Fernanda Silva Gonçalves
INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NO SETOR CALÇADISTA:
GINÁSTICA LABORAL ASSOCIADA AO PROCEDIMENTO EDUCATIVO
Divinópolis
2009
II
Fernanda Silva Gonçalves
INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NO SETOR CALÇADISTA:
GINÁSTICA LABORAL ASSOCIADA AO PROCEDIMENTO EDUCATIVO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em
Educação, Cultura e Organizações Sociais da Fundação
Educacional de Divinópolis / Universidade do Estado de
Minas Gerais, para fins de qualificação para obtenção do
título de Mestre.
Área de Concentração: Estudos Contemporâneos
Linha de Pesquisa: Saúde Coletiva
Orientador: Prof. Dr. Daniel S. G. Penha
Co-orientadora: Prof.ª Ms. Viviane Augusto
Divinópolis
Fundação Educacional de Divinópolis / Universidade Estadual de Minas Gerais
2009
III
FICHA CATALOGRÁFICA
G635i
Gonçalves, Fernanda Silva
Intervenções fisioterapêuticas no setor calçadista: ginástica laboral
associada ao procedimento educativo.
[manuscrito] / Fernanda Silva Gonçalves. – 2009.
60 f., enc.
Orientador : Daniel Silva Gontijo Penha
Co-orientadora: Viviane Gontijo Augusto
Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Minas Gerais,
Fundação Educacional de Divinópolis.
Bibliografia : f. 33-37
1. Ginástica laboral. 2. Educação em saúde. 3. Sintomas osteomusculares
4. Setor calçadista. I. Penha, Daniel Silva Gontijo. II. Augusto, Viviane
Gontijo. III. Universidade do Estado de Minas Gerais. Fundação
Educacional de Divinópolis. IV. Título.
CDD: 615.824
IV
V
AUTORIZAÇÃO PARA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA
DISSERTAÇÃO
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação por processos de fotocopiadores e eletrônicos. Igualmente autorizo
sua exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da FUNEDI/UEMG.
Fernanda Silva Gonçalves
Divinópolis, _____/_____/2009.
VI
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela presença constante em minha vida.
Às minhas irmãs, Andréia e Cristiane, pelo apoio nos
momentos de desânimo.
Aos meus irmãos, Geraldinho e Paulinho, pelo incentivo
constante.
Aos meus pais, pela forte presença em minha vida.
A minha vó Iolanda, pelas orações e carinho.
A minha co-orientadora, Viviane Gontijo Augusto, que foi
mais que orientadora, foi amiga. Obrigada pela dedicação,
apoio e sensatez nos momentos mais delicados!
Ao meu orientador professor Daniel Silva Penha, pela
paciência.
Ao Valdir Santos e José dos Santos, por abrirem-me as
portas de sua empresa com tanta receptividade para a
realização deste estudo.
A fisioterapeuta Solange Ribeiro, que me incentivou a
trilhar esta trajetória.
Aos trabalhadores da empresa, por terem contribuído com
este estudo
de forma tão paciente e disponível.
As minhas amigas Inara e Manu, sempre tão presentes.
Aos professores do mestrado.
A todos que acreditaram no meu sonho, obrigada!
VII
.
“O sonho pelo qual eu brigo,
exige que eu crie em mim a coragem de lutar
ao lado da coragem de amar.”
(PAULO FREIRE.)
VIII
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Porcentagem de trabalhadores, por intervalo de tempo de trabalho na
empresa.............................................................................................................................37
Gráfico 2 – Porcentagem de trabalhadores, por intervalo de tempo de trabalho na tarefa
atual ..................................................................................................................................38
Gráfico 3 – Presença de sintomas osteomusculares por sexo, antes e após as
intervenções, considerando o questionário nórdico de sintomas osteomusculares na
semana que antecedeu à aplicação dos questionários inicial e final ...........................39
Gráfico 4 – Porcentagem de sintomas osteomusculares por região anatômica nos últimos
sete dias, antes e após as intervenções ...........................................................................42
Gráfico 5 – Número de trabalhadores que relataram sintomas osteomusculares em
membros inferiores e/ou superiores antes e após as intervenções fisioterapêuticas..43
IX
LISTA DE TABELA
1 – Sintomas osteomusculares por região anatômica em relação aos sete dias antes e após
as intervenções .................................................................................................................41
X
LISTA DE SIGLAS
AET – Análise Ergonômica do Trabalho.
DORT –Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho.
GL – Ginástica Laboral.
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social.
LER – Lesões por Esforços Repetitivos.
NR – Norma Regulamentadora
QNSO – Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares.
QVT – Qualidade de Vida no Trabalho.
SUS –Sistema Único de Saúde.
XI
RESUMO
A saúde do trabalhador desde a década de 1970 vem sofrendo intervenções, no intuito de
proporcionar melhor qualidade de vida ao trabalhador e acréscimo de produção. Desde a
implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), quando se define saúde com uma amplitude
maior, a saúde do trabalhador está sendo tema de constante reestruturação para sua proteção,
promoção e recuperação. Dentre as doenças que acometem o trabalhador estão os distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), que geram redução da produção e até
mesmo, no afastamento das ocupações. Entre as formas de prevenção dos DORT destacam-se
a análise ergonômica, a ginástica laboral e a educação em saúde. Sendo assim, este estudo
teve como objetivo observar os efeitos das intervenções fisioterapêuticas de ginástica laboral
e procedimento educativo em sintomas osteomusculares de trabalhadores de uma fábrica do
setor calçadista de Perdigão (MG).Em decorrência da grande demanda de trabalhadores
calçadista por atendimento fisioterápico no ambulatório municipal, tornou-se crescente a
motivação para entender e intervir nesse ambiente laboral tão agressivo para o sistema
osteomuscular de seus trabalhadores. Foram incluídos neste estudo 22 trabalhadores, com
carga horária de trabalho semanal de 44 horas e ocupantes de funções diversas numa fábrica
calçadista. Por meio de reunião prévia esses trabalhadores foram esclarecidos dos riscos e
benefícios da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido. A partir daí
foi realizada uma entrevista individual composta de três questionários: sócio-econômico,
questionário nórdico de sintomas osteomusculares, e de conhecimento sobre ergonomia e
ginástica laboral. Após a coleta inicial de dados, deu-se início às intervenções. A ginástica
laboral compensatória foi realizada duas vezes por semana com duração de quinze minutos e
uma vez por semana; o procedimento educativo com duração também de quinze minutos,
fundamentado este na educação popular em saúde. Após três meses de intervenção, foram
realizados novamente os três questionários e acrescentou-se uma entrevista gravada e
transcrita, em que os trabalhadores eram questionados sobre o que acharam das intervenções.
A ginástica laboral obteve boa adesão dos trabalhadores; verificou-se a redução dos sintomas
osteomusculares estatisticamente significativa nas regiões de ombros e punho/mãos/dedos.
Quanto ao procedimento educativo, observou-se que foi utilizado como uma ferramenta para
busca de saúde no trabalho pelos trabalhadores. Em consonância com estudos anteriores,
conclui-se que é necessária a implantação da tríade: ginástica laboral, procedimento educativo
e ergonomia para conseguir-se efetivamente um programa de saúde do trabalhador.
Palavras-chaves: Ginástica laboral, educação em saúde, sintomas
setor calçadista.
osteomusculares,
XII
ABSTRACT
The worker’s health has undergone interventions since the 1970’s decade in order to provide
quality of life for the worker and increase his production. Health is defined with a greater
magnitude in the Unified Health System (SUS) and since its implementation the worker’s
health has been a subject of constant restructuring for his protection, promotion and
recovery. Among the diseases that affect the worker there are the work-related
musculoskeletal disorders (WMSD) which reduce production and can even cause sick leave.
Ergonomic analysis, labor gymnastics and health education are the highlights in the
prevention of the WMSD. Thus this study aimed to observe the effects of physiotherapy
interventions using labor gymnastics and educational procedures on the workers’
musculoskeletal symptoms. The workers were from a factory in the sector of footwear in the
city of Perdigão (MG). In the municipal clinic there is a high demand for physiotherapy care
by the workers from the footwear sector. Due to this high demand it has been increasing the
motivation to understand and to intervene on this aggressive work environment to the
workers’ musculoskeletal system. 22 workers with 44 weekly working hours and occupants of
several functions in a footwear factory were included in this study. They were informed of the
risks and benefits of the research in a prior meeting, and then they signed a free informed
consent. After that an individual interview was performed and it consisted of three
questionnaires: socioeconomic, nordic questionnaire on musculoskeletal symptoms and
knowledge about workplace ergonomics and labor gymnastics. Interventions initiated after
this initial data collection. The compensatory labor gymnastics was performed twice a week
lasting fifteen minutes. The educational procedure was based on the popular health education
and was accomplished once a week with the duration of fifteen minutes. After three months of
intervention the three questionnaires were performed again added of a recorded and
transcribed interview. In this moment the workers were asked about their thoughts about the
interventions. The employees had good adherence to the labor gymnastics. There was a
statistically significant reduction in the musculoskeletal symptoms in the following areas:
shoulder and wrist/hand/ fingers. It was observed that the educational procedure was used by
the workers as a tool to seek for health at work. In line with previous studies, it was
concluded that it is necessary the implementation of the following triad: labor gymnastics,
educational procedures and ergonomics to achieve an effective workers’ health program.
Keywords: Labor gymnastics, health education, musculoskeletal symptoms, footwear sector.
