CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. O
imaginário da República no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
O autor, no primeiro parágrafo da introdução desta
obra, situa suas preocupações sobre a
implantação da República, objeto de pesquisa
anterior. Naquela pesquisa, notou a nula
participação popular em sua proclamação e a
derrota dos esforços de participação nos anos
posteriores.
Como resultado dessas conclusões, algumas
indagações novas surgiram sobre quais teriam sido
os caminhos usados para legitimação desse novo
regime.
Indagações do autor
• Em face a esse entendimento, as reflexões
de Carvalho voltam-se para esclarecer quais
foram os mecanismos usados para sua
legitimidade pontuando algumas questões.
• 1) A República teria se consolidado apenas
com o arranjo oligárquico?
• 2) – Não teria havido tentativas de
legitimação, se não perante a totalidade da
população, pelo menos diante dos setores
politicamente mobilizados?
• 3)- Em caso positivo, qual teria sido esse
esforço, quais as armas utilizadas e qual o
Ideologia e organização do poder
• Carvalho passa a esclarecer os fundamentos
teóricos que balizam situações dessa natureza.
Afirma que o instrumento clássico de legitimação
dos regimes políticos no mundo moderno é a
ideologia, a justificação racional da organização
do poder.
• No final do século XIX, havia no Brasil, pelo
menos três correntes políticas que disputavam a
definição da natureza do novo regime: o
liberalismo à americana, o jacobinismo à francesa
e o positivismo. Essas correntes combateram
entre si, intensamente, até a vitória da primeira
delas.
Os modelos ideológicos de organização da
República
• As justificativas ideológicas (discursivas) supunham
modelos de República, modelos de organização da
sociedade, que traziam embutidos aspectos utópicos e
visionários.
• . No caso do jacobinismo – traziam embutidos a
idealização da democracia clássica (Grecia e Esparta), a
utopia da democracia direta, do governo por meio da
participação direta de todos os cidadãos, inspirada em
Rousseau.
• . Já no liberalismo – a utopia era outra, a de uma sociedade
composta por indivíduos autônomos, cujos interesses
eram compatibilizados pela mão invisível do mercado.
Nessa versão cabia ao governo intervir o menos possível
na vida dos cidadãos.
• . O Positivismo – possuía elementos utópicos mais
evidentes – A República: idade de ouro em que os seres
humanos se realizariam plenamente no seio de uma
humanidade mitificada.
Ideologias republicanas > fechadas no
mundo das elites
• (p. 10) Como discurso, as ideologias republicanas
permaneciam enclausuradas no fechado círculo
das elites educadas, embora, por seus elementos
utópicos acabavam defendendo, cada uma a sua
maneira, o envolvimento popular na vida política.
• O interesse do autor é verificar como ocorre o
extravasamento das visões de República para o
mundo extra- elite ou as tentativas desse
extravasamento, que segundo ele não pode ser
apenas pelo discurso, devido ao baixo nível de
educação formal da população. Teria que ser feito
mediante sinais mais universais, de leitura mais
fácil, como as imagens, as alegorias, os símbolos,
os mitos, usados em outras experiências,
notadamente na revolução Francesa.
Batalha de símbolos, alegorias e mitos >
estravazamento dos ideais republicanos
• Os jacobinos e os positivistas faziam uso de tais
instrumentos (inspirados na revolução francesa).
Entre nós, também ocorreu essa batalha de
símbolos e alegorias, como parte integrante das
batalhas ideológicas e políticas em torno da
imagem do novo regime, cuja finalidade era atingir
o imaginário popular para recriá-lo dentro dos
valores republicanos.
• A elaboração de um imaginário é parte integrante
da legitimação de qualquer regime político. É por
meio de um imaginário que se pode atingir a
cabeça, mas de modo especial o coração, isto é,
as aspirações, os medos e as esperanças de um
povo.
capítulo 1 – Utopias republicanas
• O autor prossegue a discussão de sua
proposta de análise citando a
conferência pronunciada por Benjamin
Constant na qual examina os modelos
de república do final do século XIX.
