Predição de Falhas no Apoio à Decisão na Gestão da Manutenção
Maria Prudência G. Martins, Armando L. F. Leitão
Departamento de Gestão Industrial – ESTiG
Instituto Politécnico de Bragança
Quinta de Santa Apolónia – Bragança
Telf: +351 273 303 085; fax: +351 273 313 051; e-mail: [email protected], [email protected]
Resumo — Com o presente artigo pretende-se divulgar
procedimentos que possibilitem caracterizar, sob uma
vertente técnica, operacional e económica, a estrutura
organizacional do sector da manutenção. Com a informação
proveniente de um registo histórico de dados é possível obter
indicadores que permitam estimar e compreender o
comportamento dos equipamentos no que diz respeito às
falhas e ao seu atendimento. Assim, de forma fundamentada,
através de metodologias apropriadas, poder-se-ão definir as
políticas de manutenção adequadas a cada equipamento e aos
componentes neles inseridos.
1. Introdução
O sucesso de uma empresa industrial depende da
organização e gestão das suas operações, sobretudo se as
mesmas forem inerentes às principais áreas de apoio à
competitividade. Uma dessas áreas é, indiscutivelmente, a
gestão da manutenção. Além de interagir com praticamente
todas as funções da organização, do êxito da manutenção e
da sua gestão depende o sucesso do sistema produtivo,
assim como o bom funcionamento dos equipamentos e a
qualidade dos produtos fabricados. As paragens devidas a
problemas com os equipamentos são, geralmente, uma das
principais causas de baixos níveis de desempenho e de
baixa produtividade, o que conduz a que os custos das
operações sejam agravados. O correcto desempenho dos
equipamentos no que concerne à sua fiabilidade e
disponibilidade para o sector produtivo, constitui um dever
de um sector da manutenção devidamente organizado. É
este sector que deve diligenciar para que se diminuam,
tanto quanto possível, os períodos de imobilização
derivados das avarias sem, contudo, se descurarem os
custos das actividades da manutenção. Com o presente
trabalho pretende-se divulgar procedimentos que
possibilitem caracterizar, sob uma vertente técnica,
operacional e económica, a estrutura organizacional do
sector da manutenção. Com a informação proveniente de
um registo histórico de dados, é possível conhecer a
fiabilidade operacional dos equipamentos, a sua taxa de
avarias e se estas são imprevisíveis ou se são derivadas do
tempo de funcionamento e ainda a sua manutibilidade e
disponibilidade. Com base em tais indicadores será
possível estimar e compreender o comportamento dos
equipamentos no que diz respeito às falhas e ao seu
atendimento. Assim, de forma fundamentada, através de
metodologias apropriadas, poder-se-ão definir as políticas
de manutenção adequadas a cada equipamento e aos
componentes neles inseridos. Estas metodologias foram o
objecto de um caso prático, com aplicabilidade numa
indústria do ramo automóvel, designada Faurécia, Sistemas
de Escape, SA, sedeada na cidade de Bragança.
2. Análise a um registo histórico de dados da
manutenção
O objectivo primordial desta secção é o de enunciar os
conceitos e fundamentos teóricos usados na metodologia
expressa na secção seguinte.
É fundamental realçar que um adequado registo de dados é
indispensável para o acompanhamento de um
equipamento, bem como à correcta avaliação das
actividades no âmbito da manutenção. Para que os
indicadores apurados possam proporcionar algumas
contribuições válidas para a tomada de decisões, será
imprescindível dispor de informação suficientemente
abrangente e coleccionada de forma homogénea e
criteriosa. Só por esta via será possível tecer considerações
consistentes e precisas acerca dos eventos ocorridos nos
equipamentos, bem como elaborar previsões válidas. A
norma AFNOR-X60-502 proporciona as directrizes pelas
quais se deve proceder à recolha, tratamento e análise de
dados de fiabilidade ao longo do tempo.
