ANO IV – Nº 16 Recife, abril/ maio/ junho de 2013 Catia Fonseca >> Enfrentamento à PEC da Impunidade ganha força >> Gerusa Torres: perda irreparável >> MPPE luta contra redução da maioridade penal >> Simba é ferramenta usada no combate ao crime >> Promotoria do Torcedor é inédita no País >> MP nas Ruas chega em Carpina com força total >> Projeto Novos Horizontes debate meio ambiente em Fernando de Noronha >> Lei Complementar cria 21 cargos de promotor de Justiça >> Seminário Sul-Americano debate em São Paulo violência no futebol >> MPPE MPPE atento à prática dos crimes em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 cibernéticos >> Febraban firma com o MPPE acordo para reforçar segurança nos bancos da RMR 1 sumário 2 MPPE EM FOCO Circulação trimestral – Tiragem 1.500 exemplares Distribuição gratuita Abril/ maio/ junho 2013 ENTREVISTA 1 Secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, fala sobre ações desenvolvidas pelo MPPE e de suas relações com a Instituição. 4 PEC DA IMPUNIDADE Ministério Público reforça luta contra a PEC37, que tramita na Câmara dos Deputados, e recebe novos apoios País afora. 10 NOVOS PROMOTORES O governador sancionou a Lei Complementar nº 229 que cria mais 21 cargos de promotores de Justiça no Ministério Público. 23 GESTÃO ESTRATÉGICA O modelo de Gestão Estratégica do MPPE chega à fase de materialização, com a assinatura de resolução pelo PGJ. 7 PROMOTORIA PIONEIRA A Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor, inédita no País, começa a funcionar em Pernambuco sob elogios. 16 MP EM CARPINA O projeto Ministério Público nas Ruas chega a Carpina e reúne centenas de representantes da sociedade da Mata Norte. 27 MAIORIDADE PENAL Membros do MPPE engrossam coro dos críticos das PECs que tramitam no Congresso pela redução da maioridade penal. 8 MPPE DE LUTO Morte súbita da subprocuradora-geral de Justiça Gerusa Torres chocou membros e servidores do Ministério Público. 22 RESÍDUOS SÓLIDOS Problemas com o lixo urbano e uso sustentável da água foram temas debatidos em Fernando de Noronha pelo MPPE. 28 Gibson Sampaio Catia Fonseca Pernambuco ganha primeira Promotoria de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br deMinistério Justiça Público do Torcedor, inédita no País. 16 Promotores de Justiça agitam MP nas Ruas em Carpina, com grande adesão popular. 18 Projeto Novos Horizontes debateu a questão dos resíduos sólidos em Noronha. 20 Editorial Uma roda-viva O Ministério Público de Pernambuco tem andado nos últimos meses numa espécie de roda-viva, feita de fatos históricos e bastante relevantes. Com o Congresso Nacional praticamente voltado para a apreciação de dezenas de Propostas de Emendas Constitucionais (PECs), nosso MP vem participando ativamente das ações de enfrentamento à famigerada PEC-37/2011, que retira do Ministério Público Brasileiro o poder investigató- rio, que lhe foi dado pela Carta Magna de 1988. Juntos com membros do MP de todos os estados da Federação, subimos a rampa do Congresso, em Brasília, entoando o Hino Nacional, para entregar a Carta de Brasília ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, e um documento de repúdio à PEC-37 com 500 mil assinaturas físicas e 203 mil assinaturas virtuais. Ao mesmo tempo, temos manifestado nosso apoio à PEC-33/2011, que autoriza o Congresso Nacional a rever decisões do Supremo Tribunal Federal sobre inconstitucionalidade de propostas de emenda à Constituição, o que representa um verdadeiro absurdo, em mais uma afronta à Carta Magna. Também temos somado nossa voz às vozes de tantas outras instituições para formar um coro uníssono contra três PECs que visam à redução da maioridade penal, como se isso fosse resolver o problema da criminalidade no Brasil. A sociedade precisa parar para refletir melhor sobre essa questão, de forma fria e equilibrada, sem se deixar levar pelos ventos da emoção. Outro fato histórico que tem o Ministério Público pernambucano como principal protagonista foi a criação da Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor. Inédita no País. Esta iniciativa, que obteve repercussão nacional nos meios esportivos, vai contribuir com a redução dos índices de violência dentro e fora dos estádios. Todas essas questões são abordadas nesta edição, que traz ainda uma reportagem sobre Pablo Neruda, cujos restos mortais foram exumados para saber se o poeta chileno morreu de doença ou foi assassinado pelo regime militar do general Augusto Pinochet. A todos uma boa leitura! Aguinaldo Fenelon de Barros Procurador-geral de Justiça Expediente Procurador-geral de Justiça Aguinaldo Fenelon de Barros | Subprocuradora-geral em Assuntos Institucionais Maria Helena Nunes Lyra |Subprocuradora-geral em Assuntos Administrativos Lais Coelho Teixeira Cavalcanti | Corregedor-geral Renato da Silva Filho | Corregedora-geral substituta Daisy Maria de Andrade Costa Pereira | Ouvidor Mário Germano Palha Ramos | Secretário-geral Carlos Augusto Guerra de Holanda | Secretário-geral adjunto Valdir Francisco de Oliveira | Chefe de gabinete Ulisses de Araújo e Sá Júnior | Assessor ministerial de Comunicação Social Jaques Cerqueira / Jornalistas Gerlândia Bezerra, Giselly Veras, Izabela Cavalcanti, Roberto Barros e Sebastião Araújo | Estagiárias Alline Lima, Bruna Montenegro e Samila Melo (Jornalismo) | Publicidade Andréa Corradini e Leonardo MR Dourado | Relações Públicas Evângela Andrade | Apoio Administrativo Bruna Vieira, Cátia Fonseca e Marli Cruz | Repórter fotográfico Gibson Sampaio | Cinegrafista Marcos César | Revista MPPE EM FOCO – Coordenação Jaques Cerqueira | Redação Giselly Veras, Izabela Cavalcanti, Jaques Cerqueira e Sebastião Araújo | Projeto Gráfico Leonardo MR Dourado | Diagramação Aluísio Ricardo | Produção Executiva Evângela Andrade | Fotos Gibson Sampaio e Assessoria MPPE | Impressão Gráfica Liceu. Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Pernambuco – Rua do Imperador Dom Pedro II, 473 – Edifício Promotor de Justiça Roberto Lyra, Santo Antônio, Recife, PE – CEP: 50.010-240 – Fones: (81) 33031256 / 1279 – Fax: (81) 33031260 – [email protected] www.mp.pe.gov.br – twitter:@ mppe_noticias MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 3 Daniela Nader Entrevista - Tadeu Alencar “Quem lavra, colhe” Cearense de Juazeiro do Norte, Francisco Tadeu Barbosa de Alencar é formado em Direito pela UFPE, com especialização em Direito Tributário. Procurador da Fazenda Nacional, desde 1993, chegou a ocupar o cargo de procurador-geral adjunto do Ministério da Fazenda (2003-2006), em Brasília, no primeiro Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A convite do governador Eduardo Campos, assumiu em 2007 o cargo de procurador-geral do Estado, imprimindo como uma das marcas de sua gestão a recuperação de créditos da dívida ativa, que permitiu que R$ 349 milhões voltassem aos cofres do Estado, em quatro anos. À frente da Secretaria da Casa Civil e às vésperas de completar 50 anos, Tadeu Alencar fala com exclusividade sobre o Ministério Público de Pernambuco. 4 4 Ministério Ministério Público Público de de Pernambuco Pernambuco -- www.mp.pe.gov.br www.mp.pe.gov.br Como o senhor vê as relações institucionais entre o Poder Executivo estadual e o MPPE? Antes de tudo, como uma relação de profundo respeito e de reconhecimento ao papel que o Ministério Público desempenha, com a configuração que lhe deu a Constituição da República, de garantia da cidadania, de defesa da sociedade, dos direitos coletivos, do meio ambiente, do patrimônio público, de defesa da legalidade e da ordem jurídica, aí incluído o zelo para com os princípios retores da Administração Pública. Esse papel do Ministério Público, que lhe conferiu a nova ordem constitucional inaugurada em 1988, é uma conquista da ordem democrática, da sociedade brasileira, da política em sua dimensão mais elevada. Como órgão de controle, pelo poder que detém, deve a sua atuação ser acompanhada de uma grande responsabilidade. Como assim? Quem tem poder, deve exercê-lo com moderação, com ponderação, sempre, com serenidade, com sobriedade, a fim de conferir-se autoridade e legitimação a esse poder. Por outro lado, o Poder Executivo é investido da prerrogativa de formular e conduzir as políticas públicas ungidas pelo povo, que por sua vez, devem ser exercidas em atenção aos regramentos constitucionais. Quanto ao mérito administrativo, porém, as escolhas são do gestor. Só ele tem legitimidade para fazer tais escolhas. Por fim, ressalte-se que, sendo como é, o fim público uma tarefa de todos, guardadas as competências de cada instituição, a finalidade pública deve ensejar uma relação, quando couber e com toda transparência, de colaboração, de parceria. É o que acontece, por exemplo, no Pacto Pela Vida, na persecução dos créditos da Fazenda Pública e no combate à sonegação. Qual a sua avaliação sobre a participação de promotores de justiça criminal e procuradores de justiça no Pacto Pela Vida. O Pacto Pela Vida é uma política de Estado mais do que um programa de Governo; uma competente pactuação entre todos os atores, Executivo, Judiciário, Ministério Público, Defensoria, sociedade civil, reunidos em torno da tarefa de combater os preocupantes índices de criminalidade vigorantes no Brasil e, no particular, em Pernambuco. Dada à dimensão dessa tarefa, e o desafio de combater a criminalidade, que assume formas cada vez mais sofisticadas, reclama-se a atuação integrada das polícias e a ação sinérgica de todos os atores referidos, posto que só o bom funcionamento dos sistemas, preventivo, repressivo, punitivo, de ressocialização, de socioeducação, de assistência social, pode assegurar a efetividade no combate à criminalidade. E os resultados têm sido positivos? Jogamos luzes sobre nossas realidades e descobrimos que precisávamos vencer o dos promotores e procuradores de Justiça que participam ativamente do Pacto Pela Vida, numa atitude merecedora de todos os encômios. Isso sem falar do entusiasmo do procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, um ativo defensor das premissas que, como o próprio nome o diz, reúne valores muito caros ao nosso Governo. O Ministério Público começa a cobrar dos prefeitos pernambucanos maior responsabilidade com a segurança pública. Que avaliação o senhor faz dessa iniciativa? A segurança pública, pela sua importância, assim como a saúde e outros direitos fundamentais, é direito de todos e dever do Estado. Dever de todos os entes federativos, não de um isoladamente, inclusive, em razão de medidas que se complementam. Parte central das políticas de segurança Jogamos luzes sobre nossas realidades e descobrimos que precisávamos vencer o primitivismo dos hábitos de uma cultura que coloca o aparelho de Estado de costas para a cidadania. primitivismo dos hábitos de uma cultura que coloca o aparelho de Estado de costas para a cidadania. O Brasil oficial de costas para o Brasil real, como costuma referir o governador Eduardo Campos. Todas as instituições que participam do Pacto Pela Vida se viram desafiadas a se adaptarem ao que nos cobra a sociedade, ter integração, articulação, metas a serem atingidas e, com o concurso de todos, obterem resultados animadores, que retiraram Pernambuco das estatísticas vergonhosas no tocante à criminalidade. Deixamos de ser o Estado mais violento do Brasil para exemplar os outros Estados e a própria União, com uma excepcional experiência, uma política de Estado reconhecidamente exitosa. Embora, saibamos todos, há muito a perseverar. E todo sucesso desta política, desde o primeiro momento, contou com o apoio pública é de responsabilidade do Estado, como a organização das polícias, seu aparelhamento e estruturação. Todavia, há um papel importante a ser desempenhado pelos municípios, a exemplo da organização das guardas municipais, da ordenação do espaço urbano, do controle sobre a venda de bebidas alcoólicas, do trânsito, da iluminação pública, do oferecimento de opções culturais e de lazer, da recuperação de áreas degradadas, na liberdade assistida, entre outras. Ações que dialogam diretamente com atividades típicas de segurança pública e que refletem nos índices de violência. É importante esse chamamento à necessidade de gestões eficientes e que tenham compromissos com resultados que a população espera. E esses resultados serão tão mais efetivos se houver diálogo com a sociedade e integração com as políticas praticadas MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 5 pelo Estado e pela União. Fizemos esse debate recentemente com todos os prefeitos, no Encontro Juntos por Pernambuco, inclusive disponibilizando cursos e treinamentos para qualificar o gestor municipal. Essa cobrança é, portanto, saudável, desde que se busque compreender as realidades locais e seus limites, numa atitude, primeiro, de convencimento, de diálogo, que é sempre um bom caminho. De que forma o Governo está focando a área da infância? Infância e juventude são áreas que o Governo dedica grande