BOAS PRÁTICAS EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS: NECESSIDADE DA UTILIZAÇÃO EM UM ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA Irma Caetano de Holanda Lins Monografia apresentada no Curso de PósGraduação em Gestão e Gerenciamento de Projetos, da Escola Politécnica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: José Ruy Rezende Rio de Janeiro Maio, 2010 BOAS PRÁTICAS EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS: NECESSIDADE DA UTILIZAÇÃO EM UM ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA Irma Caetano de Holanda Lins Orientador: José Ruy Rezende Monografia submetida ao Curso de Pós-graduação em Gestão e Gerenciamento de Projetos, da Escola Politécnica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Gestão e Gerenciamento de Projetos. Aprovada por: __________________________________________ Eduardo Linhares Qualarini __________________________________________ Isabeth da Silva Mello __________________________________________ José Ruy Rezende Rio de Janeiro Maio, 2010 ii LINS, Irma Caetano de Holanda. Boas práticas em gerenciamento de projetos: necessidade da utilização em um escritório de Arquitetura / LINS, I.C.H. Rio de Janeiro: UFRJ/EP, 2010. vii, 45f. : il.; 29,7cm. Orientador: José Ruy Rezende Monografia (especialização) – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Especialização em Gestão e Gerenciamento de Projeto, SEGRAC, 2010. Referências Bibliográficas: f. 42-45. 1.Gerenciamento 2. Projeto de Arquitetura I. REZENDE, J.R. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Pós-graduação em Gestão e Gerenciamento de Projetos III. Especialista iii Dedico este trabalho ao meu marido, Rafael Lins, que sempre esteve ao meu lado, à minha família que sempre me incentivou, aos amigos que torceram por mim, e à rra, que me apoiou. iv RESUMO BOAS PRÁTICAS EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS: NECESSIDADE DA UTILIZAÇÃO EM UM ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA Irma Caetano de Holanda Lins Resumo da Monografia submetida ao corpo docente do curso de Pós-Graduação em Gestão e Gerenciamento de Projetos – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Gestão e Gerenciamento de Projetos. O presente trabalho é um estudo sobre as práticas propostas para Gerenciamento de Projetos, relacionando-as ao desenvolvimento de projetos de Arquitetura, com o objetivo de, ao fazer esta relação, confirmar que os projetos desta área podem ser tratados da mesma forma que os das demais, verificar a aplicabilidade das boas práticas nesses e identificar possíveis vantagens de sua utilização. A pesquisa teve como base as áreas de conhecimento e processos sugeridos pelo PMI (Project Management Institute) e as informações sobre práticas exercidas na área de Arquitetura, selecionadas a partir da observação direta, da experiência no setor e da pesquisa em manuais técnicos e em trabalhos de profissionais atuantes no mercado. Palavras-Chave: Gerenciamento, Projeto de Arquitetura Rio de Janeiro Maio, 2010 v SUMÁRIO LISTA DE QUADROS.................................................................................................... vii 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 1.1. Objetivo .................................................................................................................................... 1 1.2. Justificativa ao problema .................................................................................................... 1 1.3. Limitações da pesquisa ....................................................................................................... 1 1.4. Estrutura dos capítulos........................................................................................................ 2 1.5. Metodologia empregada ..................................................................................................... 2 2. CONTEXTO ............................................................................................................. 3 2.1. Gerenciamento de Projetos ............................................................................................... 3 2.2. Arquitetura ............................................................................................................................... 4 3. ESTADO DA ARTE ................................................................................................ 11 3.1. Gerenciamento do Escopo............................................................................................... 11 3.2. Gerenciamento do Tempo................................................................................................ 15 3.3. Gerenciamento do Custo .................................................................................................. 17 3.4. Gerenciamento da Qualidade ......................................................................................... 19 3.5. Gerenciamento dos Recursos Humanos ..................................................................... 21 3.6. Gerenciamento da Comunicação .................................................................................. 24 3.7. Gerenciamento dos Riscos .............................................................................................. 27 3.8. Gerenciamento das Aquisições ...................................................................................... 30 3.9. Gerenciamento da Integração......................................................................................... 34 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 42 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS .................................................................................. 45 vi LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Etapas do Projeto de Arquitetura................................................................. 7 vii 1. INTRODUÇÃO 1.1. Objetivo O presente trabalho tem por objetivo mostrar que os serviços de Arquitetura apresentam necessidades típicas de qualquer outro tipo de projeto. Assim sendo, a utilização de boas práticas de Gerenciamento de Projetos proporcionaria uma melhor eficiência e eficácia na execução destes serviços. 1.2. Justificativa ao problema Os serviços de Arquitetura são a elaboração de projetos que definem e solucionam uma construção. Embora projetar e planejar uma edificação sejam as atividades diárias de um arquiteto, para as quais ele foi formado, executar estas atividades utilizando práticas de gerenciamento não o é. Os contratos realizados entre cliente e arquiteto, como qualquer outro, concentramse na tripla restrição: escopo, prazo e custo. Porém, estes são feitos de forma ainda insipiente em relação às metodologias de Gerenciamento de Projetos, possuindo falhas como, por exemplo, escopo mal definido, o que resulta em impactos nas duas outras restrições. Uma vez que estes serviços possam ser enquadrados como projetos e que as boas práticas sejam a eles aplicáveis, estas podem ajudar a melhorar o desempenho de sua execução. A adoção de práticas em Gerenciamento de Projetos, a criação e utilização de uma metodologia e o aumento contínuo do nível de maturidade da organização permitiriam que o escritório realizasse seus projetos de forma mais tranqüila e eficiente, diminuindo a quantidade de retrabalho, vício comum nessa área. 1.3. Limitações da pesquisa Referências bibliográficas sobre gerenciamento de projetos, especificamente voltadas para projetos de Arquitetura, ainda são escassas. Desta forma, a presente pesquisa se caracteriza mais como exploratória do que como descritiva, com o intuito de focar um tema abrangente como o de gerenciamento de projetos em projetos de Arquitetura. Esta pesquisa irá contribuir com os conhecimentos teóricos na área, ampliar a literatura disponível sobre o assunto e inspirar novas pesquisas. Este trabalho não tem como finalidade discorrer detalhadamente sobre os assuntos citados, criar novas teorias ou mesmo perpetuar conceitos. 2 1.4. Estrutura dos capítulos Esta monografia está estruturada em quatro capítulos: Introdução, Contexto, Estado da Arte e Considerações Finais. O capítulo Introdução aborda os assuntos referentes ao trabalho acadêmico em si, tais como: objetivo, justificativa, limitações, estrutura e metodologia utilizada. O capítulo Contexto situa o leitor no cenário do gerenciamento de projetos e da Arquitetura, expondo sinteticamente a evolução do gerenciamento, a situação atual do mercado mundial, a situação atual da área de Arquitetura e de que se trata esta atividade. O capítulo Estado da Arte busca relacionar necessidades típicas dos projetos de Arquitetura com a teoria existente sobre gerenciamento de projetos, de modo a fundamentar as considerações levantadas. O capítulo Considerações Finais discorre sobre o estado da arte e a prática vivenciada, com reflexões sobre o objetivo da monografia e conseqüentes recomendações. 1.5. Metodologia empregada Para efeitos didáticos, a monografia se baseará nas nove áreas de conhecimento difundidas pelo PMI (Project Management Institute), mas não se restringirá apenas as práticas recomendadas por este instituto, tendo como objetivo também buscar conhecimentos difundidos por outras instituições, incluindo as da área de estudo, como CONFEA (Confederação de Engenharia e Arquitetura), IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), ASBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), e outros autores. O capítulo Estado da Arte será dividido em nove sub-capítulos, relativos às nove áreas de conhecimento: escopo, tempo, custo, qualidade, recursos humanos, comunicação, riscos, aquisições e integração. Cada capítulo discorrerá sobre as referências teóricas em gerenciamento de projetos daquela área, relacionando-as com as necessidades típicas de projetos de arquitetura. Estas informações serão obtidas através de pesquisa bibliográfica e relatos de observações e experiências do autor e de representantes da área de Arquitetura. Por fim, em função das pesquisas e observações efetuadas ao longo do trabalho, serão feitas considerações referentes ao objetivo da monografia e recomendações para futuros trabalhos. 2. CONTEXTO 2.1. Gerenciamento de Projetos Projetos estão em todo lugar e todos os executam. Eles são a principal força motriz de muitas organizações em variadas indústrias e podem ser entendidos como os esforços de transformação da sociedade. Como o ritmo destes esforços de transformação vem aumentando, o único modo das organizações sobreviverem e crescerem nesse mundo moderno é gerenciá-los de forma eficaz e eficiente. (DINSMORE, 2009). A partir do início do século do século XX, diversas ferramentas e métodos começaram a surgir e a serem utilizados na criação de metodologias para o planejamento de etapas dos projetos. Começou com a aplicação do gráfico de Henry L.Gantt ao planejamento de obras, sendo a primeira maneira de representação gráfica do desenvolvimento esperado das etapas de execução de um empreendimento e constituindo os primeiros esforços de planejamento de implantação. (MOLLICA Fº apud CODAS, 1987). A evolução mais sensível do gerenciamento deu-se nas suas áreas de aplicação, inicialmente muito ligadas ao desenvolvimento de projetos no campo da informática, por um lado, e por outro, à construção e montagem de obras de grande porte. Com o passar do tempo, o conceito de projeto foi sendo difundido na sua acepção mais ampla, como sistema interligado de atividades de relativa complexidade, não-repetitivas, com objetivos préespecificados, com restrição de custo, prazos, e recursos agrupados no início e dispersados no fim de um projeto. Hoje, o gerenciamento de projetos é, praticamente, aplicado a todos os campos da atividade humana. (CODAS,1987). A maior parte das organizações existentes lida diariamente com projetos. Em 2005 os projetos já moviam aproximadamente 10 trilhões de dólares americanos no mundo todo, sendo responsáveis por 25% do PIB mundial e empregando cerca de 16,5 milhões de trabalhadores. (CARVALHO; RABECHINI JR. apud KAWANAMI; CARVALHO, 2008). Na conjuntura atual, sobre a influência dos grandes avanços tecnológicos diários e com uma rotina profissional globalizada consolidada, onde é comum a coexistência de múltiplos projetos em ambientes multiculturais, o planejamento é fundamental para o sucesso de um projeto, não por garanti-lo, mas por diminuir as incertezas e riscos normalmente presentes. As vantagens de utilizar uma metodologia para o Gerenciamento de Projetos têm sido largamente divulgadas e sua aplicação tem se tornado cada vez mais comum nas empresas. (CARVALHO; RABECHINI JR. apud SANTOS; MARTINS, 2008). Sua utilização permite que a organização atinja uma série de objetivos de forma mais eficiente e efetiva. 4 No Brasil, o contexto atual não poderia ser diferente. As grandes empresas brasileiras, para garantir sua posição no mercado internacional, precisam estar com suas práticas alinhadas às das demais empresas e com os mesmos padrões de qualidades, para garantir, no mínimo, uma convergência competitiva. Isso gera uma reação em cadeia, começando pelas empresas de grande porte, e recaindo sobre as de médio e pequeno porte, que, por prestarem serviço as primeiras, precisam atender as mesmas exigências e padrões que a empresa contratante atende. Há uma tendência nacional das grandes empresas em apostarem no maior planejamento de seus empreendimentos. A falha de planejamento atinge vários aspectos de um projeto, seja este de qualquer natureza. A falta de planejamento gera problemas como: pouco atendimento às metas de desempenho, retrabalho, tempo ocioso em fases e processos, falta de definição clara de responsabilidades dentre os participantes e até a dificuldade de avaliar o desempenho dos envolvidos (TASSARA, 2009). 