resenhas Entre os salões e as salas de aula Carlos Haag 92 | março DE 2012 fotos eduardo cesar D esde os tempos do barão que sil junto às Nações Unidas (1999diplomacia é sinônimo de co2003), embaixador em Santiago nhecimento. Há quem diga (2003-2006), cônsul-geral em Maque foi a familiaridade de Rio Branco dri (2006-2009) e é professor do com mapas e com o passado obscuro Instituto Rio Branco e colaborador de nossos vizinhos a responsável pelo do Programa de Pós-graduação em seu sucesso em questões fronteiriças, Relações Internacionais da Uerj mais do que a realidade dos fatos. O (PPGRI-Uerj). Esse seu presente barão, aliás, fazia questão de cercar-se universitário, aliás, é prova cabal das melhores cabeças do seu tempo de que suas opiniões do passado para tomar decisões de política exeram válidas. Mas quando as deterna. Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, fendeu o ensino de relações interGraça Aranha, Euclides da Cunha, nacionais engatinhava nos meios entre outros, eram chamados a opinar acadêmicos e não havia, como agoainda que sem serem diplomatas de Diplomacia e academia ra, a intensa proliferação de curcarreira. A sabedoria continuou mar- Gelson Fonseca Junior sos sobre o tema. Tampouco havia cando a história do Itamaraty, até ho- Funag grande simpatia federal com a de246 páginas, R$ 42,00 je visto como o lugar por excelência mocratização da política externa para se exercer a política externa nacional, apesar ou o interesse atual do público sobre sua conda instituição recente da diplomacia presidencial. dução. Mas Gelson já preconizava: “Em termos Mas a globalização atropelou o ritmo polido do ideais, o fortalecimento da democracia supõe que passado. O Ministério das Relações Exteriores os diversos setores da sociedade civil tenham inagora é obrigado a consultar a sociedade e, como teresse e capacidade para dialogar com o Estanos tempos do barão, contar com a colaboração de do e moldar as decisões em todo o espectro das especialistas, na medida em que as negociações en- atividades governamentais”. Segundo ele, foi o volvem cada vez mais fatores técnicos que fogem discurso acadêmico sobre a diplomacia brasileira ao escopo de aprendizado dos diplomatas. o primeiro a defender a necessidade de ampliar Mas há 30 anos era uma temeridade imaginar a participação civil no processo de formulação o círculo cerradíssimo do Itamaraty abrindo suas diplomática. Longe de ver os novos estudiosos da portas para o mundo externo da realidade interna. diplomacia como uma ameaça, Gelson afirmou ao Ainda assim, o diplomata Gelson Fonseca Junior Itamaraty que eles eram uma influência positiva teve a ousada intuição de avisar a Casa que os a ser apoiada, mesmo quando críticos. Seu ponto de vista convidava a instituição a tempos estavam para mudar e, com eles, o próprio Itamaraty. Em sua tese, que apresentou no âmbito tomar uma posição: rejeitar o processo, que ele do Itamaraty, Diplomacia e academia, um estudo vê como irrefreável; ou fazer da academia um sobre a política externa brasileira na década de interlocutor, um parceiro necessário. A junção afirmaria que a instituição defendia 1970 e sobre as relações entre o Itamaraty e a comunidade acadêmica, que acaba de ser lançado o modelo democrático. O novo interlocutor não em livro pela Fundação Alexandre de Gusmão restringiria a autonomia da Casa, mas ampliaria a (Funag), o futuro embaixador, antes do impacto participação social em suas decisões, traria mais da globalização e em pleno regime militar, afir- interlocutores da sociedade civil, um movimento mava a necessidade da integração entre os dois que, previa Gelson, seria necessário para legitiuniversos, tendo como objetivo a democratiza- mar a política externa. “Não haverá boa política ção da política externa, uma questão ainda hoje externa sem uma chancelaria que saiba convencer internamente, que pratique política de raízes polêmica entre os diplomatas. Gelson foi conselheiro diplomático da Pre- sociais firmes.” Mesmo que não concordasse, o sidência da República do Brasil (1990-1991 e barão ficaria satisfeito com um conselheiro des1995-1999), representante permanente do Bra- ses, dono de uma visão tão precisa do futuro.