Cirurgias Minimamente Invasivas o Momento Atual e o Futuro Francisco J. Candido dos Reis Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP-USP O Início… • Em 1805, Phillip Bozzini desenvolve o cistoscópio. • Durante o século 19, lentes, fontes de luz, e endoscópios evoluem. • Em 1901, George Kelling usou um cistoscópio através da parede abdominal para avaliar o efeito do pneumoperitônio. Em 1910, publicou seus resultados em seres humanos. • Em 1910, Hans Christian Jacobaeus introduziu o termo "laparoscopia". Relatou sua experiência clínica com 17 casos. …Primeiros Procedimentos… • Em 1930, John Ruddock difundiu a laparoscopia nos Estados Unidos. • Em 1933, Karl Fervers descreveu a lise de aderências por laparoscopia utilizando cautério. • Três anos depois, Boesch realizou a primeira esterilização laparoscópica por eletrocoagulação da trompas. • Em 1976, no entanto, 60% das laqueaduras foram realizadas por laparoscopia nos Estados Unidos. …O Desenvolvimento… • Durante meados dos anos 1960 e 1970, Kurt Semm apresentou diversos aperfeiçoamentos incluindo: insuflador automático, irrigador de sucção, instrumentos mais seguros de eletrocoagulação, morcelador elétrico para miomas. • Em 1971, Harrith Hasson contribuiu para a segurança da laparoscopia, com o desenvolvimento do trocater de Hasson. • Em 1983, Kurt Semm realizou a primeira apendicectomia laparoscópica. • Em 1986, Erich Mühe relatou a primeira colecistectomia laparoscópica. …Introdução da Vídeo-cirurgia… • Durante os anos 1970 e início de 1980, Camran Nezhat desenvolveu o sistema de vídeo para cirurgia laparoscópica – Permitiu a atuação de equipes e realização de cirurgias mais complexas – Melhorou a ergonomia da equipe – Melhorou a capacidade de documentação …Situação Atual Sempre que existente uma cavidade ou uma cavidade pode ser criada, a laparoscopia é indicada e, provavelmente, preferível. Os fatores limitantes são a habilidade e experiência do cirurgião e a disponibilidade de instrumentos adequados. Camran Nezhat Vantagens Comprovadas das Cirurgias Minimamente Invasivas • • • • • Tão eficaz quanto a cirurgia clássica Menor perda sanguínea Menos dor Menor permanência hospitalar Retorno mais rápido às atividades habituais • Menor custo global Laparoscopia nos Tumores Benignos do Ovário (Medeiros, et al., Cochrane Database Syst Rev 2005) Parâmetro Impacto A duração média da cirurgia foi maior MPD = 11,39 min ( IC 95% 0,57-22,22). Diminuição de morbidade febril OR = 0,34 (IC 95% 0,13-0,88). Redução de complicações intra e pós-operatórias OR = 0,26 (IC 95% 0,12-0,55) Redução da dor pós-operatória (EAV) MPD = -2,36 (IC95% -2,07 a -2,03) Tempo médio de internação menor MPD = -2,79 dias (IC 95% -2,95 a -2,62) Redução do custo total MPD =$ 1.045 (95% CI -1361 a -726,97) Histerectomia Minimamente Invasiva (Barlow, et al. Datase Cochrane Syst Rev 2006) Histerectomia Vaginal x Histerectomia Abdominal Menor tempo de internação (diferença média de 1 dia, 95% CI 0,7 -1,2) Mais rápido retorno às atividades habituais (diferença média