2.2. Arquitetura 2.2.1. O que é arquitetura Conceitualmente, Arquitetura é a arte ou técnica de conceber e edificar o ambiente habitado pelo homem, onde, em seus primórdios, era apenas o abrigo das intempéries. (TASSARA, 2009). Arquitetura pode, então, ser definida como construção concebida com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa. (COSTA apud TEIXEIRA, 2008). O arquiteto é responsável desde a germinação da concepção formal, até a conclusão efetiva da obra, onde se percorre um longo caminho, passado por limitações, máximos e mínimos, determinados por cálculos e legislações, adequações ao meio, trabalho em equipe, imposições pelo programa - o arquiteto, não é somente um artista, mas sim um profissional que lida com requisitos técnicos, através de uma escala de valores, priorizando, para cada caso específico, os principais fatores. (TASSARA, 2009). A arquitetura possui uma singularidade em relação às demais representações artísticas pelo fato da produção do artista não ser a obra de arte em si, mas na verdade um conjunto de instruções para sua produção por outrem. Estas instruções devem ser claras, concisas e precisas para perfeito entendimento daqueles que deverão segui-las. O planejamento do desenvolvimento destas informações é a síntese do projeto de arquitetura, 5 que possui ainda uma característica de multidisciplinaridade, com o envolvimento de diversos projetistas, cada vez em maior número e mais especializados. (TEIXEIRA, 2008). 2.2.2. O que é um projeto de arquitetura A palavra projeto significa, genericamente, intento, desígnio, empreendimento e, em sua acepção técnica, um conjunto de ações caracterizadas e quantificadas, necessárias à concretização de um objetivo. Embora este sentido se aplique a diversos campos de atividades, em cada um deles o projeto se materializa de forma específica. O objetivo principal do projeto de arquitetura de edificações é a execução da obra idealizada pelo arquiteto. Essa obra deve se adequar aos contextos natural e cultural em que se insere, além de responder às necessidades do cliente e de seus futuros usuários. As metas do cliente e dos usuários se exprimem através do programa de necessidades que define metodicamente o objetivo do projeto. (AsBEA apud TEIXEIRA, 2008). Tratando assim o projeto de arquitetura não apenas como um subproduto da construção da edificação e analisando seu desenvolvimento a partir da perspectiva do arquiteto que precisa desenvolvê-lo, planejá-lo e controlá-lo, constata-se que é um projeto legítimo, sempre único e finito, e não um simples processo. (TEIXEIRA, 2008). O projeto de arquitetura muitas vezes é confundido com a simples concepção da arquitetura, em outros casos resumido apenas à representação gráfica da mesma (plantas). O projeto de arquitetura, porém, é muito mais do que isto: essas concepções e representações gráficas demandam vários serviços anteriores, simultâneos ou posteriores. O bom projeto de arquitetura de edificações, que excede em muito a criação e realização gráfica da idéia ou solução, não deve prescindir de uma série de considerações relativas a todos os seus condicionantes nem deixar de considerar os impactos e conseqüências de sua execução, sejam culturais ou ambientais. Durante o projeto propriamente dito, é indispensável o auxílio e subsídio de informações e projetos (complementares ou instalações), oriundos de outras áreas afins. (AsBEA apud TEIXEIRA, 2008). 2.2.3. As fases do projeto de arquitetura O projeto de arquitetura é tradicionalmente dividido em fases, que representam os processos que devem ser desenvolvidos. Entende-se que processo é um conjunto de atividades pré-determinadas desenvolvidas para gerar produtos/serviços que atendem às necessidades dos clientes. Este conjunto de atividades é marcado por um objetivo a que se quer chegar com produtos muito bem definidos. Outra característica fundamental de um processo é a de transformar um ou mais insumos recebidos de fornecedores internos e/ou externos em produtos a serem entregues a um ou mais clientes internos e/ou externos. 6 Estes insumos podem ser materiais e fisicamente identificáveis ou dados e informações (SILVA apud TEIXEIRA, 2008). Esta definição é importante para identificar o encadeamento dos processos e, mais à frente, o conceito da qualidade dos produtos gerados. Cada projeto possui sua singularidade. A supressão de uma fase, a criação de alguma fase intermediária ou a subdivisão de outra pode ocorrer de acordo com as necessidades do projeto. Algumas fases podem também ter sua ordem invertida ou até seus conceitos alterados, mas não com tanta liberdade e sucesso, já que como processos, em geral, uma fase costuma gerar subsídios para a seguinte. (TEIXEIRA, 2008). O processo de projeto na construção de edifícios apresenta papel fundamental, pois passa por várias fases no seu ciclo de vida, desde os estudos de viabilidade, passando pela operação da obra e finalizando na sua demolição, onde cada agente envolvido no processo de construção tem objetivos, visões e culturas organizacionais particulares. (TRISTÃO et al., apud ITO, 2007). Durante o processo de projeto são antecipadas as decisões e conhecidas as restrições tecnológicas, de custos, de prazos, de relacionamento com fornecedores, de organização da produção. (BERTEZINI apud ITO, 2007). As facilidades proporcionadas no ambiente digital e os novos sistemas CAD, com maior capacidade de trabalho como um meio integrado e interativo, está causando impactos na prática da produção de projetos da sua concepção à execução da construção. A mudança do paradigma está em considerar projeto como geração de informação e da forma do objeto, incorporando continuidade e rastreabilidade das informações como parte do processo de projeto. (OZKAYA; AKIN apud ITO, 2007). O projeto de arquitetura possui uma seqüência de desenvolvimento em etapas crescentes em detalhes e complexidade, com a participação de agentes de equipes multidisciplinares e de diferentes empresas. Normalmente, é pré-requisito que para se iniciar uma etapa de projeto de determinada disciplina, dependa-se do término de uma etapa de diferente disciplina. (ITO, 2007). No Quadro 1 estão relacionadas as etapas de um projeto de arquitetura conforme a NBR 13531, onde cada etapa gera produtos de diferentes conteúdos. A compatibilização do projeto de arquitetura com os projetos complementares e entre si acontece principalmente nas etapas do Projeto Básico e Executivo. Ela representa a solução das interferências entre os mesmos, tornando-os equacionados de modo a permitir o seu pleno desenvolvimento e execução, antevendo assim os conflitos entre as diferentes disciplinas. A compatibilização não deve ser confundida com coordenação e gerenciamento. (TEIXEIRA, 2008). 7 ETAPAS DAS ATIVIDADES TÉCNICAS DO PROJETO DE EDIFICAÇÃO E DE SEUS ELEMENTOS, INSTALAÇÕES E COMPONENTES: (LV) – LEVANTAMENTO – ETAPA DESTINADA À COLETA DAS INFORMAÇÕES DE REFERÊNCIA QUE REPRESENTEM AS CONDIÇÕES PREEXISTENTES, DE INTERESSE PARA INSTRUIR A ELABORAÇÃO DO PROJETO. (PN) – PROGRAMA DE NECESSIDADES – ETAPA DESTINADA À DETERMINAÇÃO DE CARÁTER PRESCRITIVO OU DE DESEMPENHO (NECESSIDADES E EXPECTATIVAS DOS USUÁRIOS) A SEREM SATISFEITAS PELA EDIFICAÇÃO A SER CONCEBIDA. (EV) – ESTUDO DE VIABILIDADE - ETAPA DESTINADA À ELABORAÇÃO DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO PARA SELEÇÃO E RECOMENDAÇÃO DE ALTERNATIVAS PARA A CONCEPÇÃO DA EDIFICAÇÃO E DE SEUS ELEMENTOS, INSTALAÇÕES E COMPONENTES. (EP) – ESTUDO PRELIMINAR – ETAPA DESTINADA À CONCEPÇÃO E À REPRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES TÉCNICAS INICIAIS E APROXIMADAS, NECESSÁRIOS À COMPREENSÃO DA CONFIGURAÇÃO DA EDIFICAÇÃO, PODENDO INCLUIR SOLUÇÕES ALTERNATIVAS. (AP) ANTEPROJETO E/OU (PR) PRÉ-EXECUÇÃO – ETAPA DESTINADA À CONCEPÇÃO E À REPRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES TÉCNICAS PROVISÓRIAS DE DETALHAMENTO DA EDIFICAÇÃO E DE SEUS ELEMENTOS, INSTALAÇÕES E COMPONENTES, NECESSÁRIOS AO INTERRELACIONAMENTO DAS ATIVIDADES TÉCNICAS DE PROJETO E SUFICIENTES À ELEBORAÇÃO DE ESTIMATIVAS APROXIMADAS DE CUSTOS E DE PRAZOS DOS SERVIÇOS DE OBRA IMPLICADOS; (PL) PROJETO LEGAL – ETAPA DESTINADA À REPRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES TÉCNICAS NECESSÁRIAS À ANÁLISE E APROVAÇÃO, PELAS AUTORIDADES COMPETENTES, DA CONCEPÇÃO DA EDIFICAÇÃO E DE SEUS ELEMENTOS E INSTALAÇÕES, COM BASE NAS EXIGÊNCIAS LEGAIS (MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL), E À OBTENÇÃO DO ALVARÁ OU DAS LICENÇAS E DEMAIS DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS PARA AS ATIVIDADES DE CONSTRUÇÃO. (PB) PROJETO BÁSICO (OPCIONAL) – ETAPA OPCIONAL DESTINADA À CONCEPÇÃO E À REPRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES TÉCNICAS DA EDIFICAÇÃO E DE SEUS ELEMENTOS, INSTALAÇÕES E COMPONENTES, AINDA NÃO COMPLETAS OU DEFINITIVAS, MAS CONSIDERADAS COMPATÍVEIS COM OS PROJETOS BÁSICOS DAS ATIVIDADES TÉCNICAS NECESSÁRIAS E SUFICIENTES À LICITAÇÃO (CONTRATAÇÃO) DOS SERVIÇOS DE OBRA CORRESPONDENTES. (PE) PROJETO EXECUTIVO - ETAPA DESTINADA À CONCEPÇÃO E À REPRESENTAÇÃO FINAL DAS INFORMAÇÕES COMPONENTES, TÉCNICAS DA COMPLETAS, EDIFICAÇÃO DEFINITIVAS, E DE SEUS NECESSÁRIAS ELEMENTOS, E INSTALAÇÕES SUFICIENTES (CONTRATAÇÃO) DOS SERVIÇOS DE OBRA CORRESPONDENTES. Quadro 1 – Etapas do Projeto de Arquitetura Fonte: ABNT, 1995, adaptado pelo autor, 2010. À E LICITAÇÃO 8 2.2.4. A coordenação das fases Estes modelos de projeto de arquitetura sugerem a elaboração de projeto de uma forma seqüencial, onde uma etapa se inicia após a finalização da anterior, desencadeando uma seqüência de atividades. (ITO, 2007). Com o envolvimento simultâneo de diversos agentes desde as fases iniciais, as decisões tomadas devem ser multidisciplinares, ou seja, as soluções devem chegar a um consenso. A coordenação de projetos é uma atividade de suporte exercida durante o ciclo de vida dos projetos de arquitetura, para promover a integração dos requisitos e decisões de projeto, entre as equipes multidisciplinares e desta forma melhorar a qualidade dos projetos. (SOUZA et al., apud ITO, 2007). Ao longo das etapas, onde as equipes de projetos multidisciplinares trabalham isoladamente, é necessário um coordenador para promover reuniões periódicas para verificar interferências entre os projetos, conduzir as decisões a serem tomadas, garantir a comunicação e troca de informação entre as equipes, garantir a comunicação e a integração entre as fases do empreendimento, verificar a coerência entre o produto projetado e a produção, controlar a cada etapa a qualidade dos projetos, impor condições de trabalho entre as equipes, gerenciar conflitos e as interfaces para organizar o processo de projeto. (USUDA apud ITO, 2007). A ausência de coordenação dos processos de projetos, que são conduzidos de forma independente pelos agentes, compromete os prazos de entrega e a qualidade do produto. (GRILO et al., apud ITO, 2007). Para cada projeto a empresa deve elaborar um planejamento e desenvolver processos necessários para executar seus projetos, respeitando os requisitos do cliente e o programa de necessidades. O planejamento deve considerar todos os projetos em andamento da empresa, envolvendo as atividades executadas internamente e de subcontratados, para que hajam recursos suficientes, principalmente recursos humanos, para o atendimento de todos os projetos. (MELHADO; CAMBIAGHI, apud ITO, 2007). A qualidade do projeto depende da troca de informação eficiente e oportuna entre todos os agentes envolvidos (JACOSKI; LAMBERTS apud ITO, 2007), do atendimento às necessidades do cliente, da qualidade das soluções projetuais, da qualidade da apresentação do projeto, da qualidade dos serviços associados ao projeto, e também da qualidade de sua utilização durante a fase de execução da obra (OLIVEIRA; MELHADO apud ITO, 2007). A grande quantidade de documentos gerados no processo de projetos exige procedimentos para registrar e revisar as informações. As empresas de Arquitetura devem ter um sistema para classificar e identificar os documentos de projetos. Todos os agentes 9 envolvidos nos projetos devem conhecer este sistema, principalmente o cliente, que deve aprovar o seu uso. As alterações no projeto devem ser registradas e identificadas, para garantir a sua rastreabilidade e somente documentos de projetos verificados e validados pelo cliente podem ser liberados para a execução. (MELHADO; CAMBIAGHI apud ITO, 2007). 2.2.5. O gerenciamento de projetos de arquitetura Um escritório de Arquitetura geralmente é uma empresa que se enquadra na categoria de organização com estrutura matricial forte ou projetizada. É composta por diversas pessoas, agrupadas em equipes mobilizadas para cada projeto existente na empresa, podendo ser remanejadas entre as equipes em função das necessidades dos projetos. Normalmente, um escritório de Arquitetura possui vários projetos ocorrendo simultaneamente. É importante ressaltar que um escritório de arquitetura é uma empresa voltada para projetos. Cada novo cliente que surge é um novo projeto que começa. Pelo tipo de atividade que exerce, a necessidade de documentação, de controle, de qualidade e comunicação sempre existiu. A elaboração de um projeto de arquitetura é um processo complexo que envolve, além dos projetos em si, diversas interfaces com outras especialidades técnicas. Portanto, a contratação e coordenação racional de um projeto devem considerar a necessidade de integração das equipes, dos conhecimentos e experiências. Além disso, a dinâmica atual da indústria imobiliária tem exigido uma otimização cada vez maior dos projetos para garantir um melhor planejamento e controle das obras. Para que seja possível essa otimização, torna-se necessário o estabelecimento de um fluxo de trabalho estável e padronizado na elaboração dos projetos de um empreendimento, onde as etapas a serem cumpridas atendam adequadamente às necessidades de todos os intervenientes e contribuam para a interação eficiente entre as diversas equipes. (AsBEA, 2010). Atualmente, além da elaboração do projeto de arquitetura em si, muitos escritórios também exercem o papel de gerenciador, ficando responsáveis pelo papel citado acima, de coordenar todos os escritórios envolvidos (projetos complementares). As empresas de Arquitetura podem enfrentar melhor a concorrência predatória com a implementação de vantagens competitivas, obtidas através da modernização, inovação, marketing e estrutura organizacional, além da implantação de sistemas da qualidade, que pode influenciar positivamente na qualidade dos projetos e do produto, na eficiência do processo construtivo e na satisfação dos clientes. (JAGLBAUER et al. apud ITO, 2007). 