Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro 2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS Mestranda: Sandra Manuela Coelho Picoto Orientador: Prof. Doutor Nuno Domingos Garrido Vila Real, 2013 Dedicatória Aos meus pais, A quem devo TUDO o que sou! À minha filha, Razão da minha existência! III AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Nuno Garrido pelo aconselhamento, acompanhamento, auxílio e disponibilidade neste meu percurso. Aos meus pais, por todos os ensinamentos que me proporcionaram na vida, que me permitiram ser quem sou e pelo infindável apoio prestado e amor revelado. À minha princesinha, Joana, pelo amor, carinho, compreensão, alegria, por me ajudar a viver e a aprender cada dia algo novo. A alguém muito especial, por fazer parte de “nós”, por me ter apoiado e incentivado a nunca desistir. “Tentar é mais do que conseguir… Se não tentares nunca saberás… Tenta e poderás alcançar… Aquilo que queres conseguir!” A todos os amigos, em especial à Paula, pela amizade e presença em todos os momentos deste meu percurso. A todos, muito obrigada! IV ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS ..................................................................................... IV ÍNDICE GERAL ............................................................................................... V RESUMO ....................................................................................................... VI ABSTRACT ................................................................................................... VII 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 2 2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................... 5 2.1. Educação Especial ............................................................................ 5 2.1.1. Evolução do conceito ..................................................................... 5 2.1.2. Educação Especial em Portugal..................................................... 6 2.1.3. Conceito de Necessidades Educativas Especiais .......................... 8 2.2. Educação Física ................................................................................ 9 2.2.1. Educação Física na Escola ............................................................ 9 2.2.2. Benefícios da Educação Física .................................................... 10 2.2.3. Educação Física e os alunos com Necessidades Educativas Especiais ................................................................................................ 10 3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ........................... 14 3.1. Abordagem prática – acompanhamento de uma aluna com Necessidades Educativas Especiais (síndrome de Joubert) .................... 16 3.1.1. Síndrome de Joubert .................................................................... 17 3.1.2. Intervenção na Ação Educativa .................................................... 18 3.1.3. Participação na atividade “Gala de S. Gonçalo”........................... 21 4. CONCLUSÕES ...................................................................................... 25 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 27 V RESUMO O presente trabalho tem como finalidade ilustrar o desenrolar do meu processo profissional, enquanto professora de Educação Física, mas, sobretudo, enquanto professora de alguns alunos muito especiais, com quem ao longo destes anos tive e tenho o prazer de ensinar e aprender, partilhando vivências e experiências. A estes alunos, com Necessidades Educativas Especiais, deve ser dada a mesma oportunidade de usufruir de uma educação adequada, tendo sempre presente que precisam de atividade física tanto ou mais do que os outros. A Educação Física tem um papel preponderante a desempenhar, uma vez que, contrariamente às outras disciplinas, pode dotá-los de competências concretas e imediatamente aplicáveis na relação de vida diária destes. Os efeitos e benefícios das competências desenvolvidas/adquiridas nesta disciplina não se reportam única e exclusivamente a um período de tempo, mantendo-se para o resto da vida. Pretendo, com todo este trabalho, analisar, refletir, demonstrar a importância da Educação física para alunos com Necessidades Educativas Especiais, recorrendo a uma revisão da literatura, abordando conteúdos pertinentes: a Educação Física na escola, benefícios da Educação Física, Educação Especial, Educação Especial em Portugal e Necessidades Educativas Especiais. Trata-se de uma reflexão fundamental, uma vez que me permite rever inúmeras situações, dificuldades sentidas e fundamentar as decisões das práticas pedagógicas. VI ABSTRACT This report aims to illustrate the course of my career as a Physical Education teacher, but above all, as a teacher of some very special students, who over the years I had the pleasure of sharing experiences, teaching and learning. To these students with special educational necessities should be given the same opportunity to enjoy a proper education, bearing in mind that they need physical activity as much, or even more than the others. Physical Education has a role to play, since, unlike other disciplines, can provide them with practical skills that are immediately applicable in respect of daily living. The effects and benefits of the developed/acquired skills in this discipline do not relate exclusively to a period of time, they are keept for the rest of their lives. My objective is to analyze, reflect and demonstrate the importance of physical education for