de 9,5 dias, IC 95% 6,4-12,6) Menor número de infecções ou febre (OR 0,42, IC 95% 0,21-0,83) Histerectomia Laparoscópica x Histerectomia Abdominal Menor perda de sanguínea (diferença média 45,3 ml, 95% CI 17,9-72,7) Menor permanência hospitalar (diferença média de 2 dias, 95% CI 1,9-2,2) Mais rápido retorno às atividades habituais (diferença média 13,6 dias, IC 95% 11,8-15,4) Menos infecções de ferida ou febre (OR 0,32, IC 95% 0,12-0,85) Maior tempo cirúrgico (diferença média de 10,6 minutos, 95% IC 7,4-13,8) Mais lesões do trato urinário (OR 2,61, IC 95% 1,22-5,60) Histerectomia Laparoscópica x Histerectomia Vaginal Resultados semelhantes, exceto tempo cirúrgico (diferença média 41,5 min, 95% CI 33,7-49,4) Histerectomia Total Laparoscópica x Histerectomia Vaginal Assistida por Laparoscopia Resultados semelhantes, exceto tempo cirúrgico (diferença média 25,3 min, IC 95% 10-40,6) Laparoscopia de Prenhez Ectópica (Odejinmi, et al., 2011) Localização (n) Pacientes hemodinamicamente estáveis Laparoscopia n (%) Trompa (470) Laparotomia n (%) 396/415 (95,5%) 19/415 (4,5%) Pacientes com instabilidade hemodinâmica Laparoscopia n (%) Laparotomia n (%) 45/55 (82%) 10/55 (18%) Ovário (15) 11/11 (100%) 0 (0%) 04/04 (100%) 0 (0%) Cornual (19) 12/11 (92%) 12/01 (8%) 07/07 (100%) 0 / 7 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 01/01 (100%) 0 (0%) 418 (95,5%) 20 (4,5%) 57 (85%) 10 (15%) Cicatriz de Cesárea(1) Total (505) Laparoscopia x Laparotomia (Odejinmi, et al., 2011) Vídeo-laparoscopia na Endometriose (Sutton CJ, et al., 1997) DPC Laparoscopia Tratamento cirúrgico Endometriose Estágio I-III Expectante Randomização Inclusão no estudo Cirurgia para os casos expectantes sintomáticos 3 meses 6 meses 1 ano Avaliações Cirurgia: vaporização LASER de todos as lesões visíveis, adesiolise e transecção de inervação uterina Efeito do Tratamento (Sutton CJ, et al., 1997) Procedimento inicial Avaliação de 6 meses Melhora da DPC Cirúrgico Expectante 32 31 20 (62.5%) 7 (22,6%) Cirurgia aos 6 meses Avaliação de 1 ano Melhora da DPC P <0,01 24 32 23 21 (65,2%) 15 (71%) NS Laparoscópica e Câncer de Endométrio (TOZZI et al., 2005) • Análise segundo a “intenção de tratar” • Conversão para laparotomia nos casos de doença peritoneal ou de complicações intra-operatórias • Linfadenectomia pélvica: IBG1 e congelação • Linfadenectomia pélvica e aórtica – Estadio>I – Estadio I G3, IBG2 e IC (congelação) • Nos casos de estadio II oculto (D&C): histerectomia radical tipo II • Nos casos de estadio III e IV: citorredução por laparotomia Cirurgia Laparoscópica (TOZZI et al., 2005) 271 pacientes (1995 – 2002) Excluídas 28* Optaram por laparoscopia 127 Randomizadas 122 Laparotomia 59 * Diâmetro transverso>8 cm Laparoscopia 63 Cirurgia Laparoscópica (TOZZI et al., 2005) Parâmetro P Laparoscopia Laparotomia 63 59 Conversões 5 (7,9%) - Linfadenectomia pélvica 52 (84%) 49 (83,5%) NS Linfadenectomia aórtica 38 (60,3%) 36 (61,2%) NS Número de linfonodos 28,6 (18-61) 25,4 (16-54) NS 3 (4,7%) 9 (15,2%) 0,082 15 (23,8%) 