ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
2ª COORDENADORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO
COLÉGIO ESTADUAL DR. WOLFRAM METZLER
Textos de Apoio
FILOSOFIA
Professor: Noé Gino Porto Gomes
Novo Hamburgo
2013
2
ÍNDICE
1. O que é filosofia ......................................................................................,......
3
2. Quadro Resumo – Cronologia da Filosofia por Sérgio Biagi Gregório.....
6
3. Resumo da História da Filosofia .................................................................... 7
4. A dúvida filosófica .........................................................................................
11
4. A Alegoria da Caverna .....................................................................................
13
5. As grandes áreas da Filosofia .......................................................................
14
3
Texto 1: O que é filosofia?
O que é a filosofia? Esta é uma questão notoriamente difícil. Uma
das formas mais fáceis de responder é dizer que a filosofia é aquilo
que os filósofos fazem, indicando de seguida os textos de Platão,
Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, Russell, Wittgenstein, Sartre e
de outros filósofos famosos. Contudo, é improvável que esta
resposta possa ser realmente útil se o leitor está a começar agora
o seu estudo da filosofia, uma vez que, nesse caso, não terá
provavelmente lido nada desses autores. Mas mesmo que já tenha
lido alguma coisa, pode mesmo assim ser difícil dizer o que têm em
comum, se é que existe realmente uma característica relevante
partilhada por todos. Outra forma de abordar a questão é indicar
que a palavra «filosofia» deriva da palavra grega que significa
«amor da sabedoria». Contudo, isto é muito vago e ainda nos
ajuda menos do que dizer apenas que a filosofia é aquilo que os
filósofos fazem. Precisamos por isso de alguns comentários gerais
sobre o que é a filosofia.
A filosofia é uma actividade: é uma forma de pensar acerca de
certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de
argumentos lógicos. A actividade dos filósofos é, tipicamente,
argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os
argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os
filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra
«filosofia» é muitas vezes usada num sentido muito mais lato do
que este, para referir uma perspectiva geral da vida ou para referir
algumas formas de misticismo. Não irei usar a palavra neste
sentido lato: o meu objectivo é lançar alguma luz sobre algumas
das áreas centrais de discussão da tradição que começou com os
gregos antigos e que tem prosperado no século XX, sobretudo na
Europa e na América.
Que tipo de coisas discutem os filósofos desta tradição? Muitas
vezes, examinam crenças que quase toda a gente aceita
acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de questões
relacionadas com o que podemos chamar vagamente «o sentido
da vida»: questões acerca da religião, do bem e do mal, da política,
da natureza do mundo exterior, da mente, da ciência, da arte e de
muitos outros assuntos. Por exemplo, muitas pessoas vivem as
suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais
como a crença de que não se deve matar. Mas por que razão não
se deve matar? Que justificação existe para dizer que não se deve
matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal,
que quer dizer a palavra «dever»? Estas são questões filosóficas.
Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam
fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia não
só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos,
como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que
acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma
capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto
leque de temas -- uma capacidade muito útil que pode ser aplicada
em muitas áreas.
A filosofia e a sua história
Desde o tempo de Sócrates que surgiram muitos filósofos
importantes. Já referi alguns no primeiro parágrafo. Um livro de
introdução à filosofia poderia abordar o tema historicamente,
analisando as contribuições desses grandes filósofos por ordem
cronológica. Mas não é isso que farei neste livro. Ao invés,
abordarei o tema por tópicos: uma abordagem centrada em torno
de questões filosóficas particulares e não na história. A história da
filosofia é, em si mesma, um assunto fascinante e importante;
muitos dos textos filosóficos clássicos são também grandes obras
de literatura: os diálogos socráticos de Platão, as Meditações, de
Descartes, a Investigação sobre o Entendimento Humano, de David
Hume e Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche, para citar só alguns
exemplos, são todas magníficos exemplos de boa prosa, sejam
quais forem os padrões que usemos. Apesar de o estudo da
história da filosofia ser muito importante, o meu objectivo neste
livro é oferecer ao leitor instrumentos para pensar por si próprio
sobre temas filosóficos, em vez de ser apenas capaz de explicar o
que algumas grandes figuras do passado pensaram acerca desses
temas. Esses temas não interessam apenas aos filósofos: emergem
naturalmente das circunstâncias humanas; muitas pessoas que
nunca abriram um livro de filosofia pensam espontaneamente
nesses temas.
Qualquer estudo sério da filosofia terá de envolver uma mistura de
estudos históricos e temáticos, uma vez que se não conhecermos
os argumentos e os erros dos filósofos anteriores não podemos ter
a esperança de contribuir substancialmente para o avanço da
filosofia. Sem algum conhecimento da história, os filósofos nunca
progrediriam: continuariam a fazer os mesmos erros, sem saber
que já tinham sido feitos. E muitos filósofos desenvolvem as suas
próprias teorias ao verem o que está errado no trabalho dos
filósofos anteriores. Contudo, num pequeno livro como este, é
impossível fazer justiça às complexidades da obra de filósofos
individuais. As leituras complementares, sugeridas no fim de cada
capítulo, ajudam a colocar num contexto histórico mais vasto os
assuntos aqui discutidos.
Porquê estudar filosofia?
