EXPECTATIVAS E VIVÊNCIAS DE EDUCADORES E FAMÍLIAS NA CRECHE
Flávia Maria Cabral de Almeida
Vera Maria Ramos de Vasconcellos
Programa de Pós-Graduação em Educação - UERJ
CAPES
Eixo temático: 4. Pesquisa, Políticas Públicas e Direito à Educação
Comunicação
O objetivo do trabalho é por em debate as expectativas e vivências de educadores e
famílias de uma creche pública municipal da Cidade do Rio de Janeiro. O estudo é parte da
pesquisa de doutorado intitulada FAMÍLIA E EDUCADORES DA INFÂNCIA-UM DIÁLOGO
POSSÍVEL, defendida em 2013 no ProPEd-Uerj pela primeira autora e orientada pela
segunda. Na pesquisa, um grupo de 40 famílias e 20 educadores foi acompanhado durante
três anos (2009 – 2011), num estudo de caso longitudinal. Os instrumentos foram entrevista,
questionários, diário de bordo e videogravação. A perspectiva teórica adotada tem em
Vygotsky seu autor principal, assim entende conflitos como parte do jogo de forças comuns
às relações humanas. Na tese foram analisados oito “eixos temáticos”: 1. expectativas e
vivências entre famílias e educadores, 2. os motivos para o diálogo, 3. estratégias utilizadas,
4. dificuldades na promoção do diálogo, 5. negociações sobre o cuidado e educação à
criança, 6. a inserção à creche, 7. a opinião de famílias sobre o desenvolvimento da criança,
e 8. a creche como parte de uma rede de apoio. Neste artigo será apresentado o primeiro
eixo, com dados qualitativos e quantitativos das "famílias" e dos "educadores", e em seguida
as considerações de ambos. No final, novas considerações sobre o tema em estudo são
produzidas, complementando ou problematizando os resultados encontrados em pesquisas
anteriores.
Palavras-chave: infância, família-creche, formação de professores
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar as expectativas e vivências de famílias e
educadores em uma creche. Esta discussão é parte da pesquisa que originou a tese de
doutorado "Famílias e educadores da infância: um diálogo possível", da primeira autora, sob
orientação da segunda, no Programa da Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de
Educação da UERJ.
A palavra "família" apresenta inúmeras definições. Na pesquisa, nos amparamos na
que afirma ser a família uma organização de pessoas unidas através de laços de sangue,
parentesco e/ou afinidade, que podem coabitar ou não, tendo como um dos objetivos em
comum o cuidado de seus membros entre si. Segundo Dessen e Braz (2005), a família é um
contexto que promove o desenvolvimento e a socialização de seus membros, ao mesmo
tempo em que ela está em desenvolvimento. Para tanto, torna-se fundamental considerar a
qualidade das relações estabelecidas entre eles. Saraceno e Naldini (2003) afirmam que a
família não sofre passivamente as mudanças sociais, mas são agentes que contribuem na
definição de formas e sentidos dessas mudanças, embora com diferentes graus de
liberdade.
A creche onde realizamos a pesquisa é uma das cinco que faziam parte da pesquisa
maior coordenada pela segunda autora1. Esta localizada na zona norte da Cidade do Rio de
Janeiro e recebe crianças de seis meses a três anos e 11 meses. As crianças são divididas
em grupos e cada um está sob a responsabilidade de professores e agentes de educação
infantil. As famílias são moradoras de bairros próximos à instituição e pertencem a camada
da população de nível socioeconômico médio-baixo ou desfavorecido.
O tema principal da nossa pesquisa (diálogo família-creche) foi construído a partir de
reflexões no grupo de pesquisa e na experiência profissional da primeira autora, que é
psicóloga em creches públicas municipais2. A perspectiva teórica norteadora do grupo de
pesquisa e, consequentemente, da tese é a abordagem sócio-histórica cultural, tendo Lev
Vygotsky (2008), como referência principal. A justificativa para a escolha do tema parte de
pressupostos oriundos desta teoria:
(i) o desenvolvimento é algo que ocorre em ambientes culturalmente organizados.
Tradicionalmente, as pesquisas sobre desenvolvimento humano têm retratado a criança em
seu ambiente familiar. A creche, por contar com atividades, rotinas e estratégias para a
aprendizagem e o desenvolvimento das crianças, pode também ser considerada um
contexto de desenvolvimento;
(ii) pensar a educação da infância é focalizar a criança e considerar as
1
2
Agente auxiliar de creche: educadores da infância carioca (FAPERJ, E-26/102.961/2008).