students with Special Educational Needs, through a literature review, covering relevant content: Physical Education in school, benefits of Physical Education, Special Education, Special Education in Portugal and Special Educational Needs. This is a fundamental reflection, since it allows me to revisit many situations, difficulties and justify decisions of pedagogical practice. VII A Importância da Educação Física para Alunos com Necessidades Educativas Especiais INTRODUÇÃO 1 Introdução 1. INTRODUÇÃO A educação da criança é influenciada, desde o início, pela sociedade: a família, o meio social, os interesses, os costumes e a linguagem. A sociedade deve valorizar todas as pessoas, permitindo o seu desenvolvimento e facultando, a cada aluno, em situação considerada de dificuldade na aprendizagem, uma educação inclusiva que promova a sua autonomia emocional e cognitiva. A escola, enquanto ponto de encontro de massas e meio de sociabilização, não pode ser apenas um espaço privilegiado de transmissão de saberes, mas também um lugar para partilhar vivências e experiências, de forma a favorecer o desenvolvimento de todos os alunos. Neste sentido, a instituição educativa deve estar preparada para dar oportunidade de sucesso a todos, respeitando e aproveitando as suas diferenças como valores. Por conseguinte, tem por obrigação satisfazer as necessidades dos alunos, adaptando-se aos diversos estilos e ritmos de aprendizagem, de forma a proporcionar um desenvolvimento harmonioso de todos, através de currículos adequados, de uma flexibilização de organização escolar, bem como a utilização de recursos e de uma cooperação articulada com a comunidade. Nesta perspetiva, importa ter em conta a diferenciação na própria sala de aula. Para tal, é fundamental que os professores tenham uma postura de aceitação quanto à diversidade, que conheçam verdadeiramente e que se interessem por todos os alunos com quem trabalham, sendo que alguns são denominados “diferentes”. É necessário que as práticas pedagógicas desenvolvidas, ou a desenvolver, tenham em conta, que, “os alunos são diferentes pela sua origem, aquisições anteriores, características, projetos, interesses e qualidades pessoais mutáveis e por isso se diz que cada aluno possui um ritmo próprio de aprendizagem” (Engberg & Orvalho, 1995:105). Isto leva a que haja uma grande diversidade dentro da sala de aula. Este facto bem real, conduz os professores a procurarem “estratégias e procedimentos que proporcionem a todos os alunos as melhores condições e oportunidades de aprenderem e interagirem, solidária e cooperativamente, 2 Introdução desenvolvendo ao máximo as suas competências académicas e sociais.” (Leitão, 2010:20). Assim, compete ao professor desenvolver estratégias e metodologias apropriadas que se tornem facilitadores, tendo em conta cada educando, pois, “cada aluno aprende determinado conhecimento de acordo com as suas próprias características que provêm do seu próprio saber, dos seus hábitos de pensar e de agir” (Ana Cadima, 1996:46). A evolução do processo educativo do aluno vai depender também do tipo de diferenciação que o professor utiliza na gestão das atividades e na aprendizagem. O professor de Educação Física tem um papel preponderante porque o seu espaço de intervenção é mais abrangente e interativo. A sua relação com os alunos faz-se numa base dinâmica, rodeada por matérias que obrigam a desenvolver o espírito de entreajuda, cooperação, a autonomia, o respeito, a compreensão. A Educação Física poderá proporcionar a libertação de alguns preconceitos, o conhecimento real das capacidades e até indicar novas formas de ultrapassar certos obstáculos. É muito importante que os professores que vão iniciar um trabalho com os referidos alunos, tenham uma perceção positiva sobre o que são as Necessidades Educativas Especiais, tenham conhecimento mínimo de todo o trabalho necessário realizar ao longo do tempo e que apresentem uma atitude de flexibilização, aceitação e responsabilidade. 3 A Importância da Educação Física para Alunos com Necessidades Educativas Especiais REVISÃO DA LITERATURA 2 Revisão da Literatura 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Educação Especial 2.1.1. Evolução do conceito A forma como a sociedade encara a presença das pessoas portadoras de alguma deficiência está estreitamente ligado a fatores sociais, económicos e culturais, subjacentes a cada época. Foram inúmeras as atitudes assumidas pela sociedade para com estas pessoas ao longo da história. Desde serem abandonadas nas montanhas, condenadas à morte, a serem consideradas criaturas demoníacas e tratadas como loucas (que deviam ser afastadas de todos os outros), várias foram as soluções encontradas pela sociedade para dar resposta à situação destas pessoas que sempre foram colocadas à margem. Este tipo de atitude foi frequente até ao século XIX, quando começam a surgir instituições especializadas para manter os deficientes longe das pessoas “normais”, surgindo também a preocupação de criar condições para que tivessem uma vida digna. É durante o século XX que começam a surgir escolas para estas crianças, com Necessidades Educativas Especiais. Urgia a criação de um sistema que desse resposta educativa eficaz àquele que é diferente, mas que tem o direito de participar, agir e transformar a sociedade, em suma, colocar a criança especial com os colegas ditos normais. Em 1994, com a Declaração de Salamanca, assistiu-se a uma mudança do sistema educativo em vigor até então; a escola passou a acolher qualquer criança, independentemente das suas características físicas e/ou intelectuais, proporcionando-lhes meios para o seu desenvolvimento, tanto escolar como social. Assim, a Educação Especial deixou de ser somente a educação de determinado tipo de alunos, passando a ser o conjunto de estratégias e recursos que cada escola possui para responder à diversidade de características que cada um possui. 5 Revisão da Literatura 2.1.2. Educação Especial em Portugal A deficiência e lidar com ela acarretou atitudes e comportamentos de desprezo por parte das pessoas ditas normais, em todo o mundo, e Portugal não foi exceção. Vários decretos e despachos da educação especial foram surgindo ao longo dos tempos, mas é com o decreto-lei 319/81 de 23 de Agosto que se dá a abertura da escola regular a alunos com necessidades educativas especiais, definindo medidas do regime educativo especial, garantindo que todas as crianças e jovens com necessidades educativas especiais possam realizar, sempre que possível, a escolaridade nas escolas de ensino regular, que por sua vez, deve adaptar-se às condições físicas e intelectuais do público que a frequenta. Surge depois o despacho nº 173/91 de 23 de Outubro que vem reforçar o decreto-lei 319/81, sustentando que “as medidas constantes do regime educativo especial aplicam-se a todos os alunos com necessidades educativas especiais, optando-se pelas medidas mais integradoras e menos restritivas, de forma que as condições de frequência se aproximem das exigências do regime comum”. Atualmente está em vigor o decreto-lei 3/2008 de 7 de Janeiro que visa “promover a igualdade de oportunidades, valorizar a educação e promover a melhoria da qualidade do ensino. Um aspeto determinante dessa qualidade é a promoção de uma escola democrática e inclusiva, orientada para o sucesso educativo de todas as crianças e jovens. Nessa medida importa planear um sistema de educação flexível, pautado por uma política global integrada, que permita responder à diversidade de características e necessidades de todos os alunos que implicam a inclusão das crianças e jovens com necessidades educativas especiais no quadro de uma política de qualidade orientada para o sucesso educativo de todos os alunos”. Após a Declaração de Salamanca, afirmou-se a noção de escola inclusiva, capaz de acolher e reter, no seu meio, grupos de crianças e jovens tradicionalmente excluídos. Esta noção, 6 dada a sua dimensão Revisão da Literatura eminentemente social, tem merecido o apoio generalizado de profissionais, da comunidade científica e de pais. A educação inclusiva visa a equidade educativa, sendo que por esta se entende a garantia de igualdade, quer no acesso quer nos resultados. No quadro da equidade educativa, o sistema e as práticas educativas devem assegurar a gestão da diversidade da qual decorrem diferentes tipos de estratégias que permitam responder às necessidades educativas dos alunos. Deste modo, a escola inclusiva pressupõe individualização e personalização das estratégias educativas, enquanto método de prossecução do objetivo de promover competências universais que permitam a autonomia e o acesso à condução plena de cidadania por parte de todos. Todos os alunos têm necessidades educativas, trabalhadas no quadro da gestão da diversidade acima referida. Existem casos, porém, em que as necessidades se revestem de contornos muito específicos, exigindo a ativação de apoios especializados. Os apoios especializados visam responder às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações significativas ao nível da atividade e da participação, num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social e dando lugar à mobilização de serviços especializados para promover o potencial de funcionamento. Os apoios especializados podem implicar a adaptação de estratégias, recursos, conteúdos, processos, procedimentos e instrumentos, bem como a utilização de tecnologias de apoio. Portanto, não se trata só de medidas para os alunos, mas também de medidas de mudanças no contexto escolar. O referido decreto define ainda os apoios especializados a prestar nas escolas, com vista à criação de condições para a adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações significativas, ao nível da atividade e da participação nos vários domínios da vida. Define também “claramente o grupo alvo da educação especial, bem como as medidas organizativas, de funcionamento, de avaliação e de apoio 7 Revisão da Literatura que garantem a estes alunos o acesso e o sucesso educativo elevando os seus níveis de participação e as taxas de conclusão do ensino secundário e de acesso ao ensino superior”. (Pereira, 2008:17) 2.1.3. Conceito de Necessidades Educativas Especiais Um aluno com necessidades educativas especiais “apresenta algum problema de aprendizagem ao longo da sua escolarização que exige uma atenção mais específica e maiores recursos educacionais do que os necessários para os colegas da sua idade”. (Marchesi & Martin in Serra, 2008:24) Segundo a Declaração de Salamanca (1994:6), necessidades educativas especiais dirigem-se a “todas as crianças e jovens cujas carências se relacionam com deficiência ou dificuldades escolares, consequentemente, têm necessidades educativas especiais em determinado momento da sua escolaridade”. A escola deve ser uma escola para todos. É necessário estar sempre presente o reconhecimento do princípio da igualdade na educação: a educação de crianças e jovens com necessidades educativas especiais tem de ser alvo de atenção especial. Assim, tem a escola a obrigação e o compromisso de satisfazer as necessidades dos alunos, adaptando-se aos diversos estilos e ritmos de aprendizagem, de forma a proporcionar um desenvolvimento harmonioso de todos os seus alunos, através de currículos adequados, de uma flexibilização de organização escolar, bem como a utilização de recursos e de uma cooperação articulada com a comunidade. Um ensino eficaz e eficiente implica a adaptação às necessidades individuais do aluno, de forma que a sua participação seja bem-sucedida. (Auxter et al, 1993). Cabe, então, à escola, a criação das condições necessárias à integração destas crianças e também, envolvendo todos os agentes educativos, a transmissão de valores como a diversidade, o respeito, a solidariedade, a justiça, para que todos os membros da comunidade escolar possam conviver em harmonia. 8 Revisão da Literatura Cabe-nos a nós, professores, enquanto agentes educativos, o desenvolvimento de estratégias e metodologias que se tornem facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem, tendo em conta cada educando, pois cada um aprende de acordo com as suas características, vivências e motivações. 2.2. Educação Física 2.2.1. Educação Física na Escola De acordo com a UNESCO (1978), todo o ser humano tem direito à prática da Educação Física e do Desporto, os quais são essenciais ao desenvolvimento integral da sua personalidade. A liberdade de desenvolvimento físico, intelectual e moral através da Educação Física e do Desporto deve ser garantida no sistema educacional e em outros aspetos da vida social. Segundo Matos e Graça (1991), à disciplina de Educação Física é reconhecido um papel privilegiado e insubstituível na promoção e criação de hábitos de vida saudáveis, pela criação dos pressupostos para a aquisição de um estilo de vida ativo, impondo-se esta promoção como meta de qualquer sistema educativo, já que muitas crianças não terão, na sua vida, outra oportunidade de praticar atividade física organizada e regular a não ser as experiências proporcionadas nas aulas de Educação Física. A Educação Física é fundamental para estimular o desenvolvimento das crianças em diversos aspetos, nomeadamente cognitivo, socio-afetivo, moral e motor. Tem como objetivo auxiliar o desenvolvimento harmonioso do corpo e da mente, contribuindo para a formação das crianças, de uma forma geral, sobretudo ao nível da saúde, promovendo iguais competências úteis na vida em sociedade. Um dos desafios da Educação Física é educar os alunos para que venham a ser adultos com hábitos de prática de atividade física regular, sem nunca esquecer de proporcionar a alegria e o prazer através do movimento. 9 Revisão da Literatura 2.2.2. Benefícios da Educação Física A atividade física e, consequentemente, a Educação Física, produzem nas crianças, jovens e adultos diversos benefícios: cognitivos, fisiológicos, físicos. A Educação Física ajuda os alunos, com Necessidades Educativas Especiais e não só, a elevar o nível funcional das suas capacidades coordenativas e condicionais, como a resistência, a flexibilidade, a velocidade, o equilíbrio, o controlo da postura, o ritmo, a agilidade ou o controlo da orientação espacial. Por sua vez, a prática adequada de atividade física auxilia a desenvolver tecidos músculo-esqueléticos saudáveis, um sistema cardiovascular salutar e a manter um peso saudável. Está também associada a benefícios psicológicos, melhorando o controlo sobre sintomas de ansiedade e depressão. Ajuda a desenvolver a autonomia, o respeito, a cordialidade, a cooperação, a compreensão, facilitando a adoção de comportamentos saudáveis, tendo um papel fundamental em, por exemplo, evitar o consumo de álcool, tabaco e drogas. Em suma, a Educação Física desenvolve o psíquico e o físico do aluno, através de vivências e práticas como jogos, danças e lutas. A participação dos alunos com Necessidades Educativas Especiais nessas atividades proporciona-lhes diferentes oportunidades de movimento importantes para o seu desenvolvimento. Manter os alunos fisicamente ativos, trará benefícios que durarão uma vida inteira. 2.2.3. Educação Física e os alunos com Necessidades Educativas Especiais Segundo Riera (2000) a Educação Física é vista, de um modo global, como uma das áreas que mais promove o desenvolvimento integral do indivíduo, assim como a maturidade do aluno, uma vez que o seu trabalho também compreende tarefas de caráter coletivo, as quais permitem um 10 Revisão da Literatura melhor autoconhecimento, mais participação, combinando convívio e capacidade de resolução de problemas. A Educação Física para indivíduos portadores de deficiência tem como objetivo integrar e aplicar fundamentos teórico-práticos das várias áreas da motricidade humana, bem como outras áreas da saúde e da educação, em diferentes programas educacionais e de reabilitação, para indivíduos de todas as faixas etárias. Envolve um programa diversificado de atividades, jogos, atividades rítmicas expressivas cuja organização se baseia em interesses e no desenvolvimento das capacidades e limitações de indivíduos com deficiência. (Sherrill, 1998). Para Vatavuk (1996), a Educação Física poderá ajudar o indivíduo com deficiência a melhorar a motivação, a autoestima, a confiança e a independência. O fator divertimento, para além disso, deverá ser sempre equacionado, uma vez que o indivíduo deverá ter prazer na atividade que realiza. Deste modo, a Educação Física para alunos especiais visa proporcionar uma melhoria da capacidade física, por meio da exploração do meio físico e orientação espacial. Ao aluno com deficiência o trabalho motor proporciona uma maior independência e uma melhor interação com o seu “eu” e as pessoas que o rodeiam. (Cidade & Freitas, 2002). Todo o programa de Educação Física deve conter desafios, permitindo a participação destes indivíduos. Não obstante, respeitando as suas limitações, deve promover a autonomia e enfatizar o potencial no domínio motor. (Pedrinelli, 1994). Assim, todas as atividades devem ter em conta as potencialidades e limitações dos alunos e ser realizadas de forma constante, progressiva e regular. A sua realização deve ter um caráter lúdico e favorecer situações onde a criança aprenda a lidar com o seu insucesso e com o seu êxito. A variedade de atividade surge como um auxílio no aprimoramento da personalidade do indivíduo com deficiência. (Bueno & Resa, 1995). 11 Revisão da Literatura Devem ser tidos em conta alguns aspetos, na escolha de uma atividade física: • deve ser de carácter lúdico e recreativo, de forma a motivar o aluno; • o esforço na atividade deve ser contínuo e de baixa intensidade; • devem variar-se os locais e as condições da prática das atividades físicas; • as atividades devem envolver exercícios de perícia e de manipulação de objetos, de deslocamentos e equilíbrios, jogos, de modo a elevar o nível funcional das capacidades condicionais e coordenativas. • devem ainda realizar-se atividades individuais e de grupo, de forma a privilegiar o convívio com os colegas e a socialização. Ainda assim, muitas são as escolas que não se encontram preparadas para acolher convenientemente estes alunos. Na Educação Física, a falta de preparação dos docentes, a escassez de materiais e espaços têm sido fatores impeditivos para a participação ativa destes alunos. Independentemente das razões, muitos destes alunos não usufruem plenamente das aulas de Educação Física, não chegando, muitas das vezes, a participar ativamente nelas. Para que os alunos sejam verdadeiramente incluídos nas aulas de Educação física, não basta estar no mesmo espaço físico ou participar em algumas atividades; ao invés, devem fazer parte da turma e participar em todas as atividades durante a aula, ainda que necessitando do auxílio e apoio do professor e dos colegas. 12 A Importância da Educação Física para Alunos com Necessidades Educativas Especiais ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL 3 Metodologia 3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL Os alunos com Necessidades Educativas Especiais configuram uma realidade cada vez mais presente na escola, o que deverá levá-la a preparar-se, a preocupar-se e a informar-se. A escola terá que se adaptar a todas as crianças. Não podemos cair na tentação de subestimar este grupo de crianças. Ao invés, devemos apoiar, discutir, criar formas ou vias que proporcionem um leque suficientemente vasto de opções válidas suscetíveis de desenvolverem aptidões que todos temos e os alunos com Necessidades Educativas Especiais não devem ser exceção. A Educação Física deve promover o desenvolvimento global destes alunos, de forma a favorecer a adaptação e o equilíbrio que as suas limitações requerem. Deve ainda facilitar a sua independência e autonomia, bem como promover o processo de inclusão e aceitação no seu grupo social. Ao longo de 13 anos do meu percurso profissional, como professora de Educação Física (do 2º ciclo do Ensino Básico) de alguns destes alunos tão especiais, e com uma função extremamente importante, na procura de melhores estratégias para aligeirar as suas dificuldades, tive que me preparar para poder prestar todos os apoios necessários e adequados, fornecendo-lhes oportunidades de aprendizagem. Foi necessário desenvolver competências que me permitiram responder às necessidades educativas dos alunos, assim como atitudes positivas em relação à sua integração, pois não foi (nem é) fácil atuar com estes alunos, sobretudo quando as suas características implicam limitações de caráter motor permanente (exemplo: paralisia cerebral; espinha bífida; distrofia muscular). Foi necessário inovar. Inovar conhecimentos, criar e recriar, planear, reformular, descobrir, experimentar, provar e ensinar. Não apenas seguir receitas, mas modifica-las e adapta-las de acordo com a realidade, mudar a prática tantas quantas vezes foram necessárias, sempre acreditando no potencial dos alunos. No início constatei que pouco percebia do assunto, uma vez que a minha formação base não foi de todo suficiente; eu não possuía formação na área 14 Metodologia da Educação Especial, muito menos especialização na área da Atividade Física Adaptada. Da mesma forma, a escola ainda não estava suficientemente preparada para estes alunos, razão pela qual eram facilmente “esquecidos” ou “postos de parte”, tanto pelo professor, como pelos colegas. Foi necessário adquirir conhecimentos que permitissem ensinar, na mesma turma, alunos com capacidades diferentes e níveis diferentes, procurar as melhores estratégias e adequá-las, utilizando uma pedagogia diferenciada, para minimizar as suas dificuldades. Procurei sempre trabalhar em equipa, tanto com colegas de Educação Física como com os colegas da Educação Especial, colocando dúvidas, questões, solicitando sugestões. Procurei formação e informação na área da Educação Física, Educação Física Adaptada, Educação Especial e Necessidades Educativas Especiais. Contudo, não é fácil conseguir formação específica, não só pelas imensas particularidades inerentes à sua problemática, mas pela inexistência de uma formação que corresponde às especificidades com que cada professor lida no momento, e sobretudo pela limitada acessibilidade a ações de formação promovidas pelo Ministério da Educação, que no meu caso, como professora contratada, são praticamente nulas. Por este motivo, sinto que necessito de receber muito mais (in)formação específica para perceber a problemática dos alunos, a forma como atuar no sentido de elaborar estratégias para estar preparada no sentido de lhes prestar o apoio necessário e adequado, proporcionando-lhes oportunidades de aprendizagem. Caberá assim, aos órgãos de gestão investir mais na formação dos seus intervenientes, em prol de crianças tão especiais. Seria fulcral o apoio de um docente permanente, especializado em Atividade Física Adaptada nas aulas de Educação Física, de forma a poder ajudar o professor de Educação Física a desenvolver estratégias, métodos e técnicas mais eficazes para as aprendizagens dos alunos. Este apoio especializado é inexistente nas escolas, assim como os recursos/materiais específicos às necessidades educativas especiais dos alunos, o que dificulta de uma forma gravosa o 15 Metodologia desenvolvimento das aprendizagens, assim como a própria inclusão nas aulas de Educação Física. Na procura constante de informação, recorri e recorro, quase diariamente, a um utensílio que considero indispensável, a Internet, que muito me auxiliou, auxilia e ensina, para poder trabalhar com os alunos, na tentativa de resolução dos seus problemas. Foi meu intuito, através de atividades lúdicas, de jogos adaptados às condições específicas de cada aluno, durante a realização das atividades, “explorar as possibilidades que estas apresentam, trabalhar as suas potencialidades, trabalhar na sua auto valorização e autoestima e reconhecer as suas limitações.” (Silva, 1998) Trabalhei no sentido de proporcionar vivências, através de atividades lúdicas e “brincadeiras” e, posteriormente, fui modificando as atividades até chegar a jogos adaptados, consoante as necessidades dos alunos. Assim, os alunos tiveram a oportunidade de se organizarem em grupo, estabeleceram regras de convivência, vínculos sociais e afetivos, proporcionando o contacto físico e possibilitando o manuseamento de diferentes materiais e o desenvolvimento de habilidade (motoras, de perceção, de atenção e musicalidade). Foi necessário deixar de me preocupar em demasia em ensinar e transmitir conhecimentos; antes instalou-se a preocupação de criar condições e desenvolver estratégias que fossem ao encontro das aprendizagens, tendo sempre em conta a diferenciação. 3.1. Abordagem prática – acompanhamento de uma aluna com Necessidades Educativas Especiais (síndrome de Joubert) Tal como referi, foi necessário inovar conhecimentos, no sentido de lidar com as diferenças dos alunos. O caso concreto que decidi apresentar é o mais recente, na minha prática letiva. No corrente ano letivo, encontrandome a lecionar numa escola básica de Torres Vedras, numa turma de 6º ano, necessitei de reciclar tudo o que sei, para poder proporcionar a uma aluna, com Necessidades Educativas Especiais, aprendizagens que considero as mais positivas. 16 Metodologia A Tatiana é portadora da síndrome de Joubert. De acordo com os relatórios médicos apresenta ainda distrofia retiniana de tipo misto e potenciais evocados visuais, traduzindo resposta cortical evocada bilateralmente perturbada. O estudo da refração revelou hipermetropia e astigmatismo hipermetrópico e nistagmo horizontal. 3.1.1. Síndrome de Joubert Trata-se de uma alteração genética rara (1/100.000), também conhecida como Síndrome de Joubert-Boltshauser. Foi descrito pela primeira vez por Marie Joubert em 1969 e por Eugene Boltshauser em 1977, tendo sido descritos pouco mais de 200 casos na literatura médica. Pertence ao grupo das ataxias hereditárias, que são distúrbios de coordenação dos movimentos provocados por danos na estrutura ou no metabolismo do cerebelo, levando a manifestações clínicas evidentes de ataxia, perda do tónus muscular, perda da coordenação motora, nistagmo (movimentos oculares anormais), alteração de marcha e de postura, refletindo a interrupção dos circuitos corticais e nucleares cerebelares. (Campistol, 2002) Principais características: • O subdesenvolvimento (hipoplasia) ou total falta (aplasia) dos vermis cerebelares; • Atraso no desenvolvimento/défice mental de gravidade variável; • Dificuldade de coordenação dos movimentos musculares voluntários (movimentos descoordenados – ataxia); • Diminuição do tónus muscular (hipotonia); • Características faciais anormais (testa sobrancelhas arqueadas; boca aberta); • Apraxia oculomotora; • Distrofia retiniana; • Hiperpneia (padrões respiratórios anormais); • Apneia do sono. 17 proeminente; Metodologia 3.1.2. Intervenção na Ação Educativa Diagnóstico: Após avaliação feita pela equipa da Educação Especial, verifica-se que, em termos de desenvolvimento, a aluna revela défice cognitivo ligeiro, com maior investimento na motricidade fina, linguagem e cognição verbal, no entanto com valores abaixo da média para a sua faixa etária. As áreas onde revela maiores dificuldades são a motricidade grosseira, cognição verbal e autonomia. Medidas Educativas: A aluna enquadra-se na definição de Necessidades Educativas Especiais de caráter permanente no domínio da cognição, pois tem limitações significativas ao nível das funções do corpo, nomeadamente, motricidade grosseira, cognição não-verbal, mobilidade e autonomia, que se reflectem de forma grave e continuada em áreas da actividade e participação no âmbito das aprendizagens. Beneficia de um Currículo Específico Individual, artigo 21º do Decreto-Lei 