Defende-se por vezes que não vale a pena estudar filosofia uma
vez que tudo o que os filósofos fazem é discutir sofisticamente o
4
significado das palavras; nunca parecem atingir quaisquer
conclusões de qualquer importância e a sua contribuição para a
sociedade é virtualmente nula. Continuam a discutir acerca dos
mesmos problemas que cativaram a atenção dos gregos. Parece
que a filosofia não muda nada; a filosofia deixa tudo tal e qual.
Qual é afinal a importância de estudar filosofia? Começar a
questionar as bases fundamentais da nossa vida pode até ser
perigoso: podemos acabar por nos sentir incapazes de fazer o que
quer que seja, paralisados por fazer demasiadas perguntas. Na
verdade, a caricatura do filósofo é geralmente a de alguém que é
brilhante a lidar com pensamentos altamente abstractos no
conforto de um sofá, numa sala de Oxford ou Cambridge, mas
incapaz de lidar com as coisas práticas da vida: alguém que
consegue explicar as mais complicadas passagens da filosofia de
Hegel, mas que não consegue cozer um ovo.
A vida examinada
Uma razão importante para estudar filosofia é o facto de esta lidar
com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência.
A maior parte das pessoas, num ou noutro momento da sua vida,
já se interrogou a respeito de questões filosóficas. Por que razão
estamos aqui? Há alguma demonstração da existência de Deus? As
nossas vidas têm algum propósito? O que faz com que algumas
acções sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez
ter justificação para violar a lei? Poderá a nossa vida ser apenas um
sonho? É a mente diferente do corpo, ou seremos apenas seres
físicos? Como progride a ciência? O que é a arte? E assim por
diante.
A maior parte das pessoas que estuda filosofia acha importante
que cada um de nós examine estas questões. Algumas até
defendem que não vale a pena viver a vida sem a examinar.
Persistir numa existência rotineira sem jamais examinar os
princípios na qual esta se baseia pode ser como conduzir um
automóvel que nunca foi à revisão. Podemos justificadamente
confiar nos travões, na direcção e no motor, uma vez que sempre
funcionaram suficientemente bem até agora; mas esta confiança
pode ser completamente injustificada: os travões podem ter uma
deficiência e falharem precisamente quando mais precisarmos
deles. Analogamente, os princípios nos quais a nossa vida se baseia
podem ser inteiramente sólidos; mas, até os termos examinado,
não podemos ter a certeza disso.
Contudo, mesmo que não duvidemos seriamente da solidez dos
princípios em que baseamos a nossa vida, podemos estar a
empobrecê la ao recusarmo nos a usar a nossa capacidade de
pensar. Muitas pessoas acham que dá demasiado trabalho ou que
é excessivamente inquietante colocar este tipo de questões
fundamentais: podem sentir se satisfeitas e confortáveis com os
seus preconceitos. Mas há outras pessoas que têm um forte desejo
de encontrar respostas a questões filosóficas que representem um
desafio.
Aprender a pensar
Outra razão para estudar filosofia é o facto de isso nos
proporcionar uma boa maneira de aprender a pensar mais
claramente sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do
pensamento filosófico podem ser úteis em variadíssimas situações,
uma vez que, ao analisar os argumentos a favor e contra qualquer
posição, adquirimos aptidões que podem ser aplicadas noutras
áreas da vida. Muitas pessoas que estudam filosofia aplicam
depois as suas aptidões em profissões tão diferentes quanto o
direito, a informática, a consultoria de gestão, o funcionalismo
público e o jornalismo áreas onde a clareza de pensamento é um
grande trunfo. Os filósofos usam também a perspicácia que
adquirem acerca da natureza da existência humana quando se
voltam para as artes: alguns filósofos foram também romancistas,
críticos, poe¬tas, realizadores de cinema e dramaturgos de
sucesso.
[...]
A filosofia é difícil?
A filosofia é muitas vezes descrita como uma disciplina difícil. Há
vários tipos de dificuldades associadas à filosofia, algumas delas
evitáveis.
Em primeiro lugar, é verdades que muitos dos problemas com os
quais os filósofos profissionais lidam exigem efectivamente um
nível bastante elevado de pensamento abstracto. Contudo, o
mesmo se aplica a praticamente todas as actividades intelectuais:
a esse respeito, a filosofia não é diferente da física, da teoria
literária, da informática, da geologia, da matemática ou da história.
Tal como acontece com estas e outras áreas de estudo, a
dificuldade em dar um contributo substancialmente original na
área respectiva não deve ser usada como desculpa para negar às
pessoas comuns o conhecimento dos avanços dessas áreas, nem
para as impedir de aprender os seus métodos básicos.
Contudo, há um segundo tipo de dificuldade associada à filosofia
que pode ser evitada. Os filósofos nem sempre são bons
prosadores. Muitos têm fracas capacidades para comunicar
claramente as suas próprias ideias. Por vezes, isto acontece porque
só estão interessados em atingir uma pequeníssima audiência de
leitores especializados; outras vezes, porque usam uma gíria
desnecessariamente complicada que se limita a confundir os que
com ela não estão familiarizados. Os termos especializados podem
ser úteis para evitar explicar certos conceitos sempre que são
usados. Contudo, há entre os filósofos profissionais uma tendência
infeliz para usar termos especializados como um fim em si; muitos
usam expressões latinas apesar de existirem equivalentes
portugueses perfeitamente aceitáveis. Um parágrafo cheio de
5
palavras desconhecidas e de palavras conhecidas usadas de forma
desconhecida pode intimidar. Alguns filósofos parecem falar e
escrever numa linguagem inventada por eles. Isto pode fazer que a
filosofia pareça muito mais difícil do que na verdade é.
Nigel Warburton - in Crítica, revista de filosofia
6
Texto 2: Quadro Resumo – Cronologia da Filosofia por Sérgio Biagi Gregório
FILOSOFIA
Essência:
Representantes:
Tales de Mileto (623-546
a.C.), Anaximandro de
Mileto (610-547 a.C.),
Descobrir, com base na razão e Anaxímenes de Mileto (588não na mitologia,
524 a.C.), Pitágoras de
oprincípio único (o arché, grego)
Samos (570-490 a.C.),
existente em todos os seres
ANTIGA
Heráclito de Éfeso (?),
físicos.
Parmênides de Eléia (510470 a.C.), Zenão de Eléia
(488-430 a.C.), Empédocles
de Agrigento (490-430 a.C.)
e Demócrito de Abdera
(460-370
Protágoras de Abdera (480410 a.C.), Górgias de
Leontini (487-380 a.C.),
Interesse no homem e nas suas Sócrates de Atenas (469relações em sociedade, com
399 a.C.) Platão de Atenas
predominância das questões
(427-347 a.C.), Aristóteles
CLÁSSICO OU GREGO
metafísicas e morais.
de Estagira (384-322 a.C.),
ROMANO
Zenão de Cítio (336-263
a.C.) e Epicuro (342-271
a.C.).
MEDIEVAL
MODERNA
Conciliar fé com razão.
Anotações:
Para Tales de Mileto, considerado o
pai da filosofia, a substância
primordial era a água; para
Anaximandro de Mileto, oapeíron,
termo grego que significa o
indeterminado, o infinito; para
Anaxímenes de Mileto, que tentou
uma possível conciliação entre Tales
e Anaximandro, o ar; para Pitágoras
de Samos, onúmero, e assim por
diante.
Passada a fase cosmogônica
(teorias da origem do universo) os
filósofos deste período começaram a
se interessar pelo próprio ser
humano e suas relações na
sociedade. Essa nova fase
denominou-se sofista.
Na Idade Média não existia uma
Filosofia, mas correntes de opiniões,
São Justino (165 d.C.),
doutrinas e teorias, denominadas de
Tertuliano (nasc. 155 d.C.), Escolástica. Santo Tomás de Aquino
Santo Agostinho (354-430),
e Santo Agostinho são seus
Santo Anselmo (1033-1109), principais representantes. BuscavaPedro Abelardo (1079se conciliar fé com razão. O método
1142), Santo Tomás de
utilizado é o dadisputa: baseando-se
Aquino (1221-1274), John no silogismo aristotélico, partiam de
Duns Scot (1270-1308) e
uma intuição primária e, através da
Guilherme Ockham (1229controvérsia, caminhavam até as
1350)
últimas conseqüências do tema
proposto. A finalidade era o
desenvolvimento do raciocínio lógico.
Giordano Bruno (15481600), Galileu Galilei (15641642), Francis Bacon (15611626), René Descartes
(1596-1650), John Locke
(1632-1704), Montesquieu
Desenvolvimento da mentalidade
(1689-1755), Voltaire (1694racionalista, cujos princípios
1778), Diderot (1713-1784),
opunham-se à autoridade secular
d'Alembert (1717-1783),
da Igreja.
Rousseau (1712-1778) e
Adam Smith (1723-1790),
George Berkeley (16851753), David Hume (17111776), Immanuel Kant
(1724-1804)
A idade moderna é caracterizada
pelo desenvolvimento do método
científico. Até então, o conhecimento
era dogmático. A partir do século
XVI, transforma-se em conhecimento
teórico-experimental, ou seja, toda a
teoria deve passar pela experiência,
no sentido de se aceitar ou rejeitar a
hipótese levantada. Tomemos como
exemplo o
metal.Conhecimento dogmático: o
calor dilata o metal;conhecimento
teórico-experimental: colocando-se o
metal no fogo, ele se dilatará;
contudo, somente a experiência
(observando o aumento de calor) é
que poderemos dizer até que grau
de temperatura ele se dilata ou se
derrete.
7
Texto 3: Resumo da História da Filosofia
Período
filosófico
1. Período
metafísico
Correspondência
Disciplinaao período
Grandes nomes
chave
histórico
Platão,Aristóteles,
São Tomás de
Época antiga,
Metafísica
medieval e início Aquino
(ontologia)
da moderna
(Descartes)
Conceitochave
Ser
2. Período
epistemológico
Época moderna
(ou
transcendental)
(Descartes)Kant
3. Período
semânticohermenêutico
Teoria da
significação,
Significado,
Husserl,
Fenomenologia, Semântica:
Dilthey,Heidegger, Hermenêutica, análise
Frege,Wittgenstein Semântica
lógica da
(análise lógica linguagem
da linguagem)
Época
contemporânea
Epistemologia, Verdade,
Teoria
objetividade,
transcendental validez
Filosofia antiga (2)
Panorama dos pré-socráticos ao helenismo
A filosofia nasceu na Grécia antiga - costumamos dizer - com os primeiros filósofos, chamados pré-socráticos. Mas a
filosofia não é compreendida hoje apenas como um saber específico, mas também como uma atitude em relação ao
conhecimento, o que faz com que seus temas, seus conceitos e suas descobertas sejam constantemente retomados.
A história da filosofia coloca em perspectiva o conhecimento filosófico e apresenta textos e autores que fundamentam
nosso
conhecimento
até
hoje.
A história da filosofia na Antigüidade pode ser dividida em três grandes períodos: o período pré-socrático, a Grécia
clássica e a época helenística.
Pré-socráticos
Os filósofos que viveram antes da época de Sócrates, como Parmênides e Heráclito, investigaram a origem das coisas e
as transformações da natureza. De seus textos só restaram fragmentos. O conhecimento especulativo no período présocrático não se distinguia dos outros conhecimentos, como a astronomia, a matemática ou a física.
Tales de Mileto foi o primeiro pensador que podemos chamar de filósofo. Como outros pré-socráticos, Tales dedicou-se
a caracterizar o princípio ou a matéria de que é feito o mundo. Sustentou que este princípio era a água.
A Grécia clássica
No período clássico, a filosofia vinculou-se a um momento histórico privilegiado - o da Grécia clássica. Nesse período,
que compreende os séculos 5 a.C. e 4 a.C., a civilização grega conheceu seu apogeu, com o esplendor da cidade de
Atenas.
Essa
cidade-estado
dominou
a
Grécia
com
seu
poderio
militar
e
econômico.
Adotando a democracia como sistema político, Atenas assistiu a um florescimento admirável das ciências e das artes.
Foi esse período histórico que deu origem ao pensamento dos três maiores filósofos da
Antigüidade: Sócrates, Platão eAristóteles.
Sócrates não deixou uma obra escrita, mas conhecemos seu pensamento através das obras de seu discípulo Platão.
Este não escreveu uma obra sistemática, organizada de forma lógica e abstrata, mas sim um rico conjunto de textos em
forma de diálogo, em que diferentes temas são discutidos. Os diálogos de Platão estão organizados em torno da figura
central de seu mestre - Sócrates.
Platão e Aristóteles
O conhecimento é resultado do convívio entre homens que discutem de forma livre e cordial. No livro "A República", por
exemplo, temos um grupo de amigos que incluem o filósofo Sócrates, dois irmãos de Platão - Glauco e Adimanto - e
8
vários outros personagens, que serão provocados pelo mestre. O diálogo vai tratar de assuntos relacionados à
organização da sociedade e à natureza da política. A palavra política vem do grego polis, que significa cidade ou Estado.
Aristóteles - ao contrário de Platão - criou uma obra sistemática e ordenada. A filosofia aristotélica cobre diversos
campos do conhecimento, como a lógica, a retórica, a poética, a metafísica e as diversas ciências. No livro "A Política",
Aristóteles entende a ciência política como desdobramento de uma ética, cuja principal formulação encontra-se no livro
"Ética a Nicômaco".
Helenismo
O período helenístico corresponde ao final do século 3 a.C. (período que se sucede à morte de Alexandre Magno, em
323 a.C.) e se estende, segundo alguns historiadores, até o século 6 d.C. As preocupações filosóficas fundamentais
voltam-se para as questões morais, para a definição dos ideais de felicidade e virtude e para o saber prático.
Filosofia medieval (2)
Filósofos cristãos conciliaram fé e razão
Com a dissolução do Império romano, as invasões bárbaras e o desaparecimento das instituições, os centros de difusão
cultural também se desagregaram. Os chamados "pais da igreja" foram os primeiro filósofos a defender a fé cristã nos
primeiros
séculos,
até
aproximadamente
o
século
8.
Os padres da igreja foram os filósofos que, nesse período, tentaram conciliar a herança clássica greco-romana, com o
pensamento cristão. Essa corrente filosófica é conhecida como patrística. A filosofia patrística começa com as epístolas
de São Paulo e o evangelho de São João. Essa doutrina tinha também um propósito evangelizador: converter os pagãos
à
nova
religião
cristã.
Surgiram idéias e conceitos novos, como os de criação do mundo, pecado original, trindade de Deus, juízo final e
ressurreição dos mortos. As questões teológicas, relativas às relações entre fé e razão, ocuparam as reflexões dos
principais pensadores da filosofia cristã.
Santo Agostinho e a interioridade
Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro grande filósofo cristão. Uma de suas principais formulações foi a idéia de
interioridade, isto é, de uma dimensão humana dotada de consciência moral e livre arbítrio.
As idéias filosóficas tornam-se verdades reveladas (reveladas por Deus, através da Bíblia e dos santos) e
inquestionáveis. Tornaram-se dogmas. A partir da formulação das idéias da filosofia cristã, abre-se a perspectiva de uma
distinção entre verdades reveladas e verdades humanas. Surge a distinção entre a fé e a razão.
