S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS Direcção Geral dos Impostos Seminário para Dirigentes e Chefias Tributárias 12 de Fevereiro de 2008 Intervenção do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Carlos Baptista Lobo Minhas Senhoras e meus Senhores, É com muito gosto que faço desta conferência o meu primeiro acto público, depois de tomar posse como Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Antes de mais, não queria deixar de saudar o meu antecessor Dr. Amaral Tomaz, pelo seu trabalho meritório à frente desta pasta, o que vem facilitar a execução das tarefas que se avizinham. Espero, Dr. Amaral Tomaz, contar consigo como um conselheiro privilegiado. Passa-se, pois, neste momento, uma transição normal na vida das instituições. 1 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS As minhas primeiras palavras não podiam deixar de ser para a Direcção-Geral dos Impostos (DGCI). Essas palavras são de confiança e de continuidade. Confiança, porque estou perante o que há de melhor na Administração Pública. A todos, sem excepção, uma saudação especial e a minha certeza de que poderei contar com o vosso apoio por forma a garantir no futuro o que tem sido essencial no passado para o bom desempenho e consequente prestígio da DGCI. Continuidade, porque é evidente - julgo que o será para todos - que desde o primeiro momento, no programa de Governo e nas prioridades de actuação da equipa política deste Ministério, o sector tributário sempre constituiu uma primeira prioridade. É também evidente que essa primeira prioridade resulta de uma análise realista da situação actual, das estruturas e do sistema fiscal, em que é mais importante corrigir pontualmente e pôr a funcionar, num sentido de grande eficiência, eficácia e modernização, o que existe e dotá-los de meios e da capacidade de articulação para novas funções que não estejam na 2 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS estratoesfera das grandes reformas abstractas que não tenham nada a ver com as necessidades do país. Todos sabemos que, se por hipótese, qualquer Direcção Geral, instituto público ou até órgão do Estado deixasse de funcionar, o Estado português sempre existiria. Mas se a DGCI - e a DGAIEC - deixassem de funcionar, o Estado português não existiria, pura e simplesmente. Os meios necessários para o Estado satisfazer necessidades resultam dos impostos e é por isso que aqueles que opõem resistência à moralização e aos ganhos de eficiência sabem muito bem a que é que estão a resistir. A realização deste seminário e a coincidência com o início das minhas funções não poderia ser mais oportuna. Na verdade, a relação tributária está diferente: está desmaterializada e encontrou novas formas de equilíbrio. A desmaterialização é entendida como a chave de entrada para uma economia nacional competitiva. 3 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS O Governo tem vindo, assim, a lançar um conjunto de medidas que assentam essencialmente numa maior simplificação no que respeita aos procedimentos de cumprimento das obrigações fiscais e apostou em projectos emblemáticos – que têm merecido a atenção dos nossos parceiros comunitários. Note-se que esta simplificação de procedimentos tanto beneficia o Estado como os agentes económicos, porquanto não só se combatem as conhecidas falhas de intervenção pública, como também as ineficiências decorrentes do fornecimento dos bens públicos. Atente-se, contudo, que as medidas de simplificação e desburocratização tributária não são avulsas, enquadram-se na iniciativa em curso de simplificação, inovação e modernização da Administração Pública que o Estado adoptou, para facilitar a vida às empresas e aos cidadãos portugueses, corporizada, como sabem, no chamado “Simplex”. Entre as soluções que o Estado tem adoptado para impulsionar uma nova dinâmica ao tecido empresarial estão ainda as que se destinam a aumentar a 4 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS competitividade fiscal do país, através da simplificação de procedimentos, da maior eficiência da máquina fiscal e aduaneira e, igualmente tão importante, da equidade fiscal. Recordo projectos como a redução dos prazos de resposta, a dispensa de certidões da inexistência de dívidas, o pré-preenchimento das declarações de IRS ou a revisão do quadro de benefícios fiscais. De mencionar também o sistema de reclamações de base electrónica, o sistema de pré-preenchimento das declarações de IRS, a desmaterialização das declarações aduaneiras de exportação e o reembolso praticamente automático de IVA às empresas exportadoras, que já vigora desde 2006. É na criação de medidas com este triplo conteúdo unificado pela ideia de simplificação, tendo em vista o reforço da competitividade, que o Estado actual deve reencontrar a concorrência fiscal. Não com medidas fáceis, como seja o agravamento da tributação, ou até mesmo, inversamente, a propiciação da chamada baixa tributação, que só resultam em evidentes “votos com os pés”. Recorde-se que o âmbito da soberania fiscal encontra-se limitado, uma vez que as economias nacionais não se encontram sozinhas – integram-se num espaço 5 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS global, tendo em vista a intensificação das necessidades pela partilha de recursos e de vantagens produtivas. Mas a desmaterialização só faz sentido num contexto de uma relação tributária equilibrada e sã. Na verdade, os sistemas fiscais tradicionais, assentes nos impostos sobre o rendimento e na tributação sobre o valor acrescentado, são frágeis, por verem fugir gradualmente as respectivas matérias tributáveis. Deste fenómeno de “destributarização” crescente tendem