28 (47,4%) 0,011 5 (7,9%) 25 (42,4%) 0,001 Número de casos Complicações Intra-operatórias Pós-operatórias precoces (<15d) Pós-operatórias tardias (15d – 6m) Laparoscopia e Sobrevida Autor Parâmetro Laparoscopia Laparotomia (ELTABBAKH, 2002) 5 anos Casos Sobrevida livre Recorrência pélvica Recorrência sistêmica 100 92 (92%) 4 3 86 76 (88,4%) 5 4 (KIM et al., 2005) 3 anos Casos Sobrevida livre Recorrência pélvica Recorrência sistêmica 74 73 (97,5%) 1 0 168 166 (98,6%) 0 2 (ZAPICO et al., 2005) Casos 3 anos Sobrevida livre* Recorrência pélvica Recorrência sistêmica 38 31(93,9%) 1 1 37 30 (93,3%) 1 1 (MALUR et al., 2001) Casos ~3 anos Sobrevida livre** Recorrência pélvica Recorrência sistêmica 37 31 (97,3%) 1 33 29 (93,3%) 2 Avaliação de Qualidade de Vida Escore SF SF-36 (ZULLO et al., 2005) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 *† * * 0 *‡ 1 Meses * P < 0,05 vs controles † P < 0,05 vs linha de base ‡ P < 0,05 vs laparoscopia § P < 0,05 vs primeiro mês *† *† *† ‡§ *† ‡§ 2 6 Laparoscopia Laparotomia Controle Gynecologic Oncology Group Study (LAP2) Complicações e Eventos Adversos Complicações e Eventos Adversos Laparotomia Laparoscopia N % N % P Complicações intra-operatórias 69 8 160 10 .106 Eventos adversos pós-operatório (grau ≥ 2) 191 21 240 14 <.001 Transfusão de sangue 66 7 143 9 .280 Antibióticos 211 23 274 16 <.001 Readmissão 59 7 96 6 .413 Reoperação 22 2 48 3 .523 Mortes relacionadas com o tratamento 8 1 10 <1 .404 845 94 867 52 <.001 Permanência hospitalar> 2 dias Risco de Conversão para Laparotomia Walker J L et al. JCO 2009;27:5331-5336 ©2009 by American Society of Clinical Oncology Laparoscopia x Laparotomia nos Tumores Iniciais do Ovário Número de Pacientes Laparoscopia Laparotomia Hua 10 11 Ghezzi 15 19 Chi 20 30 Ghezzi F, et al. Gynecologic Oncology 2007;105 (2):409-13 Hua KQ, et al. Zhonghua Yi Xue Za Zhi 2005; 85(3):169-72 Chi DS, et al. Am J Obstet Gynecol 2005;192(5):1614-9 Laparoscopia Tempo operatório (min) Hua Ghezzi Chi Perda sanguínea (ml) Hua Ghezzi Chi Número de linfonodos Hua Ghezzi Chi Complicações pós-operatórias Hua Ghezzi Chi Laparotomia p 298 377 321 182 272 276 <0,05 0,002 0,04 280 250 235 346 400 347 <0.05 NS NS 25 25 19 27 25 21 NS NS NS 2 2 0 7 8 2 0,05 NS NS Laparoscopia x Laparotomia no Tratamento Radical do Câncer de Colo Uterino Laparoscopia (90) Laparotomia (35) P Tempo cirúrgico (min) 262,99 ± 67,60 217,2 ± 71,56 0,001 Perda sanguinea (ml) 369,78 ± 249,94 455,14 ± 338,05 NS Número de linfonodos 21,28 ± 8,39 18,77 ± 9,47 NS Complicações intra-operatórias 8 (8%) 3 (8%) NS Complicações pós-operatórias 36 (40%) 14 (40%) NS Retenção urinária 29 (32%) 10 (28%) NS Íleo adinâmico (dias) 1,96 ± 0,62 2,40 ± 1,06 0,025 Urina residual (dias) 10,73 ± 7,23 8,57 ± 6,83 NS Hospitalização (dias) 13,81 ± 8,33 13,69 ± 6,65 NS Li G et a l., Gynecol Oncol. 2007;105(1):176-80 Dificuldades • Complexidade dos procedimentos • Curva de aprendizagem longa • Limitações de instrumental • Visão bidimensional • Procedimentos muito cansativos Erros Durante a Cirurgia Laparoscópica (William H. Parker, 2010) • Erros de percepção e processamento visual – Visão bidimensional e focada – Ausência da percepção tátil • Falta de experiência Competência é saber o que fazer, rápida e eficiente. • Falta de percepção da situação – Vigilância, planejamento, gestão do tempo, priorização de tarefas, e evitar distrações • Desempenho ruim sob estresse e sono Erros Durante a Cirurgia Laparoscópica (William H. Parker, 2010) • Falta de conhecimento / habilidade • Erros em treinamento • Utilização de instrumental inadequado Curva de Treinamento em Laparoscopia (HOLUB et al., 2003) Grupo 1 Casos Grupo 2 Grupo 3 P 35 36 37 T C (HT) 149,5 148,9 140,3 NS T C (HT + L) 156,3 146,8 142,8 <0,05 Linfonodos (p) 12,4 13,9 15,4 <0,05 Perda sanguínea (ml) 240 232 224 NS Hospitalização (d) 4,1 3,9 3,7 NS Complicações 3 1 1 NS Conversões 3 1 1 NS Cirurgia Robótica • Primeira cirurgia robótica (1985) – PUMA 560 foi usado executar uma biópsia cerebral sob a orientação por tomografia computadorizada. • Cirurgia robótica em urologia (1988, Probot) e ortopedia (1992, Robodoc ®) • Primeira cirurgia robótica ginecológica para reanastomose tubária laparoscópica (1998, Zeus) • Suporte robótico para câmera laparoscópica (1994, AESOP ®) • Tecnologia de telepresença robótica se tornou comercialmente disponível (2000, da Vinci ®) Vantagens da Cirurgia Robótica • Melhor visualização – 3D • Movimentos intuitivos • Melhorias mecânicas - os instrumentos de robótica tem maior flexibilidade • Estabilização de instrumentos dentro do campo cirúrgico (elimina o tremor) • Melhoria da ergonomia para o cirurgião Cirurgia Robótica Cirurgia Robótica Histerectomia Radical Robótica Parâmetro Tempo de sondagem vesical Tempo cirúrgico (min) Internação (dias) A perda sanguínea (ml) Robótica ( n = 7) Convencional ( n = 6) P 4 (3-9) 21 (5-28) 0,003 180 (171-220) 138 (120-137.5) 0,05 5 (4-7) 7 (6-7) 0,04 400 (325-1050) 1000 (800-1025) 0,05 Uso de analgésicos opiáceos (ml) 30 (20-46) 53 (43-210) 0,004 No de Linfonodos 14 (12-19) 12 (11-14) NS Retorno as atividades (dias) 35 (28-49) 35 (30-42) NS Limitações da Cirurgia Robótica • Necessidade de treinamento cirúrgico adicional • Aumento de custos e tempo em sala cirúrgica • Dispositivos grandes • Limitações de instrumentação • Perda da sensação tátil • O risco de falha mecânica Recomendações para Qualificação em Cirurgia Minimamente Invasiva • Muitas horas de prática em situações simuladas e reais são necessárias para adquirir padrões instintivos na memória de longo prazo. • Atenção especial deve ser direcionada para a aprendizagem da anatomia pélvica, técnicas cirúrgicas adequadas, uso de instrumentos cirúrgicos e fontes de energia. • Realizar esforços para aprimorar a gestão das emergências cirúrgicas e as complicações por meio de simulação para reduzir o estresse em situações reais Considerações Finais Mesmo que não opte por se capacitar em cirurgia minimamente invasiva, o ginecologista deve conhecer as opções e orientar as pacientes sobre as possibilidades.