Planejamento dos horários de administração de medicamentos ANÁLISE DO PLANEJAMENTO DOS HORÁRIOS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA CARDIOLÓGICA ANALYSIS OF THE TIME SCHEDULE FOR ADMINISTRATION OF DRUGS IN THE CARDIOLOGIC INTENSIVE CARE UNITY Rhanna Emanuela Fontenele* Thelma Leite de Araújo** RESUMO: Objetivou-se investigar a incidência de associações medicamentosas no planejamento do enfermeiro para os horários de administração ao paciente dos medicamentos prescritos pelo médico. Estudo transversal, com análise documental, realizado com 65 prontuários em uma unidade de terapia intensiva de Fortaleza, em 2003. Foram prescritos 550 medicamentos, com média de 12,9 por prontuário. A administração de medicamentos ocorreu preferencialmente às 22 horas (42,6%) e 6 horas da manhã (32%). A faixa etária de 60-80 anos (47,7%) foi a que recebeu mais medicamentos. A via oral foi a mais utilizada (62,1%); os anti-hipertensivos foram os mais prescritos (20,7%). A associação mais freqüente foi captopril e propranolol (6,8%); ocorreram 40 associações questionáveis por sua importância clínica. Foram identificados 272 horários de medicações não administradas. Conclui-se que é necessário ao enfermeiro o aprofundamento de seus conhecimentos em farmacologia para evitar associações medicamentosas indevidas e seus efeitos adversos no paciente. Palavras-chave: Interação de medicamento; incompatibilidade de medicamento; efeito adverso; enfermagem ABSTRACT ABSTRACT:: The purpose of this study was to investigate the incidence of drug associations in the time schedule built by the nurse for the administration of drugs prescribed for the patients by the physician. It is a cross-sectional study, based in documental analysis. Data have been collected from 65 clinical registers of an ICU (Intensive Care Unit) in Fortaleza city, in 2003. Five hundred and fifty (550) drugs have been prescribed, with a mean of 12,9 per clinical register. Drug administrations occurred most commonly at 10 p.m. (42,6%) and 6 a.m. (32%). The largest incidence of drug administration has been in the age group of 60-80 (47,7%). Oral administration has been the most frequent route (62,1%). Antihypertensive drugs (20,7%) have been more prescribed than other medicine classes. The mostly found drug association has been of captopril and propanolol (6,8%); in addition, other forty drug associations of questionable clinical relevance have been found. It has also been found 272 unchecked schedules, which indicate that the medicines were not administrated. From the results, it may be concluded that nursing staff needs a deeper understanding and knowledge about pharmacology in order to minimize or to prevent accidental drug associations and their consequent adverse effects. Keywords: Drug interaction; drug incompatibility; adverse effect; nursing. INTRODUÇÃO Entre as mais freqüentes atividades de- senvolvidas pela enfermagem em uma unidade de terapia intensiva (UTI) constam a administração e o aprazamento de medicamentos. Esses requerem conhecimentos específicos sobre farmacologia, incluindo as interações e reações medicamentosas associadas às drogas. No caso específico das UTI, tendo em vista a gravidade do quadro clínico e a instabilidade apresentada pelos pacientes, a quantidade de drogas prescrip.342 • R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. tas é grande e diversificada1. Portanto, exige-se o máximo de atenção para não ocorrer acidentes relacionados a esse procedimento, pois tais acidentes podem ser responsáveis por quadros específicos de iatrogenia. Segundo Pereira, pode -se classificar iatrogenia em dois tipos: iatrogenia de ação (relacionada aos riscos gerados pelos fármacos e procedimentos ou decorrente da ação médica) e a iatrogenia de omissão, relacionada à falta de ação Fontenele RE, Araújo TL do médico. Efeitos colaterais das drogas quando resultado de uma indicação terapêutica, profilática ou diagnóstica não são considerados iatrogenias, entretanto, tais efeitos colaterais podem ser considerados iatrogenia quando o médico não tiver conhecimento dessa possibilidade, podendo substituir a droga por outra menos tóxica e não o faz2. Com base nessas preocupações, objetivou-se investigar a incidência de associação medicamentosa no planejamento do enfermeiro para os horários de administração ao paciente dos medicamentos prescritos pelo médico. O estudo foi desenvolvido em uma unidade de terapia intensiva cardiológica, por ser esta a unidade de serviço onde se concentra o maior número de pacientes com quadro clínico grave e/ou instável, para os quais é prescrito diversificado conjunto de drogas, que é, frequentemente, administrado simultaneamente. Ressalta-se, portanto, a importância