nº 18 março / 2006 Mais eficiência e menos burocracia A Resolução 114, de outubro de 2005, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), estabeleceu o padrão TISS (Troca de Informação em Saúde Suplementar), obrigatório para registro e troca de informações entre operadoras de plano de saúde e prestadores de serviços. Entre os objetivos estão a padronização dos formulários utilizados atualmente no setor de saúde suplementar e a redução dos erros cometidos no preenchimento das guias emitidas pelas operadoras. Os laboratórios têm até 22 de outubro para adotarem o novo sistema. Esse é o tema da entrevista com a médica sanitarista Jussara Macedo, gerente de Padronização de Informações da ANS. Leia a entrevista completa na página 2. Gerenciamento de projetos: caminho para atingir resultados A mudança do perfil empresarial em busca de mais agilidade e maior competitividade pode exigir o investimento em novos modelos administrativos. O artigo assinado pelo especialista em Gestão Empresarial, Helder José Celani de Souza, procura mostrar a importância do gerenciamento adequado de novos projetos para conseguir alcançar os resultados desejados. Leia o artigo completo na página 5. Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 1 Foto: Roberto Duarte Mais eficiência e menos burocracia No dia 26 de outubro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou a Resolução 114, que estabelece o padrão TISS (Troca de Informação em Saúde Suplementar), obrigatório para registro e troca de informações entre operadoras de plano de saúde e prestadores de serviços. A implantação desse sistema tem, entre outros objetivos, adotar um padrão para os formulários utilizados atualmente, substituindo-os por mensagens eletrônicas, reduzir a burocracia e os erros cometidos no preenchimento de guias e aumentar a eficiência na troca de informações. Os laboratórios têm até o dia 22 de outubro de 2006 para implantar o padrão TISS. Esse é o tema da entrevista com a médica sanitarista Jussara Macedo, gerente de Padronização de Informações da ANS. Quais são os benefícios que o padrão TISS vai trazer para as operadoras e para os prestadores de serviço? Jussara Macedo O benefício mais imediato de uma padronização é o da eficiência. Ao invés de fazer dez ou 30 vezes a mesma coisa, faz-se uma vez só. A padronização também passa a imagem de maior transparência, ou seja, todo mundo começa a falar a mesma língua. Também diminui o número de erros. Para o prestador isso pode significar menos glosa provocada por erros de preenchimento nas guias. Quando a qualidade da informação é maior, resulta em maior qualidade da assistência que é prestada porque você pode mensurar, avaliar, comparar. A operadora pode comparar a assistência de um prestador com a de outro porque ela tem as mesmas variáveis colhidas da mesma maneira. O TISS vai agilizar o atendimento ao beneficiário porque vai diminuir o custo administrativo e o tempo do processamento. O beneficiário poderá receber uma autorização mais rápido porque a troca de informações será feita eletronicamente. Ou seja, vai diminuir a burocracia. Hoje, operadoras e prestadores de serviço precisam colocar muita gente para fazer auditoria, ver se os campos das guias estão preenchidos corretamente e evitar a glosa por causa disso. Nos EUA, antes de existir algo semelhante ao TISS, demorava, em média, 200 dias para o prestador receber uma fatura. Com a troca eletrônica, o prazo diminuiu para menos de sete dias. As informações do padrão TISS podem ajudar a montar um banco de dados do setor de saúde? Jussara Macedo No momento, estamos apenas padronizando a troca de informações. Mas um dos objetivos é que ele ajude a formar uma base de dados pública para que se possa fazer análises epidemiológicas, por exem2 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial plo. Não será como o SUS. No setor de saúde privado não há como recolher todas as informações e colocá-las em um grande banco de dados. Mas existem formas de obter essas informações. O TISS é organizado para ter saídas para vários sistemas. Um deles é o Sistema de Informações Vitais, que inclui óbitos, nascimentos, morbidade e muitos outros. Com essas variáveis que se