O conhecimento recebido de Deus torna-se superior ao conhecimento racional. Em decorrência desta própria dicotomia,
surge a discussão em torno da possibilidade de conciliação entre fé e razão.
Escolástica e Tomas de Aquino
A partir do século 12, a filosofia medieval é conhecida como escolástica. Surgem as universidades e os centros de
ensino e o conhecimento é guardado e transmitido de forma sistemática. Platão e Aristóteles, os grandes pensadores da
Antiguidade, também foram as principais influências da filosofia escolástica. Nesse período, a filosofia cristã alcançou um
notável desenvolvimento. Criou-se uma teologia, preocupada em provar a existência de Deus e da alma.
O método da escolástica é o método da disputa. A disputa consiste na apresentação de uma tese, que pode ser
defendida ou refutada por argumentos. Trata-se de um pensamento subordinado a um princípio de autoridade (os
argumentos podem ser tirados dos antigos, como Platão e Aristóteles, dos padres da igreja ou dos homens da igreja,
como
os
papas
e
os
santos).
O filósofo mais importante desse período é São Tomás de Aquino, que produziu uma obra monumental, a "Suma
Teológica", elaborando os princípios da teologia cristã.
Filosofia moderna (2)
9
A razão: do Renascimento ao Iluminismo
No período do Renascimento (séculos 15 e 16), o mundo assistiu a profundas transformações no campo da política, da
economia, das artes e das ciências. O Renascimento retomou valores da cultura clássica (representada pelos autores
gregos e latinos), como a autonomia de pensamento e o uso individual da razão, em oposição aos valores medievais,
como
o
domínio
da
fé
e
a
autoridade
da
Igreja.
No campo político, o principal autor do Renascimento foi Maquiavel, autor de "O Príncipe". Maquiavel elaborou uma
teoria política fundamentada na prática e na experiência concreta. Durante o período medieval, o poder político era
concebido como presente divino e os teólogos elaboraram suas teorias políticas baseados nas escrituras sagradas e no
direito
romano.
Uma outra obra representativa desse momento filosófico é o "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdã. Ao elaborar
uma obra ao mesmo tempo literária e filosófica, Erasmo usa a palavra para afirmar valores humanos e denunciar a
hipocrisia, ridicularizando papas, filósofos ou príncipes. As mudanças dessa época de crise prepararam o caminho para
o despontar do racionalismo clássico.
Racionalismo clássico
O século 17 foi um dos períodos mais fecundos para a história da filosofia. Marcado pelo absolutismo
monárquico(concentração de todos os poderes nas mãos do rei) e pela Contra-Reforma (reafirmação da doutrina
católica em oposição ao crescimento do protestantismo), essa época acolheu as grandes criações do espírito científico,
como
as
teorias
de Galileu
Galilei e
o
experimentalismo
de
Francis
Bacon.
Recusando a autoridade dos filósofos que o antecederam, René Descartes foi o maior expoente do chamado
"racionalismo clássico" - uma época que deu ao mundo filósofos tão brilhantes como Blaise Pascal, Thomas
Hobbes,Baruch
Espinoza, John
Locke e Isaac
Newton.
Embora sempre tenha sido objeto da reflexão dos filósofos, o problema do conhecimento tornou-se mais agudo a partir
do século 17. Com os filósofos modernos (em oposição aos filósofos medievais e os da Antiguidade), a teoria do
conhecimento tornou-se uma disciplina filosófica independente. O pensamento passou a voltar-se para si mesmo. O
pensamento (sujeito do conhecimento) passou a ser também o seu objeto. Em outras palavras: o homem começou a
pensar nas suas próprias maneiras de pensar e entender o mundo.
Racionalismo e empirismo
Os filósofos formularam basicamente duas respostas diferentes para a questão do conhecimento - o racionalismo e
oempirismo.
Para os racionalistas, como René Descartes, o conhecimento verdadeiro é puramente intelectual. A experiência sensível
precisa
ser
separada
do
conhecimento
verdadeiro.
A
fonte
do
conhecimento
é a
razão.
Para os empiristas, como John Locke e David Hume, o conhecimento se realiza por graus contínuos, desde a sensação
até atingir as idéias. A fonte do conhecimento é a experiência sensível.
O iluminismo
No século 18, a razão é vista também como guia para a discussão do problema moral (o problema da ação humana) e o
filósofo é entendido como aquele que faz uso público da razão, ao usar sua liberdade de pensar diante de um público
letrado.
Immanuel Kant foi um filósofo de grande reputação, um dos maiores pensadores da filosofia do Iluminismo(movimento
cultural do século 17 e 18, caracterizado pela valorização da razão como instrumento para alcançar o conhecimento).
Como autêntico representante da filosofia do século 18, era defensor incondicional do papel da razão no progresso do
homem. Ao buscar fundamentar na razão os princípios gerais da ação humana, Kant elaborou as bases de toda a ética
que viria a seguir. A formulação do famoso "imperativo categórico" guiou seu pensamento no campo da moral e dos
costumes. Kant criou duas obras magistrais, a "Crítica da Razão Pura"(1781) e "Crítica da Razão Prática" (1788).
O Iluminismo foi também a filosofia que norteou a Revolução Francesa, e teve em filósofos como Voltaire, Jean-Jacques
Rousseau e Denis Diderot seus grandes expoentes.
Filosofia Contemporânea (2)
Fenomenologia, existencialismo
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O mundo em que vivemos, das telecomunicações, da internet, dos programas espaciais, da física quântica, ou da
medicina de alta tecnologia parece não ter lugar para a filosofia. Onde está a filosofia? O filósofo Bertrand Russelpensou
nessa questão:
A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar ao conhecimento. O conhecimento a que ela aspira é o
tipo de conhecimento que dá unidade e sistematiza o corpo das ciências, e que resulta de um exame crítico dos
fundamentos de nossas convicções, preconceitos e crenças. chamamos de filosofia contemporânea aquela que teve
início no século 19, atravessou o século 20 e chegou até os dias de hoje.
A filosofia contemporânea fundamenta-se em alguns conceitos que foram elaborados no século 19. Um desses
conceitos é o conceito de história, que foi formulado pelo filósofo G.W.F. Hegel. A filosofia de Hegel relaciona-se com as
idéias de totalidade e de processo. Passamos a entender o homem como um ser histórico, assim como a sociedade.
Uma das conseqüências dessa percepção é a idéia de progresso. O filósofo Auguste Comte foi um dos principais
teóricos a pensar essa questão. Tanto a razão quanto o saber científico caminham na direção do desenvolvimento do
homem (o lema da bandeira brasileira, ordem e progresso, é inspirado nas idéias de Comte).
As utopias políticas elaboradas no século 19, como o anarquismo, o socialismo e o comunismo, também devem muito à
idéia de desenvolvimento e progresso, como caminho para uma sociedade justa e feliz.
Progresso descontínuo
A idéia de que a história fosse um movimento contínuo e progressivo em direção ao aperfeiçoamento sofreu duras
restrições durante o século 20.
No século 20, porém, formou-se a noção de que o progresso é descontínuo, isto é, não se faz por etapas sucessivas.
Desse modo, a história universal não é um conjunto de várias civilizações em etapas diferentes de desenvolvimento.
Cada sociedade tem sua própria história. Cada cultura tem seus próprios valores.
Essa visão de mundo possibilitou o desenvolvimento de várias ciências como a etnologia, a antropologia e as ciências
sociais.
Ciência e técnica
A confiança no saber científico foi outra das atitudes filosóficas que se desenvolveram no século 19. Essa atitude implica
que a natureza pode ser controlada pela ciência e pela técnica. Mas não apenas isso, o desenvolvimento da ciência e da
técnica passa a ser capaz de levar ao progresso vários aspectos da vida humana. Surgiram disciplinas como a
psicologia, a sociologia e a pedagogia.
No século 20, a filosofia passou a colocar em cheque o alcance desses conhecimentos. Essas ciências podem não
conseguir abranger a totalidade dos fenômenos que estudam. E também muitas vezes não conseguem fundamentar e
validar suas próprias descobertas.
O triunfo da razão
A ideia de que a razão, ciência e o conhecimento são capazes de dar conta de todos os aspectos da vida humana
também foi pensada criticamente por dois grandes filósofos: Karl Marx e Sigmund Freud.
No campo político, Marx tornou relativa a idéia de uma razão livre e autônoma ao formular a noção de ideologia - o poder
social e invisível que nos faz pensar como pensamos e agir como agimos.
No campo da psique, Freud abalou o edifício das ciências psicológicas ao descobrir a noção de inconsciente - como
poder que atua sem o controle da consciência.
Teoria crítica
A ideia de progresso humano como percurso racional sofreu um duro golpe com a ascensão dos regimes totalitários,
como o nazismo, o fascismo e o stalinismo. O desencanto tomou o lugar da confiança que existia anteriormente na idéia
de uma razão triunfante.
Para fazer face a essa realidade, um grupo de intelectuais alemães elaborou uma teoria que ficou conhecida comoteoria
crítica. Um dos principais filósofos desse grupo é Max Horkheimer. Ele pensou que as transformações na sociedade, na
11
política e na cultura só podem se processar se tiverem como fim a emancipação do homem e não o domínio técnico e
científico sobre a natureza e a sociedade.
Esse pensamento distingue a razão instrumental da razão crítica. O que seria a razão instrumental? Aquela que
transforma as ciências e as técnicas num meio de intimidação do homem, e não de libertação. E a razão crítica? É a que
estuda os limites e os riscos da aplicação da razão instrumental.
Existencialismo
O filósofo Jean-Paul Sartre também pensou as questões do homem frente à liberdade e ao seu compromisso com a
história. Utilizando também as contribuições do marxismo e da psicanálise, o filósofo elaborou um pensamento
sistemático que põe em relevo a noção de existência em lugar da essência.
Fenomenologia
O estudo da linguagem científica, dos fundamentos e dos métodos das ciências tornou-se um foco de atenção
importante para a filosofia contemporânea. O filósofo Edmund Husserl propôs à filosofia a tarefa de estudar as
possibilidades e os limites do próprio conhecimento. Husserl desenvolveu uma teoria chamada fenomenologia.(tudo que
podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um
designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação")
Filosofia analítica
As formas e os modos de funcionamento da linguagem foram estudados pelo filósofo Ludwig Wittgenstein. A filosofia
analítica é uma disciplina que se vale da análise lógica como método e entende a linguagem como objeto da filosofia.
