1 Discurso de sua Excelência, o Primeiro-Ministro, José Maria Neves, de abertura do debate sobre o Estado da Nação Praia, 31 de Julho 2015 É com um misto de orgulho e de emoção que me dirijo a esta Casa de Representantes do Povo para apresentar o Estado da Nação neste ano em que celebramos os 40 anos de país independente, democrático e em transformação para o desenvolvimento. Nestes 40 anos, os cabo-verdianos conseguiram, pedra a pedra, dor a dor, ilha a ilha, com um profundo amor a terra e uma vontade indómita de vencer, transformar todas as improbabilidades em possibilidades; Ocasião para rendermos merecido tributo àqueles, e em especial aos Combatentes da Liberdade da Pátria, que contribuíram para que Cabo Verde fosse esta possibilidade. E para reconhecermos os que assumiram os destinos do país em 1975, em situação difícil, quase dramática, para o tornar num Estado credível. Ao olharmos para a Hora Zero da República e as suas condições inimagináveis, com o espectro da fome e a angústia da sobrevivência, há que convir que o caminho percorrido, foi enorme e edificante. A Nação deve orgulhar-se deste percurso. À bandeira da Independência, as cabo-verdianas e os cabo-verdianos acrescentaram a bandeira do desenvolvimento, tal como queria Amílcar Cabral. Definitivamente, o país de hoje é diferente; radicalmente melhor do que tínhamos a 5 de Julho de 1975, prova da tenacidade e da resiliência do povo cabo-verdiano. Nestes últimos 15 anos, Cabo Verde entrou em processo incisivo de transformação, como sendo a única via capaz de produzir mudanças estruturais, criar riquezas, romper com o círculo vicioso da pobreza e levar o país para um estádio mais avançado de desenvolvimento sustentável. Em 2003, após intensas discussões com a sociedade, definiu-se, em consenso nacional, uma visão de futuro: a de uma nação inclusiva, justa e próspera, com oportunidades para todos. Traçámos um caminho, preparamos e implementámos uma Agenda de Transformação. Quinze anos depois, temos uma Nação confiante e em grande 2 transformação. Um país mais credível, mais moderno, mais livre, mais justo, com melhores condições de vida e mais oportunidades para todas e todos. Alguns desdenham dos passos dados, nos últimos anos, rumo à modernização e à transformação do país. Sendo a construção da Nação uma agenda estratégica, gradativa e de longo prazo, não estarão a compreender a gesta do momento e recusam a premissa que o caminho só se faz caminhando. Planeando o futuro, construímos o aeroporto internacional da Boavista quando não havia nenhum turista na ilha, quando não havia hotéis. Alguns vaticinaram a obra como um desperdício. Hoje, Boavista tornou-se um grande destino turístico, a aproximar dos 200.000 turistas por ano e com grandes complexos hoteleiros. O movimento nos aeroportos aumentou de tal forma a ponto de, neste momento, estarmos a fazer obras de ampliação dos aeroportos da Boavista, Praia, São Vicente e Sal. Temos hoje um sistema aeroportuário moderno, com aeródromos modernizados e 4 aeroportos internacionais. São cerca de trinta mil movimentos de aviões por ano; São 1 milhão 920 mil passageiros transportados contra 1 milhão em 2001; São perto de 550.000 turistas movimentados; São 30 operadoras estrangeiras, contra apenas 6 em 2001, provenientes de cerca de 40 pontos diferentes do mundo, contra 13 em 2001. São 4 aeroportos internacionais certificados de acordo com as regras da ICAO, quando nenhum o era em 2000. O mesmo se poderá dizer em relação aos portos hoje modernizados e em expansão, estando esse sector capacitado para sustentar a estratégia de transformação. Hoje, temos 5.780 metros de cais, com média de profundidade de 9,5 metros, quando só tínhamos 3.650 metros em 2001, com escassa profundidade, exceptuando o Porto Grande. Os números são elucidativos: Os portos movimentaram, em 2014, cerca de 471.706 toneladas de carga contentorizada, contra 220.000 toneladas em 2001, ou seja, mais do dobro; Na cabotagem registamos já mais de 50.000 toneladas de carga contentorizada e 420.000 toneladas de carga geral; Em 2014, foram transportados 877.944 passageiros entre as ilhas e 810.612 toneladas de carga, contra 367.245 passageiros em 2001 e 390.543 toneladas de carga. Portanto, duplicou-se o movimento de cargas e passageiros inter-ilhas; O Turismo de cruzeiros praticamente inexistentes em 2001, ultrapassou a cifra de 80 mil turistas em 2014. Na segunda-feira passada, acrescentamos mais uma pedra importante no edifício portuário com a inauguração do porto da Boavista. 