XIII
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................14
I – Hipótese.......................................................................................................................18
II – Objetivo .....................................................................................................................18
1
A
FISIOTERAPIA
NOS
SINTOMAS
OSTEOMUSCULARES
DOS
TRABALHADORES CALÇADISTAS .........................................................................19
1.1 Setor calçadista ..........................................................................................................19
1.2 Distúrbios osteomusculares ......................................................................................20
1.3 Teoria do Estresse Fisico X intervenções fisioterapêuticas ...................................22
1.4 Educação em saúde....................................................................................................29
2 METODOLOGIA.........................................................................................................32
2. 1 Caracterização do estudo.........................................................................................32
2.2 Local e sujeitos ...........................................................................................................33
2.3 Instrumentos ..............................................................................................................33
2.4 Procedimentos e técnicas...........................................................................................34
2.4.1 Intervenção fisioterapêutica: ginástica laboral......................................................34
2.4.2 Intervenção fisioterapêutica: procedimento educacional ......................................35
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................37
CONCLUSÃO..................................................................................................................47
XIV
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................48
ANEXO I – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA FUNEDI/UEMG .................53
ANEXO II – QUESTIONÁRIO NÓRDICO DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES
...........................................................................................................................................54
APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO .........57
APÊNDICE II – QUESTIONÁRIO DE INFORMAÇÕES SÓCIO-DEMOGRÁFICAS E
OCUPACIONAIS............................................................................................................58
APÊNDICE III – QUESTIONÁRIO SOBRE CONHECIMENTO DE ERGONOMIA E
GINÁSTICA LABORAL................................................................................................59
APÊNDICE IV – TERMO DE CONSENTIMENTO REFERENTE À ENTREVISTA
...........................................................................................................................................60
14
INTRODUÇÃO
No início do século XX, a expressão “Qualidade de Vida no Trabalho” (QVT)
apareceu na literatura abordando aspectos como segurança e saúde no trabalho,
desenvolvimento das capacidades humanas, adequada e satisfatória recompensa pelo trabalho,
integração social, entre outros, sendo notórios os diálogos entre QVT e noções como
motivação, satisfação, saúde–segurança no trabalho, que envolvem discussões posteriormente
sobre novas formas de organização do trabalho e novas tecnologias. Na década de 1980, a
melhor qualidade de vida no trabalho adquiriu importância como um conceito global e como
uma forma de enfrentar os problemas de qualidade e produtividade (FREITAS et al., 2005;
LACAZ, 2000).
Tendo em vista a importância de tornar QVT uma ferramenta gerencial efetiva e, não
apenas, modismo, Vasconcelos (2001) define QVT como um conjunto de ações de uma
empresa que envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no
ambiente de trabalho. Enfoca, assim, o âmbito psicossocial1, voltado para a preservação e
desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho. Portanto, a QVT buscou a humanização do
trabalho, transitando da Saúde Pública para Saúde do Trabalhador, permanecendo ainda
arraigada de aplicações da Medicina do Trabalho (LACAZ, 2000). Apesar de evoluir para
uma proposta interdisciplinar, baseada na teoria da multicausalidade, na qual um conjunto de
fatores de risco é considerado na produção da doença avaliada por meio da clínica médica e
de indicadores ambientais e biológicos de exposição e efeito, atua com intervenções pontuais
sobre os riscos mais evidentes (MINAYO-GOMES; THEDIM-COSTA, 1997).
1
Pinheiro et al. (2006) define psicossocial como toda variável de natureza não-física, com efeitos sobre a saúde
e/ou na esfera do ambiente ocupacional.
15
Em 1988, surgiu a proposta do Estado em intervir na saúde do trabalhador para lidar
com o processo trabalho–saúde, por meio da Carta Constitucional de 1988, regulamentada
pela Lei Orgânica da Saúde (Lei n.º 8.080), cujo artigo 196 define:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. (BRASIL, 2001).
Cabe, assim, a intervenção do Estado na saúde do trabalhador, por meio da atribuição
ao Sistema Único de Saúde (SUS), a responsabilidade de coordenar ações em torno desse
conceito ampliado de saúde (DIAS; HOEFEL, 2005).
Após vinte anos de regulamentação da Lei Orgânica da Saúde, pode-se dizer que as
estratégias utilizadas para a saúde do trabalhador ainda não incorporaram, de forma efetiva, o
trabalhador em seu âmbito mais pleno, garantindo-lhe sua proteção, promoção e recuperação
no trabalho. Dias e Hoefel (2005) ressaltam que, entre os fatores que têm dificultado a
concretização desses objetivos, é a emergência do processo de reestruturação produtiva. “As
relações de solidariedade e cooperação no trabalho são substituídas pela competição
predatória”, sendo esta estimulada pela lógica da produção. Essas mudanças no processo de
reestruturação produtiva vêm refletindo no perfil epidemiológico do adoecimento dos
trabalhadores, com o aumento da prevalência de doenças relacionadas ao trabalho. A
incidência de doenças relacionadas ao trabalho vem aumentando no Brasil desde o no ano de
2001, e na região sudeste a taxa de incidência2 foi a maior no ano de 2004 (REDE, 2008).
Esta alta prevalência de doenças relacionadas ao trabalho tem sido vinculada ao
estabelecimento de metas e produtividade, e particularmente da competitividade de mercado
que não considera os limites físicos e psicossociais do trabalhador.
2
Dados baseados exclusivamente em informações do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), excluindo
os trabalhadores vinculados a regimes próprios de previdência social.
16
Dentre as doenças que acometem o trabalhador estão os distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT), que são afecções de músculos, tendões, de sinóvias, nervos
e de ligamentos, com ou sem degeneração dos tecidos e com dor nos locais anatômicos mais
utilizados em funções ocupacionais. Os DORT geram redução da produção e, até mesmo, no
afastamento das ocupações (PASTRE et al., 2007). Entre as formas de prevenção dos DORT
destacam-se a análise ergonômica, a ginástica laboral e a educação em saúde.
De acordo com Soares et al. (2006), a análise ergonômica do trabalho, metodologia
francesa de intervenção e estudo das situações de trabalho, tem como centro a análise da
atividade e integra conhecimentos psicofisiológicos para recomendar melhorias, identificando
elementos críticos sobre a saúde do trabalhador, sendo a análise ergonômica uma forma de
atuação da ergonomia.
As contribuições da ergonomia, na introdução de melhorias nas situações de trabalho,
dão-se pela via da ação ergonômica, que busca compreender as atividades dos indivíduos em
diferentes situações de trabalho com vistas à sua transformação. O foco de sua ação é a
situação de trabalho inserida em um contexto sócio-técnico, a fim de desvendar as lógicas de
funcionamento e suas consequências, tanto para a melhor qualidade de vida no trabalho,
quanto para o desempenho da produção (ABRAHÃO, 2000).
Associada à análise ergonômica, a ginástica laboral, que é caracterizada como prática
de atividades físicas coletivamente dentro do próprio local de trabalho, tem como meta
prevenir e/ou amenizar as doenças decorrentes da atividade que desempenham (OLIVEIRA et
al., 2007).
Como dito anteriormente, uma outra forma de prevenir as doenças ocupacionais é a
educação em saúde. Um movimento que representou uma nova concepção de educação em
saúde foi resultado da participação de trabalhadores da saúde nas experiências de educação
popular, a partir dos anos de 1970. Isto trouxe estratégias de fortalecimento às classes
17
populares na luta por mudanças que favorecem a saúde, surgindo a idéia do empoderamento
ou empowerment, que é um processo que oferece maiores possibilidades às pessoas de
determinarem suas próprias vidas (ALMEIDA et al., 2005). De acordo com Freire (2007), a
educação em adultos não quer dizer alfabetização, mas, sim, condições de luta por seu bem
estar físico e psicossocial.
Apesar da existência de diversas estratégias para promover a saúde no trabalho, muitas
indústrias ainda não implantaram um programa para prevenir os sintomas osteomusculares,
como é o caso das indústrias do setor calçadista de Perdigão (MG). A ausência de
intervenções em saúde no trabalho dentro desse setor tem provocado uma grande demanda
dos trabalhadores aos serviços públicos de atenção à saúde, em busca de tratamento para
sintomas osteomusculares. Sendo assim crescente a motivação para entender e intervir nesse
ambiente laboral agressivo para o sistema osteomuscular de seus trabalhadores.
Desta forma, a proposta deste estudo foi abordar tanto o aspecto físico do trabalhador
quanto sua capacidade de entendimento em relação à sua saúde, promovendo uma melhor
qualidade de vida no trabalho e prevenindo os DORT. Para isto, foram utilizadas duas
abordagens práticas: a ginástica laboral (GL) e a educação em saúde.
Como suporte teórico para uso da ginástica laboral, foi utilizada a Teoria do Estresse
Físico. Essa teoria, desenvolvida por Mueller e Maluf (2002), tem como premissa básica que a
mudança no nível relativo do estresse físico causa uma resposta adaptativa previsível no
tecido biológico. O estresse físico é definido como a força aplicada em uma dada área do
tecido biológico. O estresse físico adequado pode diminuir as limitações funcionais,
incapacidades e dor.
O referencial teórico para utilização da prática de educação em saúde foi o proposto
por Freire (1987) em seu trabalho intitulado de Pedagogia do oprimido. O autor diferencia a
educação problematizadora da educação bancária:
18
(...) enquanto na percepção bancária o educador vai enchendo os educandos de falso
saber, que são os conteúdos impostos, na prática problematizadora, vão os
educandos desenvolvendo o seu poder de captação e de compreensão do mundo que
lhes aparece, em suas relações com ele, em uma realidade de transformação do
processo. (FREIRE, 1987, p. 71).
De acordo com Freire (1976), a educação problematizadora vem de uma necessidade
de educação que possibilitasse ao homem a discussão corajosa de sua problemática. De sua
inserção nessa problemática. Que o advertisse dos perigos de seu tempo, para que, consciente
deles, ganhasse a força e a coragem de lutar em vez de ser submetido a prescrições alheias.
I – Hipótese
A ginástica laboral associada a procedimento educativo tem efeitos positivos sobre
sintomas osteomusculares em trabalhadores do setor calçadista.
II – Objetivo
Verificar os efeitos das intervenções fisioterapêuticas, por meio da ginástica laboral,
associado ao procedimento educativo, sobre os sintomas osteomusculares em trabalhadores do
setor calçadista de uma fábrica no município de Perdigão (MG).
19
1 A FISIOTERAPIA NOS SINTOMAS OSTEOMUSCULARES
DOS TRABALHADORES CALÇADISTAS
Dentre as doenças que acometem o trabalhador calçadista estão os distúrbios
osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT), que geram redução da produção e, até
mesmo, no afastamento das ocupações. Entre as formas de prevenção dos DORT, destacam-se
a análise ergonômica, a ginástica laboral e a educação em saúde, sendo que o fisioterapeuta
pode intervir no ambiente de trabalho, modificando o estresse físico.
Dois amplos objetivos podem ser discutidos: o primeiro é reduzir a dor, limitações
funcionais que resultam da lesão; e o segundo é aumentar a tolerância às atividades
(MUELLER; MALUF, 2002). Acredita-se que as intervenções terapêuticas podem ser
benéficas no tratamento e na prevenção dos DORT.
1.1 Setor calçadista
A indústria de calçado brasileira possui relevância no contexto mundial; é a quarta
maior produtora e o quinto maior mercado consumidor (FRANCISCHINI; AZEVEDO,
2003). A região do centro-oeste de Minas Gerais abriga Nova Serrana, considerado polo
calçadista nacional e, de acordo com Suzigan et al. (2005), o município, no ano de 2002,
respondia por 55% da produção nacional de tênis, gerando em torno de 25 mil empregos com
tendência de essas atividades ramificarem-se para os municípios vizinhos. Perdigão, São
Gonçalo do Pará e Araújos desenvolveram-se no setor calçadista pela proximidade com Nova
Serrana. Atualmente Perdigão possui uma média de 120 fábricas de calçados, empregando em
torno de 1.200 trabalhadores.
20
Uma das características da indústria de calçados é o emprego intensivo de trabalho
vivo. É um ramo que apresenta baixo índice de concentração de capital e adota processos de
produção que, de modo geral, não fazem uso de tecnologias sofisticadas. Absorve mão-deobra barata e de certa forma especializada, com habilidades coerentes à necessidade da
produção do produto. A característica predominante do processo de produção da indústria
calçadista é a descontinuidade, com estágios de produção distintos entre si.
Assim, a produção divide-se em cinco etapas principais: modelagem, corte, costura
montagem e acabamento, podendo variar as etapas de acordo com o modelo e tipo de calçado
produzido (NAVARRO, 2003).
A indústria de calçado contextualiza-se em um ambiente de trabalho em que o foco é a
produção, e a valorização da indústria se dá pelo fato de produzir cada vez mais pares/dia.
Desta forma, o trabalhador que sobrevive nesse meio tem que adaptar suas capacidades físicas
e psicossociais a essa demanda de mercado. O que se observa na maioria das vezes é que o
trabalhador exerce suas atividade sem condições de maquinário e equipamentos para tal
atividade, necessitando adaptar instrumentos, como latas e almofadas para realizar suas
atividades laborais (MERLO et al. 2003; PARAGUAI, 1990).
Contraditoriamente, os
processos mecanizados e automatizados tornaram mais leves o trabalho, resultaram, porém,
na repetitividade dos movimentos. A atividade é concentrada em determinados grupos
musculares e há um aumento na velocidade de execução dos movimentos.
1.2 Distúrbios osteomusculares
A percepção pelo trabalhador do desequilíbrio entre as demandas do trabalho e suas
habilidades para respondê-las é o que define sua contribuição para o processo trabalho–saúde.
21
O distanciamento entre a percepção da condição e condições para enfrentá-la é o que provoca
o desconforto (PARAGUAY, 1990). Na década de 1990 observou-se uma queda dos
acidentes e um forte crescimento das doenças relacionadas ao trabalho. Isso pode ser atribuído
às mudanças na organização do trabalho (SALIM, 2003).
A utilização excessiva imposta ao sistema osteomuscular e a falta de intervalo
suficiente para recuperação contribuem para o desenvolvimento de lesões por esforços
repetitivos (LER) ou distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT),
expressões que abrangem distúrbios ou doenças do sistema osteomuscular, caracterizados pela
ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não, de aparecimento insidioso, geralmente
nos membros superiores ou coluna, tais como: dor, parestesia, sensação de peso e fadiga.
(BRANDÃO et al. 2005; BRASIL, 2005).
Pastre et al. (2007) acrescentam a essa definição o fato de as LER/DORT poderem
gerar desordens motoras, psicológicas e sociais, resultando em redução da produção e, até
mesmo, no afastamento das ocupações. Ressaltando que bons níveis de saúde geral, incluindo
as condições do sistema músculo-esquelético, são de fundamental importância, não só no
sentido físico, mas, também, no contexto da socialização ou integração ao trabalho.
Para Brandão et al. (2005), o trabalhador, exercendo atividades que exijam esforço
físico associado à repetitividade, após certo período, começa a ter seu rendimento prejudicado
pela instauração do processo de fadigas muscular e mental, com o incremento de atividade
monótona, do esforço físico-postural e da insuficiência de pausas. São ressaltados também os
fatores extrínsecos, como a qualidade da comunicação, períodos prolongados de trabalho, não
rotatividade de tarefas e fatores psicológicos, tais como o estresse, pressão pela produção e o
relacionamento entre chefias e funcionários. (FILHO; BARRETO, 2001; MACIEL et al.,
2005).
22
A alta prevalência das LER/DORT tem sido explicada por transformações do trabalho
e das empresas, em que as metas e produtividade são vistas em primeiro lugar, provocando a
competitividade de mercado, e a busca por qualidade de produtos e serviços, ignorando os
limites físicos e psicossociais dos trabalhadores, sendo os sintomas osteomusculares
considerados o problema mais frequente relacionado ao trabalho (BRASIL, 2006). Para
Pinheiro et al. (2002) o crescimento desses sintomas pode estar associado ao fato de que o
trabalho tem se tornado cada vez mais mecanizado, com movimentos repetitivos e rápidos.
Carvalho e Alexandre (2006) citam a importância do envolvimento dos caracteres
multifatoriais, destacando-se os fatores biomecânicos presentes na atividade, fatores
psicossociais, características individuais e os fatores organizacionais.
Vale destacar que os sinais e sintomas mais comuns entre os trabalhadores com
LER/DORT são: a dor localizada, irradiada ou generalizada; desconforto; fadiga e sensação
de peso; formigamento; diminuição de força; edema e enrijecimento articular; falta de firmeza
nas mãos; e sudorese excessiva. Esses sintomas podem apresentar graus de gravidade
diferentes, sendo predominantes durante o término ou picos da produção. Os sintomas
aliviam-se no repouso, com o decorrer do tempo, porém, podem tornar-se contínuos
(OLIVEIRA, 2007).
1.3 Teoria do Estresse Físico X intervenções fisioterapêuticas
De acordo com Mueller e Maluf (2002), o estresse físico é definido como a força
aplicada em uma dada área do tecido biológico. Esses autores, que descrevem a Teoria do
Estresse Físico, relatam que as intervenções e exercícios que modificam o estresse físico tem
23
sido eficientes para diminuir limitações funcionais, incapacidades e dor, podendo ajudar
indivíduos com e sem doença.
A premissa básica dessa teoria são as mudanças nos níveis relativos de estresse físico
que causam uma resposta adaptativa previsível em todo o tecido biológico. Os princípios
fundamentais são os seguintes, devendo-se enfatizar que os tecidos biológicos exibem cinco
respostas características ao estresse físico:
a) Diminuição da tolerância (atrofia): níveis de estresse que estão abaixo
daquela amplitude de manutenção resultam na diminuição da tolerância do
tecido ao estresse subsequente.
b) Manutenção: níveis de estresse físico que estão na amplitude de manutenção
resultam em nenhuma mudança tecidual aparente.
c) Aumento da tolerância (hipertrofia): níveis de estresse físico que excedem a
amplitude de manutenção como, por exemplo, a sobrecarga resulta em
aumento da tolerância do tecido ao estresse subsequente.
d) Lesão: níveis excessivamente altos de estresse físico resultam em lesão
tecidual.
e) Morte: desvio extremo da amplitude de manutenção do estresse que excedem a
capacidade adaptativa do tecido resultado em morte do tecido.
A inflamação ocorre imediatamente após a lesão tecidual e faz com que o tecido
lesado se torne menos tolerante ao estresse do que era antes da lesão, e o nível de estresse
referido para alcançar uma dada resposta do tecido pode variar entre indivíduos, dependendo
da presença ou ausência de uma série de variáveis moduladoras que são fatores que afetam o
nível de estresse físico do tecido ou a reposta adaptativa do tecido ao estresse físico, sendo
elas:
24
a) Fatores de movimento e alinhamento: performance muscular, controle motor,
postura e alinhamento, atividade física, ocupacional e atividades domésticas.
b) Fatores extrínsecos.
c) fatores psicosociais.
d) Fatores fisiológicos: medicamentos, idade, patologias sistêmicas e obesidade.
Sendo esses modulados por fatores como: a magnitude, o tempo (duração, repetição,
frequência) e direção (tensão, compressão, cisalhamento e torção). Portanto, uma magnitude
de estresse baixa, mas com alinhamento ruim tem mais chances de lesão do que postura em
alinhamento bom. Desta forma, acredita-se que a teoria pode ser aplicada na maioria dos
casos dos pacientes com problemas primários, e também tem uma aplicação direta nos casos
relacionados ao bem-estar, prevenção e incapacidades físicas.