padronizam e com os números de identificação que existem, o Ministério da Saúde pode, por exemplo, saber o número de pessoas que morreram de determinadas causas em determinado lugar. É uma informação individual mas não é identificada com os nomes das pessoas. As operadoras vão ter acesso a essas informações. Nós vamos poder fazer o cruzamento com o sistema de agravo de notificação, que indica doenças infecciosas para informar sobre epidemias, acidentes de trabalho, morte violenta e doenças ocupacionais. Também estão entrando doenças crônicas degenerativas, aids e outras, que são consideradas importantes para que o Estado conheça os índices e possa utilizá-los para estabelecer políticas de saúde. A implantação do padrão TISS requer conhecimentos de informática por parte do prestador de serviços? Jussara Macedo Não. O que saiu agora do TISS é o padrão de informações, de mensagem eletrônica. Quem fornece a guia para o prestador preencher é a operadora de plano de saúde. Em um determinado momento, esse prestador vai ter que se informatizar. Essa necessidade não é uma exigência da ANS. A informatização das trocas de mercado eletrônico está acontecendo no mundo inteiro. Por isso é preciso adotar um padrão para essas trocas para evitar que o prestador invista em um sistema que ele depois terá que trocar. A ANS está orientando para que se siga uma tendência que é mundial. O TISS usa o mesmo sistema de transação utilizado pelo sistema bancário e pelo comércio. Nossa preocupação em padronizar é evitar a informatização “selvagem” que está acontecendo agora no mercado. No caso dos laboratórios isso não acontece tanto porque eles e a SBPC/ML já têm, há muitos anos, a preocupação com a padronização dos resultados. A ANS acha que não haverá muita dificuldade com o setor de laboratórios porque eles já estão informatizados. Nossa maior preocupação é com os consultórios médicos. Por isso é que eles receberam um prazo maior. Muitas operadoras estão investindo na informatização do seu prestador de serviço. Para elas é mais negócio colocar em um consultório um computador financiado do que continuar a receber muitos papéis. Além disso, o custo de um computador está cada vez menor. Nós demos um prazo e esperamos que ele seja atendido. A ANS está atenta e sabe que pode haver dificuldades em determinados casos. Estamos pressionando o mercado mas temos sensibilidade para ver as dificuldades. Por isso é que estamos conversando muito com o mercado. Sabemos que os laboratórios e os hospitais já estão automatizados ou muito avançados nesse aspecto. É por isso que os hospitais, clínicas e laboratórios têm prazo menor do que os consultórios? Jussara Macedo Sempre fazemos assim pelo nível de organização que essas empresas apresentam. Elas têm uma estrutura maior, com muito mais processos. A informação passa a ser uma coisa vital para enxugar custos de processos, para garantir a qualidade, para não haver muito erro humano. O prazo começou a contar a partir de quando? Jussara Macedo O prazo começou a contar a partir da data de publicação da Resolução 114, em 26 de outubro de 2005. Mas como foi apresentado ao mercado no dia 4 de novembro, é esta data que eu vou considerar como sendo a inicial. Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 3 As operadoras também têm prazo para implantarem o padrão TISS? Jussara Macedo Elas têm nove meses para implantar o sistema porque precisam fazer tudo. O que acontecerá se um prestador de serviço de saúde não cumprir o prazo de implantação do TISS? Jussara Macedo Eu espero que ele não espere chegar o último dia do prazo para informar que não conseguiu fazer. A ANS tem ido ao mercado e identificado as dificuldades. O objetivo maior da ANS é alcançar a padronização. Existe a penalidade mas não vamos usá-la imediatamente quando vencer o prazo. Isso não teria eficácia. Estamos tentando fazer com que os prestadores se mantenham dentro do prazo e que consigamos corrigir também dentro do prazo. Ou pelo menos saber quem não está conseguindo. A ANS só tinha uma resolução com penalidades. Agora, estamos fazendo uma revisão das penalidades, relativizando-as para os casos em que não houve intenção de dolo, não houve má-fé. O TISS vai ter um módulo de fiscalização preventiva, para ver as dificuldades do mercado, de modo que não tenhamos que ultrapassar esse prazo. Não nos interessa punir, queremos é normatizar o processo. A ANS não vai se sentar em berço esplêndido e esperar terminar o prazo para punir quem não o cumpriu. A ANS vai manter um canal aberto com o mercado? Jussara Macedo A Agência está criando um comitê que vai ter representação do setor de saúde suplementar e de outros setores da sociedade. A partir desse marco inicial, para toda mudança de padrão, para toda necessidade do setor, haverá um fórum que vai considerar se muda os campos das guias, se aumenta o campo. Significa sair do organismo regulador para discutir junto com o setor. Laboratórios ainda não estão preparados A implantação do padrão TISS vai facilitar a vida dos laboratórios ao implantar a padronização também no retorno das informações enviadas pelos planos de saúde. A conferência das faturas, por exemplo, poderá ser feita em meio eletrônico, o que facilitará a verficação das glosas e a conseqüente entrada com recurso na operadora. “Participamos de um grupo de trabalho formado também por representantes dos planos de saúde e da ANS que está tirando nossas dúvidas”, diz Roberto Ribeiro da Cruz, diretor Técnico da empresa Medical Systems, que presta serviços de informática para laboratórios. “O sistema não é complexo, mas laboratórios que têm sistemas que não são compatíveis com o TISS terão que fazer modificações para se adequar. O padrão indicado pela ANS é o mesmo adotado em vários segmentos do mercado para a troca de informações eletrônicas”, explica Cruz. Ele acrescenta que alguns laboratórios de pequeno porte poderão encontrar dificuldades e que devem pedir orientação da Agência Nacional de Saúde Suplementar. A reportagem de Gestão Estratégica ouviu responsáveis por laboratórios em diferentes regiões do Brasil e constatou que poucos já começaram a trabalhar para implantar o sistema. Em outros, os responsáveis pelo departamento que mantém contato com os convênios desconhecem o padrão TISS. A Resolução 114 e o Manual do TISS estão na página “Textos técnicos e legislação”, do site da SBPC/ ML (www.sbpc.org.br/Textos). 4 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial Gerenciamento de projetos: caminho para atingir resultados Foto: Lizimar Dahlke Helder José Celani de Souza* O cenário globalizado e a competitividade de mercado têm exigido cada vez mais das empresas alguns perfis de gestão usualmente caracterizados pela agilidade e velocidade nas ações que viabilizam seus resultados. Esta realidade tem demandado investimentos em novos modelos administrativos, metodologias de suporte, foco em planejamento estratégico e formação de capital intelectual. É justamente nessa fase da vida empresarial que surge um agente coadjuvante de importância estratégica: o gerenciamento de projetos. Novidade? Nem tanto, se for considerada sua existência e uso efetivo desde o início da década de 50, mas certamente uma aplicação mais ampla de técnicas e regulamentações em diversificadas atividades, reforçada pelo desenvolvimento das instituições de classe e ganhos comprovados. O histórico empresarial denota freqüentemente que o sucesso dos projetos sustenta-se na utilização do trinômio consagrado, isto é, na gestão exclusiva de prazo, custo e qualidade. Entretanto, esta afirmativa afasta-se da realidade corporativa atual, que tem requerido esforços adicionais em diversas áreas de conhecimento, tais como recursos humanos, comunicação, riscos, suprimentos, escopo e integração, todas essas inerentes aos projetos e seus impactos em resultados e na imagem das organizações. Além das áreas de conhecimento citadas, há grupos de processos que compõem o ciclo de vida de qualquer projeto: iniciação, planejamento, execução, controle e encerramento. Assimilando tais conceitos e entendendo que um projeto é um esforço temporário que cria um produto, serviço ou resultado único, diferenciando-o da rotina, será realizada uma abordagem em maior profundidade desses elementos que viabilizam o gerenciamento de projetos. Na iniciação, o planejamento estratégico e os critérios de seleção de projetos são essenciais para que o projeto seja reconhecido na organização e tenha sustentação das variadas áreas de interesse. Tecnicamente, os interessados no projeto são conhecidos como stakeholders, os quais podem influenciá-lo positiva ou negativamente. Uma vez aprovado, é elaborado o documento de início do projeto, o "Project Charter" ou Plano Sumário de Projeto, que deve ser assinado pela alta administração da empresa. No planejamento do projeto, contempla-se a elaboração dos diversos planos para as várias áreas de conhecimento citadas. Inicia-se com a definição do escopo, que descreve em detalhes as entregas previstas e o trabalho requerido para cumprí-las; cria-se um diagrama baseado na declaração de escopo, denominado WBS (Work Breakdown Structure), que decompõe hierarquicamente as entregas e o trabalho a ser realizado pela equipe de projeto, para então finalizar o processo com um plano de gerenciamento do escopo. Com base no WBS e em uma lista de atividades do projeto, o cronograma e o orçamento são gerados através da definição, seqüência, estimativa de duração e alocação de recursos para atender individualmente cada atividade prevista. O gerenciamento da qualidade será regido igualmente por um plano que abrange Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 5 a garantia e controle de qualidade do projeto. O gerenciamento de custos deverá ser planejado de forma a contemplar estimativas iniciais, orçamentos e o controle de custos ao longo do projeto. Para gerenciar riscos, o plano consiste na identificação destes (positivos ou negativos), análises qualitativas e quantitativas, definição de ações preventivas e corretivas e um processo de monitoramento. Os recursos de um projeto são basicamente classificados em materiais e serviços, cujo plano para atender as necessidades por atividade contém procedimentos e políticas de aquisições, seleção e qualificação de fornecedores, administração e conclusão de contratos. Para as áreas de recursos humanos e comunicações, os planos contemplam os processos de contratação de recursos, desenvolvimento e gerenciamento de equipes, avaliação das necessidades e gerenciamento dos stakeholders, a forma de distribuição de informações e a divulgação dos relatórios de desempenho. Concluído o planejamento, inicia-se a execução do projeto, cujo controle de desempenho é monitorado durante todo seu ciclo de vida. O gerenciamento da integração é o recurso sinérgico entre todos os stakeholders, que utiliza e atualiza um plano de projeto, resultado da associação dos planos gerados referentes a cada área de conhecimento. Tão importante como iniciar oficialmente um projeto é finalizá-lo, através de fechamento administrativo, levantamento de lições aprendidas e um evento de finalização oficial do projeto. Por último, partindo da premissa de que o gerenciamento de projetos é aplicável em qualquer área ou organização existente, há que refletir na praticidade e adaptação da metodologia aos variados tipos, filosofias e tamanhos das empresas. Neste ponto, vence o bom senso, o desejo da organização em obter bons resultados através de gerenciamento de projetos, o comprometimento e a disciplina das pessoas envolvidas. Em geral, os projetos surgem das necessidades de mudanças, consideradas como agentes propulsores na busca de resultados diferenciados e excelência. *Engenheiro Eletrônico, mestre em Ciências em Engenharia Elétrica com ênfase em Automação e Controle, pósgraduado em Engenharia Eletrônica, MBA em Gestão Empresarial, pós-graduado em Gerenciamento de Projetos, certificado como PMP - Project Management Professional pelo PMI-EUA. Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial Jornal da SBPC/ML Periodicidade mensal Presidente 2006/2007 Wilson Shcolnik Rua Dois de Dezembro, 78 Salas 909 e 910 CEP 22220-040 - Rio de Janeiro - RJ Tel. (21) 3077-1400 Fax (21) 2205-3386 [email protected] http://www.sbpc.org.br Diretor de Comunicação Octavio Fernandes da Silva Filho 6 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial Criação, Arte e Diagramação Design To Ltda Jornalista responsável Roberto Duarte Reg. Prof. MTb 14987 Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 7 8 - Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial