XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP Licenciatura de Química articulada com a formação do professor de Ciências Naturais do Ensino Fundamental Otavio Aloisio Maldaner1 *(PQ), Vanessa Sandri2 (PG), Sandra Elisabet Bazana Nonenmacher3 (FM) [email protected] * 1,2 e 3 Rua São Francisco, nº 501, sala 214 B: São Geraldo CEP: 98700-000 Palavras Chave: Formação de professores, ensino de Ciências Naturais, pesquisa científica Resumo: O texto relata investigação sobre espaços de formação de professores de Ciências Naturais no Curso de Licenciatura de Química. Ciências Naturais em forma de disciplinas no Ensino Fundamental é conseqüência da falta de professores com o perfil para a abordagem do componente como área de conhecimento. Licenciados em Química, Física e Ciências Biológicas assumem aulas de Ciências Naturais para o qual não estão qualificados, mesmo que habilitados. Espaços e ações destinados à formação do professor de Ciências Naturais na Licenciatura de Química da Unijuí são privilegiados ao longo do Curso, visando superar o problema da falta de qualificação dos professores de Ciências Naturais . Alguns componentes curriculares propõem a pesquisa educacional como princípio e prática formativa, possibilitando vivências e discussões de propostas metodológicas interdisciplinares e de desenvolvimento de currículo em Ciências Naturais , além da Química. INTRODUÇÃO Este artigo problematiza a questão da formação específica do professor de Ciências Naturais como componente curricular da Educação Fundamental. As atuais licenciaturas de Química, Fís ica e Ciências Biológicas se preocupam com a qualificação dos professores para os componentes curriculares da área de conhecimento das Ciências da Natureza e suas Tecnologias no ensino médio, esquecendo-se das características especiais da formação para as Ciências Naturais da 5a a 8a séries. Ao analisarmos a formação inicial dos professores de Ciências Naturais no Brasil ao longo das últimas décadas podemos acompanhar várias mudanças. Uma delas está aliada a mudança na estrutura de organização dos cursos de licenciatura que formam o professor de Ciências Naturais do Ensino Fundamental. Os Cursos de Ciências na modalidade de Licenciatura Curta foram sendo extintos, gradativamente, desde os primeiros anos de sua criação, porém, só nos anos noventa, já no final do século XX, isso veio a se concretizar de forma definitiva. A partir da promulgação da LDB 9394/96 a exigência mínima de formação passou a ser a Graduação Plena, Pedagogia e Licenciatura Plena, para todos os professores da educação básica. Art. 62º. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 96) Isso provoca uma reorganização nos cursos de licenciatura oferecidos pelas instituições de ensino superior. A formação do professor de Ciências Naturais das séries finais do ensino fundamental passa a não ter um espaço de formação específica. Os professores de Ciências XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP Naturais, na medida em que diminuiu o número de formados nas Licenciaturas de Ciências, tanto na modalidade de curta duração quanto de duração plena, passaram a ser os habilitados em Química, Física e Ciências Biológicas. Na prática, o maior número de professores desse componente é composto por professores licenciados nas Ciências Biológicas, por estes profissionais se identificarem mais com a ênfase dada à Biologia nas propostas curriculares para a Educação Fundamental. Conteúdos de Física e Química sempre foram introduzidos na última série desse grau de ensino, para a qual os licenciados em Ciências Biológicas não se sent em capacitados. Para essa série lecionam professores formados em Física e/ou Química, quando disponíveis nas escolas. De forma geral, hoje, nenhuma das licenciaturas da Área das Ciências da Natureza tem a preocupação explícita de formar o professor de Ciências Naturais. Assim, embora os licenciados da Área possam, legalmente, lecionar o componente disciplinar de Ciências Naturais eles não possuem as competências constituídas para tal. Pergunta-se: pode-se qualificar um professor de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental no interior desses cursos? É correto que apenas graduados em Ciências Biológicas assumam a responsabilidade da iniciação dos adolescentes brasileiros nas Ciências da Natureza e suas Tecnologias? Como ficam os entendimentos do mundo natural e sócio-tecnológico sem os conceitos bem situados da Astronomia, Física, Química, Geologia? O que pode ser feito para que equipes interdisciplinares da área das Ciências planejem e produzam currículos mais consistentes para essa iniciação científica dos adolescentes? Não há diretrizes previstas para licenciaturas de Ciências Naturais, (MEC) embora existam alguns cursos no Brasil com essa preocupação específica. As diretrizes de Química e Ciências Biológicas falam da necessidade de formação do professor também para o ensino fundamental, sem entrar em maiores detalhes. Entendemos que há um vazio que precisa ser preenchido, pois boas aprendizagens nas Ciências Naturais podem ajudar muito na inserção cultural das novas gerações e no seu desenvolvimento como pessoas participantes do meio social na busca da melhor qualidade de vida. Para isso as licenciaturas da área têm uma função social importante a cumprir: qualificar o professor para o ensinar e o aprender das Ciências. Na primeira parte do texto é problematizada a questão professor de Ciências Naturais como uma qualificação necessária. A segunda parte discute compreensões sobre o currículo de Ciências Naturais a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Na terceira parte mostra-se a possibilidade de unificar esses dois campos através da pesquisa que privilegia a relação entre o campo do currículo e o campo da formação dos professores. As investigações que unem formação do professor na produção de propostas curriculares podem proporcionar mudanças no UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP ensino superior no que diz respeito às licenciaturas e no ensino básico pela qualificação que podem proporcionar. CIÊNCIAS NATURAIS E QUALIFICAÇÃO DE PROFESSORES : UM PROBLEMA A SER ENFRENTADO Ciências Naturais no ensino fundamental vem se mantendo como compone nte curricular nas últimas décadas, resistindo às fragmentações do conhecimento em disciplinas, como aconteceu, por exemplo, com as Ciências Sociais. Até hoje, Ciências Naturais constitui-se em área de conhecimento, compreendendo conteúdos e conceitos das matérias de Física, Química, Biologia, Geologia, Ciências Ambientais, Astronomia, Paleontologia e outras. Embora haja vozes no meio científico que fazem a defesa de se desmembrar as Ciências Naturais em disciplinas, como Física, Química e Biologia, essas defesas não são veementes e nem fundamentadas em princípios pedagógicos e educacionais da área científica. Na prática escolar, no entanto, o componente das Ciências Naturais é tratado na forma disciplinar, principalmente, após a quinta série. Nesse particular, a matéria de Biologia é bastante valorizada, contemplando as disciplinas de Zoologia e Botânica na sexta série, Anatomia Humana e Fisiologia Humana na sétima série. Na oitava série reserva-se um semestre para a Física e outro para a Química. Na quinta série prevalecem três temáticas, não se caracterizando como disciplinas: Água, Ar e Solo. A maior parte dos livros didáticos, ao menos os mais indicados pelos professores, mesmo que contemplem minimamente orientações oficiais para as Ciências Naturais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais, preservam essa mesma distribuição disciplinar nas mesmas séries citadas. Se o quadro traçado, bastante caricaturado, corresponde aproximadamente ao real das salas de aula de Ciências Naturais no ensino fundamental, temos apenas o nome de uma área de conhecimento. Esvaem-se, assim, os principais argumentos para preservar o componente das Ciências Naturais, que supõe a abordagem inter e transdisciplinar do componente, a contextualização das aulas em torno de temáticas que exigem a recontextualização dos conteúdos científicos, o entendimento do meio natural e tecno-social do qual participam os escolares. Entendemos que a fragmentação das Ciências Naturais em disciplinas é conseqüência natural da falta de professores formados com o perfil necessário para a abordagem do componente como área de conhecimento. Mesmo que tenha sido formado um grande contingente de professores na antiga Licenciatura Curta de Ciências, com um perfil planejado para o magistério das Ciências Naturais, principalmente, na década de sessenta e setenta do século passado, essa Licenciatura se caracterizou como um conjunto de disciplinas de Física, Química, Biologia, Geologia. Muito cedo essa modalidade de Curso com curta duração, mesmo que tenha UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP cumprido um