XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ)
Especificar a Área do trabalho
FP
Licenciatura de Química articulada com a formação do professor de
Ciências Naturais do Ensino Fundamental
Otavio Aloisio Maldaner1 *(PQ), Vanessa Sandri2 (PG), Sandra Elisabet Bazana Nonenmacher3
(FM) [email protected] *
1,2 e 3
Rua São Francisco, nº 501, sala 214 B: São Geraldo CEP: 98700-000
Palavras Chave: Formação de professores, ensino de Ciências Naturais, pesquisa científica
Resumo: O texto relata investigação sobre espaços de formação de professores de Ciências Naturais no Curso de
Licenciatura de Química. Ciências Naturais em forma de disciplinas no Ensino Fundamental é conseqüência da
falta de professores com o perfil para a abordagem do componente como área de conhecimento. Licenciados em
Química, Física e Ciências Biológicas assumem aulas de Ciências Naturais para o qual não estão qualificados,
mesmo que habilitados. Espaços e ações destinados à formação do professor de Ciências Naturais na Licenciatura
de Química da Unijuí são privilegiados ao longo do Curso, visando superar o problema da falta de qualificação dos
professores de Ciências Naturais . Alguns componentes curriculares propõem a pesquisa educacional como
princípio e prática formativa, possibilitando vivências e discussões de propostas metodológicas interdisciplinares e
de desenvolvimento de currículo em Ciências Naturais , além da Química.
INTRODUÇÃO
Este artigo problematiza a questão da formação específica do professor de Ciências
Naturais como componente curricular da Educação Fundamental. As atuais licenciaturas de
Química, Fís ica e Ciências Biológicas se preocupam com a qualificação dos professores para os
componentes curriculares da área de conhecimento das Ciências da Natureza e suas Tecnologias
no ensino médio, esquecendo-se das características especiais da formação para as Ciências
Naturais da 5a a 8a séries. Ao analisarmos a formação inicial dos professores de Ciências
Naturais no Brasil ao longo das últimas décadas podemos acompanhar várias mudanças. Uma
delas está aliada a mudança na estrutura de organização dos cursos de licenciatura que formam o
professor de Ciências Naturais do Ensino Fundamental. Os Cursos de Ciências na modalidade de
Licenciatura Curta foram sendo extintos, gradativamente, desde os primeiros anos de sua
criação, porém, só nos anos noventa, já no final do século XX, isso veio a se concretizar de
forma definitiva. A partir da promulgação da LDB 9394/96 a exigência mínima de formação
passou a ser a Graduação Plena, Pedagogia e Licenciatura Plena, para todos os professores da
educação básica.
Art. 62º. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério
na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 96)
Isso provoca uma reorganização nos cursos de licenciatura oferecidos pelas instituições
de ensino superior. A formação do professor de Ciências Naturais das séries finais do ensino
fundamental passa a não ter um espaço de formação específica. Os professores de Ciências
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Naturais, na medida em que diminuiu o número de formados nas Licenciaturas de Ciências, tanto
na modalidade de curta duração quanto de duração plena, passaram a ser os habilitados em
Química, Física e Ciências Biológicas. Na prática, o maior número de professores desse
componente é composto por professores licenciados nas Ciências Biológicas, por estes
profissionais se identificarem mais com a ênfase dada à Biologia nas propostas curriculares para
a Educação Fundamental. Conteúdos de Física e Química sempre foram introduzidos na última
série desse grau de ensino, para a qual os licenciados em Ciências Biológicas não se sent em
capacitados. Para essa série lecionam professores formados em Física e/ou Química, quando
disponíveis nas escolas. De forma geral, hoje, nenhuma das licenciaturas da Área das Ciências da
Natureza tem a preocupação explícita de formar o professor de Ciências Naturais. Assim,
embora os licenciados da Área possam, legalmente, lecionar o componente disciplinar de
Ciências Naturais eles não possuem as competências constituídas para tal.
Pergunta-se: pode-se qualificar um professor de Ciências Naturais para o Ensino
Fundamental no interior desses cursos? É correto que apenas graduados em Ciências Biológicas
assumam a responsabilidade da iniciação dos adolescentes brasileiros nas Ciências da Natureza e
suas Tecnologias? Como ficam os entendimentos do mundo natural e sócio-tecnológico sem os
conceitos bem situados da Astronomia, Física, Química, Geologia? O que pode ser feito para que
equipes interdisciplinares da área das Ciências planejem e produzam currículos mais consistentes
para essa iniciação científica dos adolescentes?
