JORNAL DA
associação
médica
Página 14 • Agosto/Setembro 2009
MINAS
Estudo aponta sintomas de depressão
em 79% dos estudantes de medicina
Arthur de Freitas Ferreira
“A formação médica expõe o estudante de
medicina a experiências de estresse, tornandoo potencialmente vulnerável a distúrbios emocionais.” Com base nessa afirmativa, foi publicado no ano passado o estudo “Prevalência de
sintomas depressivos entre estudantes de medicina da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU)”. Isolamento, mau humor, desmotivação
e faltas sem justificativa foram alguns dos sinais
observados nos alunos, motivando o médico
sanitarista e professor de medicina preventiva
Carlos Henrique Alves de Rezende, a discutir o
tema em um Projeto de Iniciação Científica. Entre os resultados apontados, descobriu-se que,
em 2004, 79% dos estudantes de medicina
apresentavam sintomas da doença.
Rezende afirma que a ansiedade dos alunos já chamava sua atenção, sobretudo daqueles que cursam os últimos períodos . Ele afirma que a UFU conta com apoio psicológico,
mas que o serviço funciona fora do campus, dificultando o acesso. O estudo foi criado, então,
para apontar maneiras de identificar e amenizar os sinais de depressão dos futuros médicos.
“Quando o momento de conclusão do curso
se aproxima, vem a preocupação com as vagas
de residência e com a competitividade do mercado de trabalho”, explica o médico, que há
três décadas dá aulas na universidade.
Para rastrear os indicativos de depressão foi
utilizado o “Inventário de Beck”, questionário sobre a rotina dos alunos. O coordenador do trabalho afirma que dos 480 matriculados em medicina, 400 aceitaram responder às perguntas.
Foram feitos 27 questionamentos aos alunos, di-
mação. Apuramos apenas o nível de indícios da
doença”, enfatiza.
Resultados
Para o professor Carlos Henrique de Rezende, a
alta prevalência de sintomas depressivos está
ligada à proximidade da conclusão do curso
vididos em duas partes. A primeira com seis perguntas diretas, entre elas: “Já fez tratamento psiquiátrico?” e “Como classifica o grau de satisfação com o curso escolhido?”. Na segunda parte, 21 afirmações. O aluno escolheria a opção
que melhor o representasse. Por exemplo: “Não
me sinto triste”, “Eu me sinto triste”, entre outras.
Além de Rezende, assinam o trabalho as então acadêmicas Carolina Borges Abrão, Ediane
Palma Coelho e Liliane Barbosa da Silva Passos.
O professor deixa claro que a intenção do grupo foi apontar a prevalência de sintomas depressivos e, não, diagnosticar a doença entre os
alunos. “Concedi entrevistas sobre o tema e pude observar que, infelizmente, a imprensa interpretou de maneira errada os resultados. Para os jornalistas, quase 80% dos estudantes eram
depressivos e, na realidade, não houve tal afir-
Dentre os 400 acadêmicos avaliados, houve predomínio de jovens, do sexo feminino, solteiros, procedentes de Uberlândia e que moram com os pais.
A prevalência de sintomas depressivos foi
de 79%, sendo 29% com grau leve; 31%, moderado e 19%, grave. De acordo com Rezende,
os resultados indicam uma proporção de sintomas depressivos superior à encontrada na literatura referente a estudantes de medicina. Ele
considera que as excessivas cargas horárias e a
ansiedade progressiva com a finalização do curso merecem maior atenção no processo de mudança curricular.
Os alunos que participaram do estudo foram
encaminhados ao serviço de apoio emocional
da própria faculdade. Segundo Rezende, alguns
estudantes responderam na pesquisa que já estavam em tratamento, submetendo-se à terapia.
Aqueles que apresentavam sinais mais graves de
depressão foram encaminhados para tratamento adequado. “Hoje, recebo notícias de que esses alunos estão todos bem e atuando na área
médica. Assim, podemos concluir que os sintomas depressivos são frutos de situação momentânea e, por isso, não podemos diagnosticar como depressão. A maior parte desses casos é resolvida quando os problemas vão embora.”
Para ter acesso ao estudo completo, acesse
www.scielo.br/pdf/rbem/v32n3/v32n3a06.pdf.
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