papel histórico de formar rapidamente professores para a demanda por educação em expansão, logo recebeu contundentes críticas da comunidade científica pela superficialidade na formação científica recebida. Já na metade dos anos setenta, com base no parecer 30/74, muitas Licenciaturas Curtas foram convertidas em Licenciatura Plena em Ciências, com Habilitações em Física, Química, Biologia ou Matemática. Uma vez habilitados, a maioria dos professores formados em Ciências acabou atuando no ensino médio, devido à carência de licenciados em Física, Química e Biologia, após a plenificação. Com isso se perdeu importante contingente de professores de Ciências Naturais. Na década de oitenta, muitos desses Cursos extinguiram a possibilidade da dupla formatura: Ciências para o então 10 Grau e Licenciatura Plena de Ciências com Habilitação para o 20 Grau. Mantiveram, porém, a formação em Ciências para o ensino fundamental, como uma habilitação para o magistério do componente curricular das Ciências Naturais. De forma geral, as grandes Universidades Públicas, que não aceitaram a modalidade da Licenciatura Curta e mesmo a Licenciatura Plena com Habilitações, continuaram a formar professores nas licenciaturas tradicionais, na modalidade que ficou conhecida como 3+1, isto é, bacharelado com complementação através de disciplinas psicopedagógicas mais estágio supervisionado. Sabe-se, hoje, que a maior parte desses licenciados acabou não atuando na educação básica, compondo os quadros das IES pela continuidade de estudos em nível de PósGraduação, ou quadros em outros setores que não a educação. Algumas Instituições de Educação Superior (IES) criaram cursos específicos de Licenciatura Plena em Ciências. Como exemplos podem ser citadas a Universidade de Passo Fundo, RS, Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade de Maringá em Campus de Goioerê, PR. Isso ocorreu na década de oitenta do século passado. Nesses cursos havia a preocupação de formar professores para o ensino fundamental, da 5a a 8a séries. Muitos desses cursos não existem mais, por vários motivos que precisam ser compreendidos. A habilitação para assumir o componente curricular de Ciências Naturais no ensino fundamental é adquirida com uma Licenciatura de Física, Química, Ciências Biológicas, que são os cursos mais oferecidos nas IES. Há outras, como Geologia, Ciências apenas para o ensino fundamental, Ciências para o ensino fundamental e médio, mas que representam um número de licenciados muito pequeno diante da modalidade mais comum de Licenciaturas. Entre estas, o maior contingente de formandos é o de Ciências Biológicas. São os Biólogos que ocupam o maior número de vagas no ensino fundamental, criando um nicho de mercado. Não há mais legislação que defina a qual licenciando devam ser atribuídas aulas de Ciências Naturais, ou quem pode prestar concurso para esse componente nas secretarias estaduais e municipais. É o UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP empregador que pode fazer restrições ou não para uma determinada licenciatura. Isso tem acontecido muito com relação às licenciaturas de Física e Química. Com isso se consolida o nicho de mercado para os Biólogos. Estima-se que há uma falta de 250 mil professores para o ensino médio no Brasil nesses três componentes, com maior carência de licenciados em Física e Química. Essas carências são maiores em municípios mais afastados dos centros de formação e estes são, em geral, pequenos municípios, com escolas menores. Isso faz com que os licenciados se obriguem a assumir aulas do componente de Ciências Naturais para o qual não estão qualificados, mesmo que habilitados. Deve-se ressaltar que os Biólogos também não estão qualificados, embora habilitados, tendo em vista as características singulares do componente, como descrito anteriormente. No próximo item deste texto, faz-se um resumo sobre o que dizem os documentos oficiais, especialmente os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais, sobre o componente disciplinar das Ciências Naturais para o ensino fundamental. Isso vai reforçar os argumentos para a necessidade de se pensar as Licenciaturas na área com a idéia de qualificar, também, o professor de Ciências Naturais para o ensino fundamental. CIÊNCIAS NATURAIS NA VISÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são os documentos que balizam o ensino de Ciências Naturais no ensino fundamental no Brasil. Apesar de completarem 