10 Através da observação do que compreende o ciclo de vida de um projeto de arquitetura e dos produtos gerados nesse processo, podemos perceber como a aplicação dos fundamentos de gerenciamento de projetos seria útil para o aumento do sucesso nos projetos de Arquitetura. As empresas de Arquitetura que se propuserem a desenvolver produtos e serviços baseados no gerenciamento de projetos terão melhores resultados de desempenho, através da estruturação de processos eficazes e maior assertividade nos prazos e custos propiciando maior competitividade e aumentando o crescimento e a participação no mercado. (TASSARA, 2009). É importante ressaltar que o gerenciamento da Arquitetura através de processos eficientes não acarreta na falta de flexibilidade conceitual dos arquitetos. A liberdade formal é assegurada, porque o gerenciamento está incidindo sobre a produção da Arquitetura e não sobre o produto Arquitetura. (TASSARA, 2009). Um projeto de arquitetura bem gerenciado representa para o arquiteto melhor controle sobre os processos técnicos desenvolvidos por sua equipe, podendo se concentrar mais na criação. Suas decisões podem ser mais embasadas com o histórico de seus projetos anteriores. Pode também proporcionar melhor fluxo de informações durante todo o desenvolvimento, garantindo assim a integração entre as fases, de modo que sua criação não se perca durante a evolução do projeto. Propicia ainda a certeza do atendimento ao escopo definido e maior segurança na definição e controle dos prazos e custos. Estas ações associadas podem representar melhor atendimento ao cliente e maior satisfação da equipe. (TEIXEIRA, 2008). 3. ESTADO DA ARTE Analisando o funcionamento e necessidades de um escritório de Arquitetura e as práticas recomendadas pelo PMI é possível perceber como os fundamentos de Gerenciamento de Projetos se enquadram também nesta atividade. Pela definição do PMI (2008, p.05), “um projeto é um empreendimento temporário para criar um produto, serviço ou resultado único”. Este empreendimento compreenderá um grupo de atividades coordenadas e controladas, com datas para início e término, para alcance de um objetivo conforme requisitos específicos, incluindo limitações de tempo, custos e recursos (ISO 10006 apud KAWANAMI; CARVALHO, 2008). Logo, um projeto de Arquitetura se enquadra nesta definição. O PMI (2008, p.06) conceitua ainda o “Gerenciamento de Projetos como uma aplicação de conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas nas atividades do projeto para atingir seus requisitos”, necessitando de aprimoramento em nove áreas do conhecimento: Gestão do Escopo; Gestão do Tempo; Gestão de Custo; Gestão da Qualidade; Gestão dos Recursos Humanos; Gestão das Comunicações; Gestão dos Riscos; Gestão das Aquisições e Gestão da Integração. Com base nas observações efetuadas anteriormente com relação ao escritório de Arquitetura, suas atividades principais se enquadram nestas nove áreas de conhecimento. O gerenciamento de todas estas áreas é imprescindível para o sucesso do projeto e da empresa. 3.1. Gerenciamento do Escopo Apesar da metodologia e do ciclo de vida do projeto serem passíveis de variação para cada empresa, o principal fator crítico de sucesso de qualquer projeto é o gerenciamento do escopo. O escopo precisa ser claramente definido e controlado ao longo do projeto para minimizar os riscos de as saídas do projeto não saírem conforme os requisitos e expectativas do cliente. (DINSMORE, 2009). Para o sucesso dos objetivos do contrato e da organização é necessário um plano que defina todo o esforço que será despendido, possibilitando que se estabeleça o tempo, custo e responsável por cada atividade necessária para completa realização do trabalho. (KERZNER, 2009). O PMI (2008, p.103) trata o gerenciamento do escopo como um grupo de processos necessários para garantir que o projeto inclua todo o trabalho necessário, e somente o necessário, para a conclusão do projeto com sucesso. A preocupação fundamental no gerenciamento do escopo é definir e controlar o que está e o que não está incluído no projeto. Neste contexto, o termo escopo pode se referir a: 12 a) Escopo do produto: características e funções do produto a ser entregue; b) Escopo do projeto: trabalho a ser realizado para gerar o produto com as características e funções especificadas. O resultado pode ser um produto, um serviço ou múltiplos componentes. Nos projetos de arquitetura é comum constar no contrato o escopo do projeto, porém este, por ser resumido, nem sempre é suficientemente claro, se tornando vago e deixando margem para futuras discussões. Muitas vezes, o escopo descrito no contrato se trata mais do escopo do produto do que do projeto, pois define mais as características finais do projeto arquitetônico a ser entregue (produto final) do que o trabalho necessário para realizá-lo. O passo inicial para a definição do escopo é a coleta dos requisitos das partes interessadas. O sucesso do projeto está diretamente influenciado pelo cuidado ao capturar e gerenciar os requisitos do produto e do projeto. Estes requisitos devem incluir as necessidades e expectativas do cliente e dos demais envolvidos, devidamente documentados. Devem ser coletados tanto os requisitos do produto (requisitos técnicos, de informação, de segurança, de performance, etc...) como do projeto (requisitos de planejamento, de entrega, etc..). (PMI, 2008). Muitas destas informações podem constar no contrato, porém, devem ser confirmadas, esclarecidas e aprofundadas em reuniões, workshops, visitas de campo, obtenção de memoriais descritivos, dentre outros, de modo a definir claramente o escopo do projeto e do produto. Com base nos requisitos coletados é feita a definição do escopo, descrição detalhada do objetivo do projeto. Segundo Dinsmore (2009, p.79), “se o projeto se estende além do escopo identificado, seu risco de fracasso aumenta. A partir do momento em que o escopo do projeto possui objetivos claros e concisos, a equipe pode identificar as restrições e premissas que não fazem parte do escopo do projeto”. Uma declaração de escopo adequadamente elaborada fará com que todos os envolvidos entendam claramente os detalhes do projeto, suas entregas e suas limitações. A equipe deve ser sensível às restrições e premissas do cliente para não ampliar o escopo além do exigido, impactando as entregas, prazos e custos. Com esta declaração, a equipe pode identificar, o mais cedo possível, os riscos ou questões que poderão causar atrasos. (DINSMORE, 2009). Na área da arquitetura e engenharia, muitas vezes é elaborado um documento chamado “critérios de projeto”, principalmente para empreendimentos de grande porte, com a definição conceitual do projeto a ser desenvolvido, no caso novamente o produto, para 13 aprovação do cliente. Neste são traduzidos os requisitos técnicos do cliente para o projeto e acrescentadas as premissas necessárias dos projetistas. O terceiro processo do planejamento do escopo é a criação da estrutura analítica do projeto (EAP). Segundo Dinsmore (2009, p.80), a EAP “permite decompor o trabalho planejado em partes menores, ou seja, em pacotes de trabalho, que serão executados para atender aos objetivos do projeto e criar as entregas”. A estrutura da EAP é feita de acordo com a maneira como o trabalho será realizado e reflete a forma como custos e dados serão sumarizados e reportados. A EAP servirá de base para definição de matriz de responsabilidades, cronograma, custos, riscos, estrutura organizacional, recursos, e para a coordenação de objetivos e controle, incluindo administração de contrato. (KERZNER, 2009). Nos escritórios de arquitetura não é comum a elaboração da EAP. Geralmente, o escritório se limita a formular uma relação de documentos a serem entregues em cada fase do projeto, sendo esta mesma relação utilizada, posteriormente, para a estimativa de tempo. Apesar de ser um documento importante e necessário para o controle do projeto, muitas vezes correspondendo as atividades principais dos pacotes de trabalho, outras atividades precisam ser consideradas e podem passar despercebidas sem a EAP. Além disso, uma vez que a EAP determina como será estruturado o trabalho, e, conseqüentemente, controlado, refletindo no cronograma, devido à complexa integração entre as disciplinas, a relação de documentos, por ser uma listagem detalhada, muitas vezes deve ser apenas referenciada, pois no cronograma provavelmente se trabalhará com grupos de documentos, forma como a atividade funciona. No momento em que o escopo é elaborado, seus elementos são discutidos e acordados entre os envolvidos, incluindo principalmente o cliente. Esta definição deve ser formalmente assinada, e a partir de então, quaisquer mudanças devem ser comunicadas ao gerente de projetos, para avaliação dos impactos e comunicação ao cliente. (DINSMORE, 2009). A entrega de algo não previsto como forma de conquistar o cliente também é muito freqüente no ramo da arquitetura. Caso isto ocorra, deve ser feito com cuidado e devido registro, pois, sob a óptica do gerenciamento de projetos, é mais trabalho, tempo e recursos gastos desnecessariamente, para um produto que passará a ser cobrado pelo cliente da mesma maneira que todos os outros produtos, mesmo que não previsto anteriormente. Os dois outros processos do gerenciamento do escopo, segundo o PMI (2008, p. 103), é a verificação do escopo, executado quando uma ou mais entregas são realizadas, 14 sendo a aprovação formal do trabalho completado pelas partes interessadas, e o controle do escopo, que é o monitoramento dos objetivos durante o projeto. O controle do escopo é um ponto crítico nos projetos de arquitetura e exige muita sensibilidade do gerente de projetos. É preciso, em primeiro lugar, distinguir mudanças naturais decorrentes do desenvolvimento de um projeto arquitetônico das mudanças de escopo propriamente ditas. As mudanças naturais são geradas por motivos técnicos, amadurecimento do projeto arquitetônico ou dos sistemas propostos. Na maior parte das vezes estas alterações não geram impactos no escopo do projeto, ou, se gerarem, deverão ser avaliadas, documentadas, comunicadas e aprovadas pelo cliente, pois são necessárias para a viabilidade do projeto. Além destas, existem as mudanças de escopo propriamente ditas, geralmente causadas por dois dos principais envolvidos: o cliente e o próprio arquiteto. O cliente do escritório de arquitetura nem sempre sabe claramente o que quer, sendo muitas vezes indeciso e solicitando diversas opções do projeto. O arquiteto, por seu perfil criativo, pode ter idéias que mudem completamente a proposta do projeto, mesmo em um ponto já avançado. A AsBEA define de forma apropriada os dois tipos de mudança que podem surgir nos projetos de arquitetura: 1) Ajustes / Modificações durante o Desenvolvimento do Projeto: Caracterizados por aqueles que não impliquem em alterações conceituais de projeto, alterações programáticas e de tecnologia empregada. 2) Alterações de Projeto: soluções alternativas; alterações programáticas e conceituais; alterações por omissão ou incorporação de novos dados - não fornecidos pelo Empreendedor / Contratante em tempo hábil; alterações de sistemas construtivos que implicarem modificações do projeto ou alterações por problemas de execução na obra. Uma vez concluída e aprovada cada etapa de trabalho, as alterações solicitadas, que não se caracterizarem por falhas ou omissões, serão consideradas alterações a serem remuneradas, mediante acordo prévio no momento da solicitação formal feita pelo Empreendedor / Contratante. (AsBEA) Por não ter um histórico de definição de escopo, nem de registro das mudanças, estas alterações são extremamente difíceis de controlar, causando atrasos no cronograma, retrabalho e custos adicionais, freqüentemente questionados pelo cliente, que não consegue perceber os impactos que as mesmas causam. 15 3.2. Gerenciamento do Tempo De acordo com o PMI (2008, p. 129), o gerenciamento do tempo inclui os processos necessários para controlar a linha de tempo do projeto. Nos projetos de arquitetura e engenharia, o tempo ainda é considerado questão crítica. O tratamento desta área, em geral, se dá pela definição de um cronograma, muitas vezes não atualizado nem monitorado, fazendo com que os projetos atrasem e percam qualidade. (TEIXEIRA, 2008). Um dos motivos para que isto ocorra é o estabelecimento de prazos irreais. O prazo para as entregas do projeto, na maioria das vezes, é imposto pelo cliente, em função de suas necessidades de negócio ou pessoais. Porém, estes nem sempre são prazos realistas ou mesmo viáveis para o desenvolvimento do projeto. Outra situação freqüente é o prazo vir da direção da empresa que, questionada pelo cliente em uma reunião inicial, estabelece um prazo com base em experiências anteriores, mas não considerando a disponibilidade atual dos recursos. Os cronogramas estabelecidos, portanto, terminam não contendo a participação dos envolvidos, principalmente da equipe técnica. Eles acabam apenas representando as datas impostas que os participantes são obrigados a cumprir, gerando muitas vezes insatisfação na equipe. Apesar das datas impostas, situação não muito diferente da de outros tipos de projeto, é importante seguir os processos sugeridos pelas boas práticas para estabelecer a melhor forma de cumprir as metas, ou mesmo ter argumentos para negociação. O primeiro passo para o gerenciamento do tempo é a definição das atividades, processo de identificar as ações específicas para gerar o produto. O nível mais baixo estabelecido na EAP foram os pacotes de trabalho. Estes podem então ser decompostos em componentes menores, chamados atividades, que representam todo o trabalho necessário para completar aquele pacote de trabalho. (PMI, 2008). Segundo Dinsmore (2009, p. 86), esta definição, que pode ser feita em um encontro inicial do gerente e líderes das áreas envolvidas, deve responder a questão: “que ações específicas precisam acontecer para entregar o produto definido na declaração do escopo?”. Cita também que, nesta etapa, deve-se manter em mente os marcos para o cliente e alta administração e os marcos internos para a equipe. Como já mencionado anteriormente, nos projetos de arquitetura e engenharia estas atividades muitas vezes são a lista de documentos, que serão os produtos entregues. A falta da EAP faz algumas atividades serem esquecidas e não contabilizadas. 