de trabalhos sobre associação medicamentosas pela possibilidade de propiciar ao profissional enfermeiro ampliar seus conhecimentos na área. Desse modo, espera-se minimizar e/ou até evitar possíveis reações adversas. MARCO REFERENCIAL Em estudo sobre ocorrências iatrogênicas em cinco UTI do município de São Paulo, a segunda maior freqüência desses eventos (33,4%) foi relacionada à medicação3. As causas mais comuns observadas nesse estudo foram os atrasos e adiantamentos na infusão de soros, aplicação de dosagem aumentada da droga e troca de vias de administração, evidenciando a responsabilidade do pessoal de enfermagem na UTI por esses eventos 3. Na prática clínica, é comum a ocorrência de interações adversas entre drogas administradas, cuja incidência é proporcional à quantidade de fármacos administrados simultaneamente4. Conforme se estima, a freqüência de interações medicamentosas significativas varia entre 3 e 5 % dos pacientes em uso de um número menor de medicações, porém aumenta para 10% a 20% naqueles pacientes em uso de 10 a 20 drogas5. Quanto mais medicamentos são dispensados, maior a possibilidade de as interações medicamentosas ocorrerem diariamente. Por isso, enfermeiros precisam estar atentos aos mecanismos das interações com o objetivo de preveni-los6. O enfermeiro participa diretamente do processo de terapia medicamentosa do paciente, cabendo-lhe, entre outras atividades, o preparo, a administração, o aprazamento e o monitoramento da medicação. No exercício diário da enfermagem, apesar da existência de rotinas institucionalizadas em relação às medicações, pode-se e deve-se interferir na forma como a assistência é realizada7. Desse modo, é possível não apenas prevenir as interações medicamentosas, mas também assegurar uma prática contextualizada na ciência, pois o enfermeiro é o responsável pelo planejamento dos horários de administração dos medicamentos e intervalos entre aqueles da prescrição médica. Embora a rotina de medicação ocupe posição estratégica na precipitação de interações, a maior parte da literatura sobre o assunto aborda temas direcionados para médicos e farmacêuticos, cujo foco principal de discussão é o medicamento. Raramente, porém, discorre sobre o processo da administração do medicamento e a importância da equipe de enfermagem8. Como membro de um projeto de pesquisa em saúde cardiovascular, fundamentado em proposta de cuidado nas alterações do processo saúde-doença, e como enfermeira de uma UTI Cardiológica, uma das autoras deste artigo sempre questionou a execução da prescrição médica pelo enfermeiro em horários preestabelecidos, sem levar em conta as características dos medicamentos e, principalmente, as possibilidades de interações medicamentosas. Esse aspecto assume conotação ainda mais especial se for considerado que nas UTI se encontram pessoas em situações críticas, cujo quadro clínico pode se complicar em razão de ocorrências iatrogênicas. Ademais, as drogas cardiológicas possuem maior potencial de causar interações medicamentosas e isso deve ser observado. Corrobora esta afirmativa um estudo9 desenvolvido sobre erros de medicação, no qual 41,2% dos eventos adversos encontrados estavam associados com drogas cardiovasculares. METODOLOGIA O estudo é do tipo transversal com análise documental. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador obtém amostra de uma grande população e classifica cada indivíduo amostrado segundo variáveis de interesse10. R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. • p.343 Planejamento dos horários de administração de medicamentos A população do estudo foi constituída por todos os pacientes admitidos em uma unidade de terapia intensiva especializada em doenças cardiopulmonares, no ano de 2004, na cidade de Fortaleza. A unidade é composta por 16 leitos de pacientes adultos com situações de comprometimento clínico e/ou cirúrgico e a equipe de enfermagem, por 16 enfermeiros e 30 técnicos e auxiliares de enfermagem que se dividem em plantões de 12 horas. Em cada plantão, permanecem dois enfermeiros, quatro auxiliares e um médico para cada oito pacientes. A unidade escolhida deve-se ao fato de ser um centro de referência em cardiologia e por serem as UTI, em especial a cardiológica, as unidades mais associadas às iatrogenias medicamentosas11. Sobressaem, nessas UTI, as características das drogas utilizadas e a própria gravidade dos pacientes, que determinaria a administração de um grande número de medicamentos, na maioria das vezes simultaneamente. A coleta de dados foi realizada no mês de julho de 2004. Inicialmente, o pesquisador solicitou à chefia da unidade a permissão para o acesso ao livro de admissão de pacientes. Esse livro contém os dados de identificação, bem