10 anos desde seu lançamento e encaminhamento às escolas de educação básica de todo o País, poucas mudanças têm ocorrido em nível de sala de aula no sentido de incorporação das orientações curriculares presente nos mesmos. Os PCN de Ciências Naturais propõem 4 eixos temáticos, Terra e Universo, Vida e Ambiente, Ser Humano e Saúde e Tecnologia e Sociedade, para a articulação dos diferentes conceitos, procedimentos, atitudes e valores necessários a cada um dos ciclos de escolaridade. Os quatros eixos são propostos para os dois ciclos correspondentes às quatro séries finais do ensino fundamental e devem ser desenvolvidos ao longo dos ciclos de forma articulada entre si e com temas transversais. Além dos volumes específicos de cada área do conhecimento, Ciências Naturais, História, Matemática, Geografia, Educação Física, Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, há um volume que apresenta os sete temas transversais, Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, Saúde, Trabalho e Consumo que corroboram o caráter interdisciplinar destinado às séries finais do ensino fundamental. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP Segundo os documentos, a compreensão dos fenômenos naturais articulados entre si e com a tecnologia confere ao componente de Ciências Naturais uma perspectiva interdisciplinar, abrangendo conhecimentos biológicos, físicos, químicos, sociais, culturais e tecnológicos (Brasil, 1998). A análise dos conteúdos propostos em cada um dos quatro ciclos, também, aponta a necessidade de uma proposta interdisciplinar que articule os conceitos de Física, Química e Biologia, além de conceitos de outras áreas do conhecimento. Como exemplo dessa compreensão, pode-se citar o eixo Terra e Universo (1998, p.22) o qual sugere que as distâncias astronômicas devem ser trabalhadas com os estudantes, aliando o conhecimento do modelo heliocêntrico de Sistema Solar aos movimentos de rotação e translação e suas influências no clima, nas formas de vida e nos ecossistemas terrestre. Os conteúdos e conceitos que podem ser explorados junto aos estudantes do ensino fundamental, necessários para a compreensão dessa temática, conforme aparece nos Parâmetros são: o ano- luz, as noções de tempo e distância, os modelos geocêntricos e heliocêntricos e suas implicações para mudanças culturais e sociais, os movimentos terrestre, a fauna e flora terrestre, a influência do ambiente nas formas e manutenção de determinados tipos de vida, entre outros. Pode-se afirmar no que diz respeito à qualificação do currículo em Ciências Naturais, os PCN estão mais avançados em termos de orientação do que a organização curricular ainda em desenvolvimento nas aulas de Ciências Naturais, que mantém na prática os conteúdos de Botânica e Zoologia para a sexta série, por exemplo, o que privilegia os conteúdos de Biologia em detrimento dos conteúdos de Química e Física que são trabalhados intencionalmente apenas na 8ª série. O que é pior, os conteúdos de Física e Química que são trabalhados nessa série são antecipações grosseiras de conteúdos também trabalhados no ensino médio, criando verdadeiro pavor nos adolescentes quanto ao que os espera no novo grau de ensino. Essa organização curricular por eixos temáticos, além de permitir/exigir que se desenvolvam temáticas interdisciplinares, tem ocasionado modificações gradativas na organização dos conteúdos dos livros didáticos. As editoras, através dos autores de livros didáticos de Ciências Naturais, têm incorporado orientações dos PCN, apresentando conteúdos relativos aos quatro eixos temáticos para as quatro séries finais do ensino fundamental, porém de forma desarticulada na forma de item por eixo. Contemplar os quatro eixos na organização dos conteúdos presentes nos livros didáticos não significa que o tratamento destes conteúdos ou conceitos seja de caráter interdisciplinar. Ainda é muito marcante a separação dos componentes de Biologia, Física e Química, bem como o predomínio de conceitos de Biologia, no Ensino de Ciências Naturais do ensino fundamental. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP O CAMPO DA PESQUISA EM CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CIÊNCIAS NATURAIS A pesquisa em Educação em Ciências, com a criação da área Ensino de Ciências e Matemática na CAPES em 2000, está em franca expansão. Isso pode ser avaliado pelo número de novos Programas de Pós-Graduação stricto sensu, apresentação de trabalhos em congressos voltados para a área, como os Encontros Nacionais de Educação em Ciências. Essa produção atende, muitas vezes, a finalidades acadêmicas, como a produção de uma Dissertação, Tese ou publicação que qualificam os Programas de Pós-Graduação. Cachapuz, citado por Delizoicov (2007), afirma: “apesar de substanciais progressos feitos nos últimos anos em Portugal no que respeita à IDC [investigação em didática das ciências] as expectativas sobre o seu papel no que respeita a um melhor conhecimento sobre ensino e aprendizagem das Ciências (em particular no âmbito do ensino não superior) estão longe de ter tido até hoje respostas plenamente satisfatórias” (p.420). Delizoicov afirma, em seguida, que aqui no Brasil este vínculo entre a pesquisa realizada e as mudanças no ensino de ciências também é fraco. Isso é sempre constatado quando olhamos as salas de aula de Ciências nas escolas, como afirmamos anteriormente. Essas constatações mostram que o foco da pesquisa em Educação em Ciências talvez devesse sofrer mudanças. O novo foco deverá aproximar a formação dos professores para a educação básica com o desenvolvimento de currículo. Essa preocupação levou o nosso grupo de pesquisa a criar a linha de pesquisa “Currículo e Formação de Professores”. Compreende-se que pesquisar sobre currículo em processos interativos de professores de escola, professores das licenciaturas e licenciandos, prática implementada em nosso grupo há vários anos, proporciona melhoras no ensino, tanto na licenciatura, quanto nas escolas. As relações na formação de professores e produção de currículo não são dadas e nem fixadas. Elas evoluem quando se atua sobre ela. Do contrário corre-se o risco de formar professores que vão encontrar um currículo que não compreendem e não conseguem desenvolver. Relata-se aqui, de forma breve, uma investigação em andamento sobre a possibilidade de formar os professores para o ensino de Ciências Naturais dentro dos cursos de Ciências Biológicas e Química com o propósito de torná-los qualificados para produzirem as mudanças nas escolas no que diz respeito ao ensinar e aprender as Ciências Naturais. As perguntas básicas são: há a intenção clara e explícita de qualificar o professor de Ciências Naturais nessas duas Licenciaturas? São implementadas práticas de formação que levem os licenciandos a produzirem propostas curriculares para o ensino fundamental? Os licenciandos cursam componentes em que desenvolvem habilidades de pesquisa que lhes permite executar com suficiente competência UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP essas atividades? Os espaços e ações proporcionados repercutem em sua formação de professores de Ciências Naturais com a competência inicial necessária? Constatou-se que nos cursos de Licenciatura em Química e Ciências Biológicas da Unijuí o espaço destinado à formação do professor de Ciências Naturais do ensino fundamental é contemplado ao longo de todo o curso. Foram implantados nesses cursos componentes curriculares que têm a pesquisa educacional como princípio e como prática, e componentes que possibilitam vivências e discussões de propostas metodológicas interdisciplinares para o ensino de Ciências Naturais. Esses componentes correspondem a um total de 375 horas. No inicio dos Cursos o componente Fundamentos Teóricos e Práticos em Ciências busca compreender os vários ecossistemas, abordando os métodos básicos utilizados na caracterização física, química, geológica, geográfica e biológica desses sistemas em saídas a campo com acompanhamento de docentes como equipe interdisciplinar. No momento da interação com a escola, também previsto como atividade no componente, o licenciando propõe formas de trabalhar os conteúdos e conceitos de Ciências Naturais na perspectiva de atividades práticas de campo semelhantes às desenvolvidas nesse componente curricular. Os componentes curriculares das Licenciaturas, Ensino de Ciências I e II, visam rediscutir o ensino de ciências em nível fundamental e capacitar os licencia ndos para a elaboração e desenvolvimento de Situações de Estudo - reorganização Curricular proposta a partir de situações de vivência dos alunos e conceitualmente ricas. Essas situações contemplam conteúdos na forma interdisciplinar, intercomplementar e transdisciplinar. Nos componentes curriculares Pesquisa em Ensino de Ciências I (PEC I) e Pesquisa em Ensino de Ciências II, (PEC II) há a preocupação específica