A. Sistemas Reparáveis versus Sistemas não reparáveis
Para Ascher e Feingold [1] um sistema reparável (SR) é
recolocado ao serviço depois de sujeito a operações de
manutenção efectuadas com o intuito de eliminar qualquer
irregularidade detectada, enquanto que, um sistema não
reparável (SNR), é substituído por outro igual logo após a
primeira falha, ou seja, a partir do momento em que deixa
de realizar de forma satisfatória a função que lhe é
destinada.
B. Análise de tendência
Segundo Leitão [2], antes de se aplicar qualquer
distribuição estatística a um conjunto de dados,
previamente, dever-se-á analisar qual a tendência dos
dados sob o ponto de vista do processo estocástico. A
análise de tendência é um processo de inferência
estatística, baseado na metodologia dos testes de hipóteses,
a cuja utilização se recorre sempre que se queira verificar
se os dados amostrais são ou não compatíveis com
determinadas populações. Este procedimento deve ser
efectuado distintamente, consoante se trate de sistemas
reparáveis (SR) ou de sistemas não reparáveis (SNR).
Perante sistemas reparáveis, a análise efectuada tem como
objectivo indagar qual a tendência que a frequência de
avarias apresenta, isto é, se há indícios estatísticos de taxa
de avarias decrescente, constante ou crescente. Quando a
análise incidir sobre um sistema não reparável, o teste tem
como objectivo indagar se os tempos de avaria são
Independentes e Identicamente Distribuídos, constituindo
um processo de Poisson homogéneo e tendo, portanto, uma
taxa de avarias constante.
A análise de tendência é efectuada através da aplicação do
teste de Laplace cuja descrição pode ser vista em [2].
C. Análise sob o ponto de vista da função de risco
A função de risco representa a probabilidade, por unidade
de tempo, de um item ou sistema vir a falhar no intervalo
de tempo [t, t+dt], sabendo que não se observaram avarias
até t. Deve, portanto, ser associada a um acontecimento
único e toma como base o tempo que decorreu desde a
última avaria até ao momento presente.
Como é bem conhecido da teoria da fiabilidade, o
conhecimento sobre o comportamento da função de risco é
de extrema utilidade, na medida em que proporciona
informação imprescindível relativamente à tomada de
decisão sobre a substituição preventiva de componentes de
acordo com um planeamento racionalmente económico.
Previamente à substituição preventiva de componentes,
será indispensável verificar se a função de risco é
crescente. Caso não o seja, a substituição não se revela
viável em virtude de não proporcionar proveitos, quer em
termos económicos quer operacionais. Informação
adicional acerca do teste de hipóteses para averiguar se a
função de risco é crescente pode ser vista em [3].
D. Análise sob o ponto de vista da fiabilidade
Segundo O´Connor[3], a fiabilidade é definida como a
capacidade de um bem desempenhar a sua função
específica em condições definidas e por um período de
tempo t determinado.
Para equipamentos reparáveis, pode ser especificada
quantitativamente pela taxa de avarias (t). Este conceito
pode ser definido como a variação do número esperado de
avarias relativas a um determinado instante de tempo.
Representa-se por
λ(t ) =
δ
E[N ( t )]
δt
(1)
ou seja, a derivada em ordem ao tempo da esperança
matemática do número de avarias no instante t.
O MTBF, que deriva do Inglês mean time between failures,
é, igualmente, um indicador da fiabilidade para sistemas
reparáveis. Segundo o mesmo autor, o MTBF, exprime o
tempo médio de bom funcionamento, ou seja, o tempo que
decorre, em média, entre duas avarias consecutivas.
Quando a análise incidir sobre equipamentos não
reparáveis a fiabilidade pode ser especificada
quantitativamente pelo MTTF, que deriva do Inglês mean
time to failures e representa o tempo médio até à
ocorrência da falha.
