditoria e monitoramento ambiental. Empregados • Garantir que os arquivos e registros ambientais sejam mantidos. • Os funcionários devem realizar todas as atividades de uma forma ambientalmente responsável durante o decurso de seu emprego. • Os supervisores devem conscientizar todos os funcionários de suas responsabilidades para a gestão ambiental. • Os funcionários deverão cumprir as instruções ambientais relacionadas às práticas de trabalho. • Os funcionários terão de relatar e de corrigir práticas e condições ambientais inaceitáveis, quando elas forem identificadas. • Os funcionários são incentivados a se apropriar sobre as questões ambientais através da participação na tomada de decisão, devendo assumir responsabilidades em todas as áreas de seu local de trabalho. Empreiteiros • Os empreiteiros são obrigados a respeitar as normas ambientais da Polaris e também são obrigados a respeitar os compromissos assumidos no PEMP. • Os gerentes departamentais devem assegurar que todos os empreiteiros, em suas áreas de responsabilidade, estejam informados das suas responsabilidades ambientais e de que seu desempenho é monitorado. Quadro 7.1 – Responsabilidades ambientais na Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a). 92 O gerenciamento da vegetação foi preparado para reduzir os impactos potenciais para a vegetação e para a flora, nas áreas operacionais do projeto de minério de ferro Carina. É uma exigência de que as ações contidas no procedimento sejam respeitadas durante a vida da mina pelo pessoal do sítio. O manejo da vegetação é importante pelos seguintes motivos: 1. Reduzir o desmatamento para o mínimo necessário durante as atividades no local. Essa minimização de desmatamento também reduz, posteriormente, a área necessária para as medidas de reabilitação. 2. Gerenciar a remoção de solo, estocando-o e retornando-o após as atividades mineiras. A camada superficial de solo é um fator crítico para que a reabilitação seja bem sucedida nas áreas degradadas, pois contém a maioria das sementes, micro-organismos do solo, matérias orgânicas e nutrientes. 3. Controlar a infestação de plantas daninhas que têm potencial para sufocar as outras plantas e assumir o local onde está havendo a regeneração ou a reabilitação da planta nativa. 4. Apoiar programas de reabilitação em áreas concluídas. Reconhece-se que haverá impactos às vegetações devido à degradação ocasionada pelas operações mineiras. Os impactos potenciais à vegetação incluem: Perda direta ou degradação. Impacto sobre espécies específicas significativas de flora ou comunidades vegetais. Impacto indireto sobre a vegetação adjacente devido à poeira e ao uso de água salina. Propagação de ervas daninha. Erosão do solo sobre áreas desmatadas. Variação dos cursos de águas naturais e caminhos de fluxos. 93 Figura 7.7 – Vista aérea da área de Carina. Fonte: Polaris Metals (2011b). Figura 7.8 – Vista aérea da área de Carina. Fonte: Polaris Metals (2011b). 94 Figura 7.9 – Vista da parte inferior da área de Carina. Fonte: Polaris Metals (2011b). Os objetivos do gerenciamento da vegetação são: 1. Minimizar o desmatamento e a degradação nas áreas do projeto. 2. Proteger a vegetação e a flora, cuja preservação é de grande importância. 3. Maximizar benefícios no uso das áreas desmatadas. 4. Conservar a camada superficial de solo disponível para uso em futuras reabilitações. 5. Monitorar a efetividade dos compromissos, dos procedimentos e dos controles. 6. Rever resultados de análises para garantir que as medidas de gerenciamento continuem a ser relevantes para as operações. Foi preparado um sistema de gestão da fauna para se reduzirem os impactos potenciais em áreas operacionais do projeto de minério de ferro Carina. É uma exigência que as ações previstas sejam respeitadas pelo pessoal que trabalha no local. O manejo da fauna é importante pelos seguintes motivos: 1. Minimizar o impacto direto na remoção do habitat e atropelamento por veículos. 95 2. Reduzir o impacto indireto minimizando barreiras ao movimento dos predadores selvagens. Os objetivos para a gestão da fauna são: Minimizar os impactos potenciais das atividades do local sobre as espécies da fauna. Minimizar os impactos potenciais para as espécies de importância de conservação (incluindo fauna terrestre e subterrânea). 96 CAPÍTULO 8 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE RISCOS (IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE RISCOS) NO PLANEJAMENTO DO FECHAMENTO DA MINA CARINA E ANÁLISE DOS RESULTADOS 8.1 Identificação, análise e avaliação de riscos A gestão ambiental dos impactos associados com a proposta de fechamento de mina é baseada em uma estrutura de gestão de riscos. Os principais objetivos da gestão de riscos, quando se utiliza esse método, incluem: A identificação das atividades (questões-chave) as quais podem resultar em um risco para empresa. A qualificação do nível relativo de cada risco apontado O desenvolvimento de processos para a redução do risco inerente a um nível aceitável (risco residual). A documentação desses processos para que se torne parte dos relatórios anuais do programa ambiental da companhia, enquanto o projeto estiver em operação. O monitoramento da eficácia desses processos. A análise de risco foi idealizada como uma peça fundamental para o projeto Carina. A classificação prioritária de riscos do plano conceitual de fechamento da mina Carina mostra que quase todas as atividades do sítio têm um nível inerente de risco de médio ou baixo. A Polaris considera que os níveis de risco, geralmente baixos, são devidos à natureza e à escala do projeto, bem como: As operações estão restritas à lavra e ao processamento físico do minério (britagem e peneiramento), não sendo necessária a concentração do minério e a sua consequente geração e contenção de rejeito de barramento. O minério de ferro extraído é essencialmente atóxico, e como não há concentração do minério, não existem grandes preocupações com a saúde humana. A escala de degradação ambiental é relativamente pequena. 97 Os impactos mais evidentes estão concentrados em áreas menores, normalmente confinados ao limite da mina e, nesse caso, eles poderão ser facilmente controlados ou remediados. As espécies de vegetação afetadas pelo projeto são amplamente representadas na região. Não existem espécies da flora ou fauna em extinção na área do projeto, o que elimina o risco de maiores consequências ou catástrofes a determinados fatores ambientais. A área está localizada em uma região isolada – não há moradores vizinhos, num raio de 20 km da mina, e a cidade mais próxima da mina está a 100 km. A mina está localizada em um ambiente árido (menos de 300 mm de chuva por ano), sem corpos de água superficial permanente nas proximidades. Isso resulta em baixo risco de contaminação de água e nenhum risco para áreas úmidas. As águas subterrâneas no local, são profundas (aproximadamente 60 m abaixo da superfície), naturalmente com elevada salinidade (aproximando da água do mar). Isso resulta em baixo risco de contaminação para outros usos. Os principais riscos identificados pela empresa Polaris durante o processo de planejamento conceitual de fechamento da Mina Carina são listados no quadro 8.1. Esse quadro apresenta, ainda, uma coluna indicando os impactos potenciais gerados pelos riscos identificados; uma coluna com as principais causas (fonte geradora dos riscos); os valores da probabilidade e das consequências dos riscos e uma coluna com o nível de riscos para cada subquestão envolvida. Esses valores são resultados da utilização da matriz de riscos (tabela 6.1) e das tabelas auxiliares (tabelas: 6.2, 6.3 e 6.4), propostas no Capítulo 6, como método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina. 98 Nº Subquestões Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Impactos Potenciais (Consequências) P C Nível de Risco Causas Potenciais GERAL 1 Biodiversidade, fauna, flora, ervas daninhas, patrimônio, água superficial Supressão da vegetação (cava, depósito de estéril, estradas, infraestrutura) • Perda de vegetação • Perda de habitat de animais • Interferência em sítios do patrimônio aborígene • Alteração das linhas de drenagem e 13 desvio dos fluxos de água superficiais • Geração de poeira em áreas expostas/ movimentação de equipamentos Carreamento de sedimentos pelas águas de chuva • Erosão em áreas degradadas • Sedimentação em canais das águas superficiais 3 Qualidade do ar (poeira) Emissão de poeira em áreas degradadas • Deposição de poeira sobre vegetação 4 Solo, água superficial Derramamento menor de combustível e hidrocarbonetos • Contaminação localizada do solo e das águas superficiais Acidente de veículo • Derramamento de hidrocarboneto (combustível/óleo) • Derramamento de produtos (minério, explosivos, combustível) 2 Água superficial 5 Solo, água superficial 6 Vegetação, flora, solo 7 Vegetação, flora, solo Uso de água salina como • Impacto para a vegetação adjacente e supressor de poeira em para o solo com água salina áreas ativas Água salina em barragem, • Impacto na vegetação adjacente e no canalização com água salina solo através de excesso de infiltração, transbordamento, derramamento. • Fatalidades na fauna 4 52 MÉDIO • Desmatamento • Perturbação de Máquinas/Veículos • Trincheiras de drenagem causando perda de vegetação em áreas onde a vegetação é dependente de um escoamento superficial natural • Deposição de poeira sobre a vegetação • Contenção ineficiente de sedimentos 20 • Drenagem ineficiente BAIXO 5 4 5 2 • Detonação, movimentação de veículos e máquinas, carga/descarga de 10 caminhões, estoques BAIXO 8 2 • Derramamento no abastecimento/transferência 16 • Falha/rompimento de mangueira de máquinas BAIXO • Vazamento em oleodutos • Rompimento de tanque de combustível • Tombamento de caminhão 5 4 20 BAIXO 5 2 • Pulverização de água salina através de caminhão 10 • Fluxo de água salina por meio de chuva em áreas degradadas BAIXO 8 2 16 BAIXO • Transbordamento, infiltração a partir da lagoa • Vazamento/ruptura de tubulação • Incapacidade dos animais se afastarem da barragem Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos). Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 99 Nº Subquestões Risco Identificado Impactos Potenciais (Atividade fator de (Consequências) impacto) 8 Qualidade do ar (emissão Produtos de combustão pelo • Emissão de gases de efeito estufa de gás efeito estufa) escapamento de motores P C Nível de Risco Causas Potenciais 13 2 • Motores necessários para fonte de alimentação e utilização de máquinas 26 MÉDIO 5 2 10 BAIXO EXPLORAÇÃO 9 Fauna terrestre Furos de sonda como armadilhas para animais • Subsidência • Lesão/fatalidade para animais 10 Biodiversidade, vegetação, flora, ervas daninhas fauna terrestre, patrimônio, água superficial Degradação superficial por trincheiras e outras atividades de exploração • Poeira • Perda de vegetação • Ervas daninha colonizando áreas 8 desmatadas • Desvio de fluxos naturais de águas de chuva 11 Água superficial, solo Detritos e restos de perfuração de sondagem e amostras de solo • Contaminação do solo e das águas superficiais 12 Fauna terrestre, solo, água Poços de perfuração superficial 13 Amenidade visual 14 Solo, água superficial 15 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre • Afogamento/lesão de animais • Contaminação do solo devido à baixa qualidade da água • Transbordamento de poços Armazenamento de sacos de • Estética amostragem no campo 8 5 13 Derramamento de hidrocarboneto durante a exploração • Contaminação do solo e das águas superficiais Propagação de fogo por atividades de trabalho com alta temperatura • Queimadas 8 5 • Solo macio/oxidado • Furos desobstruídos • Remoção da camada de vegetação 2 16 BAIXO 2 16 BAIXO 2 10 BAIXO 2 26 MÉDIO 2 16 BAIXO 16 80 ALTO • Perfuração • Uso de vários tipos de perfuratrizes com limpeza a água • Animais presos em poços • Água salina • Volume do poço insuficiente • Exigência para que o saco seja deixado próximo ao furo para análise posterior se necessário • Óleo e graxa de motores • Utilização de graxa para lubrificar varas e hastes • Derramamento de óleo e graxa • Atividades de trabalho com alta temperatura • Escapamento de veículos e equipamentos com alta temperatura ao alcance de arbusto e mato seco Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos). Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 100 Nº Subquestões Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Impactos Potenciais (Consequências) P C Nível de Risco 2 10 BAIXO Causas Potenciais LAVRA A CÉU ABERTO 16 Vegetação, flora, solo Desmatamento para a • Camada de solo disponível, abertura da cava e insuficiente para reabilitação desenvolvimento da pilha de estéril 17 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre Desmatamento para operações de lavra a céu aberto 18 Água subterrânea, fauna subterrânea Operações de lavra a céu aberto, escavação, detonação Impacto sobre retirada de água subterrânea local/regional 19 Água subterrânea, fauna subterrânea, fauna terrestre Impacto ao longo do tempo após o fechamento da cava 20 Vegetação, flora, solo Descarga de água salina 21 Águas subterrâneas, fauna subterrânea, fauna terrestre 5 • Perda de algumas espécies prioritárias na área do projeto e muitas outras no entorno da região • Perda de pequena quantidade de 13 espécies na área da cava • Perda de uma população de centopeia SRE • Impacto direto no habitat subterrâneo devido à abertura da cava • Diminuição do nível do lençol freático, que pode impactar a fauna 5 subterrânea na área • Mudança na qualidade das águas subterrâneas • Alteração nos níveis e na qualidade das águas subterrâneas (principalmente salinidade e pH) • Atração de animais (nativos e introduzidos) para fonte de água • Instabilidade das paredes da cava • Armadilhas para animais • Uso de terceiros • Impacto sobre a vegetação e solo Geração de drenagem ácida • Aumento da acidez das águas de mina nas paredes da cava subterrâneas por meio da cava • Falta de consciência da necessidade de estoque de solo • Solo superficial utilizado em outras aplicações • Camada superior de solo coberto por outro material • Algumas plantas prioritárias estão em um local que não pode ser evitado (dentro do limite da cava) 2 26 MÉDIO • Abertura da cava • Retirada de água 4 20 BAIXO 13 4 52 MÉDIO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO • Concentração de salinidade por evaporação • Lagoa permanente da cava • Instabilidade das paredes da cava • Talude da cava íngreme • Acesso para cava • Falha em tubulação, vazamentos, derramamentos • Paredes da cava contendo altos níveis de exposição de sulfeto, provocando aumento no processo de intemperismo Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos). Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 101 Nº Subquestões 22 Amenidade visual 23 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre 24 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Impacto visual do depósito de estéril sobre a paisagem Impactos Potenciais (Consequências) P C Nível de Risco 3 2 6 MUITO BAIXO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO • Terraplenagem e compactação insuficiente para estabilizar as encostas • Vegetação insuficiente para ajudar a estabilizar as encostas • Estéril da mina ruim para estabilidade do solo • Poeira nos locais de trabalho e revegetação adjacente 8 4 32 MÉDIO • Áreas expostas, carregamento de caminhões, pilhas de estocagem, transferência de minério entre correias transportadoras, britagem e peneiramento 8 2 16 BAIXO 8 2 16 BAIXO 4 32 MÉDIO 2 10 BAIXO • Estética Geração de drenagem ácida • Drenagem ácida no depósito de de mina a partir do estéril da estéril impactando: a vegetação mina circundante, o solo e a água superficial Erosão das faces do banco • Sedimentos em torno da vegetação e da pilha de estéril nos sistemas de água superficial • Impacto visual Causas Potenciais • Observação desagradável do local de disposição da pilha de estéril • Estéril de mina sulfetado colocado de forma incorreta no depósito de estéril ROM OF MINE – BRITAGEM, PENEIRAMENTO, PILHA DE ESTOCAGEM 25 Qualidade do ar (poeira), vegetação, flora Poeira de britadores, pilha de estocagem, correias transportadoras e peneiras TRANSPORTE DE MINÉRIO 26 Fauna terrestre Transporte de minério por caminhões para ramal ferroviário • Lesão/morte de animais atropelados ao longo da estrada 27 Uso da terra Uso de terras de terceiros para estrada • Risco para terceiros • Colisão de animais com caminhões de transporte de minério • Acesso de terceiros nas faixas laterais da estrada RAMAL FERROVIÁRIO 28 Qualidade do ar (poeira), vegetação, flora Poeira na área do ramal ferroviário • Poeira para outros usuários da ferrovia • Poeira para trabalhadores e vegetação adjacente 8 • Poeira das pilhas de estocagem, do carregamento de vagões e áreas de trabalho. USINA DE ENERGIA 29 Solo, água superficial Derramamento de hidrocarbonetos durante a transferência de combustível • Contaminação do solo e das águas superficiais 5 • Tubulações, flanges e válvulas com vazamento • Derramamento Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos). Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 102 Nº Subquestões Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Impactos Potenciais (Consequências) P 30 Solo, água superficial Vazamento de hidrocarbonetos a partir de tanques de armazenamento, tubulações (incluindo dutos subterrâneos) • Contaminação do solo e das águas superficiais 31 Solo, água superficial Contaminação PCB (hidrocarboneto) • Contaminação do solo e das águas superficiais C Nível de Risco 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO Causas Potenciais • Tubulações, flanges e válvulas danificadas • Falha da válvula de desligamento automático causando transbordamento do tanque • Transformadores INSTALAÇÕES PARA OFICINA 32 Solo, água superficial Contaminação por armazenamento de hidrocarboneto (combustível e óleo) nas áreas de trabalho • Contaminação do solo e das águas superficiais 33 Solo, água superficial Contaminação por lavagem de máquinas e equipamentos • Contaminação de solo e das águas superficiais • Derramamento e vazamento em container rompido ou danificado 5 2 10 BAIXO • Transbordamento do sistema coletor 2 10 BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 5 INSTALAÇÕES PARA EXPLOSIVOS 34 Solo, água superficial Derramamento de ANFO • Contaminação do solo e das águas superficiais • Combustão • Transferir o produto para armazenagem e do depósito para o caminhão GESTÃO DE ESTÉRIL 35 Disposição/deposição Local do depósito de estéril de estéril e lixo • Estéril/lixo soprado pelo vento • Odor • Atração de animais 8 2 16 BAIXO • Afastamento inadequado do depósito e operações de aterro • Deposição de estéril inadequado no depósito • Não cobertura do lixo depositado 36 Deposição de estéril • Perigo em situação de incêndio • Fonte de poluição se descartado incorretamente 3 2 6 MUITO BAIXO • Grande estoque de pneus usados • Eliminação inadequada Descarte de pneus Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos). Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 103 Nº Subquestões P C Nível de Risco • Contaminação do solo e das águas superficiais 5 2 10 BAIXO • Deposição em área inapropriada 38 Paisagem, vegetação, Reabilitação ineficaz flora, fauna terrestre • Revegetação pobre • Taxa de crescimento lenta 5 4 20 BAIXO • Falta de chuva • Demora para reabilitação • Ciclone • Uso de espécies inadequadas 39 Paisagem, vegetação, Erosão no depósito de flora, fauna terrestre estéril • Sedimentos na água superficial • Incapacidade de estabilizar estéril do depósito 8 2 16 BAIXO • Falta de sistema de controle das águas de chuva • Falta de vegetação nas encostas 40 Paisagem, vegetação, Pastagem de animais nas flora, fauna terrestre áreas de reabilitação • Animais nativos e selvagens pastando em áreas recém-reabilitadas e pisoteio das encostas 8 4 32 MÉDIO • Incapacidade da planta de se estabelecer • Erosão de encostas 37 Depósito de estéril Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Deposição de solo contaminado Impactos Potenciais (Consequências) Causas Potenciais REABILITAÇÃO Quadro 8.1 – Processo de avaliação de riscos no planejamento do fechamento da Mina Carina (identificação e análise de riscos). Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 104 8.2 Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da mina Carina Pela análise dos riscos identificados é possível obter uma lista de classificação prioritária de riscos (quadro 8.2), ou seja, quais riscos precisam ser tratados e qual a urgência para a implantação de medidas de tratamento. Risco Inerente Nº Risco Identificado (Atividade fator de impacto) ALTO 80 MÉDIO 52 MÉDIO 52 MÉDIO 32 28 Poeira de britadores, pilha de estocagem, correias transportadoras e peneiras Poeira na área do ramal ferroviário MÉDIO 32 40 Pastagem de animais nas áreas de reabilitação MÉDIO 32 8 Produtos de combustão pelo escapamento de motores MÉDIO 26 13 Armazenamento de sacos de amostragem no campo MÉDIO 26 17 Desmatamento para operações de lavra a céu aberto MÉDIO 26 2 Carreamento de sedimentos pelas águas de chuva BAIXO 20 5 Acidente de veículos BAIXO 20 18 BAIXO 20 38 Operações de lavra a céu aberto, escavação, detonação e impacto do rebaixamento do lençol subterrâneo local/regional Reabilitação ineficaz BAIXO 20 4 Derramamento menor de combustível e hidrocarboneto BAIXO 16 7 Água salina em barragem, canalização com água salina BAIXO 16 15 1 19 25 Propagação de fogo em atividades de trabalho com alta temperatura Desmatamento para as atividades de lavra (cava, depósito de estéril, estradas, infraestrutura) Impacto ao longo do tempo após o fechamento da cava Nível de Risco Degradação superficial por trincheiras e outras atividades de BAIXO 16 exploração Quadro 8.2 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 10 105 Risco Inerente Nº Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Nível de Risco 11 Detritos e restos de perfuração de sondagem e amostras de solo BAIXO 16 14 Derramamento de hidrocarboneto durante a exploração BAIXO 16 26 Transporte de minério por caminhões para ramal ferroviário BAIXO 16 27 Uso de terras de terceiros para estrada BAIXO 16 35 Local do depósito de estéril BAIXO 16 39 Erosão no depósito de estéril BAIXO 16 3 Emissão de poeira proveniente de áreas degradadas BAIXO 10 6 Uso de água salina como supressor de poeira em áreas ativas BAIXO 10 9 Furos de sonda se tornam armadilhas para animais BAIXO 10 12 Poços de perfuração BAIXO 10 16 BAIXO 10 20 Desmatamento para a abertura da cava e desenvolvimento da pilha de estéril Descarga de água salina BAIXO 10 21 Geração de drenagem ácida de mina nas paredes da cava BAIXO 10 23 Geração de drenagem ácida de mina a partir do estéril da mina BAIXO 10 24 Erosão das faces do banco da pilha de estéril BAIXO 10 29 Derramamento de hidrocarbonetos durante a transferência de combustível Vazamento de hidrocarbonetos a partir de tanques de armazenamento, tubulações (incluindo dutos subterrâneos) Contaminação PCB BAIXO 10 BAIXO 10 BAIXO 10 Contaminação por armazenamento de hidrocarboneto (combustível e óleo) nas áreas de trabalho Contaminação por lavagem de máquinas e equipamentos BAIXO 10 BAIXO 10 30 31 32 33 Quadro 8.2 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 106 Risco Inerente Nº 37 Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Deposição de solo contaminado Nível de Risco BAIXO 10 MUITO 6 BAIXO MUITO 6 34 Derramamento de ANFO BAIXO MUITO 6 36 Descarte de pneus BAIXO Quadro 8.2 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina Carina. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 22 Impacto visual do depósito de estéril sobre a paisagem A parte mais importante do processo de gestão de riscos é o uso de medidas para gerenciar os riscos significativos. O tratamento de riscos implica identificar e implementar uma série de medidas de controles para diminuir o nível de risco analisado, a fim de levarem esses valores a um nível tolerável pela empresa. As medidas de controle de riscos são, geralmente, descritas como sendo um sistema de engenharia, como um processo, como um procedimento, como uma ferramenta ou outra atividade organizacional. A função de tais medidas é a de impedir que as consequências das ameaças ocorram. A execução eficaz de controle de riscos, geralmente, requer a designação de um proprietário de controle e de monitoramento de desempenho. As responsabilidades dos proprietários de controle devem ser documentadas. O quadro 8.3 apresenta as medidas de controle para os riscos associados ao planejamento do fechamento da Mina Carina e apresenta, também, uma nova análise de riscos com o risco residual após implantação das medidas de tratamento. 107 Nº Subquestões GERAL 1 Biodiversidade, fauna, flora, ervas daninhas, patrimônio, água superficial 2 3 4 Água superficial Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Impactos Potenciais (Consequências) Carreamento de sedimentos pelas águas de chuva • Erosão em áreas degradadas • Sedimentação em canais de águas Derramamento menor de combustível e hidrocarboneto Solo, água superficial Acidente de veículo Vegetação, flora, solo Uso de água salina como supressor de poeira em áreas ativas 10 BAIXO 16 BAIXO • Derramamento no abastecimento/transferência • Falha/rompimento de mangueira de máquinas • Vazamento em oleodutos • Manutenção/inspeção de equipamentos • Implementação de procedimentos de limpeza em derramamentos • aplicação de agentes de biorremediação no local • Construção de diques de captação de hidrocarbonetos • Rompimento de tanque de combustível • Tombamento de caminhão • Limite de velocidade no local • Procedimento de resposta a emergência • Pulverização de água salina através de caminhão • Fluxo de água salina por meio de chuva em áreas degradadas • Utilizar barras de desvio para espalhar água nas estradas • Utilizar barramentos/poços para contenção de águas de chuva 5 2 e das águas superficiais • Derramamento de hidrocarboneto 4 20 BAIXO 2 10 BAIXO • Impacto para a vegetação adjacente e para o solo com água salina 5 • Implantar mecanismos de compensação • Realizar levantamento do patrimônio • Implementar o gerenciamento da vegetação • Utilizar spray de água em áreas ativas para supressão de poeira • Inspeção e manutenção dos mecanismos de drenagem e decantação • Spray de água em áreas ativas • Reabilitação progressiva das áreas degradadas 20 BAIXO 5 Tratamento do Risco (Medidas de Controle) • Contenção ineficiente de sedimentos • Drenagem ineficiente • Detonação, movimentação de veículos e máquinas, carga/descarga 4 2 Causas Potenciais • Desmatamento • Perturbação devida a máquinas/veículos • Interrupção de escoamento de água superficial e consequente 52 perda de vegetação nessas áreas MÉDIO • Deposição de poeira sobre a vegetação • Contaminação localizada do solo (combustível/óleo) • Derramamento de produtos (minério, explosivos, combustível) 6 Nível de Risco 5 8 5 C Supressão da vegetação (cava, • Perda de vegetação depósito de estéril, estradas, • Perda de habitat de animais infraestrutura) • Interferência em sítios do patrimônio aborígene • Alteração das linhas de drenagem e desvio dos fluxos de água 13 4 superficial • Geração de poeira nas áreas expostas e de movimentação de equipamentos superficiais Qualidade do ar (poeira) Emissão de poeira proveniente • Deposição de poeira sobre de áreas degradadas vegetação Solo, água superficial P Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 108 NP NC Risco Residual 5 2 10 BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO Nº 7 8 Subquestões Vegetação, flora, solo Qualidade do ar (emissão de gás efeito estufa) EXPLORAÇÃO 9 Fauna terrestre Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Água salina em barragem, canalização com água salina Impactos Potenciais (Consequências) 12 Fauna terrestre, solo, água superficial adjacente e para o solo através de excesso de infiltração, transbordamento/derramamento 8 • Fatalidades na fauna Produtos de combustão pelo escapamento de motores • Emissão de gases de efeito Furos de sonda se tornam armadilhas para animais • Subsidência • Lesão/fatalidade para animais estufa • Poeira • Perda de vegetação • Ervas daninha podem colonizar áreas desmatadas • Desvio de fluxos naturais de águas de chuva Detritos e restos de perfuração de • Contaminação do solo e das sondagem e amostras de solo águas superficiais 13 Amenidade visual Poços de perfuração Armazenamento de sacos de amostragem no campo C • Impacto para a vegetação Degradação superficial por 10 Biodiversidade, vegetação, flora, ervas trincheiras e outras atividades de daninhas fauna terrestre, exploração patrimônio, água superficial 11 Água superficial, solo P • Afogamento/lesão de animais • Contaminação do solo devido à baixa qualidade da água • Transbordamento de poços 2 13 2 5 2 Nível de Risco Causas Potenciais • Transbordamento, infiltração a partir da lagoa 16 • Vazamento/ruptura de BAIXO tubulação • Incapacidade dos animais de se afastarem da barragem • Motores necessários para fonte 26 de alimentação e utilização de MÉDIO máquinas 10 BAIXO • Solo macio/oxidado • Furos desobstruídos • Remoção da camada de vegetação 8 2 8 2 5 2 • Estética 13 2 16 BAIXO Tratamento do Risco (Medidas de Controle) NC Risco Residual 5 2 10 BAIXO 8 2 16 BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO • Uso de forros na lagoa • Inspeção nas linhas de tubulação • Layout compacto da mina, alojamento da vila próxima a fim de se reduzirem a rota de transporte e o uso de veículos • Colares de PVC sobre os furos • Tapar os buracos imediatamente após o uso • Jato de água • Levantar a lâmina da máquina para minimizar a degradação • Reabilitação progressiva • Perfuração • Coletar todo material em sacos e remover do local ou enterrar o • Uso de vários tipos de material nos poços de perfuração perfuratrizes com limpeza a água • Animais não conseguem sair do • Suavizar as paredes dos poços para poço permitir a saída de animais 10 • Água salina • Manter a borda livre durante a BAIXO perfuração • Volume do poço insuficiente • Reabilitação de poços • Exigência para que o saco seja • Usar saco de calico (tecido) deixado próximo ao furo para • Não usar saco em todos os furos 26 análise posterior, se necessário • Todos os sacos serão coletados e os MÉDIO locais reabilitados na conclusão do programa 16 BAIXO Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 109 NP Nº Subquestões 14 Solo, água superficial Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Derramamento de hidrocarboneto durante a exploração Impactos Potenciais (Consequências) P C • Contaminação do solo e das águas superficiais 8 15 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre Propagação de fogo em atividades de trabalho com alta temperatura 2 Nível de Risco Tratamento do Risco (Medidas de Controle) NP NC Risco Residual 3 2 6 MUITO BAIXO 80 ALTO • Atividades de trabalho com alta • Necessidade de autorização para temperatura trabalho com alta temperatura • Escapamento de veículos e • Manutenção/Inspeção de veículos e equipamentos com alta máquinas temperatura ao alcance de • Resposta de emergência arbusto e mato seco 3 2 6 MUITO BAIXO 10 BAIXO • Falta de consciência da necessidade de estoque de solo • Solo superficial utilizado em outras aplicações • Camada superior de solo coberto por outro material 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 4 12 BAIXO 16 BAIXO • Queimadas 5 16 Causas Potenciais • Óleo e graxa de motores • Utilização de graxa para lubrificar varas e hastes • Derramamento de óleo e graxa • Limpar derramamentos • Remover áreas de solos contaminados LAVRA A CÉU ABERTO 16 Vegetação, flora, solo 17 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre 18 Água subterrânea, fauna subterrânea Desmatamento para a abertura da cava e desenvolvimento da pilha de estéril • Camada de solo disponível, insuficiente para reabilitação Desmatamento para operações de lavra a céu aberto • Perda de algumas espécies prioritárias na área do projeto. Muitas outras em torno da região • Perda de pequena quantidade 13 2 de espécies na área da cava • Perda de uma população de centopeia SER • • Impacto direto ao habitat (ecológico) subterrâneo devido à abertura da cava • Diminuição do nível do lençol 5 4 freático que pode impactar a fauna subterrânea na área • Mudança na qualidade das águas subterrâneas Operações de lavra a céu aberto, escavação, detonação Impacto sobre retirada de água subterrânea local/regional 5 2 26 MÉDIO • Algumas plantas prioritárias • Implementar mecanismos de estão em um local que não pode compensação para se garantir que ser evitado (dentro do limite da somente as áreas necessárias sejam cava) apuradas • Abertura da cava • Retirada de água 20 BAIXO • Estoque de solo • Monitorar o nível do lençol freático e a população da fauna subterrânea em torno do local durante a vida da mina • Investigar a possibilidade de reinjeção de água, se os impactos significativos forem detectados Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 110 Nº Subquestões Risco Identificado (Atividade Impactos Potenciais fator de impacto) (Consequências) 19 Água subterrânea, fauna Impacto ao longo do tempo após o • Alteração nos níveis e na subterrânea, fauna fechamento da cava qualidade das águas terrestre subterrâneas (principalmente salinidade e PH) • Atrair animais (nativos e introduzidos) para fonte de água • Instabilidade das paredes da cava • Armadilha para animais • Uso de terceiros 20 Vegetação, flora, solo Descarga de água salina • Impacto sobre a vegetação e solo Geração de drenagem ácida de 21 Águas subterrâneas, fauna subterrânea, fauna mina nas paredes da cava terrestre • Aumento da acidez das águas subterrâneas por meio da cava 22 Amenidade visual • Estética Impacto visual do depósito de estéril sobre a paisagem P 13 4 5 5 3 23 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre 24 Biodiversidade, vegetação, flora, fauna terrestre • Drenagem ácida no depósito de estéril impactando: a vegetação circundante, o solo e a água superficial Erosão das faces do banco da pilha • Sedimentos em torno da de estéril vegetação e nos sistemas de água superficial • Impacto visual Geração de drenagem ácida de mina a partir do estéril da mina C 5 5 2 Nível de Risco • Concentração de salinidade por evaporação • Lagoa permanente da cava • Instabilidade das paredes da cava 52 • Talude da cava íngreme MÉDIO • Acesso para cava 10 BAIXO 2 10 BAIXO 2 6 MUITO BAIXO 2 10 BAIXO 2 Causas Potenciais 10 BAIXO Tratamento do Risco (Medidas de Controle) • Furos para monitorar o nível do lençol freático e qualidade das águas subterrâneas ao longo do tempo • Retenção de rampas de acesso e saída para animais • Falha em tubulação, vazamentos, derramamentos • Inspeção de tubulação • Paredes da cava contendo altos níveis de exposição de sulfeto, provocando aumento no processo de intemperismo • Monitorar mudanças na qualidade das paredes da cava ao longo do tempo • Observação desagradável do local de disposição da pilha de estéril • Isolamento do local do depósito de estéril • Parametrização da topografia da pilha • Vegetação do local • Estéril de mina sulfetado colocado de forma incorreta no depósito de estéril • Encapsular o estéril sulfetado no depósito de estéril • Terraplenagem e compactação insuficiente para estabilizar as encostas • Revegetação insuficiente para ajudar a estabilizar as encostas • Estéril da mina ruim para estabilidade do solo • Reabilitação progressiva • Implantação de sistema de drenagem na base da pilha visando à estabilidade do talude • Utilização de estéril rochoso (se disponível) para aumentar a estabilidade do depósito de estéril Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 111 NP NC Risco Residual 13 2 26 MÉDIO 3 2 6 MUITO BAIXO 5 2 10 BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO Nº Subquestões Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Impactos Potenciais (Consequências) ROM OF MINE – BRITAGEM, PENEIRAMENTO, PILHA DE ESTOCAGEM Poeira de britadores, pilha de 25 Qualidade do ar • Poeira nos locais de trabalho (poeira), vegetação, estocagem, correias e revegetação adjacente flora transportadoras e peneiras TRANSPORTE DE MINÉRIO Transporte de minério