Não há diretrizes previstas para licenciaturas de Ciências Naturais, (MEC) embora
existam alguns cursos no Brasil com essa preocupação específica. As diretrizes de Química e
Ciências Biológicas falam da necessidade de formação do professor também para o ensino
fundamental, sem entrar em maiores detalhes. Entendemos que há um vazio que precisa ser
preenchido, pois boas aprendizagens nas Ciências Naturais podem ajudar muito na inserção
cultural das novas gerações e no seu desenvolvimento como pessoas participantes do meio social
na busca da melhor qualidade de vida. Para isso as licenciaturas da área têm uma função social
importante a cumprir: qualificar o professor para o ensinar e o aprender das Ciências.
Na primeira parte do texto é problematizada a questão professor de Ciências Naturais
como uma qualificação necessária. A segunda parte discute compreensões sobre o currículo de
Ciências Naturais a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Na terceira parte mostra-se a
possibilidade de unificar esses dois campos através da pesquisa que privilegia a relação entre o
campo do currículo e o campo da formação dos professores. As investigações que unem
formação do professor na produção de propostas curriculares podem proporcionar mudanças no
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ensino superior no que diz respeito às licenciaturas e no ensino básico pela qualificação que
podem proporcionar.
CIÊNCIAS NATURAIS E QUALIFICAÇÃO DE PROFESSORES : UM PROBLEMA A SER ENFRENTADO
Ciências Naturais no ensino fundamental vem se mantendo como compone nte curricular
nas últimas décadas, resistindo às fragmentações do conhecimento em disciplinas, como
aconteceu, por exemplo, com as Ciências Sociais. Até hoje, Ciências Naturais constitui-se em
área de conhecimento, compreendendo conteúdos e conceitos das matérias de Física, Química,
Biologia, Geologia, Ciências Ambientais, Astronomia, Paleontologia e outras. Embora haja
vozes no meio científico que fazem a defesa de se desmembrar as Ciências Naturais em
disciplinas, como Física, Química e Biologia, essas defesas não são veementes e nem
fundamentadas em princípios pedagógicos e educacionais da área científica.
Na prática escolar, no entanto, o componente das Ciências Naturais é tratado na forma
disciplinar, principalmente, após a quinta série. Nesse particular, a matéria de Biologia é bastante
valorizada, contemplando as disciplinas de Zoologia e Botânica na sexta série, Anatomia
Humana e Fisiologia Humana na sétima série. Na oitava série reserva-se um semestre para a
Física e outro para a Química. Na quinta série prevalecem três temáticas, não se caracterizando
como disciplinas: Água, Ar e Solo. A maior parte dos livros didáticos, ao menos os mais
indicados pelos professores, mesmo que contemplem minimamente orientações oficiais para as
Ciências Naturais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais, preservam essa mesma
distribuição disciplinar nas mesmas séries citadas.
Se o quadro traçado, bastante caricaturado, corresponde aproximadamente ao real das
salas de aula de Ciências Naturais no ensino fundamental, temos apenas o nome de uma área de
conhecimento. Esvaem-se, assim, os principais argumentos para preservar o componente das
Ciências Naturais, que supõe a abordagem inter e transdisciplinar do componente, a
contextualização das aulas em torno de temáticas que exigem a recontextualização dos conteúdos
científicos, o entendimento do meio natural e tecno-social do qual participam os escolares.
Entendemos que a fragmentação das Ciências Naturais em disciplinas é conseqüência
natural da falta de professores formados com o perfil necessário para a abordagem do
componente como área de conhecimento. Mesmo que tenha sido formado um grande contingente
de professores na antiga Licenciatura Curta de Ciências, com um perfil planejado para o
magistério das Ciências Naturais, principalmente, na década de sessenta e setenta do século
passado, essa Licenciatura se caracterizou como um conjunto de disciplinas de Física, Química,
Biologia, Geologia. Muito cedo essa modalidade de Curso com curta duração, mesmo que tenha
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cumprido um papel histórico de formar rapidamente professores para a demanda por educação
em expansão, logo recebeu contundentes críticas da comunidade científica pela superficialidade
na formação científica recebida. Já na metade dos anos setenta, com base no parecer 30/74,
muitas Licenciaturas Curtas foram convertidas em Licenciatura Plena em Ciências, com
Habilitações em Física, Química, Biologia ou Matemática. Uma vez habilitados, a maioria dos
professores formados em Ciências acabou atuando no ensino médio, devido à carência de
licenciados em Física, Química e Biologia, após a plenificação. Com isso se perdeu importante
contingente de professores de Ciências Naturais. Na década de oitenta, muitos desses Cursos
extinguiram a possibilidade da dupla formatura: Ciências para o então 10 Grau e Licenciatura
Plena de Ciências com Habilitação para o 20 Grau. Mantiveram, porém, a formação em Ciências
para o ensino fundamental, como uma habilitação para o magistério do componente curricular
das Ciências Naturais.
