UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS Thiago Fernandes Bernardes Engenheiro Agrônomo JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Agosto de 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS Thiago Fernandes Bernardes Orientador: Prof. Dr. Ricardo Andrade Reis Co-Orientador: Prof. Dr. Giorgio Borreani Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do titulo de Doutor em Zootecnia. JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Agosto de 2006 B522c Bernardes, Thiago Fernandes Controle da deterioração aeróbia de silagens / Thiago Fernandes Bernardes. – – Jaboticabal, 2006 vii, 103 f. : il. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006 Orientador: Ricardo Andrade Reis Banca examinadora: Antonio Ricardo Evangelista, Clôves Cabreira Jobim, Luiz Gustavo Nussio, Paulo Henrique Mazza Rodrigues Bibliografia 1. Estabilidade aeróbia. 2. Inoculante. 3. Perdas. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 636.085.52:636.2 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. DADOS CURRICULARES DO AUTOR THIAGO FERNANDES BERNARDES – filho de Paulo Renato Bernardes e Marisa Celi Fernandes Bernardes, nasceu na cidade de Ibitiúva – SP em 24 de maio de 1977. Ingressou no curso de Agronomia da Universidade Federal de Lavras - UFLA, em agosto de 1995, onde foi membro (coordenador) do Núcleo de Estudos em Forragicultura – NEFOR e bolsista de IC-CNPq no período de 1998 a 2000, obtendo o título de Engenheiro Agrônomo em julho de 2000. Em março de 2001, ingressou no curso de Pós-graduação em Zootecnia, Área de Concentração em Produção Animal, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de Jaboticabal onde obteve o título de Mestre em fevereiro de 2003. Iniciou o curso de Doutorado em março de 2003 nesta mesma instituição, onde exerceu o cargo de Professor Bolsista da disciplina Forragicultura e Pastagens no período de agosto de 2004 a fevereiro de 2005. No período de julho a dezembro de 2005 realizou Estágio de Doutorando no Exterior junto a Università Degli Studi di Torino, Itália, como bolsista da CAPES e em agosto de 2006 obteve o título de Doutor. Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros já foram Alexander Graham Bell À Deus pela vida, pela saúde, pelo lar, pelos amigos, pela coragem nos momentos difíceis, por iluminar meu caminho e guiar meus passos na direção certa. Aos meus pais Paulo Renato e Marisa. Durante toda minha vida, ouvi poucas palavras, apenas os observei. Exemplos de garra e amor. São meus heróis. Tenho o maior orgulho de vocês. Dedico AGRADECIMENTOS Ao Prof. Ricardo Andrade Reis pela orientação, competência e acima de tudo por ter acreditado no meu trabalho. Essa confiança foi traduzida em oportunidades que fizeram-me crescer como ser humano e pesquisador. Ao Prof. Giorgio Borreani da Università degli Studi di Torino - Itália pela orientação precisa e demonstração de interesse permanente à pesquisa e no meu progresso. Suas contribuições fizeram-me enxergar uma pesquisa que eu ainda não conhecia. Ao Gustavo Rezende Siqueira (Fofo) pela amizade e parceria. Tenho maior respeito profissional pela sua pessoa. Homem de competência, honesto e paciente. Espero estar ao seu lado nos trabalhos que virão pela frente. Ao Rafael Camargo do Amaral (Girdo). Foram quatro anos e meio de amizade sincera e verdadeira. Nos tornamos irmãos e parceiros profissionais. Choramos e sorrimos juntos pelas nossas derrotas e vitórias. O destino nos afastou fisicamente, mas você mora aqui no meu coração... Meu primeiro filho de “Os dois filhos de Thiago”... À Anna Paula de Toledo Piza Roth (Dequinha) pela sua amizade, dedicação e entusiasmo. Sua ajuda foi fundamental nos trabalhos à campo e nas análises laboratoriais. Ao Rafael Monteiro (Zóio). Sempre com um sorriso no rosto e demonstrando boa vontade em tudo o que foi solicitado. Meu segundo filho de “Os dois filhos de Thiago”... À Marcella de Toledo Piza Roth (Curica) pela sua simplicidade e sempre estar disposta a ajudar. Ao Bruno Natarelli (Bassora) pela humildade e força de vontade. Quantas serenatas ao lado do Girdo fizemos juntos... Ao Ernesto Tabacco da Università degli Studi di Torino - Itália pela competência e oportunas contribuições. Ao lado do Prof. Borreani forma uma grande dupla no desenvolvimento dos trabalhos na área de conservação de forragens. Ao Daniele Giaccone e à Mara Scaiola da Associazione Regionale Produttori Latte Piemonte - Itália pela simpatia e sorrisos compartilhados. À Laura Cavallarin e à Sara Antoniazzi do Istituto di Scienze delle Produzioni Alimentari - Itália pela colaboração e muitos ensinamentos compartilhados. Durante o estágio nos tornamos amigos e companheiros de “balada”. Presença feminina, que foi fundamental para que a vida longe de casa se tornasse mais doce. Ao diretor do Dipartimento di Agronomia da Università degli Studi di Torino - Itália Prof. Aldo Ferrero e aos Professores Carlo Grignani e Dario Sacco pela contribuição e simpatia durante a minha permanência na Itália. Aos Professores da banca examinadora que pacientemente leram a tese, corrigindo os erros e contribuindo com toda experiência profissional. À Anna Ciolino Scaduto. Minha brilhante Professora da língua italiana. Uma das almas mais puras e sensatas que conheci nestes últimos anos. Sua competência foi fundamental na realização do meu sonho. Aos Professores do Departamento de Zootecnia, em especial à Ana Claudia Ruggieri, Alexandre A. M. Sampaio, Luis R. A. Rodrigues (in memória), Mateus J.R. Paranhos da Costa, Mauro D. S. de Oliveira e Telma T. Berchielli por estimular minhas ações, reconhecer minha contribuição e confiar no meu trabalho. Aos colegas de pós-graduação, que ao omitir os nomes, manifesto minha gratidão pelo carinho, amizade e incentivo. Aos meus familiares que sempre me deram forças e me completaram com bons exemplos. À minha namorada Camila pelo incentivo e amor, trazendo-me confiança e o símbolo da mulher. À Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP/Jaboticabal pela oportunidade de realização do curso. À Università degli Studi di Torino - Itália pela oportunidade de realização do Estágio no Exterior. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas concessões das bolsas de estudo. Muito Obrigado! Grazie Mille! SUMÁRIO Página RESUMO................................................................................................................ iv SUMMARY.............................................................................................................. v CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS......................................................... 1 1. Introdução......................................................................................................... 1 2. Revisão de Literatura........................................................................................ 4 2.1 Fatores que influenciam na deterioração aeróbia....................................... 4 2.2 Penetração de ar......................................................................................... 4 2.2.1 A Porosidade da silagem e a penetração de ar................................ 5 2.2.2 A lona de cobertura e a penetração de ar......................................... 7 2.2.3 O desabastecimento do silo e a penetração de ar............................ 9 2.3 O paradoxo: Fermentação e estabilidade aeróbia...................................... 12 2.4 Retrospectiva do uso de inoculantes para silagem.................................... 12 2.4.1 Inoculantes contendo bactérias homoláticas.................................... 12 2.4.2 Inoculantes contendo bactérias heteroláticas................................... 16 2.5 Microrganismos envolvidos com a deterioração aeróbia............................ 21 2.5.1 As leveduras........................................ ............................................. 21 2.5.2 Os fungos e as micotoxinas........... .................................................. 23 2.5.3 Bactérias esporogênicas................................................................... 24 2.5.3.1 O ciclo dos esporos de Clostridium e os produtos lácteos.... 25 3. Referências......................................................................................................... 28 CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DA SILAGEM DE CAPIM-MARANDU TRATADO COM ADITIVO QUÍMICO E INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO E HETEROFERMENTATIVAS................................................................................ 38 1. Introdução......................................................................................................... 39 2. Material e Métodos............................................................................................ 41 2.1 Experimento 1 – Perfil de fermentação e estabilidade aeróbia.................. 41 2.2 Experimento 2 – Consumo e digestibilidade aparente............................... 43 3. Resultados e Discussão................................................................................... 46 3.1 Perfil da fermentação e estabilidade aeróbia............................................. 46 3.2 Consumo e digestibilidade aparente.......................................................... 54 4. Conclusões....................................................................................................... 57 5. Referências...................................................................................................... 58 CAPÍTULO 3 – INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO OU HETEROFERMENTATIVAS NA ENSILAGEM DE MILHO E DE SORGO GRANÍFERO............................................................................................................ 64 1. Introdução......................................................................................................... 65 2. Material e Métodos........................................................................................... 66 2.1 Localização, condução das culturas e colheita.......................................... 66 2.2 Tratamentos, inoculação e silos experimentais.......................................... 67 2.3 Avaliação da estabilidade aeróbia.............................................................. 67 2.4 Recuperação de matéria seca.................................................................... 68 2.5 Análises químicas e microbiológicas.......................................................... 68 2.6 Delineamento experimental e análises estatísticas.................................... 69 3. Resultados e Discussão................................................................................... 69 3.1 Fermentação.............................................................................................. 69 3.2 Estabilidade aeróbia................................................................................... 72 4. Conclusões...................................................................................................... 80 5. Referencias...................................................................................................... 81 CAPÍTULO 4 – AVALIAÇÃO DE FILME DE BAIXA PERMEABILIDADE AO OXIGÊNIO NA VEDAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA SILAGEM DE MILHO EM DUAS REGIÕES DO SILO TIPO TRINCHEIRA............................................... 85 1. Introdução........................................................................................................ 86 2. Material e Métodos.......................................................................................... 88 2.1 Condução da cultura, colheita, silo e plásticos utilizados.......................... 88 2.2 Perdas de MS e perfil de temperatura....................................................... 90 2.3 Amostragens e preparação das amostras................................................. 91 2.4 Análises químicas...................................................................................... 91 2.5 Análises microbiológicas........................................................................... 92 2.6 Análise dos dados..................................................................................... 92 3. Resultados e Discussão................................................................................. 92 4. Conclusões..................................................................................................... 98 5. Referências..................................................................................................... 99 CAPÍTULO 5 – IMPLICAÇÕES............................................................................... 102 CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS RESUMO - Com o objetivo de avaliar técnicas, como o uso de aditivos direcionados ao controle de microrganismos aeróbios, bem como a utilização de filme plástico de baixa permeabilidade ao oxigênio no controle da deterioração aeróbia durante a armazenagem e na remoção da silagem, foram conduzidos três estudos. No primeiro, objetivou-se conhecer o perfil de fermentação e a estabilidade aeróbia das silagens de capim-Marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) submetido a inclusão de benzoato de sódio e inoculantes bacterianos, bem como o consumo e a digestibilidade aparente das rações contendo esta gramínea ensilada com bactérias homo e heterofermentativa. No segundo estudo, o objetivo foi de avaliar a estabilidade aeróbia das silagens de milho (Zea mays) e de sorgo granífero (Sorghum bicolor cv. Kalblanc) inoculadas com Lactobacillus buchneri e L. plantarum. No terceiro, objetivou-se avaliar as perdas na região periférica e central do silo e o efeito do filme plástico com baixa permeabilidade ao oxigênio na vedação de silagem de milho, armazenada em silo tipo trincheira. As plantas de capim-Marandu, quando ensiladas com alta concentração de umidade (20 % de MS), apresentaram perdas elevadas na fase fermentativa e foram estáveis em condições de aerobiose. O uso de benzoato de sódio ou de bactérias não reduziram as perdas de matéria seca durante a fermentação e nem favoreceram a estabilidade aeróbia das silagens de capim-Marandu com alta concentração de umidade. A inoculação com bactérias homo e heterofermentativas, isolada ou associada, não alterou o consumo ou a digestibilidade das rações. A inoculação com L. buchneri na ensilagem de plantas de milho e de sorgo granífero promoveu fermentação heterolática e reduziu a deterioração aeróbia destas silagens após a abertura do silo. No terceiro estudo, a silagem localizada na região central do silo apresentou fermentação lática mais acentuada, desenvolvimento inferior de leveduras e de fungos, bem como menores perdas de matéria seca em relação à região periférica. O uso de filme com baixa permeabilidade ao oxigênio pode reduzir as perdas na estocagem quando o fechamento do silo é adequado. Entretanto, pode aumentá-las durante o período de utilização se a remoção da silagem não for gerida adequadamente. Palavras-chave: estabilidade aeróbia, gramínea tropical, inoculante, lona, perdas AEROBIC DETERIORATION CONTROL OF SILAGES SUMMARY - Aiming to evaluate techniques, as additives specific for aerobic microorganism control and plastic film with low oxygen permeability for aerobic deterioration control during silage storage and removing, three trials were carried out. The first trial aimed to describe the fermentation profile and the aerobic stability of Marandu grass (Brachiaria brizantha cv. Marandu) silages submitted to treatment with sodium benzoate or bacteria inoculates, as well as to evaluate intake and apparent digestibility of diets containing this grass silage with homo and heterofermentative bacteria. The second trial was for evaluating the aerobic stability of corn (Zea mays) and sorghum (Sorghum bicolor cv. Kalblanc) silages inoculated with Lactobacillus buchneri or L. plantarum. The third trial goal was to evaluate losses in peripheral and central regions of silo and the effect of plastic film with low oxygen permeability on corn silage covering in bunker silo. When Marandu grass was ensilaged with high levels of moisture (20 % of DM) there was great losses during fermentation and was stable at aerobic conditions. The use of sodium benzoate or bacteria did not reduce the dry matter losses during fermentation and even did not help aerobic stability in silages of Marandu grass with high moisture concentration. The inoculation with homo and heterofermentative bacteria isolated or associated did not change diet intake or digestibility. Inoculation with L. buchneri promoted heterolactic fermentation and reduced aerobic deterioration of corn and sorghum silages after silo opening. During the third study, the silage located in central region of silo in relation to that of peripheral region showed more accentuated lactic fermentation, inferior developing of yeast and fungi and smaller losses of dry matter. The use of plastic film with low oxygen permeability can reduce losses during storage when silo covering is adequate; but, it can increase losses during silo manipulation when silage is not removed adequately. Key-words: aerobic stability, film cover, inoculant, losses, tropical grass silage CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução A conservação de forragens mediante o uso da ensilagem se baseia na fermentação lática espontânea que se instala num ambiente anaeróbio, em que os principais agentes fermentadores são as bactérias láticas que metabolizam os açúcares, prevalecendo a produção de ácido lático. Desse modo, a manutenção da anaerobiose e a queda do pH constituem os fatores que são responsáveis pela preservação da forragem que está sendo estocada (DRIEHUIS et al., 1999; PAHLOW et al., 2003), pois os microrganismos capazes de deteriorar a silagem são inibidos pelo efeito sinérgico dos ácidos produzidos durante a fermentação, pela pressão osmótica elevada (determinada pela correta concentração de matéria seca na colheita) e pela ausência de oxigênio (WOOLFORD, 1990). Quanto aos fatores ligados à acidificação da massa, estes são obtidos quando ocorre predominantemente fermentação homolática (DRIEHUIS et al., 1999) e podem ser alcançados com facilidade, por exemplo, na cultura de milho devido às características positivas ligadas a ensilabilidade (alta concentração de carboidratos solúveis, baixo poder tamponante e umidade) que esta espécie possui (ALLEN et al., 2003). O contato da massa com o oxigênio é um pouco mais complexo e se torna inevitável durante algumas fases que compreendem o processo de ensilagem (abastecimento do silo, armazenagem e remoção). Segundo Sprague (1974), citado por WOOLFORD (1990) e PAHLOW et al. (2003), em um silo bem fechado o O2 presente na massa é consumido rapidamente pelo processo de respiração celular e pela microbiota (microrganismos aeróbios facultativos), pois em 15 minutos cerca de 90% do oxigênio é removido e menos de 0,5% permanece após 30 minutos. Pelo fato do silo não ser um ambiente hermético, durante a estocagem o ar penetra no seu interior (MUCK et al., 2003), principalmente no topo e nas zonas laterais em contato com a parede (BOLSEN et al., 1993), sendo que este problema pode se agravar, sobretudo durante o fornecimento da silagem aos animais (HONIG, 1991). A presença de O2 desencadeia a proliferação de microrganismos oportunistas presentes na massa (leveduras, fungos e bactérias aeróbias) que se desenvolvem a cargo de substâncias energéticas presentes na forragem, levando ao consumo desses nutrientes, o que acarreta perdas no valor nutritivo da silagem e redução do consumo pelos animais (LINDGREN et al., 1985). No Brasil, a inobservância dos processos de oxidação de nutrientes pelos microrganismos aeróbios e a conseqüente deterioração da silagem tem tido pouca importância na prática por se tratar na maioria das vezes de um problema assintomático. A impossibilidade de mensurar as perdas totais por manejo inadequado que ocorre nas propriedades rurais e a dificuldade de as determinarem quantitativa e qualitativamente através de trabalhos experimentais, resultam em falta do estimulo à percepção e à divulgação de resultados para a economia de produção (BERNARDES et al., 2005). Dificilmente os produtores acreditam em perdas elevadas pelo problema de oxidação da massa, pois só consideram aquelas que são visíveis (com presença de fungos), o que subestima as reais perdas envolvidas na ensilagem (SIQUEIRA et al., 2005). Os estudos com deterioração aeróbia intensificaram-se nas décadas de 60 e 70, quando surgiram as pesquisas sobre utilização de aditivos (ácido fórmico, acético e propiônico), procurando controlar o crescimento de leveduras e de fungos (OHYAMA et al., 1975; WOOLFORD, 1975). O alvo dos trabalhos até o momento sobre deterioração aeróbia continua sendo a inclusão de ácidos durante a ensilagem (MILLS & KUNG, 2002) doses de amônia e uréia (HILL & LEAVER, 2002), emurchecimento e/ou adição de inoculante microbiano (CASTRO et al., 2006), aditivos absorventes e disponibilizadores de substrato (BERNARDES et al., 2003), bem como métodos de alteração da fermentação com a utilização de bactérias heteroláticas produtoras (HIGGINBOTHAM et al., 1998; DRIEHUIS et al., 2001). de acetato e/ou propionato Apesar de antigo e muito estudado, o problema instabilidade aeróbia de silagens tem sido freqüentemente relegado a segundo plano. Várias causas podem estar relacionadas a este fato, pois poucos são os trabalhos, como os de RUPPEL et al. (1995) e KUZIN & SAVOIE (2001) que estudaram a importância dos fatores inerentes ao manejo, como: compactação, tempo de enchimento do silo e peso de compactação sobre as perdas após a abertura, e mais raros os que caracterizam o efeito da silagem deteriorada e de seus produtos (aminas biogênicas, micotoxinas) sobre a ingestão e metabolismo dos animais, como os trabalhos de BOLSEN et al. (2002) e TABACCO & BORREANI (2002a). O assunto deterioração aeróbia não se limita as questões relacionadas com as perdas, porque o desenvolvimento de microrganismos, como algumas espécies de bactérias (Bacillus, Clostridium e Listeria) e alguns fungos filamentosos podem influenciar nos aspectos ligados a sanidade da silagem (LINDGREN et al., 2002). A multiplicação de clostrideos pode reduzir a qualidade do leite e de determinados tipos de queijo. O crescimento de fungos pode vir acompanhado pela produção de micotoxinas na massa. Dessa forma, os animais que são alimentados com grandes proporções de silagem na ração (vacas leiteiras) podem intoxicar-se, causando efeitos indiretos ao homem, ao longo da cadeia alimentar (WHITLOW & HAGLER Jr., 1997). Por estas razões, se faz necessário colocar em ação todas as tecnologias para reduzir a penetração de O2 no silo, evitando seus efeitos deletérios, seja durante a armazenagem ou durante o consumo da silagem. Os objetivos dos trabalhos subseqüentes foram de avaliar técnicas, como o uso de aditivos direcionados ao controle de microrganismos aeróbios, bem como a utilização de filme plástico de baixa permeabilidade ao oxigênio no controle da deterioração aeróbia durante a armazenagem e na remoção da silagem. 