atenção. Não por outra razão, criou a Secretaria da Infância e da Juventude, para sinalizar a necessidade de que o Governo do Estado adotasse políticas específicas. Há uma série de iniciativas voltadas a prover a necessidade de creches, educação, inserção no mercado de trabalho, cultura e lazer, combate ao uso de drogas, bem assim na aplicação de medidas socioeducativas, tendentes à recuperação de jovens em conflito com a lei. A Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) é um grande desafio. Em razão da gravidade dos problemas ali existentes, o Governo decretou recentemente estado de emergência, a fim de que possa, no menor espaço de tempo, realizar as intervenções físicas e estruturais nas unidades, reformas e construções de novos equipamentos, tudo para alcançar o objetivo fundamental de recuperar esses jovens, em especial, na implementação, com a ajuda dos municípios, da liberdade assistida, como medida mais adequada a ser aplicada para atos infracionais de menor gravidade. Há orçamento e vontade política para isso. Os resultados vão aparecer, estamos convictos. O Ministério Público de outros estados começa a adotar ações desenvolvidas pelo MPPE contra o crack. O que este fato representa para Pernambuco? A luta contra o crack é um desafio que deve mobilizar todo o Brasil, dada à dimensão gravíssima que este problema alcançou. Não só nas grandes cidades, mas até nas regiões mais remotas do País, as drogas, em especial o crack, vem devastando a juventude. Devemos juntar esforços, unificar e articular políticas, envolver a sociedade, destinar recursos, instituir programas de educação preventiva, campanhas de esclarecimento, medidas de acolhimento e de tratamento, educação de qualidade, opções culturais e de lazer que sejam atrativos,que possam mobilizar a juventude e cativá- 6 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br la para um caminho diferente. Se houver oportunidade de trabalho e políticas assistenciais, culturais, educacionais e socioeconômicas eficientes, teremos a chance de vencer essa guerra. Mas é complexo e caro. O trabalho feito pelo Ministério Público é louvável e fortalece o sistema. Nos últimos dois anos, o MPPE fortaleceu suas ações em defesa da cidadania. Qual a importância desse trabalho? O Ministério Público tem um papel de grande relevo em defesa da cidadania, nas suas mais variadas expressões. É um papel que deve ser valorizado, fortalecido para que não se animem iniciativas voltadas a diminuir as suas prerrogativas. Aqui e ali se levantam vozes contra as prerrogativas do Ministério Público. São vozes do atraso, que pensam o Brasil de um tempo que não queremos repetir. Ao mesmo tempo, é decisivo reconhecer que controle e gestão são papéis distintos e devem guardar independência e autonomia, mas não necessariamente papéis contrastantes, conflituosos. Se cada um cumprir o seu papel, ganha a cidadania, quando as gestões são provocadas a agir em sintonia com o sentimento da sociedade e em obediência às leis do País, e ganha quando as políticas públicas são executadas, com agilidade, mas sempre com controle. Controle é fundamental. Pernambuco vive uma excelente fase de desenvolvimento econômico. Quais as perspectivas do Governo para 2013? Pernambuco vive um momento especial. Em seis anos, o Estado transformou-se num verdadeiro canteiro de obras em todas as regiões, e não só na Região Metropolitana, onde a riqueza se acostumou com a brisa do mar, mas também na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão. O Governo vem atraindo muitos empreendimentos estruturadores que estão mudando a matriz econômica do Estado, como a Refinaria Abreu e Lima, a Petroquímica Suape, os estaleiros, a fábrica da Fiat, a Hemobrás, empreendimentos públicos e privados que fazem com que Pernambuco seja o Estado que mais cresce no Brasil, tendo multiplicado por quatro a sua capacidade de investir nos últimos anos. Em 2012, investiu 3 bilhões reais. Ao mesmo tempo, cuida o Governo dos arranjos produtivos locais, da apicultura, da fruticultura irrigada e dos perímetros irrigados, da caprinocultura e do apoio aos pequenos empresários, urbanos e rurais. Isto mostra que é um Governo que olha o futuro, mas mantém compromissos históricos com os que mais precisam, os que são os destinatários das políticas públicas. Daí a importância das mudanças que ocorreram também na saúde, na redução da criminalidade, na educação, na qualificação profissional, no estabelecimento de uma gestão profissionalizada que sabe que precisa fazer as entregas que a população espera. O Governo vai continuar investindo nas ações em defesa da Lei Seca? E como será 2013? Sim. A Operação Lei Seca é um verdadeiro sucesso. É inadmissível alguém que ingeriu álcool sair por aí dirigindo um carro, uma motocicleta – que nessas condições são armas letais contra o condutor e, de resto, contra toda a sociedade. A iniciativa vem contribuindo para a redução substancial de mortes em acidentes de trânsito em Pernambuco. Por consequência, contribui também para a saúde e para a segurança pública, já que as operações policiais, dos órgãos de trânsito e da Secretaria de Saúde, terminam por inibir a criminalidade. Além do mais, vivemos tempos de “acabou a carteirada”. Autoridades, secretários de Estado, membros de todos os poderes, sabem que não adianta invocar a patente de autoridade. É uma mudança cultural importante. Um novo jeito de governar que a história vai nos permitir avaliar no devido tempo. O ano de 2013 será desafiador, pois vivemos uma crise econômica de largas proporções, agravada por políticas que, historicamente, em vários governos, implicam num desequilíbrio federativo sobre o qual precisamos refletir sobre ele. Aliado a isso, no ano de 2012, vivemos a pior seca dos últimos 60 anos. Mas estamos determinados a vencer 2013 e o faremos com mais investimentos. Este é um Governo que entrega mais do que promete. A autoestima dos pernambucanos está elevada porque é indiscutível que vivemos um extraordinário momento. Quando os grandes empreendimentos estiverem gerando seus frutos, Pernambuco será outro. Já é outro. Foram criados mais de meio milhão de empregos, os alunos da escola pública estão indo estudar em países estrangeiros. É uma mudança de patamar que nos anima a continuar trabalhando com afinco. Quem lavra, colhe. Gestão Estratégica Gibson Sampaio A coordenadora de Gestão Estratégica, Maria Helena Nunes Lyra (D) reúne equipe de Desenvolvimento Um novo modelo O Modelo de Gestão Estratégica do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), para o período 2013/2016, chega à etapa de materialização. O procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon de Barros, assinou a Resolução PGJ nº 05/2013 que implanta o modelo de Gestão Estratégica no âmbito da Instituição, prevê a criação do Comitê Gestor, Núcleo de Apoio Executivo e Secretaria Executiva. Integrantes da Equipe de Desenvolvimento e a coordenadora da Gestão Estratégica, subprocuradora-geral de Justiça em Assuntos Institucionais, Maria Helena Nunes Lyra, estiveram presentes ao ato de assinatura da resolução, que foi publicada no Diário Oficial do dia 23 de maio. Na ocasião, o procurador-geral de Justiça destacou o desempenho e dedicação da Equipe de Desenvolvimento e parabenizou pelo trabalho executado. Já a coordenadora da Gestão Estratégica destacou a importância da Resolução PGJ nº 05/2013. “Essa resolução servirá de instrumento para a definição do desdobramento da estratégia. Além disso, traz a definição dos papéis e os principais conceitos, sendo este o instrumento que dará início à materialização da Gestão. Tudo que se fez, todos os passos dados até agora foram em conjunto. A Resolução é o resultado de um trabalho realizado em equipe”, destacou a subprocuradora-geral, acrescentando que o Por- tfólio de Projetos foi validado pelo Comitê Gestor. Na referida resolução, estão previstas as atribuições dos que integram a Rede de Planejamento com vistas ao desdobramento da estratégia. Os integrantes do Comitê Gestor, do Núcleo de Apoio Executivo e da Secretaria Executiva serão responsáveis por implementar a Gestão, através dos Planos Regionais e Setoriais. O documento ainda prevê a periodicidade das Reuniões Ordinárias da Rede de Planejamento (RAEs), que devem ocorrer quatro vezes por ano. As reuniões precederão as reuniões convocadas pelos coordenadores de Circunscrição, coordenadores de CAOPs e coordenadores ministeriais, visando ao cumprimento das suas atribuições. O Comitê Gestor é a instância responsável pelo monitoramento e acompanhamento da Gestão, com o poder de autorizar ajustes em indicadores e metas, aprovação ou recomendação de novos projetos, entre outras. Será formado pelo procurador-geral de Justiça; as subprocuradoras-gerais de Justiça em Assuntos Institucionais, Administrativos e Jurídicos; corregedor-geral; corregedor-geral substituto; secretáriogeral e um representante do Colégio de Procuradores de Justiça, além de outro membro do Conselho Superior. O Comitê Gestor poderá convidar membros, servidores, técnicos ou especialistas nos assuntos em pauta, para participar da RAE. Já o Núcleo de Apoio Executivo será responsável pela articulação do processo de acompanhamento da Gestão Estratégica, em conjunto com a Secretaria Executiva, auxiliando o Comitê Gestor na tomada de decisões. Será formado por quatro membros e quatro servidores do MPPE. A Secretaria Executiva ficará encarregada de fomentar, coordenar, acompanhar e avaliar a Gestão Estratégica, visando ao seu aperfeiçoamento e implementação. Será formado pelo assessor de Planejamento; gerente de Planejamento e Gestão; gerente de Programas e Projetos e pelo gerente de Estatística. Os coordenadores de Circunscrição e de Centros de Apoio Operacional (Caops) terão papel primordial na execução da estratégia, dando suporte às Promotorias de Justiça na implementação dos Projetos. Já os coordenadores ministeriais, que são os responsáveis pela coordenação, orientação e acompanhamento das Ações e Projetos Estratégicos, em suas respectivas áreas de atuação, têm entre as suas atribuições a atualização do sistema com informações sobre os Indicadores; apresentar informações sobre o andamento das Ações; articular a implementação das Ações e encaminhamentos deliberados nas RAEs. Além disso, devem participar das RAEs, quando convocados; contribuir para o alcance das Metas Estratégicas; fomentar a implementação das Ações e encaminhamentos deliberados nas RAEs; coordenar a execução dos Projetos Estratégicos em sua área de atuação, em apoio ao líder do projeto. Outras atribuições também deve ser executadas como dar suporte técnico aos líderes de projetos, visando ao alcance das Metas Estratégicas; fomentar o andamento das iniciativas do tema; articular ações integradas com as demais áreas da Instituição, órgãos públicos e privados; dirigir as reuniões preparatórias para as RAEs em sua área de atuação e acompanhar o desempenho dos Indicadores da sua área de atuação. A Gestão Estratégica tem como principais objetivos melhorar a qualidade dos serviços ofertados à população e fixar metas de desempenho e de adoção de mecanismos de monitoramento e avaliação das atividades. Além disso, todo o modelo construído contou com a participação de membros e servidores e da população pernambucana. A Gestão Estratégica do MPPE está alinhada com a Estratégia Nacional do Ministério Público e deverá publicar um Manual de Gestão Estratégica do MPPE ainda este ano. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 7 Redução da Maioridade Penal Gibson Sampaio Jecqueline Elihimas representou o MPPE no ato público contra a proposta de redução da maioridade penal Não à PEC da Intolerância A discussão não é de hoje, mas a polêmica em torno da redução da maioridade penal está cada vez mais na pauta do dia. No Congresso Nacional, o tema é objeto de três Propostas de Emenda Constitucional (PECs) – 33/2011, 74/2011 e 83/2011. De um lado, o clamor da sociedade em defesa dessa mudança se move pela emoção. Do outro, juristas fazem suas argumentações com base na razão. Em meio a esse fogo cruzado, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Pernambuco (OAB-PE) e a Secretaria de Estado da Criança e da Juventude promoveram ato público contra a redução da maioridade penal, com apoio do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que se fez representar pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa da Criança e do Adolescente, promotora de Justiça Jecqueline Elihimas. 