3 Em termos de estradas pode-se falar em revolução. São 1050 Km de estradas modernas construídas, sendo quase metade asfaltadas. Um investimento que veio melhorar a circulação de pessoas, produzir grande impacto no escoamento de produtos e desencravar regiões produtivas do país. Perguntem aos cidadãos de Chã de Pedras, que finalmente vão ver realizado o sonho da estrada de penetração nessa importante ribeira de Santo Antão, à imagem do que já aconteceu com Ribeira da Torre e em outras partes do país, o que acham de tudo isso. Depois do esforço feito com estradas nacionais, passamos à fase de estradas de penetração. Lembram-se dos apagões, quase que generalizados? Pois bem, nestes 15 anos, foi feito um enormíssimo esforço de investimento e acabaram-se os apagões. Mais: Multiplicamos por 3 a capacidade instalada existente em 2000; A produção de electricidade foi aumentada em 2 vezes e meia; O consumo de eletricidade per capita mais do que duplicou em 15 anos, passando dos 330 kWh/ano para perto de 800 kWh/ano. Menos de metade da população tinha acesso à electricidade em 2000; hoje o acesso é praticamente universal, levando o progresso a todos os cantos do país; Mudamos o paradigma energético para as energias renováveis que hoje já contam com cerca de 30% da capacidade instalada e 32% da produção de electricidade em Cabo Verde. Após a extensão da Central de Lazareto em S. Vicente, com uma potência suplementar de 11 megawatts, inaugurámos há poucos dias a extensão da Central Eléctrica de Palmarejo, com a instalação de mais 22,4 megawatts. Importantes projectos estão em curso em várias ilhas, dotando-as de centrais únicas e melhores redes de transporte e distribuição de electricidade. Enfim, o sector energético sofreu uma transformação radical e, hoje, o país dispõe de reserva de potência possibilitando que, a partir de agora, se focalize nas questões de eficiência, de qualidade do serviço e de diminuição dos preços de electricidade. Temos actualmente uma capacidade de produção de 26.000 m3/dia de água dessalinizada para as populações, 2 vezes e meia a capacidade existente em 2000. Chegaremos a uma capacidade total de 40.000 m3/dia em 2016. Mudámos radicalmente o panorama do abastecimento de água potável às populações. Em 2002, cerca de 90,5% da população abastecia-se com água potável, ultrapassando a meta dos ODM (82,6%); Aumentou-se em 3 vezes em relação a 2000 a percentagem de população que dispõe de água canalizada da rede pública; 4 Contrariamente ao ano 2000, já são raros os casos de abastecimento em poços, cisternas, nascentes, levadas ou outras fontes impróprias; Com os enormes investimentos em infra-estruturas, houve uma significativa melhoria do saneamento básico. E é assim: Em 2013, apenas 39% da população utilizava instalações sanitárias melhoradas; hoje, já são 71,8%, ultrapassando a meta dos ODM (62,3%); 71,5% da população vive em alojamento com ligação à rede pública de esgoto ou fossa séptica. Em termos de comunicações, o país está mais conectado ao mundo e as ilhas entre si, graças às infra-estruturas criadas. Como demonstrado, as infra-estruturas estão a ter um retorno social importante, com impacto directo na vida das pessoas, com efeitos a médio e longo termo. É também grande o seu impacto na economia pelo aumento da produção que possibilita, pela indução do investimento privado que provoca e pela melhoria da competitividade do país. Para além de projectar os sectores económicos chave, em notável expansão e diversificação da base produtiva. O Turismo é hoje o principal motor da economia e responsável por cerca de 20% do PIB, gerando milhares de empregos. Ultrapassamos os 500.000 turistas por ano. Importantes projectos em carteira autorizam-nos a fixar a meta de 1 milhão de turistas para dentro de pouco tempo. Há poucos dias, lançamos o grande projecto turístico/hoteleiro do Ilhéu de Santa Maria e Gamboa; o Hotel Hilton do Sal já está em construção e o da Praia está bem encaminhado. Novos projectos serão lançados brevemente na Boavista, Sal e São Vicente. Já há sinais claros de retoma e haverá, nos próximos tempos, uma aceleração do ritmo de crescimento económico e de geração de empregos. As pescas estão a conhecer importantes e decisivas mudanças estruturais. A exportação de produtos de pesca foi multiplicada de 1246 toneladas, em 1999, para 28.722,7 toneladas em 2014, ou seja, 23 vezes mais. As capturas totais aumentaram em mais de uma vez e meia em relação a 2001. O transbordo de pescado aumentou em cerca de 24 vezes. Mais, passos significativos foram dados para desenvolver um centro regional de pescas com ofertas de serviços, incluindo o transbordo de pescado, o processamento, a conservação, a embalagem e a comercialização. A indústria de transformação ganhou novo ímpeto e está em crescente expansão, criando emprego para centenas de trabalhadores. A plataforma de frio recém-inaugurada, em São Vicente, juntamente com dois projectos em curso – Reabilitação de Cova de Inglesa e da Ex-Salmar, no Sal, vai trazer grande dinâmica ao desembarque e entrepostagem de pescado e sua transformação. No médio prazo, está prevista a criação de cerca de 30.000 postos de trabalho nas pescas. 5 Tem-se aumentado grandemente nestes últimos anos a procura de Cabo Verde para operações de bunckering, de desembarque de pescado e reparação naval. Basta dizer que as reexportações aumentaram 15 vezes em relação ao ano de 2000, tendo acelerado a partir de 2010. Estamos, pois, a concretizar a estratégia de transformar Cabo Verde numa plataforma de serviços no Atlântico, na encruzilhada da África, da Europa e das Américas. Isto é transformação estrutural! Nesta última década, assistimos ao renascer da agricultura e da pecuária. Esta maioria pôs a agricultura e a pecuária no centro das políticas de transformação e, por isso mesmo, já contam para a economia do país, para o emprego e o rendimento das pessoas. Estamos a criar uma nova agricultura mais moderna e virada para o mercado. Nessa linha, foram realizados avultados investimentos no reordenamento das bacias hidrográficas, na mobilização da água, na massificação de novas técnicas e tecnologias de produção agrícola e de utilização eficiente da água, no alargamento da área irrigada, bem como na reconversão das terras de sequeiro e na introdução de novas variedades de cultivo. Intervenções de larga escala foram realizadas de forma integrada em 14 bacias hidrográficas em várias ilhas. Estão em preparação obras de reordenamento em mais oito bacias. O que dizer das barragens que já são autênticos motores de desenvolvimento socioeconómico das regiões, criando empregos, aumentando a produção agrícola e o rendimento dos agricultores. Um enorme esforço está a ser feito na mobilização da água. Sete barragens já foram concluídas e mais duas estão em construção; 5 novas barragens estão previstas; várias barragens subterrâneas foram também construídas, para além de 266 diques de captação de água e novos sistemas de captação e adução de água. Só nesta legislatura, foram realizadas mais de uma centena de novas perfurações para exploração da água subterrânea, tendo-se privilegiado o uso de energias renováveis para reduzir os custos de bombagem. O volume de água potencial mobilizado para a agricultura já atinge o total de 47 milhões de m3/ano. Com as obras já concluídas e em construção, atingiremos um potencial de mobilização de água estimada em 51,25 milhões de m3 de água para a agricultura. Mais do que duplicamos a área irrigada nestes últimos 14 anos, ultrapassando a meta fixada. 