2. Revisão de literatura 2.1 Fatores que influenciam na deterioração aeróbia O grau de anaerobiose alcançado após o fechamento do silo e a sustentação desta durante a utilização do mesmo determinam o êxito da silagem confeccionada, revelando o O2 como o protagonista do processo de ensilagem (ASHBELL & LISKER, 1988; WOOLFORD, 1990; McDONALD et al., 1991). Segundo PITT (1990) a “vida útil” da silagem é determinada pela estabilidade em aerobiose da massa e esta é influenciada por diversos fatores que interagem entre si, envolvendo: a) temperatura ambiental; b) espécie forrageira; c) conteúdo de umidade da cultura; d) concentração de O2 e CO2; e) população de microrganismos aeróbios; f) concentração de ácidos orgânicos. Ao longo desta revisão será discutido cada tópico, de uma forma direta ou indireta, procurando compreender as causas e os efeitos da instabilidade aeróbia de silagens. 2.2 Penetração de ar Os efeitos danosos do ar na qualidade da silagem são manifestados por dois caminhos (SAVOIE & JOFRIET, 2003). O primeiro ocorre na camada superficial durante a armazenagem, freqüentemente visível pelo crescimento de fungos. O segundo está ligado à estabilidade aeróbia durante o período de remoção e fornecimento da silagem, usualmente manifestado pelo aquecimento da massa. A troca de gases durante o período de estocagem é fundamentada, segundo o modelo de McGECHAN & WILLIAMS (1994), por dois efeitos físicos: o fluxo volumétrico e a difusão. O fluxo volumétrico é dependente dos gradientes de pressão, sendo que estes são influenciados principalmente pelo movimento de CO2 (principal gás produzido na fermentação) entre o silo e o ar (HONIG, 1991). Após o término da fermentação, a concentração interna de CO2 é de 90%, muito superior à externa (McGECHAN & WILLIAMS, 1994). Se o silo apresenta algum ponto de escape, ocorre saída de CO2, o qual é substituído por O2 e N2 (ASHBELL & LISKER, 1988). A intensidade do fluxo é dependente dos gradientes de temperatura, presença de fendas na parede do silo, do filme plástico utilizado na vedação e da porosidade da silagem (WEINBERG & ASHBELL, 2003). 2.2.1 A Porosidade da silagem e a penetração de ar Quanto mais a massa é porosa, mais facilmente o ar poderá penetrar no seu interior, portanto, a redução da porosidade é a prerrogativa principal para conter a deterioração aeróbia. RUPPEL et al. (1995) observaram que as perdas durante a estocagem são inversamente proporcionais aos valores de densidade. Quanto mais matéria seca (MS) é estocada dentro de um mesmo volume, menores serão os custos fixos de armazenagem por unidade de MS (MUCK et al., 2003; D’AMOURS & SAVOIE, 2004). A densidade, a permeabilidade e a porosidade são propriedades interrelacionadas, sendo dependentes do conteúdo de umidade (WILLIAMS, 1994), estrutura da forragem, espécie forrageira, estádio de maturidade e tamanho de partícula (HONIG, 1991). A redução de 20 kg de MS/m3 na densidade da silagem, segundo HONIG (1991), pode duplicar o fluxo de gás entre o silo e o ambiente. No silo, as zonas mais porosas estão localizadas nas camadas superficiais e laterais (Figura 1), principalmente pela dificuldade de compactação durante o abastecimento. Os valores de densidade, em silos do tipo trincheira, nas zonas periféricas são de 70-100 kg MS/m3 e nas zonas centrais variam de 230-240 kg MS/m3, segundo estudo de TABACCO & BORREANI (2002b). Região do silo com intensa troca gasosa entre o seu interior e o ambiente Figura 1 - Face de um silo tipo trincheira e a zona onde ocorre intensa troca gasosa D’AMOURS & SAVOIE (2004) avaliaram silos do tipo bunker e verificaram que a densidade da massa próxima à parede (média de 236,5 kg MS/m3) é inferior 7% quanto comparada com a região central do silo (média de 255,5 kg MS/m3), em função principalmente, da dificuldade que o operador tem em compactar próximo às laterais e a presença mais acentuada do trator no centro do silo. No estudo desenvolvido com silagem de capim-Elefante, RODRIGUES et al. (2002a) encontraram que na densidade de 600 kg/m3 os valores de digestibilidade in vitro foram superiores (média 40,5%) quando comparada à densidade de 400 kg/m3 (27,6%) em silos do tipo trincheira. De maneira geral, a densidade no silo pode ser afetada pela concentração de umidade da forragem, percentagem de grãos na massa, processamento ou não dos grãos, tamanho de partícula, habilidade dos operadores, altura da camada distribuída no silo durante o enchimento, peso do veículo e a pressão que este exerce, tempo de compactação e altura do silo (RUPPEL et al., 1995; HOLMES & MUCK, 1999; BOLSEN et al., 2000; MUCK & HOLMES, 2001; D’AMOURS & SAVOIE, 2004). Estes fatos indicam que a porosidade pode ser influenciada por diversos fatores, compreendendo desde a condução da cultura até a etapa de consumo da silagem. 2.2.2 A lona de cobertura e a penetração de ar A proteção da lona que veda o silo com terra, areia ou cascalho aumentam a adesão entre esta e a massa e diminuem a incidência de raios solares e as trocas gasosas com o ambiente. Porém, podem representar grande demanda de mão de obra, seja durante a confecção ou na retirada da silagem, principalmente quando o silo é extenso. Por estes motivos, quando materiais extras não são adicionados na cobertura, a lona passa a ter uma contribuição mais expressiva na etapa de vedação do silo, objetivando a redução da penetração de ar do ambiente externo para o interior. Em silos do tipo superfície, a presença da lona também se torna relevante, devido à falta de paredes laterais para proteção (SAVOIE & JOFRIET, 2003), e a demanda por filmes mais espessos (0,18 a 0,2 mm) acaba sendo superior, segundo o modelo proposto por SAVOIE (1988). Os filmes de polietileno utilizados na cobertura apresentam permeabilidade ao oxigênio, a qual tende a aumentar notavelmente com a elevação da temperatura ambiental (DEGANO, 1999). Isto significa que durante o período do verão as silagens podem se tornar mais propensas à deterioração aeróbia, devido ao aumento da permeabilidade das lonas, com o conseqüente movimento gasoso devido à diferença de temperatura e pressão. KUZIN & SAVOIE (2001) desenvolveram um modelo com o objetivo de estudar diferentes espessuras de filmes de polietileno e qual o impacto que os diversos níveis de permeabilidade ao oxigênio teria sobre as perdas da silagem. Considerando uma profundidade de 3 m ao longo do perfil, o filme com espessura entre 0,1-0,2 mm (comumente comercializado) promoveu menos de 2% de perdas de matéria orgânica após 7000 horas de armazenagem, enquanto que na espessura de 0,001 mm verificouse 10% de perdas, observando o mesmo tempo de estocagem (Figura 2). Segundo os autores, quando o período de estocagem for próximo de 125 dias pode-se utilizar filme com espessura de 0,1 mm e se o tempo for estendido para 300 dias a espessura deverá ser de 0,2 mm. Perdas de MO (%) 12 10 8 6 4 2 0 0,001 0,01 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 Espessura do filme (mm) t=500h t=1000h t=3000h t=5000h t=70000h Figura 2 – Perdas de matéria orgânica (MO) em função da espessura do filme e do tempo de estocagem Fonte: KUZIN & SAVOIE (2001) FORRISTAL et al. (1999) avaliaram em silos do tipo “big bale” (silos/fardos) a influência do número de estratos do filme plástico (2, 4 e 6) e da coloração deste (preto, branco, transparente, verde e verde claro) sobre as perdas e a composição do gás ao longo da armazenagem. A coloração não influenciou sobre os parâmetros estudados, porém, nos silos onde estavam presentes seis estratos houve maior recuperação de MS e crescimento inferior de fungos. Em relação aos gases, a concentração de CO2 foi reduzida e as concentrações O2 e N2 foram elevadas ao longo do tempo de estocagem nos 20 cm superficiais de cada silo (1,2 x 1,2 m) em todos os tratamentos estudados. SNELL et al. (2002) utilizaram silos experimentais (0,3 m3) para avaliar a influência de variações na coloração e na espessura do plástico sobre as condições de preservação e qualidade da silagem, sendo comparados cinco tipos de filmes plásticos: a) branco/0,09 mm, b) transparente/0,15 mm, c) branco/0,15 mm, d) preto/0,15 mm, e e) branco/0,2 mm. As características de fermentação da silagem não foram afetadas pelo tipo de filme. Houve diferença na temperatura da superfície externa dos plásticos, sendo que os plásticos preto e transparente tiveram valores superiores. Foi observada diferença de temperatura na camada de silagem próxima ao filme (0 a 20 cm), porém esta diferença de tempo foi insuficiente para influenciar as condições de desenvolvimento de microrganismos. A coloração do plástico apresenta efeito indireto, uma vez que a permeabilidade do gás é altamente dependente da temperatura do plástico (HONIG, 1991). Entretanto, no estudo realizado por SNELL et al. (2002) a variação na permeabilidade do plástico, devido às diferentes temperaturas de acordo com a cor do mesmo, não afetou a qualidade da silagem, mesmo na camada mais exposta do silo. Segundo as normas da American Society for Testing and Materials Standards (AMST D3985-81), com a elevação da temperatura de 23 a 50 oC a permeabilidade ao ar dos filmes plásticos aumentam de 3 a 5 vezes. Na escolha da lona é preferível optar pela cor branca, pois filmes de outras cores, especialmente os escuros, aumentam a permeabilidade ao O2 pela característica de absorver calor (TABACCO & BORREANI, 2002b). 2.2.3 O desabastecimento do silo e a penetração de ar Um grande número de fazendas tem produzido silagens de qualidade satisfatória devido aos cuidados tomados durante todo o processo de ensilagem (corte, colheita, picagem, compactação, vedação e uso de aditivos). No entanto, com freqüência significativa têm dimensionado erroneamente suas estruturas de armazenagem, devido ao aproveitamento de silos existentes na propriedade e/ou a construção destes, desvinculados da previsão da fatia diária a ser removida, em função do número de animais a serem alimentados, o que tem provocado perdas durante o fornecimento da silagem (EVANGELISTA et al., 2004; BERNARDES et al., 2005; BORREANI et al., 2005; SIQUEIRA et al., 2005). Após a quebra da vedação, a silagem da face frontal do silo que não é rapidamente removida permanece exposta ao O2. A partir do momento em que isto ocorre, o principal fator que determina a estabilidade da silagem (anaerobiose) é perdido e a massa se torna potencialmente instável (WEINBERG & ASHBELL, 2003). O ingresso do O2 na face do silo será influenciado pela densidade alcançada durante a fase de abastecimento (HONIG, 1991; PITT & MUCK, 1993; WEINBERG & ASHBELL, 2003). Portanto, nas regiões mais porosas da massa (áreas periféricas) os riscos de deterioração aeróbia aumentam (D’AMOURS & SAVOIE, 2004). Na remoção, a densidade poderá ser afetada principalmente pelo modo como a silagem é retirada (por exemplo: equipamento utilizado no corte), devido às perturbações que poderão ser provocadas na estrutura da massa remanescente (WEINBERG & ASHBELL, 2003), o que pode levar a maior susceptibilidade à penetração de O2. D’AMOURS & SAVOIE (2004), estudando a densidade de silagens de milho em silos bunker, avaliaram o painel em duas profundidades (0 a 18 cm e 18 a 36 cm) e verificaram que na camada mais profunda a silagem é 9% mais densa quando comparado com a camada de 0 a 18 cm. O processo de deterioração aeróbia é originado pela atividade de microrganismos aeróbios. Desse modo, as perdas durante o desabastecimento também serão influenciadas pela disponibilidade de nutrientes (assunto que será discutido no tópico 2.3), pela temperatura ambiental (ASHBELL et al., 2002) e pelo tempo de exposição da silagem ao O2 (WEINBERG & ASHBELL, 2003) e, segundo OHYAMA et al. (1975), estes três fatores são interdependentes. O quanto a face do silo é exposta se torna um ponto fundamental e, por este motivo, é indispensável assegurar uma velocidade de avanço do painel que possa reduzir o fenômeno de deterioração. Os estudos desenvolvidos com a composição do gás (CO2, O2 e N2) mostraram que a profundidade de penetração do ar é cerca de 1 m (HONIG, 1991). Se a progressão do painel for de 1 m/semana, toda a silagem estará exposta ao oxigênio por uma semana. Porém, os riscos de deterioração podem ser reduzidos drasticamente se o avanço for de 2 m/semana (RUPPEL et al., 1995; HONIG et al., 1999; TABACCO & BORREANI, 2002a), principalmente quando as temperaturas ambientais estiverem mais elevadas (Figura 3) pelo favorecimento no desenvolvimento de microrganismos (PAHLOW et al., 2003). Verifica-se na Figura 3 que o painel das silagens apresentam avanço discreto (10 cm/dia), porém não se evidencia deterioração aeróbia. Segundo os autores, estas silagens apresentavam valores elevados de densidade (240 kg MS/m3) e sobre a lona de cobertura havia pesos extras pela presença de terra, areia ou cascalho, o que contribuiu para diminuir os efeitos negativos do O2 durante o desabastecimento do silo, sendo que o peso mínimo, para ser eficaz, deve ser de pelo menos 150 kg/m2 (TABACCO & BORREANI, 2002b). 30 Inverno 25 20 15 Avanço diário (cm) 10 5 0 30 25 Verão 20 15 10 5 0 Silos com deterioração aeróbia Silos sem deterioração aeróbia Figura 3 – Silagens de milho (silos trincheira) com e sem deterioração aeróbia evidente em relação ao avanço diário do painel durante a remoção nas estações de inverno e verão em 50 fazendas Fonte: BORREANI et al. (2005) 2.3 O paradoxo: Fermentação e estabilidade aeróbia Teoricamente, a rota fermentativa mais desejável durante a conservação da forragem na forma de silagem é a do tipo homolática (conversão de uma molécula de glicose em duas de ácido lático), pois não propicia perdas de MS ou de energia, o que pode resultar em maior consumo de silagem (McDONALD et al., 1991). Entretanto, o perfil de fermentação desejável nem sempre evita as perdas após a abertura dos silos, ou em alguns casos pode aumentá-las (KUNG et al., 2003). A alta concentração e a predominância de ácido lático em silagens, necessariamente não representa feito positivo na estabilidade aeróbia. Silagens adequadamente fermentadas, com altas concentrações de ácido lático e açúcares remanescentes, são mais afetadas pela deterioração aeróbia (WEINBERG & MUCK, 1996). Os fungos, as leveduras e algumas espécies de bactérias promovem a assimilação aeróbia de lactato da silagem, reduzindo o seu potencial de conservação (PAHLOW et al., 2003). Portanto, a estratégia de restringir a formação de ácido acético aumenta os riscos de silagens serem instáveis durante a aerobiose (NUSSIO et al., 2002). O conceito de que a concentração de acetato menor que 2% MS classifica a silagem como excelente, como proposto no trabalho de DULPHY & DEMARQUILLY (1981), não existe na atualidade. A habilidade em se estimar os riscos de deterioração aeróbia, de acordo com o perfil de fermentação, ainda é incerta. Porém, além de todos os cuidados relacionados com o manejo, a maior chance em obter sucesso na ensilagem está na premissa que as silagens devem conter ácido acético em associação ao ácido lático e isto será discutido no tópico a seguir. 2.4 Retrospectiva do uso de inoculantes para silagem 2.4.1 Inoculantes contendo bactérias homoláticas Os inoculantes bacterianos abrangem a classe de aditivos com mais rápido desenvolvimento e adoção em todo o mundo, devido principalmente à facilidade de manipulação, ausência de toxicidade para os mamíferos e grande disponibilidade no mercado. O princípio básico de atuação destes produtos é de incrementar a população de bactérias homofermentativas e que elas sejam capazes de competir com a microbiota epifítica existente na forragem, de maneira que se possa elevar a concentração de ácido lático (PAHLOW, 1991), conforme é ilustrado na Figura 4. Glicose Frutose Frutose-6-Fosfato 2 Gliceraldeído-3-Fosfato 2 Piruvato 2 Lactato Glicose (ou Frutose) + 2ADP + 2Pi = 2 Lactato + 2 ATP + H2O Figura – 4 Síntese da fermentação da glicose e da frutose pelas bactérias ácido láticas Fonte: Modificado de McDONALD et al. (1991) Um ponto fundamental, quando se utiliza um aditivo, é conhecer o quanto ele pode melhorar o processo fermentativo, o consumo voluntário, a digestibilidade, o desempenho animal e ser economicamente viável (HENDERSON, 1993). Infelizmente, são poucos trabalhos na literatura que abordam todos esses parâmetros; normalmente, os estudos se limitam somente aos aspectos ligados a análise química das silagens e, portanto, não permitem uma posição segura quanto a utilização destes em larga escala (KUNG et al., 2003). Na teoria, a utilização dos inoculantes bacterianos promove a elevação na eficiência fermentativa (relação superior ácido lático/acético), diminuindo a proteólise e a deaminação da proteína, com o uso mais adequado dos carboidratos solúveis e, conseqüentemente, maior retenção de nutrientes na silagem (KUNG et al., 2003). A maioria dos produtos comerciais são compostos pelas bactérias do gênero Pediococcus e Streptococcus, com atividade em pH entre 6,5 a 5 e espécies de Lactobacillus homofermentativas que são efetivas na produção de ácido lático em pH mais ácido (KUNG et al., 2003). MUCK & KUNG (1997) sumarizaram os resultados de estudos realizados com o uso de inoculantes contendo bactérias láticas entre os anos de 1990 a 1995 e verificaram que em 60% dos casos houve menor pH e maior fermentação lática; também em similar percentagem houve menor produção de amônia, mostrando melhor preservação da proteína. Em aproximadamente 30% dos casos houve aumento de cinco unidades percentuais na digestibilidade da matéria seca e, de 67 experimentos consultados, em 28% deles houve acréscimo no consumo. Com relação ao desempenho animal, em 53% dos casos houve aumento no ganho de peso e em 47% de elevação da produção de leite. Segundo KUNG et al. (2003), estes resultados devem ser analisados com cautela, porque algumas condições de estudo variam significativamente quanto à viabilidade do inoculante a cultura, espécie de bactéria e concentração de umidade da forragem. Ainda segundo os autores, numerosos estudos onde as respostas dos inoculantes são negativas, em geral, não são publicados. KUNG et al. (2003) relataram que a dose de aplicação também é relevante e deve ser de 105-106 bactérias por grama de forragem (PAHLOW, 1991; WEINBERG & MUCK, 1996) de modo que as bactérias exógenas possam dominar o processo fermentativo (Tabela 1). Tabela 1 – Efetividade do inoculante em função do número de unidade formadora de colônia (ufc) adicionada por grama de forragem Adição (ufc/g forragem) Efetividade (%) 100 (102) 15 3 1.000 (10 ) 25 10.000 (104) 45 100.000 (105)* 70 1.000.000 (106) 85 95 10.000.000 (107) * Concentração mínima recomendada Fonte: PITT & LEIBENSPERGER (1987) O desempenho superior dos animais que são alimentados com silagem inoculada ainda é uma causa desconhecida entre a comunidade científica. Alguns trabalhos indicam a hipótese que as bactérias presentes nos inoculantes possam propiciar um efeito probiótico ou também interagir com as bactérias ruminais (WEINBERG et al., 2003), melhorando a funcionalidade do rúmen e, conseqüentemente, o desempenho animal. Observa-se na Figura 5 que, quando são comparadas as respostas positivas dos inoculantes na fermentação e na produção animal, os resultados são inferiores para o desempenho animal. Acredita-se que a fase de transição entre estes dois parâmetros (deterioração aeróbia) esteja contribuindo negativamente. Dessa forma, os nutrientes que foram preservados ou produzidos durante a fermentação (ácido lático) pelas bactérias láticas são degradados quando o silo é mal manejado (WOOLFORD, 1990), indisponibilizando-os para os animais. RODRIGUES et al. (2001) encontraram maior disponibilidade de nutrientes e consumo de matéria seca quando ovinos foram alimentados com silagem de alfafa submetida à inclusão de BAL. Em outro estudo, este efeito positivo não foi observado quando os animais foram alimentados com silagem de milho, não havendo diferença significativa entre as silagens com e sem inóculo (RODRIGUES et al., 2002b). Com o objetivo de criar um balanço positivo entre fermentação, deterioração aeróbia e desempenho animal, algumas alternativas estão sendo estudadas e entre elas estaria o uso de aditivos, no qual a bactéria inoculada possa produzir ácido acético em associação com o ácido lático, com a função de controlar os microrganismos que se desenvolvem na presença de O2. Respostas positivas (%) 80 60 221 221 148 15 36 40 67 20 so de ho G an La ct a to /A ce pe ta to pH 0 Figura – 5 Percentagem de trabalhos publicados (1990 a 1995) em que os inoculantes bacterianos melhoraram a fermentação ou o desempenho animal O valor acima de cada barra indica o número de experimentos consultados Fonte: Modificado de MUCK & KUNG (1997) 2.4.2 Inoculantes contendo bactérias heteroláticas Até a metade da década de 90 o principal objetivo das indústrias era desenvolver tecnologias a base de bactérias homofermentativas. Entretanto, o meio científico iniciou pesquisas com uma cepa heterofermentativa (Lactobacillus buchneri), com o objetivo de empregar alternativas que controlam a deterioração aeróbia durante a exposição da silagem ao ar (DRIEHUIS et al., 1996; WEINBERG & MUCK, 1996). Segundo PAHLOW et al. (2003), as bactérias heteroláticas fermentam glicose, produzindo ácido lático e etanol, sendo que a frutose é fermentada a ácido lático, acético e manitol (Figura 6). Contudo, a espécie L. buchneri não possui a enzima acetaldeído desidrogenase, responsável pela redução de acetaldeído a etanol. Desse modo, a produção de etanol é praticamente nula (OUDE ELFERINK et al., 2001) e, conseqüentemente, ocorre aumento na concentração de ácido acético como produto final de sua fermentação (McDONALD et al., 1991), conforme exposto na Figura 7. A fermentação heterolática pode ser considerada desvantajosa, devido a possibilidade de maiores perdas de matéria seca durante o processo fermentativo (McDONALD et al., 1991) e também porque elevadas concentrações de acetato na massa ensilada poderia reduzir o consumo voluntário por parte dos animais (CHARMLEY, 2001). Entretanto, onde a penetração de ar no silo não pode ser controlada adequadamente (áreas marginais) e na redução da produção de etanol, como ocorre em silagens de cana-de-açúcar (NUSSIO et al., 2003), algum incremento no controle de perdas pode ser obtido utilizando este microrganismo. O acetato é considerado um ácido pouco eficiente, quanto a função em reduzir o pH da silagem. No entanto, a sua ação ocorre sobre o metabolismo de leveduras e fungos filamentosos (MOON, 1983). Segundo DAVIDSON (1997), este ácido em pH inferior ao seu pKa (4,73) permanece na forma não dissociada, onde a