a excluir-se, de modo tanto mais injusto e insistente quanto mais fácil é a evasão dos outros factores, o trabalho subordinado menos qualificado – dificultando, assim, a resolução do problema do emprego e agravando as injustiças e as desigualdades sociais – e a propriedade imobiliária agravando porventura os seus problemas de gestão e de utilização, quer no espaço rural, quer no espaço urbano. Quando tudo o resto foge, é isto o que resta – com crescente injustiça e ineficiência fiscal, já evidentes nas evoluções recentes da fiscalidade mais desenvolvida. Então a injustiça gera injustiça: quanto mais fogem as formas de 6 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS riqueza, mais o Estado se encarniça contra as expressões de faculdades contributivas que não conseguem fugir. Como já o Professor Sousa Franco disse em tempos, “acredito ainda que o grau de injustiça relativa deste novo liberalismo globalizado e selvagem não tem paralelo com a injustiça do primeiro liberalismo do início do século XIX: pois a despesa pública é hoje bem maior e a fuga fiscal mais maciça e mais fácil”. O novo quadro legal do planeamento fiscal agressivo em análise neste seminário é um instrumento valioso para o reequilíbrio da relação tributária. Contudo, não deve ser entendido como um fim, mas sim como um meio. Um meio para a construção de um novo paradigma relacional tributário, em que coexistam direitos e deveres, quer para o sujeito passivo, quer para a Administração Fiscal. Quer isto significar que peço a colaboração da DGCI para um estudo aprofundado de novos modelos de procedimentos a adoptar 7 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS (como seja a informação vinculativa), garantindo pleno acolhimento deste novo quadro legal em análise. Finalmente, interessa salientar que nada disto faria sentido se não considerássemos que as trocas comerciais cada vez mais se efectuam numa lógica planetária. Daí a importância no aprofundamento das relações entre os vários sistemas fiscais, encarados agora não só como instrumentos de redistribuição de riqueza como também como incentivadores de comportamentos económicos próprios de um mercado concorrencial. Hoje em dia a receita não depende apenas dos níveis das taxas. Basicamente, deve-se tomar em consideração num ambiente de concorrência fiscal as opções que são tomadas pelos restantes jogadores. O que é que, por exemplo, a Holanda faz há dezenas de anos? A Holanda optimiza as opções que são tomadas pelos restantes países no seu interesse. Tem sempre um regime espelho, ou seja, se alguém toma uma determinada decisão, a Holanda consegue readaptar o seu sistema fiscal para retirar a mais-valia. 8 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS Neste âmbito, Portugal tem que adoptar uma verdadeira política fiscal. Deve evitar políticas de curto prazo que basicamente assentam numa óptica de ciclo eleitoral, numa orientação claramente pró cíclica. Devemos assumir um projecto de desenvolvimento do país numa óptica de concorrência fiscal. Falamos e discutimos a concorrência fiscal em Portugal, mas bom seria adoptar um projecto para além de um mero controlo das investidas da Comissão Europeia e do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias contra instrumentos de concorrência fiscal que poderiam beneficiar o país. É conveniente tomar-se consciência que existe concorrência fiscal e ser próactivo. É necessário que Portugal defina igualmente de forma clara fora do país – nas instâncias comunitárias e na OCDE – a sua posição face à concorrência fiscal e não se limite à submissão a regras formais, exigindo sempre uma adaptação material e substancial dos regimes gerais ao seu caso concreto. Faz todo o sentido lembrar que estamos totalmente empenhados no aperfeiçoamento do sistema fiscal em vigor, tendo em vista a tomada de decisões por parte dos vários agentes num mercado global. 9 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS Acreditamos que não é com descida de impostos que o sistema fiscal se torna mais competitivo, mas sim com a criação e/ou aprofundamento das estruturas de tributação já existentes: não só as empresas, mas também os particulares. Falamos de estruturas de tributação, cumulativamente, adequadas à actividade, sem custos de contexto, com simplificação de procedimentos. Refira-se, a este propósito, que o elemento humano é sempre fundamental enquanto filtro – buffer – da, por vezes, cega decisão electrónica. É meu entendimento que não podemos manter-nos incógnitos sob a capa da mecanização da administração por realização de actos de massa. Esta ponderação, este acto humano, é essencial para a introdução de mecanismos de equilíbrio num processo que se unicamente mecanizado se torna inequivocamente injusto. Esta humanização – que não coloca em causa a modernização – é, a meu ver, essencial para a sua legitimação. Por tudo isto, conto com todos para conseguirmos atingir aquilo que é o objectivo da DGCI para 2008: o ano da tolerância zero no combate à fraude e à evasão. 10 S. R. MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS ASSUNTOS FISCAIS Ora, a tolerância zero só é possível com o dito reequilíbrio da relação tributária, para o qual contribui este novo quadro legal dedicado ao planeamento fiscal agressivo. Para aquilo que nos interessa especialmente, termino salientando que uma Administração equilibrada é aquela em que os resultados de cobrança devem ser temperados com uma relação equilibrada e justa com o contribuinte: com garantia de igualdade de armas e com uma redução da litigiosidade. Conto com todos para continuarmos o bom trabalho. Podem contar comigo, estarei do vosso lado! Muito obrigado. 11