E. Análise sob o ponto de vista da manutibilidade
O termo manutibilidade traduz a capacidade de um sistema
ser mantido em boas condições operacionais.
Segundo O´Connor [3], pode ser quantificada pela média
dos tempos de reparação, vulgarmente designado MTTR,
que deriva do Inglês mean time to repair. O MTTR agrega
todo o tempo necessário para diagnosticar a avaria e reunir
os recursos logísticos, o tempo de execução do trabalho
propriamente dito e ainda teste e entrega do equipamento.
A expressão do MTTR para determinado período será a
seguinte:
MTTR =
TR i
N º Avarias
(2)
sendo TRi o tempo de reparação da avaria i.
F. Análise sob o ponto de vista da disponibilidade
A disponibilidade é uma característica dos sistemas
reparáveis e é uma composição dos dois atributos
anteriores: fiabilidade e manutibilidade. Poder-se-á dizer
que a função disponibilidade, D(t), traduz a proporção de
tempo em que o sistema se encontra em condições para ser
usado e assim poder realizar as suas funções especificas.
Na manutenção a disponibilidade intrínseca de um
equipamento representa-se por:
Disponibilidade =
TUP
TUP
+ TDOWN
(3)
em que:
TUP é o período de tempo em que o equipamento está
em condições de ser utilizado, e
TDOWN é o período de tempo em que o equipamento não
está em condições de ser utilizado.
3. Metodologia utilizada na análise
exploratória dos dados
Apresenta-se nesta secção uma metodologia que permitirá
efectuar uma análise fiabilística, diferenciada para sistemas
reparáveis e para sistemas não reparáveis, para
fundamentadamente, se desencadearem as acções
necessárias de forma a diminuir as ocorrências e evitar, se
possível, a sua repetição. A necessidade de aplicar
diferentes algoritmos consoante se pretenda inferir acerca
de sistemas reparáveis ou sistemas não reparáveis, prendese com o facto de a quantificação e previsão da fiabilidade
se efectuar distintamente, consoante se trate de um, ou de
outro, dos sistemas.
A metodologia usada fundamenta-se no ajuste de modelos
de fiabilidade uma vez que esta assume particular
importância no que concerne à definição de metodologias
de manutenção a aplicar aos equipamentos e aos
componentes neles inseridos. Os modelos teóricos ou
distribuições
estatísticas
mais
utilizadas
nessas
caracterizações são essencialmente, as distribuições de
Poisson, exponencial negativa, normal e de Weibull.
O modelo de Weibull, contrariamente ao modelo
exponencial que será apenas utilizado na predição da
fiabilidade no caso de, pela aplicação do teste de Laplace,
as ocorrências serem consideradas IID, abrange os casos
em que a taxa de falhas é variável no tempo, pois trata-se
de uma expressão a três parâmetros que possui a relevante
particularidade de não possuir uma única forma
característica. É devido a esta volubilidade que o
caracteriza que na prática, em estudos fiabilísticos, é dos
modelos mais utilizados, uma vez que por modificação dos
seus parâmetros, nomeadamente o de forma, pode ser
adaptada a diversas distribuições do tempo entre avarias.
As mais importantes são a exponencial negativa, quando
=1 e a distribuição normal quando apresentar um valor
próximo de 3.5. Conforme sejam estes valores podem-se
aferir algumas características do equipamento, pois se está
sujeito a desgaste, o valor de terá um valor superior a 1,
se não está,
será igual a 1, e se
for inferior a 1,
provavelmente, encontrar-se-á em fase de rodagem.
Os tubos eléctricos e os componentes electrónicos, por
exemplo, são dois géneros de componentes em que se
verificou avariarem de acordo com esta distribuição.
A distribuição de Weibull é igualmente utilizada quando,
previamente à substituição preventiva de componentes, se
pretende verificar se a função de risco é crescente, o que se
verifica sempre que o parâmetro de forma, , for superior
a 1. Existirá evidência estatística de >1 sempre que, pela
metodologia dos testes de hipóteses, seja possível rejeitar a
hipótese nula. Informação adicional acerca destes modelos
teóricos, bem como do teste de hipóteses à função de risco
crescente, pode ser vista em [1] ou então em [3].