membrana dos microrganismos se torna permeável a ele, ocorrendo a entrada do ácido na célula via transporte passivo. Dentro da célula, o ácido é dissociado (RCOO- + H+) devido ao pH ser próximo de 7,0, liberando íons H+, o que reduz o pH intracelular. Para manter uma acidez constante, o microrganismo deve eliminar os íons H+, perdendo energia neste processo, retardando o seu crescimento e podendo chegar a morte da célula (Figura 8). Glicose Frutose Glicose-6-Fosfato Frutose-6-Fosfato Manitol Xilulose-5-Fosfato Gliceraldeído-3-Fosfato Acetil Fosfato Piruvato Acetil-CoA Lactato Acetaldeído Acetato Acetaldeído desidrogenase Etanol Glicose + ADP + 2Pi = Lactato + Etanol + CO2 + 2ATP + H2O 3 Frutose + 2ADP + 2Pi = Lactato + Acetato + 2 Manitol + CO2 + 2ATP + H2O Glicose + 2 Frutose + 2ADP + 2Pi = Lactato + Acetato + 2 Manitol + CO2 + 2ATP + H2O Figura – 6 Síntese da fermentação da glicose e da frutose pelas bactérias heterofermentativas Fonte: Modificado de McDONALD et al. (1991) Glicose Frutose Glicose-6-Fosfato Frutose-6-Fosfato Manitol Xilulose-5-Fosfato Gliceraldeído-3-Fosfato Acetil Fosfato Piruvato Acetil-CoA Lactato Acetaldeído Acetato [ ] Acetaldeído desidrogenase Etanol Figura – 7 Caminho proposto na fermentação do Lactobacillus buchneri em condições de anaerobiose Fonte: Modificado de McDONALD et al. (1991) RCOO- + H+ Exterior pH=4,0 RCOOH RCOOH IN RCOO- + H+ Intracelular pH=7,0 ATP ADP + Pi ATPase H+ Figura 8 – Destino do ácido orgânico em ambiente de baixo pH e na presença da célula microbiana Fonte: Modificado de DAVIDSON (1997) DRIEHUIS et al. (1999) verificaram que a presença de L. buchneri em silagens de milho (92 dias de fermentação) reduziu a concentração de ácido lático e a de ácido acético foi elevada conforme a população da bactéria aumentou. Segundo OUDE ELFERERINK et al. (2001), o L. buchneri consegue degradar o ácido lático em condições de anaerobiose, transformando-o em ácido acético, 1,2 propanodiol e traços de etanol. Além desta observação, DRIEHUIS et al. (1999) verificaram elevadas concentrações de 1-propanol e ácido propiônico (236 e 106 mmol/kg MS, respectivamente) quando a silagem de milho foi inoculada com L. buchneri (1x106 ufc/g forragem). No entanto, estes metabólitos não foram observados quando o L. buchneri foi isolado em experimentos in vitro, sugerindo que o metabolismo destes produtos é de responsabilidade de outros microrganismos. Desse modo, KROONEMAN et al. (2002), utilizando técnicas envolvendo biotecnologia aliado a um meio de cultura contendo 1,2propanodiol como substrato, provaram que a cepa Lactobacillus diolivorans sp. nov. possui a capacidade de degradar 1,2-propanodiol a 1-propanol e ácido propiônico, conforme a equação a seguir: 1,2-propanodiol 0,53 1-propanol + 0,45 ácido propiônico O ácido propiônico em combinação com o ácido acético apresenta efeito sinergístico capaz de reduzir o crescimento de leveduras e fungos (MOON, 1983), elevando a estabilidade aeróbia da silagem. RANJIT & KUNG (2000), estudando a deterioração aeróbia em silagem de milho e utilizando o L. buchneri (1x106 ufc/g forragem) como um dos tratamentos, observaram aumento de 3,6% na concentração de ácido acético em comparação com a silagem não tratada. As populações de leveduras foram de 106 e 102 ufc/g de silagem, no tratamento sem e com inóculo, respectivamente. Em relação ao aumento da temperatura da massa, a estabilidade aeróbia foi de 26,5 h para o tratamento controle e mais de 900 h para o tratamento com L. buchneri. Com o objetivo de pesquisar o desempenho de ovinos alimentados com silagem de milho tratada com L. buchneri (4x105 ufc/g forragem), RANJIT et al. (2002) verificaram que os tratamentos (tratado e não tratado) não apresentaram diferença entre si sobre o consumo voluntário, porém, os animais apresentaram ganho médio diário superior quando foram alimentados com silagem inoculada. Segundo os autores, a silagem de milho sem inóculo apresentou estabilidade aeróbia inferior ao tratamento com inoculante, o que poderia explicar os resultados obtidos. 2.5 Microrganismos envolvidos com a deterioração aeróbia 2.5.1 As leveduras Os fungos, em particular as leveduras, são os microrganismos responsáveis pelo início da deterioração aeróbia em silagens (WOOLFORD, 1990; PAHLOW et al., 2003), embora as bactérias ácido acéticas (SPOELSTRA et al., 1988) e outros microrganismos (LINDGREN et al., 1985; BERNARDES et al., 2003) possam determinar a deterioração inicial. As leveduras envolvidas com a deterioração aeróbia podem ser classificadas em dois grupos: as espécies que utilizam ácidos orgânicos (Cândida, Endomycopsis, Hansenula e Pichia) e as que consomem açúcares, como as espécies que pertencem ao gênero Torulopsis (JONSSON & PAHLOW, 1984). Segundo McDONALD et al. (1991) as leveduras são capazes de se desenvolverem em baixas concentrações de oxigênio e em ambientes com pH muito ácido (pH < 4,0), ocorrendo a sucessão de populações ao longo das etapas de ensilagem. O número de leveduras na silagem, segundo Beck (1963) citado por WOOLFORD (1990), pode variar de < 102 a 1012 ufc/g MS em menos de três dias. Após o fechamento do silo, as leveduras competem com os outros microrganismos por substratos fermentescíveis e, durante as primeiras semanas de ensilagem, a população pode chegar a 107 ufc/g, ocorrendo um decréscimo gradual durante as etapas subseqüentes de armazenagem (JONSSON & PAHLOW, 1984), sendo que a sobrevivência das leveduras na estocagem depende do grau de anaerobiose, do pH e da concentração de ácidos orgânicos. As áreas do silo mais próximas à atmosfera são, por natureza, mais sujeitas a infiltração de ar, freqüentemente devido a maior porosidade da massa e aos materiais utilizados na cobertura. Desse modo, a multiplicação das leveduras pode continuar lentamente durante todo o período de estocagem e chegar ao momento de abertura do silo com carga em torno ou superior a milhões de ufc por grama de silagem (BORREANI et al., 2002). McDONALD et al. (1991) relataram que a aeração da massa na ensilagem, devido ao tempo prolongado em contato com o O2, promove a multiplicação das leveduras, o que eleva à susceptibilidade da silagem em sofrer deterioração após a abertura do silo. Em silagens de milho, quando a massa entra em contato com o ar durante o desabastecimento do silo, populações de leveduras superiores a 105 ufc/g podem quebrar a estabilidade em poucas horas (KUNG et al., 1998; BORREANI et al., 2002; MUCK, 2004). 2.5.2 Os fungos e as micotoxinas Os fungos filamentosos podem ser considerados coadjuvantes na deterioração aeróbia de silagens, pois, durante o desabastecimento do silo, o desenvolvimento deles acontece em sucessão ao crescimento das leveduras (McDONALD et al., 1991). Contudo, a deterioração aeróbia dos alimentos de uso zootécnico causado por fungos filamentosos determina perda de elementos nutritivos e de energia, além do risco de contaminação com micotoxina (LINDGREN et al., 2002). A presença destas substâncias prejudica não somente os animais que ingerem alimento contaminado com conseqüentes perdas econômicas, mas também o homem. Isto se dá pelo efeito residual ao longo da cadeia alimentar, isto é, transferindo as micotoxinas ingeridas pelo animal aos alimentos (carne e leite) destinados à alimentação humana (OLDENBURG, 1991). Segundo JOBIM & GONÇALVES (2003), entre os ruminantes as vacas leiteiras são altamente expostas à ação de micotoxinas devido à dependência de volumosos conservados como feno ou silagem. Assim sendo, é possível que no Brasil os prejuízos na bovinocultura, em razão da ingestão de alimentos contaminados, geralmente não identificados, representem um entrave para atingir-se alta produtividade no setor. Um grande número de espécies tem sido isolado de silagens deterioradas, incluindo membros do gênero Monascus, Geotrichum, Bissochlamys, Mucor, Monilia, Aspergillus, Penicillum e Fusarium (McDONALD et al., 1991). Entretanto, os deuteromicetos representados pelos gêneros Fusarium (brancos/róseos), Aspergillus (amarelo/verde) e Penicillium (azul/verde) são considerados os mais importantes produtores de micotoxinas dos alimentos para os humanos e para os animais (OLDENBURG, 1991; SEGLAR, 1997). As aflatoxinas representam a família mais estudada das micotoxinas e são produzidas pelas espécies Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, presentes geralmente no solo, nos tecidos vegetais em decomposição, nas forragens e em grãos armazenados. A zearalenona se acumula, sobretudo, nas folhas localizadas na base da planta e é produto das espécies Fusarium graminearum e Fusarium culmorum. Quando ocorre o desenvolvimento das espécies Fusarium moniliforme e Fusarium proliferatum, se verifica alta presença de fumosina B1 (WHITLOW & HAGLER, 1997). CAVALLARIN et al. (2004) realizaram o monitoramento em 20 fazendas localizadas no norte da Itália sobre a distribuição espacial de micotoxinas (zearalenona, aflatoxina B1 e fumosina B1) presentes em silagens de milho (Tabela 2). Nas zonas periféricas que estavam evidentemente deterioradas foram observados valores até 40 vezes superiores àqueles relacionados com a forragem que deu entrada no silo. Entretanto, nas zonas centrais e nas áreas não deterioradas os valores se mantiveram semelhantes à forragem original. Elevados conteúdos de zearalenona também foram observados nas áreas próximas àquelas com presença evidente de mofos, sendo que estas zonas apresentavam temperatura elevada, indicando forte atividade microbiológica naquele momento. Tabela 2 – Ocorrência de Zearalenona, aflatoxina B1 e fumosina B1 em silagens de milho, expresso em percentagem, em relação ao numero total de amostras (n=186) Zearalenona NDA 30-300 ppb >300 ppb Forragem 48 50 2 B Zona C 40 55 5 Zona TC 40 47 13 Aflatoxina B1 ND 0.6-4.0 ppb >4.0 ppb Forragem 21 79 0 Zona C 8 78 14 Zona T 5 87 8 Fumosina B1 ND 0.9-10 ppm >10 ppm Forragem 18 75 7 Zona C 12 84 4 Zona T 3 88 8 A ND = não detectado; BC = centro do silo; CT = topo do silo Fonte: CAVALLARIN et al. (2004) 2.5.3 Bactérias esporogênicas Os gêneros Clostridium e Bacillus são bactérias formadoras de esporos, o que as tornam indesejáveis nos sistemas de produção de alimentos (LINDGREN et al., 2002). A passagem dessas bactérias de um ambiente para o outro ocorre geralmente através dos esporos, forma de sobrevivência muito resistente ao oxigênio, ao calor, aos ácidos orgânicos e às enzimas digestivas (PAHLOW et al., 2003). A presença de Bacillus no leite cru está associado ao alto número de esporos nas fezes das vacas, pois os esporos podem passar da silagem para as fezes através do sistema digestivo dos ruminantes. A espécie Bacillus cereus é considerada uma das principais bactérias inimigas dos laticínios, pois os esporos crescem no leite pasteurizado, inclusive aqueles estocados a baixa temperatura (Te Giffel, 1997, citado por LINDGREN et al., 2002). 2.5.3.1 O ciclo dos esporos de Clostridium e os produtos lácteos Durante a colheita na ensilagem, a cultura é impregnada com partículas de solo e a contaminação com esporos de Clostridium na forragem se torna inevitável, sendo transportados para o silo (RAMMER, 1996; PAHLOW et al., 2003). Os clostrideos estão presentes em um número muito variável em cada tipo de solo e possuem função importante na degradação da matéria orgânica. Entretanto, o esterco é um ambiente adaptado a proliferação destas bactérias, o que pode elevar o número de clostrideos no solo quando o esterco é depositado como adubo (RAMMER, 1996), conforme demonstrado na Figura 9. As espécies do gênero Clostridium são bactérias estritamente anaeróbias e o seu desenvolvimento na silagem durante a fermentação está ligado a uma lenta e insuficiente acidificação (pH > 4,5), que é atribuída a uma excessiva aquosidade da forragem, a insuficiência de açúcares fermentescíveis e a uma considerável concentração de nitrogênio na planta (SPOELSTRA, 1983; PAHLOW et al., 2003). A espécie de clostrideo mais conhecida que se desenvolve principalmente durante a fase de fermentação é o Clostridium tyrobutyricum, amplamente estudada no passado e denominada o vilão do processo de ensilagem. Contudo, nas silagens com concentrações de MS acima de 30% e pH reduzido (silagem de milho) geralmente não se verificam condições que favorecem o crescimento durante a fermentação e a problemática de desenvolvimento de clostrideos se encontra nas áreas do alimento que estão sujeitas à deterioração aeróbia. Quando a silagem é exposta ao ambiente atmosférico, o oxigênio penetra na massa e então os microrganismos aeróbios consomem os ácidos que foram produzidos durante a fermentação. O consumo destes ácidos e a presença de oxigênio levam à formação de micro-nichos, onde os fatores que inibiam a multiplicação dos clostrideos são reduzidos ou ausentes e, nestas condições, é que os clostrideos podem se multiplicar (JONSSON et al., 1991; BORREANI et al., 2002; DRIEHUIS & Te GIFFEL, 2005). Silagem < 102 – 107 Cultura < 102 – 104 Vaca Solo < 102 – 105 Fezes < 102 – 108 Leite < 10-1 – 102 Esterco < 102 – 107 Figura 9 – Ciclo dos esporos de clostrideos em fazendas produtoras de leite Fonte: Modificado de PAHLOW et al. (2003) Os esporos que estão presentes na silagem, depois de ingeridos, passam pelo aparelho digestório dos animais e chegam até as fezes. Durante a ordenha, o leite que chega ao interior da mama é praticamente estéril, porém os microrganismos presentes no ambiente, inclusive nas fezes, contaminam o leite (Figura 9), onde o grau de contaminação está ligado diretamente com a carga microbiana de esporos de clostrideos nas fezes (LINDGREN et al., 2002). Quando o leite produzido é destinado à produção de queijos, o problema da contaminação se agrava (DEMARQUILLY, 1998), pois, uma vez presente na matériaprima, os esporos se mantêm vitais durante a caseificação, principalmente nos queijos que possuem prolongado período de cura (Grana Padano; Parmigiano Reggiano), sendo que nem o aquecimento promovido durante a produção é capaz de eliminá-los (BORREANI et al., 2002). Durante a fase de armazenagem dos queijos, os clostrideos podem encontrar novo ambiente favorável a sua multiplicação e representar um grave problema durante a fase de comercialização, pois ocorre um “inchaço”, pela produção de H2 e ácido butírico, alterando a textura e o odor do produto, diminuindo a qualidade e o tempo de prateleira (DRIEHUIS & Te GIFFEL, 2005). Segundo COLOMBARI et al. (2001), estes defeitos (inchaço) também podem ser provocados por outras cepas de clostrideos que são muito agressivas, como Clostridium butyricum, Clostridium bifermentans e Clostridium sporogenes, pois a hipótese é que tais cepas são selecionadas nas zonas periféricas do silo, sobretudo naquelas sujeitas a deterioração aeróbia devido à infiltração de ar (Figura 10), conforme foi demonstrado no trabalho de DEMARQUILLY (1998). BORREANI (1993), isolando clostrideos de silagens de milho sujeitas a deterioração aeróbia, observou cepas de Clostridium butyricum com elevada atividade a lactatodesidrogenase, enzima que permite às bactérias utilizarem o lactato como fonte de energia. Desse modo, como a silagem é caracterizada pela presença de ácido lático e anaerobiose, este ambiente se torna potencialmente mais perigoso do ponto de vista de seleção de cepas de clostrideos agressivas aos queijos. 10 cm 1 20 cm 20 cm 20 cm 2 5600 3 600 5 100 4 21400 1400 Figura 10 – Localização dos esporos de bactérias ácido butíricas (esporos/g de silagem) no interior do silo (cinco pontos diversos) Fonte: Modificado de DEMARQUILLY (1998) 3. Referências ALLEN, M.S.; COORS, J.G.; ROTH, G.W. Corn silage. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 547-608. ASHBELL, G.; LISKER, N. Aerobic deterioration in maize silage stored in a bunker silo under farm conditions in a subtropical climate. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 45, p. 307-315, 1988. ASHBELL, G.; WEINBERG, Z.G.; HEN, Y. et al. The effects of temperature on the aerobic stability of wheat and corn silages. Journal Industrial Microbiology & Biotechnology, v. 28, p. 261-263, 2002. BERNARDES, T.F.; SIQUEIRA, G.R.; REIS, R.A. Importância do planejamento na produção e uso da silagem. In: EVANGELISTA, A.R.; AMARAL, P.N.C.; PADOVANI, R.F.; TAVARES, V.B.; SALVADOR, F.M.; PERÓN, A.J. (Eds). Forragicultura e pastagens: Temas em evidência. 5 ed. Lavras: UFLA, 2005. p. 121-176. BERNARDES, T.F.; REIS, R.A.; SCHOCKEN-ITURRINO, R.P. et al. Dinâmica microbiológica e alterações químicas das silagens de capim-Marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) após a abertura dos silos. REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 40., 2003, Santa Maria. Anais... Santa Maria: Sociedade Brasileira de Zootecnia, [2003]. CD ROM. Forragicultura. BOLSEN, K.K.; DICKERSON, J.T.; BRENT, B.E. et al. Rate and extent of top spoilage in horizontal silos. Journal of Dairy Science, v. 76, p. 2940-2962, 1993. BOLSEN, K.K.; HUCK, G.L.; SIEFERS, M.K. et al. Silage Management: Five Key Factors. Manhattan: Kansas State University, 2000, 10 p. BOLSEN, K.K.; WHITLOCK, L.A.; URIARTE-ARCHUNDIA, M.E. Effect of surface spoilage on the nutritive value of maize silages diets. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 13th, 2002, Auchincruive. Proceedings... Auchincruive, 2002, p.75-77. BORREANI, G. Comparative evaluation of two methods for enumeration of Clostridium tyrobutyricum in maize silage. International Rapport, Lelystad, Netherlands, 1993, 31p. BORREANI, G.; TABACCO, E.; COLOMBARI, G. Influenza del deterioramento aeróbico degli insilati sulla qualità dei prodotti caseari. L’Informatore Agrario, v. 11, p. 58-61, 2002. BORREANI, G.; TABACCO, E.; BERNARDES, T.F. Come dimensionare corretamente una trincea. Professione Allevatore, v. 22, p.18-20, 2005. CASTRO, F.G.F.; NUSSIO, L.G.; HADDAD, C.M. et al. Perfil microbiológico, parâmetros físicos e estabilidade aeróbia de silagens de capim-tifton 85 (Cynodon sp.) confeccionadas com distintas concentrações de matéria seca e aplicação de aditivos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, p. 358-371, 2006. CAVALLARIN, L.; BORREANI, G.; TABACCO, E. Mycotoxin occurrence in farm maize silages in northern Italy. In: GENERAL MEETING OF THE EUROPEAN GRASSLAND FEDERATION, 20, 2004, Luzern, Switzerland. Proceedings... p. 1023-1025, 2004. CHARMLEY, E. Towards improved silage quality – A review. Canadian Journal of Animal Science, v. 81, p. 157-168, 2001. COLOMBARI, G.; BORREANI, G.; CROVETTO, G.M. Effect of ensiling alfalfa at low and dry matter on production of milk used to make Grana Cheese. Journal of Dairy Science, v. 84, p. 2494-2502, 2001. DAVIDSON, P.M. Chemical preservatives and natural antimicrobial compounds. In: DOYLE, M.P.; BEUCHAT, L.R.; MONTEVILLE, T.J. (Eds) Food Microbiology: Fundamentals and Frontiers. Washington: ASM Press, 1997, p. 520-556. D’AMOURS, L.; SAVOIE, P. Density profile of corn silage in bunker silos. In: Annual International Meeting Sponsored. Ontario: ASAE/CSAE. 2004, 14p. DEGANO, L. Improvement of silage quality by innovative covering system. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 12th, 1999, Uppsala. Proceedings... Uppsala, 1999, p. 296-297. DEMARQUILLY, C. Ensilage et contamination du lait par les spores butyriques. INRA Productions Animales, v. 11, p. 359-364, 1998. DRIEHUIS, F.; SPOELSTRA, S.F.; COLE, S.C.J. et al. Improving aerobic stability by inoculation with Lactobacillus buchneri. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 11th, 1996, Aberystwyth. Proceedings... Aberystwyth, 1996, p.106107. DRIEHUIS, F.; OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; SPOELSTRA, S.F. Anaerobic lactic acid degradation during ensilage of whole crop maize inoculated with Lactobacillus buchneri inhibits yeast growth and improves aerobic stability. Journal of Applied Microbiology, v.87, p. 583-594, 1999. DRIEHUIS, F.; OUDE ELFERINK, W.H.; VAN WIKSELAAR, P.G. Fermentation characteristics and aerobic stability of grass silage inoculant with Lactobacillus buchneri, with or without homofermentative lactic acid bacteria. Grass and Forage Science, v. 56, p. 330-343, 2001. DRIEHUIS, F.; Te GIFFEL, M.C. Butyric acid bactéria spores in whole crop maize silage. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 14th, 2005, Belfast. Proceedings... Belfast, 2005, p. 271. DULPHY, J.P.; DEMARQUILLY, C. Problèmes particuliers aux ensilages. In: DEMARQUILLY, C. (Ed). Prévision de la valeur nutritive des aliments des ruminants. Paris: INRA publications, 1981. p. 81-104. EVANGELISTA, A. R.; ABREU, J. G.; PEREIRA, R. C. Perdas na conservação de forragens. In: JOBIM, C.C.; CECATO, U.; DAMASCENO, J.C.; SANTOS, G.T. (Eds). Simpósio sobre produção e utilização de forragens conservadas. 2 ed. Maringá:UEM, 2004. p. 75-112. FORRISTAL, P.D.; O’KIELY, P.; LENEHAN, J.J. The influence of the number of layers of film cover and film colour on silage preservation, gas composition and mould growth on bilg bale silage. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 12th, 1999, Uppsala. Proceedings... Uppsala, 1999, p.305-306. HENDERSON, N. Additives silage. Animal Feed Science and Technology, v. 33, p. 35-56, 1993. HIGGINBOTHAM, G.E.; MÜELLER, S.C.; BOLSEN, K.K. et al. Effects of inoculants containing propionic acid bacteria on fermentation and aerobic stability of corn silage. Journal of Dairy Science, v. 81, p. 2185-2192, 1998. HILL, J.; LEAVER, J.D. Changes in chemical composition and nutritive value of urea treated whole crop wheat during exposure to air. Animal Feed Science and Technology, v.102, p.181-195, 2002. HOLMES, B.J.; MUCK, R.E. Factors affecting bunker silos densities. Madison: University of Wisconsin, 1999. 7p. HONIG, H. Reducing losses during storage and unloading of silage. In: PAHLOW, G; HONIG, H (Eds). Forage conservation towards 2000. 1.ed. Braunschweig: European Grassland Federation, 1991. p.116-128. JOBIM, C.C.; GONÇALVES, G.D. Microbiologia de forragens conservadas. In: REIS, R.A.; BERNARDES, T.F.; SIQUEIRA, G.R.; MOREIRA, A.L. Volumosos na produção de ruminantes: valor alimentício de forragens. 1 ed. Jaboticabal:Funep, p. 1-26, 2003. JONSSON, A. Growth of Clostridium tyrobutiricum during fermentation and aerobic deterioration of grass silage. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 54, p. 557-568, 1991. JONSSON, A.; PAHLOW, G. Systematic classification and biochemical characterisation of yeasts growing in grass silage inoculated with Lactobacillus cultures. Animal Research and Development, v. 20, p. 7–22, 1984. KUNG, L., Jr.; SHEPERD, A.C.; SMAGALA, A.M. et al. The effect of preservatives based on propionic acid on the fermentation and aerobic stability of corn silage and a total mixed ration. Journal of Dairy Science, v. 81, p. 1322-1330, 1998. KUNG, L., Jr.; STOKES, M.R.; LIN, C.J. Silage additives. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 305-360. KROONEMAN, J.; FABER, F.; ALDERKAMP, A.C. et al. Lactobacillus diolivorans sp. nov., a 1,2-propanediol-degrading bacterium isolated form aerobically stable maize silage. International Journal Systematic Evolutionary Microbiology, v. 52, p. 639646, 2002. KUZIN, V.; SAVOIE, P. Modeling air infiltration in bunker silos to optimize the cover. In: Annual International Meeting Sponsored. Sacramento: ASAE. 2001, 10p. LINDGREN, S.; PETTERSSON, K.; KASPERSON, A. et al. Microbial Dynamics during aerobic deterioration of silages. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 36, p. 765-774, 1985. LINDGREN, S.; OLDENBURG, E.; PAHLOW, G. Influence of microbes and their metabolites on feed and food quality. In: GENERAL MEETING OF THE EUROPEAN GRASSLAND FEDERATION. 19th, 2002, La Rochelle. Proceedings... La Rochelle, 2002, p.503-511. McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. Biochemistry of silage. 2.ed. Marlow: Chalcombe Publication, 1991. 340p. McGECHAN, M.B.; WILLIAMS, A.G. A model of air infiltration losses during silage storage. Journal of Agricultural Engineering Research, v.57, p.237–249, 1994. MILLS, J.A.; KUNG, L. Jr. The effect of delayed ensiling and application of a propionic acid-based additive on the fermentation of barley silage. Journal of Dairy Science, v. 85, p. 1969-1975, 2002. MOON, N.J. Inhibition of the growth of acid tolerant yeasts by acetate, lactate and propionate and their synergistic mixtures. Journal of Applied Bacteriology, v.55, p.453-460, 1983. MUCK, R.E.; KUNG, L., Jr. Effects of silage additives on ensiling. In: SILAGE: FIELD TO FEEDBUNK. NRAES-99, Herchey, 1997. Proceedings... Herchey:NRAES, 1997, p. 187-199. MUCK, R.E.; HOLMES, B.J. Density and losses in pressed bag silos. In: Annual International Meeting Sponsored. Sacramento: ASAE. 2001, 20p. MUCK, R.E.; MOSER, L.E.; PITT, R. E. Postharvest factors affectting ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 251-304. MUCK, R.E. Effects of corn silage inoculants on aerobic stability. Transactions of the ASAE, v.47, p.1011-1016, 2004. NUSSIO, L.G.; PAZIANI, S.F.; NUSSIO, C.M.B. Ensilagem de capins tropicais. In: BATISTA, A.M.V.; BARBOSA, S.B.P.; SANTOS, M.V.F.; FERREIRA, L.M.C. (Eds) Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 39 ed. Recife: SBZ, 2002. p. 60-99. NUSSIO, L.G.; SCHMIDT, P.; PEDROSO, A.F. Silagem de cana-de-açúcar In: EVANGEISTA, A.R.; REIS, S.T.; GOMIDE, E.M. (Ed.) Forragicultura e pastagens: Temas em evidência, 4 ed. Lavras: UFLA, 2003. p. 49-72. OHYAMA, Y; MASAKI, S.; HARA, S. Factors influencing aerobic deterioration of silages and changes in chemical composition after opening silos. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 26 p. 1137-1147, 1975. OLDENBURG, E. Mycotoxins in conserved forage. In: PAHLOW, G; HONIG, H. (Eds) Forage conservation towards 2000. 1.ed. Braunschweig: European Grassland Federayion, 1991. p.191-205. OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; KROONEMAN, J.; GOTTSCHAL, J.C. et al. Anaerobic conversion of lactic acid to acetic acid and 1,2-propanediol by Lactobacillus buchneri. Applied and Environmental Microbiology, v. 67, p. 125–132, 2001. PAHLOW, G. Role of microflora in forage conservation. In: PAHLOW, G; HONIG, H. (Eds) Forage conservation towards 2000. 1.ed. Braunschweig: European Grassland Federayion, 1991. p.26-36. PAHLOW, G; MUCK, R.E.; DRIEHUIS, F. et al. Microbiology of ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 31-94. PITT, R.E.; LEIBENSPERGER, R. Y. The effectiveness of silage inoculants: A Systems Approach. Agricultural Systems, v. 25, p. 27-49, 1987. PITT, R.E. Silage and hay preservation. Ithaca:Northeast Regional Agricultural Engineering Service, 1990. 53p. (NRAES-5). PITT, R.E.; MUCK, R.E. A diffusion model of aerobic deterioration at the exposed face of bunker silos. Journal of Agricultural Engineering Research, v. 55, p. 11-26, 1993. RAMMER, C. Manure in grass silage production. Effects on silage fermentation and its hygienic quality. Uppsala: Swedish University of Agricultural Sciences, 1996. 47p. (Doctoral Thesis) - Swedish University of Agricultural Sciences, 1996. RANJIT, N.K.; KUNG, L., Jr. The effect of Lactobacillus buchneri, Lactobacillus plantarum, or a chemical preservation on fermentation and aerobic stability of corn silage. Journal of Dairy Science, v. 83, p. 526-535, 2000. RANJIT, N.K.; TAYLOR, C.C.; KUNG, L. Jr. Effect of Lactobacillus buchneri 40788 on the fermentation, aerobic stability and nutritive value of maize silage. Grass and Forage Science, v. 57, p. 73-81, 2002. RODRIGUES, P.H.M.; ANDRADE, S.J.T.; ALMEIDA, F.L.S. et al. Inoculação microbiana da alfafa para ensilagem sobre a digestibilidade aparente em carneiros. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, p. 1925-1930, 2001. RODRIGUES, P.H.M.; PEDROSO, S.B.G.; MELOTTI, L. et al. Composição bromatológica e perfil fermentativo da silagem de capim-Elefante obtida em diferentes tipos de silos experimentais e no silo tipo trincheira. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, p. 2386-2392, 2002a. RODRIGUES, P.H.M.; ANDRADE, S.J.T.; RUZANTE, J.M. et al. Valor nutritivo da silagem de milho sob o efeito da inoculação de bactérias ácido-láticas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, p. 2380-2385, 2002b. RUPPEL, K.A.; PITT, R.E.; CHASE, L.E., et al. Bunker silo management and its relationship to forage preservation on dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 78, p. 141-1453,1995. SAVOIE, P. Optimization of plastic covers for stack silos. Journal of Agricultural Engineering Research, v. 41, p. 65-73, 1988. SAVOIE, P.; JOFRIET, J.C. Silage Storage. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 405-468. SEGLAR, B. Case studies that implicate silage mycotoxins as the cause of dairy herd problems. In: SILAGE: FIELD TO FEEDBUNK, Ithaca, 1997. Proceedings... Ithaca:NRAES, 1997. p. 242-254. SIQUEIRA, G.R.; BERNARDES, T.F.; REIS, R.A. Instabilidade aeróbia de silagens: Efeitos e possibilidades de prevenção. In: REIS, R.A.; SIQUEIRA, G.R.; BERTIPAGLIA, L.M.A. (Eds). Volumosos na produção de ruminantes. 2 ed. Jaboticabal: FUNEP, 2005. p. 25-60. SNELL, H.G.J; OBERNDORFER, C; KUTZ, A. A system for testing plastic film for bunker silage preservation – Design and preliminary findings. Journal of Agricultural Engeneering Research, v. 79, p. 37-45, 2000. SNELL, H.G.J; OBERNDORFER, C; LUCKE, W. et al. Effects of the colour and thickness of polyethylene film on ensiling conditions and silage quality of chopped maize, as investigated under ambient conditions and mini-silos. Grass and Forage Science, v. 57, p. 342-350, 2002. SPOELSTRA, S.F. Inhibition of clostridial growth by nitrate during the early phase of silage fermentation. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 34, p. 145152, 1983. SPOELSTRA, S.F.; COURTIN, M.G.; VAN BEERS, J.A.C. Acetic acid bacteria can initiate aerobic deterioration of maize silage. Journal of Agricultural Science, v.111, p.127–132, 1988. TABACCO, E.; BORREANI, G. Extent of aerobic deterioration in farm maize silage as affected by silo management. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 13th, 2002, Auchincruive. Proceedings... Auchincruive, 2002a, p.178-179. TABACCO, E.; BORREANI, G. Come contrastare il deterioramento aerobico negli insilati di mais. L’Informatore Agrário, v. 15, p. 105-111, 2002b. WEINBERG, Z.G.; MUCK, R.E. New trends and opportunities in the development and use of inoculants for silage. FEMS Microbiology Reviews, v.19, p.53-68, 1996. WEINBERG, Z.G.; ASHBELL, G. Engineering aspects of ensiling. Biochemical Engineering Journal, v. 13, p. 181-188, 2003. WEINBERG, Z.G.; MUCK, R.E.; WEIMER, P.J. The survival of silage inoculant lactic acid bacteria in rumen fluid. Journal Applied Microbiology, v. 94, p. 1066-1071, 2003. WHITLOW, L.W.; HAGLER Jr., W.N. Effects of mycotoxins on the animal: The producer’s perspective. In: SILAGE: FIELD TO FEEDBUNK, Ithaca, 1997. Proceedings… Ithaca: NRAES, 1997. p. 222-232. WILLIAMS, A.G. The permeability and porosity of grass silage as affected by dry matter. Journal of Agricultural Engeneering Research, v. 59, p. 133-140, 1994. WOOLFORD, M.K. Microbiological screening of food preservatives, cold sterilants and specific antimicrobial agents as potential silage additives. Journal of the Science of Food and Agricultural, v. 26, p. 229-237, 1975. WOOLFORD, M.K. The detrimental effects of air on silage. Journal of Applied Bacteriology, v. 68, p. 101-116, 1990. CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DA SILAGEM DE CAPIM-MARANDU TRATADO COM ADITIVO QUÍMICO E INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO E HETEROFERMENTATIVAS RESUMO – As silagens de gramíneas tropicais apresentam perdas acentuadas, o que exige a adoção de técnicas que modifiquem este quadro. Com o objetivo de avaliar as perdas em silagem de capim-Marandu submetida à aplicação de aditivo químico ou inoculantes foram desenvolvidos dois experimentos. O primeiro objetivou conhecer o perfil de fermentação (1, 5, 15 e 60 dias) e a estabilidade aeróbia das silagens conforme os seguintes tratamentos: 1) forragem não tratada (Controle); 2) tratada com Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; 3) tratada com L. buchneri e 4) tratada com 0,1% de benzoato de sódio. No segundo experimento foram utilizados nove novilhos castrados nelore (PV = 350 ± 38,9 kg), alocados em um quadrado latino 3x3, avaliando-se o consumo e a digestibilidade aparente das rações contendo 85,4% das seguintes silagens de capim-Marandu: 1) controle; 2) controle com L. plantarum, Pediococcus acidilactici + enzimas fibrolíticas (LPPA) e 3) controle com LPPA + L. buchneri. No experimento 1, as silagens apresentaram baixas recuperações de MS durante a fermentação (média de 86%) e os coeficientes de DVIVMS foram reduzidos de 65,5% no momento da ensilagem para 50,0% no sexagésimo dia após o fechamento dos silos. No estudo 2, o valor médio de consumo das rações foi de 5,7 kg MS/dia (1,6% PV) e a digestibilidade aparente média da MS foi de 51,6%, sem diferença entre as rações (P>0,05) relativo a estas variáveis. A silagem de capim-Marandu com concentração de MS próximo de 20% apresentou perdas acentuadas na fase fermentativa e foram estáveis em condições de aerobiose, sendo que o uso de aditivos não alterou as variáveis estudadas. A inoculação com bactérias não influenciou o consumo ou a digestibilidade aparente das rações contendo silagem de capimMarandu. Palavras-chave: consumo, deterioração aeróbia, efluente, inoculação, perdas 1. Introdução Os gêneros Panicum e Brachiaria, que por muito tempo tiveram como representantes o capim-Colonião e a Brachiaria decumbens, atualmente contam com cultivares mais produtivos. Com a melhoria das práticas agronômicas destas espécies forrageiras nas propriedades rurais, iniciou-se adoção generalizada de seu uso como pasto e na forma de silagem (NUSSIO et al., 2002; REIS et al., 2004). Além destes aspectos, EVANGELISTA et al. (2000) sugeriram que a técnica de produção de silagem de gramíneas do gênero Cynodon traz flexibilidade ao manejo do campo de produção de feno, pois a forragem pode ser conservada sob outra forma, se considerarmos que existe a necessidade de se contar com dias ensolarados durante a fenação. O desenvolvimento de equipamentos de maior capacidade operacional, destinado a cortar plantas de alto potencial de produção, também impulsionou a adoção de silagem de gramíneas tropicais (BALSALOBRE et al., 2001). Contudo, os conjuntos mecanizados têm produzido partículas de elevado tamanho durante o corte (200 mm), que aliado à alta concentração de fibra destas espécies, têm dificultado a compactação e reduzido a densidade destas silagens (BERNARDES et al., 2005a). Levantamentos no campo, realizados com silagens de gramíneas tropicais, revelaram situação pouco otimista, caracterizado por perdas acentuadas desde a colheita até seu fornecimento aos animais, resultando, em alguns casos, em elevação de custo de nutrientes a serem oferecidos aos ruminantes (IGARASI et al., 2003; NUSSIO, 2004). As perdas durante a fermentação podem estar ligadas às características inerentes a planta, pois as forrageiras de clima tropical apresentam baixa concentração de carboidratos solúveis (CHOs) e alta umidade no momento do corte (REIS et al., 2004), o que acarreta fermentações indesejáveis (ROOKE & HATFIELD, 2003). A utilização de inoculantes que contém bactérias homoláticas pode alterar este cenário, pois estas competem com os microrganismos existentes na microflora epifítica, aumentando a eficiência fermentativa, pela maior produção de ácido lático (KUNG et al., 2003). De fato, em países de clima tropical, respostas positivas e consistentes têm sido alcançadas com o uso de bactérias ácido láticas (BAL), quando as forragens são ensiladas com altas concentrações de CHOs, sugerindo que a limitação não é decorrente da população de bactérias, mas sim das reduzidas concentrações de CHOs, os quais limitam a atuação destas bactérias (SOLLENBERGER et al., 2004). As silagens resultantes de fermentação desejável, pela elevada concentração de lactato, em geral estão mais propensas à deterioração aeróbia após a abertura do silo, pois os microrganismos aeróbios consomem o ácido lático (WEINBERG et al., 1993). Neste contexto, o uso de bactérias com rota heterolática de fermentação, como o Lactobacillus buchneri tem sido avaliado e com resultados promissores no aumento da estabilidade aeróbia em silagens de azevém perene (DRIEHUIS et al., 2001), sorgo (FILYA, 2003), milho (RANJIT & KUNG, 2000), grãos úmidos de milho (REIS et al., 2005) e cana-de-açúcar (SIQUEIRA et al., 2004). O L. buchneri aumenta as concentrações de ácido acético durante a fermentação, onde o acetato promove efeito estabilizante na massa, controlando o crescimento de leveduras e fungos (MOON, 1983). Segundo DRIEHUIS et al. (2001), a aplicação conjunta de bactérias homofermentativas e L. buchneri na ensilagem pode acelerar a fermentação lática inicial e reduzir a susceptibilidade de deterioração por parte dos microrganismos aeróbios, embora as silagens de gramíneas tropicais contenham concentração razoável de acetato (ANDRADE & MELOTTI, 2003), sendo os efeitos positivos deste ácido na estabilidade aeróbia descritos por OHYAMA et al. (1975). NISHINO et al. (2003) ressaltaram que a fermentação pela bactéria L. buchneri produz ácido lático, ácido acético e 1,2 propanodiol, em que o acetato reduz a susceptibilidade das silagens à deterioração aeróbia e o 1,2 propanodiol, quando ingerido, é transformado em ácido propiônico pelas bactérias ruminais, o que levaria ao aumento do desempenho em animais ruminantes. Com a proposta de diminuir o número de microrganismos indesejáveis, seja na fermentação ou após a abertura do silo, agentes conservantes utilizados na indústria alimentícia vem sendo testados para o controle de qualidade de alimentos para os animais (PÖLÖNEN, 2000), como é o caso do benzoato de sódio. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a silagem de capim-Marandu submetida à aplicação de aditivo químico e inoculantes bacterianos, isolados ou associados, buscando criar um balanço positivo no controle de perdas ocorridas na fermentação e após a abertura do silo. 2. Material e Métodos 2.1 Experimento 1 – Perfil de fermentação e estabilidade aeróbia O experimento foi conduzido nas dependências da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, localizada no município de Jaboticabal, SP (21º 15' S e 48º 18' W). O capim-Marandu (Brachiaria brizantha (Hochst ex. A. Rich) Stapf cv. Marandu) foi colhido no dia 12 de dezembro de 2003, quando a forrageira apresentava 50 dias de crescimento vegetativo, utilizando-se colhedora marca Casale modelo CFC 2000. A forragem colhida (15 cm de altura) foi submetida aos seguintes tratamentos: 1) forragem não tratada (Controle); 2) forragem tratada com Lactobacillus plantarum cepa MA 18/5U e Propionibacterium cepa MS01 (LPPB); 3) forragem tratada com Lactobacillus buchneri cepa NCIMB 40788 (LB) e 4) forragem tratada com 0,1% de benzoato de sódio (BS). Os aditivos foram aplicados à forragem durante o enchimento dos silos, na forma de solução aquosa (água destilada), por meio de pulverizador manual, buscando-se distribuição uniforme na massa de forragem. O inoculante Propiolact (Lallemand S.A.) foi utilizado como fonte das bactérias L. plantarum e Propionibacterium (concentração de 1,5x105 bactérias/g de forragem). Na aplicação de L. buchneri (5x104 bactérias/g de forragem) foi utilizado o Lalsil Cana (Lallemand S. A.). Como silos experimentais, foram utilizados 48 baldes plásticos com capacidade de sete litros e meio. No fundo dos baldes foi colocado um quilo e meio de areia e duas telas finas de plástico (tipo sombrite) que funcionaram como dreno do efluente produzido durante a fermentação. Cada balde, após a ensilagem, recebeu tampa de plástico apropriada à vedação e adaptada com válvula do tipo Bunsen para escape dos gases, sendo pesados e armazenados em temperatura ambiente. A avaliação do perfil de fermentação foi realizada nos tempos 1, 5, 15 e 60 dias após o fechamento dos silos. Nos respectivos dias de abertura, os silos foram pesados para avaliar a perda de gás e, após a retirada da silagem, o conjunto balde mais areia foi pesado novamente para determinação da produção de efluente. Como análises químicas das silagens foram determinados as concentrações de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3) e digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca (DVIVMS), conforme SILVA & QUEIROZ (2002). As concentrações de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram avaliadas pelo método seqüencial segundo as técnicas descritas por ROBERTSON & VAN SOEST (1981) e os valores de pH conforme KUNG et al. (1984). A estabilidade aeróbia foi avaliada 60 dias após a vedação dos silos, onde os baldes foram abertos e todo seu conteúdo foi transferido para bandejas de plástico para posterior homogeneização. Após este procedimento, um quilo e meio de silagem foram colocados em caixas de isopor e transferidas para câmara climática à temperatura de 25 ± 1 oC. As temperaturas das silagens foram medidas duas vezes ao dia durante seis dias, com o uso de termômetro inserido a 10 cm, no centro da massa. A temperatura do ambiente foi controlada pelo termostato do aparelho refrigerador e também por meio de termômetros suspensos no ar. A estabilidade aeróbia foi calculada como o tempo observado para que a silagem apresentasse elevação de 2 o C em relação à temperatura ambiente após a abertura do silo (MORAN et al., 1996). Também como medida física, foi avaliada a recuperação de MS em aerobiose ao final de seis dias de exposição ao ambiente. Em um outro conjunto de caixas de isopor foi colocada a mesma quantidade de silagem (1,5 kg) que foi levada a câmara climática com o objetivo de determinar-se as alterações de pH, colhendo-se amostras com 0, 3 e 6 dias de aeração. O delineamento experimental utilizado na avaliação do perfil de fermentação e da estabilidade aeróbia foi o inteiramente casualizado, com três repetições, em esquema de parcelas subdivididas, sendo as parcelas os tratamentos e as subparcelas os tempos, de acordo com o seguinte modelo: Yijk = µ + Si + ε(a) + Tj + STij + ε(b) Onde: µ = média geral; Si = efeito de silagem (i = 1 a 4); Tj = efeito de tempo (j = 1 a 4); STij = interação silagem e tempo; ε = erro residual. Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as suas médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o PROC MIXED do programa SAS (2000). 2.2 Experimento 2 – Consumo e digestibilidade aparente O experimento foi conduzido no município paulista de Jaboticabal, a 21º 15' S e 48º 18' W. No dia 26 de março de 2004, procedeu-se a colheita do capim-Marandu (15 cm de altura), aos 58 dias de crescimento vegetativo, utilizando-se colhedora marca Casale modelo CFC 2000 e foram confeccionados três silos do tipo superfície com capacidade média de 13 toneladas: 1) Forragem não tratada (controle); 2) forragem tratada com Lactobacillus plantarum cepa MA 18/5U, Pediococcus acidilactici cepa MA 18/5M + celulase e hemicelulase (LPPA) e 3) forragem tratada com LPPA + Lactobacillus buchneri cepa NCIMB 40788 (LPPA + LB). Soluções aquosas contendo os respectivos inoculantes foram pulverizadas sobre a forragem, no momento da ensilagem, por meio de pulverizador costal. No momento da aplicação, a concentração de bactérias nos tratamentos LPPA e LPPA + LB foram de: L. plantarum 1x105/ g forragem, P. acidilactici 3x104/g e L. buchneri 5x104/g. As enzimas celulase e hemicelulase (1%) e as bactérias Lactobacillus plantarum e Pediococcus acidilactici são encontradas no inoculante comercial Lalsil PS (Lallemand S.A.) e a bactéria Lactobacillus buchneri no produto Lalsil Cana (Lallemand S.A.). A dosagem dos inoculantes foi realizada em função da quantidade de forragem contida em cada vagão forrageiro utilizado no transporte. A compactação da forragem foi realizada por uma pá carregadeira (peso = 11.000 kg) e os silos foram cobertos com filme plástico, de cor preta e espessura de 0,15 mm, e revestidos com terra sobre a lona e nas laterais, sendo que cada silo teve seu enchimento realizado em um dia. O experimento foi conduzido em três períodos de 17 dias, totalizando 51 dias, com início no dia 06/06 e final 27/07/04. Foram utilizados nove novilhos castrados da raça nelore com peso vivo médio de 350 ± 38,9 kg, alocados em três quadrados latinos 3 x 3. Durante o período de adaptação (cinco dias) e coleta de dados de consumo (seis dias), os animais foram mantidos em baias individuais, cobertas e providas de piso de concreto, bebedouros e cochos para fornecimento da ração. O período de coleta dos dados de digestibilidade (sete dias) foi realizado em gaiolas de metabolismo, mantidas em galpão coberto, providas de comedouro, bebedouro e bandejas para coleta total de fezes. Antes do início do experimento, os novilhos receberam controle de carrapatos e foram everminados. Como tratamentos, foram avaliadas três rações, que diferiram quanto ao tipo de silagem de capim-Marandu utilizada nas suas composições (Tabela 1). As dietas foram calculadas utilizando-se as equações do programa NRC – Gado de corte (1996), objetivando-se a maximização do uso de volumoso, com ganho médio diário de 0,2 kg para novilhos nelore em crescimento e pesando 350 kg. Tabela 1 – Composição química das silagens e das rações (experimento 2) Tratamentos - Silagem1 Tratamentos - Rações2 Variáveis Controle LPPA LPPA+LB Controle LPPA LPPA+LB MS (%) 29,8 32,1 29,7 34,1 35,2 34,8 MO (% MS) 87,6 89,9 90,1 92,3 93,1 92,9 Cinzas (% MS) 8,8 7,3 7,1 6,6 7,1 6,5 PB (% MS) 5,8 4,9 5,6 9,7 10,1 10,5 FDN (% MS) 79,5 79,3 78,8 74,3 74,9 75,1 FDA (% MS) 46,8 47,2 47,3 45,8 44,3 44,9 pH 4,6 4,5 4,4 N-NH3 (% N total) 4,6 3,6 3,2 1 Média de três amostras coletadas nas extremidades (início e fim) e no meio dos silos, antes da abertura utilizando-se um trado. LPPA = Lactobacillus plantarum, Pediococcus acidilactici + celulase e hemicelulase; LPPA+LB = LPPA + Lactobacillus buchneri. 