8 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br A o final do encontro, lideranças do MPPE, OAB-PE, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Prefeitura do Recife e Arquidiocese de Olinda e Recife assinaram uma carta aberta contra as três PECs. Durante o evento, a promotora de Justiça lançou uma pergunta: as leis penais, inclusive a de crimes hediondos e todo o sistema penal, do policiamento às penitenciárias brasileiras, foram, ao longo do tempo, realmente eficazes para a redução de crimes? A resposta ela mesma deu. “A reflexão pode ser extraída do próprio dado da reportagem que diz que 3% dos crimes são atribuídos a adolescentes, o que permite concluir que 97% são praticados por quem já é atendido pelas leis penais. Outro exemplo, de grande repercussão na mídia, o estupro de uma turista francesa no Rio de Janeiro, também revela que ele foi praticado por quatro pessoas e apenas uma delas seria menor de 18 anos, autorizando dizer que não seria o mero recrudescimento da lei que alteraria este quadro”. Jecqueline Elihimas destaca outra falácia, amplamente difundida – a tese de que a sociedade não aceita mais tratar o adolescente de modo diferente do adulto porque, se aos 16 anos pode votar, logo deveria ser considerado como maior de idade. “Não creio que pais responsáveis defendam realmente que seus filhos de 16, 15 ou até 14 anos sejam pessoas totalmente conscientes e maduras e concordem que a lei lhes confira total autonomia para decidir deixar de estudar, trabalhar, casar, ter filhos, morar só, beber, etc”, argumenta. “Aliás, o fenômeno que se percebe nas classes mais favorecidas é exatamente o contrário, famílias mais abastadas, regra geral, superprotegem muito mais seus adolescentes e jovens, custeiam mesadas, carros, viagens, festinhas, faculdades, até muito além dos 21 anos”, afirma a promotora de Justiça, acrescentando que “a chamada fase de aborrescência nestas camadas sociais pode ser bem mais longa”. Quem também se move contra a proposta de redução da maioridade penal é o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon. “A redução da maioridade penal não vai diminuir em nada os índices de criminalidade no País. O simples encarceramento de nossas crianças e adolescentes em conflito com a lei deixa cada vez mais evidente que nos centros de acolhimento, que se espalham de norte a sul do Brasil, não ressocializam ninguém. Ao contrário, se transformam em verdadeiras escolas do crime, porque faltam políticas públicas executadas de forma responsável por parte dos municípios brasileiros, de forma consorciada ou não, com apoio da União e dos Estados”. Na contabilidade do presidente da OAB-PE, Pedro Henrique, a participação de adolescentes em crimes é ínfima. “A questão central é nos perguntarmos que tipo de sociedade queremos. O Estado brasileiro está fazendo a sua parte? Vamos dizer um não bastante claro e fundamentado para que não se retire o direito individual dos nossos jovens garantido pela Constituição Federal” pontuou. No mesmo tom de indignação contra as três PECs, o secretário estadual da Criança e Juventude, Pedro Eurico, diz que “essa medida é uma forma de institucionalizar a barbárie, buscando caminhos mais simples para resolver esta questão. Precisamos construir uma cultura de vida e não de morte”. Para o secretário, “ainda são poucas as medidas de ressocialização postas em prática, mas estamos tentando recuperá-las. No entanto, com certeza, não será com a redução da maioridade penal”. De acordo com o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também se posicionou contra a redução da maioridade penal. “A diminuição da maioridade não vai resolver nada. Toda a Igreja é completamente contra a proposta. Somos a favor de medidas socioeducativas que ajudem a melhorar e mudar esta realidade”, afirmou. A carta aberta lançada ao final do ato público circulará pela população e traz algumas justificativas que embasam a decisão contrária a PEC. Entre os esclarecimentos destaca-se a inverdade de que o Brasil está entregue a um alarmante crescimento da criminalidade cometida por jovens menores de 18 anos. Este cenário se explica com dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República de que apenas 0,09% da população total de adolescentes no País encontra-se em cumprimento de medidas socioeducativas. A maioria deles cometeu crimes contra o patrimônio. Três PECs da intolerância Três PECs encontram-se em análise na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A PEC 33/2011, de autoria do senador Aloysio Nunes, restringe a redução da maioridade penal - para 16 anos - aos crimes arrolados como inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia: tortura, terrorismo, tráfico de drogas e hediondos (artigo 5º, inciso XLIII da Constituição). Também inclui os casos em que o adolescente tiver múltipla reincidência na prática de lesão corporal grave ou roubo qualificado. Já o autor da PEC 74/2011, senador Acir Gurgacz propõe que quem tiver 15 anos também deve ser responsabilizado penalmente na prática de homicídio doloso e roubo seguido de morte, tentados ou consumados. Na sua proposta, o senador cita exemplos do Mapa Múndi da Maioridade Penal, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unifec), em 2005. Segundo esse documento, nos Estados Unidos, a maioridade varia de 6 a 18 anos, conforme a legislação estadual. No Méxi- co, é de 11 ou 12 anos na maioria dos estados. A América do Sul é a região em que a maioridade é mais tardia: na Argentina e Chile, aos 16 anos. No Brasil, Colômbia e Peru, aos 18. Por fim, A terceira PEC sobre maioridade em análise é mais ampla que as duas anteriores. O texto, de autoria do senador Clésio Andrade, estabelece o limite de 16 anos para qualquer tipo de crime cometido. Clésio propõe uma nova redação para o artigo 228: “A maioridade é atingida aos 16 anos, momento a partir do qual a pessoa é penalmente imputável e capaz de exercer todos os atos da vida civil”. Na opinião do senador, quem tem 16 anos não só deve ser passível de processo criminal, como deveria ter direito de se casar, viajar sozinho para o exterior, celebrar contratos e dirigir, ou seja, deveria atingir também a plenitude dos direitos civis. A proposta, inclusive, torna obrigatório o voto dos maiores de 16 e menores de 18, hoje facultativo. em Foco - abril/ de 2013 MPPEMPPE em Foco - abril/ maio/maio/ junhojunho de 2010 9 9 PEC DA IMPUNIDADE Sociedade contra a proposta de mudanças Centenas de promotores e procuradores de Justiça caminham em direção ao Congresso em protesto contra a PEC-37 O Ministério Público Brasileiro escreveu importante capítulo em sua história de luta, numa quarta-feira ensolarada e fria de abril, quando cerca de setecentos procuradores e promotores de Justiça de todo o País subiram a rampa do Congresso Nacional, em Brasília, entoando o Hino Nacional, e gritando palavras de ordem, como “Impunidade não, investigação!”. Marcavam, assim, posição no enfrentamento à Proposta de Emenda Constitucional nº 37/2011 (PEC 37). No Salão Negro da Câmara dos Deputados, uma comissão encabeçada pelo 10 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais, Oswaldo Trigueiro do Valle Filho, entregou a Carta de Brasília ao presidente da Casa, deputado Henrique Alves, com 500 mil assinaturas físicas e um documento virtual com 203 mil assinaturas virtuais colhidas em todo o Brasil contra a proposta. A carta pede a rejeição da PEC 37. Os promotores levavam ainda faixas e placas apontando motivos contrários à PEC 37. Ao receber os procuradores e promotores que participaram da mobilização nacional da campanha Brasil contra a Impunidade, o presidente da Câmara afirmou que o Congresso representa a sociedade e que a Casa saberá decidir o que for melhor para o povo brasileiro. Ele garantiu que a PEC 37 será votada em junho na Câmara e que maio será tempo de diálogo. O presidente disse ainda que se reunirá com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e representantes do Ministério Público Brasileiro e das polícias Federal e Civil para discutir o tema. À frente de uma comitiva do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, e os presidentes Vladimir Acioli (Associação do MPPE) e Luís Sávio Lou- Assessoria Imprensa CONAMP reiro (Instituto do MPPE) mostravam-se esperançosos no encaminhamento dos pleitos do Ministério Público Brasileiro. “A sociedade brasileira está toda do nosso lado”, observaram. Horas antes dessa manifestação no Congresso, Integrantes do Ministério Público Brasileiro, senadores e deputados federais, magistrados, representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), jornalistas e líderes sindicais dos policiais federais lotaram o auditório do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), em Brasília, durante o I Simpósio Brasileiro contra a Impunidade. Os participantes do encontro engrossaram o coro dos críticos da PEC-37, em tramitação na Câmara dos Deputados. A PEC-37 retira do Ministério Público o poder investigatório e torna a investigação uma atribuição exclusiva das polícias Civil e Federal. No mesmo tom de inconformismo, o senador Randolfe Rodrigues afirmou que, se for aprovada, a PEC-37 vai provocar “o desmantelo da ordem jurídica no Brasil”. De acordo com o parlamentar, “Ministério Público sem poder investigatório só existe em ditaduras, em períodos de exceção, e espero que isso não aconteça no Brasil, onde a redemocratização foi conquistada com sangue e lágrimas do povo”. Ao encerrar sua palestra, o senador frisou que “nós sabemos bem a quem interessa a PEC-37. Ela interessa àqueles que cometem o grande crime de roubar recursos públicos da saúde, da educação, da segurança”. Quem também proferiu palestra durante o seminário foi o senador Pedro Taques (PDT-MT). “Neste País, quem busca colocar na cadeia quem rouba e dilapida o erário é o Ministério Público. A luta para barrar a PEC 37 não é só do MP, mas de toda a sociedade brasileira”. Por sua vez, o deputado federal Alessandro Molon (PT-SP), disse que “apoiar a PEC37 é contribuir para baixar ainda mais a taxa de elucidação de crimes, que gira em torno dos 10%”. Para o parlamentar, “a solução não é aprovar esta PEC e sim ampliar o leque das investigações”. Molon também afirmou que a tramitação dessa proposta “já foi longe demais porque desmoralizou o Congresso Nacional, como resultado do ressentimento dos congressistas com o Ministério Público em função dos acertos das ações ministeriais”. Em nome da CNBB, o padre Geraldo Martins citou uma passagem bíblica que diz: “Todo o que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas!” (Jó 3,20). Feita a citação, o sacerdote disse que “este versículo da Bíblia tem tudo a ver com a PEC-37 no enfrentamento àqueles que têm medo da luz”. Por sua vez, o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), juiz Nelson Calandra, “se não fosse a atuação firme do Ministério Público, os policiais militares que assassinaram a juíza Patrícia Acioly, no Rio de Janeiro, em agosto de 2011, estariam vestindo suas fardas até hoje”. Calandra acentuou, ainda, que a PEC-37 deve ir para os arquivos da vergonha nacional, por atentar contra o estado democrático de direito”. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 11 Carta de Brasília Assessoria Imprensa CONAMP Procuradores de Justiça à frente do manifesto na Câmara dos Deputados O Ministério Público Brasileiro manifesta-se contrário à Proposta de Emenda Constitucional nº 37. A PEC 37 tem como propósito restringir o número de Instituições que realizam investigações criminais, cometendo tal atividade com exclusividade às Polícias Federal e Civil. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 129, incisos I, II, VI e VII, ao atribuir ao Ministério Público a missão constitucional de defesa da ordem jurídica e de promover as medidas necessárias para isso, concede o poder investigatório ao MP, fundamental ao efetivo cumprimento das suas valiosas funções constitucionais, como o combate à criminalidade organizada, à corrupção e ao exercício do controle externo da atividade policial. Além de inconstitucional, a PEC 37 é uma medida na contramão da democracia, haja vista que só traz efeitos negativos à população brasileira. Em sendo aprovada, além do Ministério Público, diversas outras instituições ficarão proibidas de investigar. É o caso do Conselho de Controle de Atividades 12 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Financeiras (Coaf), e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Banco Central, que fazem um trabalho especializado para evitar lavagem de dinheiro; do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que atua nos crimes de ordem econômica; da Controladoria Geral da União, que busca combater a corrupção e o desvio de verbas públicas. O mesmo vai acontecer com Tribunais de Contas, auditores fiscais e Receita Federal. Nenhuma dessas Instituições, assim como o Ministério Público Brasileiro, tem a intenção de usurpar as funções das polícias, nem muito menos de manejar o inquérito policial. Muito pelo contrário. O objetivo não é dividir, mas somar. A ação conjunta e articulada contra a criminalidade só traz benefícios para a população. A coexistência de distintos mecanismos de apuração, longe de refletir uma técnica de usurpação ou pouco apreço à função alheia, é importante mecanismo de cooperação, posto que a convergência de ações tende a potencializar os resul- tados a serem alcançados, diminuindo o risco da ineficiência e minando a impunidade, sendo princípio vigente nas nações desenvolvidas do globo. O Ministério Público Brasileiro deixa claro à população que com uma eventual aprovação da PEC 37 serão produzidos nefastos efeitos no combate à criminalidade, representando um verdadeiro acinte à cidadania e o enfraquecimento do processo de democratização em curso em nosso País. Menos agentes públicos e Instituições investigando, significa mais crimes e mais corrupção e improbidade. É determinante que toda sociedade brasileira se junte em um uníssono coro de vozes contra essa manobra que em nada interessa ao cidadão de bem, antes pelo contrário, tem como principal alimento o robustecimento da corrupção e da criminalidade que ainda persistem em nosso País, na medida em que almeja calar e impedir a atuação investigatória de importantes Instituições. Movimento “bombou” na rede A luta do Ministério Público Brasileiro contra a PEC 37, que retira seu poder de investigação, chegou na tarde de 23 de abril aos Trending Topics do twitter. Mais de 17 mil tweets originais - além de vários retweets - fizeram o MP chegar ao 7º posto da lista dos assuntos mais falados do dia, segundo o site Hashtags.org. A estatística está no fuso horário de Nova York, duas horas atrás do horário de Brasília. A passeata virtual marcada para a terça-feira (23), entre 15h e 17h, criou um movimento durante toda a tarde, que atraiu principalmente promotores, procuradores e operadores do Direito, mas também contou com a participação de parlamentares e muitos cidadãos. O deputado federal Alessandro Mo- lon (PT/RJ) postou uma foto em que afirma que vota contra a PEC 37. Heloísa Helena, agora vereadora pelo PSOL/ AL, também engrossou o movimento. A agitação pela internet também ajudou a fazer crescer o abaixo-assinado do Ministério Público contra a PEC 37: agora já são quase 200 mil assinaturas. Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr “Curiosamente, a PEC-37 tem o mesmo número do artigo da Constituição Federal que mais defende a probidade administrativa e que introduziu um capítulo devotado à administração pública. É como se o acaso dissesse que a sociedade brasileira deveria tomar cuidado com a emenda 37, pois ela se contrapõe a valores constitucionais de primeira grandeza”. Ministro Carlos Ayres de Britto, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr “A PEC 37 nasce de uma maneira torta para valorizar uma categoria, mas a PEC levará à desvalorização dessa categoria quando a sociedade brasileira se posicionar. Se é para resolver problemas de investigação no País, teremos uma discussão séria. Não querem resolver o problema, querem é ter menos órgãos investigando. Tudo que a gente não quer é exclusividade, queremos trabalho conjunto”. Deputado federal Alessandro Molon. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 13 Antonio Cruz/ABr “A Constituição está completando 25 anos em 2013 e é exatamente nesse momento que tramita uma PEC que vai contra o espírito do constituinte da jornada cívica dos anos 1980. O MP existe, sim, sem a investigação. Existe com a ditadura. A aprovação da PEC 37 seria um atentado não só à ordem jurídica, mas à História do Brasil. Esta causa não é somente do MP, e sim de toda a sociedade brasileira”. Senador Randolfe Rodrigues. Carlos Humberto / SCO/STF “As cortes internacionais e regionais de direitos humanos tomam muitas decisões no sentido de que as vítimas e familiares tenham direito a investigação eficiente e que haja órgãos para que deem conta desse papel. Se uma instituição falhar, outras têm que funcionar. Por isso, a PEC-37 não só está na contramão dos direitos humanos, como pode condenar o estado brasileiro”. Deborah Duprat, subprocuradorageral da República. CONAMP / Assessoria de Comunicação “Não medimos o êxito das nossas vidas pelas conquistas e sim pelas dificuldades. Esse é o momento que o Ministério Público Brasileiro vive. O Ministério Público é uma instituição em constante construção. E a instituição precisa resistir. A partir de hoje e amanhã, continuamos abertos ao diálogo com o Parlamento, pois o que queremos é a abertura desse diálogo”. Norma Angélica Cavalcanti, presidente em exercício da Conamp. Reprodução / Ilustração “Na prática, a PEC-37 significa exclusividade de investigação criminal pelas polícias Civil e Federal, que hoje têm o poder de investigar, mas sem que tal poder seja ‘privativo’. Tal exclusividade não garantiria melhor preservação da 14 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Ao contrário, poderia criar no País um clima de insegurança pública e jurídica”. Dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB. Febraban e MPPE A solenidade comemorativa do 6º aniversário do programa Pacto pela Vida, promovida pelo Governo do Estado no Centro de Convenções, teve como ponto alto a assinatura de um acordo histórico entre a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por iniciativa do promotor de Justiça Ricardo Van Der Linder Coelho. O termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado pelo presidente da Febraban, Murilo Portugal, perante o MPPE, é inédito no País e prevê a adoção de uma série de medidas nas 261 agências bancárias da Região Metropolitana do Recife (RMR). Cada uma delas deverá instalar equipamentos como câmeras de segurança e portas giratórias, detector de metais, vidros blindados e biombos separando e protegendo os caixas. “Além disso, a Febraban deverá patrocinar uma campanha publicitária, durante um ano, nos jornais e emissoras de rádio e TV, dando dicas aos consumidores para evitar fraudes e assaltos, como saidinha de banco e golpes em caixas eletrônicos”, explica o promotor de Justiça. Para o procurador-geral de Justiça Aguinaldo Fenelon, o TAC firmado pela Febraban perante o MPPE mostra como é possível o entendimento entre instituições quando a defesa da sociedade se faz mais importante. O acordo levou o Governado do Estado a acompanhar de perto as ações como um projeto-piloto no País. “Vamos fazer um piloto para podermos convencer, inclusive, os bancos a adotar as mesmas medidas em todo Pernambuco e no Brasil. Acho que é uma conquista importante”, acredita o governador Eduardo Campos, que agradeceu “o entendimento, quando todo mundo recuou um pouco”. “Nesse primeiro momento, vamos ter mais segurança nas agências bancárias que são as mais vulneráveis a crimes violentos na cidade do Recife”, explicou o governador. Por sua vez, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, se mostrou otimista com a iniciativa. “Vamos, a partir do Recife, testar um modelo de segurança para melhorar as condições dos trabalhadores, dos usuários e das agências Gibson Sampaio Proteção bancária O governador Eduardo Campos observa o procurador-geral Aguinaldo Fenelon assinar o documento bancárias”, observou. A assinatura do TAC é resultado de um trabalho desenvolvido pelo MPPE nos últimos anos. “Desde agosto de 2011, quando movemos na Justiça uma Ação Civil Pública contra os bancos, foram aplicados R$ 11 milhões em multas e interditadas doze agências bancárias na RMR por falta de segurança”, explica Ricardo Coelho. Atualmente, nenhuma das 261 agências da RMR cumpre a legislação na íntegra. Em 2011, segundo dados da Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), trinta clientes, oito vigilantes e quatro policiais morreram durante assaltos a banco. A partir da adoção dessas medidas, dentro de três meses, gera uma expectativa bem otimista, com relação à redução do número de assaltos às agências bancárias da RMR. Do encontro, participaram, ainda, secretários de Estado, a presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Jaqueline Melo, e dirigentes de doze instituições financeiras. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 15 Promotoria do Torcedor MPPE faz mais um gol de placa Ao longo de sua história, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) tem dado exemplos de cidadania. Inclusive no futebol. Nessa área de atuação, o MP pernambucano tem saído na frente em defesa do torcedor. Por iniciativa do então promotor de Justiça, Aguinaldo Fenelon, lançou de forma pioneira a Cartilha do Torcedor, em 2008. Deflagrou a campanha Paz nos estádios, em parceria com a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) e o DisqueDenúncia. Além disso, apoiou o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) no lançamento do primeiro Juizado Especial do Torcedor (Jetep), em 2008. Agora, também de forma inédita, o MPPE instala a Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor. 16 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Aguinaldo Fenelon (à direita) comunica ao ministro Aldo Rebelo e ao diretor do Ministério do Esporte, Paulo Castilho, a criação da Promotoria do Torcedor P ernambuco está dando ao País um exemplo de pioneirismo ao criar essa promotoria especializada do torcedor, no momento em que o Brasil se prepara para receber dois grandes eventos do futebol, a Copa das Confederações em junho deste ano e a Copa do Mundo de 2014”, saudou o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Quem também parabenizou a iniciativa pioneira do MPPE foi o secretário nacional de Futebol, do Ministério do Esporte, Toninho Nascimento. “Pernambuco está de parabéns. Essa centralização é muito boa porque vai facilitar a tomada de decisões na repressão à violência, que hoje acontece mais fora do que dentro dos estádios”, disse. Na avaliação do procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, o Ministério Público tem buscado fortalecer a interação entre os órgãos públicos e a Federação Pernambucana de Futebol e defender a Lei Seca nos estádios. Esse conjunto de ações tem colocado o Ministério Público pernambucano em lugar de destaque nacional, quando o assunto é violência nos estádios. Afinal, as ocorrências policiais envolvendo torcedores dentro das arenas caíram mais de 70% nos últimos meses. A iniciativa de criar uma Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor em “ Pernambuco partiu de Fenelon, que encaminhou projeto de lei nesse sentido à Assembleia Legislativa, que o aprovou por unanimidade. Em seguida, o projeto de lei foi sancionado pelo governador Eduardo Campos, por meio da Lei Complementar nº 230, de 6 de maio de 2013. A Promotoria terá atribuições de naturezas cível, criminal e defesa da cidadania, exclusivamente decorrentes de relações jurídicas reguladas pela Lei Federal nº 10.671, de 16 de maio de 2003, excluídos os feitos de natureza criminal de competência do Tribunal do Júri e aqueles atinentes à criança e ao adolescente. De acordo com Fenelon, que também preside a Comissão de Combate à Violência nos Estádios, do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais (CNPG), a Promotoria do Torcedor terá atuação regional, com atribuições em todas as cidades que integram a Região Metropolitana do Recife. “Pernambuco dá mais um passo à frente no combate à violência nos estádios de futebol com esta iniciativa pioneira, ao mesmo tempo em que contribui com as metas do programa Pacto pela Vida”, explicou Fenelon, que também é membro da Comissão de Regulamentação do Estatuto do Torcedor, criada pelos ministérios da Justiça e do Esporte. Região Metropolitana A Região Metropolitana do Recife (RMR), instituída pela Lei Complementar Federal número 14, de 8 de junho de 1973, é integrada por catorze municípios que fazem dela a mais populosa do Nordeste e quinta maior do Brasil. Além do Recife, integram a Região Metropolitana os municípios de Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista, Igarassu, Itapissuma, Abreu e Lima, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, São Lourenço da Mata, Araçoiaba, Ilha de Itamaracá, Ipojuca e Moreno. Todos os municípios da RMR fazem parte da Mesorregião Metropolitana do Recife, acrescentando-se a esta a Vila dos Remédios, núcleo urbano no arquipélago de Fernando de Noronha. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 17 Gibson Sampaio Juizado do Torcedor Comissão se reúne no Recife para debater formas de ação contra a violência no futebol De olho na Copa das Confederações Quando o assunto é combate à violência nos estádios de futebol, no âmbito do Ministério Público, Pernambuco está sempre na área, pronto para fazer o gol. Daí, o Recife não poderia ter sido o melhor local para sediar a última reunião da Comissão Permanente de Prevenção e Combate à Violência nos Estádios, do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG), antes da abertura da Copa das Confederações, neste mês de junho. Até porque esta competição internacional foi um dos principais temas debatidos durante o encontro realizado na sede do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). 18 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Eduardo Martino Nova Arena de Pernambuco à espera da Copa das Confederações P ara o procurador-geral de Justiça Aguinaldo Fenelon, que preside a Comissão e participa do grupo de trabalho do Ministério do Esporte, que cuida da regulamentação do Estatuto do Torcedor, este encontro reveste-se da maior importância, às vésperas da Copa das Confederações. “A Fifa precisa rever algumas questões referentes ao trabalho dos promotores de Justiça dentro das seis arenas, durante os jogos da Copa, e é isso que estamos querendo fazer valer”, observou. Ao final da reunião, ficou acertado que a Comissão vai fazer uma visita ao presidente do Comitê Organizador Local (COL), Ricardo Teixeira, para mostrar a necessidade da acessibilidade do promotor de Justiça, através de um cadastro prévio e de uma credencial, para que circule todo o estádio e possa efetivamente compor o Juizado do Torcedor. “A Fifa criou algumas dificuldades em relação à própria instalação do Juizado do Torcedor e, por isso, o Comitê está trabalhando para conhecer quais são essas dificuldades para que o Ministério Público Brasileiro possa trabalhar nas seis arenas como já vem sendo em vários estádios do País”, argumenta o promotor de Justiça e secretário da Comissão, Paulo Augusto Oliveira. Os jogos da Copa das Confederações serão realizados a partir de 15 de junho nas Arenas Pernambuco (São Lourenço da Mata), Castelão (Fortaleza), Mineirão (Belo Horizonte), Fonte Nova (Salvador), Mané Garrincha (Brasília) e Maracanã (Rio de Janeiro). O procurador de Justiça de Minas Gerais e presidente da Comissão, José Antônio Baeta, acredita que o Juizado Especial do Torcedor (Jetep) será efetivamente instalado nas seis arenas. “O que precisa ser resolvido é se o Juizado teria competência cível ou somente criminal, mas o Ministério Público Brasileiro está devidamente prepa- rado e só aguardando a reunião com os dirigentes do COL”. Outra questão polêmica debatida no encontro do Recife diz respeito à proibição da venda e consumo de bebida alcoólica dentro das arenas, durante os jogos da Copa das Confederações. “Como não vai haver restrição da bebida alcoólica, a preocupação diz respeito, principalmente aos menores de 18 anos porque, hoje, fornecer bebidas aos menores de idade é crime, passível de pena de detenção de dois a quatro anos”, alerta. Na opinião do promotor de Justiça do MPPE, José Bispo, “os questionamentos giraram em torno da localização do juizado, além do credenciamento dos promotores de Justiça e de que forma os Juizados será estruturados dentro das arenas”. Bispo chamou atenção ainda para a questão dos torcedores que vêm de outros países, visto que, a maior preocupação é como o MP vai trabalhar na aplicação das transações penais aos estrangeiros que eventualmente forem conduzidos ao Juizado. Seja como for, o Ministério Público Brasileiro tem procurado fazer seu papel, no que diz respeito ao enfrentamento à violência dentro e fora dos estádios. E essas reuniões da Comissão têm mostrado, claramente, que na Copa das Confederações não será diferente. Homenagens do futebol Durante o encontro no Recife, a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) prestou homenagens a algumas autoridades que têm contribuído com seu trabalho para reduzir os índices de violência nos estádios pernambucanos e seus arredores. O presidente da FPF, Evandro Carvalho, entregou placas de agradecimento ao procurador-geral de Justiça Aguinaldo Fenelon e aos promotores de Justiça José Bispo e Carlos Guerra. Também foram agraciados os juízes de Direito Ailton Alfredo de Souza e Francisco de Assis Galindo; o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Luís Aureliano; o secretário de Defesa Social Wilson Damázio; o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Carlos Casanova; o comandante do Batalhão de Choque, tenente-coronel Walter Benjamin de Medeiros Filho; e o chefe da Polícia Civil, Oswaldo Morais. Para Evandro Carvalho, “esta homenagem é justa e devida, uma vez que os órgãos contribuíram para a diminuição da violência nos estádios. Já pode ser vista, por exemplo, a evolução do comportamento das torcidas organizadas dentro e fora das arenas, o que representa uma mudança na realidade do futebol no Estado”. O procurador-geral de Justiça, responsável pela implantação da primeira Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor, também recebeu homenagens dos presidentes do Náutico e do Santa Cruz, pela iniciativa. Em seu discurso, Fenelon ressaltou que “quando é para defender a sociedade não existe hierarquia. Seja qual for o órgão, é importante que se defenda a causa social da paz”. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 19 Seminário Sul-Americano Em busca da paz nos estádios D esde 1995, a violência nos estádios de futebol deixou mais de 150 mortos e centenas de feridos. Só no ano passado houve 22 mortes. Os números foram divulgados pelo diretor do Departamento de Defesa dos Direitos do Torcedor, do Ministério do Esporte, Paulo Castilho, durante o Seminário Sul-Americano de Combate à Violência nos Eventos de Futebol. Promovido pelo Ministério do Esporte, o encontro foi realizado dias 6 e 7 no Memorial da América Latina, em São Paulo, contou com a participação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e reuniu estudiosos do tema ligados a universidades do Brasil, Argentina, Peru, Equador, Chile e Colômbia, além dos europeus Miguel Cardenal (presidente del Consejo Superior de Deportes de Espanha) e o italiano Francesco Forgione (ex-presidente de la Comisión Antimáfia del Parlamento Europeo). “Hoje, temos no Brasil o crime de perigo, que pune quem promove tumulto, pratica ou incita a violência, num raio de 5 Km das arenas esportivas, ou invade locais restritos aos competidores e eventos esportivos”, explicou Castilho, lembrando que a pena prevista para esse tipo de crime varia de um a dois anos de detenção. Na avaliação do procurador-geral de Justiça Aguinaldo Fenelon, que coordenou a mesa de abertura do encontro, com o tema Legislação, “o problema da violência nos estádios é maior do que se pensa”. “O Estatuto do Torcedor recomenda a criação dos Juizados Especiais do Torcedor em todo o País, mas até agora apenas dois estados contam com esses órgãos – Pernambuco e São Paulo”, comparou. Em seguida, lembrou que Pernambuco deu mais um passo à frente no combate à violência nos estádios, com a criação da Promotoria de Justiça Especializada do Torcedor, primeira no País, com atribuições criminais, cíveis e de defesa do consumidor. Esta iniciativa foi saudada pelo presidente da Comissão de Estudos Jurídicos Desportivos, do Conselho Nacional do Esporte, jurista Wladimyr Camargos. “O procurador-geral de Justiça de Pernambuco é um exemplo para todos nós que lidamos com esta temática. É um paradigma para o sistema judiciário brasileiro. Estamos felizes por ele ter o senso de justiça comunitária, fazendo um trabalho de conscientização com as torcidas organizadas no seu estado e agora criando a Promotoria de 20 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Justiça Especializada do Torcedor, inédita no Brasil”, saudou. Em seguida, disse que a Carta Magna de 88 é pródiga, ao trazer para o texto constitucional a autonomia das entidades desportivas. Mas, advertiu que “autonomia não é soberania”. Ao participar da segunda mesa de debates, que abordou o tema Segurança, Fenelon disse que “o combate à violência em Pernambuco tem avançado porque sugerimos uma lei que proíbe a venda e o consumo de bebida alcoólica nos estádios e existe um processo de interação institucional dentro do programa de governo Pacto pela Vida”. Por fim, o palestrante atribuiu a violência nos estádios à falta de políticas públicas nas escolas. “Hoje, o torcedor que briga nos estádios é o mesmo folião que briga no carnaval. E como conseguimos segurar a violência dentro das arenas, ele agora briga fora, depreda ônibus, promove vandalismo”, analisou, lembrando que isso também vai acabar. Por sua vez, o jurista argentino Jorge Szeinfeld, da Universidad Nacional de La Plata, frisou que na Argentina o Ministério Público não atua diretamente no combate à violência nos estádios. Para isso, foi criado um Ministério da Segurança, que não tem conseguido conter a escalada de violência envolvendo torcedores, como se esperava. “Hoje, os líderes dessas associações ilícitas têm frondosos prontuários delitivos, não só associados a feitos violentos nos estádios, mas também a condutas delitivas e de narcotráfico”, explicou. Ao encerrar o encontro, Aldo Rebelo disse que esta foi uma grande oportunidade para aprofundar as discussões sobre o tema e apontar caminhos para minimizar os problemas ainda existentes. “É preciso enfrentar esse debate como parte de um fenômeno da sociedade. A violência não existe só dentro dos estádios. Por isso, a discussão não deve ser por banir torcida dessa grande festa popular. É preciso agregar os agentes envolvidos e pensar a questão como um todo. Nisso, o seminário foi fundamental”, avaliou o ministro. No final do seminário, foi elaborada a carta sul-americana de intenções de intercâmbio e colaboração na prevenção da violência no futebol. Além disso, será criada uma rede nacional e sul-americana dos pesquisadores de legislação e segurança em espetáculos esportivos. Antonio Cruz/ABr Aldo Rebelo encerrou o encontro em São Paulo PROGRAMAÇÃO Quinta-feira, 06 de junho Abertura: Ministro de Estado do Esporte – Aldo Rebelo 12:30h– Almoço 14h – 1ª MESA – LEGISLAÇÃO Coordenador: Dr. Aguinaldo Fenelon Miguel Cardenal Carro (presidente del Consejo Superior de Deportes – Espanha), Wladimyr Vinycios de Moraes Camargos (presidente da Comissão de Estudos Jurídicos Desportivos do Conselho Nacional do Esporte), Jorge Szeinfeld (professor da Universidad Nacional de la Plata – Argentina), Enrique Oviedo (professor da Universidad de Chile), Maristela Basso (Professora de Direito Internacional da Universidade de São Paulo), Paulo Sérgio de Castilho (diretor do Departamento de Defesa dos Direitos do Torcedor, do Ministério do Esporte) Sexta-feira, 07 de junho 08:30h às 12h – 2ª MESA: SEGURANÇA Coordenador: Dr. Wladimyr Camargos Aguinaldo Fenelon (representante do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais), João Fiorentini Guimarães (tenente-coronel do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios – Rio de Janeiro), Valdinho Jacinto Caetano (secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos de São Paulo), Margarete Barreto (delegada titular da Decradi / São Paulo), José Balestiero Filho (tenente-coronel comandante do 2º Batalhão de Choque São Paulo), David Leonardo Quitian Roldan (Colômbia), Francesco Forgione (ex-presidente de la Comisión anti mafia del Parlamento Europeo), 12:30h – Almoço 14h – 3ª MESA: SOCIOLOGIA DO FUTEBOL Coordenador: Dr. Edivaldo Góis – Universidade Estadual de Campinas Pablo Alabarces (Universidad de Buenos Aires), Fernando Carrión (professor e pesquisador do Departamento de Estúdios Políticos – Equador), Aldo Panfichi (jefe del Departamento de Ciências Sociales Pontifícia Universidad Católica del Peru), Felipe Tavares Lopes (pós doutorando da Universidade Estadual de Campinas), Alejandro Villanueva Bustos (Universidad Pedagógica Nacional de Colómbia e Universidad la Gran Colómbia), Helosa Helena Baldy Reis – Universidade Estadual de Campinas 16:30h – Lanche 17h – Conclusão e Encerramento: Antonio José Carvalho do Nascimento Filho MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 21 Gerusa Torres de Lima O Ministério Público perde com a morte da subprocuradora-geral de Justiça Gerusa Torres. Uma perda irreparável M anhã de segunda-feira, 10 de junho. A notícia percorre de repente o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), como um vento frio que vem de longe, do fundo dos céus. A subprocuradora-geral de Justiça em Assuntos Jurídicos Gerusa Torres de Lima está morta. Morreu, assim, de forma inesperada, aos 63 anos. Como diria o poeta português Rómulo de Carvalho, Gerusa Torres “morreu, tal como nasceu, pelas mãos do seu Criador”. A comoção se abate sobre membros e servidores. Todos inconsoláveis com tão grande perda. Irreparável perda. “A subprocuradora-geral de Justiça Gerusa Torres sempre transmitiu para todos nós segurança, imparcialidade, competência e honestidade. Com sua morte perdem a família, seus amigos o Ministério Público e a sociedade”, diz o procurador-geral de justiça, Aguinaldo Fenelon, abalado com o fato, diz o procurador-geral de justiça, Aguinaldo Fenelon, abalado com o fato. Foram 27 anos de bons serviços prestados à sociedade pernambucana, por meio de sua atuação no Ministério Público de Pernambuco, onde ingressou no dia 8 de outubro de 1986, passando a atuar na Comarca de Petrolândia e Floresta (Sertão), Altinho e Bom Jardim (Agreste), Ipojuca (Mata Sul), Moreno e Jaboatão dos Guararapes (Região Metropolitana do Recife). Em seguida, passou pelas comarcas de Agrestina e Limoeiro, até chegar ao cargo de 1º promotor de Justiça substituto da Capital. Depois, atuou junto à 3ª Vara de Família e foi promovida ao cargo de