De forma geral, as grandes Universidades Públicas, que não aceitaram a modalidade da
Licenciatura Curta e mesmo a Licenciatura Plena com Habilitações, continuaram a formar
professores nas licenciaturas tradicionais, na modalidade que ficou conhecida como 3+1, isto é,
bacharelado com complementação através de disciplinas psicopedagógicas mais estágio
supervisionado. Sabe-se, hoje, que a maior parte desses licenciados acabou não atuando na
educação básica, compondo os quadros das IES pela continuidade de estudos em nível de PósGraduação, ou quadros em outros setores que não a educação.
Algumas Instituições de Educação Superior (IES) criaram cursos específicos de
Licenciatura Plena em Ciências. Como exemplos podem ser citadas a Universidade de Passo
Fundo, RS, Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade de Maringá em
Campus de Goioerê, PR. Isso ocorreu na década de oitenta do século passado. Nesses cursos
havia a preocupação de formar professores para o ensino fundamental, da 5a a 8a séries. Muitos
desses cursos não existem mais, por vários motivos que precisam ser compreendidos.
A habilitação para assumir o componente curricular de Ciências Naturais no ensino
fundamental é adquirida com uma Licenciatura de Física, Química, Ciências Biológicas, que são
os cursos mais oferecidos nas IES. Há outras, como Geologia, Ciências apenas para o ensino
fundamental, Ciências para o ensino fundamental e médio, mas que representam um número de
licenciados muito pequeno diante da modalidade mais comum de Licenciaturas. Entre estas, o
maior contingente de formandos é o de Ciências Biológicas. São os Biólogos que ocupam o
maior número de vagas no ensino fundamental, criando um nicho de mercado. Não há mais
legislação que defina a qual licenciando devam ser atribuídas aulas de Ciências Naturais, ou
quem pode prestar concurso para esse componente nas secretarias estaduais e municipais. É o
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empregador que pode fazer restrições ou não para uma determinada licenciatura. Isso tem
acontecido muito com relação às licenciaturas de Física e Química. Com isso se consolida o
nicho de mercado para os Biólogos.
Estima-se que há uma falta de 250 mil professores para o ensino médio no Brasil nesses
três componentes, com maior carência de licenciados em Física e Química. Essas carências são
maiores em municípios mais afastados dos centros de formação e estes são, em geral, pequenos
municípios, com escolas menores. Isso faz com que os licenciados se obriguem a assumir aulas
do componente de Ciências Naturais para o qual não estão qualificados, mesmo que habilitados.
Deve-se ressaltar que os Biólogos também não estão qualificados, embora habilitados, tendo em
vista as características singulares do componente, como descrito anteriormente.
No próximo item deste texto, faz-se um resumo sobre o que dizem os documentos
oficiais, especialmente os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais, sobre o
componente disciplinar das Ciências Naturais para o ensino fundamental. Isso vai reforçar os
argumentos para a necessidade de se pensar as Licenciaturas na área com a idéia de qualificar,
também, o professor de Ciências Naturais para o ensino fundamental.
CIÊNCIAS NATURAIS NA VISÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são os documentos que balizam o
ensino de Ciências Naturais no ensino fundamental no Brasil. Apesar de completarem 10 anos
desde seu lançamento e encaminhamento às escolas de educação básica de todo o País, poucas
mudanças têm ocorrido em nível de sala de aula no sentido de incorporação das orientações
curriculares presente nos mesmos.
Os PCN de Ciências Naturais propõem 4 eixos temáticos, Terra e Universo, Vida
e Ambiente, Ser Humano e Saúde e Tecnologia e Sociedade, para a articulação dos diferentes
conceitos, procedimentos, atitudes e valores necessários a cada um dos ciclos de escolaridade.