2 Participação de ingredientes nas rações (% MS): silagem de capim = 84,52%; milho grão moído = 13,56%; uréia = 1,56%; premix mineral vitamínico = 0,37% A quantidade de ração oferecida aos animais durante o período de coleta foi ajustada para que houvesse 10% de sobras. Os animais foram alimentados uma vez ao dia (8:00 h) e água foi fornecida à vontade. Durante o período de coleta, as rações fornecidas e as sobras foram amostradas diariamente e acondicionadas em sacos plásticos formando amostra composta. As fezes foram colhidas diariamente pela manhã, em seguida pesadas, homogeneizadas e conservadas em freezer. Ao término de cada período de coleta, as amostras compostas de fezes e de alimentos sofreram secagem em estufa com circulação de ar a 55 ºC por 72 horas e, posteriormente, foram moídas até as partículas atingirem menos de um milímetro e armazenadas em potes plásticos. A partir das amostras secas e moídas foram determinadas as concentrações de matéria seca (MS) e cinzas, segundo os métodos descritos por SILVA & QUEIROZ (2002), e a concentração de fibra em detergente neutro (FDN) foi realizado segundo as técnicas descritas por ROBERTSON & VAN SOEST (1981). Durante o período em que os animais foram alimentados, o painel de cada silo foi avaliado com o objetivo de se estimar o grau de deterioração das silagens após a quebra da vedação, conforme PAZIANI et al. (2005). A partir do sétimo dia de aeração (quando o fenômeno foi detectado), antes de se iniciar o trato, a silagem que apresentava problemas visuais (aspecto deteriorado) e temperatura excessiva em relação ao restante do painel foi recolhida, pesada e descartada, o que permitiu avaliar as perdas do total removido diariamente dos silos. O delineamento utilizado foi o quadrado latino 3x3, com três animais, três períodos e três quadrados, de acordo com o seguinte modelo: Yijkl = µ + Qi + A(Q)j(i) + P(Q)k(i) + Rl + εijkl Onde: µ = média geral; Qi = efeito de quadrado (i = 1 a 3) ; A(Q)j(i) = efeito de animal dentro de quadrado (j = 1 a 9); P(Q)k(i) = efeito de período dentro de quadrado (k = 1 a 3); Sl = efeito de rações (l = 1 a 3) e εijkl = erro residual. Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as suas médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o PROC GLM do programa SAS (2000). 3. Resultados e Discussão 3.1 Experimento 1 - Perfil da fermentação e estabilidade aeróbia Os resultados referentes à composição química do capim-Marandu antes da ensilagem estão apresentados na Tabela 2. A gramínea apresentou alto conteúdo de umidade (média = 16,9% MS), podendo limitar a produção de silagem de qualidade satisfatória, devido ao risco de surgirem fermentações indesejáveis. Tabela 2 – Composição química da forragem tratada e não tratada antes da ensilagem (experimento 1) Tratamentos1 Variáveis Média EPM2 LB BS Controle LPPA MS (%) 17,1 16,9 17,0 16,8 16,9 0,13 Cinzas (% MS) 8,6 8,5 8,6 8,5 8,5 0,10 PB (% MS) 6,8 6,7 5,8 6,3 6,4 0,20 FDN (% MS) 73,3 73,4 73,5 73,7 73,6 0,33 FDA (% MS) 50,5 52,0 52,9 51,5 51,7 0,54 Celulose (% MS) 43,9 45,4 46,2 45 45,1 0,54 Hemicelulose 22,8 21,9 20,6 22,2 21,9 0,44 Lignina (% MS) 6,6 6,6 6,7 6,5 6,6 0,21 3 a bc c ab DVIVMS (%) 66,8 64,5 63,9 66,7 65,5 0,44 pH 5,8 5,9 5,9 5,8 5,9 0,35 1 LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) 2 EPM = Erro padrão da média 3 DVIVMS = Digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca a Letras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) MARI (2003), estudando o capim-Marandu para a produção de silagem aos 60 dias de crescimento, encontrou valor de 18,5% de MS. Verificou-se elevadas concentrações de carboidratos estruturais (FDN = 73,6%; FDA = 51,7%; lignina = 6,6%) e estes estão de acordo com a espécie e com o avançado estádio de crescimento da cultura no momento da ensilagem. REIS (2000), avaliando a composição bromatológica do capim-Marandu em função da idade de corte, detectou que aos 60 dias de crescimento vegetativo a planta apresentava 73,7% de FDN, 43,5% de FDA e 5,6% de lignina, valores próximos ao encontrado no presente trabalho. Os valores de DVIVMS foram diferentes estatisticamente (P<0,05), possivelmente pelo efeito de amostragem, pois a gramínea foi ensilada imediatamente após o corte, não sofrendo efeito da respiração. O valor médio encontrado foi de 65,5%, semelhante ao observado por MARI (2003), quando o capim-Marandu apresentava 60 dias de crescimento vegetativo durante o verão (63,7%). As características das silagens durante a fermentação estão apresentadas na Tabela 3. As concentrações de MS das silagens durante o processo fermentativo não apresentaram alteração, com valor médio de 18,0%, um ponto percentual acima ao da forragem que lhes deram origem. As concentrações de FDN e FDA apresentaram ligeira redução até o qüinquagésimo dia de fermentação, em todas as silagens estudadas, possivelmente pelo efeito da hidrólise ácida e enzimática da hemicelulose, pois durante a fase inicial de ensilagem, enzimas das células vegetais e dos microrganismos envolvidos na fermentação são capazes de romper a estrutura celular, quebrando as ligações químicas dos carboidratos estruturais, principalmente da hemicelulose (WINTERS et al., 1987; CHAMBERLAIN, 1987). Do qüinquagésimo ao sexagésimo dia houve elevação das concentrações de FDN e FDA. Tal fato pode ser explicado pela redução de conteúdo celular, obtendo-se assim, elevação proporcional dos constituintes da parede celular, uma vez que essas análises são determinadas por método gravimétrico. No sexagésimo dia, as concentrações de PB apresentaram queda (P<0,05) em relação aos dias antecedentes e as concentrações de N-NH3 (Tabela 3) tiveram comportamento inverso. Possivelmente, houve atuação de microrganismos oportunistas (Enterobactérias e/ou Clostridium), o que provocou fermentações indesejáveis nas silagens estudadas. Os valores de N-NH3 são considerados aceitáveis, com destaque para o tratamento BS que apresentou a menor concentração (5,1%), 60 dias após a vedação dos silos. SILVA (2002) verificou a mesma tendência nas silagens de capimTanzânia, observando aumento linear na produção de amônia ao longo do processo fermentativo. BERNARDES et al. (2005b) constataram instabilidade da população de clostrideos em silagens de capim-Marandu durante a fermentação, com elevação do número destas bactérias após o vigésimo oitavo dia de ensilagem. Os clostrideos podem ser inibidos durante os primeiros dias de ensilagem pela queda do pH. Entretanto, podem retomar o crescimento, pelo tamponamento do meio ao longo da fermentação, pelos compostos produzidos. Os valores de pH nas silagens estudadas (Tabela 3 e Figura 1) após um dia de fermentação foram reduzidos de 5,9 para 4,7, mantendo-se estáveis até o qüinquagésimo dia (média = 4,6), e apresentando elevação (P<0,05) no sexagésimo dia (média = 5,1), o que poderia comprovar a presença de bactérias do gênero Clostridium, levando ao consumo de ácido lático, pois, segundo PAHLOW et al. (2003), as espécies sacarolíticas (Clostridium tyrobotyricum) assimilam este ácido como fonte de energia. Segundo DRIEHUIS et al. (1999), o L. buchneri durante a fermentação pode consumir lactato, transformando-o em acetato, fato este que levaria a elevação do pH no tratamento LB. A expectativa que a silagem LPPB apresentasse valor de pH inferior aos demais tratamentos, pela presença de bactéria homofermentativa, não foi comprovada. Possivelmente, as características inerentes à forragem (concentração de umidade e de CHOs) não foram favoráveis ao desenvolvimento destas. COAN et al. (2005) estudaram o efeito da inoculação L. plantarum, Enterococcus faecium e Pediococcus (1,5x105 bactérias/ g forragem) em silagens de capim-Tanzânia e Mombaça em duas idades de corte (45 e 60 dias), onde a presença do inóculo não alterou os valores de pH, concentração de ácido lático e de N-NH3 nos tratamentos avaliados. As perdas por gases ao longo do processo fermentativo até o qüinquagésimo dia apresentou ligeira elevação (P<0,05) e foram semelhantes nas silagens avaliadas (Tabela 3). Substancial elevação na produção de gás foi observada aos 60 dias após a ensilagem (P<0,05), com valor máximo correspondente à silagem LB. A produção de CO2 devido à rota heterolática de fermentação apresentada pelo L. buchneri pode explicar tais resultados. A elevação das perdas nas demais silagens no sexagésimo dia pode ser devido à presença de fermentações secundárias, uma vez que foi observado aumento dos valores de pH e N-NH3. A produção de efluente foi superior na silagem controle durante toda a fermentação, apresentando média final de 68,5 kg/t MV, seguido pelo tratamento LB com valor médio de 59,5 kg/t MV (Tabela 4). MARI (2003) encontrou valor de 39,6 kg/ t MV em silagens de capim-Marandu com 19,5% MS, no entanto, a comparação de resultados para este tipo de variável se torna difícil, pois além das concentrações de MS da planta, a pressão de compactação exercida no momento da ensilagem e o grau de picagem da forragem são fatores relevantes. A silagem BS alcançou a maior recuperação de MS (P<0,05) 60 dias após o fechamento dos silos (Tabela 3). O menor valor de pH, de N-NH3 e de gás também foram observados nesta silagem o que repercutiu favoravelmente para este dado. As silagens controle e LB apresentaram as menores recuperações, devido às perdas superior de gases e efluente. Tabela 3 – Características das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico (experimento 1) Efeitos e 1 Variáveis Tratamentos (A) Dias após o fechamento (B) EPM3 Interações (P<)2 Cont LPPB LB BS 1 5 15 60 A B AxB b a a a MS (%) 17,8 18,2 18,0 18,3 17,8 18,0 18,1 18,0 * ns ns 0,10 FDN (% MS) 72,0 72,5 73,1 71,9 72,7b 71,4c 71,0c 74,2a ns ** ** 0,37 FDA (% MS) 47,0 46,5 49,1 46,7 48,1a 46,1b 44,7c 50,5a ns ** ns 0,90 PB (% MS) 5,7b 6,2a 6,2a 6,2a 6,6a 6,4a 6,3a 5,0b ** ** * 0,09 a a ab b c bc b a 3,6 3,2 2,4 1,4 1,8 2,3 7,3 ** ** * 0,24 N-NH3 (% N total) 3,6 pH 4,7 4,7 4,8 4,7 4,7b 4,6b 4,6b 5,1a ns ** ** 0,02 Gases (% MS) 2,9 2,9 3,6 2,5 0,7c 1,6bc 2,7b 7,0a ns ** ** 0,32 a c b b c b a 26,3 47,5 76,6 82,5a ** ** ns 2,61 Efluente (kg/t MV) 68,5 48,2 59,5 56,6 RMS (%)4 89,1c 92,0b 90,9b 92,5a 92,9a 93,0a 93,0a 86,4b ** ** ns 0,53 DVIVMS (%)5 56,5 56,6 56,0 56,1 58,7ab 60,0a 56,3b 50,1c ns ** ns 0,57 1 Cont = controle; LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) 2 ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3 EPM = Erro padrão da média 4 RMS = Recuperação de matéria seca 5 DVIVMS = Digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca a Letras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes Os valores de DVIVMS (Tabela 3) sofreram queda de nove pontos percentuais ao longo do processo fermentativo (58,7% e 50,0%, primeiro e sexagésimo dias, respectivamente), principalmente do qüinquagésimo para o sexagésimo dia (P<0,05). Um fato que se torna relevante é a comparação dos valores de DVIVMS no momento da ensilagem (Tabela 2) e após 24 horas de fermentação, onde ocorreu redução de 65,5% para 58,7% (sete pontos percentuais). Contudo, a RMS nas silagens após um dia de fermentação foi baixa e estes valores podem ser explicados pela elevada produção de efluente nas silagens (26,3 g/kg MV – média do primeiro dia de ensilagem), pois este é constituído principalmente por conteúdo celular. Verifica-se que 31,5% do total de efluente foi produzido após 24 horas de fermentação, situação semelhante observada por LOURES (2000) verificando que 55% do efluente produzido durante a ensilagem ocorreu nos dois primeiros dias após o fechamento dos silos. 6,5 6,0 pH 5,5 5,0 aerobiose 4,5 4,0 0 1 5 15 60 3 6 Dias Controle LPPB LB BS Figura 1 – Variação temporal do pH, desde a ensilagem até o ultimo dia de exposição aeróbia, das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico (experimento 1) LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) Os resultados referentes à estabilidade aeróbia das silagens estão apresentados na Tabela 4. As concentrações de MS apresentaram elevação durante a exposição ao ar (P<0,05), devido a evaporação de água contida na massa de silagem para o ambiente, observando-se valor médio de 20,8%. Os valores de pH elevaram-se do primeiro para o terceiro de exposição aeróbia (P<0,05) mantendo-se estáveis após seis dias de aeração (Figura 1). Entre os tratamentos observou-se que as silagens inoculadas com L. plantarum apresentaram as maiores altas (P<0,05). Após a quebra da vedação os microrganismos aeróbios iniciam o seu crescimento e podem utilizar o ácido lático como fonte de energia, o que determina o aumento dos valores de pH quando as silagens são expostas ao ar (WEINBERG et al., 1993). Os valores de DVIVMS mantiveram-se estáveis por todo o período de aeração, com valores semelhantes as silagens quando os baldes foram abertos. As variações de temperatura durante os dias de exposição ao ar estão sumarizadas na Figura 2. As silagens em estudo podem ser consideradas estáveis de acordo com a metodologia adotada, não ultrapassando em 2 ºC a temperatura ambiente (25 ºC) durante os seis dias de aeração. BERNARDES et al. (2003) relataram que silagens de gramíneas tropicais com concentrações de MS abaixo de 30% são mais propensas à deterioração por bactérias (Bacillus e Enterobactérias), devido à estabilidade de fermentação em pH acima de 4,5, concentração de umidade e ausência de substrato para as leveduras, pois estas são sensíveis a fonte de nutrientes. O inverso ocorre com silagens de alta qualidade, como as de milho e de sorgo, que são deterioradas principalmente por fungos filamentosos e leveduras (MUCK, 2004), o que provoca elevação de temperatura (McDONALD et al., 1991). Segundo ÖSTLING & LINDGREN (1995), a presença de enterobactérias torna as silagens mais estáveis durante a aerobiose, pela produção de alguns compostos durante a fermentação, levando a inibição das leveduras durante a exposição ao O2. Tabela 4 – Características das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico durante a exposição ao ar (experimento 1) Efeitos e Tratamentos (A)1 Dias de exposição (B) 3 Variáveis Interações (P<)2 EPM BS 0 3 6 A B AxB Controle LPPB LB MS (%) 21,1 20,4 20,9 20,8 17,7a 23,5b 21,1b ns ** ns 1,28 b a b b c a b pH 5,2 5,4 5,1 5,1 5,1 5,3 5,2 * ** * 0,09 DVIVMS (%)4 49,1 49,7 51,8 51,4 50,9 50,0 50,1 ns ns ns 2,07 99,9 98,1 98,6 98,5 ns 0,86 RMS (%)5 1 LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) 2 ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3 EPM = Erro padrão da média 4 DVIVMS = Digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca 5 RMS = Recuperação de matéria seca – seis dias de exposição ao ambiente a Letras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes A análise conjunta dos dados (Tabela 4 e Figura 2) permite concluir que as silagens de capim-Marandu, com concentrações de MS próximos a 20%, são estáveis em condições de aerobiose, mesmo na presença de inoculante contendo bactéria homofermentativa. Os incrementos com outros ácidos (acético e benzóico), utilizados nos tratamentos LB e BS, com vistas a reduzir a susceptibilidade destas silagens à deterioração aeróbia não se faz necessário, devido às particularidades que esta espécie forrageira apresenta durante a fermentação, reduzindo a atividade de fungos e leveduras durante a aeração. ANDRADE & MELOTTI (2003) avaliaram as características fermentativas de silagem de capim-Elefante com 15% de MS e encontram concentração de ácido acético da ordem de 3,2%. Esta concentração de acetato é considerada elevada, pois é característico de silagem de milho inoculada com L. buchneri na concentração de 1 x 106 bactérias/g de forragem, como foi observado no trabalho de RANJIT & KUNG (2000). CAMARGO et al. (2004) estudaram a estabilidade aeróbia de silagem de capim-Marandu com diversas concentrações de umidade e encontraram que a silagem com concentração de MS reduzida (20,4%) foi mais estável, quando comparada com as demais silagens (35% de MS), verificando-se 13 e 6 dias, respectivamente, para que houvesse quebra da estabilidade. Temperatura (ºC) 29,0 28,0 27,0 26,0 25,0 24,0 23,0 1 2 3 4 5 6 Dias de exposição ao ar controle LPPB LB BS Figura 2 – Variação temporal da temperatura das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico durante a exposição ao ar (experimento 1) Temperatura da câmara climática Temperatura para romper a estabilidade aeróbia LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) As perdas de MS nas fases fermentativa e aeróbia estão apresentadas na Figura 3. Observou-se que o período onde se encontra a maior perda foi durante a fermentação, principalmente pela elevada concentração de umidade da planta, o que acarreta a lixiviação de nutrientes na forma de efluente e o desenvolvimento de microrganismos oportunistas, provocando fermentações indesejáveis. Conforme foi relatado anteriormente, quando as silagens de capim-Marandu são expostas ao ambiente, estas se apresentam pouco propensas à deterioração aeróbia. Os aditivos estudados não foram eficientes em reduzir as perdas, seja durante a fermentação ou quando as silagens estiveram presentes ao O2. Perdas (% MS) 20 18 16 14 12 a a a a 10 8 6 4 2 0 Controle LPPB fermentação LB aerobiose BS total Figura 3 – Perdas de matéria seca das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico, após 60 dias de fermentação e seis dias de exposição aeróbia (experimento1) LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) RMStotal = [(RMSfermentação x RMSaerobiose)/100] Letras iguais acima das barras não diferiram estatisticamente (P>0,05) Erro padrão da média = 1,14 3.2 Experimento 2 - Consumo e digestibilidade aparente As perdas por deterioração aeróbia das silagens, o consumo e a digestibilidade aparente das rações estão apresentados na Tabela 5. As rações não diferiram estatisticamente quanto ao consumo de MS (kg/dia e % PV), MO (kg/dia) e FDN (% PV). As quantidades médias de ração ingerida em kg MS e kg MO/dia foram de 5,7 e 4,6 kg, respectivamente, o que correspondeu a 1,6% do peso vivo (kg MS). Valores semelhantes foram encontrados por SILVA et al. (2005), onde avaliaram a ingestão de novilhos (peso vivo médio = 364 kg) sob diferentes proporções de concentrado na ração a base de silagem de capim-Marandu, e encontraram consumo de 5,3 e 4,9 (kg MS e kg MO/dia, respectivamente) na ração com 20% de concentrado e 80% de volumoso. PAZIANI (2004) avaliou a ingestão de rações contendo alta proporção de silagem de capim-Tanzânia (86,6% base MS) em novilhos nelore com peso vivo médio de 415 kg e encontrou consumo médio de 4,5 kg MS/dia (1,1% PV). Segundo a autora, esta ingestão ficou abaixo da média prevista pelo NRC (1996), o qual previu consumo de 8,6 kg/animal/dia, o que acarretou perda de peso dos animais durante o período experimental. No presente estudo, as previsões feitas com base nas equações do NRC (1996) também superestimou o consumo, porém houve ganhos marginais da ordem de 120 g/animal/dia. Assim como na variável consumo, a digestibilidade aparente da ração na silagem controle foi discretamente superior aos demais tratamentos, contudo, não foram diferentes estatisticamente (P>0,05). As digestibilidades médias da MS e da MO foram de 51,6 e 54,5%, respectivamente, valores comumente encontrados em rações contendo alta proporção de silagem de gramínea tropical. As perdas do total removido diariamente dos silos foram superiores nas silagens com presença de inóculo, principalmente na forragem tratada com LPPA+LB. A partir do sétimo dia de alimentação dos animais, os silos LPPA e LPPA+LB apresentaram sinais claros de aquecimento da massa, presença de fungos e elevação do pH. O avanço diário na massa (média de 18 cm) não foi suficiente para inibir que o fenômeno de deterioração aeróbia ocorresse, o que possivelmente determinou redução do consumo e digestibilidade destas silagens. Tabela 5 – Perdas por deterioração aeróbia, consumo e digestibilidade aparente das rações contendo silagens de capim-Marandu tratado com bactérias homo e heterofermentativas, isoladas ou associadas (experimento 2) Tratamentos1 Variáveis EPM2 LPPA+LB Controle LPPA Perdas (%)3 19,9 25,8 34,0 Consumo kg MS/dia 5,8 5,6 5,7 0,22 kg MO/dia 4,7 4,4 4,5 0,22 kg MS (% peso vivo) 1,6 1,6 1,6 0,04 kg FDN (% peso vivo) 1,2 1,2 1,2 0,03 Digestibilidade MS (%) 53,3 50,4 51,0 0,78 MO (%) 56,0 54,0 53,6 0,86 1 LPPA = Lactobacillus plantarum, Pediococcus acidilactici + celulase e hemicelulase; LPPA+LB = LPPA + Lactobacillus buchneri 2 Erro padrão da média 3 Perdas do total removido diariamente dos silos – média da avaliação de 44 dias A alta proporção de partículas com tamanho acima de 20 mm, a alta concentração de fibra e de MS da planta dificultaram a compactação da massa, resultando em densidade de 495 kg/m3. Além da porosidade da massa, a concentração de nutrientes é relevante na estabilidade aeróbia e as silagens LPPA e LPPA+LB podem ter se tornadas mais instáveis pela inoculação com bactérias homofermentantes, pois o lactato pode ser assimilado pelas leveduras oxidativas, como foi observado no trabalho de WEINBERG et al. (1993), embora alguns trabalhos, como o de MEESKE & BASSON (1998), não encontraram efeito negativo em silagens inoculadas com L. pantarum, L. bulgaricus e L. acidophilus, quando estas foram expostas ao ar. PAZIANI et al. (2005) avaliaram silagens de capim-Tanzânia com concentração de umidade original (24,5% MS), inoculada ou não, e silagens emurchecidas (27,7% de MS) e verificaram que as perdas por deterioração foram superiores no tratamento que sofreu emurchecimento (29,1%) e naquela que recebeu a aplicação de aditivo (22,5%), sendo que a silagem com umidade original e sem inoculante apresentou perda de 15,5%. 4. Conclusões O uso de benzoato de sódio e de bactérias homo e heterofermentativas não reduzem as perdas de matéria seca durante a fermentação e nem favorecem a estabilidade aeróbia das silagens de capim-Marandu com alta concentração de umidade. A inoculação com bactérias homo e heterofermentativas, isolada ou associada, não altera o consumo e a digestibilidade aparente nas rações contendo alta proporção de silagem de capim-Marandu. 5. Referências ANDRADE, S.J.T.; MELOTTI, L. Inoculantes bacterianos na ensilagem do capimelefante (Pennisetum purpurem, Schum). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.40, p.219-223, 2003. BALSALOBRE, M.A.A.; NUSSIO, L.G.; MARTHA Jr., G.B. Controle de perdas na produção de silagens de gramíneas tropicais. In: SIMAS, J.M.C.; NUSSIO, L.G. (Eds) REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA. 38 ed., 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba:SBZ, 2001, p. 890-911. BERNARDES, T.F.; REIS, R.A.; SCHOCKEN-ITURRINO, R.P. Dinâmica microbiológica e alterações químicas das silagens de capim-Marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) após a abertura dos silos. REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 40., 2003, Santa Maria. Anais... Santa Maria: Sociedade Brasileira de Zootecnia, [2003]. CD ROM. Forragicultura. BERNARDES, T.F.; AMARAL, R.C.; SIQUEIRA, G.R. et al. Effect of different densities on tropical grass silages. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 14th, 2005a, Belfast. Proceedings... Belfast, 2005a, p.256. BERNARDES, T.F.; REIS, R.A.; MOREIRA, A.L. Fermentative and microbiological profile of marandu grass ensiled with citrus pulp pellets. Scientia Agricola, v. 62, p. 214-220, 2005b. CAMARGO, M.S.; NUSSIO, L.G.; FLEURY, D. et al. Estabilidade aeróbia de silagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu submetida a diferentes técnicas de desidratação. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande. Anais... Campo Grande: Sociedade Brasileira de Zootecnia, [2004]. CD ROM. Forragicultura. CHAMBERLAIN, D. G. The silage fermentation in relation to the utilization of nutrients in the rumen. Process Biochemistry, v. 1, p. 60-63, 1987. COAN, R.M.; VIEIRA, P.F.; SILVEIRA, R.N. Inoculante enzimático-bacteriano, composição química e parâmetros fermentativos das silagens dos Tanzânia e mombaça. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, p. 416-424, 2005. DRIEHUIS, F.; OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; SPOELSTRA, S.F. Anaerobic lactic acid degradation during ensilage of whole crop maize inoculated with Lactobacillus buchneri inhibits yeast growth and improves aerobic stability. Journal of Applied Microbiology, v.87, p. 583-594, 1999. DRIEHUIS, F.; OUDE ELFERINK, W.H.; VAN WIKSELAAR, P.G. Fermentation characteristics and aerobic stability of grass silage inoculant with Lactobacillus buchneri, with or without homofermentative lactic acid bacteria. Grass and Forage Science, v. 56, p. 330-343, 2001. EVANGELISTA, A.R.; LIMA, J.A.; BERNARDES, T.F. Avaliação de algumas características da silagem de gramínea estrela roxa (Cynodon nlemfuensis). Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, p. 941-946, 2000. FILYA, I. The Effect of Lactobacillus buchneri and Lactobacillus plantarum on the fermentation, aerobic stability, and ruminal degradability of low dry matter corn and sorghum silages. Journal of Dairy Science, v. 86 p. 3575-3581, 2003. IGARASI, M.S.; NUSSIO, L.G.; BRUNO, E.J.M. Levantamento de índices técnicos associados à produção de silagens de gramíneas tropicais. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife. Anais... Recife: Sociedade Brasileira de Zootecnia, [2002]. CD ROM. Forragicultura. KUNG, L., Jr.; GRIEVE, D.B.; THOMAS, J.W. Added ammonia or microbial inoculant for fermentation and nitrogenous compounds of alfalfa ensiled at various percents of dry matter. Journal of Dairy Science, v.67, p.299-306, 1984. KUNG, L., Jr.; STOKES, M.R.; LIN, C.J. Silage additives. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H. Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 305-360. LOURES, D.R.S. Características do efluente e composição químico-bromatológica da silagem sob níveis de compactação e de umidade do capim-Elefante (Pennisetum purpureum Schum cv. Cameroon). Universidade Federal de Viçosa, 2000. 66p. (Dissertação de mestrado) - Universidade Federal de Viçosa, 2000. MARI, L.J. Intervalo entre cortes em capim-Marandu (Brachiaria brizantha (Hochst. Ex A. Rich.) Stapf cv. Marandu): Produção, valor nutritivo e perdas associadas à fermentação da silagem. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2003. 138p. (Dissertação de mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2003. MEESKE, R.; BASSON, H.M. The effect of a lactic acid bacterial inoculant on maize silage. Animal Feed Science and Technology, v. 70, p. 239-247, 1998. McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. Biochemistry of silage. 2.ed. Marlow: Chalcombe Publication, 1991. 340p. MOON, N.J. Inhibition of the growth of acid tolerant yeasts by acetate, lactate and propionate and their synergistic mixtures. Journal of Applied Bacteriology, v. 55, p. 453-460, 1983. MORAN, J.P.; WEINBERG, Z.G.; AHSBELL, G. et al. A comparison of two methods for the evaluation of the aerobic stability of whole crop wheat silage. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 11th, 1996, Aberystwyth. Proceedings... Aberystwyth, 1996, p.162-163. MUCK, R.E. Effects of corn silage inoculants on aerobic stability. Transactions of the ASAE, v.47, p.1011-1016, 2004. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of beef cattle. 7.ed. Washington, D.C.: National Academy of Science. 1996. 242p. NISHINO, N.; YOSHIDA, M.; SHIOTA, H. et al. Accumulation of 1,2 propanediol and enhancement of aerobic stability in whole crop maize silage inoculated with Lactobacillus buchneri. Journal of Applied Microbiology, v. 94, p. 800-807, 2003. NUSSIO, L.G.; PAZIANI, S.F.; NUSSIO, C.M.B. Ensilagem de capins tropicais. In: BATISTA, A.M.V.; BARBOSA, S.B.P.; SANTOS, M.V.F.; FERREIRA, L.M.C. (Eds) Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 39 ed. Recife: SBZ, 2002. p. 60-99. NUSSIO, L.G. Ensilagem de gramíneas tropicais: Desafio permanente. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2004. 235p. (Texto sistematizado - Livre Docência) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2004. OHYAMA, Y; MASAKI, S.; Hara, S. Factors influencing aerobic deterioration of silages and changes in chemical composition after opening silos. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 26 p. 1137-1147, 1975. ÖSTLING, C.; LINDGREN, S. Influences of enterobacteria on the fermentation and aerobic stability of grass silages. Grass and Forage Science, v. 50, p. 41-47, 1995. PAHLOW, G; MUCK, R.E.; DRIEHUIS, F. et al. Microbiology of ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 31-94. PAZIANI, S.F. Controle de perdas na ensilagem, desempenho e digestão de nutrientes em bovinos de corte alimentados com rações contendo silagens de capim-Tanzânia. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2004. 208p. (Tese de Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, 2004. PAZIANI, S.F.; NUSSIO, L.G.; LOURES, D.R.S. et al. Moisture control, inoculant and particle size in tropical grass silages. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 14th, 2005a, Belfast. Proceedings... Belfast, 2005, p.258. PÖLÖNEN, I. Preservation efficiency of formic acid and benzoic acid in the ensiling of slaughterhouse by-products and their subsequent metabolism in farmed fur animals. Helsink: Faculty of Agriculture and forestry of the University of Helsink, 2000. 63p. Academic dissertation – Faculty of Agriculture and forestry of the University of Helsink, 2000. RANJIT, N.K.; KUNG, Jr., L. The effect of Lactobacillus buchneri, Lactobacillus plantarum, or a chemical preservative on the fermentation and aerobic stability of corn silage. Journal of Dairy Science, v. 83, p. 526-535, 2000. REIS, S.T. Valor nutricional de gramíneas tropicais em diferentes idades de corte. Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2000. 99p. (Dissertação de Mestrado) Universidade Federal de Lavras, 2000. REIS, R.A.; BERNARDES, T.F.; SIQUEIRA, G.R. Tecnologia de produção e valor alimentício de silagens de capins tropicais In: JOBIM, C.C.; CECATO, U.; DAMASCENO, J.C.; SANTOS, G.T. (Eds). Simpósio sobre produção e utilização de forragens conservadas. 2 ed. Maringá:UEM, 2004. p. 87-126. REIS, R.A.; ALMEIDA, E.O.; SIQUEIRA, G.R. et al. Microbial changes and aerobic stability in high moisture maize silages inoculated with Lactobacillus buchneri. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 14th, 2005, Belfast. Proceedings... Belfast, 2005, p.223. ROBERTSON, J.B.; VAN SOEST, P.J. The detergent system of analysis and its application to human foods. In: JAMES, W.P.T.; THEANDER, O. (Eds). The Analysis of Dietary Fiber in Food New York: Marcel Dekker, 1981. p. 123–158. ROOKE, J.A.; HATFIELD, R.D. Biochemistry of ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 95-140. STATISTICAL ANALYSES SYSTEM - SAS. SAS/STAT. User’s Guide. Version 8. Cary: 2000. SILVA, C.L. Perfil de fermentação das silagens de capim-Tanzânia com aditivos. Universidade Federal de Lavras, 2002. 83p. (Dissertação de mestrado) - Universidade Federal de Lavras, 2000. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3.ed. Viçosa:UFV, 2002. 235p. SILVA, B.C.; PEREIRA, O.G.; PEREIRA, D.H. Consumo e digestibilidade aparente total dos nutrientes e ganho de peso de bovinos de corte alimentados com silagem de Brachiaria brizantha e concentrado em diferentes proporções. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, p. 1060-1069, 2005. SOLLENBERGER, L.E.; REIS, R.A.; NUSSIO, L.G. Conserved forage. In: MOSER; L.E.; BURSON, B.L.; SOLLENBERGER, L.E (Eds). Warm Season (C4) Grasses. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2004. p. 355-387. WEINBERG, Z.G.; ASHBELL, G.; HEN, Y. et al. The effect of applying lactic acid bacteria at ensiling on the aerobic stability of silages. Journal of Applied Bacteriology, v. 75, p. 512-518, 1993. WINTERS, A.L.; WHITTAKER, P.A.; WILSON, R.K. Microscopic and chemical changes during the first 22 days in Italian ryegrass and cocksfoot silages made in laboratory silos. Grass and Forage Science, v. 42, p. 191-196, 1987. CAPÍTULO 3 – INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO OU HETEROFERMENTATIVAS NA ENSILAGEM DE MILHO E DE SORGO GRANÍFERO RESUMO – As perdas no valor nutritivo durante a exposição das silagens ao ar se constitui num dos principais problemas. A presente pesquisa teve como objetivo determinar o efeito de inclusão de bactérias homo ou heterofermentativas teria sobre a estabilidade aeróbia em silagens de milho e de sorgo granífero, investigando os seguintes tratamentos: 1) Forragem não tratada (controle), Forragem tratada com Lactobacillus plantarum (LP) e Forragem tratada com Lactobacillus buchneri NCIMB 40788 (LB). Os inoculantes foram aplicados na concentração de 1x106 bactérias/g de forragem. Decorridos 90 e 93 dias de fermentação (milho e sorgo, respectivamente), as silagens foram submetidas à avaliação da deterioração aeróbia pelas alterações químicas, microbiológicas e de temperatura. Quando os silos foram abertos, os valores de pH foram superiores nas silagens com LB, que se derivou da menor concentração de ácido lático e maiores de ácido acético. As populações de fungos filamentosos e de leveduras foram maiores nas silagens sem inóculo e com LP. Durante a exposição das silagens ao ar houve crescimento da população de leveduras e de fungos, com elevação dos valores de pH, havendo quebra da estabilidade após 40 h na presença de O2, nas silagens controle e com LP. A temperatura nas silagens com LB manteve-se como a do ambiente durante as 222 h de aerobiose. A deterioração aeróbia acentuada nas silagens controle e com LP elevaram significativamente as perdas de MS. O L. buchneri quando aplicado à forragem manteve a estabilidade aeróbia em silagens de milho e de sorgo. Palavras-chave: estabilidade aeróbia, fungos, L. buchneri, L. plantarum, perdas 1. Introdução A silagem de milho é um dos volumosos conservados mais conhecido e utilizado em todo o mundo (WILKINS et al., 1999) e o interesse pela cultura do sorgo na confecção de silagem vem crescendo (BERENJI & DAHLBERG, 2004). Desse modo, acredita-se que elevadas quantidades de silagem estejam sendo perdidas e que a economia de produção esteja sofrendo conseqüências negativas pelos impactos da deterioração aeróbia destas silagens. Os efeitos deletérios do oxigênio ocorrem no abastecimento e durante o armazenamento pela permeabilidade das lonas, furos acidentais ou pelo fechamento inadequado, principalmente nas áreas marginais do silo (WEINBERG & ASHBELL, 2003). Entretanto, durante a remoção e fornecimento das silagens aos animais, o contato com O2 se torna inevitável. As leveduras assimiladoras de ácidos orgânicos consomem o ácido lático (LINDGREN et al., 1985), elevando o pH da silagem e aumentando os riscos no desenvolvimento de bactérias oportunistas (Bacillus; Clostridium; Listeria) e de fungos, depreciando o valor nutritivo e alterando a qualidade higiênica do volumoso (LINDGREN et al., 2002). As estratégias para conter a instabilidade aeróbia de silagens são antigas e a principal alternativa tem sido a adição de ácidos (acético, fórmico, benzóico e propiônico), por seu efeito antifúngico (WOOLFORD, 1975). No passado, a inclusão de ácidos em silagens era realizada em altas doses (10 a 20 g/kg) o que geralmente provocava a esterilização do alimento, prejudicando assim o processo fermentativo, além de ser corrosivo ao equipamento no qual era utilizado para a aplicação (KUNG et al., 2003). Atualmente, existem formas mais seguras e ecológicas no controle de microrganismos indesejáveis; a inclusão da bactéria Lactobacillus buchneri tem sido uma delas. O L. buchneri pode controlar o crescimento de leveduras e de fungos de maneira indireta, pela produção de ácido acético durante a fermentação (DRIEHUIS et al., 1999). No passado, homofermentativas os inoculantes (Lactobacillus continham plantarum), principalmente promovendo grande espécies número de resultados inconsistentes sobre a efetividade destas bactérias. Além deste fato, a presença de bactérias homofermentativas pode tornar a massa mais instável em decorrência de assimilação de ácido lático pelos microrganismos aeróbios (WEINBERG & MUCK, 1996). Nos Estados Unidos e na Europa, em função da adoção do L. buchneri por parte dos pecuaristas na ensilagem de milho, as empresas têm lançado seus produtos no mercado, promovendo diversas opções de cepas e diferentes concentrações da bactéria no momento da aplicação (KLEINSCHMIT et al., 2005). RANJIT et al. (2002), estudando a deterioração aeróbia em silagem de milho, avaliaram a cepa L. buchneri 40788 em quatro concentrações (1x105; 2,5x105; 5x105; 1x106/g forragem) e concluíram que as inoculações promoveram intensa fermentação heterolática, sendo eficaz para manter a estabilidade aeróbia da silagem a partir da concentração de 5x105/g forragem. O presente trabalho teve como objetivo, avaliar as características fermentativas e a estabilidade aeróbia das silagens de milho e de sorgo granífero inoculadas com Lactobacillus buchneri 40788 e Lactobacillus plantarum. 2. Material e Métodos 2.1 Localização, plantio das culturas e colheita No município de Sezzadio (44º 47' N e 08º 34' E), localizado na região norte da Itália, no início do mês de maio foi semeada a cultura de sorgo (Sorghum bicolor L. cv. Kalblanc), com uma densidade de 15 plantas/m2. A colheita da cultura foi realizada no dia 26/08/2005, quando os grãos apresentavam aspecto farináceo, utilizando-se colhedora automotriz, com o tamanho de corte regulado em 5 mm e o dispositivo para processar os grãos em 1,5 mm. A cultura de milho (Zea mays L.) foi conduzida numa fazenda no município de Frossasco (44º 56' N e 07º 21' E), região norte da Itália, onde a semeadura ocorreu na primeira quinzena do mês de março e a colheita no dia 29/08/2005, quando os grãos apresentavam linha do leite próxima de 50% (AFUAKWA & CROOKSTON, 1984), utilizando-se colhedora automotriz, com o tamanho de corte regulado em 14 mm e o dispositivo para processar os grãos em 1,5 mm. 2.2 Tratamentos, inoculação e silos experimentais No momento em que ocorria a colheita das forrageiras, foram coletados 300 kg de material e efetuados os seguintes tratamentos: 1) forragem não tratada (controle), 2) forragem tratada com Lactobacillus plantarum (LP) e 3) forragem tratada com Lactobacillus buchneri NCIMB 40788 (LB), na concentração de 1x106 bactérias/ g de forragem (LP e LB). A cepa de L. plantarum é encontrada no inoculante comercial Lactosil (CSL) e a de L. buchneri no produto Lalsil Fresh (Lallemand S.A.). Os inoculantes foram diluídos em água destilada e aplicados na taxa de 2 ml/kg de forragem, utilizando-se pulverizador manual. Como silos experimentais foram utilizados 24 baldes plásticos (12 baldes para cada forrageira) com capacidade de 20 litros (aproximadamente 18 kg de silagem) e foram armazenados em local fechado a temperatura ambiente. 2.3 Avaliação da estabilidade aeróbia Decorridos 90 e 93 dias após o fechamento dos silos, que se refere as silagens de milho e sorgo, respectivamente, os silos foram abertos e todo conteúdo foi retirado e homogeneizado. Cerca de três quilos de silagem foram colocados em sacos plásticos e acondicionados em caixas de isopor, que foram levadas a uma sala fechada à temperatura ambiente (20-23 ºC). As temperaturas das silagens foram monitoradas duas vezes ao dia (8:00 e 18:30 hs) durante nove dias, com o uso de termômetro inserido a 10 cm, no centro da massa. A temperatura do ambiente foi monitorada com o mesmo termômetro utilizado na medição da temperatura das silagens. A instabilidade aeróbia foi considerada como o somatório das diferenças térmicas durante nove dias de exposição ao ar, subtraindo a temperatura média das silagens e a do ambiente, conforme KEADY & O’KIELY (1996). As concentrações de matéria seca (MS) e os valores de pH foram determinados com zero, cinco, sete e nove dias de aeração das silagens. As concentrações de nitrato após zero, sete e nove dias, e a população de fungos filamentosos e de leveduras após zero, cinco e nove dias exposição ao ar. As caixas de isopor eram pesadas, efetuavase a homogeneização de todo o conteúdo, retirava-se as amostras (250 g) e então as caixas eram pesadas novamente. 2.4 Recuperação de matéria seca Determinou-se a recuperação de matéria seca (RMS), na fermentação e estabilidade aeróbia pela seguinte equação: ⎛ MFfxMSf ⎞ RMS = ⎜ ⎟ x100 ⎝ MFixMSi ⎠ Onde: RMS = recuperação de matéria seca (%); MFi = massa de forragem inicial (kg); MSi = concentração de matéria seca inicial (%); MFf = massa de forragem final (kg); MSf = concentração de matéria seca final (%). A RMS durante a estabilidade aeróbia foi determinada pelo seguinte cálculo: RMS(0-7 dia) = [(RMS(0-5 dia) x RMS(5-7 dia))/100] RMS(0-9 dia) = [(RMS(0-7 dia) x RMS(7-9 dia))/100] 2.5 Análises químicas e microbiológicas Na determinação das concentrações de MS, as amostras foram submetidas à secagem em estufa a 55 ºC, por 72 h. Na avaliação das características fermentativas e microbiológicas foram pesadas 30 g de amostras e 270 g de água destilada ou de H2SO4 0,1N, homogeneizadas durante 4 minutos mediante o aparelho Lab-Blender Stomacher 400 (Steward Laboratory, London) e posteriormente filtradas. As amostras diluídas em H2SO4 0,1N foram utilizadas na determinação das concentrações de ácido lático, acético e etanol, mediante HPLC (High Performance Liquid Chromatography) de acordo com CANALE et al. (1984). Os extratos diluídos em água destilada foram utilizados na determinação do pH, das concentrações de nitrato (NO3), conforme (SPOELSTRA, 1983), e do número de microrganismos. O meio de cultura utilizado na contagem de bactérias ácido láticas (BAL) foi o MRS agar (MERCK) adicionado de natamicina (0,25 g/L), sendo que as placas de Petri foram incubadas a 30 oC por três dias em anaerobiose, em jarra com sistema Gas-pak (SPOELSTRA et al., 1988). As placas contendo o meio de cultura YGC agar (Fluka) foram utilizadas na determinação da população de leveduras e de fungos filamentosos, após incubação de 48 e 120 horas, respectivamente. Os números de microrganismos presentes foram contados como unidade formadora de colônia (ufc) e expressas como logaritmo na base 10. 2.6 Delineamento experimental e análises estatísticas O delineamento experimental utilizado na avaliação da estabilidade aeróbia foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, em esquema de parcelas subdivididas, sendo as parcelas os tratamentos e as subparcelas os tempos, de acordo com o seguinte modelo: Yijk = µ + Si + ε(a) + Tj + STij + ε(b) Onde: µ = média geral; Si = efeito de silagem (i = 1 a 4); Tj = efeito de tempo (j = 1 a 4); STij = interação silagem e tempo; ε = erro residual. Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as suas médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o PROC MIXED do programa SAS (2000). 3. Resultados e Discussão 3.1 Composição química e características fermentativas Os valores das características químicas (MS, pH e NO3) e as contagens de leveduras e de fungos nas forragens se encontram na Tabela 1. A planta de sorgo apresentou concentração de MS elevado, devido ao avançado estádio de maturação dos grãos (farináceo), e não foi observada a presença de NO3. As populações de leveduras e de fungos foram semelhantes nas duas culturas, sendo representadas pela microflora epifítica da forragem. Tabela 1 – Características das forragens antes da ensilagem Variáveis Milho MS (%) 35,0 pH 5,4 Nitrato (% MS) 0,16 Leveduras (log ufc/g) 7,2 Fungos (log ufc/g) 6,3 ND = não determinado Sorgo 40,4 ND 7,1 5,2 As variáveis fermentativas e microbiológicas referentes às silagens de milho e de sorgo encontram-se na Tabela 2. As concentrações de acetato e os valores de pH foram superiores (P<0,05) e as concentrações de lactato inferiores, nas silagens de ambas as gramíneas em que se usou o LB na ensilagem. Segundo OUDE ELFERINK et al. (2001), o L. buchneri pode converter o ácido lático em acetato e 1,2 propanodiol, durante a anaerobiose. Desse modo, valor de pH mais elevado pode ser oriundo da degradação do ácido forte (lático) em compostos que não são efetivos na redução da acidez da massa. Quanto à concentração de acetato, tem sido encontrado diversos valores após o período fermentativo. Entretanto, as características são semelhantes em silagens resultantes da adição de LB durante a ensilagem quando estas são expostas ao ar. No presente estudo, as concentrações de acetato foram 2,9 e 1,9% nas silagens de milho e de sorgo, respectivamente. Contudo, no estudo desenvolvido por RANJIT & KUNG (2000), a concentração de acetato foi de 5,4% em silagem de milho com LB (1x106 bactérias/g), havendo a manutenção da estabilidade aeróbia das silagens nas duas pesquisas, com concentrações de ácido acético bastante distintos. Possivelmente, outros fatores estão interagindo para que a deterioração não ocorra, como foi demonstrado no trabalho de KROONEMAN et al. (2002); cujos autores mostraram que a bactéria Lactobacillus diolivorans sp. nov. possui a capacidade de degradar 1,2- propanodiol (produto da fermentação pelo LB) a 1-propanol e ácido propiônico, o que promove um efeito estabilizante na massa de silagem mais acentuado. As plantas de milho e de sorgo inoculadas com LB resultaram em silagens com baixas concentrações de etanol. As bactérias heteroláticas produzem álcool durante o processo fermentativo, porém o LB não possui a enzima acetaldeído desidrogenase, havendo, portanto, uma supressão na produção de etanol durante a fermentação. Segundo McDONALD et al. (1991), a ausência desta enzima direciona o metabolismo da bactéria para a produção de ácido acético e este cenário pode ser observado em diveros trabalhos, como os de RANJIT et al. (2002), NISHINO et al. (2003) e MUCK (2004). As concentrações de NO3 estão de acordo com as encontradas em silagem de milho que, segundo SPOELSTRA (1985), variam de 0,1 a 0,4%. O autor ainda ressalta que a presença de NO3 eleva o poder tamponante na planta, o que pode explicar o mais alto valor de pH em silagens com LB, onde se encontra concentração mais elevada de NO3. A população de BAL foi maior nos tratamentos que receberam inóculos (P<0,05), principalmente nas silagens com LB, evidenciando que houve crescimento e sobrevivência ao longo da fermentação. A contagem de fungos filamentosos foi baixa em todas as silagens estudadas (<2,0 log ufc/g). Houve menor número de leveduras na silagem com LB (P<0,05), relativamente às outras duas silagens, nas culturas de milho e de sorgo. Aparentemente, a concentração de ácido acético nas silagens inoculadas com L. buchneri retardou o desenvolvimento de leveduras, pois, como exposto por MOON (1993), este ácido apresenta propriedades antifúngicas. Tabela 2 – Características das silagens de milho e de sorgo com inoculantes bacterianos após 90 dias de fermentação Milho Sorgo Variáveis EPM3 EPM controle LP1 LB2 controle LP LB MS (%) 34,9 34,4 32,9 0,42 41,2a 38,7b 39,6a 0,46 b b a b b pH 3,6 3,6 3,7 0,03 3,8 3,8 4,0a 0,03 5,8 6,4 4,3 5,1 5,1 3,9 Ácido lático (% MS)4 4 Ácido acético (% MS) 1,1 1,1 2,9 1,0 1,0 1,9 Etanol (% MS)4 1,1 1,8 0,8 0,9 0,7 0,6 Nitrato (% MS) 0,09 0,11 0,13 0,01 BAL (log ufc/g) 4,5b 7,0a 8,5a 0,59 4,3b 5,4b 9,0a 0,76 a a b a a b Leveduras (log ufc/g) 5,1 4,9 <2,0 0,72 5,9 5,8 <2,0 0,79 Fungos (log ufc/g) <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 <2,0 RMS (%)5 95,6 95,3 93,2 0,75 97,6 95,5 101,4 1,31 1 LP = Lactobacillus plantarum 2 LB = Lactobacillus buchneri 3 EPM = Erro padrão da média 4 Média de duas repetições 5 BAL = Bactérias ácido lática 6 RMS = Recuperação de matéria seca a Letras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) A RMS foi variável nas duas culturas, pois o tratamento LB apresentou o menor valor na silagem de milho e recuperação positiva na silagem de sorgo. Segundo McDONALD et al. (1991), a fermentação heterolática promove maiores perdas de MS pela produção de gases (CO2 e H2), o que foi observado na silagem de milho tratada com LB, porém não houve efeito significativo entre os tratamentos. FILYA (2003), avaliando silagens de milho e de sorgo com LP, LB e LP+ LB, encontrou menor RMS onde houve inoculação com LB, resultado não verificado por RANJIT et al. (2002). 