com a pesquisa associada ao ensino de Ciências Naturais no ensino fundamental. Busca-se a formação do professor para o ensino de Ciências Naturais e a constituição do professor pesquisador como atividade curricular e prática formativa. Vários trabalhos, que mostram essas possibilidades já testadas, foram apresentados como: Sandri e Maldaner (2006); Sandri, Nonenmacher e Maldaner (2006, 2007). Nos componentes de Ciê ncias I e II, também orientados por equipe interdisciplinar, os acadêmicos foram capazes de produzir importantes roteiros de ensino para diferentes séries da Educação Fundamental. Isso eles fazem, também, em interação com professores de escolas nos espaços das Práticas de Ensino para as quais são orientados durante todo o Curso. Verificou-se ainda, através de acompanhamento por pesquisa, que os acadêmicos começam a se envolver com a pesquisa educacional e se tornam eles próprios pesquisadores. No componente PEC I os licenciandos foram orientados a elaborar pequenos Projetos de Pesquisa conforme o interesse em um sub-tema ligado ao ensino de Ciências Naturais. No componente UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP curricular PEC II, os estudantes foram orientados a organizar um relato de pesquisa, um resumo para submissão em possível evento científico e uma proposta de artigo científico. A análise do material empírico produzido pelos licenciandos, a partir de respostas dadas em memorial sobre sua formação em Ciências Naturais na educação fundamental, proporcionou importantes temas de pesquisa. Os dados produzidos nesses pequenos projetos de pesquisa apresentaram uma grande aproximação com investigações já realizadas sobre problemáticas no Ensino de Ciências Naturais e a formação de professores para essa área: ênfase quase exclusiva em conceitos de Biologia, esquecendo conceitos de Física e Química nos currículos escolares; pouca existência de atividades experimentais nas aulas de Ciências Naturais; uso de um único livro didático como suporte para o desenvolvimento das aulas; dificuldade de efetivar atividades interdisciplinares e de atualização dos professores de Ciências; concepção de ciência descontextualizada do contexto tecno-sócio-cultural. CONSIDERAÇÕES Apesar da grande produção científica na área da Educação em Ciências, as salas de aula na educação básica e as licenciaturas pouco mudaram. É necessário aprofundar a investigação sobre a natureza dessas pesquisas e compreender por que não produzem melhoras sensíveis na educação científica, como mostram diversas avaliações realizadas nos últimos anos. No que se refere ao componente das Ciências Naturais, é bastante evidente que as orientações oficiais, explicitadas nos PCN, mesmo que representem algumas das principais compreensões produzidas na comunidade de pesquisadores da área, também não conseguiram sensibilizar os professores para que acontecesse a mudança. Há, também, considerável volume de pesquisas sobre os professores, sua formação inicial e continuada, suas práticas e suas competências. As pesquisas, em geral, configuram-se em dois campos distintos: currículos em Ciências e formação de professores. Nós trabalhamos com a hipótese da relação entre esses dois campos, unificada na idéia de formar os professores, tanto na Graduação, quanto no exe rcício do magistério, na produção de sua proposta curricular. Alguns avanços puderam ser constatados em nossa investigação. Apesar da grande produção científica na área da Educação em Ciências as salas de aula de Ciências na educação básica pouco mudaram. REFÊRENCIAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais. Brasília, 1998. UFPR, 21 a 24 de julho de 2008. Curitiba/PR. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química (XIV ENEQ) Especificar a Área do trabalho FP DELIZOICOV, Demétrio. Pesquisa em Ensino de Ciências como Ciências Humanas Aplicadas. In: NARDI, Roberto (org). A Pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. São Paulo: Ed. Escrituras, 2007, p.413-449. MALDANER Otavio Aloisio; ZANON Lenir Basso; Situação de estudo: uma organização do ensino que extrapola a formação disciplinar em Ciências In:MORAES, Roque & MANCUSO, Ronaldo. (org). Educação em Ciências: produção de currículos e formação de professores. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006 p. 43-64. SANDRI, Vanessa; NONEMMCHER, Sandra Elisabet; MALDANER, Otavio Aloísio. 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