O P O R T U N I D A D E Preparar para decolagem Em forte expansão, mercado aeroespacial atrai pequenas empresas inovadoras, que atendem tanto o setor espacial quanto o aeronáutico A NDRÉ VENDRAMI FOTOS: DIVULGAÇÃO Equipe da Gyrofly desenvolve robô para auxiliar operações de resgate 22 Locus • Junho 2008 C erca de US$ 20 bilhões. Esse era o valor da carteira de encomendas da Embraer até março deste ano. Com expectativa de vender pelo menos 215 aeronaves em 2008 e mais 350 em 2009, a quarta maior fabricante de aviões do mundo protagoniza o aquecimento do setor aeroespacial no Brasil – que pode ser um prato cheio também para micro e pequenas empresas. Na oitava edição do Salão Europeu da Aviação de Negócios (Ebace, na sigla oficial), que ocorreu no último mês de maio, na Suíça, a Embraer apresentou ao mercado dois lançamentos: o Legacy 450 e o Legacy 500. As duas aeronaves devem custar US$ 15,25 milhões e US$ 18,4 milhões, respectivamente, e chegam para completar o portfólio da empresa na área de jatos executivos de pequeno e médio portes. As oportunidades do setor alavancado pela Embraer no Brasil geram novos empreendimentos. A ACS, empresa incubada na Incubaero, em São José dos Campos (SP), pretende lançar seu primeiro avião esportivo, o ACS-100 Sora neste mês, na Expo Aero Brasil 2008 – uma feira internacional de aviação. Adequação de um antigo projeto, a aeronave é resultado de uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da qual os três sócios são ex-alunos. “O avião era mais artesanal. Então substituímos a estrutura de madeira por material composto, como fibras de vidro e de carbono, além de acrescentar nova motorização e aviônica moderna”, afirma Leandro Maia, um dos sócios da ACS. O ACS-100 Sora é uma aeronave de alto desempenho, com capacidade acrobática, asa baixa, motorização entre 100 e 115 cavalos de potência, que será comercializado a partir de R$ 150 mil. Com o crescimento do mercado doméstico, a expectativa da empresa é vender de 20 a 30 aeronaves por ano no país e, no futuro, exportar os aviões para os Estados Unidos. “Já temos seis vendas fechadas e uma lista enorme de intenção. São pessoas que querem ver a aeronave voar para fechar o negócio.”, conclui Maia, que, assim como os dois sócios, é ex-funcionário da Embraer. Dupla atuação Hoje apresentando um bom momento, a indústria aeroespacial brasileira demorou a decolar. O mercado começou a se consolidar há pouco mais de 20 anos, quando empresas privadas passaram a se envolver no Programa Espacial Brasileiro. “A indústria espacial brasileira é composta, principalmente, de pequenas e médias empresas, que fornecem partes, equipamentos e subsistemas dos satélites e veículos lançadores para o Programa Espacial. Há DIVULGAÇÃO entre 20 e 30 empresas, muitas das quais servem igualmente ao setor aeronáutico”, explica o presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem. De acordo com ele, desde 1986 as taxas de participação da indústria nacional no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) mantêmse entre 20% e 30%. Com o objetivo de reforçar o setor, foi formado em São José dos Campos um Arranjo Produtivo Local (APL), do qual faz parte a ACS. “O APL é uma aglomeração de micro e pequenas empresas, além de algumas médias do setor de aviação, que fabricam matérias e peças para aeronaves e dividem custos com mão-de-obra, material e locação, entre outros. Dessa forma, as empresas conseguem ter lucro e produtividade”, afirma Mauro Medeiros, gerente do Sebrae na cidade. A tradição da região de São José dos Campos no setor contribuiu para a formação do APL. “Aqui se concentram o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Embraer, a Avibras e outras empresas grandes. Por conta disso, também existem muitas micro e pequenas empresas focadas nesse setor,”, esclarece Medeiros. Dentro do APL, grandes empresas lideram um grupo de pequenas, colaborando com informações sobre o comportamento do mercado. “O mercado aeroespacial é muito grande. Até 2015, é um mercado em plena expansão. A cadeia produtiva brasileira, puxada pela Embraer, é muito respeitada no mundo todo. No caso das micro e pequenas empresas brasileiras, é comum que elas forneçam peças e materiais para fornecedores das grandes empresas. Faz parte da cadeia produtiva”, afirma o gerente do Sebrae. Em um setor altamente competitivo como o aeroespacial, inovações não faltam. Exemplo disso é o Gyro 500, um minirrobô desenvolvido pela Gyrofly Innovations, outra empresa residente na Incubaero. Equipado com motores elétricos de alto desempenho, o robô tem capacidade de 25 minutos de vôo e pode trans- portar câmeras ou sensores com peso de até 200 gramas. Inovações no ar Ao desenvolver o Gyro 500, a Gyrofly Innovations, antes focada no setor de segurança privada, vislumbrou oportunidades de negócios com órgãos públicos, como polícia, bombeiros e defesa civil. Em caso de desastres naturais, como terremotos, o robô pode voar por cima dos escombros, facilitando o resgate e preservando a segurança de pessoas envolvidas na operação. “Voando sobre a área atingida, ele o faz silenciosamente, sendo então capaz de captar sons, vozes de pessoas sob esses escombros, ao mesmo tempo em que filma. Com sua telemetria, será capaz de informar às equipes de resgate onde procurar por vítimas. Helicópteros convencionais não são capazes de realizar tal missão por causa do ruído que produzem”, exemplifica Penedo. Apesar do entusiasmo com o produto, o empreendedor reclama das barreiras impostas às pequenas empresas que buscam inovar no setor aeroespacial brasileiro. “As principais dificuldades são a falta de financiamento e de parceiros comerciais que possam atender a nossa demanda, visto que o nosso produto exige alta tecnologia”, explica o proprietário da Gyrofly. Ele ressalta que a proximidade com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e com as outras empresas incubadas tem ajudado a minimizar dificuldades, parceria que, segundo o presidente da AEB, é o caminho para o sucesso do Programa Espacial Brasileiro. “O ITA, outras universidades e o setor acadêmico em geral têm um papel fundamental, não só nas pesquisas e na formação de talentos para o programa espacial, mas, também, no direcionamento do próprio programa, que adquire novos horizontes a cada patamar galgado no domínio tecnológico e científico”, afirma Ganem. Ganem, da AEB: universidades devem contribuir com programa espacial brasileiro 23 Locus • Junho 2008