A teoria do estresse físico provém de uma estrutura múltipla para a abordagem no
cuidado ao paciente e enfatiza que o papel do estresse físico para direcionar os fatores
conhecidos e o nível do estresse físico na resposta tecidual. De acordo com esta teoria, o papel
do fisioterapeuta é modificar o estresse físico para alcançar o objetivo desejado; dois amplos
objetivos podem ser discutidos: o primeiro é reduzir dor, limitações funcionais que resultam
da lesão; e o segundo é aumentar a tolerância às atividades. (MUELLER; MALUF, 2002).
O fisioterapeuta pode intervir no ambiente do trabalho, modificando o estresse físico
por meio de algumas das variáveis moduladoras. Partindo do exposto, acredita-se que as
intervenções fisioterapêuticas podem ser benéficas no tratamento e prevenção das
LER/DORT. A abordagem preventiva das LER/DORT deve ser global e avaliar todos os
elementos do sistema de trabalho: o indivíduo, os aspectos técnicos do trabalho, ambiente
físico e social, a organização do trabalho e as características da tarefa (BRASIL, 2005;
SAKATA; ISSY, 2003). Uma das formas de prevenção de sintomas osteomusculares é a
ginástica laboral (GL).
25
O primeiro vestígio da GL vem da Polônia, datado de 1925, com o nome “ginástica de
pausa”. Na década de 1960, atingiu outros países da Europa e, principalmente, o Japão, onde
ocorreu a consolidação e sua obrigatoriedade.
No Brasil, a GL iniciou-se em 1973, na escola de educação Feevale, onde estabelecia
uma proposta de exercícios baseados em análises biomecânicas. Essa prática vem
contribuindo para a melhora das condições de trabalho e do relacionamento interpessoal, além
de reduzir os acidentes de trabalho e aumentar a produtividade, gerando um maior retorno
financeiro para a empresa (OLIVEIRA et al. 2007).
Definida como prática voluntária de atividade física, realizada pelos trabalhadores no
próprio local de trabalho durante a sua jornada, sob orientação, tendo como objetivo a
principal a prevenção de doenças ocupacionais, a GL é um programa que possibilita ao
trabalhador otimizar a relação do que é exigido de seu corpo/mente e o próprio trabalho em si,
compensando os movimentos repetidos, a ausência de movimentos, ou as posturas
desconfortáveis assumidas durante o período de trabalho no momento em que é realizada a
ginástica laboral (BRASIL, 2006; FIGUEIREIDO; MONT’ALVÃO, 2005).
Militão (2001) descreve os tipos de GL, referentes ao momento do trabalho e suas
indicações:
ƒ
Preparatória ou de aquecimento: quando realizada no início da jornada de
trabalho,
inclui
exercícios
de
coordenação,
equilíbrio,
concentração,
flexibilidade e resistência muscular.
ƒ
Compensatória: realizada durante a jornada de trabalho, sua principal
finalidade é compensar todo e qualquer tipo de tensão muscular adquirido pelo
uso excessivo ou inadequado das estruturas músculo-ligamentares.
26
ƒ
Relaxamento: realizada no final da jornada de trabalho, tem como objetivo a
redução do estresse, alívio das tensões, redução dos índices de desavenças no
trabalho e em casa, com conseqüente melhora da função social.
O desempenho do trabalhador não é algo constante e a GL tem função importante no
início do turno, porque o organismo começa progressivamente a adaptar seus processos
fisiológicos às exigências do trabalho. Após esse período, gradativamente chega ao ápice de
seu rendimento, cuja duração é de aproximadamente duas horas. Em seguida vem o cansaço e
a fadiga decaindo, assim, a produção do trabalhador. (FIGUEIREDO; MONT’ALVÃO,
2005).
O uso da GL na empresa tem como base teórica a Teoria do Estresse Físico; sendo
assim, a GL pode reduzir o nível de estresse assim como ativar algumas áreas do corpo que
estão abaixo do nível de estresse considerado normal. Quanto à frequência e duração da GL,
há divergências entre os pesquisadores, mas a maioria afirma que ela deve ser praticada de
duas a cinco vezes por semana, com inserções de dez a quinze minutos (OLIVEIRA, 2007).
Encabeçando a lista dos efeitos benéficos da GL, evidencia-se a diminuição das
LER/DORT. Maciel et al. (2005) relatam que a prática de exercícios físicos é benéfica
quando realizada pela livre vontade dos indivíduos, além de ser diversificada. Outra
importante contribuição é diminuir o número de acidentes de trabalho, prevenir a fadiga
muscular, aumentando a disposição do funcionário ao iniciar o trabalho e ao retornar a ele
(FIGUEIREDO; MONT’ALVÃO, 2005).
Para a empresa o benefício da GL é o aumento da produtividade e diminuição dos
gastos com afastamentos (MORAES; DELBIN, 2005). Os benefícios da GL, segundo Maciel
et al. (2005), vão além do incremento da produção e atinge o amparo ao proprietário em
processos trabalhistas, como prova de sua preocupação no âmbito da saúde do trabalhador.
27
Sendo assim, Leite e Almeida (2005) relatam que uma estratégia para reduzir a
incidência de sintomas osteomusculares é a implantação de um programa de fisioterapia
preventiva e profilática que inclua a GL, mas, que contemple também níveis mais amplos
como os aspectos ergonômicos do trabalho (OLIVEIRA et al., 2007).
A ergonomia pode ser conceituada como conjunto dos conhecimentos científicos
relacionados ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos
que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência, incluindo o
saber do trabalhador como condição indispensável para o sucesso da ação ergonômica
(WISNER, 1987, apud BRASIL, 2005). A ergonomia foi regulamentada pela Norma
Regulamentadora n.º 17 (NR 17)3, proposta pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Essa norma obriga as empresas a alterarem a forma como era organizada a produção,
reduzindo a aceleração da cadência de trabalho e estabelecendo critérios de conforto para os
trabalhadores. Estes critérios envolvem a adequação do mobiliário e do ambiente de trabalho
(BRASIL, 2002).
A análise ergonômica do trabalho advém do estudo das situações do trabalho integrada
a conhecimentos psicofisiológicos, ultrapassando as relações simplistas de causa e efeito
(ABRAHÃO, 2000). As intervenções no ambiente de trabalho têm como objetivo mais que
obter adicional de insalubridade, “monetarizar riscos”, e instalar equipamentos de proteção,
diagnosticar nexos causais entre o trabalho e a saúde. Busca-se chegar às raízes causadoras
dos agravos, ou à organização que preside os processos de trabalho instaurados (MINAYOGOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997). Uma das formas de chegar-se a essas raízes é considerar
a diversidade da população de trabalhadores, bem como as características a ela inerentes,
reconhecer e compreender a variabilidade inter e intraindividual nas diferentes etapas de um
projeto industrial, possibilitando a valorização do saber constituído ao longo do tempo,
3
Em 23/11/ 1990, o Ministro do Trabalho assinou a portaria (nº. 3.751) que dava nova redação à NR 17
28
incorporado na experiência do trabalhador (ABRAHÃO, 2000). Muitas vezes as instituições
ou profissionais implantam programas de GL e os denominam de “programas de ergonomia
ou prevenção ergonômica das LER/DORT”. Considerando o custo de implantação da GL, os
proprietários preferem aderir a ela, acreditando assim ter uma “maior proteção” legal no
âmbito de fazer algo para a saúde do seu trabalhador, o resguardando de problemas futuros
(MACIEL et al., 2005).
A principal diferença entre a abordagem ergonômica e a GL é que a primeira tem
como foco a relação do trabalhador com sua situação de trabalho e a segunda diretamente no
âmbito físico do trabalhador, aparecendo o corpo como um fim em si mesmo e objeto direto
da intervenção do especialista (SOARES et al., 2006). Figueiredo e Mont’Alvão (2005),
consideram ser a GL uma ferramenta da Ergonomia. Os autores afirmam que, quando a GL é
realizada de maneira adequada, regular e associada a ergonomia, pode tornar-se um meio de
promover a melhor qualidade de vida no trabalho, sendo ambas complementares e necessárias
de visão interdisciplinar.
Uma outra forma de diminuir e/ou prevenir os sintomas osteomusculares gerados pelas
diversas situações ocupacionais é a utilização de procedimentos educacionais. De Vitta e
colaboradores (2008) utilizaram procedimentos educacionais baseados na exposição do
conhecimento pelo educador e oficinas onde o educador aproveita as experiências trazidas
pelos trabalhadores para proporcionar condições de enfretamento de dificuldades laborais do
dia a dia e concluíram que a educação pode capacitar o indivíduo para ganhar autonomia e
conhecimento na escolha de condições mais saudáveis.
29
1.4 Educação em saúde
A questão da educação e sua representação no ambiente de trabalho são fatores que
podem propiciar ao trabalhador condições significativas de vivenciar diversos experiências de
risco dentro e fora do ambiente de trabalho. A educação em saúde é um espaço para o
desenvolvimento humano, tanto para os profissionais da saúde quanto para o seu públicoalvo, sendo essas intervenções nem sempre voltadas para a doença, mas, também, para o
âmbito de prevenção e promoção da saúde (PEREIRA, 2003). De acordo com De Vitta et al.
(2008), porém, a educação sozinha não tem força para propiciar a saúde desejável à
população, mas ela tem condições de capacitar os indivíduos para sua autonomia,
proporcionando-lhes, assim, as condições de enfrentamento do processo saúde–trabalho.
De acordo com Tavolaro et al. (2006), os trabalhadores têm direito de saber quais os
perigos e riscos potenciais de suas tarefas e locais de trabalho; é importante que os
trabalhadores tenham o poder para melhorar suas condições de trabalho pelas suas próprias
ações, devendo para isso, receber todas as informações necessárias para enfrentar
efetivamente seus problemas de saúde ocupacional.