3.2 Estabilidade aeróbia A susceptibilidade à deterioração aeróbia das silagens de milho e de sorgo está representada na Figura 1. Após 40 horas de exposição ao ar iniciou-se a elevação da temperatura na massa, nas silagens controle e com LP. As temperaturas nas silagens com LB estiveram próximas à temperatura ambiental durante as 222 horas na presença de O2. RANJIT & KUNG (2000), estudando a deterioração aeróbia em silagem de milho, observaram quebra da estabilidade com 26,5 e 33,0 h na silagem controle e tratada com LP, respectivamente, e o tratamento que recebeu LB (1x106 bactérias/g) como inóculo obteve mais de 900 h de estabilidade. Concomitantemente ao rompimento da estabilidade aeróbia, ocorre elevação de temperatura na massa, que pode ser obervada na Figura 2. As silagens controle e inoculada com LP apresentaram, ao final de nove dias de exposição ao ar, acúmulo médio de 100 ºC, enquanto a silagem tratada com LB não apresentou aquecimento (P<0,05). A elevação da temperatura e sua manutenção ao longo do tempo são importantes indicadores de deterioração aeróbia, sendo reflexo do crescimento de leveduras e fungos filamentosos, como está representado nas Tabelas 3 e 4. O número de leveduras aumentou significativamente nos tratamentos controle e LP, tanto na silagem de milho, como na silagem de sorgo (P<0,05), durante o período em que se mantiveram expostas ao O2. O desenvolvimento destes micorganismos é acompanhado de alterações na composição química da silagem, o que promoveu a elevação dos valores de pH (silagens controle e com LP). 60 milho 45 Temperatura (ºC) 30 15 0 60 0 31 55 79 103 127 150 174 198 222 sorgo 45 30 15 0 0 31 55 79 103 127 150 174 198 222 Tempo (horas) controle LP LB ambiente Figura 1 – Variação da temperatura, durante a exposição ao ambiente, das silagens de plantas de milho e de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos milho 150 120 a a Temperatura acumulada (ºC) 90 60 30 b 0 150 controle LP sorgo a a 120 LB 90 60 30 b 0 controle LP LB Figura 2 – Temperatura acumulada das silagens de plantas de milho e de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos, após nove dias de exposição aeróbia LP = Lactobacillus plantarum ; LB = Lactobacillus buchneri; a Letras distintas acima das barras indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) Erro padrão da média – silagens de milho = 16,47 Erro padrão da média – silagens de sorgo = 14,99 Os microrganismos que iniciam o ataque ao lactato e são os maiores responsáveis pela deterioração aeróbia da silagem são as leveduras (LINDGREN et al., 1985; PAHLOW et al., 2003). No período compreendido entre o corte da forragem e poucas horas após o fechamento do silo, as leveduras são capazes de se multiplicarem até 10.000 ufc/g (PAHLOW et al., 2003). Entretanto, quando a massa entra em contato com o ar, a população pode ultrapassar 100.000 ufc/g, sendo capaz de minar a estabilidade aeróbia em poucas horas (BORREANI et al., 2002; MUCK, 2004), como pode ser observado na Figura 3. Segundo SPOELSTRA et al. (1988), os efeitos negativos pela presença de leveduras em silagem de milho foram notados desde a década de 70, no estudo desenvolvido por Daniel et al. (1970), em que a população de 105 leveduras/g tornava as silagens altamente propensas à deterioração. 35 Temperatura (ºC) 30 25 silagem de milho silagem de sorgo 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 Leveduras (log ufc/g) Figura 3 – Relação entre a temperatura das silagens e o número de leveduras presentes após cinco dias de exposição ao ambiente A concentração de NO3 manteve-se constante onde houve adição de LB, ao passo que nos demais tratamentos ocorreram desaparecimento deste composto durante a exposição das silagens ao ambiente (Tabela 3). Segundo SPOELSTRA (1983), o NO3 pode ser benéfico sob o aspecto de controle de clostrideos, pois estas bactérias são sensíveis à presença desta substância. Como as silagens inoculadas com LB não apresentam crescimento de leveduras e de fungos (microrganismos deterioradores), pela presença de ácido acético, a composição química não é alterada. Este fato se torna relevante, pois, além dos micorganismos aeróbios, as bactérias indesejáveis, como a do gênero Clostridium, podem retomar seu crescimento durante o fenômeno de deterioração aeróbia. BORREANI et al. (2002) e DRIEHUIS & Te GIFFEL (2005) relataram que a problemática de desenvolvimento de clostrideo em silagem de milho se encontra nas áreas do alimento que estão sujeitas à deterioração aeróbia e que a população elevada desta bactéria interfere na qualidade de produtos lácteos. Portanto, a inoculação com LB tem potenciais efeitos positivos, pois mantem a qualidade nutritiva e microbiológica da silagem. Segundo YILDIRIM & YILDIRIM (2001), o L. buchneri produz um composto denominado buchnericin LB, que possui efeito bacteriostático, principalmente sobre espécies de bactérias que estão envolvidas com a deterioração aeróbia e apresentam riscos à saúde humana e animal, como os microrganismos Listeria monocytogenes e Bacillus cereus. Tabela 3 – Características das silagens de plantas de milho tratadas com inoculantes bacterianos durante a exposição ao ar Efeitos e Tratamentos (A)1 Dias de exposição (B) 3 Variáveis Interações (P<)2 EPM controle LP LB 0 5 7 9 A B AxB MS (%) 35,1 34,7 33,9 34,1 35,3 34,3 34,5 ns ns ns 0,36 pH 5,8a 5,6a 3,8b 3,6c 4,9b 5,8a 6,0a ** ** ** 0,09 Nitrato (% MS) 0,03b 0,04b 0,11a 0,11a ND 0,04b 0,4b ** ** ** 0,01 Levedura (log ufc/g) 6,8a 6,7a 3,2b 3,4b 6,6a ND 6,7a ** ** * 0,28 b a a Fungos (log ufc/g) 2,2 3,2 <2,0 <2,0 3,3 ND 3,3 * ** * 0,70 RMS (%)4 79,3b 79,8b 100,3a * 3,76 1 LP = Lactobacillus plantarum; LB = Lactobacillus buchneri; 2 ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3 EPM = Erro padrão da média 4 RMS = Recuperação de matéria seca – nove dias de exposição ao ambiente a Letras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) ND = não determinado A forte deterioração aeróbia sofrida pela silagem de milho oriunda de material não inoculado ou inoculado com LP (Tabela 3) apresentam altas perdas de MS (20,7 e 20,2%, respectivamente), enquanto essas perdas foram mínimas na silagem oriunda de matéria prima inoculada com LB. As silagens de sorgo (Tabela 4) apresentaram comportamento semelhante, porém com menores perdas quando comparada as silagens de milho. Tabela 4 – Características das silagens de plantas de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos durante a exposição ao ar Efeitos e Tratamentos (A)1 Dias de exposição (B) 3 Variáveis Interações (P<)2 EPM controle LP LB 0 5 7 9 A B AxB MS (%) 41,9a 39,5b 39,9b 39,8b 40,3b 40,5b 41,2a * ** ns 0,50 a a b c b a a pH 6,3 6,3 4,0 3,9 5,3 6,4 6,5 ** ** ** 0,14 Levedura (log ufc/g) 7,6a 7,3a 3,5b 4,0b 7,0a ND 7,3a ** ** ** 0,31 Fungos (log ufc/g) 3,2 3,4 <2,0 <2,0b 3,2a ND 5,0a ns * ns 1,15 RMS (%)4 85,4b 86,1b 97,8a 2,42 1 LP = Lactobacillus plantarum; LB = Lactobacillus buchneri; 2 ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3 EPM = Erro padrão da média 4 RMS = Recuperação de matéria seca – nove dias de exposição ao ambiente a Letras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) ND = não determinado As RMS nas fases fermentativa e aeróbia são apresentados na Figura 4. As mais baixas RMS em silagens de milho e de sorgo ocorrem após a abertura dos silos. A presença de O2 desencadeia a proliferação leveduras, fungos e bactérias aeróbias, levando ao consumo de nutrientes, o que acarreta redução no valor nutritivo das silagens, além de comprometer o consumo pela multiplicação de microrganismos indesejáveis e suas respectivas substâncias (micotoxinas), como foi relatado por OLDENBURG (1991) e LINDGREN et al. (2002). Incrementos substanciais na RMS podem ser obtidos com a inoculação de LB (P<0,05). A susceptibilidade à deterioração aeróbia das silagens inoculadas com LP, nas culturas de milho e de sorgo, foi semelhante ao tratamento controle, não havendo intensificação como foi observado por WEINBERG et al. (1993). milho 110,0 100,0 a 90,0 Recuperação de MS (%) 80,0 b b 70,0 60,0 sorgo 110,0 a 100,0 90,0 b b 80,0 70,0 60,0 controle LP fermentação aerobiose LB total Figura 4 – Recuperação de matéria seca das silagens de plantas de milho e de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos, após 90 dias de fermentação e nove dias de exposição aeróbia LP = Lactobacillus plantarum; LB = Lactobacillus buchneri; RMStotal = [(RMSfermentação x RMSaerobiose)/100] a Letras distintas acima das barras indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) Erro padrão da média – silagens de milho = 3,27 Erro padrão da média – silagens de sorgo = 2,73 4. Conclusões A inoculação com Lactobacillus buchneri promove fermentação heterolática e reduz a deterioração aeróbia nas silagens de milho e de sorgo granífero após a abertura do silo. A presença de Lactobacillus plantarum não altera as características da silagem de milho e de sorgo granífero. 5. Referencias AFUAKWA, J.J.; CROOKSTON, R.K. Using the kernel milk line to visually monitor grain maturity in maize. Crop Science, v.24, p.687-691, 1984. BERENJI, J.; DAHLBERG, J. Perspectives of sorghum in europe. Journal Agronomy & Crop Science, v. 190, p. 332-338, 2004. BORREANI, G.; TABACCO, E.; COLOMBARI, G. Influenza del deterioramento aeróbico degli insilati sulla qualità dei prodotti caseari. L’Informatore Agrario, v. 11, p. 58-61, 2002. CANALE, A.; VALENTE, M.E.; CIOTTI, A. Determination of volatile carboxylic acids (C1C5) and acid lactic in aqueous acid extracts of silage by high performance liquid chromatography. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 35, p. 11781182, 1984. DRIEHUIS, F.; OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; SPOELSTRA, S.F. Anaerobic lactic acid degradation during ensilage of whole crop maize inoculated with Lactobacillus buchneri inhibits yeast growth and improves aerobic stability. Journal of Applied Microbiology, v.87, p. 583-594, 1999. DRIEHUIS, F.; te GIFFEL, M.C. Butyric acid bactéria spores in whole crop maize silage. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 14th, 2005, Belfast. Proceedings... Belfast, 2005, p. 271. FILYA, I. The effect of Lactobacillus buchneri and Lactobacillus plantarum on the fermentation, aerobic stability, and ruminal degradability of low dry matter corn and sorghum silages. Journal Dairy Science, v. 86, p. 3575-3581, 2003. KEADY, T.W.J.; O’KIELY, P. An evaluation of the effects of rate of nitrogen fertilization of grassland on silage fermentation, in silo losses, effluent production and aerobic stability. Grass and Forage Science, v. 51, p. 350-362, 1996. KLEINSCHMIT, D.H.; SCHMIDT, R.J.; KUNG, Jr. L. The effects of various antifungal additives on the fermentation and aerobic stability of corn silage. Journal of Dairy Science, v. 88, p. 2130-2139, 2005. KROONEMAN, J.; FABER, F.; ALDERKAMP, A.C.; et al. Lactobacillus diolivorans sp. nov., a 1,2-propanediol-degrading bacterium isolated form aerobically stable maize silage. International Journal Systematic Evolutionary Microbiology, v. 52, p. 639646, 2002. KUNG, L., Jr.; STOKES, M.R.; LIN, C.J. Silage additives. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 305-360. LINDGREN, S.; PETTERSSON, K.; KASPERSON, A. et al. Microbial Dynamics during aerobic deterioration of silages. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 36, p. 765-774, 1985. LINDGREN, S.; OLDENBURG, E.; PAHLOW, G. Influence of microbes and their metabolites on feed and food quality. In: GENERAL MEETING OF THE EUROPEAN GRASSLAND FEDERATION. 19th, 2002, La Rochelle. Proceedings... La Rochelle, 2002, p.503-511. McDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S.J.E. Biochemistry of silage. 2.ed. Marlow: Chalcombe Publication, 1991. 340p. MOON, N.J. Inhibition of the growth of acid tolerant yeasts by acetatc, lactate and propionate and their synergistic mixtures. Journal of Applied Bacteriology, v.55, p.453-460, 1983. MUCK, R.E. Effects of corn silage inoculants on aerobic stability. Transactions of the ASAE, v.47, p.1011-1016, 2004. NISHINO, N.; YOSHIDA, M.; SHIOTA, H. et al. Accumulation of 1,2 propanediol and enhancement of aerobic stability in whole crop maize silage inoculated with Lactobacillus buchneri. Journal of Applied Microbiology, v. 94, p. 800-807, 2003. OLDENBURG, E. Mycotoxins in conserved forage. In: PAHLOW, G; HONIG, H. (Eds) Forage conservation towards 2000. 1.ed. Braunschweig: European Grassland Federayion, 1991. p.191-205. OUDE ELFERINK, S.J.W.H.; KROONEMAN, J.; GOTTSCHAL, J.C. et al. Anaerobic conversion of lactic acid to acetic acid and 1,2-propanediol by Lactobacillus buchneri. Applied and Environmental Microbiology, v. 67, p. 125–132, 2001. PAHLOW, G; MUCK, R.E.; DRIEHUIS, F. et al. Microbiology of ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 31-94. RANJIT, N.K.; KUNG, L., Jr. The effect of Lactobacillus buchneri, Lactobacillus plantarum, or a chemical preservation on fermentation and aerobic stability of corn silage. Journal of Dairy Science, v. 83, p. 526-535, 2000. RANJIT, N.K.; TAYLOR, C.C.; KUNG, L. Jr. Effect of Lactobacillus buchneri 40788 on the fermentation, aerobic stability and nutritive value of maize silage. Grass and Forage Science, v. 57, p. 73–81, 2002. STATISTICAL ANALYSES SYSTEM - SAS. SAS/STAT. User’s Guide. Version 8. Cary: 2000. SPOELSTRA, S.F. Inhibition of clostridial growth by nitrate during the early phase of silage fermentation. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 34, p. 145152, 1983. SPOELSTRA, S.F. Nitrate in silage. Grass and Forage Science, v. 40, p. 1-11, 1985. SPOELSTRA, S.F.; COURTIN, M.G.; VAN BEERS, J.A.C. Acetic acid bacteria can initiate aerobic deterioration of maize silage. Journal of Agricultural Science, v.111, p.127–132, 1988. WILKINS, R.J.; SYRJÃLÃ-QVIST, L.; BOLSEN, K.K. The future role of silage in sustainable animal production. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 12th, 1999, Uppsala. Proceedings... Uppsala, 1999, p. 23-40. WEINBERG, Z. G.; ASHBELL, G.; HEN, Y. et al. The effect of applying lactic acid bacteria at ensiling on the aerobic stability of silages. Journal of Applied Bacteriology, v. 75, p. 512-518, 1993. WEINBERG, Z.G.; MUCK, R.E. New trends and opportunities in the development and use of inoculants for silage. FEMS Microbiology Reviews, v.19, p.53-68, 1996. WEINBERG, Z.G.; ASHBELL, G. Engineering aspects of ensiling. Biochemical Engineering Journal, v. 13, p. 181-188, 2003. WOOLFORD, M.K. Microbiological screening of food preservatives, cold sterilants and specific antimicrobial agents as potential silage additives. Journal of the Science of Food and Agricultural, v.26, p.229-237, 1975. YILDIRIM, Z.; YILDIRIM, M. Characterization of buchnericin LB, produced by Lactobacillus buchneri LB. Turkey Journal Biology, v.25, p.73-82, 2001. CAPÍTULO 4 – AVALIAÇÃO DE FILME DE BAIXA PERMEABILIDADE AO OXIGÊNIO NA VEDAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA SILAGEM DE MILHO EM DUAS REGIÕES DO SILO TIPO TRINCHEIRA RESUMO – Os efeitos deletérios do O2 ocorrem durante a estocagem, principalmente nas áreas marginais do silo, podendo ser influenciado pelo filme plástico utilizado na vedação. Observa-se que este fenômeno é provável de ocorrer em alimentos com alto conteúdo de nutrientes, como a silagem de milho. O objetivo do presente trabalho foi de avaliar as perdas na região periférica e central do silo e o efeito do filme plástico com baixa permeabilidade ao oxigênio (FBP) na vedação de silagem de milho. Para tanto, um silo tipo trincheira foi dividido ao meio, em que um lado foi coberto com filme convencional (FC) e o outro com FBP. Foram distribuídos 16 sacos (contendo ± 3 kg de silagem) em quatro zonas da trincheira (início, fim, centro e periferia), avaliando-se as características fermentativas, microbiológicas e as perdas de MS. Para evidenciar as zonas onde estavam ocorrendo os fenômenos de deterioração aeróbia foram produzidas imagens através de mapas com escalas colorimétricas. Na região periférica a concentração de ácido lático foi inferior, prevaleceu o desenvolvimento de fungos filamentosos e de leveduras e onde se concentrou as maiores perdas de MS (7,7 versus 5,6% na região central). Quanto à utilização do filme, o crescimento de fungos filamentosos e de leveduras e as perdas de MS foram superiores na silagem coberta com FBP, devido a maior concentração de substrato e ao avanço discreto na massa (12 cm/dia) durante a utilização. Embora o lado do silo coberto com FC apresentou temperaturas mais elevadas. A silagem localizada na região central apresenta menores perdas de matéria seca em relação à região periférica. O uso de filme com baixa permeabilidade ao oxigênio pode reduzir as perdas na estocagem quando o fechamento do silo é adequado. Entretanto, pode aumentá-las durante o período de utilização se a remoção da silagem não for gerida adequadamente. Palavras-chave: deterioração aeróbia, lona, manejo, perdas 1. Introdução Os silos horizontais (trincheira; superfície) são atrativos em razão do baixo custo de armazenamento de forragens sob a forma de silagem. Entretanto, suas conformações determinam grande superfície de exposição e de trocas gasosas com o ambiente, o que torna as silagens susceptíveis a perdas (BOLSEN et al., 1993; SAVOIE & JOFRIET, 2003; WEINBERG & ASHBELL, 2003). Muitos fatores contribuem para o processo de perdas na ensilagem, e a deterioração aeróbia tem sido um dos principais, com variada amplitude entre as fazendas (ASHBELL & LISKER, 1988). Após examinar 540 experimentos, Zimmer (1967) citado por ASHBELL & LISKER (1988) reportou que as perdas de MS entre as propriedades rurais variaram de 0,8 a 71%, apresentando média de 19,4%. Como o processo de deterioração aeróbia é essencialmente microbiano e o crescimento dos microrganismos é condicionado por condições físicas e químicas (PAHLOW et al., 2003), um dos pré-requisitos essenciais é minimizar a presença de O2 no silo, após seu fechamento. Desse modo, o filme plástico assume um papel importante durante a etapa de vedação e a sua principal função é manter a anaerobiose (HONIG, 1991). As tipologias dos filmes plásticos para a proteção das silagens apresentam cores e espessuras diversas (0,025 mm a 0,2 mm). Os de espessura mais fina são utilizados na vedação de silos tipo “big bale” (silos-fardos) e os mais espessos (0,1 a 0,2 mm) na cobertura de silos horizontais. Segundo KUZIN & SAVOIE (2001), as perdas nas áreas periféricas do silo são influenciadas pela espessura da lona que deve ser proporcional ao tempo de estocagem da silagem. Além desta propriedade física, a permeabilidade ao O2 pode ser alterada pela coloração da lona e pela temperatura ambiental. As flutuações da temperatura (evidente entre o dia e a noite) determinam diferenças de pressão entre o gás no interior do silo e aquele da atmosfera circundante (TABACCO & BORREANI, 2002), sendo que tais diferenças causam fluxo de gás, do exterior para o interior e vice-versa, quanto maior for a permeabilidade da lona (SAVOIE, 1988; TABACCO & BORREANI, 2002). Tradicionalmente, a produção industrial de filmes plásticos é realizada com polietileno, pelas suas características mecânicas e de baixo custo. Contudo, o polietileno apresenta permeabilidade ao O2 elevada, requerendo, por exemplo, o aumento do número de estratos na produção de silos big bale (4 a 8 estratos) o que eleva os custos e aumenta o uso de plásticos na agricultura, gerando problemas ambientais (DEGANO, 1999; SNELL et al., 2002). Entre as moléculas plásticas utilizáveis, a poliamida é um polímero interessante pela sua menor permeabilidade ao O2, cerca de 90 vezes inferior à do polietileno. Segundo a American Society for Testing and Materials Standards (AMST D3985-81), a permeabilidade do polietileno ao O2, à temperatura de 23 ºC e umidade relativa de 85%, é de 178.000 cm3/m2/24h/bar/µm de espessura, enquanto a poliamida apresenta 2000 cm3/m2/24h/bar/µm de espessura, cujos valores, aumentam notavelmente quando a temperatura é elevada a 50 ºC (534.000 e 10.000, respectivamente). Isto significa que, durante o verão, os riscos de deterioração aeróbia de silagens se elevam, principalmente nos países de clima tropical, pelo aumento da permeabilidade dos filmes plásticos. Devido ao elevado custo da poliamida e pelas dificuldades técnicas de se confeccionar um filme somente com este polímero, está sendo produzido experimentalmente na Itália uma lona com diversos estratos, em que um deles é constituído de poliamida. O presente estudo teve como objetivo avaliar as perdas na região periférica e central do silo e o efeito do filme plástico com baixa permeabilidade ao oxigênio na vedação de silagem de milho, armazenada em silo tipo trincheira. 2. Material e Métodos 2.1 Condução da cultura, colheita, silo e plásticos utilizados na experimentação O estudo foi desenvolvido no biênio 2004/2005 em uma fazenda situada no município de Scarnafigi (44° 40' N e 7° 34' E), localizado na região norte da Itália. A cultura de milho foi semeada nos dias 5 e 6 de abril de 2004 sobre uma superfície de 6,5 ha, dividida em três áreas, onde foram plantados três híbridos: PR31K18 (classe FAO 700), PR31N27 (classe FAO 700) e PR32F10 (classe FAO 600), todos da empresa Pioneer, à uma densidade de plantas de 6,5 m2. No dia 09/09/2004, quando os grãos apresentavam a linha do leite próxima de 45% (AFUAKWA & CROOKSTON, 1984), a colheita foi realizada, utilizando-se colhedora automotriz, com o tamanho de corte regulado em 20 mm e o dispositivo para romper os grãos em 1,5 mm. A forragem foi tratada com inoculante comercial (Pioneer 1132), constituído pelas bactérias (Lactobacillus plantarum e Enterococcus faecium), e a concentração aplicada durante a picagem da forragem foi de 1x105 bactérias/g de forragem verde. A área do painel do silo utilizado no estudo foi de 19,9 m2 (8,3 m largura e 2,4 m de altura) e o comprimento de 21,7 m. Na avaliação das perdas fermentativas, durante a ensilagem, foram colocados 16 sacos de nylon contendo cerca de 3 kg de forragem, nas seguintes zonas do silo: seis sacos na zona central, seis sacos na zona periférica (próximos aos plásticos utilizados na cobertura), dois no início e dois no fim, conforme o esquema reportado na Figura 1. Para verificar a eficiência do filme com baixa permeabilidade ao oxigênio (FBP), no momento do fechamento, o silo foi dividido em duas partes, isto é, metade da trincheira foi coberta com a lona FBP e a outra parte com o filme convencional (FC). Isto se faz necessário, pois as amostras das silagens durante a remoção devem ser retiradas contemporaneamente, devido à elevada influência dos parâmetros climáticos sobre o fenômeno estudado. FBP FC 2,4 m 8,3 m 21,7 m fim início Figura 1 – Cobertura do silo com filme de baixa permeabilidade ao oxigênio (FBP) e filme convencional (FC) e distribuição dos sacos utilizados na determinação das perdas As propriedades físicas das lonas utilizadas no experimento estão descritas na Tabela 1. Além dos filmes utilizados na avaliação, foi sobreposta uma outra lona (utilizada na cobertura em anos anteriores) para auxiliar na vedação. Como peso sobre as lonas foram utilizados pneus usados (30 kg/m2) e nas laterais sacos com areia. Tabela 1 – Propriedades físicas dos filmes plásticos Características Coloração Espessura (mm) Permeabilidade ao O2 (cm3 m-2 24 h-1)* * a 23 ºC de temperatura e 1 bar de pressão Filme convencional Branco/preto 0,18 1000 Filme de reduzida permeabilidade ao O2 Branco/preto 0,18 90 2.2 Perdas de MS e perfil de temperatura No momento em que os vagões efetuavam o descarregamento para abastecer determinada área do silo (zona central, periférica, inicio e fim) amostras foram retiradas para posteriores análises químicas e microbiológicas e também para encher os sacos destinados à avaliação das perdas. Decorridos 23 dias de fermentação, a trincheira foi aberta e os sacos foram sendo retirados conforme a remoção da silagem, sendo que todo o conteúdo foi consumido em 195 dias, o que determinou um avanço médio de 12-13 cm/dia. As condições climáticas durante a utilização do silo encontram-se na Tabela 2. Tabela 2 – Temperatura e precipitação média durante a condução do experimento Meses (2004-2005) Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Máxima 24,9 18,6 12,6 7,8 6,1 8,3 14,2 Temperatura (ºC) Mínima 10,9 9,5 1,9 -1,1 -3,9 -4,5 -1,8 Média 17,3 13,6 6,3 2,4 0,3 1,1 5,7 Precipitação (mm) 34,0 69,2 69,8 27,8 0,8 1,0 0,2 Para evidenciar as zonas onde estavam ocorrendo o fenômeno de deterioração aeróbia foram coletados os valores de temperatura da silagem, em 35 pontos do painel, à uma profundidade de 10 cm (Figura 2). Os dados obtidos foram lançados em planilha do programa Excel e posteriormente foram produzidas imagens através de mapas com escalas colorimétricas utiliando-se o programa Surfer. cm 10 50 + 100 + 260 + X/2* + 30 + + + + 60 + + + + 100 + + + + 200 + + + + * X = largura do painel do silo Figura 2 – Metodologia utilizada na leitura das temperaturas do painel 2.3 Amostragens e preparação das amostras As amostras (forragem e silagens) foram retiradas de modo que fossem representativas e foram divididas em três porções. A primeira subamostra foi utilizada na determinação da concentração de matéria seca em estufa a 55 ºC por 72 h. Após retiradas da estufa as amostras foram pesadas e deixadas à temperatura e umidade ambiente até peso constante. Uma outra subamostra foi conservada em freezer (-20 ºC) para avaliar a concentração de ácidos orgânicos, cinzas, energia bruta e valores de pH. A terceira sub-amostra foi utilizada na determinação da população de leveduras e de fungos filamentosos. 2.4 Análises químicas Na avaliação das características fermentativas, as amostras foram pesadas, homogeneizadas mediante o aparelho Lab-Blender Stomacher 400 (Steward Laboratory, London) durante 4 minutos e posteriormente foram filtradas. As amostras diluídas em H2SO4 0,1N foram utilizadas na determinação das concentrações de ácidos lático, acético e propiônico e dos álcoois (etanol e 1,2 propanol) mediante HPLC (CANALE et al., 1984). Os extratos diluídos em água destilada foram utilizados na determinação do pH, mediante eletrodo específico. A energia bruta (EB) foi determinada utilizando amostra fresca da silagem, mediante bomba calorimétrica com adição de polietileno como primer. A quantidade de amostra a ser pesada e a de polietileno a ser adicionado foram determinados segundo as equações de MEINERI & PEIRETTI (2005). Na determinação das cinzas, cerca de um grama de amostra seca foi pesado em um cadinho, anteriormente incinerado e tarado. As amostras foram introduzidas na mufla e incineradas a 550 ºC por 12 h e após a combustão foram colocadas em dessecador e pesadas. 2.5 Análises microbiológicas Para determinar a população de leveduras e fungos, as amostras frescas foram pesadas em sacos plásticos (30 g de forragem fresca diluída em 270 g de água destilada) e homogeneizadas durante 4 minutos mediante aparelho Lab-Blender Stomacher 400 (Steward Laboratory, London). A partir dos extratos diluídos e filtrados foram realizadas as demais diluições (10-2 a 10-6), e o número de microrganismos presentes foram contados como unidade formadora de colônia (ufc) em placas de Petri contendo o meio de cultura YGC agar (Fluka) e expressas como logaritmo na base 10. 2.6 Análise dos dados Os dados de cada tratamento foram originados de um mesmo silo, portanto, não houve repetição experimental. Dessa forma, as variáveis estudadas foram submetidas apenas a análise descritiva. 3. Resultados e Discussão Os resultados da composição química, da população de fungos e leveduras e das perdas de MS da silagem de milho nas regiões central e periférica estão apresentados na Tabela 3. Os valores de pH nas duas regiões foram iguais, apresentando valor de 3,6, porém, a concentração de ácido lático foi superior na região central (6,5% MS) em relação a região periférica (5,0%). As concentrações dos demais ácidos (acético e propiônico) e de etanol foram semelhantes nas duas zonas. Houve maior desenvolvimento de fungos filamentosos e de leveduras na região periférica. Entretanto, a população de leveduras pode ser considerada baixa (2,8 ufc/g silagem), pois, segundo LINDGREN et al. (1985) e MUCK (2004), quando o número de leveduras ultrapassa 5,0 ufc/g, a silagem pode se tornar menos estável em condições de aerobiose. A região periférica apresentou maiores perdas de MS, possivelmente pela menor fermentação lática e pelo número superior de microrganismos deterioradores, quando comparada à zona central. No silo, as zonas mais porosas estão localizadas nas camadas superficiais e laterais (D’AMOURS & SAVOIE, 2004), o que facilita a entrada de O2, propiciando o desenvolvimento de microrganismos aeróbios. A densidade na região periférica (50 cm da parede e 50 cm do topo) no presente estudo foi de 509 kg/m3 enquanto a região central apresentou densidade média de 628 kg/m3, o que explica tais resultados. RODRIGUES et al. (2002) estudaram duas profundidades (30 e 60 cm) em silos trincheira contendo silagem de capim-Elefante e encontraram que a camada mais exposta (30 cm) apresentou maior valor de pH (6,1 vs 4,6) e menor valor de digestibilidade in vitro (29,3 vs 40,1), quando comparada à região central do silo. ASHBELL & KASHANCHI (1987) estudaram as perdas de MS em silagens de trigo estocadas em silos do tipo bunker e encontraram que na zona central as perdas estiveram entre 2,8 a 16,0% e na zona central próxima à parede as perdas foram de 10,6 a 22,7%. Na região periférica próximo à lona e na região periférica próximo à lona e à parede as perdas estiveram entre, 13,9 a 26,7% e 25,4 a 75,8%, respectivamente. No presente estudo as perdas de MS são inferiores às do estudo desenvolvido por ASHBELL & KASHANCHI (1987), possivelmente pelo efeito das condições ambientais, pois durante a armazenagem e uso da silagem a temperatura ambiental (Tabela 2) não ultrapassou os 25 ºC, com períodos de temperatura negativa, o que não colabora para o crescimento dos microrganismos que deterioram a silagem. As concentrações de cinzas foram iguais nas duas regiões do silo, com valor médio de 5,0% MS. BOLSEN (1997) relatou que a concentração de cinzas pode se elevar quando ocorre perdas de MS, pois há consumo de matéria orgânica pelos microrganismos. Porém, segundo este mesmo autor (comunicação pessoal) este fato só pode ser observado quando a deterioração aeróbia é intensa. Os valores de EB não diferiram entre as regiões do silo, apresentando concentração de 17,5 KJ/g MS, valor típico de silagem de milho. VALENTE et al. (1996) estudando silagens de Trifolium pratense, encontraram correlação positiva (r2 = 0,95) entre as perdas de MS e a concentração de EB na silagem, o que atribuíram à produção de compostos químicos por parte dos microrganismos atuantes. Tabela – 3 Características das silagens de milho em duas regiões de um silo trincheira Variáveis MS (%) pH Ácido lático (% MS) Ácido acético (% MS) Ácido propiônico (% MS) Etanol (% MS) Leveduras (log ufc/g) Fungos (log ufc/g) Cinzas (% MS) Energia bruta (KJ/g MS) Perdas (% MS) Região Central 34,5 3,6 6,5 1,0 0,3 0,7 <2,0 <2,0 5,0 17,4 5,6 Região Periférica 37,9 3,6 5,0 1,2 0,1 0,6 2,8 2,4 4,9 17,5 7,7 As características das silagens de milho, na região periférica do silo, cobertas com dois tipos de filmes plásticos estão apresentadas na Tabela 4. Os resultados de cinzas, EB e das variáveis fermentativas foram semelhantes nas silagens vedadas com os dois tipos de lona, apresentando valores coerentes de silagem de milho, com baixo valor de pH (3,6), concentração de ácido lático próxima de 5,0% MS e concentrações reduzidas de ácido acético e propiônico. Tabela 4 – Características das silagens de milho, na região periférica do silo, cobertas com dois tipos de filmes plásticos Variáveis FC1 FBP2 MS (%) 38,6 37,2 pH 3,6 3,6 Ácido lático (% MS) 5,1 4,9 Ácido acético (% MS) 1,3 1,4 Ácido propiônico (% MS) 0,2 0,2 Etanol (% MS) 0,6 0,6 1,2 Propanol (% MS) NE NE Leveduras (log ufc/g) 3,0 5,4 Fungos (log ufc/g) <2,0 3,3 Cinzas (% MS) 4,9 4,8 Energia bruta (KJ/g MS) 17,8 17,3 Perdas (% MS) 6,6 8,85 1 FC = Filme convencional 2 FBP = Filme de baixa permeabilidade ao oxigênio 3 NE = não encontrado 4 ND = não determinado 5 Média de dois sacos FC Início 40,6 3,9 3,6 1,3 NE3 0,8 NE ND4 ND 4,7 17,7 1,7 FBP Fim 34,2 4,2 2,8 1,8 0,3 0,0 NE ND ND 5,2 18,6 4,5 Início 42,0 3,8 3,4 1,1 NE 0,9 NE ND ND 4,7 18,3 1,2 Fim 35,4 3,7 0,4 1,9 NE 2,8 NE ND ND 5,0 16,4 2,9 O crescimento de fungos filamentosos e de leveduras e as perdas de MS foram superiores na silagem coberta com FBP. Este filme (presença de poliamida) diminui a permeabilidade ao O2, funcionando como uma barreira, o que possivelmente promove uma fermentação de melhor qualidade, quando comparado ao FC. Como a deterioração aeróbia após a abertura do silo é dependente do processo fermentativo e do manejo de retirada, os microrganismos deterioradores provavelmente se desenvolveram no local com maior concentração de substrato (FBP), em que o avanço discreto da massa de 12 cm/dia colaborou para que o fenômeno ocorresse. ASHBELL & LISKER (1988) avaliaram a silagem de milho, estocada em silo tipo bunker, em condições de clima subtropical e encontrarm perdas de MS acima de 36% na área periférica do silo coberta com lona de coloração escura (composta por polietileno) e espessura de 0,1 mm. Em relação às extremidades do silo (início e fim), as perdas de MS foram superiores na silagem coberta com FC e os valores de perdas são inferiores aos sacos localizados nas regiões central e periférica (Tabela 4). Este fato pode ter ocorrido porque a silagem presente nas extremidades não sofre influência do O2 que penetra na massa após a quebra da vedação. Depreende-se que redução do movimento de gás entre a massa ensilada e o exterior do silo pelo uso de filme com reduzida permeabilidade ao O2 é uma estratégia interessante para diminuir a deterioração aeróbia durante o período de estocagem, desde que a fazenda efetue o fechamento do silo e a remoção da silagem durante a utilização da mesma com o máximo de atenção. Segundo SNELL et al. (2000), na Alemanha, o filme utilizado na vedação de silos deve apresentar permeabilidade ao O2 inferior a 250 cm3/m2/24h para que a empresa produtora receba certificado de aprovação. Embora, HONIG (1991) e McGECHAN & WILLIAMS (1994) enfatizaram que a permeabilidade do filme é menos problemático que a junção entre a parede do silo e a lona na etapa de vedação, bem como os possíveis furos que poderão ocorrer na lona durante a armazenagem da silagem. Na Figura 2 está representada a termografia do silo vedado com dois tipos de filme. Após 25 dias de utilização da silagem, na parte direita do silo onde está localizado o FC, a temperatura em alguns pontos esteve entre 42-46 ºC, superior ao FBP, e segundo McDONALD et al. (1991) a elevação da temperatura na silagem é um bom indicador de eventuais fenômenos de deterioração aeróbia e da atividade de oxidação por parte das leveduras e fungos filamentosos. O lado do silo coberto com FBP apresentou temperatutas mais amenas, porém com uma grande área onde as temperaturas se encontravam entre 30-34 ºC (coloração amarela). A temperatura mais elevada na zona central do silo, não é atribuída a atividade microbiológica, mas a baixa condutividade térmica da massa, que mantém por muito tempo o calor desenvolvido durante as primeiras fases da fermentação, principalmente neste caso, pois havia um outro silo adjacente a face esquerda. Nas zonas periféricas o calor referente ao período fermentativo se dissipa rapidamente pela atmosfera (na parte superior) e pelo solo nas zonas basais. Com 44 dias após a abertura do silo, a diferença de temperatura nas silagens coberta com os dois tipos de filme não era mais evidente. Durante o intervalo de 19 dias (entre a primeira e segunda leitura) houve maior consumo de silagem, em que o avanço diário passou de 11 para 16 cm/dia. Além deste fato, houve redução da temperatura ambiental com a intensificação do período de inverno. FC FBP ºC 42-46 38-42 34-38 a 30-34 14-30 b Figura 3 – Termografia do painel de um silo trincheira, em duas datas, durante a remoção de silagem de milho FC = Filme convencional FBP = Filme de baixa permeabilidade ao oxigênio a 25 dias após a abertura b 44 dias após a abertura 4. Conclusões A silagem localizada na região central de silo tipo trincheira apresenta fermentação lática mais acentuada, desenvolvimento inferior de leveduras e fungos e menores perdas de matéria seca em relação à região periférica. O uso de filme com baixa permeabilidade ao oxigênio pode reduzir as perdas na estocagem quando o fechamento do silo é adequado. Entretanto, pode aumentá-las durante o período de utilização se a remoção da silagem não for gerida adequadamente. 5. Referências AFUAKWA, J.J.; CROOKSTON, R.K. Using the kernel milk line to visually monitor grain maturity in maize. Crop Science, v. 24, p. 687-691, 1984. ASHBELL, G.; KASHANCHI, Y. In-silo losses from wheat ensiled in bunker silos in a subtropical climate. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 40, p. 95-103, 1987. ASHBELL, G.; LISKER, N. Aerobic deterioration in maize silage stored in a bunker silo under farm conditions in a subtropical climate. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 45, p. 307-315, 1988. BOLSEN, K.K.; DICKERSON, J.T.; BRENT, B.E. et al. Rate and extent of top spoilage in horizontal silos. Journal of Dairy Science, v. 76, p. 2940-2962, 1993. BOLSEN, K. K. Issues of top spoilage losses in horizontal silos. In: SILAGE: FIELD TO FEEDBUNK, Ithaca, 1997. Proceedings… Ithaca:NRAES, 1997. p. 137-150. CANALE, A.; VALENTE, M.E.; CIOTTI, A. Determination of volatile carboxylic acids (C1C5) and acid lactic in aqueous acid extracts of silage by high performance liquid chromatography. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 35, p. 11781182, 1984. D’AMOURS, L.; SAVOIE, P. Density profile of corn silage in bunker silos. In: Annual International Meeting Sponsored. Ontario: ASAE/CSAE. 2004, 14p. DEGANO, L. Improvement of silage quality by innovative covering system. In: THE INTERNATIONAL SILAGE CONFERENCE, 12th, 1999, Uppsala. Proceedings... Uppsala, 1999, p. 296-297. HONIG, H. Reducing losses during storage and unloading of silage. In: PAHLOW, G; HONIG, H (Eds). Forage conservation towards 2000. 1.ed. Braunschweig: European Grassland Federayion, 1991. p.116-128. KUZIN, V.; SAVOIE, P. Modeling air infiltration in bunker silos to optimize the cover. In: Annual International Meeting Sponsored. Sacramento: ASAE. 2001, 10p. LINDGREN, S.; PETTERSSON, K.; KASPERSON, A. et al. Microbial Dynamics during aerobic deterioration of silages. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 36, p. 765-774, 1985. McGECHAN, M.B.; WILLIAMS, A.G. A model of air infiltration losses during silage storage. Journal of Agricultural Engineering Research, v.57, p.237–249, 1994. MEINERI, G.; PEIRETTI, P.G. Determination of gross energy of silages. Italian Journal Animal Science, v. 4, p. 147-149, 2005. MUCK, R.E. Effects of corn silage inoculants on aerobic stability. Transactions of the ASAE, v.47, p.1011-1016, 2004. PAHLOW, G; MUCK, R.E.; DRIEHUIS, F. et al. Microbiology of ensiling. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 31-94. RODRIGUES, P.H.M.; PEDROSO, S.B.G.; MELOTTI, L. et al. Composição bromatológica e perfil fermentativo da silagem de capim-Elefante obtida em diferentes tipos de silos experimentais e no silo tipo trincheira. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, p. 2386-2392, 2002. SAVOIE, P. Optimization of plastic covers for stack silos. Journal of Agricultural Engineering Research, v. 41, p. 65-73, 1988. SAVOIE, P.; JOFRIET, J.C. Silage Storage. In: BUXTON, D.R.; MUCK, R.E.; HARRISON, J.H (Eds). Silage Science and Technology. 1 ed. Madison: American Society of Agronomy, 2003. p. 405-468. SNELL, H.G.J; OBERNDORFER, C; KUTZ, A. Asustem for testing plastic film for bunker silage preservation – Design and preliminary findings. Journal of Agricultural Engeneering Research, v. 79, p. 37-45, 2000. SNELL, H.G.J; ,OBERNDORFER, C; LUCKE, W; et al. Effects of the colour and thickness of polyethylene film on ensiling conditions and silage quality of chopped maize, as investigated under ambient conditions and mini-silos. Grass and Forage Science, v. 57, p. 342-350, 2002. TABACCO, E.; BORREANI, G. Come contrastare il deterioramento aerobico negli insilati di mais. L’Informatore Agrário, v. 15, p. 105-111, 2002b. VALENTE, M.E.; PEIRETTI, P.G.; CIOTTI, A. et al. Changes of gross energy, organic matter digestibility and net energy of red clover silages in relationship to dry matter losses during ensilage. In: GENERAL MEETING OF THE EUROPEAN GRASSLAND FEDERATION, 16th, 1996, Gorizia, Italy. Proceedings... p. 651-654, 1996. WEINBERG, Z.G.; ASHBELL, G. Engineering aspects of ensiling. Biochemical Engineering Journal, v. 13, p. 181-188, 2003. CAPÍTULO 5 – IMPLICAÇÕES As plantas de capim-Marandu, quando ensiladas com alta concentração de umidade (média de 20% de MS), apresentam perdas elevadas na fase fermentativa, pela produção de efluente e processo fermentativo indesejável, e são estáveis em condições de aerobiose, uma vez que as fermentações secundárias sofridas por esta forrageira e a ausência de substrato impedem a grande proliferação de microrganismos responsáveis pela deterioração aeróbia, não se fazendo necessário o incremento com outros ácidos (acético e benzóico), com vistas a elevar estabilidade aeróbia destas silagens. A inoculação com bactérias homo e heterofermentativas, isolada ou associada, não altera o consumo e a digestibilidade aparente nas rações contendo alta proporção de silagem de capim-Marandu. Entretanto, eleva as perdas por deterioração aeróbia quando estas silagens são produzidas com concentração de MS acima de 30%. O uso de inoculante contendo bactérias homofermentativas (por exemplo: Lactobacillus plantarum) não altera as características químicas e fermentativas das silagens de capim-Marandu (alta umidade), de milho e de sorgo granífero. A deterioração aeróbia é a principal fonte de perdas de silagens de alto valor nutritivo, como a de milho e de sorgo granífero. A inoculação com Lactobacillus buchneri 40788 eleva a estabilidade aeróbia em silagens de milho e de sorgo granífero, trazendo efeitos positivos por manter as características nutritivas e higiênicos sanitário do alimento. A silagem de milho localizada na região central de silo tipo trincheira apresenta fermentação lática mais acentuada, desenvolvimento inferior de leveduras e de fungos e menores perdas de matéria seca em relação à região periférica. A redução do movimento de gás entre a massa ensilada e o exterior do silo pelo uso de filme com reduzida permeabilidade ao O2 é uma estratégia interessante para diminuir a deterioração aeróbia durante o período de estocagem, desde que a fazenda efetue o fechamento do silo e a remoção da silagem durante a utilização da mesma com o máximo de atenção. Embora, a permeabilidade do filme é menos problemático que a junção entre a parede do silo e a lona na etapa de vedação, bem como os possíveis furos que poderão ocorrer na lona durante a armazenagem da silagem. Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo