Notas de Aula de Cálculo I do dia 07/06/2013 - Matemática Profa. Dra. Thaís Fernanda Mendes Monis. 0.1 Função Inversa Definição 1. Uma função f : A → C é injetiva se f (x) 6= f (y) para todo x 6= y, x, y ∈ A. Seja f : A → C uma função injetiva. Seja B = {f (x) | x ∈ A} o conjunto imagem da função f . Sendo f injetiva, temos que para cada y ∈ B existe um único x ∈ A tal que f (x) = y. Assim, está bem definida a função g : B → A dada pela condição g(y) = x ⇐⇒ f (x) = y. A função g assim definida é denominada função inversa de f : A → B = Im(f ) e é denotada por g = f −1 . Dizemos, nesse caso, que f é uma função inversível. Observe que: • f inversível ⇒ f −1 inversível e (f −1 )−1 = f . Exercício 1. Seja f : A → B uma função inversível. Prove que 1. f (f −1 (y)) = y para todo y ∈ B. 2. f −1 (f (x)) = x para todo x ∈ A. Observação 1. Seja f : I → R uma função definida em um intervalo I de R. Suponha f contínua em I. Então f é injetiva se, e somente se, f é estritamente crescente ou estritamente decrescente. Exemplo 1. Considere a função exponencial f (x) = ex . Temos que Dom(f ) = R e Im(f ) = (0, +∞). Além disso, f é estritamente crescente. Assim, f é injetiva. Sua inversa, a função ln, é definida por ln : (0, +∞) → R ln(y) = x ⇐⇒ ex = y. Exemplo 2. A função f (x) = x2 é estritamente crescente em [0, +∞). Ainda, f ([0, +∞)) = [0, +∞). Assim, f restrita a esse intervalo admite inversa g : [0, +∞) → [0, +∞) definida por g(y) = x ⇐⇒ x2 = y, x ≥ 0. A função g é a nossa conhecida função raiz quadrada. Observação 2. Nas figuras 1.pdf e 2.pdf evidenciamos a simetria dos gráficos da função f e de sua inversa com respeito a reta x = y. Mais geralmente, já demonstramos em sala de aula que se f é inversível com função inversa g, então os gráficos de f e de g são simétricos com respeito a reta x = y uma vez que (x, y) ∈ Graf(f ) ⇔ y = f (x) ⇔ g(y) = x ⇔ (y, x) ∈ Graf(g). 1 1.pdf Figura 1: Exemplo 1 2 2.pdf Figura 2: Exemplo 2 0.2 Inversas Trigonométricas 0.2.1 Função arco-seno A função seno restrita ao intervalo [−π/2, π/2] é estritamente crescente. Ainda, a imagem do intervalo [−π/2, π/2] pela função seno é o intervalo [−1, 1]. Assim, fica bem definida a função arco-seno, arc sen : [−1, 1] → [−π/2, π/2] dada por arc sen(x) = y ⇔ sen(y) = x, −π/2 ≤ y ≤ π/2 • arc sen(1) = π/2 pois π/2 ∈ [−π/2, π/2] e sen(π/2) = 1. √ ! π √3 3 π π = pois ∈ [−π/2, π/2] e sen = . 2 3 3 3 2 Exemplo 3. • arc sen 1 • arc sen − 2 =− π 1 π −π pois ∈ [−π/2, π/2] e sen − =− . 6 6 6 2 3 Figura 3: Gráficos das funções seno e arco-seno 0.2.2 Função arco-tangente Sobre a função tangente, temos o seguinte: é estritamente crescente no intervalo aberto (−π/2, π/2). Ainda, a função tangente é contínua nesse intervalo e, um vez que lim tg(x) = −∞ e x→− π2 − lim tg(x) = +∞ x→− π2 + segue que a imagem do intervalo (−π/2, π/2) pela função tangente é a reta real R. A função arco-tangente é então definida do seguinte modo: arc tg : R → (−π/2, π/2) dada por arc tg(x) = y ⇔ tg(y) = x, y ∈ (−π/2, π/2) √ Exercício 2. Calcule arc tg(− 3). √ √ sen(y) Solução: arc tg(− 3) = y ∈ (−π/2, π/2) se, e somente se, tg(y) = = − 3. cos(y) √ Portanto, sen(y) = − 3cos(y). Substituindo essa última identidade em cos2 (y) + sen2 (y) = 1 obtemos cos2 (y) + 3cos2 (y) = 1 ⇒ cos2 (y) = 1/4. 4 Como √ y ∈ (−π/2, π/2), temos cos(y) ≥ 0 e, portanto, cos(y) = 1/2. Segue que sen(y) = − 3/2. Portanto, y√= −π/3. Assim, arc tg(− 3) = −π/3. √ Exercício 3. Determine arc tg(1) e arc tg( 3/3). Figura 4: Gráficos das funções tangente e arco-tangente 0.2.3 Derivada de função inversa Suponha f uma função inversível e seja f −1 a sua função inversa. Então, para todo x ∈ Dom(f −1 ) tem-se f (f −1 (x)) = x. (1) Suponha agora que f e f −1 são diferenciáveis. Derivando ambos os membros de (1), obtemos f 0 (f −1 (x)) · (f −1 )0 (x) = 1 seguindo que (f −1 )0 (x) = 1 f 0 (f −1 (x)) Finalizo essa discussão com o seguinte resultado: 5 (2) Teorema 1. Seja f uma função inversível, com função inversa g. Se f for derivável em q = g(p), com f 0 (q) 6= 0, e se g for contínua em p, então g será derivável em p. Demonstração. g 0 (p) = lim y→p g(y) − g(p) y−p (3) Para calcular o limite acima, considere a substituição: x = g(y). Quando y → p, desde que g é contínua em p, temos que x → g(p) = q. Ainda, desde que g é a função inversa de f , temos que x = g(y) se, e somente se, f (x) = y. Assim, essa substituição nos dá: g 0 (p) = lim y→p g(y) − g(p) x−q = lim = lim x→q y−p f (x) − f (q) x→q 1 f (x)−f (q) x−q = 1 f 0 (q) (4) 0.3 As derivadas de arco-seno e arco-tangente Proposição 1. arc sen0 (x) = √ 1 , para todo −1 < x < 1. 1 − x2 Demonstração. Derivando os membros da igualdade sen(arc sen(x)) = x obtem-se sen0 (arc sen (x)) · arc sen’(x) = 1 Temos sen0 (arc sen(x)) = cos(arc sen(x)) Assim, para x ∈ (−1, 1) tem-se arc sen0 (x) = 1 cos(arc sen(x)) Vamos agora determinar cos(arc sen(x)): cos2 (arc sen(x)) + sen2 (arc sen(x)) = 1 cos2 (arc sen(x)) + x2 = 1 cos2 (arc sen(x)) = 1 − x2 Como arc sen(x) ∈ (−π/2, π/2), temos cos(arc sen(x)) > 0. Logo, √ cos(arc sen(x)) = 1 − x2 (5) (6) (7) (8) Portanto, arc sen0 (x) = √ 1 1 − x2 (9) 6 Proposição 2. arc tg 0 (x) = 1 para todo x ∈ R. 1 + x2 Demonstração. Derivando os membros da igualdade tg(arc tg(x)) = x obtem-se tg0 (arc tg (x)) · arc tg ’ (x) = 1 Temos tg0 (arc tg(x)) = 1 cos2 (arc tg(x)) Assim, para todo x ∈ R tem-se arc tg 0 (x) = cos2 (arc tg(x)) Vamos agora determinar cos2 (arc tg(x)): cos2 (arc tg(x)) + sen2 (arc tg(x)) = 1 cos2 (arc tg(x)) sen2 (arc tg(x)) 1 + = 2 2 2 cos (arc tg(x)) cos (arc tg(x)) cos (arc tg(x)) 1 1 + x2 = 2 cos (arc tg(x)) (10) (11) (12) Logo, arc tg 0 (x) = 1 1 + x2 (13) Exercício 4. Determine a derivada de y = arc sen(x2 ) e de f (x) = x arc tg(3x). √ Exercício 5. Mostre que a função f (x) = 3 x não é derivável em x = 0. 7