Por meio do discurso de maior capacidade de entendimento e enfrentamento dos
problemas, nos anos 70 foi sistematizada a educação popular, norteando a relação entre
intelectuais e classes populares. A partir daí foi trazida para o setor saúde uma cultura de
relação com as classes populares, representando uma ruptura entre a tradição autoritária e
normatizadora da educação em saúde aplicada anteriormente, surgindo aí a Educação Popular
em Saúde (FREIRE, 1987).
Segundo Freire (1987), a educação libertadora, ou problematizadora, é a educação em
que os educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo, superando o
intelectualismo alienante, superando o autoritarismo do educador “bancário”, superando
30
também a falsa consciência do mundo. Na visão “bancária” da educação, o saber é uma
doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber.
A educação popular em saúde emerge de um contexto em declínio. As configurações
individuais, baseadas em vivências diversas, dificultavam a disseminação da educação por
meio do formato normatizador até então vigente, em que se desprezavam o conhecimento e a
cultura do outro, sendo o profissional da saúde o “detentor do saber”. Contudo, educação
popular em saúde, à medida que problematiza e cria espaços de diálogo entre os atores
envolvidos, proporciona a construção e difusão de um novo conhecimento que se inova em
relação ao conhecimento crítico em saúde e aponta para caminhos mais adequados à
superação dos problemas de saúde (VASCONCELOS, 1998). Luckesi (1994) acrescenta que
o contexto pedagógico que atenda a transformação deverá ter clareza de “aonde se quer
chegar”, em que os meios serão descobertos a partir da interação reflexiva do educador com
os acontecimentos, permitindo-lhe identificar os modos de ação adequados e necessários, o
que não será fácil, mas será rico e satisfatório para os objetivos que se tem à frente.
Pereira (2003) descreve o método educativo de Paulo Freire como uma relevante
contribuição para os programas comunitários, denominando-o de empowerment education,
que está diretamente relacionado a programas que promovam uma consciência crítica sobre
sua realidade vivida. De acordo com Freire (1976), a cultura fixada na palavra corresponde à
inexperiência do diálogo e da investigação.
Tavolaro et al. (2006) define empowerment como uma ação social que promove a
participação de pessoas, organizações e comunidades para ganhar controle sobre suas vidas,
tanto na comunidade como na sociedade como um todo. Mecanismos legais que levem o
direito à informação e à melhoria das condições de trabalho são caminhos para mudar-se esta
situação, sendo os programas de educação que envolvam os profissionais no setor de trabalho
importantes para promover a melhor qualidade de vida.
31
De acordo com Brandão (2001), este é um momento em que se pode bem mais do que
nos anos sessenta, falar de uma “experiência de Educação Popular na área da Saúde”, e esta é
possível em decorrência da interação do trabalho profissional da saúde pública com o trabalho
cultural de educação popular.
No que se refere às atividades técnicas do fisioterapeuta, a educação popular em saúde
favorece uma reformulação, tendo como base o estabelecimento de uma relação em que o
diálogo sirva de elemento enriquecedor. Isso se torna possível a partir do momento em que o
conhecimento popular é valorizado. Nesse contexto, o profissional busca o fortalecimento dos
atores sociais na luta por mudanças que favoreçam a saúde e, não apenas, levar orientações a
serem seguidas pela população, fugindo, assim, das práticas de “depósito” de conhecimentos,
fazendo uma abordagem dialógica. A fisioterapia vive um momento de alargamento da sua
atuação e, de acordo com Almeida et al. (2005), a educação popular apresenta-se neste
contexto como um importante norteador para os profissionais que compreendem a “saúde
como direito e como conquista”. Desta forma, o fisioterapeuta pode direcionar sua prática
para o fortalecimento do indivíduo e das classes populares numa perspectiva de
transformação, baseada na solidariedade e no aprendizado mútuo.
32
2 METODOLOGIA
Neste estudo adotou-se o delineamento quase-experimental, de acordo com a
classificação de Campbell e Stanley (1971), utilizando grupo único de sujeitos, submetido a
pré e pós-testagem na forma de avaliações antes e depois das intervenções.
2. 1 Caracterização do estudo
As intervenções utilizadas foram a ginástica laboral e os procedimentos educativos, e a
testagem foi feita pelo uso de questionários aplicados antes e após as intervenções. A pesquisa
foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Educacional de Divinópolis /
Universidade do Estado de Minas Gerais (FUNEDI/UEMG), sob Parecer n.º 11/2008
(ANEXO I).
Para análise dos dados optou-se pela associação de depoimentos do trabalhador aos
dados quantitativos obtidos antes e após as intervenções. De acordo com Minayo e Sanches
(1993) e Minayo-Gomes e Thedim-Costa (1997), o estudo quantitativo pode gerar questões
para serem aprofundadas qualitativamente, e vice-versa e para contemplar a relação trabalho–
saúde de uma forma mais abrangente, “o quantitativo não se opõe ao qualitativo, o
mensurável não nega o imensurável”, valorizando o conhecimento tecido no cotidiano dos
trabalhadores em associação ao saber teórico dos técnicos.
33
2.2 Local e sujeitos
A pesquisa foi realizada em uma fábrica de calçados, na cidade de Perdigão (MG), no
estado de Minas Gerais, localizada no Alto São Francisco, a 150 km da capital, Belo
Horizonte, com aproximadamente oito mil habitantes. Sua economia ganhou destaque na
produção de calçados, tendo hoje devidamente registradas 120 fábricas. A fábrica em que foi
desenvolvida a pesquisa insere-se no contexto histórico da indústria de calçados local, por ser
a primeira fábrica de calçados do município. Possui 28 trabalhadores com produção diária de
seiscentos pares de botinas e chuteiras e jornada de trabalho de 44 horas semanais. Dos 28
trabalhadores que assinaram o Termo de Consentimento (APÊNDICE I), foram incluídos no
estudo 22, pois seis trabalhadores não participaram das intervenções.
2.3 Instrumentos
Foram utilizados três questionários, todos aplicados antes e após as intervenções. O
questionário de informações sócio-demográficas e ocupacionais (APÊNDICE II), questionário
sobre conhecimento de ergonomia e ginástica laboral (APÊNDICE III) e o questionário
nórdico de sintomas osteomusculares (QNSO) (ANEXO II).
O QNSO foi traduzido para a versão brasileira e validado por Pinheiro et al. (2002).
Este questionário avalia os sintomas osteomusculares em pescoço, ombro, cotovelo,
antebraço, punho/mão/dedo, região dorsal, região lombar, quadril/coxa, joelho, tornozelo/pé.
Ao final das intervenções foi realizada entrevista registrada em gravador digital e
transcrita, com autorização do trabalhador por meio do Termo Livre Esclarecido da Entrevista
(APÊNDICE VI), em que o trabalhador foi indagado sobre o que achou da ginástica laboral e
34
o que achou dos procedimentos educativos, visando assim a captar a percepção dos
trabalhadores quanto às intervenções realizadas.
2.4 Procedimentos e técnicas
O estudo foi iniciado com uma reunião coletiva na indústria, com a participação dos
proprietários e todos os trabalhadores. Os presentes foram esclarecidos dos objetivos e da
metodologia da pesquisa e sobre a liberdade de escolha em participar das intervenções
fisioterapêuticas, independente de ter aceitado ou não em participar da pesquisa.
Em seguida realizou-se uma avaliação individual dos trabalhadores em sala fechada,
onde foram aplicados os questionários citados no item 2.3.
Na semana seguinte às avaliações, iniciaram-se as intervenções fisioterapêuticas, que
foram constituídas de ginástica laboral compensatória e procedimento educativo, realizadas
durante um período de três meses.
2.4.1 Intervenção fisioterapêutica: ginástica laboral
A GL foi realizada em área livre da empresa, duas vezes por semana e com duração de
quinze minutos, perfazendo um período de três meses. A escolha do melhor horário foi feita
em reunião inicial com os trabalhadores, que optaram por utilizar o momento que antecede o
café da tarde. Assim a GL foi realizada entre 14h50min e 15h05min, sendo o protocolo de GL
realizado o compensatório, ou seja, realizado no meio da jornada de trabalho, e teve como
objetivo aliviar as tensões provocadas pela atividade laboral, promovendo exercícios
35
específicos de compensação para esforços repetitivos, estruturas sobrecarregadas e posturas
solicitadas nos postos de trabalho.
A GL foi composta por exercícios de alongamento e movimentação articular,
associados a atividades com bolas e elásticos. A ginástica foi ministrada pela pesquisadora,
utilizando música, e as atividades foram elaboradas de acordo com a demanda de esforço dos
trabalhadores no dia. Em cada GL havia uma atividade diferente da anterior, sendo que assim
os trabalhadores não sabiam exatamente quais seriam as atividades do dia.
Militão (2001) e Soares et al. (2006) discorrem sobre a importância das modificações
e inserções de material didático nos programas de GL, pois assim proporciona a sensação de
diversão nos trabalhadores.
2.4.2 Intervenção fisioterapêutica: procedimento educacional
O procedimento educacional utilizado foi baseado na educação popular em saúde
(FREIRE, 1987), valorizando o conhecimento do trabalhador e estabelecendo interação entre
a pesquisadora, o trabalhador e o ambiente de trabalho. A partir de temas relacionados à
anatomia humana, saúde do trabalhador, ergonomia, ginástica laboral e efeitos de posturas
mantidas para o sistema osteomuscular.
A duração do procedimento educativo foi de quinze minutos com a frequência de uma
vez por semana durante três meses. Os materiais didáticos utilizados foram revistas para
recortes, papel para colagem e construção de definições em saúde com o uso de pincéis pelos
trabalhadores para explicitarem seu conhecimento sobre saúde do trabalhador, podendo assim
discutir em grupo o assunto.