procurador de Justiça Cível em 2003, e, mais tarde, assumiu o cargo de procurador de Justiça Criminal. Durante sua passagem pelo MPPE, foi assessora da Corregedoria Geral e diretora da Escola Superior, presidiu a Comissão Examinadora de Concurso para Promotor de Justiça (2009) e ocupou os cargos de subprocuradora-geral de Justiça em Assuntos Administrativos e, por último, em Assuntos Jurídicos. Nascida no Recife, em 28 de março de 1950, Gerusa Torres deixou viúvo Elan Torres da Silva e três filhos – Alonso, Gabriela e Catarina. Em sua ficha funcional constam dois elogios de procuradores-gerais: um em janeiro de 1999 e outro em novembro de 2011. Ambos em reconhecimento ao seu empenho e dedicação às ações do MPPE. da amiga e procuradora de Justiça, Gerusa Torres. Era uma pessoa consciente de que a firmeza deve andar de mãos dadas com a altivez e justiça. (Subprocuradora-geral de Justiça Maria Helena Nunes Lyra) saudade. Estou chocado. Ela deixou amigos e pessoas que sempre a admiraram muito. (Procurador de Justiça José Lopes) DEPOIMENTOS Com sua incansável força de trabalho, sua inesgotável busca pela Justiça, sua intrépida forma de ser inteira em tudo a que se propunha, Gerusa nos deixa uma saudade imensa, mas, acima de tudo, um grande exemplo a ser seguido. (Subprocuradorageral de Justiça Lais Teixeira) O MPPE perdeu com a morte da colega, 22 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Amiga, irmã, excelente profissional e insubstituível como pessoa. A procuradora de Justiça Gerusa Torres parte deixando grande Gerusa Torres era uma pessoa corajosa e competente, que amava a Instituição e nunca se furtou a exercer qualquer função, por mais árdua que fosse. (Promotora de Justiça Ivana Botelho) Lei Complementar Gibson Sampaio Mais 21 cargos criados E m defesa dos direitos coletivos da sociedade pernambucana, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) passa a contar com mais 21 cargos de promotor de Justiça. Esse reforço vai garantir celeridade na tramitação dos processos no âmbito judicial, extrajudicial e administrativo. A Lei Complementar nº 229 que cria os cargos no MPPE foi sancionada em abril pelo governador Eduardo Campos. Projeto de lei nesse sentido, de iniciativa do procuradorgeral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, foi aprovado pelo Órgão Especial do Colégio de Procuradores e enviado para votação na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), em maio do ano passado. Dos 21 cargos recém-criados de promotor de Justiça, dois cargos são de primeira entrância, quinze de segunda e quatro de terceira. Os cargos de primeira entrância são destinados às Promotorias de Justiça de Tamandaré e Lagoa Grande. Os cargos de segunda serão distribuídos entre as Promotorias de Justiça de Caruaru (3), Goiana (2), Garanhuns (2), Jaboatão dos Guararapes (2) e uma em Paulista, Ipojuca, Olinda, Gravatá, Pesqueira e Santa Cruz do Capibaribe. Os quatro cargos criados de terceira entrância serão destinados às Promotorias de Justiça Criminal (2) e de Defesa da Cidadania com Atribuição em Promoção e Defesa do Patrimônio Público (2). Os cargos de promotores de Justiça criados para os municípios de Caruaru, Ipojuca, Garanhuns, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Gravatá, Pesqueira e Santa Cruz terão atribuição Criminal. Para o restante dos municípios estão previstas atuações em Defesa da Cidadania e Defesa da Infância e Juventude. “A proposta para criação dos cargos de promotor de Justiça atende à crescente demanda das populações de áreas do Estado em que o Poder Judiciário já instalou Comarcas, a exemplo de Tamandaré e Lagoa Grande, além daquelas que estão em ace- lerado ritmo de crescimento, como o polo têxtil de Caruaru, o Complexo de Suape, inserido no município de Ipojuca, e Goiana, com a chegada da Fiat”, argumentou Fenelon. O procurador-geral de Justiça ainda justifica por que a criação dos novos cargos se concentraram na esfera criminal e na defesa da infância e juventude. “Dentre os segmentos populacionais mais vulneráveis, tanto na afronta aos seus direitos quanto como autores de atos infracionais, a exigir do Estado maior proteção, encontram-se as crianças e adolescentes”, argumenta. Diante disso, Fenelon garante que se faz necessária a presença e atuação firme do Ministério Público na defesa dos direitos da infância e juventude. Na esteira desse pensamento, e atendendo a mandamento constitucional, a Instituição decidiu priorizar o atendimento à sociedade com foco na Infância e Juventude, criando os cargos de Promotor de Justiça que deverão atuar nesta matéria na Região Metropolitana do Recife (RMR) e outra em Caruaru. Com relação à atribuição criminal, Fenelon afirma que o Boletim Trimestral da Conjuntura Criminal em Pernambuco, do programa Pacto pela Vida foi o que determinou a escolha dos locais. “Os indicadores e as metas do referido programa apontam para um papel cada vez maior do sistema de Justiça, do qual o MPPE é parte essencial, em face da titularidade da ação penal pública. Daí porque, tem sido parte da política institucional do MP a criação de Centrais de Inquéritos, como as que já estão em funcionamento no Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Caruaru, Garanhuns e Petrolina, e que vêm sendo cada vez mais demandadas e, por isso, serão reforçadas com cargos de promotor de Justiça de segunda e terceira entrâncias que estão sendo criados”, explicou o procurador-geral de Justiça. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 23 Lei Carolina Dieckmann De olho nos crimes cibernéticos A internet chegou ao Brasil em 1987. Mas só agora, 26 anos depois, é que o País passa a contar com uma lei direcionada aos crimes cibernéticos. Na avaliação do procurador de Justiça Criminal José Lopes, que coordena o Centro de Apoio Operacional às Promotorias (Caop) de Crimes contra a Ordem Tributária, a chegada da lei abre discussões sobre sua aplicabilidade e eficácia, por conta da falta de estrutura, no que se refere à necessidade de maior efetivo de profissionais qualificados e à determinação de situações de competência para apreciação e julgamento. 24 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br José Lopes: Lei Carolina Dieckmann foi elaborada e votada A Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, que passou a vigorar em abril deste ano, altera o Decreto-Lei 2.848/1940 do Código Penal, com o acréscimo dos artigos 154-A e 154-B que tratam especialmente de invasão a dispositivos informáticos. A nova lei tipifica como crime alguns pontos essenciais da segurança digital, a exemplo de invasão de computador, smartphones ou tablets, com fins de obter, adulterar, destruir ou divulgar dados sem autorização do titular do equipamento. Também está tipificado como crime cibernético usar de má fé e instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita. A lei, de autoria do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), certamente não teria sido criada não fosse a grande repercussão na imprensa nacional, quando a atriz Caro- lina Dieckmann teve fotos íntimas divulgadas, sem sua autorização, na rede de computadores, em maio de 2012. Após o fato, a lei foi sancionada sem vetos no final do ano passado pela presidente Dilma Rousseff. Desde então, passou a ser considerado crime qualquer ato realizado em sistemas protegidos por senhas. Para José Lopes, a importância da chamada Lei Carolina Dieckman é inegável porque trouxe algum benefício para a sociedade brasileira, mas foi elaborada e votada num processo midiático. “No momento em que se tem alguém famoso envolvido, o Congresso Nacional resolve legislar sobre o que já deveria ter legislado há séculos. Nós temos uma defasagem em termos de investigação de crimes cibernéticos. Essa defasagem em relação aos países da Europa gira em torno de 15 a 20 anos. E é inaceitável que tal fato ocorra, quando o Brasil desponta como segundo maior usuário da rede social”. Hoje, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking em número de internautas, o que exige das autoridades mais vontade política para se regulamentar o uso da rede social no País. “Isso nós não temos, isso está defasado, não há uma percepção de que o momento é um momento inovador, que requer a quebra de paradigmas do ponto de vista normativo, e o que temos hoje, a passos de tartaruga, são legislações pouco efetivas à justiça social, à justiça virtual no Brasil”, observa Lopes, que é responsável pelo convênio de cooperação técnica do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) com o Google, no âmbito de investigações de crimes cibernéticos. O procurador de Justiça lembra que apesar de já estar em vigor, a lei esbarra logo de início no sistema penal brasileiro, que se assenta numa base clássica. “O conceito de local do crime, lugar do crime, o conceito de lei penal no tempo, lei penal no espaço, princípio da reserva legal, são institutos clássicos, da doutrina clássica, que muitas vezes são inaplicáveis ao delito cibernético”, explica. A partir daí, surgem várias questões: A qual juízo compete um crime cibernético? Qual a atribuição do Ministério Público num crime cibernético? José Lopes frisa que a maior parte dos crimes cibernéticos diz respeito ao crime de ofensa à honra. “Via de regra, o ofendido é quem tem a legitimação para a propositura da ação penal, através da queixa-crime, ou, eventualmente, da representação. Mas essa questão afasta o Ministério Público, num primeiro momento, de assumir as rédeas da ação penal”, analisa. Com relação ao local do crime, o procurador diz que em muitos casos o internauta está fora do País e o Ministério Público não tem interseção, nem conta com legislação internacional apta a produzir justamente essa identificação de qual é a justiça competente para julgar eventuais crimes cibernéticos. Como os crimes cibernéticos não têm fronteiras, a responsabilidade das investigações passa a ser da Polícia Federal. “Somente em 2010 houve mais de 95 mil denúncias e notícias-crime, e muitos inquéritos estão ainda parados por falta de melhor estrutura de investigação”, contabilizou. Ainda de acordo com José Lopes, em 2010 a rede bancária do País teve um prejuízo de mais de R$ 15 bilhões, em função de constantes ataques ao sistema financeiro, com mais de 14 milhões de acessos por mês. “Nós não teríamos como efetivar essa justiça, se tais tentativas fossem efetivamente transformadas em procedimento investigatório”, reconhece. A clonagem de cartões de crédito e estelionatos são os crimes cibernéticos mais frequentes que fazem dos consumidores suas grandes vítimas. O procurador de Justiça diz haver uma necessidade real de se trabalhar com a criação de uma delegacia especializada nesses crimes, com melhor preparação técnica dos delegados e agentes de Polícia, porque esses delitos ocorrem instantaneamente. Além disso, a Justiça precisa ser mais célere para tentar ao menos, se não se tiver na vanguarda dos ataques, acompanhar e reprimir esses delitos. No Recife, a Delegacia do Consumidor tem atuado muitas vezes nessa área e o trabalho em parceria com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) tem surtido efeito na maioria dos casos. Porém é preciso mais. “Os novos profissionais da Polícia e do Ministério Público precisam se preparar ainda melhor para interagir com o mundo virtual, onde o uso do computador é cada vez maior”, observa. Mas, quando o assunto é investigação criminal, o MPPE está bem preparado. No Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), há promotores de Justiça capacitados, que dominam a mecânica de rastreamento. Isso tem ajudado o Ministério Público a obter excelentes resultados em suas investigações. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 25 Cuidados com a rede Menos curiosidade. Esse é o principal conselho dado pelo procurador de Justiça Criminal aos internautas para que não se tornem vítimas de crimes cibernéticos. “A segurança na rede social está atrelada obrigatoriamente ao nível de curiosidade. Quanto mais curioso, quanto mais descuidado, mais possibilidades de o internauta se transformar em vítima de algum golpista, de algum hacker”, alerta. Em relação aos e-mails que vêm com aquele clipizinho ou anexos, José Lopes recomenda aos internautas que não os abram, a não ser que tenham muita segurança a respeito de quem os enviam. Na verdade, no mundo virtual, a curiosidade facilita a instalação de spys, sistemas espiões que vão coletar dados dos internautas, dados dos usuários, que posteriormente poderão ser usados contra eles. Em relação às redes sociais, quanto menos informação pessoal se der, mais segurança se 26 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br terá. “Eu digo que o computador caseiro deve ser para toda a família. Portanto, deve se ter esse computador de forma que todos possam rastrear conversas e atividades dos filhos menores que estejam utilizando o equipamento. Isso é responsabilidade social dos pais ou dos responsáveis pelas crianças e adolescentes”, pontua. A falta de cuidado com arquivos que contêm informações sensíveis também pode acabar custando caro, causando danos irreparáveis, do ponto de vista da publicação e retirada de conteúdo da rede. Confira, a seguir, outras dicas: 1. Evite produzir fotos de si mesmo em situações íntimas. A maioria dos casos que chega hoje à Justiça, envolve situações passionais e /ou de vingança em fim de relacionamentos amorosos. 