Abstract Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a capacidade de governo Helena Kerr do Amaral ENAP - Brasil O paper analisa o desafio contemporâneo de desenvolver competências de servidores públicos para aumentar a capacidade de governo na gestão das políticas públicas a partir da experiência da Escola Nacional de Administração Pública – ENAP. Focaliza-se o estímulo ao fortalecimento da articulação entre as escolas de governo e as universidades e à formação de uma rede de escolas de governo em nível nacional no Brasil. Aposta-se no estímulo voluntário a conexões que aproveite a riqueza da diversidade, que articule a complementaridade, de modo a aumentar a eficácia das ações de capacitação de servidores envolvidos com a gestão das políticas públicas no Brasil. Resenha Biográfica Helena Kerr do Amaral • Presidente da Escola Nacional de Administração Pública - ENAP. • Foi Secretária Municipal de Gestão Pública do município de São Paulo em 2001 e 2002, tendo ocupado a presidência do Conselho Municipal de Informática da Prefeitura de São Paulo e do Fórum de Secretarias de Administração das Capitais. Foi Diretora da Escola Fazendária de São Paulo (Fazesp). É Técnica sênior em Planejamento e Gestão da Fundap (Fundação do Desenvolvimento Administrativo, do governo do estado de São Paulo) desde 1986. Iniciou sua atividade profissional como analista de planejamento da Fepasa em 1978. • Bacharel em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas onde também realizou seu mestrado em Administração Pública e Planejamento Urbano. Doutoranda em Economia na Unicamp. Possui especialização em Economia do Setor Público, pela George Washington University, e em Gestão de Recursos Humanos, pela Agência de Recursos Humanos do Governo Japonês. Foi consultora e pesquisadora de várias instituições como BID, PNUD, UNICAMP, IPEA, entre outras. Helena Kerr do Amaral Escola Nacional de Administração Pública - ENAP SAIS Área 2A, Gabinete 70610-900 Brasília/DF-Brasil Telefone: 55 (61) 445-7103 Fax: 55 (61) 445-7167 E-mail: [email protected] Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 1/22 Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a capacidade de governo Helena Kerr do Amaral ENAP - Brasil O objetivo deste artigo é analisar o desafio contemporâneo de desenvolver competências de servidores públicos para aumentar a capacidade de governo na gestão das políticas públicas. Exploraremos estas questões a partir das atividades de capacitação desenvolvidas pela Escola Nacional de Administração Pública – ENAP e de sua estratégia de estimular a formação de uma rede de escolas de governo em nível nacional no Brasil e de ampliar a articulação entre as escolas de governo e as universidades. Analisamos modalidades de parceria que podem aumentar a efetividade da capacitação: com universidades, com cooperação internacional e com articulação intergovernamental. Destacamos a experiência brasileira de formação de rede de escolas de governo, como modo privilegiado para a capacitação de dirigentes para a gestão das políticas públicas de forma mais efetiva, transparente e participativa. O artigo conclui com os desafios de formação dessa rede de estímulo voluntário a conexões que aproveite a riqueza da diversidade, que articule a complementaridade, de modo a aumentar a eficácia das ações de capacitação de servidores envolvidos com a gestão das políticas públicas no Brasil. O governo brasileiro definiu três grandes diretrizes1 em seu plano plurianual: Inclusão social e redução das desigualdades sociais; Crescimento com geração de trabalho, emprego e renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades; Promoção e expansão da cidadania e fortalecimento da democracia. São diretrizes ousadas, sobretudo se considerarmos a fragilidade da maioria dos órgãos do governo para implementar políticas públicas de forma ágil, eficiente e efetiva. É por essa razão que consideramos a boa governança como condição fundamental para o cumprimento dessas diretrizes. Entendemos governança como a capacidade da ação do Estado na formulação e implementação de políticas públicas e consecução das metas coletivas (Eli Diniz, 1997). Para isto, são necessários o fortalecimento da inteligência estratégica governamental e a adoção de novas práticas de interlocução e participação. Para efeitos deste texto, simplificaremos o conceito de governança, referindo-nos a ele como capacidade de governo, tendo em vista que é este o eixo estruturante das estratégias de atuação da ENAP. Atualmente, o poder executivo federal está organizado em 33 ministérios, aos quais se vinculam mais de 53 mil órgãos da administração direta e indireta2. Estes órgãos 1 Plano Brasil de Todos: Participação e Inclusão. Megaobjetivos e Desafios. Disponível em: http://www.planobrasil.gov.br/texto.asp?cod=12. Acesso em 07 de abril de 2004. 2 SIORG - Sistema de Informações Organizacionais do Governo Federal. http://www.siorg.redegoverno.gov.br/index.htm. Acesso em 10 de abril de 2004. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 2/22 constituem o universo de clientes da ENAP, que buscam maior qualidade na prestação dos serviços públicos por meio da capacitação de seus servidores. O público-alvo da Escola é o servidor federal. Atualmente, temos aproximadamente 460.000 servidores ativos na Administração direta. Deste total, 42,8% possuem nível de escolaridade superior. Um dos grandes desafios do presente é a idade média elevada desses servidores – 45 anos – que pode ser ainda maior em certas categorias. Nos próximos onze anos, aproximadamente 70% dos atuais servidores ativos terão condições de se aposentar, gerando problemas e oportunidades de renovação dos quadros3. Governantes nem sempre têm a consciência do papel estratégico dos saberes e conhecimentos de seus servidores para o sucesso das políticas governamentais. Ao se fazerem diagnósticos equivocados, como os que vimos nos anos recentes no Brasil, em que se atribuía ao funcionalismo público a causa do endividamento público e a má prestação de serviços, governantes atrasaram a própria construção da nação. O nãoinvestimento regular nos quadros da administração pública reduziu a capacidade de governo. Esta é a realidade brasileira atual. Heterogênea, como nosso país. Contamos com instituições e serviços de excelência, como nossa diplomacia, nossas universidades públicas, nossos hospitais-escola, a pesquisa, eleições informatizadas e democráticas, para citar apenas alguns exemplos, provas vivas da qualidade e de anos de investimento na formação de quadros públicos. Ao mesmo tempo, encontramos diversos ministérios esvaziados, sem equipes permanentes e sem memória. Além disso, ainda persistem problemas como clientelismo, corporativismos e ausência de uma burocracia profissionalizada em dimensões adequadas para nosso país. Temos certeza hoje de que esta atividade conhecimento-intensiva que é o governar não existe sem servidores públicos, qualificados e motivados. É por isso que este governo afirma o papel estratégico do funcionalismo. As ações que concretizam essa política são a retomada de concursos públicos regulares e a política de capacitação, visando dotar esses quadros de capacidade de formulação, implementação e avaliação de políticas públicas. A política de democratização das relações de trabalho é parte essencial desta aposta. Com ela, é possível estabelecer acordos com os servidores. Acordos em que se estabelecem também as contrapartidas esperadas em termos de qualidade da prestação de serviços4. Esta nova política não se consolidará no curto prazo. A política de gestão de pessoas da atual administração, em fase de implementação, busca a valorização do servidor, entendendo a atividade pública como conhecimentointensiva e o servidor público seu principal ativo. Para isso, estão sendo revistas as políticas de seleção, de remuneração, de avaliação de desempenho e de capacitação. Note-se que o desafio da seleção é imenso: Qual deve ser o perfil do servidor do século XXI? Quais são as competências que precisa ter? Este país que tinha até meados dos anos 50 uma população rural imensa e até 20 anos atrás uma população predominantemente jovem, hoje é um país urbano e com a esperança de vida 3 Boletim Estatístico de Recursos Humanos. Dezembro de 2003. Disponível em: http://www.servidor.gov.br/publicacoes/boletim/2003.htm. Acesso em 10 de abril de 2004. 