Os temas abordados foram divididos da seguinte forma:
36
1.º: anatomia básica da coluna;
2.º: efeitos da postura sentada para coluna.;
3.º: efeitos da postura de pé para coluna;
4.º: anatomia básica dos membros superiores;
5.º: efeitos da postura sentada para os membros superiores;
6.º: efeitos da postura de pé para os membros superiores;
7.º: anatomia básica dos membros inferiores;
8.º: efeitos da postura sentada para membros inferiores;
9.º: efeitos da postura de pé para membros inferiores;
10.º: ergonomia;
11.º: ginástica laboral e sintomas osteomusculares;
12.º: saúde no trabalho;
13.º: tema livre (esclarecimento de dúvidas).
Ao fim dos três meses de intervenção fisioterapêutica, os participantes do estudo
responderam novamente os questionários aplicados no início do estudo. Em seguida foi
realizada a entrevista gravada citada no item 2.3.
Foram realizados no total treze sessões de procedimentos educativos e 25 sessões de
ginástica laboral.
Os dados quantitativos coletados foram analisados no programa SPSS 13.0®,
aplicando o teste de McNemar, usado para a comparação entre os dois ou mais grupos de
dados, pareados, com distribuição não-normal, com nível de significância de 5%.
37
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 22 trabalhadores participantes 50% eram do sexo feminino, com idade entre
quinze e vinte anos (13,6%), seguida das faixas etárias 21 e 25 anos (31,8%), 26 a trinta anos
(22,7%) e 31 a 35 anos (13,6%), 41 a 45 anos (18,3%), demonstrando que o maior
contingente de trabalhadores é jovem em idade produtiva. Quanto à escolaridade, 41% dos
trabalhadores tinham ensino fundamental; 45,5%, ensino médio; e 13,5%; ensino superior,
corroborando com o perfil do trabalhador formal brasileiro traçado pelo Serviço Social da
Indústria (Sesi) (2005) em 2003, em que o nível médio agrega a maior parte dos trabalhadores
formais do país (38,2%), sendo que na região sudeste a maior parte dos trabalhadores formais
(42%) possuía ensino fundamental, seguido de ensino médio (38,2%) e superior (18,5%).
Frassetto (2006), em seu estudo sobre a indústria de calçados de São João Batista, Santa
Catarina, descreveu que 63% dos trabalhadores do setor obtinham ensino fundamental e
somente 6,3% ensino superior.
O tempo de trabalho na empresa variou de três meses a quinze anos, ou seja, há quanto
tempo o trabalhador está nesta empresa, sendo que 52% dos trabalhadores estão na empresa
há mais de seis anos (GRÁF. 1).
até 1 ano
24%
ma is de 1
até 2 anos
52%
1 9%
0%
5%
ma is de 2
até 4 anos
ma is de 4
até 6 anos
ma is de 6
anos
Gráfico 1: Porcentagem de trabalhadores, por intervalo de tempo de trabalho na empresa
38
A porcentagem de trabalhadores (GRÁF. 2) que exercem funções idênticas há mais de
dois anos é expressiva (63%). O tempo de trabalho na mesma função é fator de risco para
sintomas osteomusculares, pois envolve posturas mantidas e repetitividade no trabalho.
Pastre et al. (2007), verificaram que o tempo de exposição ao trabalho de seis meses ou mais
caracterizava risco para as condições que levavam ao afastamento do trabalho.
14%
até 1 ano
27%
mais de 1
até 2 anos
23%
mais de 2
até 3 anos
mais de 3
até 4 anos
9%
mais de 6
anos
27%
Gráfico 2: Porcentagem de trabalhadores, por intervalo de tempo de trabalho na tarefa atual
O resultado do questionário nórdico de sintomas osteomusculares (QNSO), aplicado
antes das intervenções, mostra que 77,3% dos trabalhadores apresentavam algum tipo de
sintoma osteomuscular (dor, desconforto ou dormência) na semana que antecedeu à aplicação
do questionário inicial. Após as intervenções, a porcentagem de trabalhadores com queixa na
última semana caiu para 45,5%. Este achado tende a ser positivo para as intervenções
propostas, principalmente se se considerar o relato dos trabalhadores sobre a intervenção:
Ah, pra mim foi ótimo; eu achei que deu um bom resultado, melhorou bastante as
dores, né? (...) (T4).
A ginástica, eu acho que foi boa, porque ajudou a diminuir as dores não só minha,
mas do pessoal que eu conversei, principalmente das costureiras (...) (T16).
39
Outro dado destacado no questionário foi que 31,8% dos trabalhadores relataram
afastamento de alguma atividade por causa de sintomas osteomusculares nos doze meses
anteriores as intervenções.
Entretanto, Brandão et al. (2005) encontraram, ao aplicar o QNSO em bancários de
Pelotas, Rio Grande do Sul, a seguinte porcentagem: 43% dos entrevistados obtiveram algum
episódio de dor na semana anterior à entrevista. Picoloto e Silveira (2006) demonstraram que
é grande a prevalência de sintomas osteomusculares em metalúrgicos de Canoas, Rio Grande
do Sul, 53,3% nos últimos sete dias.
Em relação ao sexo (gênero), houve maior relato de sintomas osteomusculares antes
das intervenções pelas mulheres, sendo que 82% relataram algum sintoma osteomuscular na
semana antes das intervenções e, após as intervenções, 64% das mulheres e 27% dos homens
mantiveram sintomas em alguma região do corpo na semana antecedente ao questionário final
(GRÁF. 3).
82%
Mulheres
64%
Antes
Após
72%
Homens
27%
Gráfico 3: Presença de sintomas osteomusculares por sexo, antes e após as intervenções,
considerando o questionário nórdico de sintomas osteomusculares na semana que
antecedeu à aplicação dos questionários inicial e final
Os sintomas osteomusculares acometem muito mais mulheres que os homens, sendo
esta prevalência encontrada em diversos estudos, Filho e Barreto (2001) observaram em
cirurgiões dentistas de Belo Horizonte (MG) que 66,5% das mulheres relatavam sintomas
40
osteomusculares. Picoloto e Silveira (2008) comentam sobre a frequência de mulheres nas
ocupações mais monótonas e repetitivas. No caso das mulheres do presente estudo, é possível
que a dificuldade na redução dos sintomas possa ser influenciada pelo fato de as mulheres
assumirem a função de costura, considerada pelos próprios trabalhadores uma atividade
desgastante.
A ginástica, eu acho que foi boa, porque ajudou a diminuir as dores não só minha,
mas, do restante do pessoal que eu conversei, principalmente das costureiras, né?,
na região das costas. (T17).
Maciel et al. (2006) e Brandão et al. (2005), que argumentaram sobre sintomas
osteomusculares e sexo, atribuíram à dupla jornada de trabalho da mulher, as suas obrigações
domésticas além da jornada diária na empresa, muitas vezes em posturas inadequadas ou
tarefas repetitivas, sendo algumas das justificativas para esse incremento de queixas
femininas, que acarretam um grande desgaste físico e mental.
Estivalet et al. (2004), analisando ergonomicamente a máquina de costura utilizada
para a confecção de sapatos, concluíram que a regulagem do ponto da máquina de costura
implica em movimentos inadequados, caracterizando postura desconfortável aos operadores,
prejudicando principalmente a região lombar.
Para Maciel et al., (2006), a diferença de massa muscular, composição corporal e
tamanho das mulheres em relação aos homens pode representar fator de risco predisponente a
sintomas osteomusculares. Salim (2003) acrescenta que é importante ir além da divisão do
trabalho para compreender a desigualdade da distribuição das LER/DORT entre os
trabalhadores e que as condições de precarização se têm-se revelado mais deletérias à saúde
das mulheres.
Os dados obtidos indicam redução significativa nos sintomas osteomusculares na
região dos ombros e também punho/mãos/dedos (TAB. 1). Houve ainda tendência à redução
dos sintomas na região de antebraço após as intervenções (p=0,063).
41
Depois
Não
Sim
Antes
13
1
Não
Pescoço
7
1
Sim
0,070
Valor-p
15
0
Não
Ombros
7
0
Sim
0,016*
Valor-p
22
0
Não
Cotovelo
0
0
Sim
1,000
Valor-p
17
0
Não
Antebraço
5
0
Sim
0,063
Valor-p
12
0
Não
Punho/mãos/dedos
9
1
Sim
0,004*
Valor-p
11
1
Não
Região dorsal
6
4
Sim
0,125
Valor-p
13
2
Não
Região lombar
7
0
Sim
0,180
Valor-p
16
2
Não
Quadris e/ou coxas
4
0
Sim
0,688
Valor-p
15
2
Não
Joelhos
2
3
Sim
1,000
Valor-p
14
1
Não
Tornozelos e/ou pés
5
2
Sim
0,219
Valor-p
Tabela 1: Sintomas osteomusculares por região anatômica em relação aos sete dias antes e após
as intervenções
Nota: Sendo Sim ou Não referente à presença de sintomas antes das intervenções indicados pela linha
e sintomas após indicados por coluna.
*Diferença estatisticamente significativa em nível de 5% pelo teste de McNemar.
Antes das intervenções houve um maior relato de sintomas na região dorsal (GRÁF. 4)
com punho/mãos/dedos (45,5%), seguido de pescoço (36,4%). Santos et al. (2007), após a
realização da ginástica laboral com funcionários da Universidade Paranaense, encontraram
maior incidência de comprometimento na coluna lombar, evidenciada por 68% antes do
programa de ginástica laboral – 54% obtiveram melhora após o programa –, seguido dos
42
ombros (13%), pescoço (3%), tornozelo/pés (6%), sendo que não houve relato álgico para
punho/mão/dedos após o programa.