3/2008 de 7 de Janeiro e Redução de Turma, ao abrigo do despacho nº 5106-A/2012 de 12 de Abril, de forma a promover o seu sucesso no âmbito de aprendizagens adaptadas às suas necessidades específicas. Competências: Promover a inclusão educativa e social; o acesso e sucesso educativo; a autonomia e a estabilidade emocional; a igualdade de oportunidades e a preparação para o prosseguimento de estudos ou para uma adequada preparação para a vida profissional. Competências Transversais: cumprir regras de funcionamento da aula e do espaço escolar; empenhar-se na realização das tarefas propostas de forma mais autónoma possível; aumentar a sua capacidade de concentração e de realização; relacionar-se adequadamente com colegas e adultos; cooperar com os colegas em atividades de grupo. Estratégias: privilegiar atividades concretas e funcionais, aproveitando momentos da vida diária e escolar; respeitar o ritmo de resposta, de compreensão e de aquisição de conhecimentos; necessidade de treino e repetição para solidificar aquisições; ter em conta os gostos pessoais e aquilo a que atribui significado; ter em conta a aplicabilidade prática das aprendizagens e sua utilidade na vida futura; valorizar os sucessos e incentivar a aluna reforçando a autoestima. 18 Metodologia Recursos Humanos: Docente de Educação Especial em apoio direto; Auxiliar de Ação Educativa (supervisão e acompanhamento para tarefas de orientação e autonomia fora das aulas); acompanhamento psicológico e terapia da fala; parceria de um segundo docente nas aulas de Educação Física, Educação Musical, Educação Visual e Educação Tecnológica; Encarregada de Educação (informação do contexto familiar, das características, dificuldades, comportamento da aluna, bem como informações médicas relativas à sua problemática). Avaliação: continua e formativa, tendo em conta o perfil da aluna. No âmbito da disciplina de Educação Física, após contacto com a aluna e segundo o Relatório de Avaliação Diagnóstica Inicial, elaborado por mim e pela docente da parceria (docente que lhe presta um apoio personalizado), concluiu-se que as suas principais dificuldades são: • Coordenação geral. • Compreensão dos exercícios e tarefas a desenvolver. • Organização espacial, assim como o cumprimento de um trajeto prédefinido. • Concentração na tarefa solicitada. • Concluir uma tarefa de forma autónoma. • Organização e estruturação rítmica. • Sentido de lateralidade, noção e imagem corporal. • Equilíbrio estático e dinâmico, com algumas dificuldades. • Dificuldade na preensão e manuseamento de bolas, assim como na maioria dos materiais portáteis, tais como raquetes, cordas, arcos etc. • Dificuldade em realizar exercícios específicos de conjugação de várias habilidades, tais como, correr, chutar uma bola em movimento, saltar à corda, saltar com apoio de um só pé ou em simultâneo, transpor objetos. • Coordenação óculo-manual. 19 Metodologia • Coordenação óculo-pedal. Competências e estratégias desenvolvidas: • Desenvolvimento da Coordenação geral; • Desenvolvimento da orientação, organização espacial e sentido rítmico; • Desenvolvimento da concentração e execução assertiva na tarefa; • Desenvolvimento da lateralidade, noção e imagem corporal; • Desenvolvimento do equilíbrio estático e dinâmico; • Desenvolvimento da motricidade fina através da preensão e manuseamento correto de todos os materiais (raquetes, arcos, bolas, etc.); • Desenvolvimento de exercícios específicos de conjugação de várias habilidades, tais como, correr, chutar uma bola em movimento, saltar à corda, saltar com apoio de um só pé ou em simultâneo, transpor objetos; • Desenvolvimento da coordenação óculo-manual; • Desenvolvimento da coordenação óculo-pedal; • Promover a relação aluno-professor; • Promover a relação entre os alunos; • Promover o trabalho em equipa; • Utilização de feedbacks positivos; • Promover a autoestima; • Promover a autonomia 20 Metodologia 3.1.3. Participação na atividade “Gala de S. Gonçalo” Durante o 1º período, foi realizada uma atividade de comemoração/festejo do padroeiro da escola, a Gala de S. Gonçalo, na qual participaram todos os alunos dos 6ºanos. A aluna, ao tomar conhecimento da comemoração, manifestou o seu desejo de participar na atividade. A turma em questão participaria numa coreografia, o que supunha trabalho de coordenação individual e coletiva. A minha reação inicial, perante esta vontade expressa, embora não o tivesse demonstrado, foi pensar em dissuadi-la, no sentido de evitar a sua exposição pública, a exposição das suas dificuldades perante a comunidade escolar. Tendo reconsiderado, resolvi integrar a aluna nas minhas aulas, no período de tempo necessário à exercitação da coreografia (pois a aluna tem apoio personalizado com um professor de Educação Física), no sentido de que esta percebesse os movimentos a trabalhar, a coordenação com o par, entre outros. Trabalhar a coordenação de uma menina que não tem o mesmo sentido de coordenação dos outros, da execução correta dos movimentos, não foi fácil. Na maior parte das vezes, quando ela incorporava um movimento a executar, já os seus colegas estavam a executar o movimento seguinte, o que conduziu a alguns contratempos. Foi um exercício de paciência, para ela e para os colegas; contudo, ninguém baixou os braços. Fizemos vários ensaios, várias repetições da coreografia, ajustando o ritmo à capacidade da aluna; fizemos treino individualizado, tanto comigo, como com os colegas (que não demonstravam dificuldades) para a ajudar a executar e corrigir os exercícios e foram sempre valorizados os pequenos progressos, incentivando sempre a aluna a melhorar. O resultado foi a participação efetiva e ativa da aluna na gala, cuja coreografia, embora não tivesse saído perfeita, não o foi pela participação da aluna, mas porque 100 meninos não conseguem concretizar na perfeição uma coreografia exercitada em apenas três semanas. No entanto, foi excelente testemunhar a alegria com que ela participou, perceber a satisfação da sua mãe por verificar os progressos feitos, em termos físicos, e, sobretudo, em termos humanos, o enriquecimento de que todos fomos alvo, com a sua presença. A aluna 21 Metodologia ultrapassou a barreira imposta pela síndrome de que é portadora, os colegas ultrapassaram o “síndrome da indiferença”, quando lidam com meninos que não são iguais a si, tornando-se seres humanos mais atentos às necessidades dos outros, mais sensíveis aos problemas dos seus semelhantes, em suma, mais ricos. E eu ultrapassei a perceção que assalta todos os professores: o protecionismo que assumimos, relativamente a estes meninos que, por vezes nos impede de tentar, alcançando uma escola mais inclusiva e avançando para uma sociedade mais justa. Por conseguinte, penso ser justo avaliar a minha intervenção (que ainda não terminou) como positiva, na medida em que procuro ir ao encontro do que está previsto no Projeto Educativo Individual da aluna. Com efeito, apesar das reticências iniciais, promovi a sua inclusão, integrando-a numa atividade de grupo que também lhe dá instrumentos para o sucesso nas relações sociais; em qualquer relação social, o resultado positivo conseguido em quaisquer tarefas, depende, em boa medida, do nível de entendimento e de esforço que cada ser humano empreende, de como “afina agulhas para que a música seja o mais melodiosa possível”. Creio que a aluna percebeu o quanto é importante sermos tolerantes (como o foram os seus colegas) e persistentes (como ela é) e de que forma o entusiasmo e o esforço nos torna fortes. Só uma atitude de esforço conduz ao sucesso. Por outro lado e, apesar do esforço coletivo, nada seria possível se não desenvolvesse a sua autonomia; é esta competência que lhe garante adequação social. E é essa característica (que lhe é inerente, porque se trata de uma menina que procura conseguir fazer as coisas sozinha) que a escola está a ampliar, dotando-a de meios com vista à sua concretização/realização pessoal. Por esta razão, sinto-me satisfeita com o trabalho que me encontro a desenvolver. Sou parte integrante de um processo importantíssimo. Para concluir, espero estar a conseguir “intervir no processo de construção do ser humano, na aquisição de hábitos e costumes por parte dos alunos, na formação do seu caráter. Educar, além de incidir sobre o saber, o saber fazer e o saber ser, deve preparar, inclusive, para o saber viver com”. (Batista, 2003) “Eles não sabem nem sonham 22 Metodologia Que o sonho comanda a vida E que sempre que o homem sonha O mundo pula e avança Como bola colorida Entre as mãos de uma criança” (Manuel Freire, “Pedra Filosofal”) 23 A Importância da Educação Física para Alunos com Necessidades Educativas Especiais CONCLUSÕES 4 Conclusões 4. CONCLUSÕES Com o passar dos anos, a Educação Física evoluiu e deixou de ser entendida apenas como um momento de lazer na escola, passando a ser um processo de aprendizagem, no qual os professores têm responsabilidades pedagógicas a cumprir e as atividades recreativas e rítmicas tornaram-se meios essenciais para o desenvolvimento de valores morais e éticos, culturais e educacionais. O professor de Educação Física deve desenvolver as potencialidades dos seus alunos, portadores de Necessidades Educativas Especiais, e não exclui-los das aulas. Não deve apenas acolhê-los no espaço físico, mas adaptar métodos “… que contemplem todos os alunos, que permitam a participação efetiva de todos dentro das suas possibilidades, que promova a sua autonomia e que enfatize o seu potencial…” (Pedrinelli, 1994). “… Com criatividade podem usar o corpo, o movimento, o jogo, a expressão e o desporto como oportunidades para enaltecer a diferença e proporcionar aos alunos experiências que realcem a cooperação e a solidariedade”. (Rodrigues, 2003) Estes alunos são um exemplo de força de vontade: a garra com que tentam realizar as atividades propostas, aliada à motivação dos professores, são aspetos que determinam o sucesso das atividades, não só para os próprios alunos, mas também como exemplo para todos os outros. Posso concluir que os benefícios são inúmeros, não obstante as limitações que estes alunos apresentam, em consequência da sua patologia, e apesar das condições de atendimento, no que diz respeito a espaço físico (inadequado) e aos poucos profissionais especializados para os acompanhar. O caso prático apresentado foi apenas um pequeno exemplo de como a Educação Física é realmente importante para os alunos com Necessidades Educativas Especiais. Em suma, é “… um espaço privilegiado que promove as relações interpessoais, a autoestima e a confiança, valorizando-se aquilo que cada indivíduo é capaz de fazer em função das suas possibilidades e limitações pessoais…”. (Marco, 1995:77) 25 A Importância da Educação Física para Alunos com Necessidades Educativas Especiais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 5 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Auxter, D. Pyfer, J.; Heutting, C. (1993). Adapted Physical Education and Recreation. Mosby-year Book Inc. St. Louis. Missouri. Bueno, S.; Resa, J. (1995). 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