Os quatros eixos são propostos para os dois ciclos correspondentes às quatro séries finais do
ensino fundamental e devem ser desenvolvidos ao longo dos ciclos de forma articulada entre si e
com temas transversais.
Além dos volumes específicos de cada área do conhecimento, Ciências Naturais,
História, Matemática, Geografia, Educação Física, Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, há
um volume que apresenta os sete temas transversais, Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural,
Orientação Sexual, Saúde, Trabalho e Consumo que corroboram o caráter interdisciplinar
destinado às séries finais do ensino fundamental.
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Segundo os documentos, a compreensão dos fenômenos naturais articulados entre
si e com a tecnologia confere ao componente de Ciências Naturais uma perspectiva
interdisciplinar, abrangendo conhecimentos biológicos, físicos, químicos, sociais, culturais e
tecnológicos (Brasil, 1998). A análise dos conteúdos propostos em cada um dos quatro ciclos,
também, aponta a necessidade de uma proposta interdisciplinar que articule os conceitos de
Física, Química e Biologia, além de conceitos de outras áreas do conhecimento.
Como exemplo dessa compreensão, pode-se citar o eixo Terra e Universo (1998,
p.22) o qual sugere que as distâncias astronômicas devem ser trabalhadas com os estudantes,
aliando o conhecimento do modelo heliocêntrico de Sistema Solar aos movimentos de rotação e
translação e suas influências no clima, nas formas de vida e nos ecossistemas terrestre. Os
conteúdos e conceitos que podem ser explorados junto aos estudantes do ensino fundamental,
necessários para a compreensão dessa temática, conforme aparece nos Parâmetros são: o ano- luz,
as noções de tempo e distância, os modelos geocêntricos e heliocêntricos e suas implicações para
mudanças culturais e sociais, os movimentos terrestre, a fauna e flora terrestre, a influência do
ambiente nas formas e manutenção de determinados tipos de vida, entre outros.
Pode-se afirmar no que diz respeito à qualificação do currículo em Ciências
Naturais, os PCN estão mais avançados em termos de orientação do que a organização curricular
ainda em desenvolvimento nas aulas de Ciências Naturais, que mantém na prática os conteúdos
de Botânica e Zoologia para a sexta série, por exemplo, o que privilegia os conteúdos de
Biologia em detrimento dos conteúdos de Química e Física que são trabalhados intencionalmente
apenas na 8ª série. O que é pior, os conteúdos de Física e Química que são trabalhados nessa
série são antecipações grosseiras de conteúdos também trabalhados no ensino médio, criando
verdadeiro pavor nos adolescentes quanto ao que os espera no novo grau de ensino.
Essa organização curricular por eixos temáticos, além de permitir/exigir que se
desenvolvam temáticas interdisciplinares, tem ocasionado modificações gradativas na
organização dos conteúdos dos livros didáticos. As editoras, através dos autores de livros
didáticos de Ciências Naturais, têm incorporado orientações dos PCN, apresentando conteúdos
relativos aos quatro eixos temáticos para as quatro séries finais do ensino fundamental, porém de
forma desarticulada na forma de item por eixo. Contemplar os quatro eixos na organização dos
conteúdos presentes nos livros didáticos não significa que o tratamento destes conteúdos ou
conceitos seja de caráter interdisciplinar. Ainda é muito marcante a separação dos componentes
de Biologia, Física e Química, bem como o predomínio de conceitos de Biologia, no Ensino de
Ciências Naturais do ensino fundamental.
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O CAMPO DA PESQUISA EM CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CIÊNCIAS NATURAIS
A pesquisa em Educação em Ciências, com a criação da área Ensino de Ciências e
Matemática na CAPES em 2000, está em franca expansão. Isso pode ser avaliado pelo número
de novos Programas de Pós-Graduação stricto sensu, apresentação de trabalhos em congressos
voltados para a área, como os Encontros Nacionais de Educação em Ciências. Essa produção
atende, muitas vezes, a finalidades acadêmicas, como a produção de uma Dissertação, Tese ou
publicação que qualificam os Programas de Pós-Graduação. Cachapuz, citado por Delizoicov
(2007), afirma: “apesar de substanciais progressos feitos nos últimos anos em Portugal no que
respeita à IDC [investigação em didática das ciências] as expectativas sobre o seu papel no que
respeita a um melhor conhecimento sobre ensino e aprendizagem das Ciências (em particular no
âmbito do ensino não superior) estão longe de ter tido até hoje respostas plenamente
satisfatórias” (p.420). Delizoicov afirma, em seguida, que aqui no Brasil este vínculo entre a
pesquisa realizada e as mudanças no ensino de ciências também é fraco. Isso é sempre
constatado quando olhamos as salas de aula de Ciências nas escolas, como afirmamos
anteriormente.