31,80%
Tornozelos/pés
13,60%
22,70%
Joelhos
Antes
22,70%
18,20%
Quadris/coxas
Após
9,10%
31,80%
Região Lombar
9,10%
45,50%
Região dorsal
22,70%
45,50%
Punho/mãos/dedos
Antebraço
Ombros
Pescoço
4,50%
22,70%
0
31,80%
0
9,10%
36,40%
Gráfico 4: Porcentagem de sintomas osteomusculares por região anatômica nos últimos sete dias, antes e
após as intervenções
Os efeitos das intervenções foram mais evidentes nos membros superiores (GRÁF. 5).
Santos et al. (2007) relaram redução de queixas em ombro e punho/mão/dedos após o
programa de ginástica laboral. Carvalho e Moreno (2007) demonstraram a contribuição de tal
programa para minimizar as dores corporais, além da diminuição da ansiedade, melhora das
relações interpessoais e diminuição da fadiga muscular. Freitas et al. (2005) destacaram os
benefícios da GL em melhorar a flexibilidade e mobilidade articular, diminuindo a fadiga
decorrente de tensão e repetitividade que acometem tendões, músculos, fáscia e nervos. Os
trabalhadores do presente estudo também relatam benefícios semelhantes:
(...) (a ginástica) ajuda bastante a tirar as dores, igual eu tinha dores nos dedos,
assim na hora de passar a cola, e agora não tenho mais, e é bom. (T20).
(...) inclusive, quando eu tava com muita dor, fazia a ginástica e aliviava bem. (T2).
43
7
5
5
4
2
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el
pe
ho
xa
3
antes das intervenções
depois das intervenções
Gráfico 5: Número de trabalhadores que relataram sintomas osteomusculares em membros inferiores
e/ou superiores antes e após as intervenções fisioterapêuticas
O maior número de queixas osteomusculares em membros superiores pode ser
decorrente do esforço manual do setor calçadista, que exige muito dos membros superiores,
evidenciando assim a necessidade de uma maior intervenção neste contexto. Este fato também
foi observado por Filho e Barreto (2001) quando avaliaram a prevalência de dor
osteomuscular em cirurgiões-dentistas, em que as regiões do segmento superior do corpo
foram responsáveis por 58% das queixas. Oliveira (2007) concluiu que a GL pode ser
considerada uma alternativa para o problema, pois é considerado um exercício eficaz para
prevenir doenças relacionadas ao trabalho e, assim, melhorar a qualidade de vida do
trabalhador.
Os trabalhadores utilizaram também o momento da GL, não só no aspecto físico da
ginástica, mas, na troca de conhecimentos e condições para propiciar sua saúde no trabalho.
(...) da ginástica gostei também, porque ela, o que você ensinou e os exercícios que
a gente tinha que fazer pra não ficar com dor (...) (T1).
44
Esta fala remete à discussão a respeito do conhecimento desses trabalhadores sobre
saúde no trabalho. Somente um trabalhador conhecia ginástica laboral e ergonomia antes das
intervenções. Mesmo após as intervenções, 9% dos trabalhadores não compreendiam o que
era ginástica laboral, e 32% ainda não entendiam o que era ergonomia. Embora nem todos
tenham compreendido a importância das intervenções, muitos aproveitaram a oportunidade
para aprender:
As aulas o que eu achei que é bom pra gente saber o modo certo de trabalhar... até
pra não machucar no serviço, né?, e não ter um problema igual você falou, né?,
DORT, essas coisas... (T13).
Com os procedimentos de educação em saúde, acredita-se que agentes agressivos no
trabalho possam ser modificados. Fonseca (2006) relata a importância de a GL ser ministrada
por profissionais graduados, pela inclusão de educação em saúde no momento da atividade,
com o intuito de otimizar o programa. Sendo assim, os trabalhadores buscaram levar os
exercícios ali realizados para o seu dia a dia, relatando muitas vezes que certos alongamentos
eram feitos também no momento de trabalho quando surgia a dor, trazendo assim alívio dos
sintomas.
Carvalho e Moreno (2007) concluem que a prática da GL pode motivar os
trabalhadores a reivindicarem melhores condições de trabalho, uma vez que estimula os
trabalhadores à reflexão sobre sua saúde. De Vitta et al. (2008) afirmam que a educação
sozinha não tem forças para possibilitar a saúde desejável à população, fornece, porém,
elementos que capacitem os indivíduos a ganharem autonomia e conhecimento na escolha de
condições mais saudáveis.
Sobre o conhecimento da relação entre GL e sintomas osteomusculares na percepção
do trabalhador, antes das intervenções, dezesseis deles não sabiam qual era essa relação; um
trabalhador relatou que a GL não reduz os sintomas e cinco disseram que reduz. Após as
45
intervenções, vinte trabalhadores disseram que a GL reduz os sintomas osteomusculares e
apenas dois deles disseram não saber qual a relação entre os sintomas e a GL.
Contudo, alguns trabalhadores ressaltaram a importância do desenvolvimento prático
das questões discutidas nos procedimentos educativos.
As aulas no meu caso foi, no caso do meu problema, da minha dor, se você não
tivesse falado aí, como eu ia saber desse trem de levantar um tiquinho a lata, aí ia
ter que agüentar. (T15).
A prática seria a vivência das modificações citadas durante o processo educativo.
Outros exemplos seriam a mudança dos assentos, o apoio dos pés no chão e as pausas durante
o trabalho.
Pereira et al. (2006) relatam que a solução para os problemas de saúde ocupacional
deveria partir dos próprios trabalhadores, por meio de participação democrática e ativa.
Soares et al. (2006), porém, na análise ergonômica do trabalho de teleatendimento,
observaram que os trabalhadores expressaram o desejo de ter um programa de ginástica
laboral, entretanto, quando implantado o programa, não houve adesão dos trabalhadores.
Durante os procedimentos educativos, a principal indagação desses trabalhadores era
em relação à sua condição de modificar um ambiente de trabalho de forma eficaz, que para tal
necessitariam de apoio dos proprietários, surgindo aí a demanda para a análise ergonômica do
ambiente de trabalho. Na análise ergonômica do trabalho (AET), o trabalhador é abordado em
sua situação de trabalho como um todo, as relações entre as condições e organização do
trabalho e as manifestações expressas ou indiretas de fadiga, desgaste, desconforto, mal-estar,
doenças (PARAGUAI, 1990). Os modelos utilizados atualmente nas intervenções
ergonômicas buscam estabelecer uma relação entre a atividade e a multiplicidade de fatores
que a determina e compreender como se processa a inter-relação entre as características da
população com aquelas do contexto do trabalho (ABRAHÃO, 2000), perfazendo o caminho
46
extremo da visão geral do processo de trabalho até a análise detalhadíssima para detectar uma
série de pontos importantes (FIGUEIREDO; MONT’ALVÃO, 2005).
A fala deste trabalhador evidencia a necessidade de intervenção ergonômica nesse
ambiente de trabalho, para o qual se necessita de parcerias entre trabalhador–empregador a
fim de consolidar-se a saúde no trabalho na empresa.
(...) eu acho que os proprietários, os donos deviam também participar, porque não
adiante nós sabermos e eles, não, entendeu? Porque aí como a gente vai fazer?
Sabe? a gente faz e eles não fazem? Eu acho que eles tinham que participar das
aulas também, isso ia ajudar todo mundo... (T17).
Soares et al. (2006), em seu estudo sobre a baixa adesão dos trabalhadores ao
programa de GL, justifica que a implantação da GL sem “reorganizar” o trabalho pode
provocar constrangimentos aos trabalhadores. A inclusão da AET faz-se necessária para a
prescrição das atividades e intervenções ambientais e organizacionais; sem a AET as sessões
de ginástica laboral são apenas paliativas, já que ela não é capaz de atuar com eficácia sobre a
má postura ocasionada por um mobiliário inadequado, entretanto vale ressaltar que a GL é
importante complemento da AET (FONSECA, 2006; MARTINS, 2000).
Maciel et al. (2005) descrevem alguns benefícios para a empresa quando implantado o
programa de GL, dentre eles o baixo custo de sua implantação, justificativa que apresenta este
programa como primeira escolha, em vez da AET que acarretaria custos para reorganizar o
ambiente de trabalho na empresa.
De acordo com Martins (2000), a relevância da ergonomia num programa de ginástica
laboral dá-se em consideração ao trabalhador que passa a maior parte do seu tempo em um
ambiente que, se não for adequado e confortável, pode reprimir grande parte dos benefícios
conquistados pela prática da ginástica laboral. Dessa forma, as intervenções da GL e o
procedimento educativo devem ser somadas a outras atitudes preventivas como a AET.
47
CONCLUSÃO
Através da análise dos resultados há confirmação da hipótese que a ginástica laboral
associada ao Procedimento Educativo reduz sintomas osteomusculares em trabalhadores do
setor calçadista.
Os resultados apresentados após três meses de Ginástica Laboral, duas vezes por
semana e Procedimento Educativo uma vez por semana, levaram a crer que ocasionaram
alterações significativamente importantes nos sintomas osteomusculares e em educação em
saúde dos trabalhadores do setor calçadista pesquisados, além de ter sido boa a aceitação das
intervenções por estes trabalhadores.
Foi clara a interferência positiva da intervenção em ginástica laboral, visto que 31,8%
dos trabalhadores relataram redução de sintomas osteomusculares após as intervenções, sendo
a região do punho/mãos/dedos a que houve maior redução dos sintomas, lembrando que esta
região é a mais acometida devido a característica do trabalho calçadista, onde exigi-se mais
esforço de membro superior durante a jornada de trabalho.
O procedimento educativo possibilitou a esses trabalhadores vivências de autonomia
de sua saúde no trabalho, proporcionando conhecimento na escolha de condições mais
saudáveis. Após as intervenções, 91% dos trabalhadores disseram que a ginástica laboral
associada ao procedimento educativo reduz os sintomas osteomusculares.