16 Após a definição das atividades, o próximo passo é entender as dependências entre elas. (DINSMORE, 2009). O PMI (2008, p. 136) sugere que todas as atividades sejam seqüenciadas usando relacionamentos lógicos. Toda atividade e marco, com exceção do primeiro e do último, devem estar conectados a pelo menos um predecessor e um sucessor. O diagrama de rede do projeto irá ajudar a evidenciar os relacionamentos entre as atividades e as dependências de trabalho. Nesta etapa devem ser questionadas dependências internas e externas ao projeto. (DINSMORE, 2009). É importante ressaltar que as atividades descritas terão de ser monitoradas, o que significa que se deve tomar cuidado com o nível de detalhamento que se quer alcançar, em função do porte de projeto. Dinsmore (2009, p.86) destaca que “alta complexidade com uma grande variedade de elementos desconhecidos leva à necessidade de obtenção de maiores detalhes. Em projetos pequenos, com poucos meses de duração você pode capturar tarefas com curta duração, como meio período, se elas forem críticas, mas entrar em maiores detalhes do que isso não é recomendado”. Não se deve fazer o plano sobrecarregar a equipe com trabalhos desnecessários. No campo de projetos de arquitetura e engenharia, o seqüenciamento entre fases e o seqüenciamento das atividades de uma disciplina dentro de uma fase são feitos de forma simples e direta. Quando se trata de um projeto de grande complexidade, envolvendo diversas disciplinas e a compatibilização entre elas, este seqüenciamento se torna também mais complexo, pois as disciplinas são interdependentes e precisam andar em paralelo. Com as atividades definidas e seqüenciadas é preciso estabelecer a quantidade de recursos e habilidades necessárias para a realização das mesmas. Em seguida, é feita a estimativa de duração das atividades. É necessário primeiro entender o esforço necessário para a realização da tarefa para depois, analisando junto com a estimativa de recursos, definir a duração das mesmas. Com base nestas informações é possível criar o cronograma. Neste momento da montagem do cronograma serão definidas as ações necessárias para atingir as datas estabelecidas (aumento da equipe, horas extras, dentre outros) ou o plano de ação e negociação, em função da inviabilidade de alguma data. As técnicas de compressão de cronograma devem ser utilizadas com cautela, pois aumentam os riscos do projeto. Por exemplo, na utilização de horas extras, deve-se observar que a produtividade é menor do que na jornada de trabalho comum, a chance de erros é maior e o excesso de trabalho pode provocar estafa nos membros da equipe. (KERZNER, 2009). A primeira interação estabelecida e aprovada se tornará a linha base. A partir deste momento, deve ser feito o controle do cronograma, com as atualizações para acompanhar o progresso do projeto. 17 Teixeira (2008) cita que “o planejamento deve ser sempre dinâmico, sendo suas metas atualizadas e reavaliadas incorporando os resultados diferentes dos previstos e realimentando de informações os novos projetos”. Principalmente nos casos de projetos com interação de diversas disciplinas e subcontratados, é extremamente importante manter todos informados das datas previstas e fazer o constante monitoramento destas datas e de novas atualizações. 3.3. Gerenciamento do Custo Gerenciar os custos do projeto inclui os processos envolvidos em estimar os custos, definir um orçamento e controlar os custos para que o projeto possa ser completado dentro do orçamento aprovado. (PMI, 2008). É importante observar que o que é gerenciado é o custo do projeto para a organização, não o preço comercial que foi cobrado por ele, no caso de projetos voltados para clientes externos. Com este gerenciamento, em princípio, quanto mais o custo realizado for equivalente ao custo previsto, mais o lucro realizado também se aproximará do previsto. Embora exista o pressuposto que o custo realizado ser menor que o custo previsto é algo positivo, isto pode não ser verdadeiro. Na maioria dos casos, quando o custo realizado é menor do que o previsto significa que, ou o custo foi superestimado ou o projeto teve perda na qualidade prevista. Os processos indicados pelo PMI (2008, p. 165) para o gerenciamento dos custos são três: estimar os custos, determinar o orçamento e controlar os custos. Em projetos de pequeno porte os dois primeiros processos estão correlacionados e podem ser vistos como um único. Estimar os custos é o processo de desenvolver uma aproximação dos recursos financeiros necessários para completar as atividades do projeto. A estimativa de custos é uma previsão baseada na informação existente em um determinado momento, e deve ser refinada ao longo do projeto. (PMI, 2008). De acordo com Dinsmore (2009, p. 95), “a estimativa de custos é elaborada conforme aumenta o conhecimento sobre o projeto. Uma estimativa precisa de custos possui uma variação aceitável de 5 a 10%”. São estimados os custos para todos os recursos que serão cobrados no projeto, incluindo trabalho, equipamentos, serviços, infra-estrutura, custos de qualidade, entre outros. Deve ser considerado também nas estimativas reservas de contingência, para gastos não planejados, mas potenciais, que podem ser riscos não identificados. Determinar o orçamento é o processo de agregar as estimativas feitas para cada atividade ou pacotes de trabalho, distribuindo estes custos ao longo do ciclo de vida do 18 projeto, para estabelecer a linha de base do custo. Esta linha de base inclui todos os custos autorizados. As reservas de contingência e as reservas gerenciais (reservas para mudanças no escopo ou custos não planejados) podem ser incluídas no custo total do projeto, mas não na linha de base, pois não devem fazer parte dos cálculos de valor agregado. O desempenho de custo do projeto será mensurada em comparação com a linha de base de custo autorizada. (PMI, 2008). Controlar os custos é o processo de monitorar o status do projeto para atualizar o orçamento do mesmo e a linha de base, acompanhando o desempenho do projeto. (PMI, 2008). O controle do custo é igualmente importante para todas as empresas, independente do seu tamanho. É necessário entender que controlar os custos não é apenas monitorar e armazenar os dados, mas analisar os dados de modo a estabelecer ações corretivas antes que seja tarde. (KERZNER, 2009). O gerenciamento do Valor Agregado foi um sistema criado com o objetivo de facilitar a determinação do status do projeto e enfatizar prevenção sobre correção, ajudando a identificando e resolução de problemas previamente. O valor agregado é uma técnica que relaciona o planejamento de recursos com cronograma e requisitos de desempenho técnico. O gerenciamento do Valor Agregado é um processo sistemático que usa o valor agregado como a ferramenta primária para integrar custo, cronograma, gerenciamento do desempenho técnico e gerenciamento de riscos. (KERZNER, 2009). Nos escritórios de arquitetura, os preços de projeto são estimados na fase da proposta comercial, por meio de analogias ou estimativas paramétricas, baseadas em índices do mercado. A estimativa de custo do projeto para a empresa só é feito em escritórios de médio a grande porte, e seu controle, na sua maioria, ainda não é efetivo. Segundo Teixeira (2008), “enquanto em outras áreas a redução de custos faz parte das metas para aumento da lucratividade, nos escritórios de arquitetura esta preocupação acaba se limitando ao valor dos salários”. Esta falta de metodologia com relação ao gerenciamento de custos impede a retroalimentação de informação para a formação dos preços das futuras propostas comerciais. O controle efetivo do custo, que está vinculado ao controle das horas realmente gastas por profissional para a realização das atividades são informações que devem ser armazenadas no banco de dados da empresa para aumentar a confiabilidade das estimativas de custos e prazos dos projetos seguintes. 19 3.4. Gerenciamento da Qualidade O gerenciamento da qualidade inclui os processos e atividades da organização que determinam a política da qualidade, objetivos e responsabilidades para que o projeto satisfaça as necessidades para as quais ele foi criado. Estes processos incluem: o planejamento da qualidade, a garantia da qualidade e o controle da qualidade. (PMI, 2008). O gerenciamento da qualidade envolve tanto o gerenciamento do projeto como do produto do projeto, e é aplicável a todos os projetos, não importando a sua natureza. Os indicadores de qualidade são específicos para cada um, sendo que falhar em atender os requisitos do projeto e do produto pode ter conseqüências negativas para os envolvidos. Como exemplo de práticas comuns que comprometem a qualidade, o PMI cita: a) Atender aos requisitos do cliente com aumento de carga horária da equipe de projeto pode resultar em estresse, atritos, erros e retrabalho. b) Atender aos prazos do cronograma apressando ou negligenciando inspeções planejadas de qualidade pode resultar em erros não detectados. Os princípios básicos do gerenciamento da qualidade sugeridos pelo PMI estão alinhados com os princípios estabelecidos pela International Organization for Standardization (ISO), em suas famílias de normas como a ISO 9000 (gestão da qualidade) e ISO 14000 (gestão do meio-ambiente). Nos últimos 20 anos houve uma revolução relacionada à qualidade, com melhorias não só no que diz respeito à qualidade do produto como à liderança e gerenciamento da qualidade, resultantes de um aumento no nível de exigências do cliente. Cada dia se exige mais requisitos de desempenho, mais rápido desenvolvimento, maior tecnologia, constante atualização de materiais e processos, menor margem de lucro e menor número de defeitos. (KERZNER, 2009). Segundo o PMI (2008, p.190-191) a visão moderna do gerenciamento da qualidade complementa a do gerenciamento de projetos. Ambas reconhecem a importância de: a) Satisfação do cliente: entender, avaliar, definir e gerenciar as expectativas para atender os requisitos do cliente. Isto significa que o projeto tem que produzir o que ele se propôs e este produto tem que atender as necessidades e resolver o problema do cliente. b) Prevenção sobre Inspeção: a visão moderna da qualidade prega que o custo de prevenir os erros é menor do que o de corrigí-los, quando encontrados após inspeção ou entrega ao cliente. 20 c) Melhoria contínua: a utilização do ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act), de Edward Deming, para a melhoria da qualidade. Deming acreditava que a razão pela qual as empresas não produziam produtos de qualidade era sua preocupação maior com o presente do que com o futuro e postulava que 85% de todos os problemas de qualidade requeriam iniciativas da gerência (KERZNER, 2009), visão também relacionada com o item abaixo; d) Responsabilidade gerencial: o sucesso requer a participação de toda a equipe, mas é de responsabilidade de quem gerencia disponibilizar os recursos necessários para isso. O custo da qualidade se refere ao custo total dos esforços relacionados a qualidade durante o ciclo de vida do produto. Desta forma, devido à natureza temporária de um projeto, a organização pode escolher em investir na melhoria da qualidade do produto, especialmente na prevenção de defeitos, para reduzir o custo externo da qualidade. (PMI, 2008). Planejar a qualidade é o processo de identificar os requisitos e padrões de qualidade para o projeto e para o produto, e documentar como o projeto vai demonstrar o atendimento a estes requisitos. É durante este processo que deve ser feita a análise de custo-benefício da qualidade. (PMI, 2008). O plano da qualidade é criado a partir do momento em que a equipe de projeto decompõe os seus objetivos na estrutura analítica do projeto. Neste momento as atividades podem ser detalhadas até que ações específicas da qualidade sejam identificadas. Com estas ações documentadas e implementadas na seqüência em que atenderá os requisitos do cliente, se assegura ao mesmo que ele tem um mapa estabelecido para a entrega de um produto ou serviço com a qualidade necessária para a sua satisfação. (KERZNER, 2009). A garantia da qualidade é o processo de auditar os requisitos definidos e os resultados do controle da qualidade para garantir a entrega no padrão apropriado e a utilização das definições operacionais planejadas. (PMI, 2008). O controle da qualidade é a documentação dos resultados das atividades planejadas para avaliar o desempenho e recomendar as mudanças necessárias. É executado ao longo do projeto e ajuda a identificar problemas nos processos e procedimentos e a corrigir os mesmos, resultando em ações corretivas e preventivas. (PMI, 2008). Dinsmore (2009, p.124) explica que os processos de gerenciamento da qualidade, quando implementados apropriadamente, direcionam o projeto para que a organização consiga oportunidades de posicionamento no mercado, uma vez que uma organização com alta qualidade possui iniciativas de melhoria de processo que resultam em: 21 a) Melhorias em todos os processos da organização; b) Diminuição dos custos de correção; c) Eliminação de custos de substituição; d) Reconhecimento do impacto em implementar objetivos de melhoria da qualidade; e) Construção de um repositório de lições aprendidas para melhorias futuras. Teixeira (2008) expõe que os projetos de arquitetura são por natureza voltados para fora do processo de produção, ou seja, a qualidade é pensada usualmente de forma a atender apenas o cliente final. É a qualidade do produto que será construído com aquele projeto arquitetônico. Porém, para que este objetivo seja alcançado, é importante atender também as necessidades dos clientes internos ao processo, estabelecendo a melhor relação possível entre recursos empregados e resultados obtidos. Isto significa que, em alinhamento com o exposto anteriormente, o escritório de arquitetura deve estar atento a qualidade do produto – qualidade da edificação que será construída e qualidade do produto que está sendo entregue (apresentação, informações do projeto arquitetônico, compatibilização das disciplinas); e a qualidade dos processos – padrões de qualidade pré-definidos, padronização de desenhos e procedimentos, sistemática de verificação e aprovação interna antes da emissão de documentos, cumprimento de prazos, entre outros. Nos casos em que a empresa é também responsável pelo gerenciamento do projeto, é muito importante a padronização de processos e diretrizes de projeto para que todas as disciplinas trabalhem com a mesma linguagem. Isto evita retrabalho e facilita a compatibilização das informações das diversas disciplinas. Quanto maior o número de empresas envolvidas, maior a dificuldade deste controle, sendo, portanto, a comunicação essencial. Sem dúvida, o grande inimigo da qualidade é o tempo. Os prazos cada vez mais apertados do mercado dificultam a conclusão do projeto com a devida qualidade e compatibilização. Para alcançar determinadas datas, processos são negligenciados ou falhas humanas se tornam mais propensas, em função do cansaço, causando futuros retrabalhos. 