A educação no Iluminismo: o
ideal liberal da educação
Edilian Arrais*
CONTEXTO HISTÓRICO
As revoluções burguesas
Figura 11 - Rouseau
Até o século XVIII a burguesia ocupou posição secundária na estrutura da sociedade
aristocrata, os privilegiados eram a nobreza e o clero.
A burguesia havia enriquecido pelos resultados da Revolução Comercial, encontrava-se sobrecarregada
por impostos e embora tenha ascendido economicamente pela aliança com a realeza absolutista, ressentiase do mercantilismo.
A entrada da máquina a vapor nas fábricas, em 1750, marcou o início da Revolução Industrial, o que
alterou definitivamente o panorama o panorama socioeconômico; logo, tornou-se inevitável que a
burguesia, detentora do poder econômico não reivindicasse também o poder político.
No século XVIII explodiram as revoluções burguesas. As ideias liberais de Locke espalharam-se pela
Europa e também pelo Novo Mundo.
O grande acontecimento europeu foi a Revolução Francesa (1789) que depôs contra os privilégios
hereditários da nobreza, os burgueses defendiam os princípios de “igualdade, liberdade e fraternidade”.
As ideias iluministas
O Iluminismo é uma das importantes marcas do século XVIII, também conhecido como o Século das
Luzes — o poder da razão humana de interpretar e reorganizar o mundo.
No século XVIII o indivíduo descobre-se confiante, não mais se contenta em contemplar a harmonia da
natureza, mas quer conhecê-la e dominá-la.
Na economia — o liberalismo apresentava as aspirações da burguesia desejosa de gerenciar seus
negócios, sem intervenção do Estado mercantilista.
Na política — as ideias liberais opunham-se ao absolutismo. Rousseau retoma a discussão de contrato
social numa perspectiva menos elitista e mais democrática.
Na moral — buscavam-se formas laicas, que permitissem a naturalização do comportamento humano.
Rousseau12 propõe uma pedagogia baseada no retorno à natureza, a espontaneidade do sentimento.
Na religião — o deísmo é uma espécie de “religião natural” em que não haveria lugar para os dogmas e
fanatismos. Os filósofos deístas não aceitavam a revelação divina nos rituais do culto, admitindo que
Deus era apenas o Primeiro Motor, o Criador do Universo, o Supremo Relojeiro.
12
Jean-Jacques Rousseau foi um importante filósofo, teórico político e escritor suíço. Nasceu em 28 de junho de 1712 na cidade
de Genebra (Suíça) e morreu em 2 de julho de 1778 em Ermenoville (França). É considerado um dos principais filósofos
do iluminismo, sendo que suas idéias influenciaram a Revolução Francesa (1789).
O despotismo esclarecido
O Iluminismo marcou presença em países como Rússia, Áustria e Portugal, nos
quais permanecia o absolutismo, então chamado de despotismo esclarecido.
Figura 12 Déspotas esclarecidos
Alguns soberanos europeus aderiram às ideias iluministas propagadas pelos
filósofos franceses. Por compactuarem com os novos ideais iluministas e por
procurarem, através dele, promover reformas sociais e modernizar os seus
Estados, tais soberanos absolutistas foram denominados déspotas esclarecidos.
Alguns desses despostas esclarecidos foram: Frederico II da Prússia; Catarina II
da Rússia; Marquês de Pombal; Filipe V da Espanha e José II da Áustria.
EDUCAÇÃO NO ILUMINISMO
Tendência liberal e laica
No contexto do Iluminismo, não fazia mais nenhum sentido atrelar a educação à religião, como nas
escolas confessionais, nem aos interesses de uma classe, como os que queria a aristocracia.
A escola deveria ser leiga (não religiosa) e livre (independente dos privilégios de classe). Esses
pressupostos sugerem: educação ao encargo do Estado; obrigatoriedade e gratuidade do ensino elementar;
nacionalismo, ou seja, recusa do universo jesuítico; ênfase na língua materna, rejeitando-se o latim; e,
orientação prática, voltada para as ciências técnicas e ofícios.
Condorcet em 1792 redigiu o Plano de Instrução Pública, que estendia da todos os cidadãos a instrução
pública e gratuita e o saber técnico necessário à profissionalização. O plano não foi aprovado, mas
inspirou outros projetos. As ideias da educação universal reaparecerão com mais força no século XIX.
Dificuldade do ensino
Além das queixas em relação ao conteúdo, excessivamente literário e pouco científico, as escolas eram
insuficientes e os mestres sem qualificação adequada. Mal pagos, geralmente não tinham experiência ou
permaneciam nessa profissão enquanto não arrumavam outra melhor. Com formação deficiente, não
conseguiam disciplinar as classes nem ensinar grande coisa e ainda abusavam da prática de castigos
corporais.
Apesar dos projetos de estender a educação a todos os cidadãos, prevaleceu o dualismo escolar, ou seja,
uma escola para o povo e outra para a burguesia. Essa dualidade era aceita com tranquilidade, sem o
temor de ferir preconceito de igualdade, tão caro aos ideais revolucionários.
No início do século XIX, muitas dessas tendências liberais da Revolução Francesa foram abandonadas. O
Estado demonstrava mais interesse pelo ensino médio porque via com desconfiança a iniciativa do ensino
particular, cujos programas reviviam o formalismo dos antigos colégios jesuítas.
Reformas na Alemanha
Na Alemanha o ensino primário tornou-se obrigatório, ampliando a rede de escolas elementares, com
especial atenção para o método e o conteúdo de ensino. Em 1763 o Estado assumiu o controle da
educação, ao nomear inspetores e instituir um exame final do curso secundário para o acesso à
universidade.
Portugal e a reforma pombalina
No início do século XVIII ainda persistia a influência dos jesuítas com seus colégios espalhados pelo
mundo, embora fossem muito criticados.
Quando Pombal expulsa os jesuítas, estabelece-se no mesmo ano a educação leiga, sob a responsabilidade
total do Estado. Pombal instituiu as aulas régias (porque pertenciam ao rei, ao Estado e não à Igreja). Em
1772 foi iniciada a segunda Reforma de Estudos Maiores, quando se reestruturou a Universidade de
Coimbra.
Embora a escola fosse leiga na sua administração, continuava obrigatório o ensino da religião católica e
havia severo controle da Inquisição sobre a bibliografia utilizada, rejeitando-se os abomináveis princípios
franceses, sobretudo as ideias republicanas, contra a fé tradicional, a religião natural ou o deísmo.
O pensamento iluminista
Uma das marcas do Iluminismo foi a política educacional focada no esforço para
tornar a escola leiga e função do Estado.
Há três tendências fundamentais que surgem como contribuição no Iluminismo:
os enciclopedistas, o naturalismo de Rousseau e a pedagogia idealista de Kant.
Há outros que também contribuíram como é o caso de Voltaire13.
Alguns desses pensadores acreditavam na capacidade de bem usar a razão como
atributo de uma elite intelectual.
Figura 13 - Kant
A pedagogia de Rousseau e sua concepção política
Rousseau criticou o absolutismo e elaborou os fundamentos da doutrina liberal. No entanto, o pensamento
pedagógico de Rousseau não se separa de sua concepção política, que é mais democrática do que a
teórico do filósofo inglês Locke.
Para Rousseau o homem na natureza é bom, mas se corrompe na sociedade, que destrói sua liberdade.
Rousseau cria que cidadão não escolhe representantes a quem delegar o poder — como defendiam Locke
e a tradição liberal — para ele, só o povo é soberano.
Naturalismo e educação negativa
A educação natural consiste na recusa ao intelectualismo, que leva fatalmente ao ensino formal e livresco.
Como amante da natureza Rousseau quer retornar ao contato com animais, plantas e fenômenos físicos
dos quais o indivíduo urbano frequentemente se distancia. Desse modo, valoriza a experiência, a
educação ativa voltada para a vida, para a ação, cujo principal motor é a curiosidade.
Além de naturalista, a educação por Rousseau também é negativa. Desconfiado da sociedade, Rousseau
teme a educação que põe a criança em contato com os vícios e a hipocrisia. Ele não dava muito valor ao
conhecimento transmitido e queria que a crianças aprendesse a pensar, não como um processo que vem de
fora para dentro, ao contrário, como desenvolvimento interno e natural.
Kant14 e a pedagogia idealista e a consciência moral
A importância de Kant atribuída à educação encontra-se fundamentada nas obras mais clássicas Crítica
da razão pura — desenvolve a critica do conhecimento, e Crítica da razão prática — analisa a
moralidade.
13
Voltaire era o pseudônimo (apelido) de François-Marie Arouet. Foi um importante ensaísta, escritor e filósofo iluminista
francês. Nasceu na cidade de Paris, em 21 de novembro de 1694 e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1778.
Durante sua vida escreveu diversos ensaios, romances, poemas e até peças de teatro.
14
Immanuel Kant (1724 - 1804) foi um filósofo alemão, considerado um dos maiores da história e dos mais influentes no ocidente.
Kant veio de família pobre e foi criado no seio da religião protestante. Lecionou geografia e iniciou a carreira universitária
ensinando Ciências Naturais. Em 1770, foi nomeado professor catedrático na Universidade de Königsberg.
Condena os empiristas, segundo os quais tudo o que conhecemos vem dos sentidos e não concorda com
os racionalistas, para os quais tudo o que pensamos vem de nós.
Para Kant o conhecimento humano é a síntese dos conteúdos particulares dados pela experiência e da
estrutura universal da razão (a mesma para todos os indivíduos).
Além do ato conhecimento, o indivíduo é capaz de outra atividade espiritual, o exercício da consciência
moral, por meio da qual rege a vida prática conforme certos princípios. Kant conclui que só o ser humano
é moral, por ser capaz de atos de vontade.
Educação e liberdade
Cabe à educação ao desenvolver a faculdade da razão, formar o caráter moral. É ela que lhe permite
atingir o objetivo individual e social.
Os princípios kantianos serão retomados no século XX por diversos autores na área da moral e da
educação, como é o caso de Piaget, Kolberg e Habermas.
O Século das Luzes expressou no pensamento controvertido de Rousseau anseios que animariam as
reflexões pedagógicas no período subsequente. Atacando o ideal da pessoa bem educado, do cortesão ou
do gentil-homem, o teórico propõe o desenvolvimento livre e espontâneo, respeitando a existência
concreta da crianças.
O pensamento de Kant também se insere no movimento da crítica à educação dogmática, aberto pelo
Iluminismo.
Por fim, as ideias dos estrangeirados levaram para Portugal os sopros do Iluminismo europeu, que deram
substrato teórico para importantes reformas no ensino.
PALVRAS-CHAVE
Revolução industrial – liberalismo – despotismo esclarecido
*
Graduada em Letras Português/Espanhol; pós-graduanda em Ensino de Língua Espanhola e Usos
de Novas Tecnologias
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