Em 2014 foi realizado, no âmbito do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora, o III Seminário de Pós-graduação em Geografia, formatado em conferências, mesas redondas e apresentação de trabalhos com publicação em anais. Na presente oportunidade, foram selecionados cerca de dez artigos para compor um volume especial da Revista de Geografia, sistematicamente publicada pelo programa em questão, aqui divulgados em amostragem representativa da coletividade de trabalhos submetidos ao evento, tanto da parte de discentes vinculados ao programa como oriundos do público externo, reforçando o caráter aberto e abrangente visado pelo seminário, e que perpassam diferentes campos temáticos trabalhados pela ciência geográfica. Proficiente discussão acerca de como a construção da identidade nacional foi vinculada aos moldes da civilização europeia e como o Manifesto Antropófago sintetizou a figura do brasileiro a partir da ideia de assimilação de culturas estrangeiras foi trazida a lume no paper redigido por Fernanda Ribeiro Amaro intitulado “O estrangeiro daqui: identidade nacional e internacionalismos no Brasil”, colocando em tela importantes aspectos da formação da identidade nacional. As interfaces com a Geografia Cultural tiveram representação no artigo lavrado por Vítor Fabiano da Silva e Leonardo de Oliveira Carneiro, numa comunicação interessada em resgatar, documentar e retratar a Festa de Preto-Velho, que foi realizada durante 23 anos no Parque Municipal da Lajinha, em Juiz de Fora (MG). Por meio de pesquisa qualitativa, calcada fundamentalmente em pesquisa bibliográfica, levantamento documental e entrevistas, algumas importantes influências africanas na cultura e religiosidade brasileira foram discutidas no trabalho em questão. O leitor é convidado a uma imersão a partir de um título assaz categórico: “A festa do preto-velho no Parque da Laginha”. Originalidade digna de nota se consubstancia no artigo “Você já foi a Minas? Não? Então vá! Notas sobre a propaganda imigratória mineira e suas alusões territoriais no findar dos oitocentos”, assinado por Higor Mozart Geraldo Santos. O trabalho propõe discussão acerca das ações engendradas pelo governo mineiro para atrair emigrantes em período marcado por escassez de força de trabalho, baseadas em propagandas permeadas por alusões ao território e todas as suas benesses. O texto “A corporeidade como um recurso metodológico da geograficidade”, de autoria de Elias Lopes de Lima, convida o leitor a uma reflexão acerca das possibilidades metodológicas facultadas à análise geográfica expressas na implicação ontológica entre a corporeidade e a reprodução do espaço. A narrativa conduz a depreender as qualidades proprioceptivas do corpo como um dado constitutivo e, sobretudo, mediador da geograficidade, enquanto modo geográfico de ser dos entes, dos eventos, dos fenômenos etc. Com uma abordagem ensaística, mas sem abrir mão do caráter diligente, o artigo sugere, em última análise, que a corporeidade é um caminho para o desvelamento objetivo de novos conteúdos do espaço geográfico. A temática pautada na educação ambiental tem espaço no presente volume especial, representada na seguinte proposta de Leonardo Biage de Andrade e Vicente Paulo dos Santos Pinto: “Empoderando sujeitos: uma proposta de educação ambiental construída pela voz de indivíduos em situação de vulnerabilidade ambiental”. Em critica explícita ao papel do Estado e às políticas inertes de educação ambiental emanadas do aparelho governamental, propõe-se a construção de uma política coletiva de educação ambiental, a partir da pesquisa participativa, inserindo os sujeitos menos favorecidos vulneráveis a mazelas ambientais ligadas aos distintos quadros de segregação socioespacial urbana. A questão dos riscos ambientais, problemática permanente no planejamento urbano de Juiz de Fora e de tantos outros municípios do domínio tropical atlântico geomorfologicamente caracterizados por relevo declivoso e profundamente dissecado, foi discutida no artigo intitulado “Avaliação da instabilidade de blocos de rocha na vertente tombada do Morro do Cristo em Juiz de Fora – MG”, da obra de Fabrício Luís de Andrade e Geraldo César Rocha. Acionando metodologias próprias para tal ordem de investigação, os autores puderam qualificar os blocos estudados segundo sua condição de estabilidade, chamando a atenção para os riscos existentes e fornecendo informações de grande valia para a gestão do espaço urbano. O viés metodológico pautado no uso de geotecnologias aplicadas aos procedimentos clássicos de avaliação da fragilidade e do risco ambiental também pode prestar importantes subsídios para o planejamento, e foi o agente cimentante do trabalho proposto por Waltencir Menon Jr. e Ricardo Tavares Zaidan, também tratando de riscos ambientais em Juiz de Fora pelo prisma dos movimentos de massa. Tais características delimitam a centralidade deste paper, resolutamente intitulado “Fragilidade ambiental na bacia hidrográfica do Córrego Yung – Juiz de Fora/MG”, cuja discussão retrata um setor do município fortemente afetado por processos morfodinâmicos desta estirpe. Mais diretamente apegado à Geomorfologia, porém ainda compromissado com o planejamento, é o artigo intitulado “Estudo do sistema geomorfológico na bacia do Ribeirão das Rosas (Juiz de Fora – MG) como subsídio ao planejamento da expansão urbana”, assinado por Alexander de Oliveira e Roberto Marques Neto. Relaciona aspectos morfométricos (declividade e profundidade de dissecação), morfológicos e litológicos às unidades de uso da terra vigentes, apontando diferentes incongruências concernentes ao uso e discutindo alterações nos processos geomórficos operantes com o fomento da expansão urbana. A Climatologia é representada por um trabalho de cunho regional forjado sob o título de “Produção do espaço, padrões de cobertura da terra e alterações climáticas regionais: um estudo de caso da bacia hidrográfica do Rio Paraibuna (MG/RJ)”, de autoria de Daiane Evangelista de Oliveira, Débora de Couto Assis e Cássia de Castro Martins Ferreira. Alterações no clima regional ligadas a transformações espaciais e modalidades de uso da terra associadas foram constatadas a partir de um levantamento dos padrões climáticos existentes na bacia com base no albedo dos corpos e superfícies. Estudo da paisagem levado a efeito mediante um enfoque genético-estrutural tem espaço no presente volume pelo trabalho de Cristina Silva de Oliveira e Roberto Marques Neto, publicado sob o título de “Características estruturais dos geossistemas da bacia hidrográfica do ribeirão Pari/MG”. Orientado pela abordagem geossistêmica trabalhada no canal de comunicação eslavo, o artigo apresenta um mapeamento tipológico dos geossistemas na bacia supracitada e a discussão de seus aspectos estruturais, pautas estas precedidas por informações de cunho metodológico acerca da interpretação, classificação e representação cartográfica de integridades geossistêmicas. Perpassando diferentes temas abordados na ciência geográfica, o volume especial da vez congregou, portanto, uma amostragem abrangente do universo de artigos submetidos ao III Seminário de Pós-graduação em Geografia, revelando a diversidade temática que o evento tem sido capaz de congregar, e que na presente oportunidade também prestigia a Revista de Geografia. Roberto Marques Neto