A. Algoritmo para análise fiabilística de sistemas
reparáveis
Efectuar análise de tendência de avaria através do teste de
Laplace;
SE for constante ENTÃO
calcular taxa de avarias ( ) e correspondente MTBF:
estimar, e apresentar graficamente, a fiabilidade do
equipamento através do modelo exponencial negativo;
estimar distribuição que melhor descreva a forma das avarias:
calcular parâmetros da distribuição; /* método máxima
verosimilhança */
efectuar teste à qualidade do ajuste; /* KolgomorovSmirnov */
SENÃO
SE for decrescente ENTÃO
aplicar modelo de Crow:
calcular taxa de avarias ( ), correspondente MTBF e
factor de crescimento da fiabilidade;
estimar, e apresentar graficamente a fiabilidade do
equipamento através do modelo exponencial
negativo;
SENÃO
/* crescente */
averiguar a existência de causas possíveis e assinaláveis
para fiabilidade decrescente;
SE existirem causas ENTÃO
proceder à identificação e eliminação;
SENÃO
fase III da curva da banheira, aplicação de técnicas
para validar a decisão; /* Estudo sobre a viabilidade
económica da sua substituição */
FIMSE
FIMSE
FIMSE
B. Algoritmo para análise fiabilística de sistemas não
reparáveis
Efectuar análise de tendência de avaria através da aplicação do
teste de Laplace;
SE as avarias forem IID ENTÃO
indagar qual a distribuição que melhor descreva os dados;
calcular parâmetros da distribuição assumida; /* máxima
verosimilhança */
efectuar teste à qualidade do ajuste; /* Kolgomorov-Smirnov */
SE a qualidade ao ajuste for boa ENTÃO
estimar, e apresentar graficamente, a fiabilidade do
equipamento através do modelo previamente assumido;
FIMSE
teste de hipóteses à função de risco crescente;
SE a função de risco for crescente ENTÃO
calcular a idade óptima de substituição preventiva;
FIMSE
SENÃO /* as avarias não são IID */
provavelmente os dados dependerão da ordem cronológica
das avarias, ou então, serão oriundos de mais que uma
população, devendo essa tendência ser analisada com o
propósito de encontrar as possíveis causas;
SE essas causas existirem ENTÃO
proceder à eliminação;
FIMSE
FIMSE
4. Análise de Resultados
Com base no registo cronológico das avarias inscritas pelo
sector da manutenção durante um período representativo
compreendido entre Novembro de 2001 e Abril de 2005,
apresentam-se, nesta secção, um conjunto de indicadores
fiabilísticos que permitirão avaliar o desempenho de
sistemas reparáveis e sistemas não reparáveis. No âmbito
deste trabalho o conceito de sistema reparável é redutível a
equipamentos e o conceito de sistema não reparável é
redutível a componentes. Para os sistemas reparáveis a
análise será efectuada na vertente de fiabilidade crescente,
constante e decrescente. Para os sistemas não reparáveis a
análise será efectuada na vertente de modos de avaria
Independente e Identicamente Distribuídos (IID) e Não
Independente e Identicamente Distribuídos (NIID).