como o diagnóstico e o tempo de internamento na unidade. Foram então utilizados os registros dos pacientes internados nos meses de abril e maio de 2004, período escolhido aleatoriamente para o estudo, no total de 141 pacientes. Aplicando-se o cálculo amostral, definiu-se a amostra em 65 pacientes, cujos prontuários foram solicitados ao Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME). A escolha dos 65 prontuários ocorreu de forma aleatória. Os prontuários dos pacientes foram utilizados como fonte de informação. Deles foram coletados os dados seguindo um roteiro de coleta contendo duas partes. A primeira compôs-se de dados demográficos e de identificação do paciente: iniciais do nome, idade, sexo, número do prontuário e dados referentes à internação na UTI (diagnóstico médico, data de admissão na unidade e destino). A segunda parte continha informações que possibilitavam o levantamento das medicações prescritas pelo médico, bem como dos horários de aprazamentos de enfermagem, durante pelo menos cinco dias de internação. Os dados foram armazenados e processados no Microsoft Excel. Com vistas a atender às recomendações da pesquisa com seres humanos, o projeto foi analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da própria p.344 • R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. instituição12. Também foi obtida a autorização da chefia médica e de enfermagem da unidade para a realização do estudo. RESULTADOS P E DISCUSSÃO ara melhor entendimento, os resultados obtidos serão apresentados conforme a ordem dos itens do instrumento utilizado para a coleta de dados, ou seja, caracterização da população, idade, sexo, tempo de internamento, número de medicamentos, horários com maior concentração de medicamentos, vias de administração, diagnóstico e classes de medicamentos mais prescritos, além das associações medicamentosas que mais ocorreram, e as interações clinicamente importantes. Foram analisados os aprazamentos de enfermagem durante cinco dias de internamento, em 65 prontuários, encontrando-se o total de 550 drogas aprazadas. Vale salientar que não foram contadas as medicações prescritas em infusão contínua, por não ser objeto deste estudo. A faixa de idade dos participantes variou de 20 a 90 anos. A maior freqüência foi a de 60 a 79 anos, com 31(48,4%) pacientes, como demonstra a Tabela 1. A moda e mediana de idade dos indivíduos do estudo correspondem a 62 anos. O tempo de internamento variou de 1 a 14 dias. A maioria permaneceu internada de 1 a 7 dias, com média de 4,7 dias. Conforme evidenciado, quem esteve internado de 1 a 7 dias recebeu menos medicamentos. De acordo com alguns estudos, quanto menor o tempo de internação, menor a quantidade de medicamento que o paciente recebe8 e conseqüentemente, menor o risco de ocorrências iatrogênicas com medicamentos. Na maioria dos prontuários, 44 (67,7%), havia para cada paciente de 10 a 20 medicamentos prescritos, correspondendo à média de 12,9 e moda 12. Em relação à idade, o maior número de medicamentos prescritos foi identificado na faixa etária de 60 a 79 anos, 31 (47,7%), com média de 11,7 medicamentos (desvio padrão de 3,8). Tais resultados são compatíveis com os encontrados na literatura1,2,7,11, e até esperados diante do crescente número de idosos na população brasileira e dos agravos à saúde aos quais são susceptíveis. Esses, muitas vezes, culminam em quadros clínicos graves que requerem internamento em unidades de terapia intensiva. Estudos1,2,8,13 justificam o grande número de medicamentos utilizados em unidades de terapia intensiva, pela gravidade do quadro clínico dos Fontenele RE, Araújo TL TABELA 1: Distribuição dos sujeitos segundo número de medicamentos prescritos, faixa etária, tempo de internamento, sexo e diagnóstico. Fortaleza-CE, 2004. pacientes. De modo geral, tais drogas são administradas simultaneamente, aumentando o risco de interações adversas. Paralelamente à gravidade do quadro clínico e ao número de medicamentos administrados, determinados grupos de pacientes, tais como os idosos e os portadores de doenças crônicas, são mais susceptíveis a interações. Nos idosos, a degeneração dos sistemas orgânicos e o excesso de medicamentos administrados os tornam mais sujeitos às reações de interação8. O principal motivo pelo qual a idade afeta a ação das drogas reside no fato de que o metabolismo das drogas e a função renal estão diminuídos em pessoas mais idosas. Dessa forma, pacientes mais idosos necessitam de maior número de drogas. Isso aumenta o potencial de interações farmacológicas. Vários fatores fisiológicos e patológicos, tais como deficiência do sistema imunológico, podem também aumentar o tempo de internamento desses indivíduos14. Ainda, dos 65 pacientes estudados, a