Toma como ponto de partida da
reflexão a idéia de liberdade e
estabelece dois tipos: a liberdade dos
antigos e a liberdade dos modernos.
Liberdade dos antigos
• 1)- A liberdade defendida pelos antigos
e adotada pelos jacobinos – era a que
caracterizara as repúblicas antigas de
Atenas, Esparta e Roma. Era a
liberdade de participar coletivamente
do governo, da soberania, de decidir
na praça pública os negócios da
República. Era a liberdade do homem
público.
Liberdade dos Modernos
• 2) – A liberdade dos modernos – a que convinha
aos novos tempos, era a liberdade do homem
privado, a liberdade dos direitos de ir e vir, de
propriedade, de opinião, de religião.
• A liberdade moderna não exclui o direito de
participação política, mas esta se faz pela
representação e não pelo envolvimento direto nos
assuntos públicos ou da coletividade. Segundo
Benjamin Constant, nos tempos modernos o que
se busca é a felicidade pessoal, o interesse
individual; a liberdade política tem por função
garantir a liberdade civil.
• A oposição entre os dois tipos de liberdade – é a
oposição entre as duas maneiras de conceber a
organização da sociedade.
Qual modelo de República?
• Os republicanos brasileiros no final do século XIX
se viram as voltas com o problema de justificar o
novo regime e não puderam escapar deste debate.
• (p.18) – Os temas do interesse do individuo e de
grupos, da nação e da cidadania, encarnados na
idéia de República – estavam no centro das
preocupações dos construtores da República
brasileira. Os modelos de república existentes na
Europa, na França e nos EUA serviram de
referência aos brasileiros.
AS DUAS LIBERDADES > concepções distintas de
Repúblicas
• Modelo de República americano >
• Ênfase na organização da liberdade, tendo na
base do novo pacto político – a predominância
dos interesses individuais. Esta visão utilitarista
colocava dificuldades para a concepção do
coletivo, do público. A solução foi definir o
público como a somatória dos interesses
individuais. Essa visão supõe a ausência de
identidade coletiva ou a visão de uma Nação sem
patriota. É a visão de uma coleção de indivíduos
em busca de uma organização política que
garanta seus interesses. Quando muito, buscavase os pais fundadores.
A República (francesa)
•
O outro modelo de República – era o modelo
francês. Ou seja, o da Primeira e da Terceira
República.
–
–
A imagem da Primeira República confundia-se com a
fase revolucionária de 1789 – a fase jacobina, da qual
se salientava a participação popular. Era a República
da intervenção direta do povo no governo, a república
dos clubes, das grandes manifestações, do Comitê de
salvação pública. Era a República das ideias
mobilizadoras do entusiasmo coletivo, da liberdade,
da igualdade, dos direitos individuais do cidadão.
A imagem da Terceira República – a preocupação era
com a governabilidade, com a conciliação entre a
liberdade e o exercício do poder.
Dificuldade brasileira > falta de
identidade coletiva
• Para Carvalho, a dificuldade brasileira com
os dois modelos de liberdade > era a falta
de identidade coletiva ou sentimento de
coletividade. O sentido de identidade seria o
cimento comum aos dois modelos. No
Brasil, do início da República, inexistia tal
sentimento. Havia alguns elementos que em
geral fazem parte de uma identidade
nacional, como a identidade da língua, da
religião e mesmo a unidade política. Mas,
tais laços, por si só, não são suficientes.
A busca de identidade para o país >
tarefa dos intelectuais da 1ª República
• A busca de tal identidade coletiva para o
país > seria tarefa que iria perseguir a
geração intelectual da primeira República.
• ¬
• Tratava-se, na realidade, de uma busca das
bases para a redefinição da República, para
o estabelecimento de um governo
republicano que não fosse uma caricatura
de si mesmo. “Porque foi geral o
desencanto com a obra de 1889” (p. 33).