por 26 Fauna terrestre caminhões para ramal ferroviário 27 Uso da terra RAMAL FERROVIÁRIO 28 Qualidade do ar (poeira), vegetação, flora USINA DE ENGERGIA 29 Solo, água superficial Uso de terras de terceiros para estrada • Lesão/morte de animais atropelados ao longo da estrada • Risco para terceiros NP NC Risco Residual • Sprays de água em áreas de trabalho • Sprays de água em sistemas de transporte • Transportadores e pontos de transferência de minério fechados 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 4 • Áreas expostas, carregamento de caminhões, pilhas de estocagem, transferência de 32 minério entre correias MÉDIO transportadoras, britagem e peneiramento 8 2 • Colisão de animais com caminhões de transporte de minério • Limitar velocidade nas estradas 16 BAIXO 8 2 16 BAIXO • Acesso de terceiros nas faixas laterais da estrada • Colocar sinalização nas estradas • Poeira das pilhas de estocagem, do carregamento de vagões e áreas de trabalho • Sprays de água nas áreas de trabalho • Sprays de água nos sistemas de transporte, transportadores e pontes de transferência de minério fechadas • Tubulações, flanges e válvulas com vazamento • Derramamento • Avental de concreto e cárter sobre a área de carregamento para conter vazamentos • Treinar fornecedores de combustíveis para procedimentos e operação 8 Poeira na área do ramal ferroviário • Poeira para outros usuários da ferrovia • Poeira para trabalhadores e 8 vegetação adjacente 4 Derramamento de hidrocarbonetos • Contaminação do solo e das durante a transferência de águas superficiais combustível Vazamento de hidrocarbonetos a partir de tanques de armazenamento, tubulações (incluindo dutos subterrâneos) Tratamento do Risco (Medidas de Controle) Nível de Risco 5 30 Solo, água superficial Causas Potenciais C P 2 32 MÉDIO 10 BAIXO • Contaminação do solo e das águas superficiais 5 2 10 BAIXO • Tubulações, flanges e válvulas danificadas • Falha da válvula de desligamento automático causando transbordamento do tanque • Tanque de armazenamento de combustíveis em áreas compatíveis com a norma • Manutenção e inspeção regular das válvulas e linhas de desligamento automático Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 112 Nº Subquestões 31 Solo, água superficial Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Contaminação PCB (hidrocarboneto) Impactos Potenciais (Consequências) P C Nível de Risco • Contaminação do solo e das águas superficiais • Transformadores 5 2 10 BAIXO INSTALAÇÕES PARA OFICINA 32 Solo, água superficial Contaminação por armazenamento • Contaminação do solo e das de hidrocarboneto (combustível e águas superficiais óleo) nas áreas de trabalho 33 Solo, água superficial Contaminação por lavagem de máquinas e equipamentos • Contaminação de solo e das águas superficiais Derramamento de ANFO • Contaminação do solo e das águas superficiais • Combustão Causas Potenciais 5 2 10 BAIXO 5 2 10 BAIXO Tratamento do Risco (Medidas de Controle) • Coletor de aço em torno de todos os transformadores e carcaça de aço em volta de todos os transformadores para que possam ser transportados • Derramamento e vazamento em • Tanque de armazenamento container rompido ou (forrado) ou áreas delimitadas em danificado conformidade com a norma • Drenagem no chão da oficina e outras áreas delimitadas para um depósito onde é feita a transferência por bomba para um separador de óleo • Transbordamento do sistema coletor • Inspeção e manutenção do sistema • Transferir o produto para armazenagem e do depósito para o caminhão • Só manusear material pessoal com informações adequadas e limpar vazamentos NP NC Risco Residual 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 2 2 4 MUITO BAIXO PAIOL DE EXPLOSIVOS 34 Solo, água superficial 3 2 6 MUITO BAIXO Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 113 Nº Subquestões GESTÃO DE ESTÉRIL 35 Disposição/deposição de estéril e lixo 36 Deposição de estéril 37 Depósito de estéril Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Local do depósito de estéril Descarte de pneus Deposição de solo contaminado Impactos Potenciais (Consequências) • Estéril/lixo soprado pelo vento • Odor • Atração de animais • Perigo em situação de incêndio • Fonte de poluição se o material for descartado incorretamente P C Nível de Risco 8 2 16 BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO • Contaminação do solo e das águas superficiais Reabilitação ineficaz 40 Paisagem, vegetação, flora, fauna terrestre Erosão no depósito de estéril Pastagem de animais nas áreas de reabilitação 2 • Revegetação pobre • Taxa de crescimento lenta 5 39 Paisagem, vegetação, flora, fauna terrestre • Sedimentos na água superficial • Incapacidade de estabilizar estéril do depósito • Animais nativos e selvagens pastando em áreas recém-reabilitadas e pisoteio das encostas • Afastamento inadequado do depósito e operações de aterro • Disposição de estéril inadequado • Não cobertura do lixo depositado • Grande estoque de pneus usados • Eliminação inadequada • Deposição em área inapropriada 5 REABILITAÇÃO 38 Paisagem, vegetação, flora, fauna terrestre Causas Potenciais 8 8 4 2 4 10 BAIXO 20 BAIXO 16 BAIXO Tratamento do Risco (Medidas de Controle) • Deposição controlada de estéril na pilha e lixo enterrado junto com estéril da mina pelo menos uma vez na semana • Retornar a fornecedores sempre que possível • Usar pneus usados para delinear o depósito de estéril e cobertura com material estéril • Usar pneus usados como barreiras de segurança • Enterrar o restante dos pneus em aterro apropriado • Pequenas áreas de contaminação de solo para ser remediada no local • Grandes áreas, volume de solo contaminado a ser removido para instalações dedicadas a biorremediação (se necessário) sobre os estéreis do depósito • Falta de chuva • Demora para reabilitação • Ciclone • Uso de espécies inadequadas • Pesquisas sobre espécies adequadas e melhores épocas do ano para, se atingirem melhores resultados de reabilitação • Falta de sistema de controle das águas de chuva • Falta de vegetação nas encostas • Projeto de controle de águas pluviais (durante a construção e final) sobre o depósito de estéril • Incapacidade da planta de se estabelecer 32 MÉDIO • Erosão de encostas • Monitorar a área do depósito de estéril em relação à pastagem, se necessário instalar barreiras (cercas) Quadro 8.3 – Tratamento de riscos no planejamento do fechamento da Mina CARINA. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 114 NP NC Risco Residual 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 2 2 4 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO 3 2 6 MUITO BAIXO O quadro 8.4 apresenta a lista de priorização dos riscos com o risco residual após implementação das medidas de tratamento. O risco residual é o risco que continua existindo depois que as opções de tratamento tiverem sido identificadas e que os planos de tratamento tiverem sido implementados. É importante que as partes interessadas e os responsáveis pela tomada de decisões estejam cientes da natureza e da extensão do risco residual. Por essa razão, o risco residual deve ser documentado, monitorado e analisado criticamente. Risco Inerente Nº Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Nível de Risco 52 MUITO BAIXO BAIXO 10 MÉDIO 52 MÉDIO 26 MÉDIO 32 BAIXO 10 28 Poeira de britadores, pilha de estocagem, correias transportadoras e peneiras Poeira na área do ramal ferroviário MÉDIO 32 BAIXO 10 40 Pastagem de animais nas áreas de reabilitação MÉDIO 32 6 8 Produtos de combustão pelo escapamento de motores MÉDIO 26 MUITO BAIXO BAIXO 13 Armazenamento de sacos de amostragem no campo MÉDIO 26 17 Desmatamento para operações de lavra a céu aberto MÉDIO 26 2 Carreamento de sedimentos pelas águas de chuva BAIXO 20 5 Acidente de veículos BAIXO 18 38 Operações de lavra a céu aberto, escavação, detonação e impacto do rebaixamento do lençol subterrâneo local/regional Reabilitação ineficaz 4 Derramamento menor de combustível e hidrocarboneto 15 1 19 25 Propagação de fogo em atividades de trabalho com alta temperatura Desmatamento para as atividades de lavra (cava, depósito de estéril, estradas, infraestrutura) Impacto ao longo do tempo após o fechamento da cava Risco Residual ALTO 80 MÉDIO 16 20 MUITO BAIXO MUITO BAIXO MUITO BAIXO BAIXO 10 BAIXO 20 BAIXO 12 BAIXO 20 6 BAIXO 16 MUITO BAIXO BAIXO Quadro 8.4 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina Carina após tratamento dos riscos. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 115 6 6 6 6 10 Nº Risco Identificado (Atividade fator de impacto) Risco Inerente Nível de Risco BAIXO 16 7 Água salina em barragem, canalização com água salina 10 BAIXO 16 BAIXO 16 14 Degradação superficial por trincheiras e outras atividades de exploração Detritos e restos de perfuração de sondagem e amostras de solo Derramamento de hidrocarboneto durante a exploração BAIXO 16 26 Transporte de minério por caminhões para ramal ferroviário BAIXO 27 Uso de terras de terceiros para estrada 35 Risco Residual BAIXO 10 6 16 MUITO BAIXO MUITO BAIXO MUITO BAIXO BAIXO 10 BAIXO 16 BAIXO 10 Local do depósito de estéril BAIXO 16 6 39 Erosão no depósito de estéril BAIXO 16 3 Emissão de poeira proveniente de áreas degradadas BAIXO 10 MUITO BAIXO MUITO BAIXO BAIXO 10 6 Uso de água salina como supressor de poeira em áreas ativas BAIXO 10 BAIXO 10 9 Furos de sonda se tornam armadilhas para animais BAIXO 10 6 12 Poços de perfuração BAIXO 10 16 BAIXO 10 20 Desmatamento para a abertura da cava e desenvolvimento da pilha de estéril Descarga de água salina BAIXO 10 21 Geração de drenagem ácida de mina nas paredes da cava BAIXO 10 MUITO BAIXO MUITO BAIXO MUITO BAIXO MUITO BAIXO BAIXO 23 Geração de drenagem ácida de mina a partir do estéril da mina Erosão das faces do banco da pilha de estéril BAIXO 10 Derramamento de hidrocarbonetos durante a transferência de combustível Vazamento de hidrocarbonetos a partir de tanques de armazenamento, tubulações (incluindo dutos subterrâneos) Contaminação PCB BAIXO 11 24 29 30 31 BAIXO BAIXO BAIXO Quadro 8.4 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina tratamento dos riscos. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 116 MUITO BAIXO 10 MUITO BAIXO 10 MUITO BAIXO 10 MUITO BAIXO 10 MUITO BAIXO Carina após 6 6 6 6 6 6 10 6 6 6 6 6 Risco Inerente Nº Risco Identificado(Atividade fator de impacto) Nível de Risco MUITO BAIXO BAIXO 10 MUITO 33 BAIXO BAIXO 10 MUITO 37 Deposição de solo contaminado BAIXO MUITO 6 MUITO 22 Impacto visual do depósito de estéril sobre a paisagem BAIXO BAIXO MUITO 6 MUITO 34 Derramamento de ANFO BAIXO BAIXO MUITO 6 MUITO 36 Descarte de pneus BAIXO BAIXO Quadro 8.4 – Classificação prioritária de riscos de fechamento da Mina Carina após tratamento dos riscos. Fonte: Polaris Metals (2011a), modificado. 32 Contaminação por armazenamento de hidrocarboneto (combustível e óleo) nas áreas de trabalho Contaminação por lavagem de máquinas e equipamentos Risco Residual BAIXO 10 8.3 Comunicação e consulta aos stakeholders Stakeholders são definidos como entidades governamentais, indivíduos, grupos comunitários ou outros que tenham potencial de serem afetados pelo projeto. A consulta às partes interessadas é um componente-chave no processo de planejamento do fechamento de mina. Os stakeholders identificados pela empresa Polaris para a Mina Carina, até o momento, estão listados abaixo: Governo Estadual Departamento de Minas e Petróleo Departamento de Conservação Ambiental Autoridade Portuária de Fremantle Departamento de Tesouro e Finanças Departamento de Assuntos Indígenas Departamento de Água Departamento de Transportes 117 6 6 4 6 4 6 Departamento de Agricultura e da Alimentação Organizações não governamentais Grupo de Infraestrutura Westnet Australian Rail Group (AGR) Governo local Distrito de Yilgarn Distrito de Coolgardie Município de Kwinana Grupos Indígenas The Central West Goldfields People The Crubrun People The Kelamaia Kabu(d)n People Godfields Land and Sea Council Grupos de Interesse Especial Conservation Especial Wilderness Society Wildflower Society Entretanto, nenhuma consulta específica sobre o fechamento de mina foi realizada até a presente data. O registro de consulta às partes interessadas sobre o fechamento da Mina Carina será incluída em futuras revisões no planejamento do fechamento da Mina Carina. A consulta às partes interessadas, no projeto de fechamento da mina, será realizada de acordo com a ANZMEC/MCA (2000), princípios delineadores no quadro estratégico de fechamento de mina, que inclui: A consulta irá ocorrer ao longo da vida da mina. Uma estratégia alvo será implementada de modo a refletir os principais interesses dos grupos interessados. Recursos adequados serão reservados para garantir que a consulta seja eficaz. As comunidades locais serão incluídas no processo de consulta. 8.4 Monitoramento e análise crítica 118 Em intervalos específicos uma equipe de monitoramento deverá visitar o local, coletar amostras programadas e fazer avaliações sobre o desempenho e a eficácia das medidas de fechamento colocadas em prática. Se algum trabalho de reparação for necessário, uma equipe de manutenção deverá implementar as medidas de manutenção. Uma vez concluídas as atividades de reabilitação e de fechamento, as etapas de monitoramento e de manutenção do pós-fechamento terão início com o objetivo de confirmar a eficiência e o desempenho das medidas adotadas, bem como verificar se os critérios de fechamento foram alcançados. Em termos gerais, os programas de monitoramento e de manutenção no pós-fechamento, incluirão: Segurança pública: Confirmar se os acessos às áreas com riscos à segurança foram eficazmente verificados, sinalizados e identificados de forma a informar, coibir e impossibilitar a entrada de pessoas não autorizadas. Estabilidade geotécnica: Confirmar se as atividades de estabilização dos taludes foram implementadas, bem como a sua eficiência e o seu desempenho. E, ainda, verificar ocorrência de outras áreas com riscos de instabilidade. Estabilidade física: Confirmar se não está ocorrendo erosão significativa e se não há excesso de carreamento de sedimentos pelas águas de chuva. Estabilidade química: Amostragem do escoamento de água superficial, águas subterrâneas e solos para checagem dos níveis de contaminantes com as diretrizes adotadas para o fechamento da mina. Vegetação: Demonstrar que as áreas vegetadas estão autossustentáveis e que as mesmas estão compatíveis com as áreas que não sofreram interferência. Todas as atividades de reabilitação e de fechamento deverão ser registradas e os registros mantidos para futuros trabalhos de auditoria, de monitoramento contínuo e da análise crítica. Além disso, os registros são fundamentais para a comunicação de todos os eventos de riscos considerados, para utilização como referência, em trabalhos de desenvolvimento de novas estratégias e ações e para análises ao longo do tempo. 119 CAPÍTULO 9 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 9.1 Conclusões O método para o processo de gestão de riscos aplicável ao planejamento do fechamento de mina, proposto neste estudo, propicia que a equipe de análise possa identificar mais facilmente os riscos envolvidos no fechamento de mina. O método permite, ainda, destacar as questões e os riscos mais importantes, favorecendo assim, que a administração e o gestor possam dedicar maior atenção e recursos às questões mais importantes no planejamento do fechamento de mina. Um plano de fechamento de mina é imprescindível para se assegurar que o fechamento é técnico, econômico e socialmente executável. Cabe, portanto, à gestão de riscos relacionada ao fechamento de mina, orientar o gestor no sentido de que ele possa focar maior atenção e destinar os recursos adequados às questões e às situações mais críticas. O foco é o de garantir que os objetivos do fechamento sejam alcançados. Além de se mostrar útil para as companhias de mineração, o método para o processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina é de grande valia para as agências reguladoras em suas auditorias. Pois, esse método permite identificar mais facilmente todas as questões envolvidas no fechamento de mina, tais como segurança, relações com a comunidade local, questões legais e fiscais e, ainda, fatores tecnológicos, não se limitando às questões ambientais. A norma ISO/IEC 31010:2012 “Gestão de riscos – Técnicas para o processo de avaliação de riscos” apresenta uma grande variedade de técnicas de avaliação de riscos, que estão disponíveis para a indústria da mineração. É importante que os gestores escolham a técnica de avaliação de riscos que seja mais adequada para as necessidades de aplicação e de informações disponíveis da empresa. Essa escolha deve ter, como base, uma análise e compreensão dos pontos fortes e fracos dos vários métodos de avaliações de riscos. 120 É necessário que a equipe de análise tenha uma compreensão clara do risco e dos fatores que contribuem para a sua gravidade. Assim, os componentes poderão identificar, descrever e analisar seu nível de impacto potencial o mais próximo possível da realidade com que este se manifesta para a empresa, ambiente e ou outros envolvidos. A análise semiquantitativa proposta leva vantagem em relação à abordagem qualitativa, devido à atribuição de valores e de multiplicadores no agrupamento da probabilidade e consequências, o que facilita a análise da equipe de gerenciamento e permite uma classificação prioritária de riscos. Mesmo que as questões principais e os riscos de fechamento de mina sejam específicos para cada tipo de mina, o método proposto apresenta uma série de princípios que facilitam a identificação, a análise e a avaliação de qualquer tipo de risco. Esse tipo de gestão de riscos pode ajudar as empresas de mineração, bem como os governos e as comunidades envolvidas no processo de fechamento de mina, garantindo o máximo benefício para todas as partes envolvidas, possibilitando, também, efetivar uma busca constante do desenvolvimento sustentável na mineração. O processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina possibilita que uma empresa de maior dimensão possa separar a análise em áreas menores, permitindo, assim, uma comparação dos fatores de riscos de fechamento de vários locais da mina. Portanto, os recursos disponíveis podem ser dedicados a todos os locais da empresa, principalmente os de maiores riscos. 