50% da área irrigada dispõe de sistema gota-a-gota, quando era apenas de 9% em 2000. Foram introduzidas perto de 90 novas variedades mais produtivas de hortícolas, raízes e tubérculos, muitas resultando de investigação nacional. Verificamos nesta legislatura um aumento exponencial de unidades de produção hidropónicas e estufas, o que configura uma nova era em termos de produção agrícola. Nestes 15 anos a produção de hortícolas triplicou e a produção de raízes e tubérculos duplicou. A produção de frutas aumentou em cerca de 70% só nos últimos 3 anos. E 6 assim estamos a fornecer de forma crescente o mercado turístico, tendo aumentado em cerca de 18 vezes nos últimos 5 anos. Os resultados dos investimentos já estão à vista de todos. Por exemplo, vivemos um ano de seca severa. No entanto, não houve grande redução da área irrigada e da produção. É só visitar os mercados para ver como estão bem abastecidos, mais do que há anos atrás mesmo quando chovia, e os preços já não atingem os níveis exorbitantes de outros tempos. Lançamos as bases para resultados ainda melhores nos próximos anos. É disso tudo que estamos a falar quando falamos de transformação. Estamos, pois, a realizar a mais profunda mudança estrutural neste domínio. Demos também um grande salto na área das tecnologias informacionais. Já estamos a exportar serviços TIC e o país é tido como referência em Africa. Este é um sector em transformação, mas ao mesmo tempo instrumento de transformação na medida em que sustenta a modernização e o desenvolvimento de todos os sectores de actividade. Partindo praticamente do zero, hoje já conseguimos uma taxa de penetração da internet de 53,5%; O país dispõe hoje de rede de fibra óptica inter-ilhas e ligação ao cabo de fibra óptica internacional; A taxa de penetração dos telemóveis é de mais de 118,3% em 2014, em média 1 telemóvel para cada cabo-verdiano. Com sentido estratégico, fez-se uma aposta decidida e ambiciosa na qualificação dos recursos humanos, pedra basilar da transformação e impulsionador da competitividade. Cabo Verde tem, hoje, mais, melhor e inclusiva Educação e uma população com maior grau de escolarização. Cabo Verde dispõe actualmente de um parque escolar moderno. Foram construídos 23 liceus, perfazendo um total de 50, e inúmeras escolas básicas foram construídas, reabilitadas, ampliadas e equipadas. Um investimento na ordem dos 11 mil milhões de escudos; O país conta com um Sistema Educativo bem estruturado e consolidado, moderno e funcional, com uma escolaridade básica obrigatória de oito anos, devendo proximamente passar para dez e, posteriormente, para doze. Cerca de 97,2% dos professores do Ensinos Básico e 88,7% dos professores do Secundário possuem formação própria para a docência; A educação pré-escolar foi alargada e democratizada; O analfabetismo foi erradicado. Instituímos um verdadeiro sistema de ensino superior em Cabo Verde, constituindo um pilar necessário e determinante para a transformação do país. Temos, hoje, 10 estabelecimentos de ensino superior, com mais de 13.000 estudantes; com os cerca de 5.000 a estudar no estrangeiro, a população universitária ascende a 18.000 estudantes; 7 A taxa bruta de escolarização no ensino superior é de 24,2%, contra apenas 1,8% em 2000, sendo uma das mais elevadas da África, onde a taxa é de 6%. Nestes 15 últimos anos, cerca de 40.000 estudantes entraram para o ensino superior. Mais de 12.000 estudantes do ensino superior foram contemplados com bolsas de estudos e apoios sociais. Transformar para competir exige mão-de-obra qualificada. Montámos um sistema de Formação Profissional praticamente a partir do nada. Temos 14 centros de formação profissional, com uma oferta formativa variada em todas as ilhas. Ainda este ano, inaugurámos o Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial. Mais de 30.000 jovens foram formados, com alto índice de empregabilidade, revelando-se a formação profissional um poderoso instrumento de fomento do emprego. De resto, a formação profissional orientada para o mercado de trabalho integra já o sistema de ensino. O ensino secundário já prioriza saídas profissionalizantes; a educação e formação de adultos estão orientadas para a capacitação profissional e o autoemprego; no ensino superior são realizados os Cursos de Estudos Superiores Profissionalizantes. Apraz-me sublinhar que a transformação do país nestes 15 anos fez-se com equidade e sentido de justiça social. Resulta evidente o impacto das estradas, dos aeroportos, dos portos, das barragens e da mobilização da água, da expansão da energia eléctrica, das infra-estruturas de água e saneamento, das infra-estruturas de comunicação na vida das pessoas, contribuindo significativamente para a diminuição da pobreza e das desigualdades e para a melhoria das condições de vida dos cabo-verdianos. Os cabo-verdianos estão conscientes da grande melhoria no acesso à saúde. Só para ilustrar: Foram construídos mais 2 novos hospitais e remodelados e ampliados os existentes, para além de vários Centros de Saúde. Foram introduzidas novas especialidades médicas: hemodiálise, oncologia, etc.; Temos no sistema de saúde o dobro de médicos e mais 61% de enfermeiros do que em 2000; Temos uma taxa de mortalidade infantil que já baixou para os 20,3 por mil em 2013, sendo que em 2013 foi registado o menor número de óbito infantil de sempre; A esperança de vida está em nítido crescimento, estando já em 79,9 anos para as mulheres e 71,5 anos para os homens. No domínio da habitação fomos audaciosos. O programa Casa para Todos é de longe a mais importante iniciativa de habitação social jamais lançada em Cabo Verde, com a construção de 6.100 fogos. Isso sem contar com inúmeras outras intervenções de construção e reabilitação de moradias no quadro de diferentes programas. 8 Os cabo-verdianos têm hoje melhor segurança social. A cobertura social dos trabalhadores activos é de cerca de 38%, uma das melhores taxas da África, beneficiando perto de 177.000 pessoas. A pensão social aos mais vulneráveis, extensível à diáspora, aumentou em quase 4 vezes e o número de beneficiários duplicou em relação ao ano de 2000. A adopção do salário mínimo e do subsídio de desemprego são conquistas importantes para a segurança dos trabalhadores e para a redução das desigualdades. Acrescem inúmeras outras intervenções de solidariedade social, como os programas de luta contra a pobreza, as cantinas escolares, o apoio social escolar, bolsas de estudo, a protecção a crianças e adolescentes, as Casas de Direito, entre outros. Politicas implementadas e investimentos realizados permitiram modernizar e melhorar as condições de vida no meio rural. Falamos de electricidade, de água, de saneamento, de educação, de saúde, de segurança social, de telefones, de internet e muito mais. Temos um Desporto em melhoria crescente, com práticas desportivas variadas e presença em competições de alto nível protagonizadas por atletas melhor capacitados e respeitados. É só olhar para o tremendo avanço dos Tubarões Azuis, dos Tubarões Martelo e dos Tubarões Tigres. Agora, no futebol como no basquetebol ou no andebol não queremos só participar, queremos ganhar. Sintetizando, a pobreza foi reduzida de 37% para os 21%; a desigualdade, que se agravou substancialmente na década de noventa, caiu vertiginosamente, pese embora se encontre, ainda, a um nível elevado. O Índice de Desenvolvimento Humano tem estado em crescendo. O país está em vias de cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e as metas associadas. A transformação está em curso e já produziu mudanças estruturais, com a expansão e diversificação da base produtiva e lançamento de sectores motores da economia. Cabo Verde teve um desempenho económico assinalável nestes 15 anos. O PIB cresceu de 300 milhões de dólares para 1.8 mil milhões de dólares; O rendimento per capita aumentou de 1.219 dólares, em 2000, para os 3.800 dólares, em 2014, ou seja, mais de três vezes; as Disponibilidades Líquidas sobre o Exterior quadruplicaram; as remessas duplicaram; as exportações aumentaram em 5,5 vezes; a inflação manteve-se em níveis baixos. Nem tudo foi feito, mas foi feito tudo o que era possível fazer. Produzimos mudanças estruturais na economia e na sociedade, realizamos reformas críticas e consolidamos as instituições do Estado. O país fez realmente progressos significativos, permitindo-nos doravante ir mais depressa e, com maior segurança, acelerar o ritmo nos próximos tempos. O país está num outro patamar. Cabo Verde subiu de divisão e está hoje a jogar num campeonato diferente, bem mais exigente, pois estamos em transição para país de rendimento médio alto, almejando, mais tarde, a condição de país desenvolvido. Subsistem ainda desafios, importantes desafios. Uns prendem-se com a condição de pequeno Estado insular e arquipelágico. Outros com condicionalismos antigos e estruturais. Outros também resultam do próprio progresso que se vai conseguindo. 