Capítulo 2. As proclamações da
República
• No capítulo 2, Carvalho discutirá as disputas para a
definição dos fundamentos dessa República e, também,
dos seus pais fundadores, mesmo que sua emergência
não tenha sido de participação ampla. Logo após o ato de
proclamação, os vencedores trataram de construir a
versão oficial para o acontecido, destinada à história, o
que não significa uma tarefa simples. Nesse campo
também ocorreu a batalha pela construção de uma versão
oficial dos fatos, a luta pelo estabelecimento do mito de
origem. No caso da República, a batalha era mais
importante, se não mais que a proclamação, um evento
inesperado, rápido e incruento. Estavam em jogo: a
definição dos papéis dos vários atores, os títulos de
propriedade que cada ator julgava ter sobre o novo regime,
e a própria natureza do regime.
Advento da República > não pode ser
reduzido à questão militar
• Para Carvalho:
• O fato de ter sido a proclamação um fenômeno militar, em
boa parte desvinculado do movimento republicano civil,
significa que seu estudo não pode, por si só, explicar a
natureza do regime. O advento da República não pode ser
reduzido à questão militar e à insurreição das unidades
militares aquarteladas em São Cristóvão.
• ¬
• Embora as raízes da República devam ser buscadas mais
longe e mais fundo, o ato de sua instauração possui valor
simbólico inegável. Não foi por outra razão que tanto se
lutou por sua definição histórica. Deodoro, Benjamin
Constant, Quintino Bocaiúva, Floriano Peixoto: não há
inocência na briga pela delimitação do papel de cada uma
dessas personagens. Por traz da luta, há disputa de poder
e há visões distintas sobre a natureza da República.
As proclamações
• Carvalho afirma que ocorreram muitas disputas
em relação ao 15 de Novembro para definir os
principais protagonistas desse fato histórico.
• 1.Primeiro foi a guerra dos vivas e sua ligação
com Deodoro; Existem dúvidas se seriam “vivas”
à Monarquia ou a República;
• 2. Depois, as disputas em relação a participação
efetiva de Benjamin Constant nesse evento;
• 3. E, também, a participação civil dos
republicanos;
• Essas disputas traziam embutidas o conflito pela
definição do novo regime. A análise da luta pelo
mito fundador > pode esclarecer a natureza desse
conflito (p. 38). Na imprensa, essas disputas se
expressam com humor.
Os pais fundadores > apresentam três propostas
distintas de República
• Os candidatos eram aqueles que expressavam essas
correntes.
• 1. Deodoro > A República Militar
• 2. Benjamin Constant > A República Sociocrática.
• 3. Quintino Biocaiúva > A República Liberal
• 1. O primeiro deles girava em torno de Deodoro. Para o
autor > sua sustentação estaria nos setores militares. Para
esse grupo > a proclamação foi ato estritamente militar,
executado sob a liderança insubstituível de Deodoro. Os
civis pouco ou nada influíram. Esse grupo não tinha visão
elaborada de República > buscava apenas posição de
maior prestígio e poder que julgavam ter direito o Exército
após a vitória na Guerra do Paraguai.
• Essa disputa > projetou-se na tela de Henrique Bernadelli
sobre a proclamação da República. Deodoro > aparece na
projeção de herói que comanda a cena.
2. Benjamin Constant > a República
Sociocrática
• A disputa para atribuir-lhe a condição de pai
fundador e integrar o panteão cívico > é feita
por uma corrente ideológica muito distinta > Os
positivistas.
• Além de fundador > era considerado o mestre,
teórico e formulador de um projeto para o
Brasil. Fora o responsável pelo 15 de
Novembro ter ido além de uma quartelada.
• Para os positivistas ele integrava o panteão dos
heróis da pátria, ao lado de Tiradentes e José
Bonifácio de Andrada.
A República Sociocrática
• Os Sociocratas ou positivistas > eram inimigos
da democracia representativa (=estado
metafísico da humanidade). Defendiam uma
ditadura republicana, na qual > o Congresso >
teria papel orçamentário. A defesa desse
modelo visava implementar a república social
>inserção dos trabalhadores e diminuição dos
privilégios da burguesia.
• A vertente ligada à Benjamin Constant > ficou
restrita aos ortodoxos e não teve aplicação
prática.
Os sociocratas ou positivistas
• Apesar de suas propostas utópicas, contribuíram
para várias medidas dos primeiros anos da
República, tais como:
• Separação entre Igreja e Estado;
• Casamento civil;
• Secularização dos cemitérios;
• Reforma do ensino militar;
• O início do contato com o operariado;
• Se a república dos deodoristas queria a salvação
do Exército, a república da vertente de Benjamin
Constant >almejava a salvação da Pátria (p. 42).
Suas concepções foram fixadas nas estátuas que
passaram a integrar as Praças Públicas
>elaboradas por artistas positivistas como
Eduardo Sá, Décio Villares.
3. Quintino Bocaiúva > a República Liberal
• Quintino Bocaiúva > Chefe do PRB representava
em 1889 a propaganda republicana > inaugurada
no Manifesto de 1870. A defesa de seu papel no 15
de Novembro > mais problemática do que as duas
facções militares >porque o 15 de Novembro foi
ação decidida e levada a efeito pelos militares. Os
republicanos civis foram colocados a par 4 dias
antes de seu desfecho (p. 49).
• A aliança com os militares fora discutida entre os
propagandistas > Não havia consenso entre eles.
Quintino Bocaiúva > era a favor dessa aliança.
Silva Jardim preferia a via revolucionária e outros
que queriam a mudança pela via pacífica como
Américo Brasiliense, Bernardino de Campos
>achavam problemático essa aliança (p. 49).
A República Liberal
• Carvalho defende que a ala mais exaltada do
partido republicano sequer ficara sabendo da
conspiração. No decorrer do dia 15 de Novembro
> no percurso feito por Deodoro e durante o
decorrer do dia a ação dos republicanos
históricos foi pífia e desencontrada, como no ato
da Câmara Municipal em que foi hasteada a
bandeira errada. Ou seja, a do Comitê Lopes
Trovão inspirada na bandeira americana.
• Para o autor > nenhum líder civil teve qualquer
gesto que pudesse ser imortalizado pela arte
como ocorrera na revolução francesa.
Distribuição do papéis entre os novos
heróis
• A dificuldade de atribuir os papéis aos novos
protagonistas foi expresso com humor por
“Gravoche” (Arthur de Azevedo) no jornal O Paiz,
em 19/11/1895, em “Retratos”. Diz o autor:
• O Nicromante, pelos modos,
• Satisfazer, procura a todos:
• Traz Benjamin, que é o fundador,
• Deodoro, que é o proclamador,
• Floriano, o consolidador,
• Prudente, o pacificador!
• Isto é que é ser engrossador!
Mito de Origem >inconcluso
• Após repassar cada um dos personagens, o autor
chega a conclusão que o mito de origem ficou
inconcluso, como inconclusa ficara a República.
• A tese central do autor é que diante da falta de
densidade histórica do fato > isso traz
dificuldades para definição do herói republicano,
uma vez que os envolvidos no processo não
tinham o estatuto requerido para ocupar o lugar
de herói do novo regime > o que exigiu que se
buscasse em outros momentos (no passado) esse
personagem que não estava ligado ao momento
de sua celebração. Essa questão será tratada no
capítulo 3.
capitulo 3 > “Tiradentes: um
herói para a República”
• A partir desta afirmação, Carvalho inicia o capitulo
3 , “Tiradentes: um herói para a República” (p. 55)
> dizendo que a luta em torno do mito de origem
da República mostrou a dificuldade de se
construir um herói para o novo regime.
• Esclarece que HERÓIS são símbolos poderosos,
encarnações de ideias e aspirações, pontos de
referência, fulcros de identificação coletiva. São
por isso instrumentos eficazes para atingir a
cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da
legitimação de regimes políticos. Não há regime
que não promova o culto de seus heróis e não
possua seu panteão cívico.
Herói> portador de valores requeridos
socialmente
• Porém, a criação de símbolos não é
arbitrária, não se faz no vazio social. O herói
tem que responder a alguma necessidade
ou aspiração, refletir algum tipo de
personalidade ou comportamento que
corresponda a um modelo coletivamente
valorizado.