9.2 Recomendações O processo de gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina deve ser implementado quando a mina está sendo planejada, em conexão com o plano conceitual de fechamento de mina. 121 O resultado do processo reflete a situação da empresa naquele momento da análise. Portanto, o processo deve ser repetido em intervalos regulares (por exemplo, anualmente ou semestralmente), para se acompanharem as mudanças nos riscos de fechamento de mina ao longo do tempo. A gestão de riscos no planejamento do fechamento de mina deve ser incorporada pela empresa de mineração como um processo (um método) com várias obrigações, inclusive pela gerência e pela equipe executiva sênior, que devem participar, patrocinar e cobrar sua implementação, pois só com esse respaldo pode-se obter uma gestão de riscos eficaz. Deve haver uma responsabilidade clara e definida para se administrar o processo de gestão de riscos dentro da estrutura organizacional, para gerenciar as ameaças e as oportunidades específicas identificadas e para se implementarem as ações de tratamento. A gestão de riscos precisa, realmente, de se tornar parte da filosofia, dos objetivos e das práticas de toda a organização. Deve, ainda, ser parte integrante dos programas de treinamento da empresa. 9.3 Limitações Nesse tipo de abordagem semiquantitativa, é importante não interpretar os resultados em um nível mais refinado de precisão. Não se deve utilizar os números para dar a aparência de um grau de precisão que não existe. A escala da matriz utilizada é apenas ordinal, ou seja, não permite medidas de magnitude absoluta, somente relativa. No processo de gestão de riscos no fechamento de mina é preciso ter em mente que a avaliação de riscos é uma ferramenta subjetiva, portanto, um risco considerado baixo não elimina a possibilidade de sua ocorrência e não descarta a necessidade de algum tipo de intervenção. É necessário um cuidado especial na escolha do pessoal para compor a equipe de avaliação de riscos, para se assegurar que questões políticas e/ou interesses próprios não interfiram 122 no cálculo do impacto sobre o processo. Além disso, é fundamental o envolvimento do pessoal das áreas operacionais no processo de gestão de riscos, a fim de se obter a coordenação e se manter a base para uma gestão de riscos eficaz. A gestão de riscos não deve ser de responsabilidade exclusiva de uma única pessoa, que, provavelmente, não tem todos os conhecimentos necessários em todas as questões e em todas as áreas que envolvam o fechamento de uma mina. Definitivamente, trata-se de um trabalho de equipe. Nesse tipo de abordagem semiquantitativa, o processo de avaliação de riscos tem grande dependência da experiência e do conhecimento dos membros da equipe e dos especialistas que estiverem realizando o trabalho de análise dos riscos. Portanto, tal abordagem depende de informações de qualidade. Para analisar, para mapear e, principalmente, para tomar decisões em termos de priorização e alocação de recursos, nesse trabalho, de acordo com Laurence (2001a), os riscos envolvidos no fechamento de mina foram divididos nas seguintes categorias: riscos ambientais, riscos à saúde e à segurança, riscos à comunidade e riscos sociais, riscos de uso final do solo, riscos jurídicos e financeiros e riscos técnicos. Embora, no estudo de caso (Mina Carina), o banco de dados utilizado da empresa Polaris disponibilize apenas riscos ambientais, o mesmo procedimento pode ser aplicado para os demais tipos de riscos, apresentados no método de gestão de riscos aqui proposto. 9.4 Sugestões de pesquisas futura Como sugestões de trabalhos complementares para subsidiar e dar continuidade ao estudo desenvolvido, propõem-se as seguintes abordagens: - Avaliação do custo do risco para o fechamento de mina. A maioria dos estudos de viabilidade é focada em uma série de indicadores, sendo os financeiros predominantes. É amplamente reconhecido que o custo de fechamento pode ser substancial. O orçamento para o fechamento, particularmente nos estágios iniciais da vida de uma operação, objetiva 123 o aprovisionamento adequado para o fechamento. As informações contextuais, no documento sobre garantias financeiras, devem dar ao usuário um entendimento razoável do porque do custo de fechamento e da necessidade de adequação do aprovisionamento. Tais informações se constituem em elementos críticos no planejamento de fechamento. - Para a norma NBR ISO 31000:2009, GESTÃO DE RISCOS, risco é descrito como a possibilidade de acontecer algo que terá um impacto nos objetivos. Em inglês, o uso da palavra “risk”, normalmente, tem uma conotação negativa e entende-se risco como algo a ser minimizado ou evitado. Nessa definição da NBR, que é mais genérica, considera-se que as atividades envolvendo riscos podem ter tanto resultados positivos quanto negativos. Nessa pesquisa, pouco se falou das oportunidades no planejamento do fechamento de mina, sendo o foco maior a redução de riscos com consequências negativas. 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São Paulo, v.1, n.12, 2000. 134 ANEXOS 135 TIPO DE RISCO: AMBIENTAL Unidade/Projeto Equipe Riscos Amplos Água ANEXO I - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS Subquestões Água superficial Água subterrânea Uso a jusante Responsável Risco Identificado P • Sedimentação • Efluente • Drenagem • Drenagem ácida de mina (DAM\) • (DAM) / metais pesados • Salinidade • Contaminação (processamento químico) • Rebaixamento do lençol freático • Agricultura • Bebida • Ecossistema aquático Monitoramento Ar Gás Poeira Sistemas de solos Impacto visual Infraestrutura Solos • Emissão de gás de efeito estufa • Outras emissões (por exemplo, SO2) • Rejeitos • Pilha de minério/estéril • Áreas reabilitadas • Fechamento de acesso da comunidade à mina • Estradas centrais ou principais • Áreas remotas • Construções, equipamentos, áreas construídas • Estradas • Estoques, depósitos, barragens, poços • Material de empréstimo • Contaminação • Disponibilidade/adequação de camada superficial de solo • Potencial de erosão I-1 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: AMBIENTAL Unidade/Projeto ANEXO I - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS Equipe Riscos Amplos Subquestões Responsável Risco Identificado P Reconformação/terraplenagem Restabelecimento da flora Restabelecimento da fauna Cavas • • • • • • • • Simples Complexo Rara/significante Terrestre Aviária Aquática Aberto Preenchido (usando material estéril) Subsidência Lavra/exploração Gerenciamento/Monitoramento Rejeito/estéril Bota-fora ou pilha de estéril Barragem de Rejeitos Materiais perigosos Outros • Reconformação •Cobertura •Drenagem ácida •Topografia •Frequência sísmica •Clima •Reconformação •Cobertura •Drenagem ácida •Toxidade •Estabilidade •Base do solo •Ribeirinhos •Radiação •Químico incluindo cianeto •Combustíveis, lubrificantes •Saneamento •Pneus, máquinas, etc. I-2 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: AMBIENTAL Unidade/Projeto Riscos Amplos ANEXO I - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P •Lixo Patrimônio •Indígena •Não indígena I-3 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual SAÚDE E SEGURANÇA ANEXO II - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS TIPO DE RISCO: Unidade/Projeto Riscos Amplos Aberturas Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Poços verticais, poço para ventilação, poço interior. Galeria de acesso, galeria de mina. A céu aberto (Cava) • Reaterro (enchimento) • Cercada • Diques • Redução do ângulo de inclinação (reconformação) Trincheiras para pesquisar veios Furo de sonda Retirada de água Subsidência Carvão mineral Extração Colapso de pilar Subsidência Exploração por desabamento II-1 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual SAÚDE E SEGURANÇA ANEXO II - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS TIPO DE RISCO: Unidade/Projeto Riscos Amplos Equipe Subquestões Infraestrutura Construções e equipamentos Segurança Aumento da segurança Preparação para respostas de emergência Responsável Risco Identificado P • Roubo • Entrada não autorizada • Acesso Eliminação de fonte de radiação II-2 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: COMUNIDADE E ANEXO III - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS SOCIAIS Unidade/Projeto Riscos Amplos Empregados Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Previsão dos direitos Reciclagem, relocalização Pedidos de indenização dos empregados Gerenciamento Melhoria da comunicação Sensibilização para a segurança – aumento do nº de acidentes/lesões com o fechamento Manter a equipe junta, particularmente o pessoal chave. Empreiteiros • Pode ser usado para suavizar o baque na redução de empregados • Potencial para redução nos custos Representantes do Sindicato/ empregados Latifundiários Indígenas III-1 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: COMUNIDADE E ANEXO III - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS SOCIAIS Unidade/Projeto Riscos Amplos Latifundiários Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Não indígenas Moradores afetados Novos colonos Governo local (prefeitura) Impacto na comunidade em geral Local • Entrada e saída de pessoas da cidade (vila) da mineração • Vila da empresa • Isolamento • Tradição de mineração na região • Alto desemprego local • Única indústria da cidade • Impacto no valor do imóvel residencial • Impacto sobre os valores da família • Diversificação ou declínio • Retorno para subsistência • Questões de saúde álcool, prostituição, drogas, etc... Regional Nacional III-2 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: COMUNIDADE E ANEXO III - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS SOCIAIS Unidade/Projeto Riscos Amplos Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Internacional Impacto na comunidade em geral III-3 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: USO FINAL DO ANEXO IV - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS SOLO Unidade/Projeto Riscos Amplos Valor alto ($/há ou valor para conservação) Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Boa qualidade para agricultura Industrial/Comercial/ Residencial Parque/Museu Nacional Valor médio Retorno para o ecossistema pré-existente Floresta Pastagem Valor baixo Terreno extensivamente alterado Altamente degradado, terra árida. IV-1 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual JURÍDICOS E FINANCEIROS ANEXO V - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS TIPO DE RISCO: Unidade/Projeto Riscos Amplos Governo Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Conformidade regulamentar Título (Direito) • Mantém (retém) • Vender (negociar) • Renunciar Segurança/caução • Grande • Pequena Documentação Credores Empregados Empreiteiros Empresas Governo Provisão para reabilitação • Taxas • Royalties Tem provisão financeira Sem provisão financeira Reserva de capital V-1 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual JURÍDICOS E FINANCEIROS TIPO DE RISCO: Unidade/Projeto Riscos Amplos ANEXO V - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS Equipe Subquestões Responsável Risco Identificado P Potencial para publicidade negativa e impacto nos negócios V-2 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual TIPO DE RISCO: TÉCNICOS Unidade/Projeto Riscos Amplos Plano fechamento ANEXO VI - FORMULÁRIO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS Equipe Responsável Subquestões de Existe plano fechamento e data Risco Identificado P de Não existe plano e data de fechamento Reabilitação progressiva de acordo com o plano de fechamento Existe equipe de fechamento Gerenciamento Entendimento com a comunidade Ambiental Planejamento Elétrica/Mecânica/Financeiro Fontes/Reservas Exaurido (esgotado) Não exaurido • Acessível para extração futura • Potencial para novas reservas • Esterilizados VI-1 Data Revisão C Nível de Causas Conseq. Tratamento NP NC Risco Potenciais Potenciais de riscos Risco Residual ANEXO VII – Formulário para Gerenciamento de Riscos Empresa / Órgão / Setor/ Programa: <nome do cliente; órgão, setor da empresa responsável pelo projeto; programa da empresa que o projeto está inserido> Nome do projeto: Gerente do projeto: Elaborado por: <nome e função> Versão: _._ Aprovado por: <nome e função> Assinatura: Data de aprovação:___/___/_____ 1° Etapa: Identificação do Risco Denominação do risco: N° Identificação Descrição do risco: 2° Etapa: Avaliação do Risco Consequências: (Leve) Probabilidade: 2 (Remota) 32 (Catastrófica) 16 (Crítica) 8 (Grave) 4 (Moderada) 2 13 (Frequente) 8 (Provável) 5 (Ocasional) 3 (Pouco provável) 3° Etapa: Desenvolvimento da Resposta Estratégias para eliminar ou reduzir este risco (minimizar impacto e/ou probabilidade): Responsável: Impacto reavaliado: Data de Conclusão: Probabilidade reavaliada: 4° Etapa: Acompanhamento do Risco Ocorrências e alterações: VII-1 Respostas incluídas Registros adicionais: Verso ou Anexos VII-2 ANEXO VIII – Termos e definições: Área impactada: toda área com diversos graus de alteração, tanto dos fatores bióticos quanto abióticos causados pela atividade de mineração (Portaria DNPM 237/2001, NRM 21). Apetite pelo risco: quantidade e tipo de riscos que uma organização está preparada para buscar, manter ou assumir. Atitude perante o risco: abordagem da organização para avaliar e eventualmente buscar, manter, assumir ou afastar-se do risco. Atividade minerária: abrange todas as fases da indústria de produção mineral associadas à pesquisa mineral, lavra, beneficiamento, sistemas de disposição de estéril, de rejeitos e de resíduos, distribuição e comercialização de bens minerais. Aversão ao risco: atitude de afastar-se de riscos. Consequência: resultado de um evento que afeta os objetivos. Contexto externo: ambiente externo no qual a organização busca atingir seus objetivos. Contexto interno: ambiente interno no qual a organização busca atingir seus objetivos. Controle: medida que está modificando o risco. Descomissionamento: encerramento de atividades em uma mina. A desmobilização pode ser total (fechamento da mina como um todo, inclusive das estruturas associadas) ou parcial (fechamento de um ativo específico, tal como uma barragem de rejeitos ou pilha de estéril ou qualquer outra estrutura ou infraestrutura da mina em operação). Estabelecimento do Contexto: definição dos parâmetros externos e internos a serem levados em consideração ao gerenciar riscos, e estabelecimento do escopo e dos critérios de risco para a política de gestão de riscos. Estrutura da gestão de riscos: conjunto de componentes que fornecem os fundamentos e os arranjos organizacionais para a concepção, implementação, monitoramento, análise crítica e melhoria contínua da gestão de riscos através de toda organização. Evento: ocorrência ou alteração em um conjunto específico de circunstâncias. Fechamento de mina: processo que abrange toda a vida da mina, desde a fase dos estudos de viabilidade econômica até o encerramento da atividade minerária, incluindo o descomissionamento, a reabilitação e o uso futuro da área impactada. VIII-1 Fonte de risco: elemento que, individualmente ou combinado, tem o potencial intrínseco para dar origem ao risco. Uma fonte de risco pode ser tangível ou intangível. Gestão de riscos: atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização no que se refere ao risco. Nível de risco: magnitude de um risco expressa em termos da combinação das consequências e de suas probabilidades. Parte interessada: pessoa ou organização que pode afetar, ser afetada, ou perceber-se afetada por uma decisão ou atividade. Plano de fechamento de mina: documento técnico fundamentado nos requisitos legais vigentes e nas normas técnicas aplicáveis, alinhado às políticas e às diretrizes corporativas das empresas, que descreve as ações e os programas que deverão ser realizados para se encerrar as atividades de uma mina. Deve ser atualizado periodicamente, no que couber, e estar disponível na mina para fins de fiscalização. Plano de gestão de riscos: esquema dentro da estrutura da gestão de riscos, especificando a abordagem, os componentes de gestão e os recursos a serem aplicados para gerenciar riscos. Política de gestão de riscos: declaração das intenções e diretrizes gerais de uma organização relacionadas à gestão de riscos. Probabilidade: chance de algo acontecer. Processo de avaliação de riscos: processo global de identificação de riscos, análise de riscos e avaliação de riscos. Processo de gestão de riscos: aplicação sistemática de políticas, procedimentos e práticas de gestão para as atividades de comunicação, consulta, estabelecimento do contexto, e na identificação, análise, avaliação, tratamento, monitoramento e análise crítica dos riscos. Proprietário do risco: pessoa ou entidade com a responsabilidade e a autoridade para gerenciar o risco. Reabilitação ambiental: processo que deve ser executado ao longo da vida do empreendimento, de forma a garantir às áreas impactadas uma condição estável, produtiva e autossustentável, em conformidade com os valores estéticos e sociais da circunvizinhança, com foco no uso futuro, valorizando o bem-estar individual e comunitário. Nos projetos de reabilitação ambiental, devem ser consideradas as atividades de monitoramento e manutenção das áreas reabilitadas. VIII-2 Renúncia final: formalização de empresa junto aos órgãos reguladores responsáveis, depois de implantado integralmente o plano de desmobilização e cumpridas todas as obrigações legais. Risco: efeito da incerteza nos objetivos. Risco residual: risco remanescente após o tratamento do risco Uso futuro da área minerada: utilização prevista da área impactada pela atividade minerária levando-se em consideração as suas aptidões, a intenção de uso pós-operacional, as características dos meios físico e biótico e os aspectos socioeconômicos da região. VIII-3