4 Exemplo concreto da viabilidade dessas contrapartidas pode ser visto no 1º acordo de serviços celebrado entre a Prefeitura do Município de São Paulo, que, entre outras cláusulas, estabelece metas de redução de absenteísmo. Acordo Coletivo de Serviço de 20 de agosto de 2002. Disponível: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/gestaopublica/projetos/0004. Acesso em 5 de abril de 2004. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 3/22 aumentando, com novos desafios para a qualidade de vida de nossos idosos.5 Há uma enorme distância entre os perfis e atribuições das carreiras atuais e as necessidades do futuro. Para tornar o quadro ainda mais desafiante – e convidativo a inovação -, os servidores da esfera federal têm pouca tradição de negociar e ajudar a construir políticas públicas compartilhadas com as esferas sub-nacionais (26 estados e o Distritro Federal e 5.561 municípios). Para responder a estas questões, a política de capacitação tem papel chave. Outra dimensão estratégica para melhorar a gestão de pessoas é a da democratização das relações de trabalho no setor público brasileiro. A administração federal começa a implantar um sistema de negociação permanente com o funcionalismo federal6 visando um novo compromisso entre servidores e administração, voltado para a eficiência e a qualidade de vida no trabalho. No que se refere à política de capacitação, cabe à ENAP o papel de formação de quadros dirigentes, buscando dotar o Estado brasileiro de técnicos capazes de assumir postos de alta responsabilidade. Iniciativa, inovação e criatividade são atributos que queremos para estes servidores. Diferente, evidentemente, da formação para realidades estáveis e mesmo para os parâmetros desenhados em muitas das carreiras existentes. O segundo desafio é o da nossa capacidade de planejamento e de gestão7. A Administração Pública brasileira não está preparada para responder aos desafios contemporâneos. Desde a redemocratização do país em meados dos anos 80, o país vive sob ritmo de crescimento econômico irregular, pouco expressivo e incapaz de gerar crescimento sustentado. Agravaram-se os problemas estruturais de má distribuição de renda. Embora alguns sistemas públicos tenham se desenvolvido, como o sistema único de saúde, não foram criados sistemas de planejamento e gestão adequados. Verificam-se em todas as esferas de governo problemas como a superposição de competências, a carência de gestão da memória administrativa, a escassez e fragilidade dos programas de desburocratização, a inadequação entre as estruturas administrativas existentes e as ações regionalizadas, estruturas regulatórias frágeis ou inexistentes bem como a inadequação entre estruturas e competências das organizações. Mais precisamente na área de gestão de recursos humanos, os principais problemas estão na inconsistência das informações sistematizadas nos bancos de dados, na falta de planejamento da força de trabalho no setor público, na insuficiência de quadros técnicos permanentes nas áreas de planejamento e administração, na defasagem e inadequação das estruturas de cargos e carreiras, na falta de um modelo de gestão previdenciária, na gestão deficiente da folha de pagamento, na ausência de política de avaliação de 5 Segundo o IBGE, a população com mais de 70 anos vai quintuplicar no País de 2000 a 2050 e chegar a 34,3 milhões de pessoas. O crescimento nessa faixa etária será de 440%, bem acima do avanço de 53% da população total, que alcançará 259,8 milhões ao fim do período. Síntese de Indicadores Sociais. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/13042004sintese2003html.shtm. Acesso em 10 de abril de 2004. 6 A experiência do governo federal se inspira em experiências de democratização de relações de trabalho em administrações municipais como São Paulo, Recife, Belém, entre outras. O Instituto Cidadania, dirigido pelo então candidato Luís Inácio Lula da Silva, coordenou estudos sobre a necessidade de criação de sistemas de negociação coletiva com o funcionalismo público. Note-se que o direito à criação de sindicatos de servidores públicos só foi assegurado no país na Constituição Federal de 1988 (art. 37, inciso VI). 7 Realizamos este diagnóstico preliminar a partir da nossa experiência no trabalho com os órgãos públicos federais e também com base em diagnóstico realizado para o Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento dos Estados Brasileiros e do Distrito Federal - PNAGE. Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/arquivos_down/pnage/Apresentacao_Abrucio_150103.pdf Acesso em 12 de abril de 2004. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 4/22 desempenho e nos obstáculos para implantação de uma gestão voltada para resultados, bem como na legislação de pessoal antiquada e não consolidada. Este quadro leva a tomada de decisões pouco fundamentadas e desperdício de recursos escassos. Quanto à área de planejamento, as principais dificuldades encontram-se na inexistência ou insuficiência de indicadores de desempenho, na deficiência da coordenação entre o planejamento geral, setorial e regional, na dicotomia entre centralização formalista do planejamento e a setorialização excessiva das políticas, bem como o fato de que a integração entre plano e orçamento ainda seja um processo formal e fortemente centralizado. Em relação à gestão de políticas públicas, verifica-se a desarticulação entre formulação e implementação, bem como a insuficiência no monitoramento e na avaliação. Além disso, persiste uma excessiva compartimentalização das relações intergovernamentais, o que exige sensibilidade e novas posturas de governantes e servidores para aperfeiçoar nosso pacto federativo na divisão de responsabilidades e na cooperação entre os entes federativos. Grande é a ênfase dada à melhoria da articulação horizontal e intergovernamental. Por outro lado, há que se reconhecer que, embora estes problemas sejam de longa data, verificamos certos avanços, tais como a melhoria fiscal, o maior número de parcerias do governo com a iniciativa privada e com organizações da sociedade civil, a maior informatização e incremento da cultura da informática, a introdução de ferramentas de planejamento de longo prazo, a implementação de políticas sociais mais participativas, inovações no relacionamento com os cidadãos além da preocupação com o trabalho em rede intergovernamental. A partir deste cenário que ilustra o perfil do serviço público brasileiro, a ENAP vem se organizando para o desenvolvimento de estratégias de atuação para aumentar a capacidade de governo, tendo em vista o grande potencial de que se reveste a capacitação como instrumento de superação dos desafios colocados. Esta necessidade também é premente para os governos subnacionais. Uma vez que o governo federal preserva função estratégica de coordenação, indução, controle e avaliação dos programas descentralizados, a efetividade das políticas públicas do governo federal está diretamente relacionada à boa articulação entre União, estados, municípios e Distrito Federal. Assim, ressaltamos a importância da capacidade de negociação dos dirigentes públicos para o estabelecimento de mecanismos de coordenação e cooperação dentro da federação brasileira, capazes de tornar os acordos federativao menos custosos ao Estado. Insistimos no papel da capacitação para ajudar a equacionar o pacto federativo brasileiro. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 5/22 1. Desenvolvimento de competências para aumentar a capacidade de governo As diretrizes do atual governo abrem novas e amplas perspectivas para a atuação das escolas de governo, especialmente na direção do fortalecimento das atividades de apoio à profissionalização do setor público. A superação dos problemas da nossa administração pública exige um amplo esforço de capacitação, capaz de difundir para os setores responsáveis pelos programas de governo os conhecimentos, habilidades e atitudes adequados aos atuais propósitos. Exige também a ampliação da capacidade de prospecção, produção e difusão de conhecimento que favoreça a capacidade de decisão do governo e de articulação de ações estratégicas. A ENAP, pela permanente interação que mantém com os órgãos públicos, promovendo debates e divulgação de inovações no âmbito da gestão pública, tanto em nível nacional como internacional, sente-se em condições de assumir este desafio. Hoje, a Escola é reconhecida como detentora de um saber próprio, distinto do que possuem as instituições acadêmicas. Esta expertise caracteriza-se pelo fato de que, sem perder as referências teóricas, a ENAP retém e fundamenta-se em uma memória institucional (nacional e internacional), o que permite melhor compreender situações concretas e identificar experiências promissoras e alternativas de solução dos problemas públicos. A gestão pública no seu sentido ampliado, que inclui desde a formulação e a implementação até a avaliação de políticas públicas, constitui seu foco preferencial. Este é um tema que corta diagonalmente a administração, atende a necessidades de todas as áreas e políticas públicas e possui valor estratégico para o fortalecimento da capacidade de governo. A consciência deste papel perante os desafios do novo governo pautou o planejamento estratégico da ENAP para 2003/2006, que define como missão institucional “desenvolver competências de servidores públicos para aumentar a capacidade de governo na gestão de políticas públicas”. Nesta linha, a Escola apontou como marcas de gestão para o período afirmar-se como: Um espaço de reflexão e debate sobre administração pública; Um centro de referência em políticas públicas, capaz de inovar e irradiar boas práticas de gestão; Uma escola com padrão de qualidade; Como articuladora de uma política inovadora de capacitação dos servidores públicos, a ENAP concentra seus produtos em torno de algumas competências: Relações pessoais e interpessoais: Estratégias de aprendizagem, democratização das relações de trabalho, liderança, gestão de pessoas, gestão da comunicação, negociação, trabalho em equipe, flexibilidade do comportamento organizacional; Competências institucionais e organizacionais: Planejamento e gestão estratégica, gestão dos sistemas corporativos (gestão de pessoas, suprimentos, informação, orçamento), gestão por resultados, desenvolvimento institucional, governo eletrônico, gestão da mudança, regionalização e arranjos institucionais, regulação; Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 6/22 Macro-contexto: Políticas públicas, processo decisório, gestão do conhecimento, coordenação governamental, colaboração intergovernamental, governança e governabilidade, valores e ética, pensamento estratégico. Para o desenvolvimento destas competências faz-se necessário utilizar um modelo pedagógico que favoreça a convergência constante de concepções teóricas e modelos analíticos com a realidade concreta e os momentos históricos vivenciados pelos atores públicos. Estas são as diretrizes adotadas pela ENAP para o desenvolvimento de seus principais produtos, quais sejam, eventos de aprendizagem, estudos e publicações sobre administração pública, concurso de inovações na gestão pública federal, bem como cooperações internacionais voltadas para temas estratégicos da administração pública federal. A ENAP possui três linhas de atuação na implementação de seus eventos de aprendizagem: Desenvolvimento gerencial de dirigentes, gerentes e segmentos estratégicos do setor público, por meio de cursos de curta duração, seminários, palestras, workshops e oficinas; Formação inicial e aperfeiçoamento de carreiras, por meio de cursos de média duração organizados e formalizados com apoio dos órgãos responsáveis pelas respectivas carreiras; Pós-Graduação lato sensu para servidores, por meio da oferta de cursos de Especialização sobre temas relevantes para o fortalecimento da capacidade de gestão de políticas públicas, isoladamente8 ou em parceria com Universidades9. A ENAP tem estruturado alguns cursos de especialização que, sem abandonar a abordagem horizontal característica da gestão pública, apresentam ainda um corte vertical, que possibilitam explorar a dimensão setorial e as especificidades próprias da gestão nos campos da política social, econômica e de infra-estrutura e do desenvolvimento em geral. Embora a prioridade da ENAP para os eventos de aprendizagem seja voltada para o governo federal também temos trabalhado com estados e municípios em atendimento a demandas específicas de capacitação. Atualmente, temos realizado a capacitação das equipes para o Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão e do Planejamento dos Estados e do Distrito Federal (PNAGE), voltado para a modernização da gestão pública estadual a partir de uma visão transversal e integrada do ciclo de gestão pública: planejamento, orçamento, gestão e controle. A finalidade do Programa é promover a melhoria dos serviços públicos, com base nos princípios de eficiência, ética e transparência. A Escola vem desenvolvendo estudos integrados ao processo de desenvolvimento de metodologias de aprendizagem, servindo de suporte teórico e analítico para uma adequada formação dos servidores, e também para a produção de conhecimento sobre temas importantes para a gestão pública. Estão em andamento pesquisas sobre 8 Cabe destacar que em 2003, a ENAP obteve credenciamento como Instituição de Ensino Superior junto à Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (SESU/MEC). 9 - Estas permitem a rica combinação do saber acadêmico das universidades brasileiras com os conhecimentos sobre a gestão do aparato público, da ENAP. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 7/22 Negociação Coletiva no Setor Público e Processo Decisório no Núcleo do Executivo: Ação e Coordenação de Políticas Governamentais, dentre outros. A ENAP também tem uma linha editorial que busca a difusão de idéias e práticas nacionais e internacionais bem sucedidas principalmente no que concerne à melhoria da gestão pública, voltadas à eficiência e a obtenção de resultados, demandados aos dirigentes e gerentes estratégicos. Nossos objetivos são: a prospecção constante de conhecimento de ponta sobre administração pública, principalmente sobre gestão governamental, gestão do conhecimento e capacitação de recursos humanos no setor público e o acompanhamento da produção internacional dos temas relacionados ao foco de nossa atuação. Além disso, promovemos o Concurso Inovação na Gestão Pública Federal, iniciado em 1996, o qual está em sua 9ª edição em 2004. Esta é uma iniciativa com o objetivo de identificar, divulgar e premiar experiências já implementadas que apresentem soluções de gestão inovadora e de resultados concretos. Neste período de existência do concurso foram premiadas 233 experiências. Como vimos, abrem-se para a ENAP grandes oportunidades e um amplo espaço de atuação. Os desafios para aumentar a capacidade de governo são imensos e o tempo disponível para que sejam superados é escasso. Algumas iniciativas desenvolvidas nestes primeiros 19 meses de governo apontam boas