Bertrand Russel e Quine também estudaram os problemas lógicos das ciências, a partir da linguagem científica. Embora
tenha se desdobrado em disciplinas especializadas, a filosofia ainda é - como sempre foi - uma atitude filosófica.
http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u25.jhtm
Texto 4: A dúvida filosófica
"Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que nem sequer a percebemos ou a sentimos,
isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância mantêm-se em
nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis de
modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente,
achamos que sabemos tudo o que há para saber.
A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que as nossas crenças e
opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo,
nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em
certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, factos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e
somos tomados em insegurança.
Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche de espanto
e de admiração não sabemos o que pensar ou que fazer com a novidade do que vimos ou ouvimos porque as crenças,
opiniões e ideias que possuímos não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a
perplexidade, fazem-nos reconhecer a nossa ignorância e criam o desejo de superar a incerteza.
Quando isto acontece, estamos na disposição de espírito chamada busca da verdade.
O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos como desejo de confiar nas coisas e nas pessoas, isto é,
de acreditar que as coisas são exactamente tais como as percebemos e o que as pessoas nos dizem é digno de
confiança e crédito. Ao mesmo tempo, nossa vida quotidiana é feita de pequenas e grandes decepções e, por isso,
desde cedo, vemos as crianças perguntarem aos adultos se tal coisa "é de verdade ou é a fingir" (…)
A criança sensível à mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do "fingir", isto é, a mentira é diferente da imaginação
e a criança sente-se ferida, magoada, angustiada quando um adulto lhe diz uma mentira, porque ao fazê-lo, quebra a
relação de confiança e a segurança. (…) Assim, seja na criança, seja nos jovens ou nos adultos, a busca da verdade
está sempre ligada a uma decepção, a uma desilusão, a uma perplexidade, a uma insegurança ou, então, a um espanto
e uma admiração diante de algo novo ou insólito. "
12
Marinela Chaui (adaptado)
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Texto 5: A Alegoria da Caverna
I
magem retirada dewww.inf.ufsc.br/.../tgs/trab_01/caverna1.jpg
"Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão
aprisionados. As suas pernas e os seus pescoços estão acorrentados de tal modo que são forçados a permanecer
sempre no mesmo sítio e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A
entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo a que se possa, na semi-obscuridade, ver o
que
se
passa
no
interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há
um caminho ascendente ao longo do qual foi erguido um muro, como se fosse a parte fronteira de um palco de
marionetas. Ao longo desse muro/palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos,
animais
e
todas
as
coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros vêem na parede do fundo da caverna as
sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as
transportam.
Como nunca viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não
podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres
humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que vêem porque há a fogueira e a luz no exterior e
imaginam
que
toda
a
luminosidade
possível
é
a
que
reina
na
caverna.
Que aconteceria, pergunta Platão, se alguém libertasse um dos prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em
primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, o muro, as estatuetas e a fogueira. Embora
dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o
caminho
ascendente,
por
ele
seguiria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira no mundo verdadeiro é a luz do sol e ele ficaria
inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas
e, prosseguindo no caminho, veria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras
de imagens (as sombras das estatuetas projectadas no fundo da caverna) e que somente agora está a contemplar a
própria
realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos
outros
o
que
viu
e
tentaria
libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros tentariam ridicularizá-lo, não acreditariam nas suas palavras
e, se não conseguissem silenciá-lo com os seus gracejos, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele
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teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe,
alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais
que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da
verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento
que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A interrogação. O que é a visão do mundo
real iluminado? A filosofia. Por que é que os prisioneiros ridicularizam, espancam e matam o filósofo (Platão está a
referir-se à condenação de Sócrates à morte pela assembleia ateniense?)? Porque imaginam que o mundo sensível é o
mundo
real
e
o
único
verdadeiro.
"
Marilena Chaui
Texto 6: As grandes áreas da Filosofia
Veremos agora, as principais áreas da Filosofia. Já sabemos que Filosofia é um conhecimento que lida com toda a
problemática humana. Seu campo de atuação abrange as mais variadas dimensões da existência, fazendo com que
surgissem algumas ramificações (ou áreas) dentro da Filosofia. Cada área com seus respectivos problemas ecada
problema deve ser metodicamente analisado, isso é filosofar.Vejamos agora, algumas áreas e seus respectivos
problemas:
1) Epistemologia: como analisar as ciências?
2) Teoria do Conhecimento: o que é conhecer?
3) Ética: o que é o bem?
4) Política: como conviver?
5) Filosofia da História: como o homem se relaciona com o tempo e o espaço social?
6) Estética: o que é beleza; o que é arte?
7) Metafísica: o que são os princípios da realidade?
8) Lógica: quais são as regras do pensamento?
Agora veremos uma pequena introdução de cada área da Filosofia.
1) ESPISTEMOLOGIA Para a Filosofia as perguntas, muitas vezes, são mais importantes do que as repostas. As
perguntas, a curiosidade é o movimento do mundo. A questão é que não devemos viver de forma passiva, aceitando
tudo e a todos. Com relação a ciências, por exemplo, surgem muitas dúvidas, curiosidades, não é mesmo? Tudo isso,
precisa ser refletido, investigado, afinal, a ciência interfere diretamente na nossa vida. Se a ciência que é produzida por
cientistas interfere diretamente no nosso cotidiano, devemos refletir sobre ela, sobre seus problemas, suas
conseqüências, ou seja, não podemos deixar que os cientistas decidam pela produção científica. Dessa forma, surgem
algumas perguntas fundamentais, como no exemplo abaixo, no entanto, quanto mais perguntas, melhor.
a) Nós devemos confiar nas ciências?
A ciência não explica tudo. Ela tem limites, mas o conhecimento mais adequado desenvolvido pela razão humana para
tentar resolver os seus problemas. Só é cientifico o conhecimento que garante a sua validade.
b) Quem faz a ciência?
A ciência é produzida por pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. No Brasil, a produção cientifica é
predominantemente produzidas nas universidades e em centros de pesquisas associados as indústrias.
c) A ciência é importante?
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A produção cientifica é importante quando beneficia a humanidade.
A Filosofia discute, inclusive, duas questões diretamente associadas à importância da ciência: umadiz respeito ao
acesso desigual aos benefícios da ciência e a outra refere-se ao fato deque nem toda a produção cientifica resulta
favorável à humanidade.
d) A ciência tem limites? Quais?
Os limites da ciência são os conhecimentos racionais e experimentais (empíricos), pois fora deles, a ciência não pode
afirmar nada.
Conceito de Epistemologia:
³Epistemologia (também chamada Teoria da Ciência) é uma parte da Filosofia da Ciência que concerne à natureza do
conhecimento cientifico e seus grandes problemas: como e em que condições é possível conhecer?
Existe a certeza absoluta do conhecimento? Quais são as características do conhecimento dentre as Ciências Naturais,
as Ciências Humanas e as Ciências Formais?´.
www.cle.unicamp.br/FAQs.htm.Acesso em: 27 out.2007.
Antes de tudo, é preciso saber colocar problemas. O que quer que se diga da vida cientifica, os problemas não se
colocam por si. É precisamente esse sentido do problema que dá a marca do verdadeiro espírito cientifico. Para um
espírito cientifico,todo o conhecimento é uma resposta a uma questão. Senão houve questão, não pode haver
conhecimento cientifico´.BACHELARD, Gaston. A formação do espírito cientifico. 2ed. Rio de Janeiro: Contraponto,
1996;
2) TEORIA DO CONHECIMENTO
Algumas perguntas fundamentais:
a) O que é conhecer?
Criar uma representação, a mais próxima do possível da realidade de algo.
b) Como podemos conhecer?
Nós podemos conhecer quando realizamos atividades intelectuais sobre nossas sensações e sobre as idéias que nos
informam.
A Teoria do Conhecimento é uma investigação sobre as diversas maneiras pelas quais podemos conhecer as coisas e
as relações que os conhecimentos podem estabelecer ou estabelecem. Por exemplo. Memória, experiências dos
sentidos,analogias, reflexão, realidade, imaginação e outros. O seu problema principal é como o sujeito se relaciona com
o objeto de conhecimento.
3) ÉTICA
a) Como saber qual a melhor atitude a ser tomada. Existem várias maneiras de se tentar fazer o bem, mas para
encontrar a maneira mais adequada precisamos, sempre, treinar a nossa reflexão racional, pois há situações em nossa
vida que em uma atitude mal pensada pode trazer prejuízo para nós e para muitas outras pessoas.
b) Qual a importância de se fazer o bem?
O bem é algo a ser construído, para podermos enfrentar os problemas encontrados na sociedade ou em nós mesmos.
Pensar em boas atitudes é lutar contra os sofrimentos que, em geral, temos. É certo que fazer o bem é, às vezes, algo
difícil, mas faze ló melhora nossas relações de convivência.
Conceito de Ética:
Ética é uma investigação sobre qual é a melhor maneira do agir humano.
Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois a escolhemos sempre por si
mesma, e nunca por causa de algo mais;mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras formas de
excelência,embora as escolhamos por si mesmas (escolhê-las-íamos ainda que na resultasse delas), escolhemo-las por
causa de felicidade, pensando que a através delas seremos felizes´.Aristóteles. Ética a Nicômacos.Tradução: Mario da
Gama Kury.4ªEdição. Editora da UNB, 2001. p 23. 1097
4) POLITICA
a)Quais são as melhores leis?
As melhores leis são aquelas que beneficiam a todos, permitem a liberdade e são conhecidas por todos.
Cada lei deve levar em consideração as necessidades das pessoas.
b)Como podemos conviver com as outras pessoas sem violência?
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Podemos conviver com outras pessoas, sem violência, agindo de maneira sensata em todas as dimensões.
A maneira sensata de agir é, em primeiro lugar, escolher os governantes que se preocupam, sinceramente, com a
educação e que demonstrem sensibilidade em relação às necessidades das pessoas e a qualidade de vida, em geral.
Conceito de Política: Política é a investigação filosófica sobre qual é o melhor governo, o que é justiça e como deve
ser o comportamento das pessoas em suas relações de convivência.
Referências
http://filoesocio.spaceblog.com.br/1565049/Quadro-Resumo-Cronologia-da-Filosofia/ - Texto 2
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