Conclui-se que a associação da GL com a Educação em saúde do trabalhador lhe traz
benefícios, entretanto, para a maximização dos efeitos positivos, é necessária a análise
ergonômica do trabalho.
48
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53
ANEXO I – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA FUNEDI/UEMG
54
ANEXO II – QUESTIONÁRIO NÓRDICO DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES
INSTRUÇÕES PARA PREENCHIMENTO
Por favor, responda a cada questão assinalando um “x” na caixa apropriada: X
Marque apenas um “x” em cada questão.
Não deixe nenhuma questão em branco, mesmo se você não tiver nenhum problema
em nenhuma parte do corpo.
Para responder, considere as regiões do corpo conforme ilustra a figura abaixo.
Pescoço
Ombros
Região Dorsal
Cotovelos
Antebraço
Região Lombar
Punhos/Mão/Dedos
Quadris e Coxas
Joelhos
Tornozelos/Pés
55
Considerando os últimos 12
meses, você tem tido algum
problema (tal como dor,
desconforto ou dormência)
nas seguintes regiões:
Você tem tido algum problema Durante os últimos 12 meses
você teve que evitar suas
nos últimos 7 dias, nas
atividades normais (trabalho,
seguintes regiões:
serviço doméstico ou
passatempos) por causa de
problemas nas seguintes
regiões:
1. Pescoço?
Não Sim
1
2
2. Pescoço?
Não Sim
1
2
3. Pescoço?
Não Sim
1
2
4. Ombros?
Não Sim
1
2 , no ombro
direito
3, no ombro
esquerdo
4, em ambos
5. Ombros?
Não Sim
1
2 , no ombro
direito
3, no ombro
esquerdo
4, em ambos
6. Ombros?
Não Sim
1
2 , no ombro
direito
3, no ombro
esquerdo
4 em ambos
7. Cotovelo?
Não Sim
1
2 , no cotovelo
direito
3, no cotovelo
esquerdo
4 em ambos
8. Cotovelo?
Não Sim
1
2 , no cotovelo
direito
3, no cotovelo
esquerdo
4 em ambos
9. . Cotovelo?
Não Sim
1
2 , no cotovelo
direito
3, no cotovelo
esquerdo
4 em ambos
10. Antebraço?
Não Sim
1
2 no antebraço
direito
3 no antebraço
esquerdo
4 em ambos
11. Antebraço?
Não Sim
1
2 no antebraço
direito
3 no antebraço
esquerdo
4 em ambos
12. . Antebraço?
Não Sim
1
2 no antebraço
direito
3no antebraço
esquerdo
4 em ambos
13. Punhos/Mãos/Dedos?
Não Sim
1
2 no punho/mão/
dedos direitos
3 no punho/mão/
dedos esquerdos
4 em ambos
14. Punhos/Mãos/Dedos?
Não Sim
1
2 no punho/mão/
dedos direitos
3 no punho/mão/
dedos esquerdos
4 em ambos
15. . Punhos/Mãos/Dedos?
Não Sim
1
2 no punho/mão/
dedos direitos
3 no punho/mão/
dedos esquerdos
4 em ambos
56
Considerando os últimos 12 Você tem tido algum problema
meses, você tem tido algum nos últimos 7 dias, nas
problema (tal como dor, seguintes regiões:
desconforto ou dormência)
nas seguintes regiões:
Durante os últimos 12 meses
você teve que evitar suas
atividades normais (trabalho,
serviço
doméstico
ou
passatempos) por causa de
problemas nas seguintes
regiões:
16. Região dorsal
Não Sim
1
2
17. Região dorsal
Não Sim
1
2
18. Região dorsal
Não Sim
1
2
19. Região lombar
Não Sim
1
2
20. Região lombar
Não Sim
1
2
21. Região lombar
Não Sim
1
2
22. Quadris e/ou coxas
Não Sim
1
2
23. Quadris e/ou coxas
Não Sim
1
2
24. Quadris e/ou coxas
Não Sim
1
2
25. Joelhos
Não Sim
1
2
26. Joelhos
Não Sim
1
2
27. Joelhos
Não Sim
1
2
28. Tornozelos e/ou pés
Não Sim
1
2
29. Tornozelos e/ou pés
Não Sim
1
2
30. Tornozelos e/ou pés
Não Sim
1
2
57
APÊNDICE I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
N.º___________
Título da pesquisa: “Intervenção fisioterapêutica na atividade laboral do setor calçadista”.
Objetivo: O objetivo desta pesquisa é verificar os efeitos da intervenção fisioterapêutica, pó
meio da ginástica laboral associada ao procedimento educativo sobre os sintomas
osteomusculares em trabalhadores do setor calçadista.
Esta pesquisa está sendo desenvolvida pela mestranda em Educação, com linha de
pesquisa em Saúde Coletiva da Fundação Educacional de Divinópolis / Universidade do
Estado de Minas Gerais / Instituto de Ensino Superior e Pesquisa (Funedi/UEMG\Inesp).
Responsáveis: Fernanda Silva Gonçalves (fisioterapeuta mestranda), Viviane Augusto
(fisioterapeuta, docente do curso de fisioterapia da Funedi/UEMG e co-orientadora do
projeto), Daniel Silva Penha (fisioterapeuta, docente do curso de fisioterapia e do mestrado
em Educação da Funedi/UEMG). Telefones para contato: (37) 9111-9611 ou (37) 3287-0177.
Procedimentos: Será realizada uma avaliação individual prévia para levantamento de
informações sócio-demográficas e ocupacionais, com os funcionários que aceitarem participar
da pesquisa. Em seguida será aplicado o questionário nórdico de sintomas osteomusculares
para avaliação dos sintomas, seguido pelo questionário sobre o conhecimento de ergonomia e
ginástica laboral. Após a avaliação inicial, será realizada a intervenção fisioterapêutica,
envolvendo a ginástica laboral e o procedimento educacional.
O protocolo de GL será realizado no meio da jornada de trabalho e ao ar livre, duas
vezes por semana e com duração de quinze minutos, por um período total de três meses. Será
composta por exercícios de descontração muscular, alongamento e movimentação articular,
associados a atividades lúdicas com bolas, elásticos, balões e cones. O procedimento
educacional será baseado na pedagogia tradicional associado à educação para saúde e será
implementado por meio de aulas expositivas com duração de vinte minutos. O empregado é
livre para recusar-se a participar ou retirar o seu consentimento a qualquer momento, sem
qualquer prejuízo para si.
Riscos e benefícios: A realização desta pesquisa não oferece qualquer risco e em nenhuma
situação será revelada a identidade dos participantes. Nenhum participante receberá
compensação financeira ou terá qualquer tipo de despesa participando do estudo. Os
resultados deste trabalho poderão ajudar os fisioterapeutas e outros profissionais da área da
saúde a compreenderem a relação da ginástica laboral, procedimentos educativos e sintomas
musculoesqueléticos.
Consentimento: Declaro que li e entendi a informação acima e que todas as dúvidas foram
esclarecidas
Data: ___________________________ Assinatura:__________________________
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APÊNDICE II – QUESTIONÁRIO DE INFORMAÇÕES
SÓCIO-DEMOGRÁFICAS E OCUPACIONAIS
NOME:
IDADE:
SEXO:
ESTADO CIVIL:
GRAU DE INSTRUÇÃO:
CARGO NA EMPRESA:
TEMPO DE TRABALHO NA EMPRESA:
TEMPO DE TRABALHO NA OCUPAÇÃO ATUAL:
SITUAÇÃO DE SAÚDE:
1) EXISTÊNCIA DE PROCESSO PATOLÓGICO DIAGNOSTICADO?
2) USO DE MEDICAMENTOS?
59
APÊNDICE III – QUESTIONÁRIO SOBRE CONHECIMENTO DE
ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL
1) Você conhece ginástica laboral?
___Sim.
___Não.
_____Já ouvi falar.
1.1) Qual a relação entre ginástica laboral e sintomas musculoesqueléticos?
____Reduz os sintomas.
____Não reduz.
____Não sei.
2) Você conhece ergonomia?
____Sim.
____Não.
_____Já ouvi falar.
3) Qual a relação entre ergonomia e sua saúde?
_____Ergonomia ajuda a manter a saúde.
_____Não ajuda.
_____Não sei.
4) Cite três fatores importantes para manutenção de sua saúde no trabalho.
60
APÊNDICE IV – TERMO DE CONSENTIMENTO REFERENTE À ENTREVISTA
Título da pesquisa: “Intervenção fisioterapêutica na atividade laboral do setor calçadista”.
Objetivo: O objetivo desta pesquisa é verificar os efeitos da intervenção fisioterapêutica, por
meio da ginástica laboral associada ao procedimento educativo sobre os sintomas
osteomusculares em trabalhadores do setor calçadista.
Esta pesquisa está sendo desenvolvida pela mestranda em Educação, com linha de pesquisa
em Saúde Coletiva da Fundação Educacional de Divinópolis / Universidade do Estado de
Minas Gerais / Instituto de Ensino Superior e Pesquisa (Funedi/UEMG/Inesp)).
Responsáveis: Fernanda Silva Gonçalves (fisioterapeuta mestranda), Viviane Augusto
(fisioterapeuta, docente do curso de fisioterapia da Funedi/UEMG e co-orientadora do projeto,
Daniel Silva Penha (fisioterapeuta e docente do curso de fisioterapia e do mestrado em
Educação da Funedi/UEMG). Telefones para contato: (37) 9111-9611 ou (37) 3287-0177.
Este se refere ao consentimento individual do participante para que sua fala seja gravada,
transcrita e analisada, com finalidade exclusiva de pesquisa.
Declaro aceitar conceder entrevista de livre e espontânea vontade e consinto que os dados
coletados na entrevista sejam utilizados com fins de pesquisa, mediante explicação prévia.
Assinatura:________________________________________________________
Data:____________________________________________________________
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