2. Segurança virtual é fato sério e cada usuário deve adotar cuidados simples, como travar o dispositivo com senha forma- da por números ou letras e números que só ele possa usar para o desbloqueio do equipamento. 3. Providência é manter instalados em computadores, smartphones e tablets um software de segurança que detecte e elimine vírus e outras ameaças na rede que deixam os computadores vulneráveis a ataques. 4. Atualizar sempre e com a frequência recomendada o sistema de antivírus em seus equipamentos de internet. 5. Quem detectar algo errado no dispositivo doméstico ou móvel, caso dos smarts, como ação de hacker, deve registrar uma ocorrência imediatamente porque esta violação já é crime pela Lei 12.737/12, em vigor. Para quem mora em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo vale procurar as delegacias especializadas em crimes cibernéticos já em funcionamento com equipes especializadas. Ministério Público nas Ruas Gibson Sampaio A vez de Carpina N em mesmo o forte temporal que desabou sobre a Região Metropolitana do Recife e Zona da Mata Norte na sexta-feira, 17 de maio, impediu que o projeto Ministério Público nas Ruas, coordenado pelo promotor de Justiça Marco Aurélio Farias, fosse levado a Carpina. O plenário da Câmara Municipal ficou pequeno para receber lideranças políticas, religiosas e comunitárias da região, que debateram por mais de três horas com os promotores de Justiça Fernando Falcão, Maria José Mendonça e Kívia Ribeiro as demandas da coletividade. Os principais problemas apresentados na ocasião se referiram à falta de acessibilidade, acolhimento de crianças e adolescentes em conflito com a lei, melhorias na segurança pública e inexistência de política de saúde mental. “Reuniões como esta deveriam ser realizadas pelo menos uma vez por mês, não somente em Carpina, mas em cada município pernambucano, porque as autoridades municipais precisam conversar mais entre si e se aproximar mais da sociedade para ouvir suas demandas”, aconselhou o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon de Barros. Em seguida, sugeriu ao presidente da Câmara Municipal, vereador Antônio Carlos Lideranças políticas e comunitárias de Carpina participam de audiência pública na Câmara de Vereadores Brandão, que abrisse esse mesmo espaço para o MPPE voltar a conversar com a população. Sugestão feita, sugestão aceita. O vereador se comprometeu em agendar novas audiências públicas. Por sua vez, a promotora de Justiça Maria José Mendonça abordou a questão da alienação parental, destacando a urgente necessidade de se fortalecer a conscientização dos pais dessas crianças, para evitar que elas cheguem à adolescência com distúrbios psicológicos. Por sua vez, a secretária de Saúde de Carpina, Alberice Mendes, disse que é muito complicado alguém achar que o município tem recursos necessários para arcar com despesas tão complexas quanto essas que suprem as necessidades de tantas crianças e adolescentes envolvidas com drogas. Já o promotor de Justiça Marco Aurélio argumentou que o Estado não dispõe de uma política de saúde mental capaz de atender às necessidades de quem precisa desse atendimento. Mas observou que “o Ministério Público tem somado esforços para regularizar essa situação”. Ao se dirigir ao procurador-geral, a assistente social da Prefeitura de Lagoa do Carro (Mata Norte), Cristiana Chagas, disse que, “com esta ação, o Ministério Público de Per- nambuco dá exemplo a todos nós do Executivo municipal, quando vai às ruas ouvir a voz do povo, conversar com a população e ouvir suas demandas”. Em seguida, o vereador de Carpina, Cláudio da Silva, pediu ao prefeito Carlinhos do Moinho que invista em ações preventivas, para reduzir os índices de criminalidade gerados pelo tráfico e consumo de drogas no município. “Por que a Prefeitura não constrói quadras poliesportivas para os jovens de cada bairro poderem praticar esportes? Por que a Prefeitura não instala câmeras de segurança com central de monitoramento?”, indagou. Também preocupado com a questão das drogas, o vereador Marinaldo Silva disse que “esta é uma responsabilidade de toda a sociedade carpinense e não somente do Poder Público”. Voz ativa no encontro, o cadeirante e vicepresidente da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae), Manassés Lima, pediu ao MPPE e à Prefeitura de Carpina que busquem soluções para o problema da falta de acessibilidade no município. Imediatamente, o procurador-geral recomendou ao prefeito Carlinhos do Moinho que só libere o Habite-se para as construções que oferecerem acessibilidade. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 27 Resíduos sólidos Marcos César Promotores, prefeitos, vereadores e oficial da PM na mesa de honra da audiência pública em Serra Talhada Um passo à frente Se depender do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a implantação das políticas nacional e estadual de Resíduos Sólidos em todo o Estado não vai esperar até 2014. Nesse sentido, o MPPE tem realizado uma série de audiências públicas nas cidades-polo para discutir com prefeitos, vereadores, dirigentes de empresas privadas e instituições não-governamentais e representantes da sociedade civil sobre o destino dos resíduos sólidos em cada município pernambucano. 28 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br F oi assim que aconteceu recentemente no plenário da Câmara Municipal de Floresta e no auditório do Colégio Imaculada Conceição, em Serra Talhada. Do primeiro encontro participaram os promotores de Justiça Antônio Rolemberg e André Felipe Barbosa, que também é Coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Justiça do Meio Ambiente (Caop Meio Ambiente), e os prefeitos Luciano Duque (Floresta), Neto XXX (Carnaubeira da Penha), Gustavo Caribé (Belém do São Francisco), Robson XXX (Jatobá), Lourival Simões (Petrolândia) e José Gerson (Tacaratu), além dos presidentes das respectivas Câmaras Municipais, empresários e representantes da Compesa e dos catadores de lixo. Do encontro realizado em Serra Talhada, se fizeram presentes os promotores de Justiça Antônio Rolemberg, Fabiano Pessoa, Vandeci Leite, Fabiana Machado, Daniel Ataíde e Fabiano Beltrão e os prefeitos Luciano Souza (Triunfo), Eugênio Lins (São José do Belmonte), Francisco Lima (Flores), Erivaldo da Silva (Calumbi) e Sebastião Carvalho (Mirandiba). “Este é o novo Ministério Público que estamos ajudando a construir em Pernambuco. Um Ministério Público inovador, que vai às ruas conversar com a sociedade e buscar parcerias para atender às demandas da coletividade”, disse o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, em Serra Talhada. Em seguida, ressaltou que a questão dos resíduos sólidos nos municípios depende basicamente da conscientização de todos, empresários, gestores públicos, educadores, comunicadores, líderes religiosos. “Cada um de nós deve dar sua parcela de contribuição para que essas políticas públicas sejam bem sucedidas e os lixões de hoje cedam lugar aos aterros sanitários de amanhã”, enfatizou. Para o promotor de Justiça Antonio Rolemberg, o MPPE tem dado grande importância ao diálogo com a sociedade na busca de soluções para questões como essa, que trata dos resíduos sólidos. “As políticas públicas de resíduos sólidos se baseiam na educação ambiental, que precisa ser fortalecida”, frisou. Por sua vez, o promotor de Justiça Fabiano Pessoa lembrou que essa audiência pública foi apenas uma das muitas etapas previstas no cronograma de ações para implantação das políticas nacional e estadual de resíduos sólidos. “A partir de agora, vamos elaborar questionários e acompanhar de perto os relatórios circunstanciados da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) sobre o quadro dos resíduos sólidos de cada município pernambucano”, adiantou Pessoa. Já o promotor de Justiça Vandeci Souza Leite disse que o MPPE não vai judicializar questões que podem ser resolvidas por meio do diálogo e das parcerias. “É isso que estamos buscando”, afirmou. Para o prefeito de Triunfo, Luciano Souza, as substituições dos lixões por aterros sanitários devem ser executadas antes de 2014, que é o prazo previsto, porque os riscos ambientais gerados pelos lixões são muito grandes. “O maior problema que as prefeituras enfrentam é como construir os aterros sanitários e cuidar de sua manutenção sem os recursos disponíveis”, observou Fernandes. Para ele, somente com a formação de consórcios e parcerias é que se tornará possível a implantação das políticas de resíduos sólidos. “O primeiro passo dos prefeitos pernambucanos nesse momento é aprender a ouvir e entender que ninguém hoje administra mais sozinho porque a sociedade civil organizada tem assumido seu papel de parceira das gestões públicas”, disse Souza. Já no encontro de Floresta, entre deliberações resultantes da audiência para as cidades da região destaca-se a criação de um plano municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) e instalação de uma Comissão Permanente de Gestão Ambiental Interna com participação de membros da sociedade e setores privados. As prefeituras também se comprometeram a iniciar a coleta seletiva e realizar uma campanha educativa para impedir o descarte inadequado de resíduos sólidos. Os catadores que vivem nos lixões serão realocados e a área deve ser cercada para o controle do acesso, impedindo assim a entrada de crianças e adolescentes na área. Também ficou proibida a queima dos resíduos nos lixões. Uma nova audiência será marcada para que as prefeituras prestem esclarecimentos a respeito das medidas tomadas. Nesses encontros, ficou bem claro que a melhor saída para os municípios implantarem seus aterros sanitários está no modelo consorciado, quando vários municípios se unem para arcar com os custos desses aterros, que terão de substituir os lixões a céu aberto. Dessa forma, o MPPE tem dado importante contribuição nesse processo em defesa do meio ambiente e no fortalecimento da cidadania. Gibson Sampaio Lixões a céu aberto, como este, estão com os dias contados em Pernambuco MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 29 Fotos:Catia Fonseca Fernando de Noronha André Rabelo à frente da audiência pública em Fernando de Noronha O paraíso é azul “ 30 T udo aqui é azul”, descreve uma turista em lua de mel, no Arquipélago de Fernando de Noronha, cartão postal de Pernambuco, localizado no Oceano Atlântico, nas coordenadas 3º 54’ S de latitude e 32º 25’ W de longitude, distante aproximadamente 360 Km de Natal (RN) e 545 Km do Recife (PE). No entanto, manter essa pose de paraíso tropical não é fácil. O Arquipélago possui vários problemas e a luta para preservá-lo é constante. Nessa briga diária, ilhéus e turistas ganharam um grande aliado: o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Por iniciativa do promotor de Justiça, André Rabelo, Fernando de Noronha foi palco, no mês de abril, de um evento que discutiu meio ambiente, sustentabilidade e reciclagem. Como minimizar os problemas com o lixo, implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), fazer uso sustentável da água e pôr em prática a reciclagem foram alguns dos temas discutidos no evento Novos Horizontes – Sustentabilidade, Meio Ambiente e Reciclagem. O encontro teve como objetivo proporcionar aos ilhéus informações a respeito dos seus direitos e como é importante o cuidado com o meio ambiente. Numa audiência pública realizada ao final do encontro, foi possível elencar as prioridades para que o MPPE possa adotar os procedimentos necessários. A abertura do evento foi feita por André Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Rabelo, que deixou claro o sentido do evento Novos Horizontes. “O lixo é de responsabilidade de todos nós”, disse. Acrescentando que se sente preocupado com relação ao descarte do lixo na ilha. Um procedimento investigatório e um inquérito civil foram instaurados para apurar as condições de gerenciamento dos resíduos sólidos. Além disso, ele explicou que em 2012, a Promotoria de Justiça do arquipélago solicitou um estudo sobre a questão do lixo, fornecimento de água e tratamento de esgoto. “Fernando de Noronha tem uma particularidade porque o custo para o transporte desse lixo é enorme, portanto é preciso adequar o gerenciamento dos resíduos sólidos. E isso aqui não é uma ação isolada. Estão sendo realizadas ações nos 184 municípios, porque a lei que vale no continente, também vale aqui”, destacou, referindo-se à Política Nacional de Resíduos Sólidos. O promotor de Justiça