maioR Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. • p.345 Planejamento dos horários de administração de medicamentos ria – 39 (59,3%) – era do sexo masculino e foi também quem mais recebeu medicamentos, segundo mostra a Tabela 1. Os pacientes do sexo masculino receberam em média 11,7 fármacos por dia, desvio padrão de 4,3. Na literatura pesquisada, não foi encontrada referência quanto ao número de medicamentos por sexo. Entre os diagnósticos médicos identificados no estudo, os de maior freqüência foram infarto agudo do miocárdio (IAM) – 18 (27,6%), insuficiência coronariana (ICO) – 10 (15,3%) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC) –8 (12,3%), conforme apresenta a Tabela 1. Foram encontrados outros diagnósticos médicos associados com as complicações das patologias cardíacas, tais como hipertensão arterial sistêmica, endocardite e angina instável. A maior incidência da administração de medicamentos ocorreu durante a noite, com maior freqüência às 22 horas (42,6%); em seguida, às 6 horas (32%), 14 horas (14,2%) e 18 horas (11,2%), de acordo com a Tabela 2. TABELA 2: Distribuição dos horários e vias de administração dos medicamentos. Fortaleza-CE, 2004. Em um estudo desenvolvido com pacientes onco-hematológicos, foi encontrada maior concentração de medicamentos aprazados nos horários de 10 (34,8%) e 22 (39,6%) horas7. Também, nesta pesquisa, constatou-se freqüência aproximada a do estudo mencionado quanto aos medicamentos administrados às 22 horas (42,6%). Na unidade onde o estudo foi desenvolvido, convencionou-se, como rotina, fazer um círculo em torno dos horários nos quais, por algum motivo, a medicação não tenha sido administrada. Tal círculo pode indicar alguns motivos para a suspensão como: naquele horário a medicação encontravase em falta na farmácia do hospital; havia o medicamento, mas não foi administrado por estar suspenso seu uso pelo profissional médico; não foi administrado por esquecimento, ou por qualquer outro motivo. Encontrou-se um total de 272 horários de medicações circuladas, isto é, elas não foram administradas. Além disso, na maior parte dos prontuários não havia nenhuma observação sobre o motivo da suspensão das medicações. Quanto à classe terapêutica mais utilizada, a Tabela 3 mostra que houve predominância dos anti-hipertensivos (20,7%), tais como inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), e os beta-bloqueadores. Seguem-se os antagonistas de H2 (13%), os antiagregantes plaquetários (11,3%), representados por ácido acetil salicílico TABELA 3: Distribuição dos medicamentos administrados aos pacientes por classe terapêutica. Fortaleza-CE, 2004. Quanto às vias para administração de medicação, utilizou-se com maior freqüência a oral, no total de 342 (62,1%) medicações, conforme registra a Tabela 2. Considerou-se também como administrada por via oral toda medicação recebida por sonda nasogátrica e nasoentérica. A segunda via mais utilizada foi a endovenosa, com 150 (27,2%) medicações, seguida pela subcutânea, 56 (10,1%), e intramuscular, 2 (0,3%). A omissão de dose é considerada erro de medicação, e a via representa fator determinante para alguns tipos de erros de medicação15. p.346 • R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. Fontenele RE, Araújo TL (AAS) e o clopidogrel, os anticoagulantes (10,7%) e os diuréticos (9%). Entre as demais medicações (16,7%), estão incluídos os analgésicos, ansiolíticos e corticóides. Em alguns estudos sobre reação adversa a medicamentos, a classe medicamentosa mais comumente associada a tais reações são os antiinflamatórios não estereoidais (DAINES) e os diuréticos 16 . No entanto, os fármacos cardiovasculares são citados como a classe farmacológica mais associada a erros de medicação e são responsáveis por 2,4 vezes mais reações adversas graves do que outros tipos de drogas9 . Entre as associações de medicamentos aprazados no mesmo horário, as mais freqüentes foram: captopril e propranolol, 133 (6,8%); captopril e furosemida 83 (4,2%); e captopril e ranitidina, 78 (4,0%), como demonstra a Figura 1. Adotouse como critério analisar mais detalhadamente as associações cujos efeitos adversos são considerados clinicamente graves, independentemente de sua freqüência. Por questões operacionais de organização de bancos de dados, buscou-se analisar as associações em duplas de medicamentos. Encontrou-se, então, um total de 340 associações de medica- FIGURA 1: Associações clinicamente significativas, por seus efeitos adversos, que apresentaram freqüência acima do percentil 95. Fortaleza-CE, 2004. R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. • p.347 Planejamento dos horários de administração de medicamentos mentos variados e foi definido que seriam discutidas apenas aquelas cuja freqüência se situava acima do percentil 95. Entre os 40 com freqüência acima do percentil 95, foram selecionados sete cuja associação medicamentosa era clinicamente significante, como demonstra a Figura 1. Mesmo não apresentando freqüência acima do percentil 95, vale salientar algumas associações, por serem consideradas graves, a exemplo da amiodarona e digoxina (5), que aumentam a concentração sérica de digoxina com riscos de transtornos no automatismo cardíaco 17,18 ; espironolactona e digitálicos (6), pelo aumento da sensibilidade do miocárdio aos digitálicos em virtude da hipocalemia, com risco de arritmias18; e da fenitoína e furosemida (26), que diminuem em torno de 50% o efeito diurético17. CONCLUSÕES Apesar dos inúmeros trabalhos encontra- dos sobre reações adversas, muitas vezes voltadas para o profissional médico e farmacêutico, não se localizou literatura suficiente quanto à analise de associações medicamentosas a partir do aprazamento realizado pelo enfermeiro. A diversidade de metodologias e termos utilizados sobre essa temática é também um dos fatores que dificultam o desenvolvimento de outros trabalhos sobre o assunto. Não se pretendeu aqui identificar erros da prescrição médica, tais como medicamento, dose ou via correta, e sim a forma como os medicamentos estão sendo distribuídos pelo enfermeiro para serem administrados. A média de idade dos participantes foi de 62 anos, com aproximadamente 4,7 dias de internamento. Conforme evidenciado, indivíduos mais idosos recebem mais medicamentos e ficam mais tempo internados. Os diagnósticos mais encontrados foram o infarto agudo do miocárdio e a insuficiência coronariana. Os indivíduos do sexo masculino tiveram maior freqüência no estudo e receberam em média 11,7 medicamentos. Foi encontrado um total de 550 medicamentos prescritos. O turno de maior concentração de medicação foi a noite, no horário das 22 horas (36,9%), em seguida as 6 horas (27,7%), 14 horas (12,4%) e 18 horas (9,7%). Chamou a atenção a quantidade de doses não checadas, ou seja, não p.348 • R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. administradas em 272 horários. Entretanto, na maior parte dos prontuários não havia anotação justificando a não administração do medicamento. A via oral foi a mais utilizada (62,1%), seguida da endovenosa. Este fato é importante, em face da crença de que esta deveria ser a mais utilizada em razão do quadro clínico dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva . As associações encontradas com maior freqüência foram o captopril e o propranolol (6,8%), o captopril e a furosemida (4,2%), o captopril e a ranitidina (4,0%). Identificou-se um quantitativo (28,3%) considerado elevado de associações medicamentosas com significado clínico. Com base neste estudo, conforme se pode concluir, os conhecimentos sobre farmacologia dos enfermeiros do campo da pesquisa ainda são incipientes. Portanto, é necessário aprofundar esses conhecimentos com vistas a minimizar e evitar possíveis reações indesejáveis capazes de ampliar a morbidade dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva. REFERÊNCIAS 1. Manenti S, Chaves AB, Leopoldino RS, Padilha KG. Ocorrências adversas com medicação em uma unidade de terapia intensiva: análise da administração de soluções hidroeletrolíticas e antibióticos. Rev Esc Enf USP. 1998; 32: 369-76. 2. Pereira AC, Franken RA, Sprovieri SRS, Golin V. Iatrogenia em cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2000; 75 (1): 75-77. 3. Padilha KG. Des-cuidar: as representações sociais dos enfermeiros de UTI sobre as ocorrências iatrogênicas de enfermagem [tese de doutorado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1994. 4. Rabadán AMT, Flores BMJ, Cayuela FJ, Cevidades lMM, Valvuena MMR, Ruiz MMT et al. Interacciones medicamentosas en la administración de fármacos dentro del processo de enfermería. Enfermería Global. 2002; 1(0): 01-22. 5. 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Fueron identificados 272 horarios de medicaciones no suministradas. Se concluye que es necesario al enfermero la profundización de sus conocimientos en farmacología para evitar asociaciones medicamentosas indebidas y sus efectos adversos en el paciente. Palabras Clave: Interacción de medicamento; incompatibilidad de medicamento; efecto adverso ; enfermería. Recebido em: 23.07.2005 Aprovado em: 14.07.2006 ________ Notas * Enfermeira, especialista em UTI, bolsista de apoio técnico à Pesquisa CNPq nº. R. Oregon, 135. Itaperi. Fortaleza- CE. CEP: 60742-330. E-mail: [email protected]. ** Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta da Universidade Federal do Ceará. R Enferm UERJ, Rio de janeiro, 2006 jul/set; 14(3):342-9. • p.349