• ¬
• Caso isso não ocorra, os pretendidos heróis
são ignorados e, na pior hipótese, são
ridicularizados.
Os pais fundadores
• No caso brasileiro > foi grande o esforço de
transformação dos principais participantes
do 15 de novembro em heróis do novo
regime > o que resultou pouco. Para o
autor, a pequena densidade histórica do 15
de novembro (uma passeata militar) não
fornecia terreno adequado para a
germinação de mitos.
A definição dos heróis da República
• Diante das dificuldades de promover os
protagonistas do dia 15 em heróis > quem
aos poucos se revelou capaz de atender às
exigências de mitificação foi Tiradentes.
Não que ele fosse desconhecido dos
republicanos, mas é que havia outros
possíveis candidatos. E, também, porque o
seu nome estava envolvido em intensa
batalha historiográfica, sobre sua real
participação na Inconfidência.
A formação do mito
• O autor reconhece que a preocupação com a
construção do mito afeta e condiciona o debate
historiográfico > embora transcenda essa esfera.
Além disso, o domínio do mito é o imaginário que
se manifesta na tradição escrita e oral, na
produção artística, nos rituais. A formação do
mito pode dar-se contra a evidência documental; o
imaginário pode interpretar evidências segundo
mecanismos simbólicos que lhe são próprios e
que não se enquadram necessariamente na
retórica da narrativa histórica.
Tiradentes > a construção do mito
• A literatura brasileira > foi a primeira a ocupar-se
do tema da Inconfidência, antes que a
historiografia. Dentre as reflexões destaca-se a de
Castro Alves > com a peça “Gonzaga ou a
revolução de Minas” (representada em 1866 em
Salvador, São Paulo e Rio de janeiro).
• O poema que termina a peça já aparece a
idealização que o aproxima da figura de Cristo.
• Ei-lo. O gigante da praça
• O Cristo da multidão!
• É Tiradentes quem passa...
• Deixem passar o Titão.
Tiradentes > herói republicano
• Para Carvalho, além do apelo à tradição
cristã do povo, que facilitava a transmissão
da imagem de um Cristo cívico, poder-se-ia
perguntar por outras razões do êxito de
Tiradentes como herói republicano, pois
não foi sem resistência que ele atingiu tal
posição. Identifica alguns fatores: o
geográfico; sua memória > está associada a
mística cristã (O patriota virou místico, ao
contrário de Frei Caneca).
Tiradentes > o herói da República
• Tiradentes > era um totem cívico.
• Não antagônico a ninguém, não dividia
as pessoas, e as classes sociais, não
dividia o país, não separava o presente
do passado nem do futuro (p. 68). Pelo
contrário, ligava a república à
independência e a projetava para o
ideal de crescente liberdade futura. Ou
seja, era o herói de diferentes facções
políticas: da esquerda à direita.
Tiradentes > de herói republicano à
herói nacional
• A aceitação de Tiradentes veio, assim,
acompanhada de sua transformação em herói
nacional, mais do que em herói republicano. Unia
o país através do espaço, do tempo, das classes.
• Essa tentativa de transformá-lo em herói nacional
> não eliminou totalmente a ambigüidade do
símbolo. “O governo republicano tentou dele se
apropriar...os governos militares (1964) tornaram
Tiradentes patrono cívico da nação brasileira... E
os grupos de esquerda (os jacobinos e os
guerrilheiros da década de 70) também não
abriram mão dele”(p.71). O segredo da “vitalidade
do herói, talvez esteja, em sua resistência aos
continuados esforços de esquartejamento de sua
memória”(p.73).