3.5. Gerenciamento dos Recursos Humanos Recursos humanos é uma área que merece bastante atenção, pois um projeto é feito por pessoas, sem elas nada se realiza. Segundo Dinsmore (2009, p.140), este capítulo do PMBoK está direcionado as pessoas que executam as atividades necessárias para finalizar 22 o projeto – a equipe do projeto – que faz parte da organização. O PMI (2008, p. 215) cita que, quanto mais cedo a equipe se envolver e participar das atividades do projeto, mais ela vai agregar sua experiência durante o processo de planejamento e se comprometer com o projeto. Os processos que fazem parte desta área, assim como ocorre com outros processos, estão bastante interligados com os de outras áreas, principalmente com os de tempo, ao se atribuir os recursos para as atividades, e os de aquisições, quando se trata de contratar pessoas de fora da organização. O primeiro processo é o de desenvolver o plano de recursos humanos. Neste plano devem estar documentadas todas as informações sobre o planejamento, monitoramento e controle dos recursos humanos. O planejamento de recursos humanos identifica as funções e responsabilidades que serão necessárias para completar o projeto, descreve como estas funções se relacionam e define quando e como as pessoas serão alocadas e liberadas do projeto. (PMI, 2008). Como já dito anteriormente, um escritório de arquitetura tende a ter uma estrutura matricial forte, com os arquitetos deslocados de acordo com as necessidades dos projetos. É importante a definição das funções e competências necessárias para determinado projeto para que se possa fazer esta distribuição, além de ter claramente definidas as fronteiras entre as funções estabelecidas, suas responsabilidades e autoridades. Em projetos pequenos, uma mesma pessoa pode exercer atividades e responsabilidades em mais de uma função. Quando se passa aos projetos maiores, que comportam a existência de vários recursos, cada um com função específica, se as responsabilidades de cada função não estiverem claramente definidas, sem superposição, a equipe tende a ficar confusa. O mapeamento dos perfis e competências das pessoas que trabalham na organização é fundamental para o estabelecimento das equipes dos diferentes projetos. Esta é uma habilidade necessária ao gerente de projeto. Nos escritórios de arquitetura, não só não é usual ter um plano de recursos humanos documentado com estas informações para cada projeto, como, em função de cronogramas mal dimensionados, a equipe de projeto aumenta com freqüência, e consideravelmente, além do previsto, principalmente próximo as datas de entrega. O processo seguinte é o de contratar ou mobilizar a equipe. É o processo de confirmar a disponibilidade dos recursos da empresa e contratar as pessoas necessárias para completar a equipe. (PMI, 2008). 23 O processo de desenvolver a equipe do projeto diz respeito a desenvolver as competências individuais, a interação do time e o ambiente, para obter melhor desempenho. (DINSMORE, 2009). O PMI (2008, p.229) diz que o gerente de projetos precisa ter habilidade para identificar, construir, manter, motivar, liderar e inspirar a equipe do projeto para alcançar uma alta performance da equipe e os objetivos do projeto. O trabalho em equipe é um fator crítico para o sucesso do projeto e é responsabilidade do gerente de projeto. É necessário motivar continuamente a equipe, proporcionando desafios e oportunidades, avaliações periódicas de desempenho, suporte, reconhecimento e recompensa para bom desempenho. Desenvolver a equipe melhora as habilidades das pessoas, as competências técnicas, o ambiente e o desempenho. Requer uma comunicação clara, precisa, efetiva e eficiente entre os membros da equipe durante o ciclo de vida do projeto. Segundo o PMI (2008, p.230), desenvolver a equipe tem objetivos como: a) Aumentar o conhecimento e as habilidades dos membros da equipe para aumentar a produtividade, reduzindo custo, tempo e aumentando a qualidade; b) Aumentar a sensação de confiança e alinhamento entre os membros da equipe para levantar a moral, diminuir os conflitos e aumentar o trabalho em equipe; c) Criar uma cultura dinâmica e coesiva para aumentar a produtividade individual e da equipe, o espírito de equipe, a cooperação e favorecer o aprendizado e compartilhamento de conhecimento e experiência. Nos projetos de arquitetura é importante que cada membro da equipe saiba de forma clara e objetiva o que precisa ser feito para que não haja retrabalho ou desperdício de tempo. Quanto maior a equipe, mais clara precisa ser esta definição. Com uma equipe grande e prazos curtos, a falta de definição e atribuição das atividades faz as pessoas se sentirem perdidas e acabarem por não executar as tarefas previstas. A figura do líder, portanto, é essencial para o andamento do projeto, pois ele é responsável por direcionar e motivar a equipe, mesmo em face de desafios. O processo de gerenciar a equipe envolve monitoramento do desempenho, feedbacks, resolução de questões e coordenação de mudanças. É um processo de monitoramento e controle e envolve também o gerenciamento de conflitos. (PMI, 2008). Mais uma vez é necessário destacar a habilidade do gerente de projetos na identificação dos perfis e competências das pessoas. O gerente precisa saber lidar com os diferentes perfis tanto para entender como cada pessoa pode ficar mais satisfeita e 24 apresentar melhor desempenho como para conseguir gerenciar os conflitos que ocorrerão na equipe. 3.6. Gerenciamento da Comunicação Segundo Dinsmore (2009, p.169), a distribuição de informação do projeto é fundamental para garantir que toda a informação seja dada no devido tempo ao longo de todas as fases do projeto. Em acordo, Kerzner (2009, p.233) define que “uma comunicação efetiva garante que a informação certa será entregue a pessoa certa, na hora certa e de maneira efetiva. Uma comunicação apropriada é vital para o sucesso do projeto.” Teixeira (2008) diz que “a comunicação em um projeto é uma das atividades mais presentes no dia a dia de um gerente de projetos. Todo o planejamento pode se tornar inútil se a disseminação da informação não for eficiente. Pode-se considerar assim que as informações relativas ao projeto são tão importantes quanto sua organização em termos de coleta, arquivamento e distribuição”. A coordenação e a comunicação serão decisivas para que o projeto atenda as expectativas dos clientes, o orçamento e o prazo de entrega previstos. Dinsmore (2009, p. 169) explica que o plano de gerenciamento de comunicação baseia-se em cinco questões fundamentais a serem respondidas nas sessões de planejamento do projeto: a) Quem irá tomar decisões sobre as questões? b) Quem irá desenvolver uma lista de tarefas de ação e quem será responsável pela execução das tarefas? c) Quando estas tarefas serão concluídas e relatadas? d) Como serão distribuídas outras informações pertinentes? e) Para quem será entregue a informação? Um projeto de arquitetura ou engenharia tem característica singular em relação a outros, pois, além da comunicação durante o projeto, sua entrega final é basicamente comunicação. As plantas são documentos responsáveis por comunicar como a obra deverá ser executada. Definir como as informações serão registradas e comunicadas durante o desenvolvimento do projeto torna-se imprescindível no gerenciamento do mesmo. (TEIXEIRA, 2008). O gerenciamento das comunicações inclui os processos necessários para garantir a precisa e apropriada geração, coleta, distribuição, armazenamento, resgate e disposição da informação do projeto. (PMI, 2008). 25 O primeiro processo é a identificação das partes interessadas. Se trata de identificar todas as pessoas ou organizações impactadas pelo projeto e documentar as informações relevantes sobre seus interesses, envolvimento e impacto no sucesso do projeto. As partes interessadas podem ser clientes, patrocinadores, a própria organização, e o público que está ativamente envolvido no projeto, cujos interesses podem se positivamente ou negativamente afetado pela execução ou completude do projeto. Uma estratégia pode ser desenvolvida para cada envolvido e determinar o nível e momento do envolvimento destas pessoas para maximizar influências positivas e mitigar potenciais impactos negativos. (PMI, 2008). As principais partes interessadas na área da construção civil são: cliente, gerenciadora, construtora, projetistas, financiador, fornecedores, órgãos públicos, agências reguladoras, consultores especializados, concessionárias, sindicatos, usuário, dentre outros. (LOPES, 2009). O planejamento das comunicações é o processo de determinar que informações são necessárias para cada um dos envolvidos e qual a estratégia de comunicação a ser adotada. Nesta etapa é identificado quem precisa de que informação, quando esta informação é necessária, como ela será enviada e por quem. Um planejamento mal elaborado pode causar problemas como atraso na entrega de mensagens, comunicação de informações delicadas para a audiência errada, falta de comunicação entre algum dos envolvidos. A comunicação efetiva significa que a informação é oferecida no formato certo, na hora certa e com o impacto certo. (PMI, 2008). De acordo com Dinsmore (2009, p.176), “a equipe necessita de uma orientação clara da gerência para garantir que as entregas sejam cumpridas. Isto irá economizar tempo, reduzir os custos e assegurar que os marcos do cronograma sejam cumpridos.” As características de multidisciplinaridade dos projetos de arquitetura, juntamente com a agilidade do desenvolvimento das soluções, conferem à comunicação um item de importante controle nestes projetos. O registro das comunicações é indispensável para o bom andamento do projeto, evitando discussões em cima de decisões anteriores e retrabalho, além de prover maior segurança para a equipe de projeto. Itens como atas de reunião, registros de contatos telefônicos, solicitações de modificação de projeto e termo de recebimento de projeto devem ter atenção especial, dada a importância das definições que podem conter. (TEIXEIRA, 2008). O mapeamento dos envolvidos (clientes e empresas complementares) e das suas necessidades de informação merece especial atenção. É necessário mapear as informações que cada disciplina necessita, e o seu devido momento. Não só os projetistas precisam da 26 informação para desenvolver o projeto, como podem se valer da falta delas para justificar atrasos. O processo de distribuir a informação é fazer a informação relevante ser disponibilizada para os envolvidos conforme o planejado. Ocorre durante todo o ciclo do projeto e em todos os processos de gerenciamento. (PMI, 2008). Dinsmore (2009, p.170) ressalta que “É importante lembrar que a comunicação só ocorre se a mensagem tiver sido bem compreendida – não importa o quanto você disse ou escreveu sobre o assunto.” Teixeira (2008) explica que a velocidade da comunicação nos tempos atuais é um fenômeno já incorporado ao nosso dia a dia, porém, esta velocidade aliada ao volume de informações distribuídas aumenta a probabilidade de falha. A incorporação das informações no projeto ocorre cada vez mais de maneira imediata, trabalha-se cada vez mais no limite, não havendo folga para incertezas de informações. Deste modo, os sites de gerenciamento de projeto têm sido um meio utilizado para a distribuição das informações com maior confiabilidade. No entanto, esta velocidade cria também a facilidade da solicitação de modificação. Os projetos não amadurecem antes de serem desenvolvidos e o número de versões de projetos aumenta. A preocupação com a distribuição destas informações se aplica tanto entre as empresas projetistas como dentro da própria equipe, de modo a garantir o andamento e evitar retrabalho. Teixeira (2008) salienta ainda que “em casos de incertezas, estas também devem estar claras nos documentos. Notas como “Este projeto foi desenvolvido sem o levantamento topográfico, as dimensões nele contidas dependem de confirmação”, podem evitar atritos futuros”. A documentação das incertezas que restaram ao final de uma fase garante que as soluções de projeto para as mesmas sejam desenvolvidas. A documentação é importante para a disseminação e garantia da integridade da informação. Definições realizadas por telefone ou pessoalmente devem ser formalizadas através de memorandos ou e-mail. As aprovações do cliente e suas requisições devem sempre ser documentadas. (TEIXEIRA, 2008). A comunicação é um desafio constante para o gerente do projeto. Esta área tem uma relação forte com a de Recursos Humanos. A habilidade de identificação dos perfis dos envolvidos vai ajudar o gerente na escolha da técnica de comunicação mais adequada a cada um deles, inclusive para o gerenciamento dos conflitos. O gerente pode encontrar barreiras de comunicação relacionadas a percepção, a personalidade e interesse, e a atitudes, emoções e preconceitos. A barreira da percepção se refere a possibilidade de cada indivíduo perceber de diferente forma a mesma mensagem, 27 de acordo com seu nível de educação ou área de experiência. Esta barreira pode ser evitada utilizando palavras de sentido preciso. A barreira da personalidade e interesse se refere a influência dos gostos das pessoas, que tendem a prestar mais atenção nos assuntos tópicos que mais lhe agradam. A barreira das atitudes, emoções e preconceitos se refere à influência destes no senso de interpretação, podendo provocar distorções de entendimento. (KERZNER, 2009). O gerenciamento das expectativas das partes interessadas é o processo de se comunicar e trabalhar com os envolvidos para atender as suas necessidades e resolver os problemas à medida que estes surgirem. (PMI, 2008). Este processo envolve atividades de comunicação que influenciem as expectativas dos envolvidos, direcionadas às suas preocupações e a solução de problemas. O PMI cita como exemplo: a) Gerenciar ativamente as expectativas dos envolvidos, negociar e influenciar seus desejos para alcançar e manter os objetivos do projeto; b) Antecipar futuros problemas identificando preocupações existentes e mapeando seus riscos; c) Solucionar problemas identificados. Antecipar as reações das pessoas possibilita a criação de ações preventivas para ganhar seu suporte ou minimizar os impactos negativos. Reportar desempenho é o processo de coletar e distribuir as informações sobre o mesmo, incluindo relatórios de status, de progresso e previsões. Esse processo envolve a coleta periódica de dados, com a análise das linhas de base comparadas aos dados reais. Os relatórios de desempenho precisam disponibilizar informação adequada de acordo com o nível de cada audiência. (PMI, 2008). 