ainda apresentou a cartilha Lixo: quem se lixa? Que explica de forma prática a Política Nacional de Resíduos Sólidos. “O Ministério Público de Pernambuco está aqui para fazer cumprir a lei. E acredito que é a partir de trabalhos como esse, buscando engajar a sociedade, que a gente vai conseguir mudar muita coisa”, disse. Logo em seguida foi a vez do analista ministerial Frederico Lundgren dar explicações a respeito da política nacional, com des- taque para a Lei 12.305/2010 e o Decreto 5.940/2006. Ele explicou que, com relação ao cuidado com o meio ambiente, a reciclagem está em quarto lugar como uma das ações mais importantes. Outras como não gerar resíduos e reutilizar os materiais estão em um patamar mais alto. Além disso, ele explicou o conceito de logística reversa, sendo essa uma ação que deve ser implantada pelas empresas e indústrias, e também a coleta e restituição dos resíduos sólidos. “Lixo também vale dinheiro, por isso a coleta seletiva é a chave da política nacional. A lei vem mostrar a responsabilidade de cada um. Ninguém escapa dessa lei, seja consumidor, comerciante ou o poder público, todo mundo tem a sua responsabilidade”, avisou. Já a engenheira ambiental, Ana Ferraz, falou a respeito da produção de lixo e a ligação direta entre as relações de consumo. Ela também destacou a importância dos 5R’s (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar). Segundo a engenheira, o Brasil é o segundo país do mundo em reciclagem de alumínio. Mais de 90% do alumínio consumido são reciclados, o que representa economia de matéria-prima e energia. Ela ainda mostrou as fotografias de uma vistoria feita ano passado no local de reciclagem e compostagem da ilha e incentivou os presentes a terem mais cuidado com o meio ambiente. Por sua vez, o gerente da Unidade de Negócios da Compesa, Djair Pinto Bezerra Júnior, mostrou o sistema de dessalinização de água do mar e o sistema de abastecimento de água e esgoto do arquipélago. Ele explicou que o sistema puxa 34m³ de água do mar por hora, seguindo o padrão dinamarquês, sendo a operação dessalinizadora de Fernando de Noronha a maior da América do Sul. A ideia é que ainda este ano, 100% da água consumida em Noronha sejam dessalinizadas. O documentário Lixo Extraordinário, sobre o artista plástico Vik Muniz, também foi exibido para os ilhéus. O filme conta a trajetória do lixo dispensado no maior aterro sanitário da América Latina, na periferia de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, até ser transformado em arte nas mãos do artista. Segundo dia – Uma oficina de reciclagem feita pelas representantes da empresa Lixiki, tomou toda a parte da manhã, durante o evento Novos Horizontes. Ana Lúcia Borba e Prymícia Alves dos Santos conseguiram manter a atenção dos presentes e mostraram que é possível fazer coisas muito bonitas a partir do material descartado por outras pessoas. Elas exibiram diversas fotos de objetos produzidos pela Lixiki, assim como decoração de estandes e de festas típicas, como São João e Natal. Ao contar como a empresa nasceu, a engenheira civil Ana Lúcia Borba emocionouse. “Quando eu comecei a reciclar o lixo na minha casa eu sabia que era algo muito pequeno. Mas eu pensava que alguém no lixão ia abrir aquela sacola e ia ver que ali estava tudo separado e limpinho, que de alguma forma eu estava ajudando o trabalho daquelas pessoas. A reciclagem tem um Oficina de reciclagem orienta estudantes na Ilha papel fundamental na preservação do meio ambiente”, disse. “Trouxemos técnicos capacitados para discutir a questão do lixo, reciclagem, água e esgoto e isso é a primeira vez que é feito na ilha de Fernando de Noronha. A população teve a oportunidade de discutir esses assuntos e participar de uma audiência, quando foi gerado um documento que irá definir o que vai ser feito e irá nortear as ações do MPPE sobre a temática. O Ministério Público não medirá esforços de tomar qualquer iniciativa para o interesse da sociedade. Todas as medidas que possam ser tomadas em defesa do meio ambiente não deixarão de ser tomadas pelo MPPE”, sreforçou André Rabelo. Ações como esta reforçam a esperança de ilhéus e turistas de que um dos mais belos cartões-postais de Pernambuco terá sua preservação ambiental como prioridade. E o paraíso continuará cada dia mais azul, no meio do Oceano Atlântico, para felicidade de todos. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 31 MPPE em Notas Gibson Sampaio Medalha do Pacto O governador Eduardo Campos entregou a Medalha Pacto pela Vida à promotora de Justiça Isabel de Lizandra, em reconhecimento pelos serviços prestados ao combate à criminalidade. Criada pelo decreto nº 39.397, de 15 de maio de 2013, foi entregue durante solenidade comemorativa do 6º aniversário do programa Pacto pela Vida, no Centro de Convenções. Homenagem na despedida 32 A procuradora de Justiça Aparecida Caetano recebeu justa homenagem do Conselho Superior do MPPE, por ocasião de sua aposentadoria. “Agradeço a solenidade e as flores brancas, que tão bem representam a minha decisão tranquila e consciente. A aposentadoria é um tempo pessoal e chegou o meu tempo”, disse a homenageada, ao receber um buquê de flores das mãos da subprocuradora-geral em Assuntos Administrativos, Lais Teixeira. “Obrigada por mim e pela Instituição. O MPPE escreve um agradecimento público pelo seu trabalho”, saudou a procuradora de Justiça Janeide Oliveira, em nome do Ministério Público. A homenagem aconteceu no Salão dos Órgãos Colegiados. Aplausos ao promotor Enfrentamento ao racismo Relatório da modernização Por iniciativa do deputado Rodrigo Novaes, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou voto de aplauso ao promotor de Justiça Antonio Rolemberg, em reconhecimento à sua atuação ministerial no Sertão pernambucano, onde se destaca a realização de várias audiências públicas para debater questões de vital importância para a população. Entre elas, merecem destaque a discussão sobre o destino final dos resíduos sólidos e a segurança dos consumidores nas agências bancárias. O parlamentar também destacou a fiscalização feita pelo Ministério Público em bares e restaurantes que vendiam bebida alcoólica próximo às escolas. Os novos promotores de Justiça, oficiais da Polícia Militar, delegados e agentes da Polícia Civil participaram, em Petrolina, da terceira Oficina de Enfrentamento ao Racismo Institucional. O evento, promovido pelo GT Racismo do MPPE durou dois dias e reuniu 80 participantes. A diretora da Escola Superior do MPPE, promotora de Justiça Deluse Florentino, disse que o objetivo da reunião foi “a cooperação interinstitucional para que se promova o respeito à pessoa humana e o combate à discriminação racial”. O conselheiro do Senado, Mário Lisboa, ministrou palestra de abertura sobre “Os grandes desafios do enfrentamento da questão racial no Brasil”. Coordenada pela subprocuradora-geral de Justiça Lais Teixeira, a Comissão de Modernização entregou ao procurador-geral Aguinaldo Fenelon, o relatório final dos estudos desenvolvidos, com o objetivo de diagnosticar o atual panorama da Instituição e apresentar produtos e propostas de aprimoramento da gestão. No encontro, além da coordenadora, três membros e quatro servidores, integrantes da comissão, apresentaram o relatório. No diagnóstico, foram apresentados produtos e propostas a serem trabalhados pelo MPPE em curto, médio e longo prazos. As questões vão das demandas das promotorias até as áreas de interesse da população. Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br Grande Medalha da Inconfidência O procurador-geral Aguinaldo Fenelon foi agraciado no dia 21 de abril com a Grande Medalha da Inconfidência, mais alta condecoração do Governo mineiro. O governador de Minas Gerais Antonio Anastasia, esteve à frente da solenidade na Praça Tiradentes, em Ouro Preto. Entre os homenageados, estava o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que falou em nome dos agraciados. Entregue uma vez por ano, a Medalha da Inconfidência foi criada, em 1952, pelo então governador Juscelino Kubitschek, para homenagear pessoas que prestaram relevantes serviços e contribuíram para a promoção de Minas e do Brasil. Idoso com cidadania O MPPE, representado pela Caravana da Pessoa Idosa, lançou o guia Idoso no Exercício da Cidadania, durante baile da terceira idade animado pela Super Oara, no Clube dos Oficiais da Polícia Militar. A iniciativa da Caravana é a primeira ação planejada para 2013 em comemoração aos dez anos do Estatuto do Idoso. A coordenadora da Caravana, promotora de Justiça Yélena Araújo, disse que “o lançamento do Guia é mais uma conquista para o idoso e para o MPPE”. Mostra de Tecnologia O MPPE vai sediar, no Recife, dias 10 e 11 de junho, a III Mostra de Tecnologia do Ministério Público, promovida pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) em parceria com o Conselho Nacional dos Procuradores Gerais (CNPG). O evento é voltado para membros e servidores de todas as unidades do MP com atuação nas áreas de Tecnologia da Informação (TI), gestão e administração. Torpedos sociais A operadora Vivo firmou parceria com o MPPE para dar continuidade à divulgação da campanha O que você tem a ver com a corrupção?, mediante envio de torpedos sociais com a frase Dica Vivo: combater a corrupção também depende de você. Veja como em www.mp.pe.gov.br/index. pl/corrupção. O objetivo é orientar melhor a população sobre as formas de denunciar casos de corrupção. Segurança urbana Goiana contra o crack O secretário de Segurança Urbana do Recife, Murilo Cavalcanti, apresentou ao procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, o plano de segurança urbana da capital. O programa, que destaca a cidadania na prevenção da violência, reúne insumos e dados para a construção de uma política integrada e consistente de prevenção à violência urbana, com base num mapa da vulnerabi- O projeto - foi lançado pelos promotores de Justiça Fabiano Saraiva, Patrícia Ramalho e Genivaldo Fausto em audiência pública na Escola Técnica Estadual de Goiana. O encontro objetivou o debate com magistrados, gestores municipais, líderes religiosos e comunitários, conselheiros tutelares, delegados de Polícia e oficiais da PM para estabelecer estratégias de ação de enfrentamento ao crack na região. lidade do Recife. MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 33 Artigo Marcos César Redução da maioridade penal não é solução *Aguinaldo Fenelon de Barros A redução da maioridade penal não é solução para diminuir os índices de criminalidade no País. O simples encarceramento de nossas crianças e adolescentes em conflito com a lei deixa cada vez mais evidente que os centros de internação, que se espalham de norte a sul do Brasil, não ressocializam ninguém. Ao contrário, estimulam a reincidência da prática de delitos, porque faltam políticas públicas executadas de forma responsável por parte dos municípios brasileiros, de forma consorciada ou não, com apoio da União e dos Estados. Reduzir a maioridade penal significa aumentar a população encarcerada, gerando a necessidade de construção de novos presídios. E isso não é solução para o problema da criminalidade. O mais grave nesse cenário sombrio que emoldura uma socie- 34 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br dade aflita e refém do medo das ruas é que os centros de acolhimento não passam de presídios muito semelhantes àqueles que recebem adultos criminosos. Se cada município desse país de dimensões continentais desenvolvesse programas sociais, esportivos e culturais voltados para nossas crianças e adolescentes, não teríamos esse contingente de infratores armados enlutando tantas famílias todos os dias. Com certeza, a prática de esportes, oficinas de arte e cursos profissionalizantes afastaria essa juventude das drogas e do crime. Citando Pitágoras: “Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”. A sociedade invisível aos olhos do Poder Público no passado, torna-se hoje visível de armas em punho e drogas nos bolsos. Essas crianças e adolescentes em conflito com a lei são o resultado mais infeliz da ausência do Poder Público. Essas crianças e adolescentes não querem nem merecem o futuro que se desenha diante de seus olhos. Mas não é somente o Poder Público que tem esse débito social. As empresas também têm sua parcela de responsabilidade porque visam apenas ao lucro fácil, sem prestar a contrapartida aos benefícios fiscais que recebem do Estado. Na maioria dos casos, os projetos sociais dessas empresas não saem do papel e deixam de contribuir com a reinserção social de crianças e adolescentes em conflito com a lei. É preciso, pois, que todos nos unamos em torno dessa causa – Poder Público, empresas e sociedade civil – para que tenhamos um país melhor e mais justo. *Aguinaldo Fenelon de Barros é procurador-geral de Justiça de Pernambuco MPPE em Foco - abril/ maio/ junho de 2013 35 36 Ministério Público de Pernambuco - www.mp.pe.gov.br