Essas constatações mostram que o foco da pesquisa em Educação em Ciências talvez
devesse sofrer mudanças. O novo foco deverá aproximar a formação dos professores para a
educação básica com o desenvolvimento de currículo. Essa preocupação levou o nosso grupo de
pesquisa a criar a linha de pesquisa “Currículo e Formação de Professores”. Compreende-se que
pesquisar sobre currículo em processos interativos de professores de escola, professores das
licenciaturas e licenciandos, prática implementada em nosso grupo há vários anos, proporciona
melhoras no ensino, tanto na licenciatura, quanto nas escolas. As relações na formação de
professores e produção de currículo não são dadas e nem fixadas. Elas evoluem quando se atua
sobre ela. Do contrário corre-se o risco de formar professores que vão encontrar um currículo
que não compreendem e não conseguem desenvolver.
Relata-se aqui, de forma breve, uma investigação em andamento sobre a possibilidade
de formar os professores para o ensino de Ciências Naturais dentro dos cursos de Ciências
Biológicas e Química com o propósito de torná-los qualificados para produzirem as mudanças
nas escolas no que diz respeito ao ensinar e aprender as Ciências Naturais. As perguntas básicas
são: há a intenção clara e explícita de qualificar o professor de Ciências Naturais nessas duas
Licenciaturas? São implementadas práticas de formação que levem os licenciandos a produzirem
propostas curriculares para o ensino fundamental? Os licenciandos cursam componentes em que
desenvolvem habilidades de pesquisa que lhes permite executar com suficiente competência
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essas atividades? Os espaços e ações proporcionados repercutem em sua formação de
professores de Ciências Naturais com a competência inicial necessária?
Constatou-se que nos cursos de Licenciatura em Química e Ciências Biológicas da
Unijuí o espaço destinado à formação do professor de Ciências Naturais do ensino fundamental é
contemplado ao longo de todo o curso. Foram implantados nesses cursos componentes
curriculares que têm a pesquisa educacional como princípio e como prática, e componentes que
possibilitam vivências e discussões de propostas metodológicas interdisciplinares para o ensino
de Ciências Naturais. Esses componentes correspondem a um total de 375 horas.
No inicio dos Cursos o componente Fundamentos Teóricos e Práticos em Ciências
busca compreender os vários ecossistemas, abordando os métodos básicos utilizados na
caracterização física, química, geológica, geográfica e biológica desses sistemas em saídas a
campo com acompanhamento de docentes como equipe interdisciplinar. No momento da
interação com a escola, também previsto como atividade no componente, o licenciando propõe
formas de trabalhar os conteúdos e conceitos de Ciências Naturais na perspectiva de atividades
práticas de campo semelhantes às desenvolvidas nesse componente curricular.
Os componentes curriculares das Licenciaturas, Ensino de Ciências I e II, visam
rediscutir o ensino de ciências em nível fundamental e capacitar os licencia ndos para a
elaboração e desenvolvimento de Situações de Estudo - reorganização Curricular proposta a
partir de situações de vivência dos alunos e conceitualmente ricas. Essas situações contemplam
conteúdos na forma interdisciplinar, intercomplementar e transdisciplinar.
Nos componentes curriculares Pesquisa em Ensino de Ciências I (PEC I) e Pesquisa em
Ensino de Ciências II, (PEC II) há a preocupação específica com a pesquisa associada ao ensino
de Ciências Naturais no ensino fundamental. Busca-se a formação do professor para o ensino de
Ciências Naturais e a constituição do professor pesquisador como atividade curricular e prática
formativa. Vários trabalhos, que mostram essas possibilidades já testadas, foram apresentados
como: Sandri e Maldaner (2006); Sandri, Nonenmacher e Maldaner (2006, 2007).
Nos componentes de Ciê ncias I e II, também orientados por equipe interdisciplinar, os
acadêmicos foram capazes de produzir importantes roteiros de ensino para diferentes séries da
Educação Fundamental. Isso eles fazem, também, em interação com professores de escolas nos
espaços das Práticas de Ensino para as quais são orientados durante todo o Curso.
Verificou-se ainda, através de acompanhamento por pesquisa, que os acadêmicos
começam a se envolver com a pesquisa educacional e se tornam eles próprios pesquisadores. No
componente PEC I os licenciandos foram orientados a elaborar pequenos Projetos de Pesquisa
conforme o interesse em um sub-tema ligado ao ensino de Ciências Naturais. No componente
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curricular PEC II, os estudantes foram orientados a organizar um relato de pesquisa, um resumo
para submissão em possível evento científico e uma proposta de artigo científico. A análise do
material empírico produzido pelos licenciandos, a partir de respostas dadas em memorial sobre
sua formação em Ciências Naturais na educação fundamental, proporcionou importantes temas
de pesquisa.
Os dados produzidos nesses pequenos projetos de pesquisa apresentaram uma grande
aproximação com investigações já realizadas sobre problemáticas no Ensino de Ciências
Naturais e a formação de professores para essa área: ênfase quase exclusiva em conceitos de
Biologia, esquecendo conceitos de Física e Química nos currículos escolares; pouca existência
de atividades experimentais nas aulas de Ciências Naturais; uso de um único livro didático como
suporte para o desenvolvimento das aulas; dificuldade de efetivar atividades interdisciplinares e
de atualização dos professores de Ciências; concepção de ciência descontextualizada do contexto
tecno-sócio-cultural.
CONSIDERAÇÕES
Apesar da grande produção científica na área da Educação em Ciências, as salas de aula
na educação básica e as licenciaturas pouco mudaram. É necessário aprofundar a investigação
sobre a natureza dessas pesquisas e compreender por que não produzem melhoras sensíveis na
educação científica, como mostram diversas avaliações realizadas nos últimos anos. No que se
refere ao componente das Ciências Naturais, é bastante evidente que as orientações oficiais,
explicitadas nos PCN, mesmo que representem algumas das principais compreensões produzidas
na comunidade de pesquisadores da área, também não conseguiram sensibilizar os professores
para que acontecesse a mudança. Há, também, considerável volume de pesquisas sobre os
professores, sua formação inicial e continuada, suas práticas e suas competências. As pesquisas,
em geral, configuram-se em dois campos distintos: currículos em Ciências e formação de
professores. Nós trabalhamos com a hipótese da relação entre esses dois campos, unificada na
idéia de formar os professores, tanto na Graduação, quanto no exe rcício do magistério, na
produção de sua proposta curricular. Alguns avanços puderam ser constatados em nossa
investigação.
Apesar da grande produção científica na área da Educação em Ciências as salas de
aula de Ciências na educação básica pouco mudaram.
REFÊRENCIAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais. Brasília, 1998.
UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR.
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DELIZOICOV, Demétrio. Pesquisa em Ensino de Ciências como Ciências Humanas Aplicadas.
In: NARDI, Roberto (org). A Pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes.
São Paulo: Ed. Escrituras, 2007, p.413-449.
MALDANER Otavio Aloisio; ZANON Lenir Basso; Situação de estudo: uma organização do
ensino que extrapola a formação disciplinar em Ciências In:MORAES, Roque & MANCUSO,
Ronaldo. (org). Educação em Ciências: produção de currículos e formação de professores.
Ijuí: Ed. Unijuí, 2006 p. 43-64.
SANDRI, Vanessa; NONEMMCHER, Sandra Elisabet; MALDANER, Otavio Aloísio. A
Formação pela Pesquisa nos Cursos de Licenciaturas em Química e Ciências Biológicas na
Unijuí. In:Anais do XIII Encontro Nacional de Ensino de Química. Encontro paulista de
Pesquisa em Ensino de Química VI SIMPEQ, campinas SP, 2006.
SANDRI, Vanessa; MALDANER, Otavio Aloísio. O ensino da pesquisa em educação em
Ciências como atividade curricular na licenciatura. In: Anais da 30º Reunião Anual da Sociedade
Brasileira de Química, Águas de Lindóia SP, 2007.
SANDRI Vanessa, NONENMACHER Sandra, MALDANER Otavio Aloísio. Licenciatura em
Química e formação de professores em Ciências Naturais: possibilidades concretas na formação
pela pesquisa. In: Anais do XXVII- Encontro de Debates sobre o Ensino de Química Erechim,
2007.
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