9 Quanto mais avançamos, mais crescem as expectativas e tudo se torna mais complexo. Outros desafios ainda derivam do ambiente global difícil e hipercompetitivo. O país é muito vulnerável aos choques externos. A crise internacional afectou grandemente o ritmo de crescimento que no período pré-crise registara um crescimento do PIB de dois dígitos. Porém, os resultados conseguidos em 2014 mostram claramente uma tendência de recuperação, o que é corroborado pelas projecções, tanto internas como do FMI, que auguram uma retoma do crescimento mais vigorosa. Os primeiros dados mostram um vigoroso crescimento das receitas do turismo em 2015. Assiste-se igualmente a uma retoma do Investimento Directo Estrangeiro que já em 2014 cresceu em 13,3% e a tendência é para continuar. As mudanças climáticas constituem séria ameaça. A pobreza e a desigualdade, bem como o desemprego são desafios de sempre e a Nação cabo-verdiana tem condições para vencê-los. No ano passado, reunimo-nos no II Fórum Nacional de Transformação e, numa base de consenso, foi adoptado uma agenda para encarar esses desafios e objectivar a construção de uma nação desenvolvida, no horizonte de 2030. As metas são inegavelmente ambiciosas. Mas as bases já foram construídas; as pontes e as estradas para o futuro estão lançadas. Mais, já estamos a construir esse futuro pois, “caminhu longi ta andadu di bespa”, futuro que passa, e em muito, pelo estabelecimento de uma economia azul sólida, sendo o mar, de longe o nosso principal recurso. O país é pequeno, mas temos uma extensão marítima de cerca de 780.000 Km2 e há perspectivas de aumento para mais de 1 milhão de Km2, ou seja, cerca de 250 vezes a parte terrestre. A nossa agenda de futuro é tirar proveito do enorme potencial de oportunidades que oferece o mar para transformar a nossa economia numa "economia azul" com impacto extraordinário na economia e na geração de empregos. Todo o esforço de infraestruturação realizado foi nesta perspectiva. A formação, investigação e inovação sobre ciências do mar são suportes desta agenda. Já estamos a dar passos, por exemplo, com a construção do Centro Oceanográfico de Mindelo, na ideia de transformar o país num centro de conhecimento sobre o mar. O futuro também está nas economias criativas, estribadas no que temos de mais rico e multifacetado: a cultura, nas suas mais variadas manifestações. Este é um sector de enorme potencial económico e importa reforçar cada vez mais a ligação das políticas culturais à agenda de transformação. Cabo Verde 2030 será construído com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), na sua dupla dimensão. Primeiro, como motor da transformação ao conferir modernidade e eficácia a todos os sectores de actividade e, desde logo, competitividade ao país. Segundo, como sector económico de grande impacto no PIB e no emprego e nas exportações do país. Neste particular, é preciso sublinhar que o país já está a exportar serviços e TIC, particularmente das inovações do e-gov produzidos pelo NOSI 10 e que constituem referências no continente africano e não só. A inauguração, ainda anteontem, de um importante investimento, o Data Center, se inscreve nesta direcção. Falar do futuro do país é também falar das energias renováveis. É a forma privilegiada que temos para reduzir a extrema dependência energética e a pesada factura de importação de combustíveis. Com os progressos já conseguidos almeja-se atingir a prazo a meta de 100% de penetração das energias renováveis. Por outro lado, a agenda para Cabo Verde 2030, inclui construir um sector industrial com base nas energias renováveis, visando essencialmente o continente africano. Cabo Verde já alberga o Centro da CEDEAO para as Energias Renováveis e Eficiência Energética. Outro sector de futuro é o do aero-negócio. Os transportes aéreos é um dos sectores que mais vai crescer no mundo. Já atingimos um respeitável nível de qualidade em matéria de serviços à navegação aérea, com reflexos no número de operadores, de voos e de passageiros. Importa, pois, reforçar essa via de futuro. Esses são sectores de ponta que juntamente com o turismo e o agro-negócio têm potencial para acelerar o crescimento económico e conseguir os objectivos de Cabo Verde 2030. Importa, nos próximos tempos, consolidar a governação dos clusters para melhor integração das áreas e dos intervenientes e, logo, mais eficácia dos resultados. Construir essa agenda de futuro implica perseverar no aprofundamento e na expansão das reformas. Muito caminho já foi feito, tanto na simplificação administrativa como na reengenharia de estruturas. Na linha dos consensos estabelecidos no II Fórum, é preciso construir sobre a democracia e assegurar que a governação e o modelo de Estado sejam adequados à dimensão do país, à sua condição arquipelágica e à exiguidade de recursos. É com isso em mente que caminharemos no sentido da regionalização administrativa, no quadro do aprofundamento da descentralização. Para além da construção de infra-estruturas complementares, a exemplo das estradas de penetração, importa que nos concentremos na gestão eficiente e eficaz das mesmas, para que tenham um impacto crescente na economia. Neste particular, quero destacar o importante papel que o sector privado já está a assumir na rentabilização das infraestruturas. Aliás, e isto é importante, a construção de Cabo Verde 2030 terá como linha mestra o prosseguimento do reforço do sector privado. O desenvolvimento dos sectores motores a que fizemos referência depende em muito da iniciativa privada. É reconfortante constatar o surgimento de uma nova classe empresarial em áreas como as TIC ou as economias criativas. Temos de continuar a melhorar o ambiente de negócios e ser dos melhores nos rankings do Doing Business e da competitividade, de continuar o esforço de promoção do empreendedorismo e das micro, pequenas e médias empresas. A promoção e atracção do investimento privado nacional e estrangeiro serão determinantes na realização do futuro. Da mesma forma que será crucial assegurar o acesso ao financiamento, consolidando os mecanismos recentemente criados e lançando 11 novos instrumentos. Devemos, ainda, redobrar os esforços de internacionalização da economia, em geral, e das empresas cabo-verdianas, em particular. Neste quadro, assume importância fundamental o reforço e o alargamento de parcerias e ancoragens, bem como a manutenção da credibilidade externa que o país já granjeou. Será importante redobrar a atenção aos mercados da CEDEAO e dos PALOP. A capacitação dos recursos humanos é uma das áreas em que Cabo Verde mais tem avançado com ganhos absolutamente assinaláveis. Para o futuro que queremos construir, será necessário aprofundar os esforços já encetados no sentido de melhorar a qualidade e a relevância do sistema educacional para assegurar os níveis de excelência que a transformação do país exige. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados da Nação, Apraz-me dizer, para terminar, que que a Nação está em boa forma e em boas mãos. Mesmo se o caminho do futuro é ainda longo, a verdade é que já andamos muito. Diria até que já lançámos as rotas e o plano de viagem para o Cabo Verde 2030, um país capaz de ser desenvolvido, moderno, com coesão social e qualidade ambiental, e oportunidades para todos. Este é o último Estado da Nação da VIII Legislatura e, numa nota pessoal, quero agradecer à Casa Parlamentar por estes quinze nobres momentos em que discutimos o Estado da Nação, realizados em tempos de transformação, em que demos, com ambição, muito trabalho, generosidade, honestidade e patriotismo, o melhor de nós. Nas circunstâncias da Nação e no processo histórico contemporâneo, permitimo-nos a uma agenda que transformou Cabo Verde de País Menos Avançado a País de Rendimento Médio e disposto a ser um País de Desenvolvimento Sustentável. Quero, muito especialmente, agradecer às cabo-verdianas e aos cabo-verdianos, aqui nas ilhas como na vasta diáspora, por terem confiado em mim e me terem dado a honra e a oportunidade de conduzir os destinos da Nação nestes últimos 15 anos. Um muito obrigado a todas e a todos. Nesta oportunidade, quero significar-vos, a todas e a todos e a cada um de vós, o meu profundo convencimento em que, de boca concêntrica na roda das Ilhas, seremos capazes de construir o futuro que todos almejamos. Sim, podemos. Nu podi sim. Nu ta konsigi! Bem-haja a Nação Cabo-verdiana. Muito obrigado. 12