3.7. Gerenciamento dos Riscos O gerenciamento dos riscos inclui os processos de conduzir o plano de gerenciamento de riscos, identificação, análise, plano de respostas e monitoramento e controle. O objetivo do gerenciamento dos riscos é aumentar a probabilidade e impacto dos eventos positivos e diminuir a probabilidade e impacto dos eventos negativos em um projeto. (PMI, 2008). O PMI (2008, p. 275) declara que os riscos de um projeto sempre estão no futuro. “O risco é um evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá efeito sobre pelo menos um dos objetivos do projeto. Objetivos podem incluir escopo, tempo, custo e qualidade.” 28 Os riscos têm sua origem na incerteza presente em todos os projetos. Os riscos conhecidos são aqueles que identificados e analisados, tornando possível planejar as respostas. Riscos desconhecidos não podem ser gerenciados proativamente, o que sugere que a criação de um plano de contingência pela equipe de projeto. Um risco de projeto que ocorre passa a ser um problema, um fato. (PMI, 2008). Segundo Teixeira (2008) “o gerenciamento de riscos é ainda pouco aplicado no gerenciamento de projetos de arquitetura”. Isto não significa que os riscos não são assumidos, mas que muitas vezes não são previstos, controlados, e nem possuem respostas planejadas. O controle se dá em função da experiência e bom senso de cada profissional. Os riscos surgem junto com o início do projeto. Desenvolver um projeto sem um foco proativo em gerenciá-los aumenta o impacto que um destes, ao se realizar, pode ter sobre o mesmo, fato que pode potencialmente levá-lo ao fracasso. (PMI, 2008). Dinsmore (2009, p.190) explica que “quando o gerenciamento de riscos é ineficaz, o projeto só terá sucesso se a equipe tiver sorte. A gestão de risco eficaz aumenta as oportunidades de êxito, mesmo face à má sorte.”. A falta de metodologia e de consciência de gerenciamento de riscos acaba provocando a falta de embasamento na tomada de decisões. Desta forma, acabam gerando modificações e retrabalho. (TEIXEIRA, 2008). Nos projetos de arquitetura, a falta de determinadas informações proporciona grandes riscos ao desenvolvimento do projeto, devendo estas ser mapeadas e conhecidas por todos os envolvidos. A decisão de prosseguir com o desenvolvimento sem uma informação importante deve ser feita de forma embasada, devido ao forte impacto que esta decisão pode ter na qualidade geral do projeto. Exemplos seriam: iniciar um projeto sem levantamento topográfico do terreno, iniciar o projeto executivo sem a aprovação do projeto legal, dentre outros. (TEIXEIRA, 2008). Dinsmore (2009, p.191) defende que “o gerenciamento de riscos bem sucedido exige apenas uma forma de agir e pensar estruturada, seguindo um processo do bom senso face à incerteza.” As etapas deste processo seguem um linha natural de pensamento sobre o futuro incerto e pretendem responder as seguintes perguntas, refletidas nos processos sugeridos pelo PMI: a) O que se quer alcançar? (Planejamento) b) Que incertezas poderiam afetar o projeto, para melhor ou para pior? (Identificação) 29 c) Quais são as incertezas mais importantes para se dar encaminhamento? (Análise) d) O que pode e o que será feito para tratar tais incertezas? (Planejamento da resposta) e) Como as coisas mudam em conseqüência das respostas adotadas? (Monitoramento e controle) O primeiro processo é o planejamento do gerenciamento dos riscos. Dado que os riscos são definidos em relação aos objetivos do projeto, é necessário definir os objetivos que estão em risco. (DINSMORE, 2009). Este processo garante que o grau, tipo e visibilidade do gerenciamento de risco estão em equilíbrio tanto com os riscos identificados como com a importância do projeto para a organização. (PMI, 2008). O segundo processo é o de identificação dos riscos: determinar quais os riscos que podem afetar o projeto e documentar suas características. O PMI (2008) alerta que a identificação dos riscos é um processo interativo, novos riscos podem aparecer ou outros desaparecer à medida que o projeto é desenvolvido. O terceiro processo é a análise qualitativa de risco. Este é o processo de priorizar os riscos, para futura análise ou ação, através da combinação de sua probabilidade de ocorrência com seu impacto. (PMI, 2008). Não só não é possível tratar todos os riscos com o mesmo grau de atenção como, devido as limitações de tempo e recursos, nem todos eles merecem ter o mesmo nível de tratamento. Conseqüentemente, é necessário priorizar os riscos que merecem maior cuidado a fim de identificar as piores ameaças e as melhores oportunidades, propósito deste processo. (DINSMORE, 2009). O PMI alerta que se deve tomar cuidado com a introdução pelos envolvidos de idéias preconcebidas ou preconceitos durante esta análise. O quarto processo é a análise quantitativa de riscos, que se trata de analisar numericamente o efeito dos riscos identificados nos objetivos do projeto. Esta análise é feita com os riscos priorizados na análise qualitativa como potencialmente e substancialmente importantes, para avaliação do efeito destes eventos. Em alguns casos, este processo pode não ser necessário, dependendo da disponibilidade de tempo e orçamento e da necessidade desta avaliação, de acordo com o projeto. (PMI, 2008). O quinto processo é o de planejar as respostas aos riscos, desenvolver opções e ações para favorecer as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto. Neste processo, além de estabelecidas as respostas aos riscos, também é estabelecido um responsável para cada uma delas. 30 As respostas precisam ser apropriadas a significância do risco, possuir custo efetivo para resolver o problema, ser realistas ao contexto do projeto, ser de comum acordo com os envolvidos, ter seus responsáveis definidos e ser precisas no tempo. (PMI, 2008). Antes do estabelecimento da resposta, deve-se selecionar uma estratégia apropriada para o risco em particular e definir a ação para implementá-la. As estratégias podem ser: prevenir/explorar; transferir/compartilhar; mitigar/melhorar ou aceitar. (DINSMORE, 2009). Definida a estratégia, a equipe de projeto deve desenvolver as ações específicas para colocá-la em prática. Neste momento, a maioria dos processos de gerenciamento de risco falha. É necessário partir das alternativas à ação para que o cenário mude. Muitas equipes de projeto desenvolvem todas as etapas anteriores, mas não executam as ações, o que não altera a exposição ao risco. (DINSMORE, 2009). O sexto e último processo é o de monitoramento e controle. Este tem a finalidade de assegurar que as respostas planejadas estão alcançando as expectativas, desenvolver novas respostas, se necessário, identificar novos riscos, e avaliar a eficácia dos processos desta área de conhecimento. (DINSMORE, 2009). No gerenciamento dos riscos, deve-se levar em consideração as interdependências entre eles. As soluções que resolvem riscos priorizados podem ter impacto em outros objetivos do projeto. Por exemplo, quando os riscos relacionados ao cronograma são priorizados, soluções encontradas, como atividades em paralelo, aumento de carga horária, dentre outras, oferecem riscos ao custo e qualidade do trabalho. (KERZNER, 2009). O gerenciamento de riscos é um processo interativo cíclico, por isso não deve ser feito apenas uma vez no projeto. Diariamente, a exposição ao risco muda, em conseqüência de eventos externos e de ações (e inações) da equipe e de outros envolvidos. Os benefícios de adotar uma abordagem estruturada ao gerenciamento de risco são: maior chance de sucesso, poucas surpresas, menos desperdício, motivação da equipe, profissionalismo e reputação realçada, eficiência e eficácia aumentadas, dentre outros. A organização que souber assumir o risco de maneira inteligente colherá os benefícios das ameaças minimizadas e das oportunidades capturadas. (DINSMORE, 2009). 3.8. Gerenciamento das Aquisições As organizações fornecem serviços e produtos com base em requisições estabelecidas em convites para licitações, proposta de preço ou solicitação direta de um cliente. Um dos pontos mais importantes ao preparar uma proposta e estimar o custo e lucro de um projeto é avaliar o tipo de contrato esperado. O custo deverá considerar como o contrato irá cobrir as altas e baixas áreas de risco identificadas. As vantagens e 31 desvantagens de todos os arranjos contratuais básicos precisam ser identificadas para selecionar o melhor arranjo para um determinado projeto. (KERZNER, 2009). O gerenciamento das aquisições inclui os processos necessários para comprar ou adquirir produtos e serviços necessários ao projeto, externos à equipe. É um processo que envolve duas partes distintas - cliente e fornecedor - com objetivos diferentes, e que interagem em um segmento de mercado. (KERZNER, 2009). Nesta filosofia, a organização pode ser tanto o cliente como o fornecedor dos produtos e/ou serviços. (PMI, 2008). O gerenciamento das aquisições abrange o gerenciamento do contrato e os processos de controle de mudanças necessários para desenvolver e administrar os contratos e ordens de compra/serviços emitidos pelos membros autorizados da equipe do projeto. Inclui ainda administrar qualquer contrato emitido por uma organização externa (cliente) que está adquirindo o projeto da organização em questão (o fornecedor) e administrar as respectivas obrigações contratuais localizadas na equipe do projeto. (PMI, 2008). Os processos do gerenciamento das aquisições envolvem contratos, documentos legais entre clientes e fornecedores. Um contrato representa um acordo mútuo entre as partes, que obriga o fornecedor a prover os produtos e/ou serviços especificados e obriga o cliente a promover o pagamento dos valores considerados. Este acordo pode ser simples ou complexo, e desta forma refletir a simplicidade ou complexidade dos entregáveis e esforços requeridos. O contrato deve incluir termos e condições, com a possibilidade de incorporar outros itens especificados pelo cliente para estabelecer o que o fornecedor deve fazer ou entregar. A equipe de gerenciamento do projeto é responsável por verificar se todos os contratos estão de acordo com as necessidades do mesmo, enquanto aderem às normas contratuais corporativas. (PMI, 2008). Efetuando-se um gerenciamento ativo dos itens contratuais e tomando-se os devidos cuidados na elaboração dos termos e condições dos documentos é possível evitar, mitigar ou mesmo transferir para o fornecedor alguns riscos identificáveis do projeto. Um projeto de maior complexidade pode envolver o gerenciamento de múltiplos contratos ou subcontratos ao mesmo tempo ou em seqüência. (PMI, 2008). A preocupação com o gerenciamento das aquisições na área da arquitetura e engenharia costumava ser uma preocupação das construtoras e incorporadoras, quando apenas estas contratavam os projetistas, sendo o escritório de arquitetura um dos seus fornecedores. Atualmente, com o escritório de arquitetura exercendo também a função de gerenciador dos projetistas, este muitas vezes se encontra nas duas posições, na de 32 fornecedor e na de cliente, ao subcontratar as demais empresas que complementarão o seu trabalho. Porém, por esta ser uma função relativamente recente no Brasil, os escritórios ainda não deram a devida atenção aos processos necessários, tendo na maioria das vezes “sorte” por trabalharem com outras empresas projetistas que, além de possuírem o mesmo nível de experiência, já foram parceiras em projetos anteriores. O primeiro processo é o de planejar as aquisições. Este é o processo de documentar as decisões de compras/contratações do projeto, especificar a forma de aproximação a ser utilizada e identificar os potenciais fornecedores. Ou seja, envolve determinar se irá ser adquirido algum serviço/produto externamente, se sim, o quê, quanto custará e quando sua obtenção será necessária. Os processos de gerenciamento das aquisições, desde o planejamento até o encerramento, devem ser executados para cada item adquirido fora da organização. (PMI, 2008). Durante o processo de planejamento, deve-se levar em consideração quem –cliente ou fornecedor - será responsável por obter ou receber qualquer permissão/ aprovação relevante, licenças profissionais requisitadas por legislações, normas reguladoras ou política organizacional. (PMI, 2008). Nesta etapa são definidos quais tipos de contrato serão executados, é feita a declaração de trabalho para cada contratação e são montadas as requisições de propostas. A falta de uma declaração de trabalho e de uma requisição de proposta que seja igualmente distribuída entre os possíveis fornecedores faz com que a equalização das propostas recebidas seja mais trabalhosa. O segundo processo é o de conduzir as aquisições. É o processo de obter as respostas dos possíveis fornecedores, selecionar o fornecedor e firmar o contrato. Durante este processo, a equipe receberá as propostas e usará critérios estabelecidos na etapa anterior para selecionar um ou mais fornecedores qualificados para o trabalho. (PMI, 2008). Vale ressaltar que, ao se estabelecer um contrato, o escopo estar claramente definido é fundamental tanto para o fornecedor como para o cliente. O contrato deve representar fielmente o trabalho a ser realizado e o acordo estabelecido entre as partes. O terceiro processo é o de administrar as aquisições, que é gerenciar o relacionamento com os envolvidos nas aquisições, monitorar o desempenho do contrato, fazer modificações ou correções ao contrato, caso necessário, e gerenciar possíveis rescisões, de acordo com as cláusulas previamente estabelecidas. (PMI, 2008). 