Secretaria Municipal de Educação - Rio Bonito/RJ.
transformações que ocorrem em seu contexto. Nesta pesquisa, os mais próximos são a
família e a creche, que sofrem transformações ao mesmo tempo em que transformam. Na
pesquisa, investigar o diálogo entre família e creche proporcionou a oportunidade de ambos
refletirem sobre as atitudes e crenças de um para com o outro, de modo que o diálogo entre
eles fosse qualitativamente transformado, acabando por afetar a própria criança;
(iii) Vygotsky afirma que o aprendizado se dá através das interações sociais.
Portanto, o diálogo entre famílias e educadores pode fazer com que ambos aprendam mais
sobre a criança. Quando propomos questionamentos e experiências qualitativamente
diferenciadas para os adultos (familiares e educadores), as transformações que ocorrem
afetam as vivências das crianças.
O DIÁLOGO CRECHE-FAMÍLIA EM OUTRAS PESQUISAS
Autores que pesquisam a relação creche-família e que destacaram as expectativas e
experiências desta relação, chamam a atenção sobre os conflitos existentes e que
demandam dos sujeitos uma crítica sobre como vem se dando esta relação (MARANHÃO;
SARTI, 2008; SEABRA; SEIDL-DE-MOURA, 2009; MACIEL, 2010; RAPOPORT; BECKER;
PICCININI, 2011; BAHIA; MAGALHÃES; PONTES, 2011).
As pesquisas demonstram que esses conflitos dizem respeito à falta de confiança ou
à disputa real ou imaginária pelo amor da criança, no caso das famílias, que tinham também
de lidar com o fato de não ser mais a única referência para seu filho. Embora escolham a
creche como opção de cuidado alternativo, as mães podem designar para si funções que
não desejam compartilhar, como recurso/ideia de que é indispensável para o filho. Por outro
lado, alguns educadores se veem como a "mãe" idealizada da infância, disputando com as
famílias o amor e o melhor conhecimento sobre a criança.
Quando a criança é bem pequena, mãe e educadoras costumam ter funções muito
semelhantes, que chegam a ser confundidas. No entanto, cada uma possui tempos e afetos
diferenciados, que nem sempre são evidentes nessa relação: a mãe possui expectativas
antes mesmo de a criança nascer, com um vínculo mais passional e individualizado,
enquanto que a educadora cria um vínculo mais pontual, com um grupo de crianças,
desenvolvendo experiências e expectativas atreladas ao trabalho coletivo.
As pesquisas apontam que educadores e famílias têm vivenciado pouco esse
diálogo. Muitas vezes os encontros se restringem a momentos da recepção e despedida ou
a dias de eventos específicos, como reuniões de pais ou festas organizadas pela creche. O
diálogo existente acaba se restringindo à solução de problemas imediatos. São poucas as
oportunidades oferecidas para as famílias exporem suas dúvidas, medos, inseguranças,
pois nas reuniões apenas recebem informações dos professores. Estes, por sua vez,
recebem as famílias, sem terem oportunidade de darem a atenção individualizada
requisitada por elas, pelas atribuições cotidianas de um trabalho coletivo.
As pesquisas analisadas demonstraram que a relação creche-família vem sendo
caracterizada como uma relação conflituosa. Os encontros na creche são pontuados por
questões sobre a criança, sem focar na relação com as famílias, na negociação de
expectativas, valores e conhecimentos. A perspectiva teórica adotada neste trabalho
entende conflitos como parte evidente do jogo de forças comuns nas relações humanas.
Escondê-los em nome de uma boa convivência, só mascara os embates que necessitam
emergir, pois a transformação ocorre no movimento. Ao evidenciar os conflitos, estes podem
ser confrontados, gerando negociações no tocante ao cuidado e à educação da criança.
Cabe aos professores reconhecer as práticas das famílias, isentando-se de julgá-las
como inapropriados. As famílias, por sua vez, devem reconhecer que a instituição possui
normas coletivas que precisam ser conhecidas, mas que podem ser negociadas.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi um estudo de caso longitudinal. Acompanhamos um grupo de
educadores, crianças e suas famílias durante três anos (2009 – 2011). Durante este período
um extenso material foi produzido, com fontes de dados variadas: questionários, entrevistas,
videogravação e diário de bordo. Todo este material permitiu uma visão abrangente do
objeto de estudo (ALVES; AZEVEDO, 2010). Alguns aspectos da relação creche-família
foram colocados em destaque
analisando-os a partir de oito “eixos temáticos”: 1.
expectativas e vivências entre famílias e educadores, 2. os motivos para o diálogo, 3.
estratégias utilizadas, 4. dificuldades na promoção do diálogo, 5. negociações sobre o
cuidado e educação à criança, 6. a inserção à creche, 7. a opinião de famílias sobre o
desenvolvimento da criança, e 8. a creche como parte de uma rede de apoio. Neste
trabalho, apresentaremos as análises produzidas sob o primeiro eixo.
AS EXPECTATIVAS E VIVÊNCIAS DE EDUCADORES E FAMÍLIAS NA CRECHE E O
DIÁLOGO ENTRE ELES
Apresentaremos os dados das "famílias" e dos "educadores", para depois discutir em
conjunto as considerações de ambos. A análise põe em diálogo os dados qualitativos e
quantitativos, relativizando-os a partir do referencial teórico. No final foram produzidas novas
considerações sobre o tema em estudo, complementando ou problematizando os resultados
encontrados em pesquisas anteriores.
- Famílias
As famílias, no período correspondente à investigação (2009-2011), mostraram-se
satisfeitas com os educadores. Justificaram suas satisfações dizendo que os educadores
eram atenciosos, forneciam informações sobre a dinâmica da creche e do desenvolvimento
das crianças
Quando eu estou trazendo minha filha, eles sempre estão
falando como ela está, se ela hoje estava meio “caidinha” ou
com algum problema. Eles estão sempre chamando, sempre
perguntando, sempre querendo saber da criança, sempre
querendo estar bem informado (família 63).
Estes relatos são contrários aos trazidos por Bahia, Magalhães e Pontes (2011) cuja
pesquisa demonstrou que familiares encontravam um ambiente hostil às suas angústias e
dúvidas.
Os dados de nossa pesquisa apontam que, em 2009, 69,2% das famílias estavam
satisfeitas com a instituição; em 2010, o relacionamento era considerado ótimo por 37% e
muito bom por 29,6%. Ou seja, as opiniões favoráveis constituíam mais de 50% dos
participantes. Em 2011, 100% das famílias que estavam participando da pesquisa desde
2009 elogiaram a creche. No discurso dos familiares identificamos algumas características
dos educadores que podem contribuir para o estabelecimento ou manutenção de um bom
relacionamento. São eles: preocupação, perguntar o que acontece em casa, ser paciente
com famílias intransigentes ou consideradas agressivas, tratar bem a criança de modo que
queira ir para a creche.
As famílias desejavam um espaço onde podiam ser ouvidas, sabendo que seus filhos
estavam sendo serão bem tratados e que por isso gostavam de ficar na creche,
especialmente se a criança começava a frequentá-la ainda bebê
não tenho do que reclamar. Estão sempre preocupados,
perguntam o que que acontece, estão sempre perguntando,
sempre falando, sempre quiseram a melhora dos meus
filhos (família 2).
Estes dados podem dialogar com a pesquisa de Rapoport, Martins e Piccinini (2011)
sobre a preferência de mães em colocar o filho na creche, a outro cuidado alternativo. Na
nossa pesquisa, poucas famílias citaram aspectos negativos da creche e a possível
justificativa para isto é que na creche em estudo estava sendo realizada uma pesquisa
sobre a qualidade do atendimento e a formação dos educadores 4. O tema “família” foi
3
Cada participante recebeu um número de identificação.
4
Agente auxiliar de creche: educadoras da infância carioca (2009 – 2011) FAPERJ - E-26/102.961/2008,
incluído nos estudos do grupo de educadores5, motivando-os para ações de maior atenção,
acolhimento e promoção de diálogo. Também devemos levar em consideração que muitas
famílias podem ter restringido os comentários negativos, por conhecerem o vínculo préexistente entre a pesquisadora e os educadores.
Uma das críticas apareceu na fala de uma mãe sobre a presença masculina entre os
educadores da creche
Eu não aceitava é... recreador homem, porque a gente vê
muita coisa na televisão então eu não aceitava (família 3).