A. Exemplo de um Sistema Reparável com Fiabilidade
Crescente
Considerando um conjunto de dados históricos, pela
aplicação da metodologia expressa no algoritmo A da
secção 3, obtiveram-se os seguintes indicadores
fiabilísticos:
ET
-2,189
V . P r o v a T s t L a p la c e
2,9%
Decrescente
M T BF
405,8
=0,14
Como se pode verificar, o teste de Laplace revelou-se
formalmente conclusivo (ET< -1,65 para um nível de
significância de 5%) pelo que a taxa de avarias é
considerada decrescente. Nestas circunstâncias, os tempos
entre ocorrências são, em média, sistematicamente
maiores. Confirmada esta tendência, procedeu-se, segundo
o disposto no referido algoritmo, à aplicação do modelo de
Crow para estimar o valor da taxa de avarias, ( ). Com a
taxa de avarias assim determinada, é possível estimar a
fiabilidade pelo modelo exponencial negativo, tendo-se
obtido desta forma gráfico da Fig. 1,
Taxa de Avarias do equipamento 13005
• Pela equação 3.49 obtêm-se uma estimativa para : ˆ =
0.009168.
! " #
(a=0,14)
0,00406
0,00386
0,00366
0,00346
0,00326
0,00306
0,00286
0,00266
0,00246
Fig. 2. Fiabilidade de um SR com taxa de avarias constante.
0
200
400
dias
600
800
Fig. 1. Fiabilidade de um SR com taxa de avarias decrescente.
que demonstra a evolução da taxa de avarias ao longo de
um horizonte temporal de 800 dias.
Através do mesmo gráfico podemos inferir que:
• no horizonte temporal de 200 dias a taxa de falhas é
reduzida em 3%;
• a taxa de avarias a partir de 600 dias tende para um
valor aproximadam
ente constante (6%), pelo que,
se não se verificarem avarias durante esse período, a
probabilidade de se observarem é notavelmente
reduzida;
B. Exemplo de Um Sistema Reparável com fiabilidade
constante
Relativamente a um outro conjunto de dados associados a
um certo equipamento, obtiveram-se os resultados
expressos na seguinte tabela:
ET
-1,953
V . P r o v a T s t L a p la c e
5,1%
Constante
M T BF
0,009168
109,1
Relativamente à análise de tendência, concluímos que
para um nível de significância de 5%., há tendência linear
uma vez que o valor obtido para a ET< - 1,96. Nesta
situação, os acontecimentos num espaço amostral contínuo
esperam-se aleatórios, pelo que o comportamento
fiabilístico do equipamento, pode ser estudado através da
aplicação do modelo exponencial negativo. Assim, através
do gráfico ilustrado na Fig. 2, poderemos inferir que:
• A Probabilidade de funcionar ao fim de 5 dias de
trabalho é aproximadamente 38%.
• A Probabilidade de Avaria após 20 dias de trabalho é
quase 100%.
• Verificada a hipótese de taxa de avarias constante, a
probabilidade de K avarias pode ser calculada pelo
modelo de Poisson. Para t = MTBF:
P (zero avarias) = 0.3681;
P (uma avarias) = 0.3681;
P (duas avarias) = 0.1838.
C. Exemplo de Um Sistema Reparável com fiabilidade
decrescente
Sempre que o valor da ET obtido pela aplicação do teste de
Laplace seja francamente positivo – ET>1.96 para um
nível de significância de 5% – o teste revela-se
formalmente conclusivo. Nesta situação, é plausível
considerar a taxa de avarias crescente, ou seja, os tempos
entre avarias, à medida que o tempo passa, tendem a ser
sucessivamente mais pequenos, o que caracteriza o que é
bem conhecido na teoria da fiabilidade como a fase III da
curva “em forma de banheira”. Nestas circunstâncias,
dever-se-á averiguar a qualidade das últimas intervenções,
diminuir o intervalo de tempo entre manutenções
preventivas e principalmente indagar a existência de causas
possíveis e assinaláveis que provoquem tal crescimento.
No caso de se concluir pela presença dessas causas, deverse-ão empreender as devidas acções correctivas para as
eliminar. No caso de se concluir pela inexistência dessas
causas, provavelmente, o equipamento estará próximo do
fim do ciclo de vida e como é característico desta fase,
reflectirá o processo normal e inevitável do
envelhecimento. Dever-se-á, todavia, fundamentar esta
hipótese com técnicas e métodos específicos como por
exemplo o diagrama causa-efeito (cuja descrição pode, por
exemplo, ser encontrada em [3]) e elaborar um estudo
acerca da viabilidade da substituição do equipamento com
o desígnio de não incorrer no risco de rejeitar o
equipamento, se, de facto, ainda estiver em boas
condições.
Relativamente a outro conjunto de dados históricos
pertencentes a um outro equipamento obtiveram-se os
resultados apresentados na tabela que se segue:
ET
2,137
V . P r o v a T s t L a p la c e
3,3%
M T BF
Crescente
Como se pode verificar, apresenta-se um valor de
ET=2.137, pelo que, ao nível de significância de 5%, há
evidência estatística de taxa de avarias crescente com valor
de Prova do teste igual a 3.3%.
Uma vez constatada a evidência estatística de taxa de
avarias crescente, não é usual, nestas circunstâncias,
efectuar a predição da fiabilidade através de um modelo
estatístico.
D. Exemplo de um sistema não reparável com tempos
entre avarias não IID
A fiabilidade de um equipamento (SR) é, obviamente,
influenciada pelos itens ou componentes (SNR) que o
constituem. Neste contexto, a fim de se poder melhorar a
fiabilidade e, portanto, o desempenho dos equipamentos
onde estão inseridos, é necessário definir os principais
elementos que os constituem e identificar os respectivos
modos de falha.
O resultado do teste de Laplace, a estimativa do MTTF e
os valores dos parâmetros de uma distribuição teórica
elegida para representar os dados, são indicadores
adequados para aferir o comportamento fiabilístico dos
componentes inseridos nos equipamentos.
Quando o teste de Laplace é formalmente conclusivo –
sempre que o valor de ET seja significativamente positivoconclui-se que os últimos tempos entre ocorrências não são
IID. Neste caso, há indícios estatísticos de dados
dependentes da ordem cronológica das ocorrências e/ou
oriundos de mais que uma população. Nestas
circunstâncias, convém averiguar, no contexto operacional,
a existência de causas que indiciem se estaremos na
presença de dados dependentes da ordem cronológica das
ocorrências ou oriundos de mais que uma população.
Não se prossegue para o cálculo dos parâmetros do modelo
de Weibull, ou de qualquer outra distribuição teórica que
se considere adequada, uma vez que o pressuposto IID não
é verificado e nestas circunstâncias, tal como referido por
Leitão [2], é errado ajustar os dados a qualquer distribuição
teórica.
E. Exemplo de um sistema não reparável com tempos entre
avarias IID e função de risco crescente
Quando, pela aplicação do teste de Laplace, há evidência
estatística no sentido de aceitar que os tempos entre
ocorrências são IID, ou seja, são provenientes de um
processo de Poisson Homogéneo, é viável ajustar os dados
a uma distribuição teórica. Pela sua versatilidade, é comum
prosseguir-se para o cálculo dos parâmetros do modelo de
Weibull. De entre os vários métodos analíticos referidos na
literatura que versa sobre esta temática, destaca-se o da
máxima verosimilhança, pelo qual recai a nossa
preferência, em virtude de serem dos melhores estimadores
que se podem obter, pois em geral são consistentes, tendem
a ser não enviesados e eficientes à medida que a dimensão
da amostra cresce. Informação adicional acerca deste
método pode ser vista em [4].
Considere-se, por exemplo, o caso em que a ET=0.0748. O
pressuposto de tempos entre ocorrências IID é verificado,
pelo que é viável prosseguir-se para o cálculo dos
parâmetros de um modelo teórico, tendo-se elegido, neste
caso, o modelo de Weibull. Na obtenção destes parâmetros
aplicaram-se métodos analíticos como o da máxima
verosimilhança, por produzirem estimadores eficientes,
consistentes e não enviesados á medida que a dimensão da
amostra cresce.
Considere-se, neste momento, a título de exemplo, um caso
em que no âmbito deste trabalho, foram obtidos os
seguintes valores para os parâmetros de Weibull:
= 2.545
= 13968.957 h
=0
Uma vez conhecidas as estimativas dos parâmetros da
distribuição de Weibull, é viável prosseguir para a
estimação da fiabilidade, obtendo-se o gráfico da Fig. 3.
$
$ % !
&
'(
#
Fig. 3. Fiabilidade de um componente com modos de avarias IID
e função de risco decrescente.
Pela análise deste gráfico é possível inferir as seguintes
propriedades:
• A Probabilidade de funcionar ao fim de 500 dias de
trabalho é aproximadamente 50%.
• A Probabilidade de falha ao fim de 1000 dias de
trabalho é praticamente 100%.
Para avaliar a eventual necessidade de substituição
preventiva deste componente nos equipamentos onde está
inserido, é indispensável verificar se a função de risco é
crescente, pois caso não o seja, a dita substituição não se
revela viável em virtude de não proporcionar benefícios
acrescidos.
F. Exemplo de um sistema não reparável com tempos entre
avarias IID e função de risco decrescente
Considere-se, uma vez mais, um certo conjunto de dados
históricos aos quais se aplicou o disposto no Algoritmo B
da metodologia apresentada na secção 3. Pela observação
da tabela seguinte verifica-se o pressuposto IID (ET=.068)
pelo que é viável prosseguir-se para o cálculo dos
parâmetros do modelo de Weibull. Obtiveram-se desta
forma os valores de 0.872 e 53.04, respectivamente para
e para .
ET
0,068
V . P r o v a T s t L a p l.
94,6%
IID
M TTF
0,000943
1060,4
Fia b ilid
( d ia s )
53,40 0,872
Uma vez conhecidas as estimativas dos parâmetros da
distribuição de Weibull, a estimativa da fiabilidade pode
ser observada através do gráfico mostrado na Fig. 4.
A partir desse gráfico podemos inferir as seguintes
propriedades:
• A Probabilidade de funcionar ao fim de 50 dias de
trabalho é apenas 40%.
• A Probabilidade de falha ao fim de 200 dias de trabalho
é praticamente 100%.
Uma vez que o parâmetro de forma da distribuição é
inferior a 1 ( =0.872) não faz sentido efectuar teste de
hipóteses à função de risco crescente, uma vez que a
substituição de prevenção não se repercutirá em ganhos
adicionais.
$
")
&
'(
#
estimou-se, no âmbito de uma dissertação de Mestrado,
subordinada ao tema “Definição de Metodologias de
Manutenção para a Indústria. Caso Prático”, o
comportamento fiabilístico dos equipamentos através do
conhecimento da distribuição estatística das avarias e da
função de risco. Este conhecimento, se devidamente
utilizado, poderá assegurar a eficácia e o controlo
adequado dos activos da produção, o que se poderá
repercutir na geração de riqueza para a empresa.
Referências
Fig. 4. Fiabilidade de um componente com modos de avarias IID
e função de risco crescente.
5. Conclusões
Pretendendo-se optimizar a estrutura da manutenção de
uma empresa industrial, Faurécia, Sistemas de Escape, SA,
[1] Harol Ascher and Harry Feingold. Reparaible Systems
Reliability – Modeling, Inference, Misconceptions and their
causes. Marcel Dekker, Inc., New York, 1984, p.7,8,160.
[2] Armando L. F. Leitão. Curso de Mestrado em Engenharia
Industrial, Universidade do Minho. Sebenta de apoio, 1999.
[3] O´Connor, P. D.T. (1995) – Practical Reliability Engineering,
Jonh Wiley & Sons, third revised edition, 1995, p. 341.
[4] Guimarães, Rui, Cabral, J. S. (1997) - Estatística, McGraw–
Hill de Portugal.
Download

Predição de Falhas no Apoio à Decisão na Gestão da Manutenção