TIRADENTES
1.Imagem do alto – O
Martírio de Tiradentes
(Aurélio de
Figueiredo);
2.Imagem à esquerda –
Tiradentes (Décio
Vilares);
3. Imagem à direita
(em baixo) –
Tiradentes
Esquartejado (Pedro
Américo)
Capítulo 4- República-mulher: entre Maria e Marianne
•
O autor volta-se novamente à experiência francesa e
observa que a situação de derrocada da Monarquia >
gerou a necessidade de novos símbolos para representar
os novos ideais. A alegoria feminina >foi usada para
representar a simbologia cívica francesa, seja a liberdade,
seja revolução, seja a república. As disputas foram
acirradas;
• Ora a república era representada por uma simbologia de
mulher guerreira, inspirada na mulher romana, de pé,
descalça, barrete frígio, seios à mostra, espada, ora na
mulher popular das barricadas, imortalizadas por artistas
como Rudé (A partida dos Voluntários), Delacroix (A
Liberdade guiando o povo). Ou, ainda, sentada, maternal,
penteada, claramente apaziguadora. Dessas disputas
aparecem duas versões:(=burguesa (apaziguadora) e
socialista (rebelde). Essas representações > talvez
fossem uma forma de incorporar a mulher como cidadã
nesse processo.
•
Cap. 4 – De figura clássica guerreira à
mulher pública
• No Brasil > o uso da simbologia feminina para
representar a República também foi recorrente.
Os primeiros a usar foram os caricaturistas >
inspiram-se na figura clássica romana. A
revista Ilustrada define o modelo de mulher que
aparece em pé, de barrete frígio, pés desnudos
(ou de sandália), escudo, espada, portando a
bandeira brasileira. Posteriormente, ela
também aparecerá sentada, apenas portando o
bastão e barrete frígio para, em seguida,
deslocar-se para uma figura feminina, de
grandes seios e apaziguadora.
Representação clássica da República no Brasil
Glória à Patria! Honra
aos heróis do dia 15
de novembro de
1889.
Homenagem da
Revista Illustrada.
Pereira Neto,
Revista Illustrada,
16/11/1889
Representações da República
• Até o final do século, jornais e revistas não se afastaram
do modelo estabelecido pela Revista IIlustrada. Os
pintores, excetuando o positivista Décio Vilares,
praticamente ignoraram o simbolismo feminino na
representação do novo regime. Também apresentaram a
dupla representação: seguindo o modelo clássico
(guerreira) e, também, sentada “transmitindo a impressão
de tranqüilidade, força e segurança”.
• Na caricatura > também houve deslocamento dessas
figuras guerreira ou conciliadora, para outra >
representada por uma mulher corrompida, gasta e
envelhecida.
• Os caricaturistas usaram a figura feminina para
ridicularizar a República. A virgem ou a mulher heróica
dos republicanos era facilmente transformada em mulher
da vida, em prostituta. Isso aconteceu na França e também
no Brasil. A diferença é que no Brasil essa representação
foi a dominante, sendo usada por aqueles que inicialmente
tinham apoiado o novo regime.
Representações da República
• Pergunta Carvalho: Por que o fracasso da representação
positiva da República como mulher? Para o autor, a
busca de explicação poderá vir de várias direções. Mas o
centro talvez esteja na falta de uma “comunidade de
imaginação”, de uma “comunidade de sentido” porque
qualquer imaginário precisa criar raízes em evidências
reais para legitimar-se. Nesse caso, a precária participação
da mulher brasileira nesse processo, diferentemente do
que ocorreu na França, que reforçou essa representação,
como forma de compensar a negação de seus direitos.
Conclui que a batalha pela alegoria feminina terminou em
derrota republicana. Mais ainda, em derrota do cívico
perante o religioso pelo papel que Nossa Senhora
Aparecida passou a ter na República.
Capítulo 5 - Bandeira e Hino: o peso da
tradição
• Na leitura de Carvalho também houve batalha em
torno da simbologia republicana em relação ao
hino e à bandeira. A luta pelo mito de origem, pela
figura do herói, pela alegoria feminina era parte
importante no novo regime > todos eram lutas não
conclusivas diferentemente do hino e da bandeira.
De adoção e uso obrigatórios > esses dois
símbolos tinham que ser definidos por legislação,
com data certa.
• A batalha por esses dois símbolos > foi intensa e
rápida. A bandeira > a vitória foi da facção
positivista e se deveu ao fato de o novo símbolo
incorporar elementos da tradição imperial.