Esta reação é esperada por historicamente não ser comum, em instituições para
crianças pequenas, a presença de rapazes como educadores, cargo majoritariamente
ocupado por mulheres6.
- Educadores
A análise das respostas dos educadores indicou que, em geral, eles se mostraram
solícitos às dúvidas e ansiedades das famílias, procurando esclarecê-las sobre o que
acontecia no cotidiano da creche e buscando manter um bom relacionamento. Com isso,
acabavam atendendo aos requisitos esperados por elas
Tem aquele que gosta de... reluta em certas coisas, mas
com jeito a gente consegue contornar e mostrar e esclarecer
a eles. Eu não tenho problema nenhum com eles (educador
5).
Dos
educadores
entrevistados,
10%
demonstrou
preocupação
de
serem
apresentados como pessoas que possuem um papel importante no desenvolvimento da
criança. Para muitos, incomodava o fato de que algumas famílias viam a instituição como
lugar de assistência. Embora seja esse o papel histórico da creche, os educadores se
sentiam motivados com o desafio de apresentar a creche como espaço de aprendizagem e
desenvolvimento
(…) alguns não têm noção do papel da creche, mas eu
também não tinha. (…) alguns aqui não têm muito interesse,
eles deixam o filho aqui e quer vir pegar arrumado e
limpinho. Não pensam na parte pedagógica e no que vai
desenvolver, aprender, socializar. Muitos não têm essa
visão. Alguns que comparecem às reuniões estão
começando a mudar essa visão, sabe que aqui tem a parte
pedagógica (educador 13).
pesquisa sob coordenação da professora doutora Vera Vasconcellos.
5
6
Realizamos dois encontros sobre família nos Centro de Estudos.
Os educadores chegaram à creche depois do concurso promovido pela Prefeitura da Cidade do
Rio de Janeiro para Agente Auxiliar de Creche, em 2007. Por ser público, mulheres e homens
participaram da seleção.
Em que pese o fato de que a presença masculina entre os educadores fosse
questionada por algumas famílias, um educador (rapaz) afirmou ter um ótimo
relacionamento com elas, afirmando:
Eu acho que é melhor do que eu esperava... porque a figura
masculina nas creches foi uma coisa nova... na virada do
ano, quando eles estão passando para o segundo período
de inserção, os pais até perguntam se eu não poderia
permanecer nessas turmas enquanto as crianças pudessem
se adaptar melhor, já que elas mudam de espaço, os
educadores são novos...
Apesar de solícitos às demandas das famílias, 15% dos educadores se sentiam
desvalorizados quando não havia o reconhecimento das famílias sobre o fazer “pedagógico”
construído com as crianças
Tem aqueles que se interessam, participam e isso é muito
gratificante, você vê o interesse dos responsáveis, você vê
que está sendo compensado... mas há aquele que não tem
interesse: o que você faz não importa (educador 3).
Apresentaremos alguns exemplos de situações que geravam incômodo e que foram
citados por alguns educadores e que era um discurso comum a vários deles nos cursos de
formação que nosso grupo de pesquisa promoveu e estivemos presentes:
- quando eram cobrados pelos pais para que dessem atenção individualizada às
crianças
Acho que os pais veem a gente mais como se fosse babás
das crianças. Não nos veem como educadores. Aí acham
que a gente tem que cuidar dos filhos deles que deixam aqui
na creche. A gente tem que tomar cuidado como se eles
fossem o único... esquece que a sala está cheia de criança,
que a gente não pode dar atenção individual... esquece que
a gente é educador... (…) (educador 18).
-
quando percebiam que o responsável não trabalhava, mas deixava o filho na
creche, como se só tivessem direito a ela os pais que trabalham
Presença é tudo. Apesar que tem pais que largam aqui... as
mães não querem nem saber. Somem e voltam de biquini
aqui 5 horas da tarde, quando não mais! (educador 14).
- Famílias e Educadores
Ao cruzarmos os dados produzidos por famílias e educadores, verificamos que havia
em comum a perspectiva que a creche deveria ser um lugar de acolhimento para as
angústias e dúvidas dos familiares. Outro ponto comum é compreender a creche como
extensão da família, de modo que a rotina da creche seja considerada a melhor para a
criança, devendo ser seguida inclusive em casa.
Para as famílias esta relação envolvia a troca entre os adultos responsáveis pela
criança. Das famílias que participaram da pesquisa, todas encararam as orientações dos
educadores como sugestões bem vindas para a organização da rotina da criança
Que a creche é a continuação da família (…) eles continuam
aqui o que aprendem em casa e vice-versa... (família 1).
A rotina sugerida pelos educadores foi bem vinda pelas famílias, o que foi relatado
também na avaliação feita pelas famílias em 2010. Mas o que originalmente poderia ser
uma orientação, se tornou algo imposto como uma prescrição, conforme relataram 35% dos
educadores. Para eles, a família deveria dar continuidade, em casa, à rotina e
procedimentos iniciados na creche
Não contribuem da forma que seria que eu imagino que
fosse o ideal, que fossem assim... manter a rotina que as
crianças têm aqui na creche. Eu acho que o envolvimento
dos pais na creche podia ser mais estreito nesse sentido de
incorporarem a rotina que a criança tem na creche em casa
também. Ficaria muito mais fácil pra criança... se eles
obedecessem essa questão da alimentação, mas a gente
sabe que isso não ocorre (educador 6).
Estes dados relativos aos educadores foram semelhantes aos encontrados por
Maranhão e Sarti (2008) e por Maciel (2010) quando abordavam a disputa entre educadoras
e famílias: a educadora pretendia determinar qual é o tipo de cuidado que atende melhor à
criança. Muitas famílias foram criticadas quando não adaptavam o seu cotidiano à rotina da
creche, restando assumir uma posição subordinada aos educadores, que julgavam ter mais
conhecimento sobre as melhores práticas dirigidas às crianças (SILVEIRA, 2011).
Supomos que a posição assumida por alguns educadores, a de direcionar a rotina da
família, resida no fato de estarem diariamente com as crianças, durante um longo período
do tempo, construindo com elas uma rotina. Verificamos, da mesma forma, que o discurso
sobre as famílias seguirem de perto a rotina da creche, objetivava sustentar e garantir o
sucesso do trabalho promovido pelos educadores na creche. A criança estaria já
acostumada a esta rotina, não estranhando o ritmo da creche quando retornasse após o
final de semana ou as férias.
A pesquisa bibliográfica indicou que pensar diferente da perspectiva acima é tomar
família e creche como parceiras. Isto significa que alguns procedimentos podem ter início
em casa e precisam ter prosseguimento na creche, através dos educadores. Cabe também
aos educadores acolher determinadas práticas iniciadas em casa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na nossa sociedade, a demanda por creche tem sido crescente e investigar a
relação creche-família é relevante, devido às especificidades do trabalho promovido por esta
instituição. O desenvolvimento humano é uma construção que acontece em ambientes
como a família, mas também na creche. São poucas as pesquisas sobre o tema e as que o
contemplam restringem, em grade parte, a verificar a existência ou não do diálogo, sem
aprofundar modos de sua construção e manutenção (ALMEIDA, 2013).
Na pesquisa que realizamos, demos visibilidade a alguns aspectos dessa relação,
nomeadamente as expectativas e vivências de famílias e educadores sobre a diálogo entre
eles. Os dados evidenciaram que as expectativas de famílias sobre o trabalho da creche
foram atendidas, gerando nos educadores a satisfação em terem sido reconhecidos em sua
preocupação de bem acolher as crianças e suas famílias.
Verificamos que os conflitos existem e devem ser valorizados como oportunidades
para negociarem orientações e crenças sobre a educação de crianças. Desses conflitos,
perpassa a tentativa dos educadores de direcionar a rotina da criança nos ambientes da
creche e em casa; por outro lado, a creche atende às expectativas de acolhimento e
atenção que as famílias demandam. A pesquisa, ao colocar educadores e famílias como
sujeitos, pôde oferecer um espaço para reflexão sobre o diálogo existente e provocar
transformações em suas próprias histórias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Caparica: UIED, 2010.
BAHIA, Celi Costa Silva; MAGALHÃES, Celina Maria Colino; PONTES, Fernando Augusto
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MARANHÃO, Damaris Gomes; SARTI, Cynthia Andersen. Creche e família: uma parceria
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RAPOPORT, Andrea; BECKER, Scheila Machado da Silveira; PICCININI, Cesar Augusto.
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CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO (VIII), 2011,
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SILVEIRA, Luiza Maria de Oliveira Braga. A relação família-escola: uma parceria possível?.
In: WAGNER, Adriana (e col.). Desafios psicossociais da família contemporânea: pesquisa e
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VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
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