perspectivas para ampliar a capacidade de governo e contribuir para a consolidação de uma gestão democrática no Brasil. Embora muitas destas iniciativas exijam um longo período de maturação para demonstrar resultados, destacamos a seguir aquelas que julgamos principais, tendo em vista a respectiva potencialidade de contribuir efetivamente para o aumento da capacidade de governo. À ENAP coube introduzir novos temas e métodos em seus programas de desenvolvimento gerencial, de modo a mudar a cultura gerencial predominantemente reativa, hierárquica e pouco democrática. Deste modo, verificamos a rapidez da adesão de servidores quando se oferece um novo modelo de gestão, mais colegiada e participativa. Há uma revitalização da relação entre o governo e a burocracia pública. Além disso, em 2003, mais de 800 altos dirigentes participaram de oficinas de planejamento estratégico na ENAP. Esta nova forma de formular e implementar políticas tem sido muito bem recebida pelos servidores, possibilitando que técnicos e políticos de diversas formações e com experiências diversificadas descubram o prazer de construir as políticas públicas junto com seus ministros e vice-ministros, democraticamente. Ao mesmo tempo, este método amplia a viabilidade de implementação pela análise mais ampla das alternativas. Outro aspecto inovador na gestão pública federal foi a introdução da escuta da sociedade em uma nova forma de se fazer o planejamento plurianual (PPA)10 . Com o know how do orçamento participativo11, a nova administração federal considerou necessário ouvir estados, municípios e organizações da sociedade para a definição de seu plano plurianual. Esta escuta mobilizou ministros, que apresentavam as prioridades 10 - A Constituição Federal de 1988 (art. 165) exige a instituição de um Plano Plurianual (PPA) que estabeleça, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal. O PPA deve nortear a elaboração da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual. Com duração de quatro anos, sua vigência se inicia no segundo ano do mandato presidencial e vai até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial subseqüente. 11 - Experiência premiada internacionalmente, com mais de 15 anos, teve início na Prefeitura de Porto Alegre, região sul do País. O programa envolve a população na definição das prioridades de alocação dos recursos do orçamento municipal (Fischer & Moll, 2000). Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 8/22 do governo, e não de seus ministérios setoriais, nos 27 estados da federação. A ENAP participou ativamente da nova forma da capacitação para este plano. Em 2004, faremos uma capacitação sob medida para as equipes dos programas prioritários do PPA. Em síntese, nossos desafios são os de: aumentar a capacidade de governo (gestão das políticas públicas); aumentar a capacidade de coordenação de ações intergovernamentais; articular e integrar a formulação, implementação e avaliação de políticas públicas nas três esferas de governo; e, implementar políticas adequadas à diversidade política, econômica, social, cultural e ambiental do país. Queremos estimular o desenvolvimento de profissionais públicos aptos a: resolver problemas públicos; estar atento às realidades nacionais e ao contexto mundial; cooperar; escutar; enfrentar desafios; aprender e desaprender; pensar e agir estrategicamente; construir novos padrões e modos de trabalhar; e, desenvolver e comunicar uma visão pessoal de mudança. Considerando todos estes aspectos apresentados, elencamos como prioridade o desenvolvimento das seguintes competências no âmbito de nossas ações de capacitação: planejamento estratégico; liderança; visão de futuro; ética; e, diversas competências de gestão (capacidade de agir e decidir; trabalhar em equipe; consulta; coordenação horizontal; negociação). A partir dessas necessidades de profissionalização, analisam-se modalidades de parceria que podem aumentar a efetividade da capacitação: com universidades, com cooperação internacional e com articulação intergovernamental. A troca permanente entre as escolas de governo e a universidade, assim como o estímulo à cooperação internacional regular permite que se amplie a inteligência coletiva. Espera-se que esta articulação, leve e voluntária, baseada na curiosidade por novos conhecimentos e no compromisso com a construção de instituições democráticas e eficientes, contribua para aumentar a capacidade para resolver problemas públicos. Em países com a extensão territorial do Brasil, com três esferas de governo, para que se possa melhorar a formulação, implementação e avaliação de políticas públicas é essencial que os dirigentes do governo federal, dos governos estaduais e dos governos municipais consigam trabalhar integradamente. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 9/22 2. Escolas de Governo e Universidades As Escolas de Governo precisam preparar continuamente servidores para seu exercício profissional. Selecionados por concurso público, os servidores que chegam à administração pública trazem boas formações acadêmicas e pouca experiência de trabalho, sobretudo na esfera pública. Visando preparar estes profissionais públicos, não teria sentido fazer nas escolas de governo a formação técnica e científica, papel da Universidade. A ENAP, assim como as demais escolas de governo, organiza cursos de educação continuada e promove cursos de formação com duração semelhante ou superior a uma especialização lato sensu. Além disso, oferecemos curso de especialização em gestão pública, reconhecido pelo MEC. Sob encomenda, temos feito outros cursos de especialização, como o de Gestão de Tecnologia da Informação com a UFMG. Estão em preparação os cursos de especialização em Gestão de Saúde com a Fiocruz e Planejamento para o Ministério da Justiça. O que existe em comum em todas as nossas iniciativas é a certeza de que deve haver uma sintonia grande com as Universidades, seja com a contratação de docentes com alta formação acadêmica, seja em parcerias em que os conteúdos são desenvolvidos conjuntamente. Um bom exemplo do nosso olhar que combina teoria e prática é o programa comum aos cursos de formação para carreiras. Buscamos nos cursos de formação: favorecer o desenvolvimento da capacidade do aluno de trabalhar os conhecimentos de forma multi e interdisciplinar, visando à identificação de problemas prioritários e de alternativas de solução para a tomada de decisões; proporcionar oportunidades de conhecimento e aplicação de instrumentos compatíveis com a gestão estratégica das organizações públicas e com as funções de coordenação, controle e avaliação de resultados; desenvolver habilidades necessárias ao uso dos principais instrumentos relacionados às políticas públicas; fomentar habilidades do aluno para a promoção de redes e parcerias entre diferentes níveis de organizações governamentais, da sociedade e do setor privado, visando potencializar o impacto das políticas públicas e programas governamentais; favorecer a capacidade de gerenciar equipes; proporcionar o debate atual sobre temas estratégicos na administração pública para a promoção do desenvolvimento; e, incentivar a adoção de atitudes éticas compatíveis com o desempenho da função pública. Em todos os programas de formação, trabalhamos com quatro eixos temáticos: Estado, Sociedade e Democracia, Economia e Desenvolvimento, Administração Pública e Políticas Públicas. O eixo “Estado, Sociedade e Democracia” norteia o conjunto de disciplinas que permitem refletir sobre: a) as transformações do Estado contemporâneo b) as transformações históricas do sistema político brasileiro; c) a estrutura e funcionamento constitucional do Estado brasileiro; d) organização política da sociedade no processo de democratização e as mudanças nas relações entre o Estado e a sociedade, e; e) o processo de construção e fortalecimento da democracia e da cidadania. O eixo “Economia e Desenvolvimento” norteia o conjunto de disciplinas e atividades que permitem: a) situar o debate econômico atual e as perspectivas da economia brasileira; b) refletir sobre condicionantes e dificuldades para a atuação do Estado e a formulação das políticas públicas; c) refletir sobre as teorias e evidências associadas ao debate sobre o desenvolvimento. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 10/22 O eixo “Administração Pública” norteia o conjunto de disciplinas e atividades que permitem: a) desenvolver os marcos teóricos necessários a uma compreensão crítica da Administração Pública contemporânea; b) conhecer a organização e principais sistemas da AP brasileira; e c) fornecer instrumentos operacionais básicos para a atuação na AP. O eixo “Políticas Públicas” norteia o conjunto de disciplinas e atividades que permitem: a) conhecer e refletir sobre os principais marcos teóricos da análise das políticas públicas; b) desenvolver os conhecimentos e instrumentos necessários ao desenho, à implementação e à avaliação das políticas públicas setoriais. Cada eixo programático é desenvolvido por meio de atividades que compreendem: disciplinas focadas nos marcos teóricos e conhecimentos, disciplinas focadas nos instrumentos de análise e gestão e seminários. As disciplinas focadas nos Marcos Teóricos e Conhecimentos referem-se ao desenvolvimento das principais teorias e dos conhecimentos relativos a cada eixo programático. Têm por princípio a perspectiva multidisciplinar e a conjunção teoria, reflexão e prática. As disciplinas focadas nos Instrumentos de Análise e de Gestão formam o conjunto de atividades necessárias ao domínio das principais ferramentas relacionadas à gestão de políticas públicas, além de apresentar a organização da administração pública federal e seus principais sistemas. Os Seminários são atividades complementares voltadas para o debate de temas candentes, inovadores ou polêmicos; para a disseminação de novos referenciais e propostas; e para a consolidação ou ampliação dos conteúdos e práticas desenvolvidos nos eixos programáticos. Para ministrar este programa, contamos com professores da academia e com servidores experientes, conhecedores das práticas da administração pública federal. É esta mistura de experiência e de teoria e prática que dá aos cursos de formação a preparação para a vida profissional necessária aos trabalhos de formulação, implementação e avaliação de políticas públicas. A pesquisa é outro campo de parceria estratégica entre as escolas de governo e a Universidade. Podemos citar exemplos da ENAP para ilustrar esta riqueza. Em 2004, recebemos o professor Benjamin Coriat da Universidade de Paris 13 para falar sobre “As organizações, as empresas e as instituições na geração de inovações: aplicação do conceito de Sistemas Setoriais de Inovação”. Também convidamos professores que hoje ocupam posições de direção no governo federal para debaterem temas estratégicos em nossos cafés com debate. O professor Mario Salerno da Escola Politécnica das USP e atual Diretor do IPEA falou sobre “Política Industrial”, Universidade de São Paulo, o professor Fernando Haddad, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo e atual SecretárioExecutivo do MEC, falou sobre “Reforma Universitária”. Organizamos também o Seminário “Negociação Coletiva no Setor Público – experiências internacionais recentes através de uma análise da literatura” com o professor Zairo B. Cheibub da Universidade Federal Fluminense e da Fundação Getúlio Vargas. Em 2003, a pesquisa ENAP organizou oficinas de trabalho com nossa equipe interna e com os professores Zairo Cheibub da UFF, Richard Locke e Judith Tendler do MIT para a concepção da pesquisa sobre Democratização das Relações de Trabalho no Setor Público. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 11/22 Também fizemos estudo sobre o Processo Decisório no Núcleo do Executivo, contando com revisão de literatura, realizado pela professora Argelina Figueiredo, pesquisadora sênior do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP e professora livre docente da Universidade de Campinas. O caderno ENAP com o relatório final da pesquisa será publicado até o final de setembro de 2004 sob o título “Processo Decisório no Núcleo do Executivo – Ação e Coordenação de Políticas Governamentais”. São exemplos de uma relação viva entre teoria e problemas públicos. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 12/22 3. Cooperação Internacional A cooperação internacional desenvolvida pela ENAP caracteriza-se pela estreita articulação com os projetos estratégicos da Escola, definidos no planejamento anual, pela prospecção de conhecimentos de ponta e experiências bem sucedidas nas áreas de reforma e modernização do Estado no mundo, pela captação de recursos externos para financiamento de projetos e atividades e pelo estabelecimento de parcerias de excelência em nível bilateral e multilateral. Esta cooperação tem apoiado o processo de fortalecimento institucional da Escola à medida que favorece a capacitação de seus quadros técnicos (pela internalização de conhecimentos, metodologias e tecnologias) e o desenvolvimento de novos produtos e serviços. Tem igualmente concorrido para a melhoria da qualificação profissional de dirigentes e gerentes estratégicos do Governo federal. É ainda orientada pela busca de inovação, antecipação de tendências (papel de radar) e pelo trabalho em rede. Em 2003, a ENAP deu continuidade ao Projeto de Cooperação com a França e iniciou a execução do Projeto de Transferência Tecnológica com o Canadian School of Public Service - CSPS, apoiado pela Canadian International Development Agency - CIDA. Também, foi aprovado pela Agencia Española de Cooperación Internacional - AECI projeto de cooperação na área de desenvolvimento gerencial estratégico. A ENAP é associada ainda a Global Development Learning Network - GDLN do Banco Mundial e permanece atuante como sede brasileira da Escuela Iberoamericana de Gobierno y Políticas Públicas – IBERGOP. Vem estabelecendo também novas relações de parceria com as seguintes instituições: Kennedy School of Government/Harvard University, Massachussetts Institute of Technology - MIT e Fundação Konrad Adenauer (Alemanha) e, uma estreita parceria com o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O que temos feito com a cooperação internacional aproveitando os saberes acadêmicos de universidades estrangeiras? Com o governo francês, pudemos oferecer em 2003 discussões sobre temas como arranjos institucionais (Patrice Duran, Diretor e Professor do Departamento de Ciências Sociais da École Normale Supérieure de Cachan/França), “Estado Atual, Administração Nacional dos Estados e Municípios” (Gerard Marcou, Diretor do DESS de Administração e Gestão Pública, Universidade de Paris I), “Participação e Controle Social na Regulação e Reforma do Estado” (Etienne Picard e Gérard Timsit, professores da Universidade de Paris I), “Governo Eletrônico e Democracia Eletrônica” (Pascale Gonod, Professora da Université de Paris Sud/França e associada ao Centro de Pesquisa sobre Administração Pública – CERAP/Université de Paris I, mestre em Administração Pública e Doutora em Direito pela Universidade de Paris I). Nossa parceria com o Institut d´études politiques de Paris-Sciences Po, Cátedra Mercosul data de 1999, com quem organizamos o Curso Cartografia da Globalização, sendo grandes as perspectivas de estreitamento de relações em 2005. Pudemos receber diversos professores norte americanos. Em 2003, o prêmio Nobel Joseph Stiglitz, Professor de Economia e Finanças da Columbia University em Nova York, tendo também lecionado em Yale, Princeton, Stanford, MIT e Oxford, proferiu a palestra “Crescimento, Estabilidade Econômica e Inclusão Social”. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 13/22 Tivemos a honra de receber em 2003, para uma de suas últimas palestras o Richard Neustadt, Professor Catedrático de Governo na Kennedy School of Government, na Universidade de Harvard. Falou da “Longa Duração das Transições Presidenciais”. Já havíamos contado com a professora Kathryn Newcomer, Chefe do Departamento de Administração Pública da George Washington University para dar o curso “Gestão Baseada em Desempenho: Mudança de Cultura e Mensuração de Resultados”. Da Espanha, oferecemos em 2004 o curso “Articulação Horizontal na Gestão de Programas Sociais”, ministrado pelos professores Francisco Longo, Diretor e Professor do Instituto de Dirección y Gestión Pública da Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas – ESADE e Albert Serra, Professor do Instituto de Dirección y Gestión Pública da Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas – ESADE. Em 2002, o professor Longo já havia estado na ENAP, oferecendo o seminário “O dirigente público e a gestão do entorno político” e o curso “Reforma Gerencial em Países Ibero-americanos”. Em 2001, contamos com seu seminário sobre “O papel dos dirigentes públicos para a eficiência e eficácia das ações do Estado” e sua participação no “Workshop sobre como pensar carreiras no setor público face à administração gerencial”, além de consultoria sobre “Competências requeridas/desejáveis aos dirigentes públicos”. De Portugal, recebemos a ex-Ministra e professora Maria João Rodrigues (professora de Economia no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa/ISCTE), que proferiu as palestras “Governança no Contexto dos Mercados Comuns” e “Políticas de Inovação na União Européia” em 2004. Em 2003, sua palestra tratou de “Emprego e coesão social na nova economia do conhecimento”. Da Alemanha, tivemos a palestra “Experiências de Reforma do Setor Público na Europa e na Alemanha: da Gestão para a Governança”com o professor: Werner Jann, Professor de Ciência Política, Administração e Organização da Universidade de Potsdam/Alemanha e Presidente do European Group of Administration (EGPA) Do Chile e da Espanha, recebemos em 2002 os professores Carlos Vignolo, Diretor do Centro de Gestión y del Programa de Habilidades Directivas do Departamento de Engenharia Industrial da Universidade do Chile e Francisco Longo, Diretor e Professor do Instituto de Dirección y Gestión Pública da Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas – ESADE no seminário “O Dirigente Público: Preparando-se para a Transição de Governo”. O professor Vignolo também ofereceu em 2002 o curso “Desenvolvendo Habilidades de Inovação e Liderança Pessoal”. Com a Holanda, pudemos debater sobre a questão “Reformas da Gestão Pública: a Experiência Internacional pode ser Transferida?” com a participação do professor Christopher Pollitt, Professor de Gestão Pública da Universidade de Erasmus – Rotterdam/Holanda. Do Reino Unido, veio o professor Tony Bovaird, Professor de Estratégia e Gestão do Setor Público da Bristol Business School, University of the West of England para o Seminário Internacional “Mudanças Recentes na Gestão Pública no Reino Unido: Impactos das Novas Tecnologias, Qualidade dos Serviços Públicos, Contratualização e Reforma do Serviço Civil”. Estes são alguns exemplos de uma estreita relação da ENAP com universidades em diversos países. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 14/22 As perspectivas de ampliarmos estas parcerias são grandes. Na Espanha, estabelecemos contatos com a Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas – ESADE, com a Universitat Oberta de Catalunya, a Universitat Autónoma de Barcelona, a Universitat de Barcelona, a Universidad Complutense de Madrid e a Universidad Alcalá de Henares para trocarmos experiências nas áreas de desenvolvimento, gestão pública, governo e administração pública, governabilidade, análise de políticas públicas, educação à distância. Estivemos na Kennedy School of Government, em Harvard, buscando criar as bases para uma cooperação que poderá se dar entre a ENAP, a KSG e a USP. Na França, temos buscado reforçar nossas relações com Institut d´études politiques de Paris-Sciences Po. Podemos somar a estas possibilidades as parcerias triangulares, como as que oportunidades abertas, por exemplo, pela professora Ana Célia Castro, de ofertarmos seminários e palestras a servidores federais com convidados da UFRJ, como ocorreu com o professor Benjamin Coriat, com o professor Peter Evans, só para citar as experiências mais recentes. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 15/22 4. Rede de Escolas de Governo Acreditamos que a iniciativa da ENAP de formação de uma rede de escolas de governo pode se configurar como modo privilegiado para a capacitação de dirigentes para a gestão das políticas públicas de forma mais efetiva, transparente e participativa. Esta rede tem como primeiro objetivo o estímulo a conexões. Queremos que a Rede Nacional de Escolas de Governo contribua para o aumento da eficácia das instituições que trabalham com formação e aperfeiçoamento profissional dos servidores públicos dos três níveis de governo. Como perspectiva de trabalho, buscamos o compartilhamento de conhecimentos e de experiências das Escolas de Governo, incentivando trabalhos em parceria. Destacam-se: as contribuições para a formulação e articulação da política nacional de capacitação; a troca de experiências e abordagens metodológicas para a formação de servidores, considerando diversas formas de aprender, da presencial e coletiva à virtual e o auto-desenvolvimento; e, o estímulo à realização de fóruns de reflexão e intercâmbio de experiências das escolas de governo. Retomemos a história deste processo. Não é novidade no Brasil a organização de reuniões e seminários com escolas de governo e entre escolas corporativas das empresas públicas. Estas reuniões sempre promoveram algum grau de troca entre seus membros, fomentando a criação de uma policy community (Marsh e Rhodes, 1992). Entretanto, a irregularidade dessas iniciativas dificultava que se criasse de fato esta rede. A partir de 2003, a ENAP tomou a iniciativa de articular uma extensa rede de organizações parceiras, envolvendo escolas de governo de todo o Brasil, a qual foi denominada Rede de Escolas de Governo, com vistas a potencializar a atuação das instituições que trabalham com formação e aperfeiçoamento profissional dos servidores públicos, colaborando, inclusive, para o aumento da eficácia das ações dos três níveis de governo. Como perspectiva de trabalho, esta estratégia busca o compartilhamento de conhecimentos sobre boas práticas, incentivando os trabalhos em parceria e a criação de conhecimento novo a partir das trocas de experiências. Além disso, busca-se alcançar uma estratégia comum para o desenvolvimento de competências de servidores por meio de ações conjuntas e de disseminação de boas práticas. É exemplo de parceria desenvolvida pela ENAP a realização de programas de capacitação em conjunto com outras escolas lotadas em diversas regiões do país, tendo como público-alvo servidores dos governos locais e servidores federais lotados em outros estados, que não o Distrito Federal. Temos realizado diversos encontros12 para identificar objetivos comuns de trabalho e analisar formas de parcerias, os quais propiciaram o aumento do intercâmbio entre as Escolas. Como primeiros produtos desta articulação citamos a identificação das respectivas áreas de atuação e a criação de um sítio para a Rede http://www.ENAP.gov.br/portalescolas/portalescolas.htm, onde se encontra todo o material produzido no âmbito de suas atividades. Temos verificado que a formação da Rede de Escolas de Governo se mostra valiosa para aumentar a eficácia das ações de capacitação de servidores envolvidos com a 12 Realizamos um Encontro Nacional de Escolas de governo em julho de 2003, com a presença de mais de 60 escolas de diversos níveis de governo. Foram também realizados três Encontros do núcleo das escolas federais (junho e outubro de 2003, março de 2004). Estamos propondo às escolas a elaboração de uma pesquisa realizada em conjunto sobre o desafio de capacitar para a formação de lideranças modernas e responsáveis. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 16/22 gestão de políticas públicas, seja pelo maior acúmulo de conhecimento, seja pela possibilidade mesma de criação de conhecimento novo advindo do debate e da troca de experiências. A Rede permite ainda viabilizar - setorial e espacialmente - um programa de ações em torno de diretrizes comuns. A dimensão espacial, contida no trabalho em rede, torna-se uma variável importante para a garantia de maior racionalidade e eficácia às políticas públicas, principalmente em se considerando o tamanho do Brasil. A Rede de Escolas conta com um núcleo mais ativo, formado pelas Escolas de Governo federais13. Estas são instituições que atuam na capacitação de servidores federais, tanto da administração direta, quanto da indireta, nas mais diversas áreas. Desde 2003 já foram realizados três encontros deste núcleo, onde registramos a presença de mais de 20 Escolas de Governo federais. Uma das principais pautas destes encontros14 tem sido o debate sobre o papel da Rede de Escolas de Governo na elaboração da Política Nacional de Capacitação. Fruto das discussões realizadas nestes encontros foram analisadas expectativas e definidas algumas estratégias para que a Rede de Escolas possa contribuir para formulação, difusão e implementação desta Política, a qual espera-se possa atender às necessidades de capacitação dos órgãos, assim como oferecer instrumentos para desenvolver as habilidades necessárias à atuação dos servidores nos diversos cargos e funções da Administração Pública. Na formulação da Política Nacional de Capacitação cabe à Rede de Escolas um papel articulador, integrador e consultivo com visão de longo prazo. Cabe também à Rede difundir as diretrizes da Política junto aos servidores públicos, criar as bases para a abordagem mínima comum a todas as Escolas na sua implementação, articulando-a por meio de ações integradas, bem como participar da sua avaliação. Ainda em relação à Política Nacional de Capacitação a Rede pode contribuir com análises e discussões de alguns conteúdos e diretrizes. Os temas prioritários levantados nos encontros dizem respeito a seus pressupostos e diretrizes, incluindo temas como: relação entre a visão do papel do Estado e a política de capacitação; aperfeiçoamento permanente do servidor; incentivos à capacitação; processo de negociação da Política; racionalização de meios de execução; visões e abordagens da formação do servidor; formação por competências (individuais e organizacionais); identificação de lacunas e necessidades de competências dos órgãos públicos; formação básica, acadêmica e profissional do servidor público; oportunidades de formação geral no serviço público. Foram levantados também outros temas mais específicos que devem ser tratados pela Política e podem ser objeto de contribuição da Rede por meio de análises e discussões: padronização de procedimentos; redefinição dos conteúdos de capacitação gerencial; ensino à distância (mecanismos de incentivo, aprofundamento dos conceitos e questões afins à propriedade intelectual relativas a esta modalidade); financiamento e mecanismos de garantia de recursos para a execução da Política; autodesenvolvimento do servidor e avaliação de efetividade das ações. 13 Escola Superior de Guerra - ESG; Instituto Rio Branco - IRB; Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN; Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE; Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP; Escola de Administração Fazendária - ESAF; Agência Brasileira de Informação - ABIN; Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ; Escola Naval; Academia Força Aérea - AFA; Escola Superior do Ministério da União - ESMPU; Academia Nacional de Polícia - ANP ; Universidade do Lesgislativo - ULB; Universidade Corporativa do Banco do Brasil; Universidade dos Correios; Universidade Corporativa da Petrobrás; Universidade Corporativa da Caixa Econômica Federal; Instituto Serzedello Corrêa – Tribunal de Contas da União; Gerência de Educação Corporativa do Banco Central - BACEN; Universidade Corporativa do Serviço de Processamento de Dados - SERPRO. 14 Informações baseadas nos relatórios dos encontros das escolas federais. Disponível em: http://www.ENAP.gov.br/escolasdegovernofederais/relatorio_encontro_frm.htm. Acesso em 30 de março de 2004. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 17/22 Além da questão da Política Nacional de Capacitação, o trabalho desenvolvido pela Rede também visa contribuir para a racionalização e a otimização de esforços por meio da otimização da infra-estrutura, recursos humanos e financeiros das Escolas; da minimização ou eliminação de ações em duplicidade; do compartilhamento de seus bancos de colaboradores; da sua atuação como centro de informações e divulgadora de cursos oferecidos pelas diversas escolas, contribuindo para a gestão do conhecimento no setor público; da promoção de ações de sensibilização e comprometimento para ampliar a adesão dos dirigentes públicos à importância da capacitação permanente dos servidores. Vale lembrar que o compartilhamento de informações sobre os produtos das diversas Escolas deve ser feito de maneira contextualizada, não fazendo o mero intercâmbio de “cardápios”, mas tornando claro o contexto de elaboração e utilização dos produtos. Em relação à potencialização e à otimização da oferta, a Rede de Escolas também pode atuar na divulgação das oportunidades de capacitação, especialmente na oferta de vagas em cursos de interesse geral para as Escolas integrantes da Rede. A Rede também tem muito a contribuir para a melhoria do planejamento e da gestão das Escolas, permitindo o estabelecimento de objetivos comuns, o compartilhamento de recursos e processos de gestão e a integração de meios e métodos, sem perder de vista a preservação das identidades institucionais das Escolas. Outra oportunidade colocada pelos integrantes da Rede é o desenvolvimento de um mapa comum de competências desejadas para os servidores públicos federais. Estas são apenas as primeiras idéias que surgiram nestes encontros iniciais, sendo que ainda há muito a ser desenvolvido. O envolvimento dos dirigentes e a generosidade no compartilhamento de saberes permitiram que algumas iniciativas começassem a se concretizar, como, por exemplo, a elaboração da proposta de um Portal eletrônico que concentre as informações sobre as Escolas de Governo Federal no Brasil. Outra possibilidade que gostaríamos de destacar reside em ofertar métodos alternativos para a capacitação. Neste início do século XXI o trabalho mudou muito. Os instrumentos tradicionais de formação em salas de aula não são suficientes para fazer face às necessidades e aos estilos de aprendizado desses novos tempos. Muitos profissionais vêm buscando se atualizar sem a volta aos bancos escolares. Não o fazem sem esforço. Como Escola de Governo assumimos, portanto, a tarefa de facilitar esse processo de autodesenvolvimento de servidores. Estamos desenvolvendo esta política por meio de dois instrumentos: o sítio da Escola e a Revista do Serviço Público. Como um nó da rede de escolas, assumimos nosso papel de reformular o sítio da ENAP para facilitar a conexão entre as pessoas, bem como a velocidade com que estas conexões poderão ser realizadas. Ele passa a ser parte da política de capacitação da Escola, como um espaço colaborativo de aprendizagem. Significa o estímulo à criação de comunidades de aprendizagem, de equipes virtuais que possam trocar e compartilhar conhecimentos sem a necessidade de tutoria e de certificação. A Biblioteca também ocupa lugar central nesta política. Sabemos que os ganhos desse aprendizado informal não podem ser quantificados. Todavia, não poder avaliar da mesma forma que se faz com o ensino tradicional não nos tira a certeza do valor deste novo modo de aprender. A Revista do Serviço Público é o outro meio desse estímulo a novas formas de aprender. Criada em 1937, a revista atravessou períodos de maior ou menor influência na produção e difusão de conhecimentos sobre a gestão pública no país. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 18/22 Um dos pilares da preocupação temática da Revista do Serviço Público é o que cientistas políticos norte-americanos chamam de institutional building. O Brasil construiu um mosaico institucional ao longo de décadas. São grandes e graves o descompasso, a inadequação e a impropriedade das instituições brasileiras. Artigos e entrevistas podem ajudar a compreender os problemas decorrentes da pulverização do Estado e a encontrar caminhos para a redefinição de suas funções, com a construção de novos alvos, instrumentos e processos. O outro pilar é a formação e qualificação geral do servidor. Queremos tratar de assuntos que cativem o servidor. Queremos que o servidor possa aprender não apenas por meio de artigos de interesse técnico imediato, voltado para resolver problemas visíveis, mas que a sua leitura estimule, instigue e inspire o servidor. Em outras palavras, que o leitor-servidor consiga enxergar melhor a população e as realidades deste país. Também, que este leitor-servidor se sinta convidado a querer alterar as realidades em seu local de trabalho. Para isso, redefinimos a missão da Revista: “disseminar conhecimentos e experiências inovadoras sobre gestão de políticas públicas, estimular o seu debate, reflexão e promover o desenvolvimento dos servidores e sua integração com a cidadania”. Também estamos profissionalizando a Revista, ampliando sua tiragem e criando um projeto editorial mais atraente para que ela possa contribuir para aumentar a capacidade de governo em todos os níveis da administração pública, além de: Promover a recuperação da auto-estima dos servidores e resgatar o orgulho de ser funcionário; Disseminar conceitos e tecnologias inovadores para atender a problemas de gestão; Estimular a produção de conhecimento por servidores e pesquisadores sobre temas relevantes para a administração pública; Publicar experiências novas e bem-sucedidas e exemplos inspiradores de administração pública no Brasil e em outros países; Ser um instrumento de estímulo à educação permanente dos servidores públicos; Proporcionar um panorama abrangente sobre o conjunto das políticas públicas Inspirar e fomentar inovações na administração pública; Estimular a reflexão sobre a relação entre o servidor público e o cidadão contribuindo para a humanização dessa relação; Acompanhar e discutir as relações entre os diversos níveis da administração pública. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 19/22 5. Considerações Finais Queremos e precisamos aumentar a capacidade de governo no Brasil. Tarefa que é maior do que a Escola Nacional de Administração Pública, com certeza. Não temos respostas seguras sobre como fazer isso, mas acreditamos que estamos dando passos concretos nesta direção. Nosso foco, como visto, é a preparação de dirigentes públicos para atuar em um contexto complexo, marcado pela incerteza e pela mudança constante. A palavra complexidade exprime, em geral, nossa incapacidade de definir de forma simples, de nomear de forma clara, de colocar nossas idéias em ordem. É uma palavra que carrega uma carga semântica pesada, associada a confusão, incerteza e desordem. Nosso enfoque aqui, herdeiro da produção de Edgar Morin, é o de reconhecer a complexidade e o de recusar uma capacitação baseada na simplificação da realidade. Imaginamos que a principal tarefa da qualificação de dirigentes é a de desenvolver o pensamento complexo que busque integrar os modos simplificados de pensar, recusando ao mesmo tempo as conseqüências reducionistas, mutiladoras e unidimensionais de uma simplificação cega da realidade. O dirigente público tem cada vez mais dificuldade de selecionar as prioridades em um contexto de incerteza. Para estar apto para as tarefas de governar, precisa desenvolver um pensamento que desvende o desafio da complexidade do real. Pensamento capaz de apreender as ligações, interações e implicações mútuas, os fenômenos multidimensionais, as realidades que são ao mesmo tempo solidárias e conflituosas. Se a incerteza da realidade desarma, Morin afirma a necessidade de “nos rearmarmos intelectualmente nos instruindo para pensar a complexidade. A perda do futuro é um ganho se ela nos revela a aventura desconhecida. É preciso desenvolver a consciência da ambigüidade dos problemas científicos e técnicos, a consciência da incerteza de nosso futuro. Precisamos desenvolver a racionalidade autocrítica no seio da nossa razão.” (Morin, 1991, pp. 16 e 17) O dirigente público, preparado para governar a ação, precisa desenvolver um pensamento crítico, que dê conta da complexidade do mundo contemporâneo. Significa compreender todos os significados de sua ação. A ação é uma decisão, uma escolha mas também uma aposta. Na noção de aposta está implícita a consciência do risco e da incerteza. Ao mesmo tempo, a ação é estratégia. Significa uma luta contra o acaso e aceitar que muitas vezes o produto das ações escapa às nossas intenções. A ação supõe a complexidade, ou seja, o acaso, a iniciativa, a decisão, a consciência das mudanças e das transformações. Nesse sentido, o dirigente precisa se preparar para o inesperado. Nossas ações desenvolvidas ao longo deste artigo estão orientadas no sentido de preparar os dirigentes para essa aventura do desconhecido. A construção coletiva de planos, a negociação permanente, a articulação de redes, o incentivo ao autodesenvolvimento com o emprego da internet e da Revista são todas estratégias estruturadas para esse alvo. O dirigente público precisa saber mais do que o funcionamento das organizações públicas e suas regras formais. Precisa se apropriar de conhecimentos de uma realidade mundial que se transforma rapidamente, sem certezas sobre o futuro. Sua formação deve ajudá-lo a desenvolver habilidades adequadas a essa realidade. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 20/22 Esperamos estar contribuindo para a criação de espaços de reflexão para pensar e preparar para a ação de governar. Formando para o desconhecido, apostamos na idéia de que cabe ao servidor ser o sujeito de sua formação. Nossas iniciativas visam favorecer esse navegar entre conhecimentos para desenvolver a compreensão da ação social, e com isso, contribuir para a redução das desigualdades e o crescimento sustentável em nosso país. A formação dessa rede entre escolas de governo, que agrega a riqueza da diversidade da realidade nacional, tem o potencial de consolidar e difundir as inovações na gestão pública brasileira. O estreitamento de relações com a Universidade também fortelece as escolas de governo. Aprendemos todos, com a aplicação das teorias sobre os problemas públicos concretos. Apostamos neste potencial de conexões estratégicas para o aumento da eficácia das ações de capacitação de dirigentes públicos. Escolas de Governo e Universidade: parceria estratégica para aumentar a Capacidade de Governo – Helena Kerr – 21/22 Bibliografia • Diniz, Eli (1997), Crise, reforma do Estado e governabilidade: Brasil 1985-95, Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas. • Kerr do Amaral, H. 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