O Hino > vitória do povo
• Para o autor havia intenção por parte das
autoridades de criar um novo hino para a
República, uma vez que até ali o que se tocava
era a marselhesa. A tentativa porém, não foi
adiante pela repercussão, em solenidade
pública, quando foi tocado o velho hino
aplaudido de forma emocionada pelos
presentes. Daí por diante, chegou-se a
conclusão que o hino de Francisco Manuel da
Silva receberia letra nova (cuja autoria foi de
Osório Duque Estrada), pois a letra original já
estava em desuso (p. 127).
Considerações finais
• Para José Murilo de Carvalho > “FALHARAM os esforços das
correntes republicanas que tentaram expandir a legitimidade do
novo regime para além da corrente (liberal) vitoriosa. Não
foram capazes de criar um imaginário popular republicano. Nos
aspectos em que tiveram êxito, este se deveu a compromissos
com a tradição imperial ou com valores religiosos.
• Observa que não é por acaso que o debate mais vivo gira
ainda hoje em torno do mito de origem e das utopias
republicanas .
• A falta de uma identidade republicana e a persistente
emergência de visões conflitantes ajudam também a
compreender o êxito da figura de herói personificada em
Tiradentes. O herói republicano por excelência é ambíguo,
multifacetado, esquartejado (...)”.
Considerações finais
• Tiradentes “consegue se manter como herói
republicano por conseguir absorver todas
essas fraturas, sem perder a identidade. A seu
lado, apesar dos desafios que surgem das
novas correntes religiosas, talvez seja a
imagem da Aparecida a que melhor dar um
sentido de comunhão nacional a vastos setores
da população. Um sentido que, na ausência de
um civismo republicano, só poderia vir de fora
do domínio da política”(...) (p. 141-142).
GOVERNO PROVISÓRIO –
Repúblicas dos Estados
Unidos do Brasil
•A Constituinte foi
instalada em 15 de
novembro /1890 >
Presidente da
Constituinte > Prudente
de Morais
•Em 24 de
fevereiro/1891 > a
Constituinte promulgou
a nova Constituição;
• Em 25/fev/1891 > o
Congresso elegeu o
Marechal Deodoro da
Fonseca, derrotando
Prudente de Morais.
• CALENDÁRIO REPUBLICANO DE FESTAS
NACIONAIS
• Em 14/jan1890 foram decretadas as festas
nacionais:
• 1º de janeiro > comemoração da
fraternidade universal;
• 21 de abril > comemoração dos precursores
da Independência brasileira, resumidos em
Tiradentes;
• 03 de maio > comemoração da descoberta
do Brasil;
• 13 de maio > comemoração da fraternidade
dos brasileiros;
• 14 de julho > comemoração da república...
• 7 de setembro> comemoração da
independência do Brasil;
• 12 /outubro > descoberta da América;
• 02 /11 > comemoração geral dos mortos;
• 15 /novembro> comemoração da Pátria
brasileira.
1. Presidente – Marechal Deodoro da
Fonseca
2. Ministro do Exterior – Quintino
Bocaiuva (RJ)
•Divisão dos poderes:
Executivo, Legislativo e
3. Ministro do Interior – Aristides Lobo
Judiciário >
(Alagoano)
•Legislatura > três anos
4. Ministro da Fazenda – Rui Barbosa
(Bahia)
• Congresso Nacional >
Câmara (Casa da
5. Ministro da Justiça – Campos Sales
representação popular) >
(SP)
1 deputado para cada 70 6. Ministro da Agricultura – Demétrio
mil habitantes.
Ribeiro (gaucho)
• Senado Federal (Casa
7. Ministro da Marinha – Eduardo
dos Estados/ Casa da
Wandenkolk
Federação)> 3 senadores por Estado >
8. Ministro da Guerra- Benjamin
mandato de 9 anos;
Constant
GOVERNO (PROVISÓRIO) –
Repúblicas dos Estados
Unidos do Brasil
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Q1.CARVALHO, José Murilo de – A formação - aula 13