33 Ao mesmo tempo em que é essencial que as organizações obtenham bons contratos com um mínimo de riscos a serem provisionados, é igualmente importante que esses contratos sejam efetivamente administrados. (KERZNER, 2009). Tanto o contratante como o contratado vão administrá-los com propósitos similares: cada um vai procurar garantir que ambas as partes estão cumprindo suas obrigações contratuais e que seus direitos legais estão protegidos. A natureza legal das relações contratuais torna imperativo que a equipe de gerenciamento do projeto esteja ciente das possíveis implicações das ações tomadas durante a administração de qualquer aquisição. Em projetos de grande porte, um dos pontos chave da administração das aquisições é o gerenciamento das interfaces entre os muitos fornecedores. De acordo com o porte da empresa, a administração dos contratos pode até ser tratada como uma função separada na sua estrutura organizacional. (PMI, 2008). A administração das aquisições possui um componente financeiro que envolve monitorar os pagamentos aos fornecedores para garantir que os termos de pagamento definidos estão sendo atendidos e que a compensação do fornecedor está relacionada ao seu progresso, conforme estipulado no contrato. Uma das principais preocupações ao se fazer pagamentos aos fornecedores é a de estabelecer uma relação forte entre pagamentos efetuados e trabalho realizado. (PMI, 2008). Esta relação é importante durante as negociações com os fornecedores, especialmente próximo aos marcos de entrega. É fundamental tanto efetuar pagamentos somente quando relacionados à entrega de produtos ou realização de serviços, como efetuá-los prontamente, conforme estipulado no contrato, para que o fornecedor se sinta satisfeito e motivado para a próxima entrega. Ao longo deste processo, é avaliado e documentado o desempenho dos fornecedores, com base nos requisitos do contrato, e estabelecidas ações corretivas, caso sejam necessárias. Esta avaliação se torna parte do banco de dados da organização e pode ser utilizada para a seleção de fornecedores em futuros projetos similares. (PMI, 2008). O encerramento das aquisições é o processo de finalizar cada uma das mesmas, dando suporte ao processo de encerramento do projeto ou fase, uma vez que envolve a verificação de que todo o trabalho e entregas foram aceitos. Envolve mais uma vez atividades administrativas como finalizar reclamações abertas, atualizar os dados para refletir os resultados finais e arquivar estas informações para uso futuro. O encerramento poderá ser feito para a fase ou para o projeto, de acordo com os termos e condições estabelecidos no contrato. (PMI, 2008). Um dos documentos desta etapa é o termo de aceite dos entregáveis, emitido pelo contratante, aceitando ou não, formalmente, os produtos entregues, em função dos 34 requisitos de aceitação dos produtos definidos no contrato. A importância deste documento para o fornecedor se dá por ser este a formalização da conclusão de seu trabalho. Apesar disto, a existência do termo de aceite ainda não faz parte da cultura dos escritórios de arquitetura. Um ponto particular da área de arquitetura e engenharia, relacionado às aquisições, é que o mercado imobiliário do Rio de janeiro e de São Paulo têm utilizado a prática de contratar empresas diferentes para executar fases diferentes de um mesmo projeto. Por exemplo, um escritório é contratado para fazer o Anteprojeto e Projeto básico, e outro para fazer o Projeto Executivo, na tentativa de tratar projetos como mercadorias. Segundo Teixeira (2008), esta mutilação do projeto provoca a falta de comprometimento entre as fases, com os problemas de projeto por vezes justificados como causados pela outra fase, o que gera uma transferência de responsabilidade que não elimina o problema. A contratação de única empresa para o desenvolvimento completo do projeto, pensando na edificação como um todo, apresenta os benefícios de maior integração e integridade arquitetônica, além de oferecer menores riscos. 3.9. Gerenciamento da Integração Os processos que compõem o gerenciamento de projetos são usualmente apresentados como processos discretos, com interfaces definidas, enquanto que, na prática, eles se sobrepõem e interagem de diversas maneiras. (PMI, 2008). O gerenciamento de projetos é na verdade uma série integrada de processos e atividades, que não são eventos singulares que ocorrem uma única vez. São processos integrados que se sobrepõem e ocorrem em vários níveis durante o projeto. O gerente de projetos terá conseguido sincronizar os esforços do projeto quando integrar adequadamente os processos de gerenciamento. Desta forma, é a prática que demonstrará sua habilidade em integrar esses conhecimentos para efetivamente entregar os resultados desejados. (DINSMORE, 2009). O gerenciamento das integrações inclui os processos e atividades necessários para identificar, definir, combinar, unificar e coordenar os vários processos e atividades de gerenciamento de projetos dentro dos grupos de processos, fazer escolhas com relação à alocação de recursos, revisar a priorização dos objetivos, selecionar entre alternativas conflitantes, gerenciar as interdependências entre as áreas de conhecimento e gerenciar os documentos de projeto de modo a garantir consistência com o plano de projeto e os entregáveis. No contexto de gerenciamento de projetos, integração inclui características de unificação, consolidação, articulação e ações integradoras cruciais para completar o projeto, gerenciar com sucesso as expectativas dos envolvidos e atender os requisitos estabelecidos. (PMI, 2008). 35 Não há uma maneira única de gerenciar um projeto. Os conhecimentos, habilidades e processos podem ser aplicados em diferente ordem e rigorosidade, para se atingir o desempenho desejado em determinado projeto. Entretanto, a percepção de que um processo não é necessário não significa que ele não foi levado em consideração. O gerente de projeto e sua equipe devem considerar inicialmente todos os processos para determinar quais e como serão utilizados naquele projeto. (PMI, 2008). Deve-se também levar em consideração, com relação a gerenciamento de projetos, as diferenças entre o tamanho das organizações. Em organizações menores, o gerente de projeto precisa, ao mesmo tempo, exercer diferentes funções, gerenciar múltiplos projetos de diferentes prioridades, trabalhar com recursos limitados, entender bem de relações interpessoais, ter grande controle financeiro com técnicas menos sofisticadas, trabalhar com maior interferências gerenciais superiores, e saber que o fracasso do projeto para a organização, devido ao seu menor porte, apresenta um grande risco. (KERZNER, 2009). O escritório de arquitetura, por exemplo, se encaixa neste cenário. O primeiro processo do gerenciamento da integração é o de desenvolver o termo de abertura do projeto, documento que formalmente autoriza o início de um projeto ou fase e documenta os requisitos iniciais para satisfazer as necessidades e expectativas dos envolvidos. Este documento tem como função estabelecer a parceria entre a organização e o cliente, iniciar o projeto e nomear o gerente de projeto responsável. (PMI, 2008). Desenvolver o plano de gerenciamento do projeto é o processo de documentar as ações necessárias para definir, preparar, integrar e coordenar os planos subsidiários. O plano de gerenciamento do projeto define como o projeto será executado, monitorado, controlado e encerrado. O seu conteúdo irá variar de acordo com as áreas a serem aplicadas e com a complexidade do projeto. Ele será progressivamente atualizado, controlado e aprovado através do processo de controle de mudanças. (PMI, 2008). Dirigir e gerenciar a execução do projeto é o processo de executar o trabalho definido no plano de gerenciamento para atingir os objetivos do projeto. Isto inclui, por exemplo: executar as atividades; criar os entregáveis; mobilizar, gerenciar e treinar a equipe do projeto; gerar os dados do projeto, como custo, cronograma, progresso técnico, qualidade e status; gerenciar fornecedores; coletar e documentar lições aprendidas; dentre outros. (PMI, 2008). O gerente de projeto e sua equipe de gerenciamento dirigem o desempenho das atividades planejadas, gerenciam as várias interfaces técnicas e organizacionais que existem dentro de um projeto e implementam mudanças aprovadas que compreendam ações corretivas, ações preventivas e correções de defeitos. Informações sobre o 36 desempenho dos trabalhos, sobre o status dos entregáveis e sobre o que já foi executado são coletadas como parte da execução do projeto e alimentam o processo de relatório de desempenho e o grupo de processos de monitoramento e controle. (PMI, 2008). Monitorar e controlar o trabalho do projeto é o processo de rastrear, revisar e regular o progresso para atingir os objetivos de desempenho definidos no plano de gerenciamento do projeto. O monitoramento é feito ao longo de todo o projeto e inclui coletar, mensurar e distribuir informação sobre desempenho e estabelecer metas para melhoria dos processos. O monitoramento contínuo dá a equipe de gerenciamento dados sobre a saúde do projeto, além de identificar áreas que necessitem de atenção especial. Controlar inclui determinar as ações corretivas e preventivas necessárias, replanejar, caso necessário, e acompanhar os planos de ação estabelecidos para determinar se estes resolveram os problemas de desempenho encontrados. (PMI, 2008). Poucos projetos terminam da forma como foram originalmente planejados. As mudanças são resultantes de aumento de conhecimento, de necessidades competitivas ou de modificações das necessidades do cliente. As mudanças realizadas quase sempre são acompanhadas de um aumento no orçamento e/ou duração do cronograma do projeto. As alterações de escopo são mais custosas na medida em que se percorre o ciclo de vida do projeto. Com o desenvolvimento do projeto, mais variáveis são introduzidas no sistema de forma que o impacto financeiro de uma pequena alteração de escopo pode ser grande em função do custo envolvido em reverter decisões anteriores. (KERZNER, 2009). O controle integrado de mudanças é o processo de analisar todas as solicitações de mudança e gerenciar as mudanças nos entregáveis, ativos organizacionais, documentos de projeto e plano de gerenciamento de projetos. Deve ser conduzido desde a iniciação até o seu encerramento. Mudanças podem ser solicitadas por qualquer um dos envolvidos. Porém, embora ela possa ser iniciada verbalmente, ela sempre deve ser formalizada, de forma escrita, e ser analisada pelo processo de gerenciamento das mudanças, onde serão avaliados seus impactos principalmente com relação aos objetivos de escopo, tempo, custo e qualidade. Desta forma, é importante que esta solicitação de mudança seja aprovada ou reprovada por alguma autoridade da equipe de projeto e, se sob contrato, pelo cliente. (PMI, 2008). As pessoas autorizadas a solicitar oficialmente mudanças devem ser estabelecidas desde o início do projeto. As solicitações de mudança aprovadas podem exigir revisões ou novas estimativas de custo, seqüência de atividades, cronograma, recursos, análise de resposta aos riscos, e, conseqüentemente, atualização nos documentos e planos do projeto. O nível de controle 37 sobre as mudanças depende da complexidade do projeto, dos requisitos do contrato e do contexto e ambiente em que o projeto está sendo realizado. (PMI, 2008). O encerramento é o processo de finalizar todas as atividades em todos os grupos de processos para formalmente completar o projeto ou fase. Ao encerrar o projeto, o gerente de projeto revisará todas as informações anteriores para garantir que todo o trabalho do projeto foi realizado e que o projeto atingiu seus objetivos. Este processo abrange todas as atividades necessárias para o encerramento administrativo do projeto ou fase, incluindo: ações e atividades necessárias para satisfazer completude ou critério de saída da fase ou projeto; atividades necessárias para coletar dados do projeto ou fase, auditar o sucesso ou fracasso do projeto, juntar as lições aprendidas e arquivar as informações do projeto no banco de dados da organização. (PMI, 2008). Lições podem ser aprendidas em todos e qualquer projeto, mesmo quando este foi um fracasso. Muitas empresas não conseguem documentar as suas lições aprendidas por relutância dos colaboradores em registrar seu nome em documentos que indicam os erros cometidos. Sendo assim, outros colaboradores acabam por repetir os mesmos erros. (KERZNER, 2009). Tem-se enfatizado cada vez mais a importância de documentar as lições aprendidas como uma das formas de divulgação de conhecimento, além do próprio gerenciamento do conhecimento como mais um ponto a ser considerado durante o gerenciamento de projetos. Isto demonstra o surgimento de uma preocupação com o capital intelectual das empresas, com o objetivo de ganhar maturidade e competitividade no mercado. Conhecimento é informação compreendida que habilita a ação, é a soma do que é percebido, descoberto, validado e aprendido. Essa definição inclui a criatividade e a invenção para criar novos conhecimentos, a capacidade de processamento de informação (inteligência), o processo social de validação e o aprendizado. (SABBAG, 2009). Devido aos atributos de projetos e das condições usuais da equipe, existe uma grande dificuldade de aprender durante a realização de projetos. Para que o conhecimento gerado em um projeto seja disseminado e aproveitado para a empresa, é necessária a aplicação de um gerenciamento com ênfase na promoção de conhecimentos, auxiliado pela tecnologia da informação e comunicação. Isto tende a trazer benefícios para o ambiente de negócios, tornando o sucesso nos projetos um hábito, e não um feito. (SABBAG, 2009). A gestão do conhecimento tem como objetivo estimular a criação de conhecimentos técnicos e gerenciais na equipe, registrar estas criações, compartilhar esses conhecimentos com a equipe do projeto e de outros e, no final, avaliar os impactos destas criações, da efetividade dos processos e da ampliação das competências individuais. (SABBAG, 2009). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a pesquisa realizada neste trabalho, pode-ses chegar às seguintes conclusões, objetivo do mesmo: a) Os serviços de Arquitetura apresentam necessidades típicas de qualquer outro tipo de projeto; b) Sendo um projeto típico, as boas práticas de Gerenciamento de Projetos seriam aplicáveis; e c) Aplicá-las proporcionaria um aumento na eficiência e eficácia da execução destes serviços. Ao se analisar os fundamentos teóricos levantados em cada área de conhecimento, comparando-os com a situação atual dos escritórios de arquitetura, é possível identificar quais seriam os benefícios desta aplicação: I) Gerenciamento do Escopo - Como exposto na introdução, o escopo dos serviços de arquitetura nem sempre é integralmente definido desde o início do projeto. Quando os serviços são prestados para grandes empresas, estas tendem a defini-lo de forma mais completa no contrato, utilizado como guia ao longo do projeto. A falta de uma definição clara do escopo é uma das principais causas de retrabalho neste meio. Adotar as práticas sugeridas favoreceria a garantia desta definição e evitaria o atraso, retrabalho e conseqüente aumento de custo caso não se tenha a mesma. II) Gerenciamento do Tempo - O tempo é um dos grandes vilões para o escritório de arquitetura. A imposição dos prazos pelo cliente, em sua maioria inalcançáveis, provoca descrédito com relação ao cronograma e negligência em sua atualização e controle. Adotar as práticas sugeridas para uma correta elaboração e acompanhamento do cronograma proporcionaria uma visão realista da situação, fornecendo subsídios para negociações de prazos e definições de estratégias do projeto em andamento e dados para projetos futuros. III) Gerenciamento do Custo - O custo é controlado instintivamente durante a elaboração do projeto. Uma vez que o escopo não foi bem definido ou o tempo devidamente estimado, acaba-se gastando mais do que o previsto (hora extra, aumento de equipe, dentre outros). Esta situação é perigosa para os escritórios de arquitetura, pois devido ao porte dos mesmos, se não prevista reserva de contingência, estes gastos podem não ser financeiramente absorvíveis, levando a rescisões de contrato ou mesmo falência da empresa. Adotar as práticas sugeridas para esta área favoreceria o controle e a coleta de dados para os projetos futuros. 39 IV) Gerenciamento da Qualidade - A qualidade do projeto arquitetônico e de seu conjunto de definições e informações técnicas é uma preocupação típica do arquiteto e obrigatória de sua profissão. Já a qualidade do processo de elaborar e gerenciar este projeto arquitetônico (ISO 9001/ ISO 10006) está começando a surgir atualmente nos escritórios destes tipos de serviços. Esta é uma tendência de mercado que não poderá ser evitada, mas sua implantação implica em romper as barreiras existentes. Os processos necessários demandam custo e tempo. Como os escritórios projetistas, sejam de arquitetura ou de disciplinas complementares, estão sempre nos limites de prazo e custo, são os processos da qualidade os primeiros dos quais se abre mão. Todavia, as vantagens da implantação de um sistema de qualidade são irrefutáveis, uma vez que o custo de evitar a não-conformidade e suas conseqüências é comprovadamente menor do que corrigi-la. V) Gerenciamento da Qualidade - A área de recursos humanos é sempre um desafio e preocupação, uma vez que são as pessoas que fazem o projeto. Nesse cenário, de projetos sempre corridos, o correto mapeamento da equipe, avaliação periódica, incentivo e desenvolvimento são muito importantes. A utilização das práticas sugeridas de forma contínua fortalece e amadurece a equipe e, conseqüentemente, a empresa. VI) Gerenciamento da Comunicação - Um dos pontos mais difíceis, por ser tanto fundamental como complexo, é a comunicação. Projetar uma edificação envolve muitas disciplinas, que interferem umas nas outras de diversas maneiras. A comunicação precisa ser constante e eficaz para que todas elas estejam alinhadas e convergentes. A adoção de boas práticas ajuda, desde o planejamento, a identificar que informações são necessárias, quando e para quais disciplinas. Ao longo do projeto, estas necessidades devem ser monitoradas para garantir a troca destas informações e identificar novas necessidades e novos envolvidos. VII) Gerenciamento dos Riscos - Como já exposto anteriormente, nos projetos de arquitetura os riscos são controlados de maneira instintiva e de acordo com experiência das pessoas. A utilização dos processos sugeridos pelo PMI faria esta atividade comum a todos na empresa, se tornando parte da metodologia e compartilhando as experiências adquiridas. VIII) Gerenciamento das Aquisições - Esta é outra área que precisa amadurecer nos escritórios de arquitetura. Muitos contratos ainda são informais ou com brechas de informação, como por exemplo, prazos mal definidos. O monitoramento dos contratos é feito parcialmente, a avaliação dos fornecedores não é registrada e os encerramentos formais dificilmente ocorrem. As boas práticas proporcionariam um melhor controle das aquisições e o estabelecimento de um padrão para a empresa, que favoreceria tanto a equalização das propostas recebidas como a montagem de propostas e contratos para seus serviços. 40 IX) Gerenciamento da Integração - Finalmente, a utilização dos processos de Gerenciamento de Projetos proporcionaria a criação de uma metodologia para a empresa, a padronização da forma como os seus projetos são gerenciados, bem como o sucesso dos mesmos. Por exemplo, a elaboração do Plano do Projeto é a estruturação de como este será executado, determinando um foco, possibilitando a convergência, e evitando que a equipe siga por caminhos diferentes. Práticas recomendadas como o registro das lições aprendidas e o encerramento do projeto são inegavelmente necessárias para o crescimento e amadurecimento de qualquer empresa. Em resumo, a maior parte destas lacunas no gerenciamento dos projetos de arquitetura, ou de seus projetos complementares, é causada pela falta de cultura em Gerenciamento de Projetos. Estas empresas ainda gerenciam seus projetos com base em instinto, sentimento e sorte. Grande parte dos escritórios assume uma quantidade de trabalhos maior do que sua real capacidade, o que demonstra também uma falta de gestão da empresa como um todo e resulta em um gerenciamento por espasmos, onde tudo é resolvido de maneira emergencial. Não há recursos suficientes para que as atividades necessárias às boas práticas sejam executadas, devido aos apertados prazos para a elaboração dos projetos. Na preocupação com o tempo, é negligenciado o planejamento, o que provoca ou a dispersão ou o retrabalho, prejudicando ainda mais os prazos e fechando um ciclo vicioso. Porém, observando as experiências das empresas de outras áreas que já adotaram esta cultura, não há dúvidas de que aplicar as boas práticas proporcionaria o aumento da eficiência e eficácia do projeto. Alguns escritórios já estão buscando este novo caminho, visto que, nesta visão contemporânea, em poucos anos o Gerenciamento de Projetos se tornará uma linguagem obrigatória para uma colocação no mercado. Porém, como pioneiros, lutam para quebrar os próprios paradigmas e sofrem com o desnivelamento do mercado. Órgãos de classe, como o IAB, começam a perceber que a formação dos profissionais em gestão é uma nova demanda e que é necessário organizar e promover cursos de extensão. Outra causa destas lacunas é o próprio fator cultural do brasileiro. Os japoneses, americanos e europeus, por exemplo, sociedades com culturas em planejamento, costumam dedicar mais tempo à elaboração do projeto de suas edificações, em busca de um produto o mais completo e detalhado possível, para em seguida construí-las rapidamente, uma vez que este processo favorece o avanço tecnológico dos métodos construtivos. No Brasil ocorre exatamente o contrário. A atividade de projeto ainda é tratada de maneira menor e a construção não como conseqüência do mesmo. Esta, tratada como objeto maior, que o é, necessita de um grande tempo de realização, assim os escritórios projetistas sofrem a pressão para elaborar os projetos em prazos insanos, visando à licença de obra e o início da 41 mesma. Isto resulta em um produto pouco pensado, pouco desenvolvido, com emissões de detalhamento ou revisões de projeto durante a obra, formando o ciclo vicioso que retarda o avanço das tecnologias construtivas. Ao ser aplicada no Brasil, a cultura de Gerenciamento de Projetos proposta pelo PMI esbarra no famoso “jeitinho brasileiro”. Porém, apesar de necessitar de adaptações em função desses fatores ambientais, os processos podem ser utilizados justamente para a identificação, controle e monitoramento das zonas de sombra propositais existentes nos contratos. O gerenciamento dos riscos nesses casos, por exemplo, é fundamental. Sugere-se, em futuros trabalhos, analisar como estão sendo gerenciados na prática os projetos de arquitetura, observando-se diferentes portes de projeto do universo de atuação de uma empresa. Nestes estudos de caso, deverão ser caracterizados os escritórios - porte, área de atuação, estrutura organizacional, nível de maturidade em Gerenciamento de Projetos, entre outros - e avaliado o que realmente ocorre em seus projetos, quais os pontos fracos e fortes de seu gerenciamento, quais processos são essenciais e quais são desnecessários em função do porte do projeto. A comparação dos resultados dos estudos de caso com os fundamentos teóricos já levantados identificará as necessidades atribuídas a cada porte de projeto e dará subsídios para o desenvolvimento de uma metodologia de Gerenciamento de Projetos de Arquitetura que possa ser aplicada em todos os seus projetos, padronizando desta forma seu gerenciamento. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 13531 – Elaboração de projetos de edificações – Atividades Técnicas. 1995. AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura). Manual de contratação dos serviços de arquitetura e urbanismo. 2ed. São Paulo: Pini, 2000. BERTEZINI, A.L. Métodos de avaliação do processo de projeto de arquitetura na construção de edifícios sob a ótica da gestão da qualidade. São Paulo, 2006. 193p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. CARVALHO, M. M.; RABECHINI JR.,R. Construindo Competências para Gerenciar Projetos. São Paulo: Ed. Atlas, 2005, p.1-96. CODAS, M. Gerência de Projetos – uma reflexão histórica. Revista Administração de Empresa, v.27, n.1, p.33-37, jan./mar. 1987. COSTA, L. Lúcio Costa : registro de uma vivência. São Paulo : Empresa das Artes, 1995. DINSMORE, Paul C. Manual de Gerenciamento de Projetos. Rio de Janeiro: Brasport, 2009. 498p. GRILO, L.M.; PEÑA, M.D.; SANTOS, L.A.; FILIPPI, G.A.; MELHADO, S.B. Análise da implementação dos princípios de gestão da qualidade em empresas de projeto. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO DA QUALIDADE E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, 2, 2001, Fortaleza. Anais... II SIBRAGEQ, 2001. ISO (International Organization for Standardization). ISO 10006: Quality management – guidelines to quality in project management. 1997. ITO, A. L. Y. Gestão da informação no processo de projeto de arquitetura: estudo de caso. 2007. 161p. Tese (Mestrado em Construção Civil) - Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. JACOSKI, C.A.; LAMBERTS R. A viabilidade da integração técnica de projetos de construção através da web. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 10, 2004. Anais... X ENTAC. JAGLBAUER, V., MELHADO, S.B., LIMA, J.R.B. Análise da gestão da qualidade em um pequeno escritório de arquitetura. In: NÚCLEO DE PESQUISA EM TECNOLOGIA DA ARQUITETURA E URBANISMO, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: NUTAU, 2006. KAWANAMI, D.; CARVALHO, M. Panorama da formação em gestão de projetos em cursos de engenharia. In: XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2008, Rio de Janeiro. 43 KERZNER, Harold. Project Management: a systems approach to planning, schedulling and controlling. 10ed. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2009. 1094p. LOPES, M. Gerenciamento das partes interessadas. Revista Mundo Project Management. Rio de Janeiro, Ano 5, nº30, p. 28-31, dez./jan. 2010. MELHADO, S.B.; CAMBIAGHI, H. Programa setorial da qualidade e referencial normativo para qualificação de empresas de projeto. Junho de 2006. Disponível em: <http://silviobm.pcc.usp.br/> Acesso em: 8 nov. 2006. MOLLICA Fº, Armando. Gerenciamento do Prazo. São Paulo: 1982. OLIVEIRA, O.J.; MELHADO, S.B.Serviços associados ao projeto de edificações. In: NÚCLEO DE PESQUISA EM TECNOLOGIA DA ARQUITETURA E URBANISMO, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: NUTAU, 2006. OZKAYA, I.; AKIN, Ö. Requirement-driven design: assistance for information traceability in design computing. Design Studies. Vol. 27, n. 3, p. 381-398, maio, 2006. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science> Acesso em: 04 ago. 2006. PMI (Project Management Institute). Project Management Body of knowledge (Pmbok® guide). Pennsylvania: Project Management Institute Inc, 2008. 459p. SABBAG, P. Gerir Projetos Requer Gerir Conhecimentos. Revista Mundo Project Management. Rio de Janeiro, Ano 5, nº27, p. 8-15, jun./jul. 2009. SANTOS, L.; MARTINS, M. Evoluindo na maturidade em gerenciamento de projetos e empreendimentos - caso do Governo do Estado do Rio de Janeiro. In: XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2008, Rio de Janeiro. SILVA, E. Uma Introdução ao projeto arquitetônico. 2ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. SOUZA, A.L.R.; FONTENELLE, E.; GRILO, L; FABRICIO, M.; MELHADO, S.B. A coordenação de projetos. In: MELHADO, S. B. (Coord.) Coordenação de Projetos de Edificações. São Paulo: O Nome da Rosa, 2005. 120p. TEIXEIRA, G. C. Aplicando conceitos de gerenciamento no desenvolvimento de projetos arquitetônicos. 2008. 61p. Monografia (Curso de Especialização em Gerenciamento de Projeto) - Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. TRISTÃO, A.M.D.; HEINECK, L.F.M.; LAMBERTS, R.; CHERIAF, M. Em busca de uma linguagem comum para padronização e comunicação de dados em projetos de edificações. 44 In: WORKSHOP BRASILEIRO DE GESTÃO DO PROCESSO DE PROJETO NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS, 4, 2004, Rio de Janeiro. Anais... IV WBGPPCE 2004. USUDA, F. A Integração do Projeto Estrutural e Projetos Associados. Campinas, 2003. 130p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas. 45 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS AsBEA - Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura. Manual de Escopo de Projetos e Serviços de Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: http://www.manuaisdeescopo.com.br/. Acesso em: 01 maio 2010. TASSARA, F. Gerenciamento da Arquitetura. Disponível http://www.pmkb.com.br/artigos-mainmenu-25/18-gerenciamento-da-arquitetura.html. Acesso em: 09 maio 2009. em: